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36º Encontro Anual da Anpocs. Grupo de Trabalho 18: Marxismo e ciencias sociais.

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36º Encontro Anual da Anpocs.

Grupo de Trabalho 18: Marxismo e ciencias sociais.

Elementos para uma ciência social emancipatória: um debate

contemporâneo

1

Gonzalo Rojas

2

Javier Amadeo

3

1

O presente texto é resultado das discussões realizadas no seno grupo “Crítica e emancipação” da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e em diálogo com o grupo Práxis da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)

2

Professor da Unidade Academica de Ciencias Sociais – Programa de Pósgraduação em Ciencias Sociais (PPGCS) no Centro de Humanidades da UFCG.

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Professor no Departamento de Ciencias Sociais – Programa de Pósgraduação em Ciencias Sociais (PPGCS) na Escola de Filosofía, Letras e Ciencias Humanas da UNIFESP.

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Resumo

O objetivo do presente trabalho é analisar um conjunto de autores e teorias que têm pretendido contribuir para pensar o tema da emancipação social, e a série de questões envolvidas (o problema do sujeito, as demandas de reconhecimento, o lugar do contingente, e as possibilidades do universal), desde uma perspectiva da teoria politica contemporânea. De forma esquemática, podemos pensar em algumas correntes de pensamento que têm realizado contribuições para este debate: I) Os aportes realizados pela teoria crítica, particularmente nas obras de Jürgen Habermas e Axel Honneth. II) Os debates a partir da noção de giro hegemônico (Ernesto Laclau, Chantal Mouffe, Judith Butler e Slavoj Zizek). III) Os autores, como Daniel Bensaid e Sophie Béroud, que afirmam a importância do conceito de classe, a partir de uma perspectiva não determinista, para pensar a questão da emancipação social. Neste texto focaremos nos autores das correntes II e III.

Introdução

Como afirma Erik Olin Wright, uma ciência social emancipatória, definida num sentido amplo, deve ter como objetivo gerar um conhecimento relevante para um projeto coletivo que desafie a opressão social e crie as condições para que os indivíduos tenham a possibilidade de desenvolver todo o potencial humano. Necessariamente tem que ser anti-capitalista. Definir este tipo de conhecimento como ciência social implica o reconhecer a importância para esta tarefa de um conhecimento científico sistemático sobre como funciona o mundo, para a partir do analise concreto das situações concretas, como afirmaría Lenin, gerar uma práxis transformadora e superadora da ordem social dominante. Em segundo lugar defini-la como emancipatória implica identificar um propósito político, social e ainda moral central, a eliminação da exploração e a opressão e a criação de condições para o desenvolvimento humano. Por último, ao ressaltar seu caráter social sugere a crença que a emancipação depende de um processo de transformação do mundo social e não simplesmente do eu interior, do individuo. Para alcançar seu objetivo uma ciência social emancipatória deve reunir uma série de condições fundamentais. Em primeiro lugar, elaborar um diagnóstico sistemático e uma crítica da realidade social existente. Em segundo, e a partir desse diagnóstico, construir as alternativas possíveis. Por último, analisar os possibilidades, obstáculos, e dilemas do

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processo de transformação social. Em diferentes momentos históricos cada um destes elementos pode ter obtido uma importância maior que os outros, no entanto todos eles são fundamentais para teoria emancipatória compressiva nos termos, do sociólogo Erik Olin Wright (Wright, 2006: 94-7).

O ponto de partida para uma ciência social emancipatória não pode ser simplesmente evidenciar que existe sofrimento e desigualdade no mundo atual, mas demonstrar que “a explicação desses males encontra-se nas propriedades específicas da estrutura social e das instituições existentes, e identificar as formas pelas quais esta estrutura histórica específica, o capitalismo, produz sistematicamente desigualdade opressão” (Wright, 2006: 95). Portanto, a principal tarefa, é a elaboração de um diagnóstico e crítica do capitalismo. O objetivo fundamental do projeto intelectual desenvolvido por Karl Marx, em várias de suas obras e particularmente em O Capital, consistia em descobrir “a lei econômica da sociedade moderna”, como aparece no prefácio da primeira edição de O Capital. No entanto, o método dialético utilizado por Marx permanentemente afirma a natureza inerentemente contraditória do capitalismo. O trabalho intelectual realizado por Marx, segundo o sociólogo sueco Goran Therborn (2007), afirma certos elementos progressivos do capitalismo, e da burguesia, no entanto ao mesmo tempo é denunciado o caráter explorador, assim como organiza a resistência contra ele.

Conforme afirma Melo, o diagnóstico exposto em O capital possui dois momentos fundamentais em que a relação entre teoria e prática é colocada. O autor, por um lado, discute a ideia de que as possibilidades emancipatórias devem estar inscritas na própria dinâmica da sociedade capitalista para que transformação social não parta de pressupostos utópicos, como aparece nos Grundrisse, na qual Marx afirma que o capitalismo não está à altura de suas promessas, pois a noção de igualdade formal, pressuposto numa sociedade baseada no intercâmbio de mercadorias, esconde a contradição entre classes, oposição estabelecida na desigualdade constitutiva entre aquele que entra nas relações sociais como proprietário de capital e aquele que possui apenas sua força de trabalho.Por outro lado, afirma que a crítica da economia política realizada por Marx demonstra que a própria estrutura do capitalismo produz de forma imanente às condições de sua superação, o diagnóstico sobre caráter inerentemente contraditório e sobre as crises periódicas coloca a possibilidade de transformação social mediante a práxis política do proletariado (Melo, 2012: 4-5).

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O conceito de emancipação social problematizado por Marx, por exemplo, no texto A questão judaica, onde diferencia emancipação política de emancipação humana e entende a emancipação social como a humana, e também por outros autores da tradição marxista, foi submetido a um processo de mutação profundo, ao longo das últimas décadas, como resultado tanto das derrotas sofridas pela esquerda e pelo movimento operário, como pelo próprio processo de transformação inerente ao modo de produção capitalista. O conceito de classes, antigamente o conceito mais importante no discurso da esquerda, parece nos anos recentes ter sido deslocado por um conjunto de novos conceitos que tentariam dar contra deste processo de transformação social.

