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ADOÇÃO (IR)REGULAR: VÍTIMA DE TRÁFICO

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Academic year: 2020

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Revista do Curso de Direito da Universidade Braz Cubas V1 N1: Maio de 2017

ADOÇÃO (IR)REGULAR: VÍTIMA DE TRÁFICO Beatriz de Oliveira1

Letícia de Mello Figueiredo2

Leslie de Azevedo Monteiro3

Prof. André Ricardo Gomes de Souza4

Prof. Antonio Carlos Martins Junior5

Resumo:O objetivo do presente trabalho é mostrar como as diferentes formas de adoção podem influenciar no ambiente familiar e como o vínculo afetivo pode ser importante para a criança e ao adolescente, com as consequências que podem trazer. Tornando a ligação biológica um objetivo secundário, priorizando o afeto, o amor e o carinho que podem ser construído através do laço socioafetivo.

Palavra-chave: Adoção, Ambiente Familiar, Ligação Biológica, Afeto, Laço Socioafetivo.

Abstract: The present study analyzes different methods of adoption and how it influences home resources. The study also analyzes the importance and consequence of bonding affective on childhood and adolescence.

Kaywords: Adoption, home resources, biological connections, affection, bonding affective

Sumário: resumo. Introdução. 1. Família: Conceito, Origem e Evolução Histórica. 1.1 Família no Ordenamento Jurídico 2. Filiação: Aspectos Gerais. 2.1. Filiação Biológica e Afetiva 3. Histórico Evolutivo da Filiação no Direito Brasileiro 4. Adoção: Conceitos e Requisitos 4.1 Adoção na Legislação Brasileira 4.2 Adoção à Brasileira 4.3 Adoção Informal Pode Ser Caracterizada Como Tráfico de Pessoas 4.4 Relação Afetiva na Adoção Informal 5. Considerações Finais 6. Referências.

INTRODUÇÃO:

Este trabalho tem como objetivo analisar a importância do vínculo socioafetivo dentro de uma relação familiar presente na adoção informal. Para tanto, abordar-se-á a visão da possibilidade de existir argumentos favoráveis aos pais que tem o ato de registrar o filho alheio como próprio, pois, embora o ordenamento jurídico brasileiro caracterize a adoção informal como uma conduta criminosa, a prática é prevista no Código Civil como uma espécie de filiação socioafetiva, onde há laços extra-sanguíneos.

Este tema tem suma importância no âmbito civilista, haja vista que, de acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, mais de 200 mil 1 Graduanda no Curso de Direito da Universidade Braz Cubas (UBC-SP)

2 Graduanda no Curso de Direito da Universidade Braz Cubas (UBC-SP) 3 Graduanda no Curso de Direito da Universidade Braz Cubas (UBC-SP)

4 Mestre em Políticas Públicas, especialista em Direitos Difusos e Coletivos, Tributário, e MBA em Gestão Empresarial

5 Especialista em docência no Ensino Superior do Curso de Direito da Universidade Braz Cubas (UBC-SP)

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brasileiros desaparecem todos os anos, sendo 40 mil crianças e adolescentes, que tornaram-se vítimas da adoção ilegal. Assim como, há uma divergência existente entre dois ramos do direito, familiar e penal, que doutrinam acerca da mesma prática.

Neste conceito, o presente artigo científico parte do seguinte problema: O ordenamento jurídico deve prevalecer à relação socioafetiva e ao interesse da criança e do adolescente?

Neste conceito, estudaremos as diversas definições atribuídas a adoção informal, bem como, se tal filiação afetiva é capaz de ultrapassar preceitos legais.

Por fim, o referido trabalho trata-se da preservação das relações afetiva e a busca do interesse da criança e do adolescente não tendo o fato biológico como objetivo necessário, e sim o afeto, o amor e o carinho que se faz como principal elemento para a criação do laço socioafetivo.

1 FAMILIA: CONCEITO, ORIGEM E EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Atualmente, as formas de família que se apresentam na sociedade, sofreram inúmeras modificações ao longo da história da humanidade. Família é uma sociedade natural entre pessoas ligadas por laço sanguíneo ou por afinidade.

De acordo com FARIAS, 2012, o Código de 1916, era fundada sob o aspecto matrimonializado, patriarcal, hierarquizado, heteroparental, biológico, como função de produção e reprodução e caráter institucional; esse quadro reverteu-se com a Lex Fundamentallis de 1988, refletindo também no Código Civil de 2002, tornando-se pluralizada, democrática, igualitária substancialmente, hétero ou homoparental, biológica ou socioafetiva, com unidade socioafetiva e caráter instrumental.

