• Nenhum resultado encontrado

Avaliação de intoxicação por agrotóxicos e práticas de uso de trabalhadores rurais na Serra Catarinense / Evaluation of pesticide poisoning and practices of use of rural workers in Santa Catarina

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Avaliação de intoxicação por agrotóxicos e práticas de uso de trabalhadores rurais na Serra Catarinense / Evaluation of pesticide poisoning and practices of use of rural workers in Santa Catarina"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761

Avaliação de intoxicação por agrotóxicos e práticas de uso de

trabalhadores rurais na Serra Catarinense

Evaluation of pesticide poisoning and practices of use of rural workers in

Santa Catarina

DOI:10.34117/bjdv5n9-107

Recebimento dos originais: 25/08/2019 Aceitação para publicação: 16/09/2019

Mayara Maia da Silva

Doutoranda em Produção Vegetal, Mestre em Produção Vegetal pela Universidade do Estado de Santa Catarina.

Instituição: Universidade do Estado de Santa Catarina

Endereço: Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta Dinheiro, Lages - SC, 88520-000 E-mail: may.maia.kpp@gmail.com

Sérgio Domingues

Doutorando em Produção Vegetal, Mestre em Produção Vegetal pela Universidade do Estado de Santa Catarina.

Instituição: Universidade do Estado de Santa Catarina

Endereço: Av. Luiz de Camões, 2090 - Conta Dinheiro, Lages - SC, 88520-000 E-mail: sergiodomingues27@gmail.com

Ariel Bonadiman

Tecnólogo em Agroecologia pelo Instituto Federal do Paraná Instituição: Eeb Vinte e Cinco de Maio

Endereço: Assentamento Vitoria da Conquista, Interior, Fraiburgo – SC, CEP: 89580-000 E-mail: ariel.eco@gmail.com

RESUMO

O aumento crescente da agricultura na Região da Serra Catarinense tem provocado o consequente incremento no uso de agrotóxicos, este fato, pode culminar com o aumento dos casos de contaminação humana e colocar em risco à saúde do trabalhador rural. Diante disto, o objetivo desta pesquisa é investigar possíveis casos de intoxicação humana causadas pelo uso de agrotóxicos em área de Lages, município da Serra Catarinense. O estudo foi realizado em duas etapas: a primeira etapa da pesquisa refere-se ao levantamento de possíveis casos de intoxicação por agrotóxicos de agricultores. Os participantes da pesquisa, portanto, foram 100 casos de moradores da Serra Catarinense. Nesta etapa da pesquisa, a coleta de dados foi por intermédio de um levantamento de dados nos prontuários na Unidade Básica de Saúde e Hospital central de Lages, sem identificação de nomes ou afins, apenas dos casos ocorridos relacionadas à intoxicação por agrotóxicos. A segunda parte ocorreu com entrevista semiestruturada a agricultores da região. Com este trabalho fez-se uma analogia entre as respostas dos entrevistados e as condições de cultivo dos mesmos. Com esta pesquisa foi possível verificar a atual situação de contaminação por agrotóxicos dos trabalhadores rurais da região estudada e orientou-se os entrevistados em relação ao uso e gestão adequada destes químicos na propriedade, bem como, ao cuidado que devem ter com a sua saúde ao manusear os agrotóxicos.

(2)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 Palavras-Chave: Lages. Agroquímicos. Saúde.

ABSTRACT

The increasing increase of agriculture in the Region of Serra Catarinense has caused the consequent increase in the use of pesticides, this fact, can culminate with the increase of the cases of human contamination and put at risk to the health of the rural worker. In view of this, the objective of this research is to investigate possible cases of human intoxication caused by the use of pesticides in rural areas of a municipality of Serra Catarinense. The study was carried out in two stages: the first stage of the research refers to the survey of possible cases of pesticide intoxication of farmers in the municipality of Lages, SC. The research participants, therefore, were 100 cases of residents of the region of Planalto Catarinense. At this stage of the research, the collection of data was done by means of a survey of data in medical records in the Basic Health Unit, without identification of names or the like, only of cases that occurred related to pesticide poisoning. The second part was a semi-structured interview with farmers in the region. With this work, an analogy was made between respondents' responses and the conditions of their cultivation. At the end of this research it was possible to verify the current situation of contamination by pesticides of the rural workers of the studied region and the interviewees were guided in relation to the use and proper management of these chemicals in the property, as well as the care they should have with their health when handling pesticides.

