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DA GESTAÇÃO À MATERNIDADE: FORMAÇÃO DO APEGO MATERNO-FETAL

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Academic year: 2021

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DA GESTAÇÃO À MATERNIDADE: FORMAÇÃO DO APEGO MATERNO-FETAL

Rafaela Braga Fernandes, Acadêmica do Curso de Graduação em Medicina do Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, Paraná, Brasil. Bolsista PROBIC/CNPq; Rosimeire Aparecida Monteiro Silveira, Pedagoga e Mestre em Promoção da Saúde pelo Centro Universitário de Maringá - Unicesumar, Maringá, Paraná, Brasil; Andréa Grano Marques*, Docente do Programa de Mestrado em Promoção da Saúde do Centro Universitário de Maringá – Unicesumar, Maringá, Paraná, Brasil. Pesquisadora, Bolsista Produtividade em Pesquisa do Instituto Cesumar de Ciência, Tecnologia e Inovação – ICETI.

contato:andreagrano298@hotmail.com

Palavras-chave: Cuidado pré-natal. Gravidez. Relacionamento materno-filial. Introdução

A gestação, considerada como um processo normal da fisiologia feminina, representa um momento especial na vida das mulheres, porém, cada uma vivencia as profundas transformações psíquicas, sociais e físicas de forma única e singular (Perrelli, Zambaldi, Cantilino & Sougey, 2014; Jang, Kim & Lee, 2015). Tornar-se mãe exige enorme esforço de adaptação que nem sempre decorre sem dificuldades, pois a gravidez constitui-se em um complexo desafio que envolve inseguranças e ansiedades diante da maternidade (Piccinini, Gomes, Nardi & Lopes, 2008). Aspectos subjetivos maternos como depressão e ansiedade, assim como fatores de risco sociodemográficos, podem comprometer a capacidade da mulher de vincular-se emocionalmente ao feto resultando em menor qualidade de apego materno-fetal e maior probabilidade do recém-nascido apresentar resultados neonatais adversos (Hee & Young, 2015).

A sensibilidade da mãe para desenvolver a capacidade de identificação com o bebê, que permite compreender os seus sentimentos e atender às suas necessidades, espera-se que seja alcançada ao final da gravidez. Este estado psíquico, denominado preocupação materna primária, possibilita a formação do vínculo entre a mãe e o seu bebê (Winnicott, 2012), sendo utilizado na literatura o conceito de apego materno-fetal para descrever a qualidade da relação estabelecida entre a gestante e o bebê ainda em formação (Alvarenga, Dazzani, Alfaya, Lordelo & Piccinni, 2012), destacando-se como um importante preditor do comportamento materno após o nascimento do bebê (Alvarenga, Teixeira & Peixoto, 2015).

As expectativas, os pensamentos e os sentimentos da gestante em relação ao bebê em formação são categorias de análise do apego materno-fetal, pois expressam o nível de

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sensibilidade materna para desempenhar o papel de mãe suficientemente boa, uma mãe que, uma vez identificada com o seu bebê, atenda as suas necessidades de satisfação, de sobrevivência e de cuidados físicos e emocionais (Winnicott, 2012). Considerando que a importância do vínculo materno-fetal para a relação que será estabelecida entre a mãe e o seu bebê após o parto, assim como para as futuras relações afetivas deste novo ser, são primordiais para o bem-estar tanto materno quanto infantil justificou-se a realização desta pesquisa.

Objetivo

O objetivo da presente pesquisa foi investigar a formação do apego materno-fetal em gestantes que realizam a assistência pré-natal em Unidades Básicas de Saúde.

Método

Estudo descritivo, com abordagem qualitativa, desenvolvido em Unidades Básicas de Saúde localizadas no noroeste do Paraná. Foram incluídas na pesquisa gestantes no terceiro trimestre de gestação, sem diagnóstico de transtorno mental. Os dados foram obtidos por meio de entrevista semiestruturada, gravada em áudio com a anuência dos participantes. As gravações foram transcritas na íntegra pela entrevistadora e as entrevistas foram submetidas à análise de conteúdo (Bardin, 2011), composta por cinco etapas: pré-análise, codificação e categorização, tratamento dos resultados, inferência e interpretação. Inicialmente utilizou-se o programa computacional Atlas TI para realização da pré-análise e codificação dos conteúdos. A pré-análise sistematizou e operacionalizou as ideias, enquanto que a codificação consistiu em escolher as unidades de sentido presente nos discursos. O tratamento dos resultados buscou os dados significativos para propor inferências, procedimento que consistiu na passagem da descrição à interpretação. A coleta de dados cessou em função da saturação dos achados aparentes nas entrevistas, totalizando 10 participantes que foram identificadas pela letra G, que corresponde a letra inicial da palavra gestante, seguida de ordenação numérica (G1, ... G10). O projeto de pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do UniCesumar, sob o parecer número 2.000.663.

