• Nenhum resultado encontrado

evolução histórica dos grupos empresariais da agroindústria canavieira paulista*

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "evolução histórica dos grupos empresariais da agroindústria canavieira paulista*"

Copied!
31
0
0

Texto

(1)

evolução histórica

dos grupos empresariais da

agroindústria canavieira paulista*

P e d r o R a m o s IE/Unicamp T a m á s S z m r e c s á n y i IG/Unicamp

R E S U M O

Análise da evolução dos grupos empresariais que controlaram e controlam a produção de cana e de seus derivados no Estado de São Paulo, mostrando a participação deles em três subperíodos. O primeiro, que vai do final do Século X I X ao ano de 1930, no qual se destacou uma forte participação do capital estrangeiro, caracterizou-se pela pre-sença de alguns grandes grupos nacionais e de diversos pequenos produtores isolados. No segundo período (1930-1990), marcado pela intervenção estatal, deu-se a formação e o crescimento de diversos grupos consti-tuídos por famílias de imigrantes italianos e/ou seus descendentes, num estreito vín-culo com a produção de equipamentos e com a comercialização centralizada. No úl-timo período (a partir de 1990), houve uma subdivisão no interior destes grupos e o sur-gimento de novos, assim como o incipiente retorno do capital estrangeiro, no contexto de um novo ambiente competitivo após a desregulamentação estatal.

P a l a v r a s - c h a v e : agroindústria canavieira, grupos empresariais, Estado de São Paulo, concorrência oligopolista, intervenção esta-tal.

ABSTRACT

Analysis of the evolution of the business groups which have been controlling the production of sugarcane and its derived commodities in the state of São Paulo, showing their changing participation in three periods. The first, which lasted from the end of the 19th century to the year 1930, witnessed a strong participation of foreign capital, together with the presence of some large national groups and various isolated small producers. In the second period ( 1 9 3 0 - 1 9 9 0 ) , characterized by state inter-vention, there was an emergence and expan-sion of numerous new groups, formed by Italian immigrants and/or their descendents, linked with the local production of indus-trial equipment and a centralized commer-cialization system. T h e last one (from 1990 on) has been featured by a subdivision within these groups and the entry of a few others, together with an incipient return of foreign capital, in the context of increased competition which followed the industry's deregulation.

K e y w o r d s : sugarcane agroindustry, busi-ness groups, São Paulo state, oligopolistic competition, state intervention.

* U m a primeira versão deste trabalho foi apresentada no seminário internacional "La Empresa en la América Ibérica, España y Portugal", realizado em Monterrey, M é -xico, em fevereiro de 2 0 0 2 .

(2)

D e s d e o i n í c i o da década de 1 9 5 0 , o Estado de S ã o Paulo é o m a i o r produtor de cana, açúcar e álcool do Brasil — uma posição até então ocupada pelos Estados nordestinos, n o t a d a m e n t e o de P e r n a m b u c o . A agroindústria canavieira constitui a t u a l m e n t e um dos principais setores de atividades da e c o n o m i a paulista, algo q u e p o d e ser e m p i r i c a m e n t e constatado através da superfície das áreas cultivadas c o m cana-de-açúcar, dos valores da p r o d u ç ã o agrícola e industrial dela resultantes, do n ú m e r o de empregos gerados, e do vulto dos capitais nelas investidos. Esta situação não surgiu de u m a hora para outra, mas foi o resultado de um processo cumulativo ao l o n g o do t e m p o , cujas o r i g e n s r e m o n t a m ao final do século X I X .1

U m a peculiaridade desse desenvolvimento e m termos internacionais vincula-se ao fato de ter girado, desde i n í c i o , em t o r n o das usinas — isto é, de unidades produtivas v e r t i c a l m e n t e integradas, baseadas na c o n c e n t r a ç ã o da propriedade fundiária e tendentes a uma crescente (mas n e m sempre contínua) centralização de capitais. Essas unidades concentradoras da oferta de cana, açúcar e á l c o o l a b r a n g e m tanto as atividades agrícolas c o m o as industriais do setor. Ao c o n t r á r i o do que o c o r r e em outros países produtores de açúcar de cana, o n d e t e m p r e d o m i n a d o unidades fabris do tipo centrales, q u e c o m p r a m sua m a t é r i a -prima de produtores agrícolas, p r a t i c a m e n t e inexiste na agroindústria canavieira do Brasil uma divisão t é c n i c a e social do trabalho entre a agricultura e a indústria. Em nosso país são as usinas que c o n c e n t r a m ambas, d e t e n d o assim tanto o m o n o p ó l i o da terra c o m o o m o n o p s ô n i o da força de trabalho rural. Esses traços v ê m perdurando há m u i t o tempo, pois já estavam presentes no sistema produtivo dos latifúndios escravistas dos e n g e n h o s c o l o n i a i s .2

Tratavase então, c o m o ainda se trata h o j e , de sistemas e e m p r e e n -dimentos integrados, nos quais não há núcleos e periferias, já que as usinas configuram em si o próprio sistema. T u d o gira em t o r n o delas e dos usineiros, da m e s m a f o r m a q u e na é p o c a da C o l ô n i a tudo girava em t o r n o dos e n g e n h o s e dos s e n h o r e s - d e - e n g e n h o , proprietários das terras e dos escravos. Isso não quer dizer, p o r é m , q u e t e n h a deixado de haver mudanças; antes pelo contrário, as mudanças foram bastante n u merosas e profundas, e m b o r a em sua m a i o r i a externas ao sistema p r o

-1 Veja-se a respeito Szmrecsányi & Veiga Filho, 1 9 9 9 , e Oliver & Szmrecsányi, 2 0 0 0 . 2 As razões dessa permanência do mesmo sistema estão devidamente analisadas em

R a m o s , 1 9 9 9 .

(3)

dutivo da agroindústria canavieira. C o m a expansão do café e de outras culturas, tanto de e x p o r t a ç ã o c o m o voltadas para o m e r c a d o i n t e r n o e, principalmente, c o m o processo de industrialização, ela d e i x o u de c o n s -tituir a principal atividade produtiva do País. Seus empresários, os usi-neiros, passaram a ter que dividir e disputar o p o d e r e c o n ô m i c o , p o l í t i c o e social c o m empresários de outros ramos. Ao m e s m o t e m p o , h o u v e t a m b é m mudanças de natureza regional, c o m o a já citada transferência da h e g e m o n i a canavieira do N o r d e s t e para S ã o Paulo, resultante da maior potencialidade do seu m e r c a d o i n t e r n o e da m a i o r capitalização de seu empresariado.

N e s t e trabalho iremos e x a m i n a r u m outro c o n j u n t o d e mudanças, basicamente internas ao setor, procurando a c o m p a n h a r a evolução h i s -tórica dos grupos empresariais que, em diferentes épocas, foram assu-m i n d o o c o n t r o l e da agroindústria canavieira paulista. Esta, desde o final do século X I X , n u n c a d e i x o u de girar em t o r n o das usinas e de se identificar cada vez mais c o m elas. M a s , p o r outro lado, não há dúvidas de que suas empresas e seus empresários foram se transformando através do t e m p o , d e i x a n d o entrever u m a sucessão de tipos de estrutura, de f u n c i o n a m e n t o e de o r g a n i z a ç ã o empresariais, a qual, p o r sua v e z , permite diferenciar pelo m e n o s três situações específicas e distintas entre si, a saber: anterior à década de 1 9 3 0 ; d o m i n a n t e entre os anos trinta e noventa do século X X ; e a atual, de transição, q u e teve i n í c i o na década de 1 9 9 0 e ainda se acha em p l e n o d e s e n v o l v i m e n t o .3

Origens e início do processo

D e v i d o à expansão, p r i m e i r o da e c o n o m i a a g r o e x p o r t a d o r a do café, e posteriormente da e c o n o m i a urbana e industrial que dela se o r i g i n o u ,4

0 Estado de S ã o Paulo passou a dispor, desde o final do século X I X , de

3 Esta última é uma situação de crise profunda, que está promovendo grandes m u

-danças tanto no número c o m o na organização das empresas do setor. Nesse contexto não pode ser descartada liminarmente a hipótese de que tais mudanças acabarão atingindo e afetando a própria estrutura setorial, induzindo nela uma separação, até agora inexistente, entre as atividades agrícolas e industriais, e dando origem a uma divisão de trabalho entre as mesmas, nos moldes das já existentes em outros setores agroindustriais do País.

4 Esses processos históricos foram b e m estudados por numerosos autores, podendo

se destacar, entre outros, os trabalhos de Milliet, 1 9 4 6 , M o n b e i g , 1952, Silva, 1 9 7 6 e Cano, 1 9 7 7 .

(4)

um amplo e c r e s c e n t e m e r c a d o regional para os produtos derivados da cana-de-açúcar. Estes produtos envolviam na é p o c a , além do açúcar ( u m g ê n e r o a l i m e n t í c i o de primeira necessidade), a aguardente de cana (de amplo c o n s u m o entre as classes trabalhadoras), que foi historicamente m u i t o i m p o r t a n t e na gênese e na e v o l u ç ã o inicial da agroindústria canavieira paulista. A c r e s c e n t e demanda de á l c o o l só iria surgir mais tarde, c o m o resultado da implantação de indústrias químicas e farma-cêuticas no Estado.

Ao lado destes fatores e c o n ô m i c o s favoráveis, que foram se a c e n -tuando em t e r m o s relativos através das sucessivas crises de superpro-dução da lavoura cafeeira, c u m p r e m e n c i o n a r as c o n d i ç õ e s e c o l ó g i c a s propícias ao cultivo da c a n a - d e - a ç ú c a r em várias regiões do Estado e o constante apoio do g o v e r n o estadual a essa modalidade de diversifica-ção da e c o n o m i a agrícola, c o m o e l e m e n t o s determinantes do ressurgi-m e n t o da agroindústria canavieira paulista a partir do i n í c i o do r e g i ressurgi-m e republicano.5

O açúcar, a aguardente e o á l c o o l produzidos em S ã o Paulo naquele t e m p o t i n h a m c o m o c o n c o r r e n t e s os produtos similares trazidos do N o r d e s t e e gravados c o m elevados custos de transporte.6 A substituição

dessas i m p o r t a ç õ e s pela p r o d u ç ã o paulista teria que o c o r r e r mais c e d o ou mais tarde. Na verdade, a c o n t í n u a ampliação do cultivo da cana e da produção de seus derivados em S ã o Paulo só c h e g o u a ser t e m p o r a -r i a m e n t e i n t e -r -r o m p i d a p o -r um su-rto de m o s a i c o na década de 1 9 2 0 . A rápida e eficiente d e b e l a ç ã o dessa praga na segunda metade daquela década e o progressivo a u m e n t o da produção de á l c o o l foram os fatores fundamentais dos grandes avanços o c o r r i d o s desde então no E s t a d o .7

M a s , os progressos já haviam sido bastante grandes antes disso: entre os anos-safra de 1 8 9 4 / 9 5 e 1 9 2 4 / 2 5 , o n ú m e r o de usinas em t e r r i t ó r i o paulista cresceu mais de três vezes, passando de c i n c o a 1 7 . Na segunda metade dos anos v i n t e , h o u v e o f e c h a m e n t o de u m a e o a c r é s c i m o de mais três, c h e g a n d o - s e a um total de 19 no ano-safra de 1 9 2 9 / 3 0 .