Keywords: Lages. Agrochemicals. Cheers. 1 INTRODUÇÃO

O amplo uso de produtos químicos em diversos ambientes apresenta intensivo perigo à saúde do ambiente, dos seres humanos, à fauna e flora (PIGNATI et al., 2017). Toda a população humana está exposta aos riscos pelos agroquímicos, porém os trabalhadores rurais estão diretamente expostos aos agrotóxicos, sofrendo em maior grau os seus efeitos, esta exposição evidenciada como um enorme problema à saúde pública (BRASIL, 2010).

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) o intenso uso de agrotóxicos é um dos fatores de maior risco e relevância para a saúde da população mundial. Dentre os resultados do uso destes, encontram-se efeitos crônicos, tais como o desenvolvimento de células cancerígenas, malformação congénita e danos que afetam o sistema nervoso, endócrino e outros (WHO, 2004).

Os casos de intoxicação na população vem sendo um dos problemas mais graves na saúde pública e isto se deve principalmente à ausência de estratégias, tanto de prevenção quanto de controle das intoxicações (CARVALHO, 2017. A ampla utilização dos agrotóxicos está interligada à disponibilidade e fácil acesso que os cidadãos têm a produtos químicos, sendo que estes apresentam elevado índice de toxicidade (FIOCRUZ, 2009).

No Brasil os principais princípios ativos de agrotóxicos, dentre os herbicidas são o glifosato (76%), o 2,4-D ácido e atrazina; nos fungicidas o óleo mineral, enxofre e

(3)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 carbendazim; dentre os inseticidas a cipermetrina (57%), o metamidofós e acefato (IBAMA, 2010). Ainda de acordo com o IBAMA, o consumo dos princípios ativos acima citados, representam 76,45% do total consumido de agroquímicos no Brasil.

O país utiliza cerca de 2,5 a 3 milhões de toneladas de agrotóxicos ao ano na agricultura, envolvendo um comércio cerca de 20 bilhões de dólares (AGROFIT, 2008). Conforme dados do IBGE (2017), desde 2008 o Brasil ocupa o 1° lugar no ranking dos países consumidores de agrotóxicos e dentre os seus estados (MALASPINA et al., 2011), Santa Catarina se destaca no cenário da agricultura nacional, por estar entre os principais na produção de diversas culturas agrícolas, apresentando os maiores índices de produtividade (IBGE, 2017).

No entanto, o estado Catarinense está entre os dez primeiros no ranking de maior consumo de agroquímicos, fato devido à produtividade estar associada ao intensivo uso de agrotóxicos, (SINDAG, 2009).

Contudo, o uso excessivo de pesticidas contamina o meio ambiente, causando riscos para a saúde da comunidade local (DAMALAS, 2009).

A exposição à pesticidas ocorre principalmente por inalação, contato com a pele e ingestão (DAMALAS, KOUTROUBAS, 2016). A falta de conhecimento dos agricultores de boas práticas de aplicação, a falta de medidas de proteção durante a aplicação, e a insuficiência de conhecimento dos potenciais riscos para a saúde, muitas vezes resultam em aumento da exposição à pesticidas (ARAFA et al., 2013; KHAN et al., 2015). O uso de pesticidas sem informações sobre toxicidade e uso desprovido de quaisquer medidas de proteção, podem levar a várias complicações de saúde (YASSI et al., 2001).

Portanto, o objetivo do estudo foi realizar o levantamento de casos por intoxicação por agrotóxicos na Serra Catarinense, elencando os principais agentes causadores destas.

2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 LOCALIZAÇÃO DO ESTUDO

O estudo foi realizado via um levantamento de dados com base nos boletins de atendimento de emergência da unidade de pronto atendimento de Lages, Santa Catarina, cobrindo um período de 24 meses, anos 2017 e 2018, através de consulta aos prontuários do hospital, identificando os principais sintomas relacionados com as vítimas da intoxicação.