Resultado e Discussão

As gestantes entrevistadas encontravam-se na faixa etária entre 18 e 40 anos, sendo cinco primigestas e cinco multíparas. As categorias identificadas na pré-análise dos dados, realizada

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pela ferramenta Atlas TI, foram: apego cognitivo, apego afetivo, apego altruístico e assistência pré-natal.

O apego cognitivo corresponde à atribuição da imagem mental às características do feto e intenções da mãe para com o mesmo, representado pela vontade de conhecer, entender e definir o bebê como um ser autônomo e real. As gestantes entrevistadas descreveram o apego cognitivo nos seguintes fragmentos: Acho que terá a minha personalidade, pois meu marido é bem calmo e ele já parece que não é nada calmo (G2). É um menino. Fiquei feliz ao saber, já fiquei imaginando eu colocando a roupinha nele (G3). Exames realizados no período do pré-natal são relevantes para construir o apego cognitivo, com destaque para a ultrassonografia. Como observado nas seguintes falas: Pelo ultrassom eu acho que ele vai se parecer com o pai. Será bem alto porque fiz o ultrassom com oito meses e ele já tava com 49 cm (G3). Pela ultrassom que eu fiz acho que vai parecer com o pai. Porque ele tem um “rostão” e deu pra ver no ultrassom que ela tem um rosto grande também (G8). Na primeira USG senti muita culpa por ter rejeitado no inicio. Depois senti tranqüilidade de saber que estava tudo bem (G9). Quando descobri não queria saber muito, depois que fiz a primeira USG ai derreteu (G10).

A ultrassonografia possibilita desde o contato mais real com o feto na medida que permite a identificação do sexo da criança e a visualização de algumas características físicas, até um diagnóstico de anormalidade fetal. A crescente utilização da ultrassonografia parece afetar, de forma expressiva, os sentimentos dos pais em relação ao bebê (Gomes & Piccinini, 2010).

As mulheres relataram sentimentos positivos quando questionadas sobre o que sentiam quando o bebê se mexia. Esse sentimento influenciará no modo como as mães interagem com o seu bebê após o nascimento (McMahon, Camberis, Berry & Gibson, 2016). Os movimentos fetais são considerados um grande marco na gravidez, pois fazem com que a mãe tenha sensações reais sobre o feto facilitando assim a formação do vínculo materno-fetal (Piccinini, Gomes, Moreira & Lopes, 2004).

O apego afetivo, por sua vez, corresponde a pensamentos, fantasias e interação com o feto, sendo representado por comportamentos como acariciar a barriga e conversar com o bebê. Neste estudo este apego foi observado ao ser perguntado à gestante como se relacionam com o bebê em formação: Eu converso bastante. Acho que fico o dia inteiro passando a mão na barriga, conversando, fico escutando música. É que não sei explicar. Mas quando eu converso

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com ele, ele se mexe parece que já entende (G3). Eu converso com ele, ai ele chuta. Só que ele gosta muito de música (G5). Conversamos bastante. Eu trabalho muito ai quando chega de noite ele está bem agitado, falo pra ele que estou cansada, pra ele dormir um pouco e deixar a mãe descansar (G6). Coloco música porque percebo que ele gosta, ele começa a se agitar. Então quando ele está mais quieto eu sempre coloco. Eu converso também, mas é mais através da música. Ele responde muito a filha mais velha (G9).

