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Educação, trabalho e a mutação do sindicalismo: estudo do Programa Integrar de Qualificação Profissional da CNM/CUT no Estado de Pernambuco

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Academic year: 2021

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(1)EDUCAÇÃO, TRABALHO E A MUTAÇÃO DO SINDICALISMO: estudo do Programa Integrar de Qualificação Profissional da CNM/CUT no Estado de Pernambuco.

(2) SANDRA REGINA PAZ DA SILVA. EDUCAÇÃO, TRABALHO E A MUTAÇÃO DO SINDICALISMO: estudo do Programa Integrar de Qualificação Profissional da CNM/CUT no Estado de Pernambuco. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação – Curso de Mestrado – da Universidade Federal de Pernambuco, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação.. Orientador: Prof. Dr. Ramon de Oliveira.. RECIFE 2003.

(3) UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO CURSO DE MESTRADO. EDUCAÇÃO, TRABALHO E A MUTAÇÃO DO SINDICALISMO: estudo do Programa Integrar de Qualificação Profissional da CNM/CUT no Estado de Pernambuco. SANDRA REGINA PAZ DA SILVA. COMISSÃO EXAMINADORA: Prof. Dr. Ramon de Oliveira 1º Examinador/Presidente Profª Drª Maria Aparecida Ciavatta Pantoja Franco 2º Examinador Prof. Dr. Roberto Véras de Oliveira 3º Examinador Prof. Dr. Alfredo Macedo Gomes 4º Examinador. RECIFE, 22 de agosto de 2003.

(4) DEDICATÓRIA. À minha avó Maria da Paz, exemplo de luta e humanidade! A ela, que me ensinou a enfrentar os desafios da vida com alegria e simplicidade, o meu amor e a minha eterna gratidão..

(5) AGRADECIMENTOS São muitos. Porém, há aqueles que são imprescindíveis: A Deus, pela energia cósmica que me impulsionou e se fez presente em toda a realização deste trabalho. A Ciro, meu companheiro e amigo de todas as horas, quem primeiro descobriu em mim um potencial que até eu mesma desconhecia, meu muito obrigada,. pelo. carinho,. estímulo,. disponibilidade. e. valiosíssimas. contribuições. Ao meu orientador e amigo muito querido, Professor Ramon de Oliveira pela paciência, atenção e críticas no processo de construção deste trabalho, toda a minha estima e admiração. Às minhas queridas amigas do Centro de Cidadania Umbu-Ganzá, Bianca, Cleide e Kátia, e da Legião Assistencial do Recife, Márcia, Margarida e Jeanne, pela amizade sincera, afeto, confiança no meu trabalho, estímulo e disponibilidade para compartilhar minhas alegrias e tristezas. Palavras jamais expressarão como é bom compartir com vocês a vida, os sonhos e as esperanças de um mundo melhor e mais justo..

(6) Aos professores, Alfredo Gomes e Geraldo Barroso o meu agradecimento especial pelas contribuições no momento da qualificação do projeto. À professora Rosilda Arruda, meu reconhecimento e gratidão pelas aulas inesquecíveis no curso de mestrado. Ao mestre Daniel Rodrigues, Meu professor desde a graduação... quem primeiro me fez entender as nuances históricas e as contradições sociais... quem me concedeu o privilegio de realizar o estágio de docência sob a sua orientação... Por tudo, o meu muito obrigada. Aos professores, Ferdinand Röhr, Jose Policarpo Júnior, Márcia Ângela Aguiar, Alfredo Gomes, Janete Lins e Lícia Maia, pelas contribuições enriquecedoras em toda a trajetória do mestrado. Aos meus colegas e companheiros(as) de turma, com quem compartilhei os conhecimentos, as dúvidas, os questionamentos, os risos e as alegrias. Como foi boa essa cumplicidade! Meu agradecimento especial a Alexsandra, minha companheira fiel do mestrado. A todos da secretaria do Mestrado, Nevinha, Alda e Marquinhos, pela atenção dispensada em toda a trajetória no curso de mestrado. Aos professores e coordenadores do Programa Integrar de Pernambuco, parabenizando-lhes. pelo. trabalho. desenvolvido. com. dedicação. e. compromisso para com os trabalhadores brasileiros, agradeço-lhes por terem possibilitado a realização das entrevistas, com destaque para Nilsa.

(7) Lira e Poliana Magalhães, exemplos de compromisso com o Programa Integrar. À comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (CAPES), pelo financiamento deste trabalho, no período de um ano, e pela oferta de oportunidades para participar de eventos científicos que me permitiram ampliar os horizontes e concretizar este trabalho..

(8) SIGLAS. BID. - Banco Interamericano de Desenvolvimento. BM. - Banco Mundial. CEPAL. - Comissão Econômica para América Latina e o Caribe. CINTEFOR. - Centro Interamericano de Investigação e. Documentação sobre. Formação Profissional CNM. - Confederação Nacional dos Metalúrgicos. CODEFAT. - Conselho de Deliberação FAT. CONCUT. - Congresso Nacional da CUT. CUT. - Central Única dos Trabalhadores. FAT. - Fundo de Amparo ao Trabalhador. FS. - Força Sindical. FMI. - Fundo Monetário Internacional. LDB. - Lei de Diretrizes e Bases da Educação. LDSS. - Laboratório de Desenvolvimento Social Sustentável. ONG. - Organização Não Governamental. OIT. - Organização Internacional do Trabalho. MAPP. - Método Altadir de Planificação Popular. MEC. - Ministério da Educação e do Desporto. MTE. - Ministério do Trabalho e Emprego. MTB. - Ministério do Trabalho. PE. - Pernambuco. PEA. - População Economicamente Ativa. PEQ. - Programa de Estadual de Qualificação Profissional. PID. - Programa Integrar de Desenvolvimento.

(9) PIE. - Programa Integrar para Empregados. PIFD. - Programa Integrar de Formação de Dirigentes. PLANFOR. - Plano Nacional de Qualificação Profissional. SESC. - Serviço Social do Comércio. SESI. - Serviço Social da Indústria. SENAI. - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial. SENAC. - Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial. SENAR. - Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. SENAT. - Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte. SINE. - Sistema Nacional de Emprego.