5 Antes da expansão do café em São Paulo a partir de meados do século X I X , a

agroindústria canavieira já havia sido o principal setor e c o n ô m i c o da então Pro-víncia. Além dos trabalhos mencionados na nota 1, veja-se a este respeito o livro de Petrone, 1 9 6 8 , e o artigo de Szmrecsányi, 1 9 9 2 .

6 No ano-safra 1 9 0 0 / 0 1 , as importações de açúcar de outros Estados correspondiam

a quase dois terços ( 6 6 , 3 % ) do consumo aparente total de São Paulo, estimado em 7 5 7 . 1 3 6 sacas de 60 kgs.

7 Veja-se a respeito a dissertação de mestrado de Oliver, 2 0 0 1 .

(5)

D u r a n t e toda a P r i m e i r a R e p ú b l i c a ( 1 8 9 0 - 1 9 3 0 ) , essa agroindústria canavieira foi liderada p o r u m a empresa de capital estrangeiro: a S o c i é t é des S u c r e r i e s B r é s i l i e n n e s , dona de quatro usinas em t e r r i t ó r i o paulista e mais duas no Estado do R i o de J a n e i r o .8 Q u a s e todas as demais usinas

p e r t e n c e n t e s a empresários locais, tiveram o r i g e m i n i c i a l m e n t e na e c o -n o m i a cafeeira, seja p o r diversificação de suas atividades, seja p o r muda-nça de r a m o .9 Um fator que c e r t a m e n t e influiu nesse processo foi a c o n t í n u a

e substancial elevação dos preços i n t e r n o s do açúcar, da aguardente e do á l c o o l1 0 vis-à-vis as constantes flutuações e tendências baixistas do

café no m e r c a d o internacional. Esse contraste manifestou-se c o m grande intensidade na é p o c a da p r i m e i r a G u e r r a M u n d i a l e mantevese p r a -t i c a m e n -t e inal-terado no p ó s - G u e r r a , a-té o final dos anos vin-te.

E m b o r a as evidências estejam dispersas e não possam ser comparadas umas c o m as outras, as i n f o r m a ç õ e s disponíveis em relatórios oficiais dão a p e r c e b e r algumas i m p o r t a n t e s mudanças estruturais e qualitativas no setor já durante o p e r í o d o a n t e r i o r a 1 9 3 0 . T o m a n d o - s e c o m o marcos de referência dois desses relatórios — o de J ú l i o B r a n d ã o S o b r i n h o , publicado em 1 9 0 3 , e o de J o s é V i z i o l i , divulgado 23 anos mais tarde1 1

— p o d e s e observar que h o u v e nesse período, ao lado do grande a u -m e n t o do n ú -m e r o de usinas do Estado, u -m a relativa d e s c o n c e n t r a ç ã o de sua capacidade instalada e u m a substancial diversificação de sua oferta, c o m todas as usinas passando a ser capazes de produzir não apenas açúcar, mas t a m b é m aguardente e á l c o o l .

N o s dados da tabela 1, relativos ao ano de 1 9 0 1 , p o d e - s e observar que a participação das usinas na quantidade de cana m o í d a , assim c o m o no v o l u m e da produção de açúcar e de aguardente do Estado, ainda era m u i t o p e q u e n a , m o n t a n d o respectivamente a 1 0 , 2 % , 1 5 , 1 % e 1 , 1 % d o total geral. N a q u e l a época predominavam ainda de forma quase absoluta os engenhos e engenhocas. E, entre as usinas, havia u m a nítida h e g e m o n i a das quatro p e r t e n c e n t e s à Sucreries Brésiliennes, responsáveis p o r 7 8 , 4 % da m o a g e m de cana e da p r o d u ç ã o de açúcar das mesmas, e p o r 8 6 , 4 %

8 Ver Picard, 1 9 0 3 e Szmrecsányi, 1 9 9 8 .

9 Conforme Gnaccarini, 1 9 7 2 , pp. 66 e 1 3 5 . Sobre esse tema, veja-se também a tese

de livre-docência de Bray, 1 9 8 9 .

1 0 C o n f o r m e Queda, 1 9 7 2 , p. 8 6 .

1 1 Júlio Brandão Sobrinho, "Lavouras de Canna e de Algodão e Indústrias do Assucar

e de Tecidos no Estado de São Paulo", Boletim da Agricultura, 4 (12) 1 9 0 3 , pp. 5 5 9 -6 0 -6 ; José V i z i o l i , " A Presente Situação da Indústria Assucareira no Estado de São Paulo", Idem, 2 7 ( 1 0 ) e (11) 1 9 2 6 , pp. 3 3 0 - 3 5 5 e 3 9 9 - 4 2 3 .

(6)

da produção de aguardente delas. N a q u e l e ano, a usina de P o r t o Feliz estava renovando seu e q u i p a m e n t o , mas a de L o r e n a já era m e n o r que as usinas Freitas e M o n t e Alegre, ambas i n d e p e n d e n t e s da Sucreries.

Tabela 1. Produção da agroindústria canavieira paulista em 1 9 0 1

Usinas (Localização) Proprietários Cana moida A ç ú c a r Aguardente (t) (t) ( 1 0 0 0 1) D u m o n t (São Simão) H e n r i q u e D u m o n t 4 . 3 0 4 2 4 0 4 0 Freitas (Araraquara) B a n c o da R e p ú b l i c a 1 3 . 4 0 0 8 4 0 5 6

Indaiá (Franca) Augusto R a m o s n d 2 1 0 3 0

Lorena Sucreries Brésiliennes 1 0 . 2 4 7 8 5 9 9 3

M o n t e Alegre (Piracicaba) A n t o n i o Alves de Carvalho 1 0 . 3 2 6 9 0 0 nd

Piracicaba Sucreries Brésiliennes 5 3 . 3 9 0 4 . 1 3 6 4 9 0

Porto Feliz Sucreries Brésiliennes 1.878 1 2 0 8

Villa Raffard (Capivary) Sucreries Brésiliennes 3 6 . 3 7 3 2 . 8 1 5 2 1 1

S u b - T o t a l 1 2 9 . 9 1 8 1 0 . 1 2 1 9 2 8

E n g e n h o s & Engenhocas 1 . 1 5 0 . 0 0 0 5 7 . 0 0 0 8 0 . 0 0 0

T O T A L G E R A L 1 . 2 7 9 . 9 1 8 6 7 . 1 2 1 8 0 . 9 2 8

F o n t e : Brandão S o b r i n h o , 1 9 0 3 , p p . 5 7 5 - 5 8 2 .

P o r sua vez, nos dados de 1 9 2 6 da tabela 2, já se p o d e notar u m a situação b e m diversa daquele que vigorara 25 anos antes. As usinas e r a m então proprietárias de quase um t e r ç o dos canaviais do Estado, a l é m de responsáveis p o r mais de 6 2 % da sua produção de açúcar, e p o r 9 , 4 % da sua p r o d u ç ã o de aguardente e á l c o o l . Elas eram b e m mais n u -merosas do que antes, fazendo c o m que a h e g e m o n i a das quatro usinas de Sucreries se tornasse b e m m e n o r . C o m efeito, naquele ano, a empresa francesa possuía s o m e n t e 2 1 , 3 % dos canaviais das usinas, detinha 2 9 , 8 % da capacidade m o a g e m , e podia produzir m e n o s de um t e r ç o do açúcar e apenas 3 0 % do á l c o o l e / o u aguardente das mesmas.

Os mais extensos canaviais p e r t e n c i a m então à usina de Villa Raffard, da Sucreries, seguida pelas usinas Sta. Barbara, Amália, Fortaleza e M o n t e Alegre, todas independentes. A q u e l a m e s m a usina detinha igualmente a m a i o r capacidade de m o a g e m do Estado, seguida pela usina de P i r a -cicaba, t a m b é m p e r t e n c e n t e à Sucreries. M a s , esta última já era então igualada neste particular pelas usinas Fortaleza, J u n q u e i r a , M o n t e Alegre e Sta. Barbara, todas independentes. E no que se refere à produção de açúcar, e m b o r a a usina de Villa Raffard fosse, mais u m a vez, a maior, encontravam-se empatadas no segundo lugar as usinas de Piracicaba (da Sucreries), J u n q u e i r a e Sta. B a r b a r a (independentes). F i n a l m e n t e

(7)

c o m relação ao álcool e / o u à aguardente, a m a i o r capacidade de p r o -dução continuava sendo a de Villa Raffard, v i n d o a seguir empatadas as de Piracicaba e P o r t o Feliz (ambas da S u c r e r i e s ) , j u n t o c o m Fortaleza, J u n q u e i r a , M o n t e A l e g r e e Sta. Barbara (todas i n d e p e n d e n t e s ) .