O objetivo do presente trabalho é analisar um conjunto de autores e teorias que têm pretendido contribuir para pensar o tema da emancipação social, e uma série de questões envolvidas (o problema do sujeito, as demandas de reconhecimento, o lugar do contingente, as classes e as frações de classes e as possibilidade do universal num mundo atravessado pela fragmentação), desde uma perspectiva marxista contemporânea. De maneira esquemática, e um pouco reducionista, podemos pensar em algumas correntes de pensamento que têm realizado contribuições centrais para este debate e quais foram em três grupos de autores:

I) Os aportes realizados pela teoria crítica, particularmente nas obras de Jürgen Habermas e Axel Honneth os quais pretendem como projeto um relançamento da tradição da teoria critica da Escola Frankfurt.

II) Os debates surgidos a partir da noção de giro hegemônico e que realizam uma reconceitualizacao de hegemonia nos textos de Ernesto Laclau, Chantal Mouffe e Slavoj Zizek. Em geral os dois primeiros principalmente problematizam um conceito de hegemonia ancorado no material como o utilizado por Antonio Gramsci nos seus Cadernos do Cárcere, para quem o fato da hegemonia pressupõe indubitavelmente que se levem em conta os interesses e as tendências sobre os quais se exerce a hegemonia, que dizer, que o grupo dirigente faca concessões de tipo econômico corporativo, sendo que esses compromissos não podem concernir ao essencial, já que se bem a hegemonia e ético-político não pode deixar de ser também econômica, então, no pode deixar de estar apoiada na função decisiva que o grupo dirigente exerce no núcleo reitor da atividade econômica.

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III) Os autores que afirmam a importância do conceito de classe, a partir de uma perspectiva não determinista, para pensar a questão da emancipação social como Daniel Bensaid e Sophie Béroud.

Nos filósofos da teoria critica como Jürgen Habermas deveriamos focar na sua original teoria da ação comunicativa e em Axel Honneth, em seu primeira obra de relevância Luta por reconhecimento - A gramática moral dos conflitos sociais.

Nos autores dos debates surgidos a partir da noção de virada linguística e que reconceitualizam hegemonia, do teórico político Ernesto Laclau focaremos em seu livro publicado com a filósofa política Chantal Moufe, Hegemonia e estratégia socialista assim como Contingency, Hegemony, Universality organizado com a filósofa-política estadunidense também pós-estruturalista Judith Butler e o filosofo esloveno Slavoj Žižek.

Em fim dos autores do terceiro grupo apresentado do filósofo francês Daniel Bensaid, Marx Intempestivo e da cientista política francesa e membro de ATTAC Sophie Béroud, Violence et sabotage dans les grèves en France que fazem parte dos

Cellatex, Quand l'acide a coulé , escrito baixo a direção de Christian Larose.

Para este trabalho focaremos a discussão nos dois ultimos grupos de autores e suas problématizações os da “virada linguistica” e aqueles que reafirmam o conceito de classe. No interior do primeiro grupo diferenciaremos as ideias de Laclau, Mouffe e Bluter das de Zizek.

O giro hegemônico

Os autores do giro hegemônico (Ernesto Laclau, Chantal Mouffe e Judith Butler)4 tem destacado que a importância de movimentos sociais está na novidade que os mesmos apresentam, já que através deles se articularia uma rápida difusão da conflictualidade social a relações mais e mais numerosas, que seria a característica das sociedades industriais avançadas. Seria necessário, portanto, conceber estes movimentos como uma extensão da revolução democrática a toda uma nova série de relações sociais; e sua novidade seria resultado do questionamento das novas formas de subordinação.5

4

Incluiremos nesta seção também algumas ideias e críticas do pensador eslovaco Slavoj Žižek, quem protagonizou uma intensa polêmica com os autores desta corrente. Ver Butler, Laclau e Žižek, 2011.

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Uma das consequências deste processo de reelaboração teórica tem sido que o conceito de classe, outrora o conceito mais importante no discurso da esquerda, parece nos anos recentes ter sido deslocado por um conjunto de novos conceitos que tentam dar conta do processo de transformação social pelo qual tem passado o capitalismo. Como afirma Therborn, as classes persistem, mas sem uma morada segura, e sua própria existência tem sido colocada em questão. Sua aparência social tornou-se irreconhecível depois de passar pela crítica da política pura, como na filosofia política da hegemonia discursiva desenvolvida por Ernesto Laclau e Chantal Mouffe, uma das mais importantes contribuições intelectuais da teoria política pós-marxista. Nesta nova perspectiva o conceito de luta de classes tem sido substituído pelo de antagonismo, um conceito puramente político (Therborn, 2007: 87). Temos um desplazamento conceitual muito relevante.

Os autores do giro hegemônico têm procurado fundamentos analíticos para pensar as possibilidades de uma teórica e de uma prática política radical no mundo contemporâneo, o que implica necessariamente problematizar a questão da emancipação social no capitalismo atual. Embora que sumamente polêmicas para a tradição marxista, as proposições colocadas pelos autores, apresentam uma série de desafios teóricos para pensar o problema da emancipação. Analisaremos, portanto, alguns dos elementos teóricos inovadores presentes na obra fundante desta perspectiva: Hegemonia e

estratégia socialista.6

Um primeiro elemento é o questionamento de determinados pressupostos fundamentais da tradição marxista. Para Laclau e Mouffe (1987: 2), as novas formas que adotou o conflito social no mundo contemporâneo colocaram em questão as referencias políticas e teóricas correspondentes aos discursos clássicos da esquerda e suas formas características de conceber os sujeitos políticos da mudança e a estruturação dos espaços políticos.

Como afirmam os autores: “O que está atualmente em crise é todo uma concepção do socialismo fundada na centralidade ontológica da classe operária, na afirmação da Revolução como momento fundacional na passagem de um tipo de sociedade a outra, e na ilusão da possibilidade de uma vontade coletiva perfeitamente homogênea que tornaria inútil o momento da política. O caráter plural e multifacetado que apresentam as lutas sociais contemporâneas tem terminado por dissolver o

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fundamento último no qual se baseava este imaginário político, habitado por sujeitos ‘universais’ e constituído em torno de uma História concebida em singular: isto é, o pressuposto de ‘a sociedade’ como uma estrutura inteligível, que pode ser compreendida e dominada intelectualmente a partir de certas posições de classe e reconstituída como ordem racional e transparente a partir de um ato fundacional de caráter político. Em outras palavras, a esquerda está assistindo ao ato final da dissolução do imaginário jacobino” (Laclau e Mouffe, 1987: 2).