(10) LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS. FIGURA 1. - Reestruturação Produtiva como eixo norteador do Currículo do Programa Integrar de Qualificação Profissional........................................ 87. GRÁFICOS 1. - Diminuição do índice de grevistas.......................... 54. GRÁFICOS 2. - Diminuição do índice de greves.............................. 54. TABELA 1. - Recursos do FAT transferidos às Centrais Sindicais e Sindicatos de Trabalhadores para Qualificação Profissional........................................ TABELA 2. - Recursos do FAT transferidos a entidades públicas e privadas para ações de Qualificação Profissional. TABELA 3. 47. 48. Distribuição dos recursos do FAT por percentuais investidos em Qualificação Profissional, segundo grupo de entidades executoras.............................. TABELA 4. - Desenho do Quadro Curricular do Programa Integrar de Qualificação Profissional...................... TABELA 5. 50. 89. - Distribuição dos Alunos por Municípios da Região Metropolitana (2001).................................. 127.

(11) SUMÁRIO. DEDICATORIA AGRADECIMENTOS SIGLAS LISTA DE TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS SUMARIO RESUMO ABSTRACT INTRODUÇÃO................................................................................................. 1 - Considerações metodológicas.................................................................. 2 - Da estrutura e organização do estudo...................................................... CAPITULO 1 - TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO: Repercussões na Qualificação Profissional e no Movimento Sindical............................................................. 1.1 - Reestruturação produtiva e as demandas de qualificação profissional.............................................. 1.2 - A nova institucionalidade da educação profissional brasileira...................................................................... 1.3 - A crise do sindicalismo contemporâneo...................... CAPÍTULO 2 - O MOVIMENTO SINDICAL CUTISTA E A QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL....................................... 2.1 - A qualificação profissional na agenda sindical............ 2.2 - CUT: concepções e propostas de qualificação profissional.................................................................. 2.3 - Estratégias de intervenção sindical: o Programa Integrar........................................................................ 2.4 - Pressupostos metodológicos do Programa Integrar – PID.............................................................................. CAPÍTULO 3. A PROPOSTA POLÍTICO-PEDAGÓGICA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DA CNM/CUT – PROGRAMA INTEGRAR 3.1 - A proposta político-pedagógica................................... 3.1.1 - A organização e a concepção de currículo... 3.1.2 - O curso regular............................................. 3.1.3 - Os Cadernos Curriculares............................. - 3.1.3.1 - Caderno de Matemática I............. - 3.1.3.2 - Caderno Trabalho e Tecnologia I - 3.1.3.3 - Caderno Gestão e Planejamento I. 15 23 29. 31 32 36 53 59 60 63 72 77 84 85 86 89 90 90 98 104.

(12) 3.1.3.4 - Caderno Leitura e Interpretação de Desenho.................................. 3.1.3.5 - Caderno de Informática................ 3.1.4 - As Ações Coletivas....................................... 3.1.4.1 - Os Laboratórios Pedagógicos...... 3.1.4.2 - As Oficinas Pedagógicas............. CAPÍTULO 4 - MUTAÇÕES NO MOVIMENTO SINDICAL CUTISTA: a Educação Profissional........................................................ 4.1 - Programa Integrar: áreas de abrangência no Estado de Pernambuco........................................................... 4.2 - Estrutura organizacional do Programa........................ 4.3 - As dimensões pedagógicas da mutação do sindicalismo................................................................. 4.3.1 - Os conteúdos curriculares do processo formativo do PID........................................... 4.3.2 - A metodologia de trabalho............................ 4.3.3 - A qualificação profissional............................. 4.3.4 - Principais desafios enfrentados na execução do Programa.................................. 116 121 122 122 122 125 126 127 128 128 146 156 157. CAPÍTULO 5 - OS IMPACTOS DO PROGRAMA INTEGRAR DE QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL DA CNM/CUT-PE NA VIDA DOS EGRESSOS........................................................ 5.1 - Aquisição de novos conhecimentos e habilidades e sua aplicação na comunidade..................................... 5.2 - Participação em fóruns de caráter interventor em políticas públicas......................................................... 5.3 - Consolidação de iniciativas de trabalho e renda......... 5.4 - Percepções sobre o curso freqüentado....................... 168 170 171. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 177. ANEXOS............................................................................................................ 183. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................. 188. FONTES DOCUMENTAIS................................................................................ 197. 160 161.

(13) RESUMO. Este estudo analisa o Programa Integrar de Qualificação Profissional, elaborado e executado pela CNM-CUT, no âmbito do Plano Nacional de Qualificação Profissional (PLANFOR), em parceria com a Secretaria Estadual de Planejamento e Desenvolvimento Social do Estado de Pernambuco, financiado com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador. A metodologia consistiu em um estudo de caso. Utilizamos como procedimento metodológico entrevista semi-estruturada, composta de uma amostra de 11 (onze) sujeitos. Entre outras fontes documentais concentramos este estudo nas resoluções dos principais congressos da CUT e da CNM sobre qualificação profissional, como, também nos livros didáticos produzidos por essas instituições. O processo de investigação revelou que as transformações de base científica tecnológica produziram significativas alterações na qualificação profissional, sendo ela, hoje, predominante no discurso do Estado, dos empresários e das centrais sindicais. A qualificação, que antes era delegada ao empresariado, hoje se estende à ação estratégica do movimento sindical cutista, o qual passou a atuar como um dos principais propositores dessa ação. O Programa Integrar de Qualificação Profissional tem se diferenciado das propostas de qualificação que apenas atendem às exigências mercadológicas de qualificação. Ao final da investigação, chegamos à conclusão de que a formação ministrada tem um caráter político que permite ao cursista desenvolver uma visão ampla e crítica dos processos desencadeados no mundo do trabalho, não reduzindo a qualificação ao aspecto meramente tecnicista, sendo ela integradora da técnica e da política; uma expressão da mutação do sindicalismo cutista..