(4)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 O levantamento consiste na determinação do número de casos de intoxicação por agrotóxicos ocorridos nos últimos dois anos na região conforme disponibilidade de arquivos de prontuários do referido hospital.

A população de estudo compreende os casos de intoxicação exógena admitidos nos serviços de emergência hospitalar. Optou-se por obter uma amostragem de conveniência, baseada na seleção aleatória de atendimentos no período.

Sobre os procedimentos adotados fez-se a análise da ficha de coleta de dados utilizando o formulário da unidade para registro de atendimentos de emergência, de forma que toda a informação registrada fosse copiada, no entanto, por questões de ética os dados de nome dos pacientes não foram copiados, não sendo identificados os mesmos durante todo o trabalho.

2.2 ENTREVISTA AOS PRODUTORES RURAIS

A segunda etapa do trabalho consistiu de uma pesquisa quantitativa, descritiva, com entrevista a 50 agricultores da região, executada localmente no município de Lages à latitude de 27º 49’ S, longitude de 50º 20’ W, e altitude de 926 metros em relação ao nível do mar. A temperatura média nos meses frios no local se situa em torno de 7,6 a 9,2ºC e nos períodos mais quentes a média é de 24 ºC (CIRAM, 2013). Os 50 entrevistados residem nas respectivas localidades rurais de Lages com suas coordenadas geográficas listadas:

1) Cadeados (-27.708334 S, -50.2034792,17 W), onde entrevistou-se 7 agricultores; 2) Cajuru (-27.953481 S, -50.297660 W), com 7 entrevistados;

3) Coxilha Rica (-27.8532548 S, -50.3365242,13 W), com 7 agricultores entrevistados;

4) Macacos (-27.786369 S, -50.206068 W), onde se entrevistou 7 agricultores,

5) Morrinhos (27.7765367 S, -50.4705481,10 W), onde fez-se entrevista com 7 trabalhadores rurais;

6) Pedras Brancas (-27.845978 S, -50.214076 W), onde se entrevistou 7 produtores;

7) Salto Caveiras considerado distrito (-27.813710 S, -50.481639 W), onde entrevistou-se 8 agricultores, totalizando-se assim 50 agricultores entrevistados.

No município foi realizada entrevista por intermédio de questionário semiestruturado, com predomínio de perguntas abertas, relacionadas à utilização de agrotóxicos e a intoxicação dos trabalhadores rurais do local. Para a execução da pesquisa foram respeitados

(5)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 todos os aspectos éticos durante o desenvolvimento da pesquisa, bem como, os limites da privacidade e legalidade.

O período de cobertura do trabalho de entrevistas foi de dezembro de 2017 a março de 2018. Foram coletados todos os casos confirmados de intoxicação que se enquadrassem na categoria de pesticidas.

A terceira fase da pesquisa consistiu na realização da tabulação dos dados, qual foram submetidos aos procedimentos estatísticos descritivos (médias e porcentagens). A análise dos dados é baseada no programa Microsoft Excel 365, versão 1804. Esta etapa foi realizada no mês de abril de 2018.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Verificou-se no estudo que 38% dos casos avaliados de intoxicação ocorreram com pessoas de 45 a 54 anos (Figura 1).

Figura 1 - Percentual de idade dos casos de intoxicação por agrotóxicos avaliados.

Obteve-se como resultado (Figura 2) que 39% dos casos avaliados foram com mulheres vítimas de intoxicação, sendo que 61% dos avaliados foram homens sendo a maioria. Em relação às demais variáveis estudadas, a faixa etária jovem feminina, entre 15 e 29 anos, foi a mais exposta à intoxicação.

Nesse caso, a literatura corrobora com os resultados encontrado neste estudo onde há agravos de intoxicação por agrotóxicos no sexo feminino e no perfil etário jovem, este fato decorre pela falta de instrução (FERREIRA; FIGUEIREDO, 2013).

(6)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 Em estudos Zambolim et al (2008), afirmam que em cerca de 90% dos casos de intoxicação, as exposições aos produtos químicos ocorrem na própria propriedade, casa da vítima ou arredores.