Para chegar a estas conclusões, Laclau e Mouffe partem da construção de uma genealogia do conceito de hegemonia na sua tentativa de criticar os supostos deterministas das versões mais tradicionais do marxismo, por exemplo, o marxismo da Segunda Internacional. A categoria de hegemonia permitiria desmantelar a dicotomia entre “base” econômica e “superestrutura” política e ideológica, na qual a “superestrutura” estaria, ainda que em última instancia, determinada pela “base”.7 Para realizar a crítica da ortodoxia marxista, os autores, recuperaram o pensamento de Gramsci, no entanto buscando radicalizar o conceito de hegemonia de forma de superar em seu entendimento, algumas das ambiguidades também presentes no pensador sardo.

Segundo os autores: “O pensamento de Gramsci parece confrontado com uma ambiguidade básica em torno ao status da classe operária que o conduz, finalmente, a uma posição contraditória: por uma parte a centralidade política da classe operária depende da sua saída fora de si, da transformação da sua própria identidade articulando à mesma uma pluralidade de lutas e reivindicações democráticas – tem, portanto, um caráter histórico-contingente -; mas, por outra parte, parece que esse papel articulador estivera assignado pela infraestrutura – com o que passaria a ter um caráter necessário” (Laclau e Mouffe, 1987: 82).

Em nossa interpretação a partir da concepção que Gramsci tem sobre os partidos políticos, entendemos que o moderno príncipe, não é qualquer partido político, senão o partido político da classe operaria moderno, é o intelectual coletivo que deve construir uma nova vontade coletiva nacional popular sendo sua função complexa, diretiva e organizativa, mas também propagandística cultural e educativa. O príncipe moderno pretende e está racionalmente e historicamente destinado, a um fim, construir contra-hegemonia e fundar um novo tipo de Estado (Amadeo e Rojas, 2010:11).

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O partido político, segundo Gramsci, é um organismo, determinado historicamente, é a primeira célula na qual se aglomeram germes de vontade coletiva que tendem a se tornar universais e totais.

É importante destacar que para Gramsci, cada partido é expressão de um grupo social, e só de um grupo social, em determinadas ocasiões, determinados partidos representam um grupo social na medida em que exercem uma função de equilíbrio e arbitragem entre os interesses de seu grupo e dos outros grupos e na medida em que procuram fazer que o desenvolvimento do grupo representado se processe com o consentimento e com ajuda dos grupos aliados e muitas vezes dos grupos decidamente inimigos. Existe uma relação entre partidos politicos, classes e frações de classes para o comunista italiano.

O pensamento de Gramsci introduz, para Laclau e Mouffe, a partir de sua concepção de hegemonia uma novidade radical se comparado com as diversas tendências do marxismo clássico da Segunda Internacional. Autores importantes da Segunda Internacional, como Kautsky por exemplo, partiram nas suas análises da ideia de que as leis do desenvolvimento capitalista simplificariam os antagonismos sociais e criariam as condições para uma coincidência objetiva entre os interesses da classe e sua representação política nos partidos socialistas. A teoria gramsciana da hegemonia, afirmam os autores, aceitaria a complexidade do social como premissa da luta política a traves de uma série de deslocamento que realiza com relação à “doutrina de classes” leninista e coloca os pressupostos para uma prática democrática da política compatível com uma pluralidade de sujeitos históricos.8

Nossa interpretação é diferente. Gramsci tem ante si uma experiência historicamente nova e sobre ela reflexiona a partir dos elementos da teoria marxista e do leninismo, produzindo novos aportes teóricos que permitem, alem disso compreender a realidade e atuar sobre ela criadoramente para transformar-la.

Um segundo elemento colocado pelo livro de Laclau e Mouffe é a tese do político como primário e constitutivo do social, nenhum setor social poderia reclamar uma posição privilegiada na sociedade.9 Como consequência dessa tese a “classe” como

sujeito político perderia seu privilegio ontológico. Como alternativa, Laclau e Mouffe, vão a colocar a questão da existência de uma série potencialmente interminável de atores sociais que constroem suas identidades sociais em torno de noções como raça,

8

Cf. Laclau e Mouffe, 1987: 83.

9

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etnia, género ou identidade sexual. Como afirmam Critchley e Marchart, vários autores têm chamada a atenção sobre a importância dos novos movimentos sociais na política contemporânea, no caso de Hegemonia e estratégia socialista, a análise Laclau e Mouffe têm se centrado nas consequências desta aparição para o projeto político da esquerda. A partir desta nova configuração política o que surge como problema é a necessidade de uma articulação comum, numa perspectiva emancipadora, de todos esses movimentos sem cair em nenhum tipo de privilegio ontológico (Critchley e Marchart, 2008: 18).

Para Laclau e Mouffe, do ponto de vista teórico, é fundamental avançar na determinação dos antagonismos sociais tendo como ponto de partida a pluralidade das diversas posições, em muitos casos estas posições podem ser inclusive contraditórias entre si, e abandonar a ideia de um agente perfeitamente unificado e homogêneo como a classe operária. Isso não implica, para os autores, a incompatibilidade entre classe operária e o socialismo, porém não seria possível “deduzir logicamente interesses fundamentais no socialismo a partir de determinadas posições no processo econômico” (Laclau e Mouffe, 1987: 100).

Duas consequências importantes aparecem como resultado da tese do político como constitutivo do social. A primeira se refere ao vínculo existente entre socialismo e agentes sociais concretos. Para os autores não existiria relação lógica ou necessária entre os objetivos socialistas e as posições dos agentes na relações de produção, a articulação entre ambos seria externa e contingente. Em outras palavras, a articulação deve ser vista como resultado de uma construção hegemónica. Segundo os autores: “A era dos ‘sujeitos privilegiados’ – no sentido ontológico, não prático – da luta anticapitalista tem sido definitivamente superada” (Laclau e Mouffe, 1987: 103). A segunda se refere a natureza dos “novos” movimentos sociais, seria também impossível, e logicamente equivocado, afirmar a priori seu caráter progressivo. O significado político dos movimentos sociais não é intrínseco aos próprios movimentos, depende fundamentalmente de sua articulação hegemônica com outras lutas e reivindicações. A articulação política dos diferentes sujeitos sociais deve passar pela construção do projeto de uma democracia radicalizada, como retomaremos a seguir.10

Um terceiro elemento fundamental de Hegemonia e estratégia socialista foi a incorporação do “giro discursivo” aos análises das ciências sociais. Como afirmam

10

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Critchley e Marchart (2008: 18), quando a identidade deixa de ter seu ponto de constituição na estrutura social, esta só poderá ser resultado de uma construção discursiva, ou para utilizar o conceito empregado por Laclau e Mouffe de uma “articulação discursiva”.