A origem da família surgiu da necessidade do ser humano em estabelecer relações afetivas de forma estável, como um fenômeno natural.

FARIAS E REOSENVALD, 2012, afirmam que, tornou-se inviável estabelecer um modelo familiar uniforme, havendo a necessidade de traduzi-la em conformidade com as transformações sociais no decorrer do tempo.

A família que hoje conhecemos teve um caminho longo para chegar até aqui, com igualdade entre as pessoas, dignidade e escolhas próprias para sua vida. Não mais se fala em família constituída apenas superficialmente, no sentido obrigatório de manter vínculos por interesses, mas sim na finalidade de viver uma vida junto com amor e afeto seja da qual forma for.

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1.1 FAMÍLIA NO ORDENAMENTO JURÍDICO

A família ganhou uma amplitude junto com a Constituição Federal do Brasil, 1988 no artigo 226 :

Art.226: A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado: § 1º O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.

§ 3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.

§ 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.

§ 5º Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

§ 6º O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.

§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.

§ 8º O Estado assegurará a assistência à família na pessoa de cada um dos que a integram, criando mecanismos para coibir a violência no âmbito de suas relações.

No Código Brasil, 2002 o seu conceito, estabelece no art. 1.511:

O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

Deste modo, no Título I, Subtítulo II, Capítulo IV do Livro do Código Civil, artigo 1.631, a expressão pátrio poder dá lugar à expressão poder familiar, a ser exercido igualmente pela mulher e pelo homem.

2 FILIAÇÃO: ASPECTOS GERAIS

Maria Helena Diniz, 2012, conceitua filiação como o vínculo existente entre pais e filhos; vem a ser a relação de parentesco consanguíneo em linha reta de primeiro grau entre uma pessoa e aqueles que lhe deram vida, podendo ainda ser uma relação socioafetiva entre pai adotivo e filho adotado ou advindo de inseminação artificial heteróloga.

No entanto, inicialmente, no Código Civil de 1916, diferenciava os filhos em razão dos valores morais, sociais e legais, dessa maneira, a filiação era caracterizada como legítima e ilegítima. Ocorre que, com a evolução da legislação, o Código Civil Brasil, 2002 estabeleceu uma relação de igualdade entre os filhos, independente de relações matrimoniais.

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Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.

Para LOUREIRO (2009, p.1.160) quem ensina que o direito da filiação, em sua visão moderna, encontra-se fundamentado em quatro grandes pilares:

1) O da perfeita igualdade dos vínculos de filiação, independente de qual for o estado dos pais;

2) O da facilidade do estabelecimento da filiação;

3) O da responsabilização dos pais e da viabilidade de cada criança ter um vínculo de filiação que a conecte a cada um dos pais; e,

4) O da seguridade e estabilidade do vínculo da filiação.

Ou seja, todas essas mudanças refletem-se na identificação dos vínculos de parentalidade, levando ao surgimento de novos conceitos e de uma nova linguagem que melhor trata a realidade atual: filiação social, filiação socioafetiva, estado de filho afetivo etc. Tal como aconteceu com a entidade familiar, a filiação começou a ser identificada pela presença do vínculo afetivo paterno-filial. (DIAS, 2008)

Dessa maneira, filiação é o vínculo existente entre pais e filhos; vem a ser a relação de parentesco consanguíneo em linha reta de primeiro grau entre uma pessoa e aqueles que lhe deram a vida. Nem sempre esse liame decorre de união sexual, pois pode provir: a) de inseminação artificial homóloga (CC, art. 1.597, III) ou heteróloga (com autorização do marido (CC, art. 1.597, IV) e b) de fertilização in vitro. (DINIZ, 2012)

Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I- nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal;

II- nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III- havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV- havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; (Brasil, 1988)

V- havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.

As mudanças que ocorreram geraram novos conceitos, novas formas, e a que ganhou bastante importância foi o afeto, que tem evoluindo com grande força no direito de família. O afeto está sendo introduzindo como forma de maior relevância, pois, exprime principalmente o estado de vontade e não de uma causa natural.