Figura 2 - Percentual de intoxicados avaliados por sexo.

Os casos de intoxicações com mulheres vão além da intoxicação por exposição as lavouras, pois elas entram em contato com as roupas contaminadas com agrotóxicos nos tanques de lavagem destas roupas, dentro das próprias casas, conforme relato de algumas entrevistadas na segunda etapa deste trabalho (MREMA et al., 2017). Bakhsh et al. (2016) estimaram custos graves de saúde das mulheres de trabalhadores na agricultura por causa de numerosos problemas de saúde entre o grupo de trabalhadores agrícolas.

Conforme entrevista com pessoas intoxicadas nesta pesquisa apesar destes saberem a necessidade de usar EPI, eles não utilizam por não sentirem instantaneamente os sintomas e efeitos da intoxicação. Outros afirmavam se sentir imunes a toxicidade. Em outros relatam foram constatados que alguns não utilizavam EPI pelo preço elevado para aquisição dos mesmos, no entanto houveram entrevistados que possuíam EPI em suas residências, porém não utilizavam muitas vezes por acreditar ser uma aplicação de pesticida rápida na lavoura (63% dos entrevistados).

Além disso 78% dos entrevistados afirmaram utilizar maiores quantidades de pesticidas do que o recomendado no rótulo, ao diluírem nos tanques.

(7)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 O uso inadequado de agroquímicos pode propiciar fluxo livre de agentes químicos no meio ambiente, o que significa degradação ambiental e danos à saúde das pessoas (AGOSTINETTO et al., 1998).

Outro agravante que foi contatado é que 91% dos entrevistados afirmaram fazer mistura de taques, ou seja, utilizar mistura de pesticidas em um mesmo tanque para aproveitar a aplicação visando economizar óleo diesel não tendo que fazer duas aplicações com produtos diferentes, contudo esta prática não é proibida mas é extremamente impactante ao meio ambiente. Segundo estudos Castro (2009) afirma que a mistura em tanque pode resultar em efeitos sinérgico, aditivo ou antagônico em relação ao efeito de cada pesticida utilizado isoladamente. A quantificação da exposição a pesticidas em sistemas agrícolas é de especial interesse para a estimativa de potenciais riscos para a saúde decorrentes do uso de pesticidas, especialmente nos países em desenvolvimento por serem países onde habitualmente existe uma falta considerável de cuidados com o próprio corpo como higiene e uso de equipamentos de proteção individual (KHAN, DAMALAS, 2015).

Em torno de 1980, as indicações técnicas traziam recomendações sobre as misturas de produtos. A partir de1985, as recomendações sobre mistura em tanque foram retiradas das instruções de uso por orientação do ofício DIPROF/SDSV 198/85, encaminhado pelo Ministério da Agricultura à ANDEF (LIMA, 1997).

Gazziero (2015) em estudos conclui que as misturas em tanque são práticas usuais no campo e estas foram adotadas por 97% dos entrevistados na pesquisa realizada pelo mesmo e afirma que “se trata de um assunto para ser discutido com urgência com os órgãos governamentais competentes”.

Relatou-se também nas entrevistas que muitos utilizam produtos químicos não indicados para as culturas, sendo 94% dos entrevistados, dado este extremamente agravante. Neste trabalho relatou-se que 64% dos entrevistados não recebem orientação técnica, sendo este um problema de grande relevância, pois os órgãos responsáveis por atende-los não conseguem suprir a demanda de agricultores que necessitam deste auxilio. Monquero et al., (2009) durante levantamento de dados em pesquisa verificou que 28% das propriedades rurais principalmente as que cultivam hortaliças e frutas, não contavam com orientação técnica. Os mesmos autores afirmam que os fatores principais responsáveis pelos riscos de intoxicação são a falta de políticas efetivas de fiscalização, controle e acompanhamento técnico adequado na utilização de pesticidas. Sendo de extrema necessidade a adoção de medidas governamentais em busca da redução de impactos ao meio ambiente e à saúde humana.