Laclau e Mouffe definem articulação como “toda prática que estabelece uma relação entre elementos, de modo que a identidade destes resulta modificada como consequência dessa prática. À totalidade estruturada resultante da prática articulatória a chamaremos discurso” (Laclau e Mouffe, 1987: 119, ênfase no original).

Esta análise da político do ponto de vista discursivo implica entender alguns dos pressupostos básicos implícitos numa teoria do discurso. Em primeiro lugar, o fato de que todo objeto se constitua como objeto do discurso está desvinculado da questão da existência de um mundo exterior ao pensamento. O que os autores recusam é a ideia que os objetos possam se constituir como tais fora de uma condição discursiva de emergência. Em segundo lugar, Laclau e Mouffe sustentam o caráter material de toda estrutura discursiva; o contrário implicariam aceitar uma dicotomia clássica, a existente entre um campo objetivo constituído independentemente de toda intervenção discursiva e um “discurso” consistente na pura expressão do pensamento11.

Hegemonia e estratégia socialista apresenta elementos importantes para a

análise da política em termos discursivos, neste sentido um dos conceitos que aparecem como centrais na construção da estrutura do argumento dos autores, junto com o conceito de hegemonia, será o de antagonismo.12 Para Laclau e Mouffe o antagonismo não uma relação objetiva é uma relação na qual são expostos os limites de toda objetividade. Se, como afirmam os autores, o social só existe como uma tentativa parcial para instituir a sociedade – entendida como uma um sistema objetivo e fechado de diferenças – o antagonismo será a experiência do limite do social.13 O antagonismo, como afirmam Critchley e Marchart (2008: 19-20), expressaria o processo pelo qual o social, isto é, o campo das diferencias discursivas, e “homogeneizado numa cadeia de equivalência que operara frente a um exterior puramente negativo”.

Segundo o cientista político Atilio Boron, que polemiza com Laclau, a ideia de invenção de novos atores sociais, criaturas de potentes discursos convertidos em

11 Cf. Laclau e Mouffe, 1987: 123. 12 Cf. Critchley e Marchart, 2008: 19-20. 13 Cf. Laclau e Mouffe, 1987: 145-6.

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construtores hegelianos da historia, fascinou certos circulos intelectuais de Europa e de América Latina (Boron: 1994: 226)

Um quarto elemento estaria referido à consequências políticas desta proposta teórica. No capítulo final de Hegemonia e estratégia socialista, Ernesto Laclau e

Chantal Mouffe defendem que a tese de que deve ser colocada em questão a continuidade entre o imaginário político jacobino14 e o projeto marxista, e vão propor o projeto de uma democracia radicalizada. Os autores rejeitam a ideia que existam pontos privilegiados de ruptura e de confluência das lutas num espaço político unificado, e sustentam, contrariamente, a pluralidade e a indeterminação do social, como bases a partir do qual construir um novo imaginário político radicalmente libertário e infinitamente mais ambicioso nos seus objetivos que a esquerda clássica.15

Como afirmam os autores, “A problemática teórica que temos apresentado exclui no só a concentração da conflitualidade social em agentes aprioristicamente privilegiados, como o seriam as classes sociais, mas também a referência a todo princípio ou substrato geral de tipo antropológico que, ao mesmo tempo unificaria as distintas posições do sujeito e assignaria à resistência contra diversas formas de subordinação um caráter inevitável” (Laclau e Mouffe, 1987: 171).

O problema central que colocam os autores é o seguinte: quais são as condições discursivas da emergência de uma ação coletiva orientada pela luta contra as desigualdades e que coloque em questão as relações de subordinação? Para isto vão estabelecer uma diferencia entre subordinação, opressão e dominação. As relações de subordinação são aquelas em um agente está submetido a decisões de outro. As relações de opressão são, por sua vez, as relações de subordinação que tem se transformado em marcos de antagonismos. Por último, as relações de dominação são definidas como o conjunto de relações de subordinação que são consideradas como ilegítimas a partir de um agente social exterior às mesmas. A questão, como consequência, seria explicar como a partir das relações de subordinação se constituem relações de opressão. Sem a existência de um “exterior” discursivo, a partir do qual o discurso da subordinação posa ser interrompido, não existiria relação de opressão.16

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“O importante, em todo caso, é que esta mudança no princípio político da divisão social que o marxismo introduz, conserva inalterado um componente essencial do pensamento jacobino: a postulação de um momento fundacional de ruptura, e de um espaço único de constituição do político (Laclau e Mouffe, 1987: 170, ênfase no original).

15

Cf. Laclau e Mouffe, 1987: 170.

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Para os autores é só no momento no qual o discurso democrático esteja disponível, para articular as diversas formas de resistência, que existirão as condições para a luta contra os diferentes tipos de desigualdade.17 Para poder ser mobilizado era necessário que o princípio democrático de liberdade e igualdade tivesse se constituído como nova matriz do imaginário social. “Esta mutação decisiva no imaginário político das sociedades ocidentais ocorreu faz duzentos anos e pode ser definida nos seguintes termos: a lógica da equivalência se transforma no instrumento fundamental de produção do social. É para designar esta mutação que, tomando uma expressão de Tocqueville, falaremos de ‘revolução democrática’” (Laclau e Mouffe, 1987: 173).

O momento chave da revolução democrática foi a Revolução francesa, nesse momento surge um novo imaginário social, uma nova legitimidade, se consolidando desta forma a primeira experiência democrática. Isso constituirá, para Laclau e Mouffe, a força subversiva profunda do discurso democrático, que possibilitará deslocar a liberdade e a igualdade para domínios cada vez mais amplos e servirá de fermento a diversas lutas contra a subordinação.

A rejeição da categoria de sujeito como entidade unitária, por sua vez, coloca a possibilidade do reconhecimento da especificidade dos antagonismos constituídos a partir de diferentes posições de sujeito e permitindo pensar no aprofundamento de uma concepção pluralista e democrática. Para Laclau e Mouffe, “o discurso da democracia radicalizada não é mais o discurso do universal; não existe mais o lugar epistemológico a partir do qual se expressavam as classes e os sujeitos universais, e ele tem sido substituído por uma polifonia de vozes, cada uma das quais constrói sua própria e irredutível identidade discursiva. Este ponto é decisivo: não há democracia radicalizada e plural sem uma renuncia ao discurso do universal e ao suposto implícito no mesmo – a existência de um ponto privilegiado de acesso ‘à verdade’ que seria acessível tão só para um número limitado de sujeitos. Em termos políticos isto significa que, assim como não há superfícies privilegiadas a priori para a emergência de antagonismos, também não há regiões discursivas que o programa de uma democracia radical deva excluir a priori como possíveis esferas da luta” (Laclau e Mouffe, 1987: 215-6).