Tabela 2. Capacidade instalada da agroindústria canavieira paulista em 1 9 2 6 (24 horas de trabalho)

Usinas (Localização) Proprietários Canaviais M o a g e m Açúcar Á l c o o l

(ha) (t) (kg) e/ou

aguar-dente (1) Albertina (Sertãozinho) G. Schmidt & Irmãos 4 8 4 1 2 0 8 . 4 0 0 1 . 6 0 0 Amália (Santa R o s a ) Matarazzo & Cia. 2 . 1 9 9 6 0 0 4 5 . 0 0 0 7 . 8 0 0 Barbacena (Sertãozinho) Bighetti & Biasi 4 8 4 1 5 0 9 . 7 2 0 1 . 8 0 0 Esther (Campinas) S. A. Usina Esther 9 8 0 450 3 6 . 0 0 0 7 . 0 0 0 Fortaleza (Araraquara) Refinadora Paulista 2 . 0 9 7 6 0 0 4 5 . 0 0 0 8 . 0 0 0 Gurupiá (Araraquara) Elias Villares Barbosa 121 3 0 1.800 3 0 0 Itahyquara (Caconde) J . B . Lima Figueiredo 4 2 4 2 4 0 1 9 . 2 0 0 3 . 2 0 0 Junqueira (Igarapava) F. M a m i a n o Junqueira 1.848 6 0 0 4 8 . 0 0 0 8 . 0 0 0

Lorena Sucreries Brésiliennes 3 3 5 260 2 3 . 4 0 0 3 . 0 0 0

Miranda (Pirajuhy) S. A. Usina Miranda 5 4 8 2 4 0 1 6 . 8 0 0 3 . 0 0 0 M o n t e Alegre (Piracicaba) Companhia U n i ã o

dos R e f i n a dores 2 . 0 1 0 6 0 0 4 5 . 0 0 0 8 . 0 0 0 Pimentel (Jaboticabal) Albano Pimentel 484 180 1 4 . 4 0 0 2 . 4 0 0 Piracicaba Sucreries Brésiliennes 932 6 0 0 4 8 . 0 0 0 8 . 0 0 0 Porto Feliz Sucreries Brésiliennes 3 0 3 5 5 0 4 6 . 7 4 0 8 . 0 0 0 Sta. Bárbara S. A. U s . Sta. Bárbara 2.293 6 0 0 4 8 . 0 0 0 8 . 0 0 0 Sto.Antonio (Araraquara) F. Cunha Junqueira 242 1 4 0 9 . 7 8 0 1.800 Schmidt (Sertãozinho) G. S c h m i d t & Irmãos 5 3 2 3 0 0 2 1 . 0 0 0 4 . 0 0 0 Vassununga (Santa R i t a ) S. A. U s . Vassununga 179 1 4 0 9 . 7 8 0 2 . 0 0 0 Villa Raffard (Capivary) Sucreries Brésiliennes 2 . 4 6 3 7 0 0 5 9 . 4 6 0 9 . 9 0 0

Sub-total 1 8 . 9 4 5 7 . 0 6 0 5 5 5 . 4 8 0 9 5 . 8 0 0

Engenhos, Engenhocas & Fornecedores 4 1 . 4 9 5 N d 3 3 0 . 0 0 0 9 1 9 . 6 8 0 T O T A L G E R A L 6 0 . 4 4 0 N d 8 8 5 . 4 8 0 1 . 0 1 5 . 4 8 0 F o n t e : V I Z I O L I , 1 9 2 6 , pp. 3 3 1 - 3 3 5 .

As mudanças observáveis entre as duas tabelas i r i a m acentuar-se nos anos subsequentes, c o m as usinas c o n t i n u a n d o a apossar-se progressiva-m e n t e da progressiva-m a i o r parte dos canaviais paulistas, e passando a responder pela quase totalidade da produção de açúcar e de álcool, apenas deixando para os engenhos e engenhocas u m a decrescente produção de aguardente e rapadura,1 2 e c o m as usinas independentes passando a superar as da

(8)

Sucreries sob todos os aspectos, c o m o veremos na p r ó x i m a parte deste t r a b a l h o .1 3

O período entre 1930 e 1990

A crise de 1 9 2 9 teve c o m o um de seus principais efeitos, em S ã o Paulo, a intensificação do m o v i m e n t o de busca de novas oportunidades de n e g ó c i o para os recursos antes reservados para a expansão do c o m -p l e x o cafeeiro. D e v e ser tido em c o n t a que, e n q u a n t o o café era um produto de e x p o r t a ç ã o da e c o n o m i a paulista, o açúcar era de m e r c a d o i n t e r n o , sendo que grande parte de sua oferta no t e r r i t ó r i o paulista era p r o v e n i e n t e do N o r d e s t e , p a r t i c u l a r m e n t e de P e r n a m b u c o .1 4 Nessa

é p o c a , S ã o Paulo, considerando-se a Capital e o Interior, e x a t a m e n t e e m função d o dinamismo gerado pelas e x p o r t a ç õ e s d e café, j á c o n c e n -trava parte significativa do m e r c a d o i n t e r n o brasileiro, sendo a outra área i m p o r t a n t e a da Capital da R e p ú b l i c a , a cidade do R i o de J a n e i r o . Assim, é fácil p e r c e b e r que as atividades agroindustriais do c o m p l e x o canavieira passaram a representar um grande atrativo para u m a utili-zação alternativa dos recursos (terra, capital e trabalho) até e n t ã o reser-vados para futuras ampliações dos cafezais. Assim, os proprietários dos latifúndios paulistas, que d e t i n h a m e n t ã o e n o r m e s reservas de terras e u m a disponibilidade de f o r ç a - d e - t r a b a l h o alimentada pela imigração, intensificaram seus investimentos na constituição de usinas de açúcar destinadas a abastecer os mercados l o c a l e regional.

Esta foi a principal razão da c r i a ç ã o pelo G o v e r n o Federal da C o m i s -são de Defesa da P r o d u ç ã o A ç u c a r e i r a em 1 9 3 1 , e da sua transformação n o Instituto d o A ç ú c a r e d o Á l c o o l e m 1 9 3 3 . 0 controle governamental da oferta de açúcar no m e r c a d o i n t e r n o tinha no i m p e d i m e n t o da e x -pansão paulista a sua dimensão principal: procurava-se evitar a entrada de novos produtores, c o m o que se p o d e r i a continuar garantindo a c o -l o c a ç ã o d o produto nordestino n o m e r c a d o pau-lista. C o m o ta-l c o n t r o -l e da oferta foi a c o m p a n h a d o de u m a administração estabilizadora ou de defesa dos preços do açúcar, e l o g o depois t a m b é m da cana, p e r c e b e - s e claramente q u ã o atrativa passou a ser a constituição de empresas

desti-1 3 Em boa parte baseada nas dissertações de mestrado de Pedro R a m o s , 1 9 8 3 e de

Eduardo F. P. Moreira, 1 9 8 9 .

1 4 No ano-safra 1 9 2 9 / 3 0 , as importações paulistas do produto compreendiam mais

de dois terços (68,7%) do consumo aparente total do Estado, cujo volume alcançava então 4 . 0 8 0 . 0 7 4 sacas.

(9)

nadas à e x p l o r a ç ã o da p r o d u ç ã o de cana e de a ç ú c a r em S ã o Paulo. A ação estatal p r e o c u p o u - s e t a m b é m em reduzir a oferta de açúcar através do r e d i r e c i o n a m e n t o da m o a g e m da cana para o b t e n ç ã o de á l c o o l des-tinado ao uso c o m o combustível. C h e g o u m e s m o a p r o m o v e r a trans-f o r m a ç ã o ou conversão de açúcar em álcool. Isto explica p o r q u e alguns grupos adentraram o c o m p l e x o produzindo n ã o açúcar, mas á l c o o l .

É fundamental ter em c o n t a que essa ação estatal foi c o n c e b i d a para evitar novos entrantes, mas não para evitar q u e os produtores q u e já estavam no c o m p l e x o transformassem suas unidades em fábricas mais adequadas e / o u maiores. Ou seja, não i m p e d i a a transformação de e n g e n h o s em usinas. Assim, esta ampliação e esta transformação foram os m o v i m e n t o s mais usuais dos grupos empresariais açucareiros entre 1 9 3 1 e 1 9 4 1 . Ou seja, antes da sua generalização no conflito mundial.

N e s t a época, q u e m dominava o a b a s t e c i m e n t o de açúcar em S ã o Paulo eram ainda os m e s m o s grupos de c o m e r c i a n t e s / r e f i n a d o r e s , que, desde o i n í c i o d o S é c u l o X X , haviam s e transformado t a m b é m e m grandes produtores, c o m o foi apontado na parte a n t e r i o r .1 5 Na primeira

m e t a d e dos anos trinta, as usinas da S o c i é t é e do g r u p o M o r g a n t i d e tinham quase metade da p r o d u ç ã o paulista de a ç ú c a r de usina (ver T a -bela 3 ) . O u t r o s grupos importantes eram provenientes d o c o m p l e x o cafeeiro: seja da p r o d u ç ã o agrícola, seja do c o m é r c i o exportador, seja ainda da e x p l o r a ç ã o c o n j u n t a dessas atividades. Estes são os casos dos demais grupos que a p a r e c e m no primeiro p e r í o d o da Tabela 3.

O ú n i c o g r u p o q u e tinha, nesse período, atividades e c o n ô m i c a s mais div&rsificadas era o dos Matarazzo. Os o i t o p r i m e i r o s grupos elevaram o total de sua p r o d u ç ã o em 2 5 , 6 % entre 1 9 3 0 e 1 9 4 0 e s o m e n t e em 1 2 , 6 % entre 1 9 4 0 e 1 9 4 5 , algo que pode ter d e c o r r i d o d e e s g o t a m e n t o da possibilidade de aproveitamento da capacidade produtiva instalada ou de sua ampliação nas mesmas unidades produtoras. C o n t u d o , o u t r o e l e m e n t o explicativo e n c o n t r a s e no fato de q u e o I A A permitia, c o n -f o r m e m e n c i o n a d o , a trans-formação de p e q u e n o s e n g e n h o s em usinas, e isso explica o grande c r e s c i m e n t o do n ú m e r o de usinas do segundo para o terceiro p e r í o d o da tabela. C o m o se p o d e ver, o n ú m e r o de unidades dos maiores grupos p e r m a n e c e u inalterado entre 1 9 3 6 e 1 9 6 0 .

C o n t u d o , há um outro i m p o r t a n t e aspecto a destacar. C o m o o I A A

1 5 Na média do qüinqüênio 1 9 3 5 - 3 9 , as compras de açúcar pelo Estado de São Paulo

e Distrito Federal foram responsáveis por 58 % do volume total comercializado no mercado interno. Em 1 9 4 5 , São Paulo importou 7 9 , 5 % do que produziu; em 1 9 6 1 , este porcentual foi de 4 , 5 % . Ver R a m o s , 2 0 0 1 a e 2 0 0 1 b .