(8)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 Utilizou-se neste trabalho amostragem aleatória, contudo o número amostral é baixo para representar como um todo a população do município avaliado, podendo superestimar os percentuais observados. Contudo Oliveira-Silva et al. (2001), utilizaram em sus estudos amostragem aleatória similar, e de mesma forma detectou um alto grau de intoxicação, isto pode significar que o número amostral utilizado neste trabalho é representativo da população estudada de Lages, Santa Catarina. Confirmando os dados da pesquisa, em um levantamento realizado pela Secretaria do Estado Agricultura e Desenvolvimento Rural entre os anos de 2002 e 2003, foi relatado 6 casos de pessoas intoxicadas por agrotóxicos (IBGE, 2010).

Dados de literatura indicam que programas de qualificação dos agricultores agem diretamente na redução dos índices de intoxicações por agrotóxicos, se mostrando como uma alternativa eficiente além de apresentar custo reduzido em sua implementação, e isto pode se dar tanto via cursos de capacitação, quanto via rádio, jornal (televisão) e cartilhas informativas (LONDON; BAILIE, 2001). Além disso como medida suplementar as políticas públicas, indica-se a educação ambiental, qual visa motivar o acontecimento de mudanças comportamentais (ANDRADE, 1995; ANTLE; CAPALBO, 1994).

Portanto, a necessidade de avaliar a incidência de intoxicação por uso de pesticidas nas comunidades rurais locais e nos arredores particularmente nos países em desenvolvimento, é urgente. Em geral, o histórico de exposição a pesticidas entre agricultores é obtido quase exclusivamente através de informações de auto- relato, porque os agricultores são auto-empregados e há fontes alternativas de informação limitadas sobre sua exposição a pesticidas (HOPPIN et al., 2002). Como as pessoas envolvidas em atividades de manuseio de pesticidas têm chances de receber pesticidas via contato dérmico, até mesmo as mulheres que lavam as roupas dos agricultores estão expostas a riscos.

De mesmo modo, uma alternativa viável é a orientação e capacitação dos profissionais que atuam na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), visando a promoção de experiências agroecológicas e incentivo da participação da sociedade na busca por políticas públicas que culminem na adoção de práticas produtivas que respeitem a saúde humana e do meio ambiente.

Segundo Furriela (2001) deve-se tomar medidas em nível macro e micro visando o consumo sustentável (do lar até as empresas privadas e públicas), onde os bens e serviços necessitam se tornar eficientes e limpos, contudo para isto é indispensável que ocorra a conscientização sobre os problemas, desde a degradação dos recursos naturais até a consequências na saúde humana e ambiental. Contudo esta compreensão depende de

(9)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 iniciativas também na área da educação. Sendo assim necessário a busca pela implementação de um conjunto de medidas, também de diretrizes, propostas, projetos e ações para que ocorra a promoção do consumo e produção sustentáveis. Sendo que isto se dará pelo incremento das iniciativas educacionais no campo do desenvolvimento sustentável.

Em estudos Rangel, Rosa e Sarcinelli (2011) afirmam que é imprescindível a intervenção do governo visando a implementação de políticas públicas para incentivar uma agricultura mais sustentável qual leve a diminuição das vulnerabilidades em que os agricultores se expõem cotidianamente. Os autores colocam ainda que, é controverso pensar em preservar o ambiente quando a maior preocupação deles ainda é a subsistência de suas famílias. Desta forma a redução do uso de pesticidas e as práticas sustentáveis na agricultura precisam serem estimuladas, assim ocorrerá a contribuição para conservação e minimização dos efeitos negativos dos agrotóxicos na saúde humana e ambiental além de manter a capacidade produtiva.

Conseguiu-se registrar o momento de aplicação de fungicida em uma lavoura de tomate (Solanum lycopersicum), em um momento agendado para relato com um dos agricultores entrevistados, onde o mesmo foi flagrado utilizando agrotóxico sem utilização de equipamento de proteção individual (EPI), o mesmo permitiu ser fotografado (Figura 3).

Figura 3 - Foto do momento de aplicação de agrotóxico na lavoura de um entrevistado na localidade de Salto Caveiras (-27.813710 S, -50.481639 W), sem uso de EPI.