Para os autores todo projeto de democracia radicalizada deve incluir uma dimensão socialista, mas recusando a ideia que a abolição das relações de produção

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No caso do feminismo, o livro Vindication of the Rights of Women (1792), de Mary Wollstonecraft, determinaria o nascimento do feminismo, pelo desplazamento, mediando o uso do discurso democrático, do campo da igualdade política entre cidadãos ao campo da igualdade entre sexos (Laclau e Mouffe, 1987: 173).

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capitalistas elimine necessariamente as outras desigualdades. Como consequência “a autonomia dos distintos discursos e lutas, a multiplicação dos antagonismos e a construção de uma pluralidade de espaços” seriam as condições de possibilidade para um processo de transformação social radical (Laclau e Mouffe, 1987: 216).

Na publicações posteriores a Hegemonia e estratégia socialista, Laclau e Mouffe continuaram desenvolvendo, ainda que com ênfases diferentes, os argumentos colocados nesta obra.18

Contingencia, hegemonia e universalidade é outra obra importante na discussão

dos conceitos centrais do giro hegemônico. Como afirmam os autores o texto é resultado de uma série de conversações, várias resenhas e diálogos diversos; no caso de Žižek e Laclau de uma colaboração que tem inicio na publicação de Hegemonia e

estratégia socialista. Fazendo uma análise retrospectivo, os autores consideram que,

esse livro representou para o marxismo um giro em direção da teoria pós-estruturalista, um giro que colocou o tema da linguagem como fundamental para a formulação de um projeto democrático radical.19

Laclau acredita que existe um processo reelaboração no marxismo no sentido de uma mudança que vai da postulação de uma classe universal para uma universalidade hegemônica que transformaria o político em constitutivo do vínculo social. Žižek enfatiza a importância de que a análise pós-moderna da linguagem e da cultura examine a forma global do capitalismo atual e continua expondo o revés obsceno do poder. Butler, por sua vez, coloca a questão de como os movimentos sociais rearticulam o problema da hegemonia, considerando o desafio que as políticas sexuais têm colocado para a teoria da diferença sexual e propõe uma concepção anti-imperialista da tradução. Tanto Laclau, como Žižek e Butler, estão comprometidos com formas radicais de democracia, na expressão dos próprios autores, que buscam compreender “os processos de representação pelos quais procede a articulação política, o problema de identificação – e seus fracassos necessários – pela qual a mobilização política acontece” (BUTLER, LACLAU, E Žižek, 2011:11).

Para Laclau o conceito de hegemonia é central para pensar a possibilidades emancipatórias na sociedade contemporânea, ele funciona como uma matriz exemplar da relação entre universalidade e contingência histórica. Para o autor, a categoria de

18

Sobre estes desenvolvimentos ver Critchley e Marchart, 2008.

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hegemonia definiria o terreno mesmo no qual uma relação política é constituída, mas isso implica entender a especificidade da lógica hegemônica20.

Uma primeira dimensão da relação hegemônica: a desigualdade de poder é constitutiva dela. A partir de uma distribuição desigual de poder, a reivindicação de um setor social para ocupar o governo dependerá da sua capacidade para apresentar seus próprios objetivos particulares como aqueles compatíveis com o efetivo funcionamento da comunidade – operação hegemônica. Uma segunda dimensão: há hegemonia só se a dicotomia universalidade/particularidade é superada; a universalidade só existe encarnada em alguma particularidade, porém o inverso também é verdadeiro, nenhuma particularidade pode devir política sem se converter no locus de efeitos universalizantes. Uma terceira dimensão: a relação hegemônica requer a produção de significantes tendencialmente vazios que, ao tempo que mantém a incomensurabilidade entre o universal e os particulares, permitem a estes últimos assumir a representação do primeiro.21 A representação, portanto, é constitutiva da relação hegemônica; em tanto a universalidade da comunidade só é alcançável a través da mediação de uma particularidade, a relação de representação devem constitutiva. Uma quarta dimensão: o espaço no qual a hegemonia se expande é o da generalização das relações de representação como condição de constituição de uma ordem social. Isso explicaria, no argumento de Laclau, por que a forma hegemônica da política tende a se tornar geral no mundo contemporâneo; como o descentramento das estruturas de poder tenderia a aumentar, qualquer centralidade requereria que seus agentes estiveram constitutivamente sobredeterminados, isto é que sempre representassem algo a mais que sua mera identidade particularista.22

Para Laclau, a política implica a criação de fronteiras políticas, porém a criação desta fronteiras é mais difícil quando não é possível se apoiar em entidades estáveis – como nas classes sociais do discurso marxista – é necessário, portanto, construir as mesmas entidades sociais que devem ser emancipadas. A tarefa da emancipação social passa por criar um discurso universal expansivo a partir da proliferação de particularismos das últimas décadas. Existe uma dimensão universal nos discursos que organizam as demandas particulares e as políticas orientadas à resolução de temáticas particulares, mas é uma universidade implícita e não desenvolvida. A tarefa, continua o

20

Cf. BUTLER,LACLAU, E Žižek, 2011. 21

Sobre a questão da representação dentro da lógica hegemônica ver Laclau, 2007.

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autor, é expandir esses germes de universalidade, de modo de alcançar um imaginário social inteiro, capaz de disputar o consenso neoliberal hegemônico das últimas décadas (BUTLER,LACLAU, E Žižek, 2011:305).

Como afirma Žižek, a narrativa de Laclau vai do essencialismo marxista – o proletariado como único sujeito histórico cuja missão revolucionária está inscrita no seu próprio ser social – até o reconhecimento “pós-moderno” do vínculo contingente entre sujeito social e suas tarefas na luta política. Uma vez reconhecida esta contingência é necessário aceitar que não existe relação natural ou direta entre a posição de classe de uma agente e suas tarefas na luta política. No entanto, se por uma parte esta narrativa de esquerda pós-moderna convencional da passagem desde o marxismo “essencialista” até a irredutível pluralidade de lutas pós-modernas descreve sem dúvidas um processo histórico real, os defensores destas teses, pelo geral, omitem uma tendência à aceitação do capitalismo como única alternativa, e a rejeição de toda tentativa real de superar o regime capitalista liberal existente.23

Na medida em que a política pós-moderna, continua Žižek, implica “um recuo teórico do problema da dominação no interior do capitalismo”, é nesse ponto, nessa suspensão silenciosa da análise da classe, que é possível encontrar um caso exemplar do mecanismo de deslocamento ideológico: quando o antagonismo de classe é repudiado, quando seu papel estruturante é suspendido, outros indicadores de diferença social podem passar a suportar um peso excessivo: de fato podem todo o peso do sofrimento produzido pelo capitalismo.24 Para Žižek, a política pós-moderna teve o mérito de repolitizar uma série de lugares antes considerados “apolíticos” ou “privados”; no entanto esta perspectiva teórica parece não repolitizar o capitalismo, porque “a mesma noção e forma de ‘o político’ dentro da qual funciona estaria fundada na despolitização da economia” (BUTLER,LACLAU, E Žižek, 2011:105-6).