(14) ABSTRACT. This work analyses the Integrar (Integration) Programme for Professional Qualification created and executed by CNM-CUT, in the realm of the PLANFOR Plano Nacional de Qualificação Profissional (National Plan for Professional Qualification) in partnership with the state of Pernambuco’s Secretariat for Planning and Social Development in NE Brazil, and financed by the FAT Worker’s Finance Aid Fund.. Methodology consisted of a case study, the. procedure implemented through a semi-structured interview made by a sample of 11 subjects.. The study focused, amongst other document sources, on the. resolutions passed at the main CUT and CNM conferences on professional qualification, as well as on the didactical materials produced by these two institutions.. The investigation showed that science and technology-based. changes produced significant alterations in professional qualification, a trait that predominates in the State’s discourse, as well in entrepreneurs’ and trade unionism. Qualifying, a task once delegated to the entrepreneur sector today extends to the strategic actions of the CUT trade union movement, which started to act as one of the main proposers of such courses of action. The Integrar (Integration) Programme for Professional Qualification has become differentiated from the alternatives to professional qualification that merely cater for market needs.. At the end of research, we came to the conclusion that the course. administered has a political character to it that enables those who take it to develop a wider and more critical view of the processes triggered in labour markets, whilst not reducing qualification to a merely technical aspect, but seeing it as integrating element of technique and politics; an expression of the mutating character of CUT’s trade unionism..

(15) “[...] a tendência democrática, intrinsecamente, não pode consistir apenas em que um operário manual se torne qualificado, mas que cada ‘cidadão’ possa se tornar ‘governante’ e que a sociedade o coloque, ainda que abstratamente, nas condições gerais de poder fazê-lo...” (ANTÔNIO GRAMSCI, 1985).

(16) INTRODUÇÃO A década de 90 foi marcada por profundas mudanças no mundo do trabalho e na vida social. Na esfera econômica a mundialização do capital1 fez emergir o desemprego estrutural, a precarização da força de trabalho, e provocou a perda de direitos trabalhistas conquistados, historicamente, com muitas lutas, pelos trabalhadores organizados em sindicatos. A mundialização favoreceu, também, a reestruturação produtiva, expandindo ganhos do capital em comparação aos do trabalho, sobretudo com a transição do modelo de acumulação taylorista/fordista para o toyotista, elevando a produtividade. A reconfiguração das relações entre capital e trabalho, a partir da década de 90, não se limitou ao favorecimento de ganhos de capital. Contribuiu,. 1. A expressão mundialização do capital é a tradução do termo inglês Globalização. Segundo Chesnais (1996, p. 17) na sua obra Mundialização do Capital, o termo globalização traduz a capacidade estratégica de todo grande grupo oligopolista, voltado para a produção manufatureira ou para as principais atividades de serviços, de adotar, por conta própria, um enfoque e conduta “globais”. Para esse autor, o mesmo vale, na esfera financeira, para as chamadas operações de arbitragem. A integração internacional dos mercados financeiros resulta, sim, da liberalização e desregulamentação que levam à abertura dos mercados nacionais e permite sua interligação em tempo real. Mas, baseia-se, sobretudo, em operações de arbitragem feitas pelos mais importantes e mais internacionalizados gestionários de carteiras de ativos, cujo resultado decide a integração ou a exclusão em relação às “benesses das finanças de mercado”. Para Chesnais, basta pouca coisa para que um lugar financeiramente “atraente” deixe de sê-lo em questão de dias e, de certa forma, fuja da órbita da mundialização financeira..

(17) 16 concomitantemente, para o recrudescimento2 da pedagogia instrumental, cujo processo de aprendizagem profissional atende às demandas de organização do trabalho, alicerçadas na parcelarização, na fragmentação e na hierarquização do trabalho, conforme funções e qualificações profissionais prescritas, cuja principal característica é a separação entre elaboração e execução do trabalho. A formação profissional da pedagogia instrumental prioriza princípios individualistas e egocêntricos de aprendizagem e uma formação mais reativa e passiva do que reflexiva. Ela se subordina, com esses princípios, às exigências do mercado de trabalho, definidas pelas tecnologias e pelas necessidades ocupacionais dela decorrentes que, sobretudo, necessitam de trabalhadores que tenham desenvolvido habilidades psicofísicas. Com essas exigências o conceito de competência profissional da pedagogia instrumental valoriza muito pouco a escolaridade. Relevante é o treinamento para o exercício ocupacional e a experiência, combinados através de exercícios de repetição e de. 2. Recrudescimento (Recrudescência) – Qualidade de recrudescente. Renovação com maior intensidade (AURÉLIO, 1986, p. 1465). A utilização da terminologia recrudescimento objetiva problematizar o processo de renovação/conservação pelo qual passou a pedagogia instrumental. A emergência do “novo modelo” de acumulação toyotista trouxe em sua essência aspectos mais de continuidade que de ruptura com o antigo modelo. Um dos aspectos fundamentais da continuidade é a manutenção do processo de expropriação da mais-valia, extraída extensivamente pelo prolongamento da jornada de trabalho, com acréscimo em sua dimensão absoluta e de maneira intensiva pelo aumento do ritmo de trabalho em sua dimensão relativa, ou seja, presencia-se uma intensificação do ritmo produtivo dentro do mesmo tempo de trabalho ou, até mesmo, quando esse se reduz. Essa forma de intensificação da exploração do trabalho ocorre quer pelo fato de os operários trabalharem simultaneamente com várias máquinas diversificadas, quer pelo ritmo e velocidade da cadeia produtiva. De modo geral, o toyotismo consegue se apropriar das atividades intelectuais do trabalho, que advêm da maquinaria automatizada e informatizada, aliada à intensificação do ritmo do processo de trabalho, configurando um quadro extremamente positivo para o capital na retomada dos ciclos de acumulação e na recuperação da sua rentabilidade. Nessa ótica, o toyotismo consegue reinaugurar um novo patamar de intensificação do trabalho, combinando, fortemente, formas relativas e absolutas da extração da mais-valia (ANTUNES, 2000, p. 37-56). A pedagogia emergente desse novo modelo busca consolidar formas de aprendizagem mascaradas de inovadoras, mas, em seus fundamentos sustentam os pilares próprios do capitalismo: a exploração do homem pelo homem. Houve portanto, um recrudescimento, uma renovação da pedagogia instrumental para fortalecer, agora com maior intensidade, a dominação do capital sobre o trabalho, mediado pela qualificação profissional. Nos termos em que Franco (2001, p. 132) menciona a mediação “enquanto processos sociais complexos, com significados diversos, dependendo dos sujeitos e da dinâmica dos fenômenos envolvidos. Por isso, essencialmente histórico, cuja dimensão situa-se no campo dos objetivos problematizados e nas múltiplas relações no tempo e espaço, sobre a ação dos sujeitos sociais”..