O próprio conceito exposto defique que o status de filho pode ser conquistado com o nascimento em uma família matrimonialmente constituída ou família oriunda da união estável, com a adoção, com o reconhecimento da paternidade, voluntário ou forçado, sem que a causa que deu ensejo ao vínculo, entre pai, mãe e filho seja a consanguinidade. (DIAS, 2008)

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2.1 FILIAÇÃO BIOLÓGICA E AFETIVA

A filiação biológica teve origem romano germânica através do pater famílias, cidadão chefe de família que tinha poder sobre a vida e morte dos filhos.6

De acordo com FUJITA, 2011, filiação biológica ou natural é a relação que se estabelece, por laços de sangue, entre uma pessoa e seu descendente em linha reta do primeiro grau. Esse liame de sangue pode se fazer presente por meio da reprodução natural ou carnal ou pelas várias técnicas de reprodução humana assistida.

Dessa maneira, com a evolução da legislação e as regras sociais, a filiação biológica deixou de ser a única espécie aceita, ou seja, filiação pode ocorrer tanto de forma matrimonial, como extramatrimonial, não gerando assim, qualquer tipo de distinção entre os filhos, tendo em vista os preceitos constitucionais. No entanto, deu-se o surgimento da filiação afetiva.

Já o direito de família prevê como filiação socioafetiva, a relação extra-sanguínea proveniente do afeto entre pais e filhos.

Para Jorge Shiguemitsu Fujita, 2011, filiação socioafetiva é:

É aquela consistente na relação entre pai e filho, ou entre mãe e filho, ou entre pais e filho, em que inexiste liame de ordem sanguínea entre eles, havendo, porém, o afeto como elemento aglutinador, tal como uma sólida argamassa a uni-los em suas relações, quer de ordem pessoal, quer de ordem patrimonial. De acordo Maria Berenice Dias, acerca da filiação socioafetiva:

Filiação que resulta da posse do estado de filho constitui modalidade de parentesco civil de “outra origem”, isto é, de origem afetiva (CC1593). A filiação socioafetiva corresponde a verdade aparente e decorre do direito à filiação. (...) Revela a constância social da relação entre pais e filhos, caracterizando uma paternidade que existe não pelo simples fato biológico ou por força de presunção legal, mas em decorrência de uma convivência afetiva.

3 HISTÓRICO EVOLUTIVO DA FILIAÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO

No Código Civil Brasil, 1916, o filho legítimo era o resultante de casamento válido ou putativo. Já o filho ilegítimo, era aquele constituído de relacionamento extraconjugal. Com relação a isso, resultava discriminação entre os filhos, havendo necessidade de autorização do cônjuge para que o filho ilegítimo coabitasse a mesma casa.

Segundo DINIZ, 2012, a Constituição Federal de 1988 vedou qualquer discriminação entre os filhos adotivos e consanguíneos gerados ou não na constância do vínculo

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conjugal, razão esta que não se admite mais a retrógrada distinção entre a filiação legítima e ilegítima.

O tratamento dos filhos ilegítimos em nossa legislação evoluiu no sentido da concessão de direitos mais amplos e de sua progressiva equiparação aos filhos legítimos. (WALD, 2005)

Com o advento da Constituição Federal de 1988, que assegurou aos filhos, adulterinos e incestuosos, as mesmas qualificações, além de proibir o emprego de qualquer designação discriminatória no que pertine à filiação, pôs um ponto final em matéria de restrições ao estabelecimento dos vínculos de paternidade-maternidadefiliação, independente do tipo de relacionamento existente entre os pais. Desse modo, o art. 358, do Código Civil de 1916, não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988, sendo perfeitamente possível o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento, com total irrelevância acerca da origem da filiação. (GAMA, 2005)

4 ADOÇÃO

No Brasil, o Código Civil Brasileiro de 1916 disciplinou a adoção com base nos princípios Romanos, como instituição destinada a proporcionar a continuidade da família, dando aos casais estéreis os filhos que a natureza lhes negara. Regulamentava a adoção em seus arts. 368 a 378 que era chamada de adoção simples pelas consequências que gerava. Nessa estrutura, a adoção se dava através de escritura pública, sem interferência judicial. O filho adotivo não rompia o vínculo com sua família biológica, podendo, inclusive, perseverar com o nome originário, bem como com os direitos e deveres alimentícios face aos pais consanguíneos (CHAVES, 1995)

A adoção é uma forma de procriação7, permite trazer à existência um filho, que se

vincula ao pai, mãe ou pais, não pelo sangue, mas por um ato de amor juridicamente protegido. É modalidade de estabelecimento do vínculo de filiação de origem civil. Segundo parte da doutrina, a adoção imita a filiação natural, contudo, como as demais formas de estabelecimento da filiação - socioafetiva e originária de reprodução humana assistida, a adoção vai além, rompendo com o modelo heteroparental e biológico, estabelecimento pelos limites da natureza.8

7 A filiação adotiva neste final de século pode ser entendida como uma procriação juridicamente assistida. Ela busca uma família para a criança, não o contrário (...)”. NABINGER, Sylvia Baldino. A construção dos vínculos na Adoção: transtornos mentais na infância e na adolescência. Nilo Fichter (Org.). Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 83.