(10)

c r i o u u m a estrutura para fiscalizar o respeito às quotas de produção estipuladas para cada unidade produtora — vale dizer, para cada usina — t o r n o u - s e prática c o m u m o recurso, p o r parte de seus proprietários, a artifícios q u e disfarçassem a d e s o b e d i ê n c i a a tais quotas, c o m os e x c e -dentes sendo comercializados à revelia da Autarquia. Em outras palavras, pode-se afirmar que a produção das usinas, principalmente das m e n o r e s , era m a i o r do q u e m o s t r a m os dados oficiais. Tal prática perdurou p o r m u i t o t e m p o . Da tabela 3 deve ainda ser destacado o grande c r e s c i m e n -to da p r o d u ç ã o que o c o r r e u no p ó s - G u e r r a , especialmente nos anos c i n q ü e n t a , q u a n d o S ã o Paulo t o r n o u - s e o m a i o r produtor nacional a partir da safra de 1 9 5 1 / 5 2 .

Tabela 3. Os o i t o maiores grupos açucareiros paulistas, por períodos ( 1 9 3 0 - 1 9 3 5 , 1 9 4 6 - 1 9 5 0 e 1 9 5 6 - 1 9 6 0 )

Períodos 1 9 3 0 - 1 9 3 5 1 9 3 6 1 9 4 0 1 9 4 6 - 1 9 5 0 1 9 5 6 - 1 9 6 0 Grupos N. Us. % Prod. N.Us. % Prod. N.Us. % Prod. N.Us % Prod. l . S o c i é t é S. Brésiliennes 04 28,2 03 24,8 03 14,1 03 7,3 2.Morganti (Refinadora Pta.) 02 17,3 02 17,6 02 13,6 02 6,0 3.F. M . J u n q u e i r a (Sucessores) 01 9,8 01 9,2 01 5,9 01 2,8

4.Matarazzo 01 8,9 01 7,9 01 4,7 -

-5.Alves de Almeida 01 7,9 01 7,2 01 4,0 -

-6.Família Nogueira 01 5,7 01 5,1 01 3,6 -

-7 . G . Schmidt & Irmãos 02 3,8 - - - - -

-8 . R e i s de Magalhães 01 3,5 01 3,5 - - - -9.Francisco Frascino - - 01 3,3 - - -10.Irmãos O m e t t o - - - - 08 13,3 09 21,7 11.Irmãos B i a g i - - - - 02 3,3 02 3,5 1 2 . G r u p o D e d i n i - - - - - - 06 5,5 13.Família Marchesi - - - - - - 03 3,3 14. Zillo-Lorenzetti - - - - - - 02 3,6 % O I T O GRUPOS 41,9 85,2 33,3 78,5 25 62,5 29,5 53,6 TOTAL ESTADO (n.) (t) 31 102.527 33 139.774 76 353.156 95 1.220.496 Fonte: R a m o s , 1 9 8 3 , diversas páginas.

A S e g u n d a G u e r r a M u n d i a l afetou irreversivelmente a eficácia da ação estatal. C o m o esse conflito teve na luta submarina um c o m p o n e n t e importante, o abastecimento de S ã o Paulo c o m açúcar nordestino vindo pelo m a r foi i n t e r r o m p i d o , o b r i g a n d o o I A A a p e r m i t i r a instalação de pequenas unidades produtoras no t e r r i t ó r i o paulista, as quais deveriam ser fechadas p o s t e r i o r m e n t e e / o u mantidas c o m o tais depois que se normalizasse aquele a b a s t e c i m e n t o . Isto, p o r é m , não o c o r r e u : e m 1 9 4 6 , p o r pressão dos produtores paulistas, o I A A teve que abrir m ã o de seu

(11)

p l a n e j a m e n t o de c o n t r o l e da oferta, p e r m i t i n d o que u m a e n o r m e q u a n -tidade de pequenas quotas de p r o d u ç ã o (de 4 0 0 sacos!), registradas entre 1 9 4 1 e 1 9 4 5 , pudessem ser unificadas pelos interessados em c o n s t i t u i r fábricas, o que deu o r i g e m a um n ú m e r o bastante significativo de p e -quenas usinas entre 1 9 4 6 e 1 9 5 1 . Ou seja, f o r m a r a m - s e e adentraram a produção açucareira paulista novos grupos empresariais a partir de f a m í -lias proprietárias de terras — seja em regiões já antigas produtoras, seja especialmente em novas regiões, que t a m b é m passaram a t e r os seus canaviais.1 6

A m a i o r parte destes grupos tinham p o r base constitutiva o r i g i n á r i a famílias de imigrantes italianos e seus descendentes, que haviam a d e n -trado o País n o final d o S é c u l o X I X e n o i n í c i o d o S é c u l o X X , e o s quais, seja c o m base em recursos trazidos na v i a g e m , seja p r i n c i p a l m e n t e c o m base e m recursos amealhados c o m o " c o l o n o s " , puderam c o m p r a r p e q u e n a s propriedades fundiárias. Estas foram sendo progressivamente ampliadas, tanto em função das crises de preços do café, c o m o p o r f o r -ça de adversidades climáticas (que obrigavam a subdivisão de latifúndios onerados p o r hipotecas), e t a m b é m p o r m e i o do m e r c a d o de terras q u e se foi constituindo em São Paulo — especialmente nas áreas de o c u p a ç ã o mais antiga, mas t a m b é m n o s núcleos que foram sendo f o r m a d o s nas áreas de fronteira agrícola. Tais imigrantes e suas famílias, p o d i a m , c o m o trabalhadores livres do café, utilizar áreas p r e v i a m e n t e delimitadas pelos proprietários dos latifúndios a que estavam vinculados para a p r o d u ç ã o de bens agropecuários e c o m e r c i a l i z a r u m a parte não desprezível de tais bens em mercados p r ó x i m o s .

O caso do g r u p o c o n s t i t u í d o pelos I r m ã o s O m e t t o é o e x e m p l o mais nítido desta trajetória. S u a participação no c o m p l e x o p r o d u t o r de derivados da cana já estava se dando desde o i n í c i o do século XX — seja c o m o produtor de aguardente, seja c o m o produtor de açúcar b r u t o . N o s anos trinta, t o r n o u - s e p r o d u t o r de a ç ú c a r de usina, e até de á l c o o l . M a s , foi s o m e n t e na década de 1 9 5 0 que v e i o a assumir u m a p o s i ç ã o de destaque entre os maiores grupos empresariais produtores de a ç ú c a r de usina em S ã o Paulo. Ainda n ã o aparecia entre os o i t o maiores no final da S e g u n d a G u e r r a mas, dez anos depois, já se havia transformado no

1 6 Em 1 9 4 0 havia, no interior dos latifúndios paulistas, mais de treze milhões de h e c

tares de matas e de pastagens, tanto naturais c o m o artificiais, e de terras n ã o e x -ploradas ou incultas. Este número continuou sendo praticamente o mesmo em 1 9 5 0 , devido à formação de novos estabelecimentos agropecuários entre aqueles anos.

(12)

m a i o r g r u p o usineiro paulista, u m a evidência de q u e sua estratégia de c r e s c i m e n t o foi m u i t o b e m sucedida. Partindo de pequenas fábricas, burlando as quotas que e r a m atribuídas a elas, e atraindo outros p r o -dutores agrícolas c o m o seus f o r n e c e d o r e s , o u m e s m o c o m o sócios d e suas unidades produtoras, sempre formadas c o m o sociedades a n ô n i mas de capital fechado, p ô d e expandir seus n e g ó c i o s para diversas r e -giões de S ã o Paulo. As dez fábricas dos I r m ã o s O m e t t o , entre 1 9 5 1 e 1 9 5 6 , produziram em m é d i a 1 3 . 2 5 8 t de açúcar, e n q u a n t o que as três do g r u p o francês S o c i e t é des Sucreries produziram 2 0 . 5 4 9 t, e as duas d o g r u p o M o r g a n t i produziram 2 7 . 9 3 5 t .

E v i d e n t e m e n t e , n ã o se p o d e menosprezar a i m p o r t â n c i a da e x p e -r i ê n c i a e do c o n h e c i m e n t o t é c n i c o que esse g-rupo de i-rmãos a c u m u l o u na p r o d u ç ã o de cana e de seus derivados. A e n o r m e expansão da p r o -dução de açúcar em S ã o Paulo não pode ser devidamente compreendida se não se levar em c o n t a o fato de que, no Estado de S ã o Paulo se havia estabelecido u m a indústria produtora de máquinas e equipamentos, tanto para as atividades processadoras da cana c o b t e n ç ã o de açúcares mais finos, c o m o para diversas atividades relacionadas à colheita, ao c a r r e g a m e n t o e à r e c e p ç ã o da cana na usina. Estas o c o r r ê n c i a s foram mais u m a vez p a r t i c u l a r m e n t e importantes para a trajetória do grupo dos I r m ã o s O m e t t o . D e s d e o i n í c i o dos anos trinta, estabeleceu-se um v í n c u l o , inclusive de parentesco, entre um destes i r m ã o s e o p r i m e i r o g r u p o q u e se f o r m o u naquela indústria — o G r u p o D e d i n i (localizado em Piracicaba) — o qual expandiu c o n t i n u a m e n t e suas atividades e, n u m m o v i m e n t o de diversificação, constituiu u m a base produtiva c o m posta de um c o n j u n t o de empresas q u e passaram a o f e r e c e r u m a v a r i e -dade de e q u i p a m e n t o s e máquinas para muitas ativi-dades do c o m p l e x o canavieiro paulista. U m a trajetória semelhante o c o r r e u a partir de duas décadas depois, ou seja, após o i n í c i o dos anos c i n q ü e n t a , no caso do G r u p o I r m ã o s B i a g i , localizado na região de R i b e i r ã o P r e t o , pois este g r u p o t a m b é m passou a produzir máquinas e e q u i p a m e n t o s , t e n d o partido i g u a l m e n t e de u m a p e q u e n a oficina de r e p a r o s .1 7

O u t r o e l e m e n t o d e t e r m i n a n t e d o c o m p o r t a m e n t o dos grupos a ç u careiros paulistas foi a busca de retenção dos ganhos da atividade c o -m e r c i a l t a -m b é -m a partir do i n í c i o dos anos c i n q ü e n t a . A t é então eles haviam dependido dos grupos atacadistas (dois deles antes mencionados)

1 7 Sobre o grupo Irmãos Biagi, b e m c o m o sobre outros, formados no período tratado,

veja-se o artigo de R a m o s , 1 9 9 8 - 1 9 9 9 .