O uso seguro de produtos fitossanitários exige o uso correto dos equipamentos de proteção individual Segundo a Norma Regulamentadora Rural Portaria n. 3.067, de 12 de abril de 1988, onde os EPI são definidos como os dispositivos de uso individual que visam a

(10)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 proteção da integridade física do trabalhador (AGOSTINETTO et al., 1998). A deterioração progressiva dos recursos naturais em função da perda da biodiversidade associada ao uso irracional da terra leva ao seu esgotamento. Este ciclo vicioso que demandará o emprego crescente de insumos externos a propriedade e a dependência permanente por agrotóxicos, tem refletido no ciclo biológico do ecossistema, e na qualidade de vida dos agricultores (GLIESSMAN, 2001). O uso indiscriminado de agrotóxicos, para o controle de pragas e doenças em frutíferas, tem onerado o custo de produção e alertado o consumidor sobre riscos decorrentes dos resíduos em seus frutos (ALMEIDA et al., 2009).

Além disso, a maioria dos trabalhadores agrícolas (89%) relatou uma tendência crescente no uso de pesticidas em suas propriedades a cada ano. O conhecimento dos riscos de pesticidas na saúde humana aumentou com a educação formal, contudo continuam a não utilizar os EPI.

O conhecimento deficiente sobre os riscos e manuseio de pesticidas entre os habitantes do Planalto Catarinense contribui para altos níveis de exposição a agrotóxicos, particularmente entre os trabalhadores rurais. As descobertas são úteis para a formulação de políticas destinadas a reduzir a exposição a pesticidas no Brasil.

4 CONCLUSÃO

Na pesquisa percebe-se que os trabalhadores rurais não seguem as recomendações para o uso de pesticida, muitas vezes, usando muito mais do que o recomendado pelos fabricantes de agrotóxicos. A aplicação de pesticidas também é realizada indevidamente, onde a maioria dos trabalhadores agrícolas relata não usar equipamentos proteção. A falta de informação sobre os riscos à saúde provocado pelo uso intensivo ou inadequado dos agrotóxicos traz grandes problemas à saúde pública brasileira. Por isso, salienta-se a importância da conscientização e de educação da população sobre os problemas causados a saúde dos agricultores pelo uso excessivo de agrotóxicos.

REFERÊNCIAS

AGOSTINETTO, D.; PUCHALSKI, L. E. A.; AZEVEDO, R.; STORCH, G.; BEZERRA, A. J. A.; GRÜTZMACHER, A. D. Utilização de equipamentos de proteção individual e intoxicações por agrotóxicos entre fumicultores do município de Pelotas-RS. Pesticidas Revista Ecotoxicologia e Meio Ambiente, v.8, p.45-56, 1998.

(11)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 AGROFIT (Base de dados de produtos agrotóxicos e fitossanitários). Secretaria de Defesa Agropecuária/ Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Brasília. 2008.

ALMEIDA, V. E. S; CARNEIRO, F. F.; VILELA, N. J. Agrotóxicos em hortaliças: segurança alimentar, riscos socioambientais e políticas para promoção da saúde. Tempus, Actas em Saúde Coletiva v.4, n.4, p.84-89. 2009.

ANDRADE, M. J. F. V. Economia do Meio Ambiente e Regulação: Análise da Legislação Brasileira sobre Agrotóxicos. Dissertação de Mestrado, Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas. 1995.

ANTLE, J. M., CAPALBO, S. M. Pesticides, productivity, and farmer health: Implications for regulatory policy and agricultural research. American Journal of Agricultural Economics, 76, 598-602. 1994.

ARAFA, A., AFIFY, M., NERVANA, S., Evaluation of adverse health effects of pesticides exposure: [biochemical and hormonal] among Egyptian farmers. J. Appl. Sci. Res. 9, 4404–4409. 2013.

BAKHSH, K., AHMAD, N., KAMRAN, M. A., HASSAN, S., ABBAS, Q., SAEED, R., HASHMI, M. S., Occupational hazards and health cost of women cotton pickers in Pakistani Punjab. BMC Public Health 16, 961. 2016.

BOMBARDI, L. M. Intoxicação e morte por agrotóxicos no brasil: a nova versão do capitalismo oligopolizado. Boletim Dataluta, set, 2011.