8 Para Lôbo, “a filiação não é um dado da natureza, e sim uma construção cultural, fortificada na convivência, no entrelaçamento dos afetos, pouco importando sua origem. Nesse sentido, o filho

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Por ser uma medida de proteção, a adoção visa melhorar a condição moral e material do adotado.9

O instituto da adoção é conceituado por Oséias J. Santos, da seguinte forma:

A adoção é um ato jurídico solene sobre o qual observados os requisitos legais, independente de qualquer relação jurídica de parentesco (consanguíneo) ou por afinidade, alguém estabelece um vínculo fictício de filiação, trazendo para sua família, na condição de filho, pessoa que geralmente lhe é estranha.

4.1 ADOÇÃO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA

Os filhos, sem importar a origem podem ser reconhecidos de diversas formas que no termo de nascimento quer por escritura pública por testamento ou manifestação do juiz, não podendo ser desfeito.

Em três de agosto de dois mil e nove, foi sancionada a nova Lei Nacional da Adoção10,

reformulada, a nova lei revogou alguns dispositivos do Código Civil, das Leis Trabalhistas e acrescentou vários dispositivos ao ECA (Estatudo da Criança e do Adolescente), baseando-se em três objetivos centrais: tornar mais célere o processo de adoção, priorizar a permanência do menor na família de origem e ainda unificar cadastro de adoção.

Embora a legislação anterior previsse medidas, a criação da Lei instituiu o Cadastro Nacional de Adoção, com o objetivo de tornar mais célere o processo por meio de mapeamento de informações unificadas sobre crianças e adolescentes aptos no Brasil, e também dos pretendentes à adoção, auxiliando os juízes na condução dos procedimentos.11

O Código Civil Brasileiro prevê a adoção como um direito constitucional, remetendo a sua regulamentação ao Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual conceitua legalmente a adoção em seu art. 392.

Já o artigo 42 do ECA aduz em seu caput, requesito para adoção, ou seja, somente será efetivada por pessoa maior de 18 anos, independentemente do estado civil. Tal requisito é estipulado em razão da pessoa alcançar a capacidade plena, uma vez que, neste momento são a ela conferidos os direitos e deveres do poder parental.

biológico é também adotado pelos pais, no cotidiano de suas vidas.” LÔBO, Paulo. Famílias. SP: Saraiva, 2008.

9 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 27º ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012. p. 558.

10 BRASIL, Lei 12.010 de 3 de agosto de 2009. Dispõe sobre a Adoção. Presidência da República. Casa Civil, 2009. Doravante denominada Lei de Adoção.

11 24 BRASIL, Conselho Nacional de Justiça Dispõe sobre o Cadastro Nacional de Adoção. Acesso em: 21 de abril de 2013.

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O adotante pode ser casado, solteiro ou convivente em união estável. A adoção por pessoa solteira é legalmente possível e implica na formação da família monoparental. Já na adoção por casais, além de devidamente habilitados no cadastro nacional de adoção, estes deverão fazer prova do casamento ou união, bem como comprovar a estabilidade familiar, uma vez que ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo sejam estes casados ou unidos estavelmente. O Estatuto reserva também, o direito de adotar, aos divorciados ou ex-conviventes, desde que, o estágio de convivência se dê, na constância do casamento ou da união e seja assegurado o direito de visitas. Em seu parágrafo 3º, o mesmo dispositivo legisla acerca da diferença mínima de idade entre adotando e adotado, que deve respeitar o lapso temporal de 16 anos. Embora haja divergência doutrinária neste aspecto, a diferença de idade é importante para que o adotante desempenhe com perfeição seus deveres de guarda e educação.12

A adoção legal somente se realizará mediante processo judicial, com intervenção do Ministério Público, na qualidade de fiscal da lei e protetor da criança ou adolescente. Haverá também uma intervenção judicial na criação do adotado, e conta com o apoio da equipe técnica e da psicologia forense, prezando pelo bem estar da criança em sua nova família.