(13)

para a c o m e r c i a l i z a ç ã o de suas produções. Em 1 9 5 3 , foram criadas duas " c o o p e r a t i v a s " regionais para a distribuição de suas produções, cujas sedes estavam localizadas nas cidades que davam n o m e às principais regiões açucareiras paulistas: Piracicaba e R i b e i r ã o Preto.

Nas palavras de um dos fundadores da cooperativa da primeira região, "O usineiro t e m três problemas: o agrícola, o industrial e o c o m e r c i a l " , e c o n c l u i n d o apontava a solução para o último: "A cooperativa tira das costas dos usineiros o e n c a r g o c o m e r c i a l , que é a venda do p r o d u t o (...) E o i n t e r m e d i á r i o é o que tira m a i o r proveito, s e m n e n h u m b e n e f í c i o para o consumidor. P o r q u e então não fazermos as vezes do i n t e r m e d i á -rio p o r m e i o d e nossa c o o p e r a t i v a ? " ( D e M a r c o , 1 9 9 1 : 8 2 ) . E m 1 9 5 9 , estas duas cooperativas se uniram, dando o r i g e m à C O P E R S U C A R / Cooperativa Central dos Produtores de Cana, A ç ú c a r e Á l c o o l do Estado de S ã o Paulo, que passou a c o n g r e g a r a m a i o r parte da produção paulista de açúcar e de álcool, t e n d o constituído refinarias e adquirido algumas independentes, t o r n a n d o s e , na verdade, um verdadeiro trust de c o -mercialização.

C o m o a cana continuava sendo um dos p o u c o s produtos brasileiros submetidos a u m a i n t e r v e n ç ã o estatal, c o m a p r e o c u p a ç ã o central da defesa de seu p r e ç o (articulada c o m a defesa do p r e ç o de seu principal derivado, até então o açúcar), é evidente que para sua produção foram atraídos muitos outros produtores/proprietários de estabelecimentos agropecuários de S ã o Paulo. Isso explica a c o n j u g a ç ã o de interesses em t o r n o dos investimentos realizados p o r aqueles que, além da c o n d i ç ã o de proprietários fundiários, assumiram a função de usineiros. Esta foi a razão do e n o r m e c r e s c i m e n t o da produção paulista de açúcar, a qual se deu tanto c o m base na i n c o r p o r a ç ã o c r e s c e n t e de fornecedores de cana c o m o através do s u r g i m e n t o de novos grupos açucareiros.

Pela Tabela 3 v ê - s e q u e este processo se alterou no final dos anos c i n q ü e n t a : a crise de superprodução levou a um processo de c o n c e n -tração. Isso t a m b é m explica o fato de que o G r u p o D e d i n i tenha assu-m i d o o controle de assu-muitas usinas das quais era s ó c i o . A atuação do fundador deste grupo, u m imigrante italiano d e n o m e M á r i o D e d i n i , facilitava a f o r m a ç ã o de empresas em t o r n o do n e g ó c i o açucareiro, já q u e entrava c o m o acionista p o r ocasião do f o r n e c i m e n t o de suas m á -quinas e e q u i p a m e n t o s , participando da c o n s t i t u i ç ã o de sociedades anônimas de capital fechado, cujos principais acionistas eram as famílias proprietárias de terras que se interessavam em m o n t a r usinas. A gestão de tais empresas era t a m b é m familiar.

(14)

de cafezais e x e c u t a d o pelo g o v e r n o estadual dentro do programa fede-ral de modernização da cafeicultura do País, novos produtores adentraram o c o m p l e x o canavieira paulista, p r i n c i p a l m e n t e c o m o fornecedores de cana. Isto p o r q u e a grande expansão da p r o d u ç ã o açucareira foi feita pelos grupos q u e j á atuavam n o c o m p l e x o , p a r t i c u l a r m e n t e entusias-mados c o m a possibilidade de e x p o r t a ç ã o para o m e r c a d o preferencial n o r t e - a m e r i c a n o , em função das implicações da R e v o l u ç ã o C u b a n a .1 8

Tabela 4. São Paulo: os doze maiores grupos açucareiros, c o m respectivas percentagens de cana própria — períodos 1 9 6 5 - 1 9 6 7 e 1 9 7 8 - 1 9 8 0 (médias das safras indicadas).

Grupos Safras 1 9 6 5 / 6 - 6 6 / 7 - 6 7 / 8 Safras 1 9 7 8 / 9 , 7 9 / 8 0 e 8 0 / 8 1 N . d e % Cana % na Prod. N . d e % Cana % na Prod. Usinas Própria de açúcar Usinas Própria de açúcar

(1) (1)

1. Irmãos O m e t t o 11 4 9 , 2 2 5 , 0 10 4 8 , 0 2 5 , 4 2. G r u p o Zillo-Lorenzetti 0 3 5 0 , 3 5,1 0 2 8 0 , 7 7,0

3. Societé des S. Bres. 0 3 3 9 , 0 5,0

-

-

-4 . G r u p o D e d i n i 0 4 4 5 , 8 4,6

-

- -5. Morganti—Silva Gordo 0 2 4 8 , 5 4,3 0 1 6 0 , 3 2,2 6. Irmãos B i a g i 0 2 4 5 , 1 3,5 0 2 4 7 , 7 5,5 7. Família B a l b o 0 2 5 8 , 3 2,6 0 2 6 2 , 2 2,8 8. Família Nogueira 0 2 3 2 , 0 2,6

-

-

-9. Família Marchesi 0 3 6 3 , 0 2,4 - - -l O . C o u r y / F u r -l a n / B a r r i c h e -l -l o 0 3 5 0 , 8 2,4 0 3 5 1 , 6 1,7 1 1 . G r u p o Matarazzo 0 1 6 4 , 3 1,9 01 7 8 , 4 1,8 12.Família J o s é C o r o n a 0 1 5 6 , 1 1,9 01 7 2 , 3 2,9 1 3 . F a m . V i r g o l i n o de Oliveira -

-

-

0 2 6 3 , 2 3,6 14.Irmãos Bellodi

-

-

-

0 2 6 8 , 2 2,8 15. J o r g e W o l n e y Atalla -

-

-

01 7 9 , 9 2,1 1 6 . F a m . R e n a t o R . Barbosa - -

-

0 2 6 2 , 5 2,0 T O T A L 1 2 G R U P O S 3 7 4 9 , 2 6 1 , 3 2 9 5 8 , 4 5 9 , 8 D E M A I S G R U P O S 61 5 2 , 8 3 8 , 7 4 8 6 2 , 5 4 0 , 2 T O T A L D O E S T A D O 9 8 4 9 , 4 2 . 0 7 7 . 2 2 2 t 7 7 5 6 , 1 ( 2 ) 3 . 2 6 4 . 3 6 9 t N o t a s : (1) É a participação na produção de açúcar produzido no Estado de São Paulo, t o m a n d o -se a média de c i n c o safras ( 1 9 6 6 / 7 a 1 9 7 0 / 7 1 e 1 9 7 6 / 7 a 1 9 8 0 / 8 1 ) ; (2) R e f e r e - s e apenas à cana moída para açúcar.

F o n t e : I A A (Posições finais de safras), R A M O S , 1 9 8 3 e dados de arquivo pessoal.

Na passagem das décadas de 1 9 6 0 para 1 9 7 0 , o g r u p o M o r g a n t i e a S o c i e t é deixaram a produção açucareira: o primeiro vendeu suas unidades para um g r u p o o r i g i n á r i o do setor financeiro ( G r u p o Silva G o r d o ) , e o

1 8 Sobre isso, ver Szmrecsányi, 1 9 7 9 , pp. 2 5 4 / 2 5 5 .

(15)

segundo vendeu duas de suas três unidades para os usineiros paulistas c o n g r e g a d o s na C O P E R S U C A R , sendo que a terceira unidade foi fechada em meados da década de 1 9 7 0 , p r i n c i p a l m e n t e p o r estar l o c a -lizada na área urbana de P i r a c i c a b a .1 9

Assim, ao iniciar-se os anos oitenta, os grupos açucareiros paulistas m a n t i n h a m a m e s m a configuração básica do i m e d i a t o pós-guerra e suas estratégias de c r e s c i m e n t o c o n t i n u a v a m sendo as mesmas. G r u p o s de famílias de descendentes de imigrantes italianos, que c o n s t i t u í r a m empresas seja de quotas de responsabilidade limitada, seja na f o r m a mais usual de sociedades anônimas de capital fechado, mas cuja c o n s t i -tuição e expansão se baseavam f u n d a m e n t a l m e n t e na propriedade e apropriação fundiária, r e c o r r e n d o a práticas associativas quando se tratava de defender seus interesses j u n t o ao E s t a d o em geral e j u n t o ao ó r g ã o de p l a n e j a m e n t o do setor, o I A A , em particular. Eles aproveitaram s o -b r e m a n e i r a o plano de racionalização e m o d e r n i z a ç ã o , que essa autarquia i m p l e m e n t o u entre 1 9 6 9 e 1 9 7 3 , para ampliarem suas bases p r o -dutivas, especialmente seu a u t o a b a s t e c i m e n t o de cana, o que fica claro quando se observa os dados da Tabela 4.

A q u e l e plano c o n c e d e u fartos créditos subsidiados e tinha c o m o o b j e t i v o principal t o r n a r n o v a m e n t e o Brasil um grande e x p o r t a d o r de açúcar, pois predominava então u m a visão e x t r e m a m e n t e otimista sobre as possibilidades de c o l o c a ç ã o do produto brasileiro no mercado mundial de açúcar em futuro p r ó x i m o , pois avaliava-se que perduraria p o r b o m t e m p o u m a escassez generalizada do produto. A e n o r m e expansão da capacidade produtiva que disso decorreu explica a elevação da p r o d u ç ã o média em 5 7 , 2 % entre 1 9 6 5 e 1 9 8 0 mostrada pela tabela. C o m o o p l a n o foi t a m b é m de e s t í m u l o à c o n c e n t r a ç ã o produtiva, o c o r r e u simultaneamente u m a d i m i n u i ç ã o significativa do n ú m e r o de unidades produtoras.