Nesta pesquisa, o apego altruístico, que reflete os cuidados com o feto e a preparação para recebê-lo (Alvarenga, et al., 2012), foi identificado a partir dos relatos sobre a preparação do enxoval, cujos resultados indicaram diferenças entre as mães de acordo com a renda mensal. As gestantes relataram preocupação com o parto e expectativas em relação aos cuidados com o bebê, como nos seguintes excertos: Acho que todo mundo tem né?! Eu nunca tive filho, fico pensando assim que tenho medo de amamentar, a criança se engasgar e eu não saber o que fazer, mas fora isso não (G8). Minha única preocupação é quanto ao parto, se vai ocorrer tudo bem (G9). É preciso considerar que as experiências relativas ao parto interferem de forma significativa no funcionamento emocional das mães e no estabelecimento de uma relação adequada com o bebê (Velho, Santos, Brüggemann & Camargo, 2012).

Conclusão

A formação do vínculo entre a mãe e o seu bebê iniciou-se desde a descoberta da gestação, na população estudada. Situações como movimentação fetal e o exame ultrassonográfico tornaram o feto um ser real para a mãe, facilitando o apego afetivo e cognitivo. Identificou-se, neste estudo, que fatores econômicos influenciaram principalmente na construção do apego altruístico, pois as mães com menos condições financeiras apresentaram maior preocupação com os cuidados e necessidades materiais que todo recém-nascido demanda. Outro aspecto importante diz respeito ao desfecho gestacional, pois faz-se necessário investigações sobre as repercussões da experiência do parto na formação do vínculo mãe e filho.

Referências

Alvarenga, P., Dazzani, M. V. M., Alfaya, C. A. S., Lordelo, E. R. & Piccinni, C. A. (2012). Relações entre a saúde mental da gestante e o apego materno-fetal. Estudos de Psicologia, 17(3), 477–84. doi:10.1590/S1413-294X2012000300017.

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Alvarenga, P., Teixeira, J. N. & Peixoto, A. C. (2015). Apego materno-fetal e a percepção materna acerca da capacidade interativa do bebê no primeiro mês. Psico, 46(3), 340-350. doi:10.15448/1980-8623.2015.3.18657.

Bardin, L. 2011. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70.

Gomes, A. G. & Piccinini, C. A. (2010). A ultrassonografia obstétrica e suas implicações para a relação materno-fetal. Interação em Psicologia, 14(2), 139-150.

doi:10.5380/psi.v14i2.7511.

Jang, S. H., Kim, I. J. & Lee, S. H. (2015). Social support and maternal-fetal attachment in unmarried pregnant women in korea: does self-esteem play a mediating role? International Journal of Bio-Science and Bio-Technology, 7(6), 131–40. doi:10.14257/ijbsbt.2015.7.6.14. Hee, L. S. & Young, L. E. (2015). Factors influencing maternal-fetal attachment in high-risk

pregnancy. healthcare and nursing, 104, 38–42. doi:10.14257/astl.2015.104.09. McMahon, C., Camberis, A. L., Berry, S. & Gibson, F. (2016). Maternal mind-mindedness:

relations with maternal-fetal attachment and stability in the first two years of life: findings from an Australian prospective study. Infant Mental Health Journal, 37(1), 17–28.

doi:10.1002/imhj.21548.

Perrelli, J. G., Zambaldi, C. F., Cantilino, A. & Sougey, E. B. (2014). Instrumentos de avaliação do vínculo entre mãe e bebê. Revista Paulista de Pediatria, 32(3), 257–65.

doi:10.1590/0103-0582201432318.

Piccinini, C. A., Gomes, A. G., Moreira, L. E. & Lopes, R. S. (2004). Expectativas e sentimentos da gestante em relação ao seu bebê. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 20(3), 223–32.

doi:10.1590/S0102-37722004000300003.

Piccinini, C. A., Gomes, A. G., Nardi, T. & Lopes, R. S. (2008). Gestação e a constituição da maternidade. Psicologia em Estudo, 13(1), 63-72.

doi:10.1590/S1413-73722008000100008.

Velho, M. B., Santos, E. K. A., Brüggermann, O. M., & Camargo, B. V. (2012). Vivência Do Parto Normal Ou Cesáreo: Revisão Integrativa Sobre a Percepção de Mulheres. Texto & Contexto – Enfermagem, 21(2), 458–66. doi:10.1590/S0104-07072012000200026. Winnicott, D.W. (2012). Os Bebês E Suas Mães. 4a ed. São Paulo: Martins Fontes.

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