(18) 17 memorização de tarefas bem definidas e de reduzida complexidade (KUENZER, 2000. p. 31). Já o novo modelo de produção flexível3 ou toyotista, em ascensão, fundamenta-se na descentralização e horizontalização da produção, na substituição da economia de escala pela economia de escopo, na diferenciação de produtos, integração das tarefas e valorização das contribuições inovadoras advindas dos trabalhadores (DELUIZ, 1999). A “pedagogia emergente4”, ancorada no paradigma toyotista, sugere a constituição de um trabalhador capaz de interpretar, criar e resolver problemas que,. comparado. ao. ideal. do. trabalhador. taylorista,. representado. simbolicamente por Taylor na figura de “gorila adestrado”, apresenta-se como trabalhador de “novo tipo”. O atual desenvolvimento tecnológico da economia está a exigir esse trabalhador de “novo tipo”, dotado de capacidades intelectuais adaptáveis à produção flexível. Kuenzer (2000) destaca as novas competências e habilidades requeridas pela pedagogia emergente no Brasil: A capacidade de comunicar-se adequadamente, com o domínio dos códigos e linguagens, incorporando, além da língua portuguesa, a língua estrangeira e as novas formas trazidas pela semiótica: a autonomia intelectual, para resolver problemas práticos utilizando os conhecimentos científicos, buscando aperfeiçoar-se continuamente; a autonomia moral, através da capacidade de enfrentar as novas situações que exigem posicionamento ético; finalmente, a capacidade de comprometerse com o trabalho, entendido em sua forma mais ampla de construção do homem e da sociedade, através da responsabilidade, da crítica, da criatividade (KUENZER, 2000,. p. 32). 3. O modelo de acumulação flexível é marcado pelo confronto direto com a rigidez do fordismo. Ele se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de novos setores de produção, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre os setores como em regiões geográficas, criando um vasto movimento do chamado emprego no ‘setor de serviços’ (HARVEY, 2000, p. 140). 4 A pedagogia que estamos denominando de emergente ancora-se na pedagogia das competências. Segundo Kuenzer (2002, p. 7), essa pedagogia impõe um novo disciplinamento, que implica conhecimentos, domínio de conteúdos e habilidades cognitivas superiores, incapazes de serem apreendidos apenas na escola formal..

(19) 18 Nesses. termos,. o. desenvolvimento. de. novos. conhecimentos. e. competências passa a ser o principal fator da produção, exigido pelo modelo de acumulação capitalista flexível. Tais mudanças se desdobram em novas perspectivas para a qualificação profissional, a qual passa a ser considerada fator de desenvolvimento econômico e, por isso, afeta, diretamente, a produtividade e a competitividade. É com esse significado que a qualificação profissional será incorporada ao discurso das agências multilaterais, como o Banco Mundial5 e a CEPAL6. No cenário de reconfiguração do capitalismo, que se estende desde a década de oitenta, a qualificação profissional apresentar-se-á como “redentora” do desenvolvimento e culpabilizadora dos insucessos dos desempregados. Oliveira (2001), destaca as intenções do receituário do Banco Mundial para educação: [...] investir em educação primária e secundária, bem como na educação profissionalizante, gera benefícios à sociedade, produz um aumento da produtividade do sistema econômico, além de permitir, aos setores economicamente em desvantagem, um maior acesso a novos treinamentos para, futuramente, desenvolverem uma atividade econômica (OLIVEIRA, 2001, p.. 134). A emergência da qualificação profissional no Brasil, como ideologia das agências multilaterais, pretende ajustar o perfil do trabalhador aos “tempos 5. “O Banco Mundial foi criado em 1944 com o objetivo de apoiar as nações saídas da guerra em condições economicamente desfavoráveis. Com mais de 50 anos de existência, o Banco Mundial se transformou em uma instituição estratégica ao processo de reestruturação produtiva e de desenvolvimento dos ajustes necessários à nova ordem econômica. Embora o seu capital seja composto pela participação de mais de 170 países, coube aos Estados Unidos, desde a sua criação, o maior poder de definição dos investimentos feitos por essa instituição” (OLIVEIRA, 2001, p. 138). 6 Não nos coube aqui tecer uma análise aprofundada sobre os pressupostos do pensamento Cepalino. Porém, discutiremos alguns aspectos no que tange à educação profissional. Embora não seja propósito desta instituição intervir na qualificação profissional, verificamos a partir dos estudos de Oliveira (2001) que há uma crescente preocupação nesta última década com as políticas educacionais. Segundo o mencionado autor, a “CEPAL desponta como uma das principais fontes das idéias direcionadoras das políticas deste setor em todo continente LatinoAmericano e região caribenha”. Para a CEPAL, a defesa por uma economia mais competitiva justifica-se, no seu entender, pela articulação ocorrida em torno do setor produtivo. A existência de indústrias mais competitivas disputando um espaço no mercado internacional impõe a necessidade de maiores investimentos na produção tecnológica, e o desenvolvimento de um processo de qualificação profissional para a formação de um conjunto de trabalhadores habilitados às novas exigências do setor produtivo (OLIVEIRA, 2001, p. 85)..

(20) 19 modernos” do capitalismo flexível. A insuficiente capacitação profissional e tecnológica do trabalhador brasileiro tem sido utilizada para justificar um problema imanente à reprodução ampliada do capital: o desemprego estrutural. Sobre esse aspecto, Mattoso (1999, p. 32) esclarece: “a inovação tecnológica e a elevação da produtividade ao mesmo tempo em que destroem produtos, empresas, atividades econômicas e empregos, também criam novos setores ou atividades econômicas”. Essa dinâmica, na visão do autor, tanto destrói postos de trabalhos tradicionais como constrói outros. O problema é que, além do índice de postos de trabalhos destruídos serem exponencialmente maior, comparado aos criados, a velocidade da destruição não possibilita qualquer tentativa política de recomposição. Isto é, o processo metabólico do capital é incontrolável (MÉSZÁROS, 2002). Esse paradoxo do capital é ideologizado pelas políticas de formação profissional; porém, o desemprego continua a ampliar-se velozmente. O impacto destrutivo do desenvolvimento tecnológico não é uma via de mão única. Mattoso (1999, p. 36) destaca que ele pode “conduzir a mais emprego, consumo, tempo livre ou desemprego, é uma escolha, historicamente determinada pelas formas de regulação do sistema produtivo e distribuição dos ganhos de produtividade”. E se é uma questão de escolha, é uma opção política. Para o referido autor, o desemprego não é causado pela falta de qualificação, mas, por opções de ordem política e ideológica. Na. realidade. o. fenômeno. do. desemprego. tem. arrefecido. as. organizações sindicais dos trabalhadores. Num contexto de reconfiguração, as reivindicações sindicais têm se deslocado da esfera do aumento salarial para a manutenção do emprego que, por sua vez, exige escolaridade e qualificação. Além disso, obriga o movimento sindical a desencadear ações políticas defensivas que passam a incorporar o debate sobre as estratégias de.