T e n d o em vista que as p r o j e ç õ e s oficiais n ã o se c o n f i r m a r a m , l o g o se manifestou um grave p r o b l e m a de e x c e s s o de capacidade produtiva no c o m p l e x o canavieira paulista. Para sorte dos usineiros brasileiros, antes de se iniciar uma queda significativa dos preços internacionais do açúcar,

1 9 Em 1 9 6 9 , a C O P E R S U C A R iniciou seu programa de melhoramento de variedades

de cana, ao qual se juntaram as atividades de engenharia agrícola e de tecnologia industrial, dando origem ao seu Centro de Tecnologia ( C T C ) em 1 9 7 9 . Em 1 9 7 1 , foi criada, pelo Governo Federal, uma autarquia ( P L A N A L S U C A R ) que ficou vinculada ao IAA (foi extinta j u n t o c o m este) e que passou a realizar pesquisas também sobre fitotecnia e demais atividades vinculadas à lavoura canavieira.

(16)

havia o c o r r i d o o p r i m e i r o c h o q u e do p e t r ó l e o cm 1 9 7 3 . Assim, a p r o -d u ç ã o -de á l c o o l para ser utiliza-do c o m o combustível foi rapi-damente defendida c o m o a alternativa mais viável para enfrentar os problemas de inflação e de balança c o m e r c i a l que tal c h o q u e p r o v o c o u . A partir de então, os grupos açucareiros voltaram a ter créditos fartos e subsidiados para a n e x a r e m e / o u ampliarem destilarias para p r o d u ç ã o do álcool carburante.

N u m a p r i m e i r a etapa, este á l c o o l foi o anidro e c o n s u m i d o em m i s -tura à gasolina. C o n t u d o , após o s e g u n d o c h o q u e do p e t r ó l e o em 1 9 7 9 , a p r o d u ç ã o e x p a n d i u - s e t a m b é m c o m base na m o n t a g e m de fábricas i n d e p e n d e n t e s de á l c o o l , d e n o m i n a d a s de destilarias a u t ô n o m a s , c o m u m a c r e s c e n t e oferta de á l c o o l hidratado para c o n s u m o direto nos a u t o m ó v e i s m o v i d o s a á l c o o l que c o m e ç a r a m a ser produzidos a partir do i n í c i o da década de 1 9 8 0 . Os incentivos c o n c e d i d o s para a aquisição destes veículos e o fato da aquisição e estocagem de á l c o o l t e r e m sido impostas à estatal Petrobras significavam u m a garantia de m e r c a d o para a p r o d u ç ã o das usinas e destilarias. A l é m disso, a empresa estatal t a m b é m passou a se responsabilizar pelo diferencial entre o p r e ç o de aquisição do á l c o o l hidratado e o p r e ç o de sua c o m e r c i a l i z a ç ã o no m e r c a d o i n -terno, sendo que este tinha c o m o referência um determinado percentual do p r e ç o da gasolina. Este diferencial passou a ser contabilizado pelo G o v e r n o Federal n u m a c o n t a d e n o m i n a d a " c o n t a - á l c o o l " .2 0

Tabela 5. Participação dos grupos açucareiros paulistas nos investimentos do P R O A L C O O L , c o n f o r m e projetos aprovados até 2 8 / m a r ç o / 1 9 8 3 (capacidade produtiva em m i l l i t r o s / 2 4 horas)

D i s t i n ç ã o dos grupos % no número % dos recursos por fontes % capacidade de projetos Próprios Financiados % ( R F / R P ) produtiva 1. Quatro grupos

principais 15,8 3 3 , 3 19,8 7 5 , 7 2 9 , 6

2. N o v e grupos

principais 2 7 , 7 4 7 , 3 2 6 , 1 7 0 , 4 4 0 , 6

3.Total dos grupos

açucareiros 5 6 , 5 6 0 , 3 3 7 , 6 7 9 , 6 6 1 , 2

4. D e m a i s investidores 4 3 , 5 3 9 , 7 6 2 , 4 2 0 0 , 5 3 8 , 8 5.Total do Estado 1 0 0 (177) 1 0 0 % 100 % 1 2 7 , 6 1 0 0

( 2 2 . 5 8 5 ) ( * ) (*) Esse total de capacidade diária correspondia a aproximadamente três bilhões e m e i o de litros de álcool por safra.

F o n t e : R A M O S , 1 9 8 3 : 2 4 6

2 0 O referido percentual foi inicialmente estipulado em 6 4 , 5 % em 1 9 7 9 e chegou

(17)

D e v i d o a tais subsídios e incentivos, novos grupos empresariais se f o r m a r a m e, j u n t a m e n t e c o m os tradicionais grupos açucareiros, t i v e -ram acesso aos recursos públicos que financia-ram o Prog-rama N a c i o n a l d e Á l c o o l ( P R O Á L C O O L ) , criado e m 1 9 7 5 , reformulado e m 1 9 7 7 , c que teve seu auge entre 1 9 8 0 e 1 9 8 3 . A i m p o r t â n c i a do á l c o o l c o m o produto alternativo para os grupos açucareiros paulistas pode ser inferida da seguinte observação: na safra de 1 9 7 5 / 6 , n e n h u m a tonelada de cana foi m o í d a p o r eles para a p r o d u ç ã o direta de á l c o o l ; na safra de 1 9 8 0 / 8 1 , um t e r ç o do total de cana m o í d a foi destinado e x c l u s i v a m e n t e à p r o d u ç ã o alcooleira.

A partir de 1 9 8 3 , todavia, os recursos públicos c o m e ç a r a m a escassear. Isto fica m u i t o claro q u a n d o se c o m p a r a os dados que serviram para c o n s t r u i r a Tabela 5 c o m os relativos à situação de e n q u a d r a m e n t o s d e projetos nove meses depois (situação e m 1 2 / 1 2 / 1 9 8 3 ) . E n q u a n t o que o s recursos próprios c r e s c e r a m 1 3 0 % , o s recursos financiados a u -m e n t a r a -m apenas 1 7 % . E -m 1 9 8 5 , fora-m extintos o s financia-mentos d o G o v e r n o Federal para instalação de novas unidades produtoras — a principal razão de t e r e m sido aprovados em 1 9 8 6 apenas o i t o projetos novos e de, no ano seguinte, todos os 1 0 1 utilizarem apenas recursos próprios. Isto evidencia c l a r a m e n t e que os empresários que já atuavam no c o m p l e x o canavieira paulista, ou que apresentaram antes os seus projetos, foram p a r t i c u l a r m e n t e beneficiados p o r t e r e m c o n s e g u i d o ter acesso a recursos públicos subsidiados. O fato de que a relação entre os recursos financiados e p r ó p r i o s , para os demais investidores, em m a r ç o / 1 9 8 3 , era de 2 para 1, c o n f o r m e mostra a Tabela 5, c o n s t i t u i u m a evidência da i m p o r t â n c i a dos recursos públicos f o r n e c i d o s para a m o n t a g e m das primeiras destilarias em terras paulistas.

As estimativas feitas na é p o c a p o r analistas e instituições internacionais, entre elas o B a n c o M u n d i a l , e r a m bastante pessimistas quanto ao nível dos preços mundiais do p e t r ó l e o no futuro p r ó x i m o , prevendo-se q u e ele s e situaria e m t o r n o dos U S $ 5 0 p o r b a r r i l e m 2 0 0 0 . A reversão

a 8 0 % em 1 9 9 5 . Em setembro de 1 9 9 8 , antes portanto da liberalização dos preços dos combustíveis no Brasil, o Presidente da estatal estimou que "o prejuízo acumu-lado pela Petrobrás na chamada conta-álcool é de R$ 5 bilhões", correspondente, na época, a U S $ 4,2 bilhões, tendo comentado que "até o fim do ano haverá um acordo entre a estatal e a U n i ã o para quitar o rombo decorrente da diferença entre o preço pago e o valor de venda do álcool hidratado". C o n f o r m e matéria no j o r n a l O Estado de S. Paulo, ed. de 6 / 0 9 / 9 8 , p. B 1 3 , a solução encontrada foi fazer c o m que o preço da gasolina ao consumidor passasse a embutir uma parcela destinada a c o -brir aquele prejuízo.

(18)

dessa t e n d ê n c i a artista, já a partir de 1 9 8 2 / 3 , foi a principal razão da crise que se abateu sobre o P R O Á L C O O L a partir de então. O u t r o fator reside na crise das finanças públicas q u e os governos estaduais e o g o v e r n o federal brasileiro passaram a sofrer simultaneamente. A escassez de recursos públicos fez c o m q u e , na segunda metade dos anos oitenta, alguns grupos açucareiros buscassem no m e r c a d o de capitais uma nova fonte de f i n a n c i a m e n t o , o que levou a c r i a ç ã o de holdings e à transfor-m a ç ã o de etransfor-mpresas etransfor-m sociedades anônitransfor-mas de capital aberto, transfor-mas c o transfor-m o recurso ao l a n ç a m e n t o de ações preferenciais.

Os novos grupos de produtores q u e ingressaram no setor c o m o advento d o P R O Á L C O O L foram t a m b é m formados p o r famílias d e p r o p r i e t á r i o s fundiários, a m a i o r i a deles pecuaristas possuidores de extensas áreas de terras no i n t e r i o r do Estado, mas em regiões que não t i n h a m tradição na produção de cana e de seus derivados. C o n s t i t u í r a m destilarias a u t ô n o m a s , associandose algumas vezes c o m grupos a ç u c a -reiros, seja em suas próprias regiões de o r i g e m , seja em novas regiões, inclusive em Estados vizinhos à S ã o Paulo. No final de 1 9 8 7 haviam sido enquadrados 6 6 1 projetos, que iriam ampliar a capacidade de produ-ç ã o de á l c o o l em 16 bilhões de litros, e deste total, 5 2 , 6 % cabia a São Paulo. Os investimentos totais do programa, ainda segundo dados oficiais, atingiram U S $ 6 , 9 7 7 bilhões, dos quais 5 6 % foram recursos p ú b l i c o s .2 1

Para ter-se u m a c o m p r e e n s ã o mais adequada sobre o i m p a c t o do plano de m o d e r n i z a ç ã o e do P R O Á L C O O L no uso da terra em S ã o Paulo, basta m e n c i o n a r que o c o r r e u um efeito-substituição de diversas atividades agropecuárias por " c a n a para indústria" no p e r í o d o de 1 9 6 8 / 70 a 1 9 8 0 / 8 2 . E s t e efeito i m p l i c o u na i n c o r p o r a ç ã o , pela cana, de 9 5 3 mil hectares, dos quais 5 8 2 mil provieram das pastagens naturais, 1 1 7 mil da cultura do arroz, 1 0 1 mil do algodão, 58 mil do m i l h o , 56 mil do a m e n d o i m , 20 m i l da mandioca, 16 m i l da m a m o n a e 2 mil da batata (ver Gatti, 1 9 8 4 : 8 4 ) .2 2

2 1 A situação em 3 1 / 1 2 / 1 9 8 7 mostrava também que haviam sido enquadrados 2 7 5

projetos para São Paulo, sendo que 128 deles previam a utilização apenas de re-cursos próprios ( C E N A L , 1 9 8 7 : 8 ) .