4.2 ADOÇÃO À BRASILEIRA

Antigamente, nos meios mais humildes, a adoção era realizada a esmo, sem norma alguma. Simplesmente acontecia.13

De acordo com a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, por ano, um grande número de menores é retirado de suas famílias e entregue a outras, sendo “legalizada” a adoção por meio de falsificação de documentos e outras práticas ilícitas. Uma das formas mais utilizadas é a “adoção à brasileira”.

Tem-se ainda um círculo vicioso, que alimenta a ilusão de que a adoção é um processo demorado e burocrático. Com a "adoção à brasileira", as crianças não são entregues à Justiça, o que aumenta é o tempo de espera dos candidatos a pais adotivos que estão nas filas dos juizados e que, desanimados, acabam se rendendo às formas mais rápidas de adoção.14

12 FILHO, Artur Marques da Silva. Adoção. 2º ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 88. 13 SOUZA, Hália Pauliv. Adoção é doação. 1º ed. 9º Tir. Curitiba: Juruá, 2009, p. 23.

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4.3 ADOÇÃO INFORMAL PODE SER CARACTERIZADA COMO TRÁFICO DE PESSOAS

De acordo com o Projeto de Lei do Senado 479/1215 apresentada pela Comissão

Parlamentar de Inquérito (CPI) do Tráfico de Pessoas, do Senado, a proposta modifica o Código Penal para considerar crime de tráfico de pessoas, a adoção ilegal de crianças e adolescentes. A pena é de quatro a dez anos de prisão.

4.4 RELAÇÃO AFETIVA NA ADOÇÃO INFORMAL

De acordo com o ECA, em conjunto com a Constituição Federal e o Código Civil Brasileiro, as decisões que envolvem crianças e adolescentes, deverão buscar o seu melhor interesse, respeitando o valor jurídico dentro das relações familiares.

O Procurador de Justiça Valdir Sznick se manifesta a respeito da questão com a seguinte referência: “[...] o ato, por mais nobreza e grandeza de princípios de que se revista, está tisnado pela dissimulação e pela infração à lei”

Já o Juiz de Direito Costa (1998, apud LAMENZA, 2008):

Chega a ser bastante incisivo quanto à “adoção à brasileira”: O expediente, conhecido entre nós como ‘adoção à brasileira’, que consiste no falso registro de nascimento do filho de outro como próprio, tem sido comumente utilizado por casais brasileiros [...]. O procedimento, que tem sido indiretamente estimulado pela passividade e tolerância das autoridades, também muito comum em outros países [...].

Embora a “adoção à brasileira” configure conduta criminosa, trata-se de uma adoção afetiva, caracterizada pelo vinculo afetivo gerado dentro da família pela qual a criança foi criada.

Quando analisado casos de separação de crianças dos adotantes, acrescida de penalização dos mesmos, Tatiana de Paula16 esclarece que:

Os fortes laços afetivos derivados da convivência e da proximidade no ambiente familiar sadio garantem a aplicação dos ditames constitucionais e da lei especial de tutela da criança e do adolescente por representar a concreta harmonia e o privilégio à vida e ao desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social pleno da criança. A vida humana começa e tem condições efetivas de viabilidade no ambiente familiar. Acrescenta-se ainda que o princípio de que a verdade socioafetiva deve sempre prevalecer sobre a biológica é imperativo, assim, a criança não pode ser privada dos direitos que lhe seriam devidos se o vínculo tivesse sido criado de maneira regular.17

15 https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/119888

16 PAULA, Tatiana Wagner Lauand. Adoção à brasileira: Registro de Filho Alheio em Nome Próprio. 1º ed. Curitiba: J.M. Livraria Jurídica, 2007. p. 76.

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O Superior Tribunal de Justiça estabeleceu como direito da criança, saber sua origem biológica, porém esta vontade não desconstitui o estado de filiação criado pela adoção informal. Exposto no seguinte julgado:

Direito civil. Família. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade e maternidade. Vínculo biológico. Vínculo sócioafetivo.Peculiaridades. - A “adoção à brasileira”, inserida no contexto de filiação sócio-afetiva, caracteriza-se pelo reconhecimento voluntário da maternidade/paternidade, na qual, fugindo das exigências legais pertinentes ao procedimento de adoção, o casal (ou apenas um dos cônjuges/companheiros) simplesmente registra a criança como sua filha, sem as cautelas judiciais impostas pelo Estado, necessárias à proteção especial que deve recair sobre os interesses do menor. – (...) – Dessa forma, conquanto tenha a investigante sido acolhida em lar “adotivo” e usufruído de uma relação sócio-afetiva, nada lhe retira o direito, em havendo sua insurgência ao tomar conhecimento de sua real história, de ter acesso à sua verdade biológica que lhe foi usurpada, desde o nascimento até a idade madura. Presente o dissenso, portanto, prevalecerá o direito ao reconhecimento do vínculo biológico. - Nas questões em que presente a dissociação entre os vínculos familiares biológico e sócio-afetivo, nas quais seja o Poder Judiciário chamado a se posicionar, deve o julgador, ao decidir, atentar de forma acurada para as peculiaridades do processo, cujos desdobramentos devem pautar as decisões.Recurso especial provido.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A relação de adoção não tem fato biológico como objetivo necessário, e sim o afeto, o amor e o carinho que se faz como principal elemento para a criação do laço socioafetivo. É o oferecimento de oportunidade para uma criança e adolescente colocada no mundo sem perspectiva de um lar.

Nos dias de hoje, o laço afetivo toma a frente e na maioria dos casos é dado preferência a ele. Não se tem o simples fato do lado sanguíneo como principal fator para caracterizar uma relação, já que é adquirida de forma espontânea, com a vontade das duas partes e não uma obrigação paternal que também, em muitos casos, não há nenhum tipo de assistência para o menor.

A adoção à brasileira, apesar de ser uma frequente prática no país, é caracterizada como um ato irregular. A descoberta tem como consequência sanções de ordem civil e penal, como a anulação do registro de nascimento e a retirada da criança ou adolescente do casal, caracterizando assim, crime de registro de parto alheio como próprio.

Com tudo, como já esclarecido anteriormente, a filiação é também um direito da vida e do interesse da criança, ou seja, a origem biologia não pode sobrepor ao estado de filiação já constituído.

Nos tempos atuais há uma nova percepção de família, priorizando o valor da convivência familiar, percorre não só a lei, mas a vontade do individuo de se fazer presente perante a criança e ao adolescente unidos por sentimentos, dedicando carinho e amor.

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6 Referências

BRASIL, Conselho Nacional de Justiça Dispõe sobre o Cadastro Nacional de Adoção. Acesso em: 21 de abril de 2013.

BRASIL, Lei 8.069 de 23 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente. Presidência da República. Casa Civil, 1990. Doravante denominado Estatuto da Criança e do Adolescente. Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á segundo o disposto nesta Lei. § 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.

BRASIL, Lei nº 3.071, de 1º de janeiro de 1916. Dispõe sobre o Código Civil dos Estados Unidos do Brasil. Presidência da República, Casa Civil, 1916. Doravante denominado Código Civil de 1916.

BRASIL, Lei 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Dispõe sobre o Código Civil Brasileiro. Presidência da República. Casa Civil, 2002. Doravante denominado Código Civil de 2002.

BRASIL, Lei 12.010 de 3 de agosto de 2009. Dispõe sobre a Adoção. Presidência da República. Casa Civil, 2009. Doravante denominada Lei de Adoção.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 2006/0070609-4. Terceira Turma. Relatora: Ministra Nancy Andrighi. Julgada em 17/05/2007.

BRASIL. Senado Federal. SUBSTITUTIVO DA CÂMARA DOS DEPUTADOS nº 2, de 2015, AO PLS nº 479, de 2012. Disponível em https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/119888.

CHAVES, Antônio. Adoção. Belo Horizonte: Del Rey, 1995.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: Direito de Família. 27º ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2012. p. 558.

_____. _____. p. 488.

FARIAS, Cristiano Chaves de, Rosenvald, Nelson. Curso de Direito Civil, Direito de Famílias.4ª Edição, 2012, Editora Jus Podvium.

FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Filiação. 2º ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011, p. 71. FILHO, Artur Marques da Silva. Adoção. 2º ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 142.

LÔBO, Paulo. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008.

NABINGER, Sylvia Baldino. A construção dos vínculos na Adoção: transtornos mentais na infância e na adolescência. Nilo Fichter (Org.). Porto Alegre: Artes Médicas, 1997, p. 83

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PAULA, Tatiana Wagner Lauand. Adoção à brasileira: Registro de Filho Alheio em Nome Próprio. 1º ed. Curitiba: J.M. Livraria Jurídica, 2007. p. 76.

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