(21) 20 enfrentamento das transformações do e no sistema produtivo, assim como a discussão sobre propostas, projetos e políticas sociais, voltadas à formação profissional (DELUIZ, 1999, p. 24). O. debate. contemporâneo. sobre. qualificação. profissional. tem. impulsionado o movimento sindical, principalmente de orientação cutista, a propor e executar políticas de qualificação que transcendam o objetivo exclusivo de treinar para o exercício de um ofício. A qualificação profissional, que antes era delegada ao empresariado através do Sistema S (SENAI e SENAC), é hoje parte estratégica do movimento sindical cutista. A qualificação ministrada pela CUT passa a ser uma das principais inovações de programas de qualificação profissional no país. Diante desse quadro, algumas questões fundamentais orientaram esta investigação: Qual o impacto da incorporação da qualificação profissional na identidade cutista? Quais as características e peculiaridades da qualificação profissional ministrada pela CUT7? Para problematizar essas questões, consideramos como referência empírica o Programa de Integrar de Qualificação Profissional da CNM/CUT, proposto no ano de 1995, durante o 50 CONCUT. Os dados analisados revelam que esse Programa tem sido um dos mais visíveis indicadores da mutação do. 7. À fundação da Central Única dos Trabalhadores – CUT, no início da década de 80, foi fruto de um amplo movimento de questionamento ao autoritarismo e de luta pela democracia e pela cidadania. Sua criação significou um rompimento, na prática, com os limites da estrutura sindical oficial corporativa, que proibia a existência de organizações interprofissionais. Mas, sua legalização (existência jurídica) só foi possível a partir da promulgação da constituição de 1988, que, também, devido à forte pressão social significou um relativo avanço na conquista de direitos. Os principais fundamentos na atuação da CUT que demarcam sua identidade consistem no compromisso com a defesa dos direitos imediatos e históricos da classe trabalhadora, na luta por melhores condições de vida e trabalho e no engajamento no processo de construção da cidadania e na luta por uma sociedade mais justa e democrática..

(22) 21 sindicalismo no contexto brasileiro8. Para alguns críticos, o posicionamento do movimento sindical como propositor e executor de políticas de qualificação não passa de uma estratégia de concertação social, ou seja, de captura do movimento sindical pelo capital. Alves (2000) alerta que: [...] a prática social de uma ‘influência mais propositiva’ contém sérios riscos de capturação à lógica do capital. Num período de intensas transformações produtivas no país, a nova estratégia sindical tende a reduzir-se a uma postura de neocorporativismo setorial (ALVES, 2000, p. 346).. Boito (1999), na mesma perspectiva, acrescenta que há um “defensismo de novo tipo”, adotado pelo sindicalismo propositivo. É o risco de captura da consciência operária pela consciência contingente de classe, incorporada à lógica do capital. Rodrigues (1999) denomina as estratégias propositivas de “cooperação conflitiva”. Essas análises direcionam-se ao campo produtivo e aos acordos realizados no interior da fábrica que, por sua vez, coincidem com a crítica, que está sendo realizada, à proposta de qualificação. Observamos, nas análises dos autores, o mesmo desfecho para objetos distintos de naturezas díspares. Há, portanto, a necessidade de uma maior prudência investigativa. Verificamos que não há um estudo aprofundado sobre as questões formuladas anteriormente. As várias abordagens teóricas têm apontado a dificuldade do movimento sindical de se impor frente ao desemprego e à exclusão social. Esses autores têm privilegiado em seus estudos questões genéricas, deixando escapar proposições inovadoras do sindicalismo recente, no que tange à qualificação profissional. A ação sindical na fábrica é. 8. A inserção do movimento sindical cutista enquanto propositor de políticas de qualificação profissional tem sido estudado por autores espanhóis, holandeses e portugueses, através de uma parceria estabelecida entre a CNM/CUT e os países mencionados. Dentre os trabalhos, destacamos os de Ganz; Casanova (1998); Garrido; Gerrie de van der Ve; Jeren Strengers (1999)..

(23) 22 considerada como homóloga à ação sindical na formação profissional, o que, metodologicamente, é inaceitável. Diferentemente dessas abordagens, nossa investigação tem constatado que, mesmo sendo propositor de políticas de qualificação profissional, em parceria com o Estado e outras organizações sociais, o movimento sindical cutista tem mantido os princípios de sua atuação, principalmente no campo ideológico9. Dessa forma, buscaremos distinguir a ação sindical, circunscrita ao mundo produtivo da ação formativa de qualificação profissional realizada no âmbito da sociedade, aprofundando os vários aspectos e facetas da intervenção sindical nas políticas públicas de formação profissional, no contexto das mutações vivenciadas pelo movimento sindical cutista frente à globalização econômica e a reestruturação produtiva. Cabe-nos, também, identificar os principais aspectos dessa mutação. Para isso, definimos, como objetivo geral, analisar a proposta políticopedagógica e os aspectos que envolvem os pressupostos teóricos, os conteúdos trabalhados e a metodologia de trabalho do Programa Integrar. E, como objetivos específicos, analisar o Programa Integrar a partir das seguintes 9. Para definirmos uma concepção de campo ideológico consideramos importante fazer algumas reflexões sobre o conceito de ideologia, já que o termo é bastante polissêmico e polêmico. Harnecker (1973, p. 100) define ideologia como representações sociais que abrangem as idéias políticas, jurídicas, morais, estéticas, religiosas e filosóficas dos homens de uma determinada sociedade. Essas idéias, segundo a autora, ocorrem sob a forma de representações do mundo e do papel do homem nele. Para ela, ainda, as ideologias não são representações objetivas, cientificas do mundo, mas, representações cheias de elementos imaginários; mais de que a descrição da realidade expressam desejos, esperanças e nostalgias. Marx, na Ideologia Alemã (1985, p. 25-33), menciona o papel ativo que assume o sujeito na produção das representações, mesmo considerando os condicionantes da vida material, acrescentando: “São os homens que reproduzem as sua representações, as suas idéias, tais como são condicionadas pelo modo de produção da sua vida material [...] e o seu desenvolvimento interior na estrutura social e política. [...] mas os homens reais, atuantes, incluindo as formas amplas que estas podem tomar. A consciência nunca pode ser mais que o ser consciente e o ser dos homens é o seu processo de vida real”. Consideramos, portanto, que as condições materiais e reais que vivem os trabalhadores contribuem para que determinados princípios que orientam a ação da CUT permaneçam presentes. Dentre eles, a crítica ao modelo excludente de sociedade, fundada na divisão de classes, a busca pela democracia, liberdade e autonomia, organização nos locais de trabalho e participação política e cidadã. Verificamos que esses princípios defendidos pela CUT se fazem presentes na proposta pedagógica do Programa Integrar de Qualificação Profissional..