A lógica da emancipação social estrutura pelo conflito (Daniel Bensaïd e Sophie Béroud)

Daniel Bensaïd vai recuperar o pensamento de Marx para pensar a questão da emancipação social e particularmente vai resgatar a ideia de que o marxismo propõe de uma “lógica da emancipação enraizada no conflito”. Esta lógica da emancipação

23

Cf. BUTLER,LACLAU, E Žižek,, 2011: 101.

24

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colocada por Bensaïd, se articularia a partir de 3 elementos fundamentais: uma concepção da história em aberto25; uma concepção de classe como relação social e uma concepção da política como estratégia. 26

Em Marx, o intempestivo, Bensaïd critica a concepção histórica determinista presente em algumas correntes do marxismo e resgata uma leitura do pensamento de Marx que permita encontrar neste “uma nova representação da história e uma organização conceitual do tempo como relação social”. Bensaïd também critica a aqueles que reduzem o pensamento do Marx a uma sociologia empírica das classes, que buscaria ordenar e classificar as classes sociais, tornando a teoria incapaz de entender a dinâmica do conflito social. Para o autor, as classes não são objetos ou categorias de classificação sociológica, elas devem ser entendidas como “a própria expressão do devir histórico” (Bensaïd, 1999: 13-14).

Na elaboração teórica proposta por Marx, afirma Bensaïd, se articulariam três críticas: a crítica da razão histórica, a crítica da razão econômica e a crítica da positividade científica. Esta elaboração continuaria tendo um enorme valor heurístico para entender os problemas contemporâneos: a discussões sobre o fim da história, a relação da luta de classes com outras formas de conflito e os limites e potencialidades da emancipação social. Para Bensaïd, o marxismo continua tendo uma extraordinária vitalidade intelectual, porém desde que seja entendido “não um sistema doutrinário, mas [como] uma teoria crítica da luta social e da mudança do mundo” (Bensaïd, 1999: 14).

Um primeiro ponto refere-se à concepção da história.27 Bensaïd critica as interpretações do pensamento de Marx em termos deterministas ou teleológicos, e, como consequência, recusa as implicações políticas dessas interpretações que vão desde o voluntarismo ingênuo até a passividade burocrática. A fórmula apresentada por Marx do comunismo, nos Manuscritos econômico-filosóficos, como o “enigma resolvido da história” corresponde a um período intelectual no qual Marx também define claramente o comunismo como o “movimento real”, afirmação que coloca o pensamento de Marx distante de qualquer visão determinista da história.28 Para Bensaïd “A chave do mistério residiria portanto no ‘movimento real’ pelo qual a história é indissociavelmente história

25

Retomamos esta ideia de Montenegro e Medeiros, 2012.

26

Retomamos esta ideia de Montenegro e Medeiros, 2012.

27

Sobre este ponto ver Montenegro e Medeiros, 2012: 206-7.

28

Bensaïd se refere ao conhecido passagem de A ideologia alemã: “O comunismo não é para nós um estado de coisas [Zustand] que deve ser instaurado um Ideal para o qual a realidade deverá se direcionar. Chamamos de comunismo o movimento real que supera o estado de coisas atual” (Marx e Engels, 2007: 38, ênfase no original).

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que se faz e teoria crítica de seu próprio desenvolvimento”. É, portanto, necessário – na leitura de Bensaïd – desmoralizar a história e politizá-la de forma de torná-la aberta a um pensamento estratégico (Bensaïd, 1999: 24-5).

Na leitura de Karl Popper, que Bensaïd denuncia, Marx seria o fundador da forma mais radical de historicismo que já existiu; o marxismo seria responsável pela redução da causalidade histórica à causalidade natural. O historicismo levaria à tentativa voluntarista de mudar ou acelerar o curso da história ou à passividade e à acomodação às leis da história. Na visão de Popper o historicismo, do qual o marxismo formaria parte, levaria a um relativismo total tornando a elaboração do conhecimento supérflua.29

Bensaïd recusa esta tentativa de Popper de reduzir o marxismo ao historicismo; para o pensador francês, Marx estaria distante deste modelo previsibilidade histórica: “O Capital não é uma ciência das leis da história, mas a ‘crítica da economia política’. Ele não quer saber de verificar a coerência de uma História universal, antes desembaralhar tendências e temporalidade que se contrariam sem se abolirem. Os textos consagrados a conjunturas históricas particulares (as revoluções de 1848, a Guerra de Secessão, a Comuna de Paris) respondem ponto por ponto às interpelações de Popper. Este presente histórico não é um elo no encadeamento mecânico dos efeitos e das causas, mas uma atualidade repleta de possíveis, onde a política supera a história na

decifração de tendências que não fazem a lei” (Bensaïd, 1999: 29-30, ênfase nosso).

Bensaïd critica também as incompreensões e caricaturas que alguns autores tem feito de Marx, e a incapacidade de ver o pensamento de Marx na sua verdadeira complexidade, tomando textos isolados ou ideias fora de contexto, a crítica fundamental neste ponto é dirigida tanto contra Popper como contra Jon Elster.30 Marx utilizada, segundo Bensaïd, uma “teleologia imanente”, que não é entendida pela maioria dos autores que criticam Marx, e continua: “Quanto à utopia, ela sobrevive à custa de sutis metamorfoses não como invenção arbitrária do futuro, mas como ‘intenção orientada para o verdadeiro’. Daqui para frente, nada de cidade futuro, nada de mundo melhor. Mas uma lógica da emancipação enraizada no conflito” (Bensaïd, 1999: 34, ênfase

nosso).

29

Retomamos a leitura que Bensaïd (1999: 26) realiza de Popper já que nosso interesse está no pensamento do primeiro.