2 2 Em 1 9 8 0 , os estabelecimentos agropecuários paulistas tinham ainda mais de 13

mi-lhões de hectares c o m pastagens e matas, naturais ou plantadas, e c o m terras em des-canso e produtivas não utilizadas. Conforme os dados censitários, em 1 9 8 0 , a área colhida c o m cana no Estado foi de 1,073 milhão de hectares, de 1,695 em 1985 e de 2 , 1 2 4 milhões em 1 9 9 5 / 6 . A área c o m cana era apenas superada pela da pecuária c o m o atividade econômica principal dos estabelecimentos agropecuários do Estado. No Brasil, a área colhida de cana em 1 9 9 5 / 6 foi de 4 , 2 1 4 milhões de ha.

(19)

Tabela 6. Estado de São Paulo: situação do processamento de cana e da produção de açúcar e de álcool pelas usinas e destilarias — Média das safras 1 9 8 4 / 5 - 8 5 / 6 - 8 6 / 7 (cana em mil t, açúcar em t, álcool em m3)

Indicadores Usinas Destilarias Usinas+Desdlarias

Unidades por safra Total de Cana M o í d a % de cana própria

M é d i a da cana moída p/unidade M é d i a da produção de álcool p/unidade M é d i a da produção de açúcar p/unidade

1 . 2 3 4 , 9 5 6 4 . 3 9 6 , 3 2 5 1 . 5 3 0 , 0 7 7 3 , 7 1 , 7 2 8 9 . 3 1 4 , 6 0 5 9 , 9 0 7 8 , 8 0 3 6 4 , 6 4 2 7 . 4 6 9 , 5 5 6 5 , 7 5 , 7 5 2 5 . 9 9 3 , 8 5 1 3 8 , 1 4 6 , 1 4 7 1 1 5 . 3 0 8 , 4 5 0 4 5 . 9 9 1 , 8 0 0 5 1 . 5 3 0 , 0 7 0 6 4 , 2 0 0 8 0 2 , 7 4 0

F o n t e : IAA, posições finais de safras.

A situação quanto ao processamento de cana e da produção de a ç ú c a r e de álcool pelas usinas e destilarias paulistas em meados dos anos oitenta p o d e ser devidamente p e r c e b i d a c o m base nos dados da Tabela 6. N o t a se q u e o percentual de cana própria das destilarias a u t ô n o m a s era s u -p e r i o r , m e s m o -p o r q u e o das usinas era, g e r a l m e n t e , s u b e s t i m a d o .2 3

E n q u a n t o que u m a usina d e i x o u de operar, o n ú m e r o de destilarias a u t ô n o m a s cresceu de 65 para 7 5 , sendo q u e este n ú m e r o atingiu seu m á x i m o ( 7 7 ) na safra de 1 9 8 7 / 8 8 . Na safra 1 9 8 9 / 9 0 , u m a delas foi transformada em usina, n u m m o v i m e n t o q u e seria repetido p o r outras a partir do i n í c i o da década de 1 9 9 0 .

Um aspecto que fica patente pelos dados da T a b e l a 6 é o da h e t e -rogeneidade produtiva entre usinas e destilarias — seja q u a n t o à m é d i a de cana moída, seja no que se refere ao álcool (total) produzido. C o n t u d o , essa heterogeneidade existia (e ainda existe) m e s m o quando se considera apenas as usinas entre si. Para terse u m a idéia disto — a partir dos m e s -m o s dados que servira-m de base para a c o n s t r u ç ã o da tabela — basta m e n c i o n a r que a relação entre a quantidade total de cana m o í d a pela m a i o r usina daquela é p o c a (Usina da B a r r a ) e pela m e n o r (Usina S a n t o A n t o n i o , de Piracicaba), foi de 3 8 , 2 vezes.

No final dos anos oitenta, os grupos d o m i n a n t e s do c o m p l e x o c a -n a v i e i r o paulista ai-nda eram o s m e s m o s que a p a r e c e m -n o s e g u -n d o p e r í o d o da Tabela 4. C a b e acrescentar apenas que já se desenhava u m a distinção mais nítida dentro dos grupos familiares, p a r t i c u l a r m e n t e o c o m p o s t o pelos I r m ã o s O m e t t o , c o m u m a subdivisão que p e r m i t i a a c o n f o r m a ç ã o de três subgrupos ( P e d r o , L u i z / J o ã o e H e r m í n i o O m e t t o ) , c o l o c a n d o - s e entre os o i t o maiores os grupos Z i l l o / L o r e n z e t t i , M a u r í l i o

(20)

B i a g i , V i r g o l i n o d e Oliveira, R e z e n d e B a r b o s a e B a l b o .2 4 C o n t u d o , não

há dúvidas de que, até aquela é p o c a , os principais c o m p o n e n t e s das estratégias competitivas na produção açucareira/alcooleira continuavam sendo os m e s m o s das décadas anteriores: propriedade e acesso a terras mais férteis e m e l h o r localizadas, e acesso diferenciado aos recursos públicos. C o m o estes últimos p r a t i c a m e n t e se reduziram a zero a partir de então, restou apenas a primeira. O u t r o s c o m p o n e n t e s não se faziam presentes, seja p o r q u e a grande m a i o r i a da p r o d u ç ã o era comercializada d e forma integrada n a C O P E R S U C A R , seja p o r q u e o á l c o o l não p e r -mitia diferenciação. C o n t u d o , o mais i m p o r t a n t e é que o p l a n e j a m e n t o estatal garantia preços remuneradores, disciplinava o mercado via quotas de p r o d u ç ã o e garantia a comercialização, inclusive a e x t e r n a , cuja gra-vosidade — q u a n d o existia — era assumida pelo I A A .2 5

Em que pese a l e m b r a n ç a de q u e os recursos que financiaram o pla-n o d e m o d e r pla-n i z a ç ã o ( 1 9 6 9 / 7 3 )2 6 e o P R O Á L C O O L ( 1 9 7 7 / 8 4 ) fossem

f o r t e m e n t e subsidiados, há que se destacar que, no final dos anos oitenta, u m a parte significativa das dívidas dos usineiros brasileiros em geral e dos paulistas em particular não haviam sido quitadas j u n t o ao I A A , e acabaram s e n d o assumidas pelo Tesouro N a c i o n a l e pelo B a n c o do Brasil. Tais dívidas foram estimadas e m U S $ 2 , 4 bilhões e m valores d e setembro d e 1 9 9 1 ( R a m o s , 1 9 9 9 b , p . 1 4 / 5 ) . M a i s ainda: c o m o o s usi-neiros brasileiros situam-se entre os grandes proprietários de terras do País, g e r a l m e n t e estão entre os maiores beneficiários dos perdões e / o u das r e n e g o c i a ç õ e s das dívidas do setor a g r o p e c u á r i o p r i n c i p a l m e n t e j u n t o a o B a n c o d o B r a s i l .2 7

2 4 Ver a respeito os dados apresentados por Moreira, 1 9 8 9 : 8 1 . Este autor concluiu, no

final dos anos oitenta, que o procedimento fundamental da concorrência na produção de açúcar e álcool no Brasil podia ser caracterizado pela "capacidade de se expandir primeiro" (Op. cit.,p. 1 0 1 ) .

2 5 No final dos anos oitenta, a região que mais exportou açúcar do Brasil foi a do

Norte/Nordeste: na média das safras 1 9 8 5 / 6 - 8 6 / 7 - 8 7 / 8 , o Brasil exportou 1,73 milhões de toneladas, cabendo a essa região 9 7 , 7 %.

2 6 Os recursos do plano de modernização/racionalização tinham c o m o fonte principal

uma taxa ad valorem sobre os preços de exportação de açúcar, formando o Fundo E s -pecial de Exportação ( F E E ) , o qual expandiu-se muito entre 1 9 6 9 e 1 9 7 4 , quando tais preços tornaram-se muito altos em função da especulação c o m commodities que ocorreu no mundo. A situação das aplicações do F E E , em 3 1 / 1 2 / 1 9 7 7 , mostrava que São Paulo foi o estado que mais recebeu recursos e que a modernização de usinas foi a atividade mais beneficiada.Ver R a m o s , 2 0 0 1 , p.14.