(24) 23 estratégias: conhecimentos apreendidos pelos cursistas no processo de formação, inserção no mercado de trabalho, participação em fórum de caráter interventor em políticas públicas e evidenciar de que forma a participação dos alunos no Programa contribuiu para consolidação de iniciativas de trabalho e renda. A hipótese problematizada no decorrer desta investigação buscou evidenciar que mesmo sendo propositor de políticas públicas de qualificação profissional, em parceria com o Estado, o movimento sindical cutista tem mantido os princípios de sua atuação, o embate no campo ideológico a partir da formação da consciência crítica, política e cidadã10, defendendo princípios presentes desde a sua fundação, dentre eles: a defesa das classes trabalhadoras, a democracia, a liberdade e autonomia e a participação política cidadã.. 1 – Considerações metodológicas Esta pesquisa versa sobre um estudo de caso realizado no Estado de Pernambuco, que investigou o Programa Integrar de Qualificação Profissional e Elevação de Escolaridade, desenvolvido pela CNM/CUT. Para uma maior compreensão da natureza da metodologia utilizada no processo investigativo, optamos em fundamentar os aspectos que a caracterizam. Fachin (1973) define estudo de caso como um estudo intensivo de uma realidade particular. Todos os aspectos de uma realidade são estudados a partir de um caso. Triviños (1987) acrescenta que se trata de uma categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente. Para isso, delimitamos a análise da natureza do trabalho pedagógico desenvolvido pelo Programa Integrar, no 10. A análise dos cadernos curriculares e das entrevistas com os sujeitos evidenciou como ocorre o que estamos denominando de luta no campo ideológico, via formação crítica e política dos cidadãos..

(25) 24 Estado de Pernambuco, buscando compreender os aspectos teóricos e metodológicos que são peculiares ao curso de qualificação profissional. Enquanto isso, Chizzotti conceitua-o como sendo uma diversidade de pesquisas que coleta e registra dados de um caso particular ou de vários casos a fim de realizar um “relatório ordenado e crítico de uma experiência ou avaliá-la analiticamente, objetivando tomar decisões ao seu respeito e propor uma ação transformadora” (CHIZZOTTI, 1991, p. 102). Para André (1984, p. 37), os estudos de caso visam a revelar o particular e o peculiar como legítimos em si mesmos e apresentam as seguintes características: buscam a descoberta; enfatizam a interpretação do contexto em que se inserem; usam uma variedade de fontes de informações; revelam a experiência particular e permitem, a partir dela, fazer generalizações; retratam a realidade de forma completa e profunda, ou seja, focalizam a realidade em sua totalidade, sem deixar escapar os detalhes que favorecem uma maior compreensão do todo. Os aspectos mencionados justificam a nossa escolha por essa metodologia, uma vez que ela contribui para uma análise detalhada das principais nuances do contexto sócio-político em que está inserido o PID – Programa Integrar para Desempregados. Dessa forma, a metodologia não foi compreendida como uma pauta de instruções, mas, como bem menciona Franco (2001): A capacidade organizada de pensar a realidade em seu momento histórico, reconstruí-la a partir de uma determinada realidade que é sempre complexa, abertas às transformações sob ação dos sujeitos, o que significa utilizar a história como método (FRANCO, 2001, p. 123).. Para isso, consideramos o contexto de reformas políticas, econômicas, sociais e educacionais que envolve o PID e sua ação dialética e histórica..

(26) 25 Nesse intuito, buscamos apreender as diversas facetas do PID em sua “totalidade”, as relações que o determinam, sejam elas, de nível econômico, social e cultural (FRANCO, 2001, p. 123). Nessa perspectiva utilizamos um conjunto de técnicas de pesquisa, de forma que nos possibilitasse uma maior compreensão da realidade estudada, a qual, como acrescenta Franco “deve ser concebida como um sistema estruturado em si mesmo, como uma totalidade histórica, socialmente construída” (FRANCO, 2001, p.125) Dessa forma, realizamos um estudo documental de natureza histórica e social do Programa, no tocante às concepções políticas e ideológicas subjacentes. Para isso, consultamos as deliberações dos principais congressos e plenárias da CUT. Em relação à metodologia do Programa Integrar, realizamos um estudo da proposta político-pedagógica, como, também, a análise do material pedagógico (livros didáticos) utilizado pelos alunos e educadores no percurso do processo formativo. Delineamos, para cada amostra de sujeitos, uma técnica de investigação. Fizemos entrevista semi-estruturada com os profissionais e, com os cursistas, a técnica de grupo focal. Tudo isso visando a “[...] captar as diferentes visões sobre o mesmo fenômeno” (VÍCTORA, 2000, p. 104). O conjunto de técnicas de pesquisa utilizado no decorrer da investigação teve como propósito, como bem menciona Ferreira (1998, p. 13), a busca de construção de explicações sobre o real, o que, segundo a autora, demanda três aspectos fundamentais: o objeto, a teoria e o método, onde não podem ser tratados isoladamente, nem descontextualizados da realidade humana. Dessa forma, o objeto de conhecimento que nos propusemos a investigar, por ser um fenômeno social, portanto, histórico, define a pesquisa como sendo de cunho essencialmente qualitativo, não restringindo o objeto ao que pode ser.