BRASIL. Casa Civil. Decreto nº 7.167, de 05 de maio de 2010. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 06 maio 2010. Seção 1, p. 4.

CARVALHO, F. P. Pesticides, Environment, and Food Safety. Food Energy Secur. 6, 48– 60. 2017. DOI: 10.1002/fes3.108.

(12)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 CASTRO, V. L. S. S. Uso de misturas de agrotóxicos na agricultura e suas implicações toxicológicas na saúde. J. Braz. Soc. Ecotoxicol., v. 4, n. 1-3, p. 87- 94, 2009.

CENTRO DE INFORMAÇÕES DE RECURSOS AMBIENTAIS E DE HIDROMETEREOLOGIA DE SANTA CATARINA. CIRAM. 2013. Disponível em: <http://ciram.epagri.sc.gov.br/>. Acesso em 12 fev. 2018.

DAMALAS, C. A., Understanding benefits and risks of pesticide use. Sci. Res. Essays 4, 945–949. 2009.

DAMALAS, C.A., ELEFTHEROHORINOS, I.G., Pesticide exposure, safety issues, and risk assessment indicators. Int. J. Environ. Res. Public Health 8, 1402–1419. 2011.

DAMALAS, C.A., KOUTROUBAS, S.D., Farmers' exposure to pesticides: toxicity types and ways of prevention. Toxics 4, 1–10. 2016.

FERREIRA, M. C., FIGUEIREDO, M. A. A., Epidemiologia das intoxicações humanas. Rev Eletronica Gest Saúde. 4, 61-70. 2013

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. Centro de Informação Científica e Tecnológica. Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas. Estatística anual de casos de intoxicação e envenenamento. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2009. Disponível em:

<http://www.fiocruz.br/sinitox/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=349>. Acesso em: 18 mai. 2018.

FURRIELA, R. B. Educação para o consumo sustentável. Programa Conheça a Educação do Cibec/Inep- MEC/SEF/COEA, 2001.

GAZZIERO, D. L. P. Misturas de agrotóxicos no tanque nas propriedades agrícolas do Brasil. Planta daninha, Viçosa, v. 33, n. 1, p. 83-92, março de 2015. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-

(13)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: processos ecológicos em agricultura sustentável. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2001.

HOPPIN, J. A., YUCEL, F., DOSEMECI, M., SANDLER, D. P., Accuracy of self-

reported pesticide use duration information from licensed pesticide applicators in the Agricultural Health Study. J. Expo. Anal. Environ. Epidemiol. 12, 313–318. 2002.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Censo agropecuário 2006. Rio de Janeiro, 2003-2017. Disponível em: <www.ibge.com.br>. Acesso em: 18 abr. 2018.

INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS (IBAMA). Brasília, 2010.

KHAN, M., DAMALAS, C. A., Occupational exposure to pesticides and resultant health problems among cotton farmers of Punjab. Int. J. Environ. Health Res. 25, 508–521. 2015.

KHAN, M., MAHMOOD, H. Z., DAMALAS, C. A., Pesticide use and risk perceptions among farmers in the cotton belt of Punjab. Crop Prot. 67, 184–190. 2015.

LIMA, L. C. F. Produtos fitossanitários: misturas em tanque. Cascavel: Ocepar/Coodetec/Associação Nacional de Defesa Vegetal, 13 p. 1997.

LONDON, L., BAILIE, R. Challenges for improving surveillance for pesticide poisoning: Policy implications for developing countries. International Journal of Epidemiology, 30, 564-570. 2001.

MALASPINA, F. G.; ZINILISE, M.; BUENO, P. C. Epidemiologic Profile of the Pesticides Intoxication in Brazil, in the Period 1995 to 2010. Caderno Saude Coletiva . 2011, 19, 425– 434.

(14)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 MONQUERO, P. A.; INÁCIO, E. M.; SILVA, A. C. Levantamento de agrotóxicos e utilização de equipamento de proteção individual entre os agricultores da região de Araras. Arq. Inst. Biol., São Paulo, v. 76, n. 1, p. 135-139, 2009.