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“A exemplo da mão invisível de Smith ou da colmeia de Mandeville, a História desempenharia em Marx o papel de grande ordenadora do destino coletivo, condenando os indivíduos a cumprir seu grande desígnio mesmo sem saber. Elster vê nisso o resultado da estreita relação entre uma forte inclinação pela explicação funcional e a filosofia da história” (Bensaïd, 1999: 31).

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Um segundo ponto se refere à concepção relacional que o pensador francês tem das classes sociais.31 Para Bensaïd, as classes sociais e a luta de classe devem ser analisadas a partir de um conjunto de determinações, não apenas econômicas, mas também políticas; e por outra parte as classes devem ser entendidas de um ponto de vista relacional. Como afirma o autor: “A noção de classe, segundo Marx, não é redutível nem a um atributo de que seriam portadora as unidades individuais que a compõem, nem à soma dessas unidades. Ela é algo diferente. Uma totalidade relacional e não uma simples soma” (Bensaïd, 1999: 147).

Neste ponto novamente Bensaïd critica as leituras simplificadoras e reducionistas do pensamento de Marx. Uma dessas leituras simplificadora seria a de Schumpeter, para quem Marx no processo de abstração teórica imobilizaria as classes sociais, impossibilitando que o processo de desenvolvimento da formação social tivesse engendrado as complexas diferenciações de sua estrutura e de sua relação com o Estado.32 Para Bensaïd este leitura não consegue compreender a lógica de O Capital; as consequências da circulação e da reprodução já estão presente na análise do valor, que pressupõe a luta de classes e a determinação do tempo de trabalho socialmente necessário. A teoria das classes, afirma Bensaïd, “não teria como, nessa ótima, reduzir-se a um jogo estático de definições e classificações. Ela remete a um sistema de relações estruturado pela luta, cuja complexidade se desenrola plenamente nos escritos políticos [...]” (Bensaïd, 1999: 145).

A intepretação de Marx, continua o autor, sobre as classes recusa que estas sejam vistas como uma pessoa ou como um sujeito unificado e consciente. Só é possível pensar na existência das classes “na relação conflitual com outras classes”. Alguns autores tentam buscar no pensamento de Marx “uma sociologia”, de acordo com os critérios disciplinares; no entanto, seria mais adequado procurar no pensamento de Marx uma sociologia crítica ou uma sociologia negativa. Qualquer tentativa de assimilar a filosofia da práxis à uma sociologia está condenada ao reducionismo ou ao fracasso.

Será, portanto, em O Capital, não como texto sociológico mas como lógica expositiva que essa discussão deve ser remitida. As classes, afirma Bensaïd, se revelam “no e pelo movimento do Capital”. Essa revelação aparece claramente no livro III, com a discussão sobre o processo de produção global, mas também é tratada em várias

31

Sobre este ponto ver Galvão, 2011.

32

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oportunidades a partir do processo de produção.33 Do ponto de vista da lógica da exposição, como sustenta o autor, a apresentação da teoria do valor-trabalho e da mais-valia “pressupõe a exposição da relação antagônica de exploração, portanto a abordagem teórica das classes está presente desde o começo da análises no livro I” (Bensaïd, 1999-153-4).

Para Bensaïd, também não existia em Marx a ideia do proletariado como um sujeito mítico, o pensador alemã analisaria de maneira aberta e clara em O Capital, as contradições entre a condições reais do proletariado e o enigma de sua emancipação. O desenvolvimento das forças produtivas e a consolidação da produção capitalista permitiriam a constituição de uma classe operária cada vez mais numerosa e organizada, mas a alienação e o fetichismo estão também estruturalmente enraizadas no processo de produção. As condições de exploração, como afirma Bensaïd, fazem do trabalhador um ser mutilado a tal ponto que a submissão se perpetua. “Tal é o mistério insolúvel da emancipação a partir da submissão e da alienação. Ele encontra sua resposta no

confronto político e na luta de classes: somente a luta pode romper esse círculo vicioso” (Bensaïd, 1999: 155, ênfase nosso).

Um elemento importante na discussão sobre a emancipação social refere-se a relação entre movimentos sociais e classes, diferentes autores da tradição de esquerda têm colocados diversas possibilidades de articulação como por exemplo Laclau e Mouffe, cujos análises discutimos no apartado anterior.

Para Bensaïd e Béroud esta é uma questão intrincada, os movimentos sociais pareceriam ter tomado o lugar privilegiado antes ocupado pela classe operária, no entanto uma aproximação mais elaborada poderia surgir uma articulação complexa entre as reivindicações dos movimentos sociais e os interesses de classes.

Seria necessário, como afirma Galvão – autora que recupera na sua análise as formulações de Bensaïd e Béroud – pensar as possibilidades da uma ação coletiva emancipatória como resultado da articulação entre conflito de classes e lutas contra as diversas formas de opressão e pelo reconhecimento. O ponto de partida seria reconhecer que os conflitos de classes e outras formas de conflito sociais estão articulados ainda que analiticamente sejam distintas. Para a autora, os movimentos sociais não constituiriam apenas uma reação a formas diversas de dominação e opressão mas

33

Bensaïd enumera algumas destas aparições: no livro I, capítulo da terceira seção sobre a jornadas de trabalho; no capítulo sobre “Divisão do trabalho e manufatura˜ da quarta seção e no capítulo sobre a “Lei geral da acumulação capitalista” na sétima seção.

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também seriam expressão de um conflito contra a própria lógica da exploração capitalista (Galvão, 2011: 119). Entender a articulação entre ambas formas de conflictividade social seria tanto um desafio teórico como um desafio político. René Mouriax, numa linha argumental similar, afirma referindo-se em particular a opressão das mulheres nas sociedade capitalistas que na sociedade capitalista: “as mulheres são objeto de uma opressão específica herdada do passado e desde então articulada aos diversos pertencimentos de classe [...] A diversidade de feminismos tem, portanto, um fundamento social que se cristaliza em ideologias distintas que, todavia, têm em comum um objetivo emancipador (Mouriaux apud Galvão, 2011: 119). Para Béroud, por sua vez, “todo movimento social, em sua especificidade mesma não pode ser compreendido sem que seja considerada a centralidade da oposição capital/trabalho no seio das sociedades contemporâneas” (Béroud apud Galvão, 2011: 118).

Outro ponto importante sobre o tema das classes refere-se à questão da representação política. A teoria revolucionária, na interpretação do pensador francês, guardaria algum parentesco com a psicanálise: “A representação política não é uma mera manifestação de uma natureza social. A luta política das classes não é o reflexo superficial de uma essência. Articulada como uma linguagem, ela opera por deslocamentos e condensações das contradições sociais. Tem seus sonhos, seus pesadelos e seus lapsos. No campo específico do político, as relações de classes adquirem um grau de complexidade irredutível ao antagonismo bipolar que entretanto as determina (Bensaïd, 1999: 164-5).