(27) 26 meramente observado, quantificado, mas, focalizando-o no significado das diferentes manifestações do fenômeno analisado. Portanto,. para. esta. investigação. nos. apoiamos. nos. princípios. fundamentais da perspectiva marxista, enquanto teoria do conhecimento que se desdobra numa dupla articulação, a saber: o materialismo histórico (representa o caminho teórico que aponta a dinâmica do real da sociedade) e o materialismo dialético (método de abordagem desse real, que busca entender todo o dinamismo, provisoriedade e transformação do processo histórico) (MINAYO, 1994). O materialismo histórico-dialético, portanto, se constitui como a principal abordagem para análise da realidade, cuja categoria fundamental é a totalidade. Como nos explica Löwy (1975, p. 16) “significa a percepção da realidade social como um todo orgânico, estruturado, no qual não se pode entender um elemento, um aspecto, uma dimensão, sem perder a sua relação com o conjunto”. Por isso, insistimos em analisar a proposta de qualificação profissional da CNM/CUT como forma estratégica do movimento sindical cutista de se impor às demandas impostas pelo capital. Delimitamos a década de 90 como referencial de tempo para a análise. É nesse período onde se processam as mudanças no mundo do trabalho, com o processo de reestruturação produtiva. E decorrente desse processo resulta o desemprego estrutural e/ou tecnológico a demandar novos perfis profissionais e a emergência de novos modelos de formação profissional. Observa-se, também, nesse período, uma mudança da atuação do movimento sindical cutista, passando ele a atuar como propositor e executor de políticas públicas de.

(28) 27 qualificação profissional, assumindo uma tarefa que nas décadas antecedentes era delegada ao Estado e ao Sistema S11. Os sujeitos que compõem a pesquisa são os profissionais e cursistas do Programa Integrar de Pernambuco. No processo de investigação delineamos duas amostras. A primeira foi composta por 5 (cinco) profissionais integrantes da equipe de trabalho: dois educadores, um com formação acadêmica superior e outro com formação superior e sindical; uma coordenadora pedagógica, com formação acadêmica superior em Educação Física e especialista em Associativismo e Cooperativismo, e uma assistente de formação/pedagógica, com formação acadêmica superior em Ciências Sociais, e um educador político, com formação média e sindical, que tem como função fazer a articulação política e sindical do Programa no Estado. As experiências profissionais dos integrantes da equipe são em áreas diversas, tais, como: escolas, movimento popular e sindical, ONG e assessoria a projetos sociais. A média de tempo de atuação no Programa é de 3 anos. O ingresso se deu via processo seletivo, indicação política e sindical e parceria com Secretarias de Educação. A segunda amostra foi composta de um grupo de 5 (cinco) cursistas egressos do curso realizado no ano de 2001. A delimitação dessas amostras justifica-se pelos seguintes aspectos: na primeira amostra escolhemos os sujeitos que executam a proposta de qualificação. Utilizamos como critério o tempo de atuação no Programa e as funções exercidas, dentre as quais selecionamos as de educadores, educador político, assistente de formação e. 11. O Sistema S se configura como um complexo de instituições (SENAI, SENAC, SENAR etc) de caráter misto, criadas no ano de 1940 pelo governo e gerenciadas pelo empresariado. Foram responsáveis, até às década anteriores, pela qualificação profissional no Brasil. Sua criação está relacionada ao movimento industrial de substituição de importações que acelerou a diversificação da estrutura industrial. Atrelado a esse movimento, um dos seus objetivos consistia em atender o modelo em desenvolvimento, através da qualificação profissional dos recursos humanos para operar as novas máquinas implementadas no processo produtivo (SUZIGAN, 2000)..

(29) 28 coordenação, uma vez que são os principais atores que dão materialidade às ações propostas pela política nacional de formação da CNM/CUT. Na segunda amostra selecionamos alunos egressos do curso realizado no Município de Recife. A escolha por esse município se deu pelo fato do acesso aos cursistas e a centralização dos registros e fontes documentais. Os critérios de escolha da amostra foram: participação dos alunos em todos os módulos do curso, freqüência e aproveitamento de 75% em todos os módulos. A observação da prática e a análise das concepções dos sujeitos nos possibilitaram entender o curso de educação profissional, executado pela CNM/CUT, não como um conjunto de imposições deliberadas pela lógica do capital, no sentido de formar novos recursos humanos para o mercado de trabalho, e com isso o aumento da reserva de qualificados, mas, como uma ação intervencionista e defensiva do movimento sindical cutista. Analisamos a proposta pedagógica do Programa Integrar não apenas como um documento, normatizado, mas, como conteúdo vivenciado (GIROUX, 1997); o conteúdo enquanto elemento mediador entre políticas sociais e a subjetividade dos sujeitos; o espaço do Programa como locus de relações de poder, de relações políticas, portanto, de limites e possibilidades. A análise documental foi realizada por considerarmos os registros como construtos históricos. A técnica utilizada foi a análise de conteúdo, para decodificar os documentos e as entrevistas através da análise temática. O tema, como menciona Bardin (1979, p.105), “é a unidade de significação que se liberta naturalmente de um texto analisado segundo critérios relativos à teoria que serve de guia de leitura”. No decorrer do trabalho, por vezes, utilizamos o termo qualificação profissional. Salientamos, porém, que a LDB 9394/96 substituiu essa.