MOREIRA, J. C. Avaliação integrada do impacto do uso de agrotóxicos sobre a saúde humana em uma comunidade agrícola de Nova Friburgo, RJ. Ciência e saúde coletiva, 2002.

MREMA, E. J.; NGOWI, A. V.; KISHINHI, S. S.; MAMUYA, S. H. Pesticide Exposure and Health Problems Among Female Horticulture Workers in Tanzania. Environ. Health Insights. 11, 1–3. 2017

OLIVEIRA-SILVA, J. J., ALVES, S. R., MEYER, A., PEREZ, F., SARCINELLI, P. N., MATTOS, R. C. O. C., MOREIRA, J. C. Influência de fatores socioeconômicos na contaminação por agrotóxicos, Brasil. Revista de Saúde Pública. 35:130-135. 2001.

PIGNATI, W. A.; LIMA, F. A. N. S. L.; LARA, S. S.; CORREA, M. L. M.; BARBOSA, J. R.; LEAO, L. H. C.; PIGNATTI, M. G. Spatial Distribution of Pesticide Use in Brazil: A Strategy for Health Surveillance. Ciência Saude. 22, 3281–3293. 2017. DOI: 10.1590/ 1413-812320172210.17742017

RANGEL, C. F., ROSA, A. C. S., SARCINELLI, P. N. Uso de agrotóxicos e suas implicações na exposição ocupacional e contaminação ambiental. Cad. Saúde Colet., Rio de Janeiro, 19 (4), 435-42. 2011.

SINDAG. Sindicato Nacional das Indústrias de Defensivos Agrícolas. Comunicação pessoal, 1999.

SINDAG - Sindicato Nacional das Indústrias de Defensivos Agrícolas. Uso de defensivos é intensificado no Brasil. 2009. Disponível em:

<http://www.sindag.com.br/noticia.php?News_ID=2278>. Acesso em: 29 abr. 2018.

(15)

Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 5, n. 9, p. 15190-15204 sep. 2019 ISSN 2525-8761 http://www.who.int/world-health-day/previous/2004/en/>. Acesso em: 12 fev. 2018.

YASSI, Y. A., KJELLSTROM, T., KOK, T. K., GUDOTLI, T. L., Basic Environmental Health. World Organization. Oxford University Press, London, UK. 2001.

ZAMBOLIM, C. M., OLIVEIRA, T. P., HOFFMANN, A. N., VILELA, C. E. B., NEVES, D., ANJOS, F. R., et al. Perfil das intoxicações exógenas em um hospital universitário. Rev Med Minas Gerais. 18(1):5-10. 2008

Imagem

Figura 1 - Percentual de idade dos casos de intoxicação por agrotóxicos avaliados.
Figura 2 - Percentual de intoxicados avaliados por sexo.
Figura  3 -  Foto  do  momento  de  aplicação de agrotóxico  na  lavoura  de  um  entrevistado na  localidade de  Salto  Caveiras (-27.813710 S, -50.481639 W), sem uso de EPI

Referências

Documentos relacionados

Na busca por respostas à questão central este trabalho - como é o processo de construção da carreira profissional e da vida doméstica das mulheres atuantes

Posteriormente, foi avaliado a eficiência dos redutores Fe(II), bissulfito de sódio (BSS), ácido ascórbico (AA) e diferentes espécies de ferro zero-valente (FZV) para a remoção

1. Ao toque de entrada os alunos deverão estar à porta do pavilhão gimnodesportivo. A entrada será feita por indicação do professor ou do assistente operacional que

resolvemos numericamente as equações, obtendo o comportamento hidrodinâ- mico do sistema e verificando a influência de parâmetros característicos, tais como

— O barão, acudiu ella, compenetrada de uma idéa que lhe veio em soccorro, quer que o casamento se effectue depois do testamento; ehoje mesmo Hen- que deve esposal-a; Cecilia,

O objetivo do projeto é realizar uma pesquisa na área da cenografia, que se origina no campo visual e vá ao encontro do público, de modo que o faça acessar essa obra,

A padronização e controlo da qualidade, segundo estudos recentes, devem incluir a comparação dos compostos químicos do própolis com os encontrados nas plantas que lhe