Para Bensaïd é necessário considerar uma série de questões na análise das classes sociais e das representações políticas. Em primeiro lugar, as relações de produção, também, devem ser pensadas na sua articulação com o Estado, como analisa Marx em O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte, o interesse da burguesia está ligado de maneira íntima com a máquina governamental. Esse é um vínculo pelo qual se diferenciam as frações de classe e se elaboram as representações políticas. Em segundo lugar, deve ser sublinhado que a partir das classes fundamentais, determinadas pelo antagonismo das relações de produção, existe uma série de articulações cruzadas que multiplicam as diferenciações. Isto aparece claramente em A luta de classes na França e em A Guerra Civil na França, textos nos quais Marx problematiza a dialética entre relações sociais e representação política. Em terceiro lugar, se para Marx o proletariado é a classe potencialmente emancipadora, esse potencial não se realiza de maneira automática. Em O Capital são analisados os possíveis obstáculos ao desenvolvimento

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da consciência de classe como resultado da própria reificação das relações sociais. Aos obstáculos relacionados com as relações de produção devem se adicionar os efeitos específicos das lutas políticas. Por último, a relação entre estrutura social e luta política também é mediada pelas relações de domínio e dependência entre nações no âmbito internacional (Bensaïd, 1999: 164-7).

Como consequência, conclui Bensaïd: “A estrutura social de classe não determina portanto mecanicamente a representação e o conflito político. Se um Estado ou um partido têm caráter de classe, sua autonomia política relativa abre uma ampla gama de variações à expressão dessa ‘natureza’. A especificidade irredutível do político faz da caracterização social do Estado, dos partidos, a fortiori das teorias, um exercício eminentemente perigoso” (Bensaïd, 1999: 167).

Para Bensaïd (2008), um dos elementos chaves para pensar as possibilidades emancipatórias contemporâneas passa por recuperar o debate político estratégico na esquerda.34

O começo do século XX foi um período extremamente rico do ponto de vista dos debates estratégicos sobre a emancipação social: a análise do imperialismo, a discussão da relação entre partidos e sindicatos e a disputa sobre as estratégias de poder, protagonizados por as principais figuras do movimento socialista (Bernstein, Kautsky, Rosa Luxemburgo, Trotsky e Lenin, entre outros). Estas controvérsias deveriam ser recuperadas tanto porque elas são centrais para história contemporânea como também com o objetivo de resgatar a cultura comum da esquerda socialista. Para Bensaïd estamos frente a uma dupla responsabilidade a “transmissão de uma tradição ameaçada de conformismo e de invenção audaciosa de um futuro incerto” (Bensaïd, 2008: 28-9).

Assim para recuperar o debate estratégico seria necessário recuperar a política no sentido forte, a política como decisão, a política como arte estratégica. Para Bensaïd, “A arte da decisão, do momento propício, da bifurcação aberta para a esperança é uma arte estratégica do possível. Não o sonho de uma possibilidade abstrata, em que tudo que não é impossível seria possível, mas a arte de uma possibilidade determinada pela situação concreta: sendo cada situação singular, o momento da decisão é sempre relativo a essa situação, adaptado ao objetivo a ser atingido. A razão estratégica é a arte de resposta apropriada” (Bensaïd, 2008: 28-9).35

34

Retomamos neste ponto as sugestões presentes no texto de Montenegro e Medeiros, 2012.

35

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Para o autor a luta política não seria redutível ao movimento social, existiria sim uma reciprocidade e complementariedade entre o momento da política e o momento do social. A política surgiria no social, nas resistências contra a opressão do capitalista e na luta por novos direitos políticos e sociais que transformam os oprimidos em sujeitos de direito. O Estado, como encarnação ilusória do interesse geral, organizaria o campo específico da política, isto é uma relação de forças característica, uma linguagem particular do conflito político. Os antagonismos sociais, afirma Bensaïd, se manifestam num jogo de articulações e condensações. A luta de classes assume, desta maneira, a forma mediada da luta política.36

A articulação dos elementos anteriormente colocados: uma concepção da história em aberto, uma concepção de classe como relação social e uma concepção da política como estratégia definiriam uma lógica emancipatória específica, uma lógica da emancipação estrutura pelo conflito social.Seria inadequado, portanto, uma análise das possibilidades emancipatórias a partir de uma visão simplista ou determinista. Na visão de Bensaïd as lutas emancipatórias seriam resultado de uma articulação complexa onde a política teria um papel chave, como afirma o autor: “A dialética da emancipação não é uma marcha inevitável rumo a um fim garantido, as aspirações e as expectativas populares e são variadas, contraditórias, frequentemente divididas entre uma exigência de liberdade e uma demanda de segurança. A função específica da política consiste em articulá-las e conjugá-las por meio de um futuro histórico cujo fim continua incerto” (Bensaïd, 2008: 31).

Conclusões preliminares

O objetivo do presente trabalho foi analisar um conjunto de autores e teorias que têm pretendido contribuir para pensar o tema da emancipação social, e a série de questões envolvidas (o problema do sujeito, as demandas de reconhecimento, o lugar do contingente, e as possibilidades do universal), desde uma perspectiva da teoria politica contemporânea. Tentamos dar conta dos debates a partir da noção de giro hegemônico (Ernesto Laclau, Chantal Mouffe, Judith Butler e Slavoj Zizek) e depois de uma descripção de suas teorías contrastamos com autores, como Daniel Bensaid e Sophie Béroud, que afirmam a importância do conceito de classe, a partir de uma perspectiva não determinista, para pensar a questão da emancipação social. Analizamos a

36

(23)

reconceitualização idealista dos autores da primeira corrente do conceito de hegemonia gramsciano e apresentamos algumas breves observações críticas de Zizek a Laclau e Mouffe. Pela sua vez recuperamos a centralidade dos conceitos de classe e fração de classe assim como luta de classes e o movimento operário como sujeito histórico na sua complexidade na soceidade contemporanea.

Este debate sobre as ciencias sociais, sua relação com a emancipação humana e aluta de classes é central com o aprofundamento da crise capitalista mundial e independentemente da situação de defensiva da classe a necessidade de sua superação para que esta seja paga por aqueles que geraram e não pelos trabalhadores atualizando as teoria e as praxis anti-capitalista, no melhor sentido da tradição socialista revolucionária.

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