27 Os empréstimos aos usineiros são feitos envolvendo suas empresas (usinas, destilarias

(21)

Situação atual (a partir de 1990)

A partir do final da década de 1 9 8 0 , e p r i n c i p a l m e n t e após a e x t i n ç ã o do I A A , o c o r r i d a em m a r ç o de 1 9 9 0 , a agroindústria canavieira do Brasil e n t r o u em nova fase c o m o i n í c i o do processo de d e s r e g u l a m e n -tação de suas atividades. Esse processo pode ser resumido numa seqüência iniciada pela liberação da p r o d u ç ã o e da c o m e r c i a l i z a ç ã o , c o m o fim do m o n o p ó l i o do G o v e r n o Federal nas e x p o r t a ç õ e s e a e x t i n ç ã o das quotas de comercialização interna de açúcar em 1 9 8 8 , p a s s a n d o pela eliminação das quotas de produção em 1 9 9 1 , e pela liberação da c o m e r c i a l i z a ç ã o do á l c o o l combustível em 1 9 9 8 , para chegar à liberação dos preços dos bens, que c o m e ç o u c o m os do a ç ú c a r ( e x c e t o o cristal standard) e do á l -c o o l anidro e -c h e g o u à dos preços da -cana, do a ç ú -c a r -cristal standard e do á l c o o l hidratado em fevereiro de 1 9 9 9 . C o n v é m deixar claro, p o r é m , que u m a regulação g e n é r i c a e de sentido indicativo c o n t i n u a sendo feita n o â m b i t o d e u m C o n s e l h o atualmente v i n c u l a d o a o M i n i s t é r i o da Agricultura e A b a s t e c i m e n t o , e c o n g r e g a n d o representantes de outros ministérios: o C I M A - C o n s e l h o Interministerial do Á l c o o l e do A ç ú c a r .2 8

Esta alteração i n s t i t u c i o n a l c o l o c o u os g r u p o s empresariais e os capitais do c o m p l e x o c a n a v i e i r a brasileiro em geral, e paulista em particular, face a u m a nova realidade, cujas i m p l i c a ç õ e s principais t ê m levado a significativas alterações nos seus c o m p o r t a m e n t o s e / o u nas suas estratégias de sobrevivência e de expansão. De u m a maneira geral, o c o m p l e x o v e m passando p o r um processo de c o n c e n t r a ç ã o produtiva e de centralização de capital que há m u i t o não se via.Tal processo t e m -se dado através de fusões e aquisições que estão o c o r r e n d o i n t e n s a m e n t e em t o d o o t e r r i t ó r i o nacional.

Assim, p o d e - s e afirmar q u e os capitais do setor passaram a c o n v i v e r e m u m n o v o a m b i e n t e c o m p e t i t i v o , face a o qual eles t ê m buscado i m -p l e m e n t a r novas estratégias -para a-proveitamento das o-portunidades

e agropecuárias), sendo muito difícil uma apuração rigorosa de suas dívidas sem que seja feita um levantamento específico. Contudo, a imprensa brasileira costuma divulgar estimativas sobre isto: em março de 1 9 9 6 , a dívida dos "usineiros e produ-tores de álcool" j u n t o ao B a n c o do Brasil era estimada em R$ 4,4 bilhões, que correspondia ao mesmo valor em dólares (conforme jornal O Estado de S. Paulo, 1 8 / 0 3 / 1 9 9 6 , p. B 1 ) . Em agosto de 1 9 9 9 , entre os c e m maiores devedores do B a n c o encontravam-se muitas usinas, destilarias e empresas agropecuárias ligadas a estas, inclusive localizadas em São Paulo (conforme j o r n a l Folha de S. Paulo, 2 2 / 0 8 / 1 9 9 9 , p . 1 - 1 0 ) .

(22)

de m e r c a d o — seja no â m b i t o i n t e r n o , seja no e x t e r n o . Tais estratégias p o d e m ser consideradas quer do p o n t o de vista produtivo, quer do financeiro (captação de recursos), quer ainda da gestão empresarial.2 9

E n t r e as estratégias produtivas, destaca-se o fato de muitos dos novos g r u p o s e c o n ô m i c o s q u e se c o n s t i t u í r a m após o advento do P R O Á L C O O L t e r e m transformado suas destilarias a u t ô n o m a s e m usinas. U m a parte destas a c a b o u sendo fechada. Algumas usinas f o -ram desativadas em busca de ganhos proporcionados pelas e c o n o m i a s de escala. Isto t e m sido articulado c o m a estratégia de relocalização de unidades produtivas pelos seus proprietários, buscando-se áreas mais adequadas ao cultivo da cana. Isso t e m - s e dado tanto no i n t e r i o r das regiões produtoras c o m o de u m a para outra, destacando-se o fato de q u e capitais do N o r t e / N o r d e s t e t ê m - s e deslocado — total ou parcial-m e n t e — para o C e n t r o / S u l . T a parcial-m b é parcial-m t e parcial-m o c o r r i d o essa relocalização no i n t e r i o r das fronteiras do Estado de São Paulo.

No que se refere à produção de açúcar, a estratégia mais importante t e m sido a da diferenciação do produto e a criação de marcas próprias para sua c o m e r c i a l i z a ç ã o . Isto levou muitos grupos empresariais a se desligarem da C O P E R S U C A R , dando ensejo ao surgimento de outras empresas (trusts) de â m b i t o regional, ou m e s m o vinculadas à um só g r u p o para a c o m e r c i a l i z a ç ã o das respectivas p r o d u ç õ e s .3 0 C u m p r e

des-tacar que essa estratégia t e m i n c l u í d o a produção de açúcar orgânico. O u t r a estratégia que t e m sido m u i t o utilizada diz respeito à produção de açúcar c o m o i n s u m o para a indústria alimentícia e de bebidas. Muitas empresas já produzem o que se d e n o m i n a no Brasil de "açúcar líquido". P o d e s e afirmar que este deverá ser o principal destino do açúcar b r a -sileiro em futuro p r ó x i m o . P o r outro lado, a busca de e c o n o m i a s de e s c o p o t e m levado a uma i n t e g r a ç ã o c o m a e x p l o r a ç ã o de outras ativi-dades, c o m o a da pecuária de c o r t e , na qual o b a g a ç o t e m sido utilizado para a engorda de animais. Um dos mais promissores usos deste sub-produto, no entanto, t e m sido a produção de energia elétrica para a venda às distribuidoras/concessionárias, especialmente face à atual crise desta energia que o Brasil está atravessando.

2 9 No texto Belik, R a m o s & Vian, 1 9 9 8 , as estratégias produtivas foram classificadas

c o m o : a) de diferenciação de produto; b) de diversificação produtiva e c) de apro-fundamento e especialização na produção setorial. C o m o se pode perceber, elas não são mutuamente excludentes.

3 0 O número de unidades vinculadas à C O P E R S U C A R caiu de 67 na safra de 1 9 8 7 /

88 para 36 em 1 9 9 7 / 9 8 , conforme dados apresentados em R a m o s , 1999b, p. 19.

(23)

A flexibilização produtiva perante o c o m p o r t a m e n t o dos m e r c a d o s i n t e r n o e e x t e r n o t e m sido outra estratégia i m p o r t a n t e . As usinas, face aos preços liberados e às suas oscilações, muitas das quais de caráter e s -peculativo, p r o c u r a m direcionar a m o a g e m de suas canas c o n f o r m e se m o s t r e m mais atrativos os preços do açúcar ou do álcool. Essa o r i e n -tação t e m levado e m c o n t a tanto o s preços n o m e r c a d o i n t e r n o c o m o no e x t e r n o . É isto que explica em grande medida p o r q u e d e i x o u de ser confiável a aquisição de um v e í c u l o m o v i d o a á l c o o l no B r a s i l .3 1

C o m o as e x p o r t a ç õ e s passaram a ser feitas pelas próprias usinas, t e m sido dada especial atenção aos preços e às possibilidades de c o l o c a ç ã o do produto nos locais mais remuneradores, o que t e m levado à um r e -l a c i o n a m e n t o mais estreito c o m traders e tradings companies. Ao m e s m o t e m p o , as estratégias de gestão t e m levado alguns grupos usineiros a profissionalizarem a administração de suas unidades, inclusive c o m a f o r m a ç ã o de departamentos comerciais, até e n t ã o inexistentes. N e s s e c o n t e x t o , a reestruturação empresarial t a m b é m resultou em c o r t e s de pessoal, c o m os quais se tem evitado uma m a i o r imobilização de recursos, através da terceirização de algumas atividades (por e x e m p l o , as de m a -n u t e -n ç ã o , de tra-nsporte da ca-na, e m e s m o de c o r t e m e c a -n i z a d o ) . N a s usinas p r o p r i a m e n t e ditas t e m o c o r r i d o u m a a u t o m a ç ã o do c o n t r o l e do processo produtivo.

O u t r a estratégia específica dos principais grupos açucareiros t e m sido o a r r e n d a m e n t o de unidades produtoras, evitando-se c o m isto a i m o b i l i z a ç ã o de recursos na aquisição de ativos fundiários e industriais. Um dos grupos que t e m utilizado esta estratégia é o G r u p o C o s a n , de Piracicaba, que é constituído, fundamentalmente, p o r u m a parte dos descendentes da família de Pedro O m e t t o .3 2

Este g r u p o t e m configurado um caso n o t ó r i o na i m p l e m e n t a ç ã o de estratégias de busca de novos recursos de capital e de modalidade de gestão administrativa diferenciada. E s t a b e l e c e u u m a associação c o m g r u p o s empresariais franceses q u e t ê m investido r e c e n t e m e n t e na produção açucareira n o C e n t r o / S u l d o Brasil, dando o r i g e m à F B A (Franco Brasileira A ç ú c a r e Á l c o o l S.A.), a qual já controla, ou administra, diversas usinas paulistas. Dessa forma, os capitais franceses estão voltando ao setor depois de uma ausência de mais de trinta anos. P o r sua vez, o

3 1 Isto é algo que já se manifestou antes de 1 9 9 0 . Veja-se a respeito o artigo de

Szmrecsányi & Moreira, 1 9 9 1 .

3 2 Em grande medida, a diferenciação interna dentro dos maiores grupos tem servido

Referências

Documentos relacionados

“Procurar o verde” é um termo que usei para assinalar a passagem desta demanda do campo da expressão cultural para o campo da organização social e da luta política – portanto,

As cortes de 1477 foram as primeiras convocadas pelo príncipe re- gente D. João II, tendo o claro objetivo de conseguir ainda mais dinheiro para custear as despesas contraídas

The intrarruminal administration of oligofructose in crossbred calves of one year as an experimental model for induction of ruminal acidosis and acute laminitis results, in the

Partindo dessa premissa, podemos descartar, desde ja, a hipotese de responsabilizacao objetiva do Estado com base na teoria do risco administrativo (art. 37, § 6° da Constituicao da

Operação normal Verde Fechado/energizado Nenhuma operação de carga Verde Fechado/energizado Curto-circuito na saída Desligado Aberto/desenergizado Conexão com polaridade

Foi utilizado o Naive Bayes com Kernel Estimator para os dados do Kinect 360 e o Random Forest de 3500 iterações para os dados do Kinect One, pois foram os algoritmos que

Approches phénoménolo- giques et anthropologiques», Fevereiro e Março de 2008, Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa,

Ora, desde 1941 (i), que formulei um mé- todo simples, que exclui qualquer juízo de valor apriorístico e permite identificar, por meios idênticos, a patologia,