(30) 29 nomenclatura por educação profissional. Mesmo considerando que essa permuta de nomenclatura traz em seu bojo mudanças conceituais, na prática, ainda, se encontra vigente o termo qualificação profissional, constatando-se a convivência pacífica entre as velhas práticas e os novos conceitos.. 2 – Da estrutura e organização do estudo Visando a aprofundar as questões mencionadas no presente estudo, eis que ele se encontra, assim, estruturado: esta introdução, 05 (cinco) capítulos e as considerações finais. No primeiro capítulo situaremos o processo de transformação no mundo do trabalho decorrente da reestruturação produtiva e os impactos desse processo na qualificação profissional e no movimento sindical. No segundo capítulo, intitulado o movimento sindical cutista e a qualificação profissional, investigamos a inserção da CUT como propositora de educação profissional; para isso, analisamos as concepções e propostas da CUT, através dos documentos deliberativos dos principais congressos. Ainda nesse capítulo, apresentamos, como estratégia de intervenção sindical, o Programa Integrar e seus pressupostos metodológicos. No terceiro capítulo realizamos um estudo aprofundado da natureza, dos objetivos e das ações estruturantes do Programa, através da análise da proposta político-pedagógica, buscando delinear os seus limites e possibilidades. Para tanto, analisamos os cadernos curriculares (livros didáticos) utilizados no curso de qualificação. Nos quarto e quinto capítulos analisamos os resultados das entrevistas com os profissionais e alunos que vivenciaram o Programa entre 2000 e 2002. Nesses capítulos, trabalhamos com categorias de análise que nos possibilitaram.

(31) 30 uma maior apreensão da natureza do Programa Integrar de Qualificação Profissional da CMN/CUT, no Estado de Pernambuco, e os aspectos que o caracterizam. Nas considerações finais da pesquisa realizamos a aferição do Programa Integrar de Qualificação Profissional da CNM/CUT, utilizando três indicadores: a eficácia, a eficiência e a efetividade. Apresentaremos, nos resultados da investigação, o impacto da incorporação da qualificação profissional na identidade cutista..

(32) CAPÍTULO 1 – TRANSFORMAÇÕES NO MUNDO DO TRABALHO: repercussões na qualificação profissional e no movimento sindical.

(33) 1.1 – Reestruturação produtiva e as demandas de qualificação profissional Vivenciamos, no contexto atual, a denominada terceira revolução industrial12, engendrada pelos significativos avanços das forças produtivas, que têm a ciência e a tecnologia como principais meios de produção de bens e serviços. Os reflexos dessa revolução se materializam na cultura, nas práticas sociais, na base produtiva, nas relações de poder e, de forma direta, na produção e disseminação do conhecimento, cujo acesso constitui um desejo antigo da humanidade e está relacionada com a emancipação humana do trabalho, a redução da jornada de trabalho, a elevação do tempo livre e a maior produtividade no trabalho. Essa revolução vem produzindo uma nova cultura no mundo do trabalho, colocando o conhecimento científico-tecnológico na condição de indispensável fator de produção para acumulação capitalista. Todo esse redirecionamento e as conseqüências. sociais. configuram. a. performance. da. sociedade. do. conhecimento, conforme aludido por Adam Shaff (1995), para explicar o processo de implementação de novas tecnologias na produção e os impactos sociais dela decorrentes. As transformações supramencionadas provocam significativas alterações no mundo do trabalho, emergindo novos conceitos na produção, como a 12. O marco referencial da primeira revolução industrial, segundo alguns autores, foi em decorrência da criação da máquina a vapor. A segunda revolução decorreu do processo de industrialização, desenvolvido no século XVIII, com a descoberta da eletricidade. E a terceira é de base microeletrônica (ALBORNOZ, 2000)..

(34) 33 flexibilização, a polivalência13, a gestão participativa e a busca de novos padrões de produtividade, profundamente articulados com os objetivos da ordem mundial, caracterizada pela mundialização do capital que desenvolve uma “nova forma” de acumulação de caráter flexível14 e com ela um complexo de reestruturação produtiva15, cuja expressão é o toyotismo16 e a globalização da economia. Esse novo modelo se diferencia do padrão de acumulação taylorista–fordista17, constituindo-se como a “nova” ofensiva do capital na produção ou reconfiguração revolucionária. Como mencionam Marx e Engels no Manifesto Comunista de 1848: [...] as velhas indústrias nacionais foram destruídas e continuam a sê-lo diariamente. São suplantadas por novas indústrias, cuja introdução se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas, indústrias que não empregam mais matérias-primas nacionais, mas sim matérias-primas vindas das regiões mais distantes, cujos produtos se consomem não somente no próprio país mas em todas as partes do globo. Em lugar das antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais, nascem novas necessidades que reclamam para sua satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos climas mais diversos. Em lugar do antigo isolamento das regiões e nações que se bastavam a si próprias, desenvolve-se um intercâmbio universal, uma universal interdependência das nações. E isso se refere tanto à produção material como intelectual. [...] Devido ao rápido aperfeiçoamento dos instrumentos de produção e ao constante progresso dos meios de comunicação, a burguesia 13. Conceitua-se como saber polivalente do trabalhador a capacidade de qualificação e uma considerável competência teórica, com bons conhecimentos sobre o produto e o processo de trabalho, além de um saber empírico, proveniente de sua experiência direta com a máquina. No modelo toyotista a polivalência está ligada à capacidade do trabalhador executar, simultaneamente, diferentes funções (DELUIZ, 1999, p. 19). 14 Foi a partir da década de 70, com a reconfiguração capitalista, que se instaurou um novo regime de acumulação de capital, denominado ACUMULAÇÃO FLEXÍVEL. Esse regime tendeu a satisfazer às novas exigências do capitalismo mundial, às novas condições da concorrência e de valorização do capital e ao novo patamar da luta de classes na produção (ALVES, 2001a, p. 02). 15 Salerno (1997, p. 245) caracteriza reestruturação produtiva como um conjunto de mudanças não homogêneas que estão acontecendo no sistema produtivo, envolvendo desde as relações entre as empresas distintas até a atividade real do trabalho, junto a um equipamento, conduzindo implicações econômicas, políticas e sociais. 16 O Toyotismo tem sua gênese sócio-histórica no Japão, vinculado ao pioneirismo da Toyota. Ao desenvolver-se, assumiu uma dimensão universal: o uso de novas práticas de gerenciamento, tais, como: just-in-time/Kanban, controle de qualidade total e o engajamento estimulado do trabalhador. Os princípios, as técnicas e os objetivos concretos e organizacionais do Toyotismo são desenvolvidos segundo Alves (2000, p. 32), para garantir, em maior ou menor proporção, a constituição de uma nova subjetividade operária, capaz de promover uma nova via de racionalização do trabalho. 17 Conjunto de estudos e medidas desenvolvido por Frederick Taylor (engenheiro norte americano) e Henry Ford, que tem como princípios: eficiência na produtividade fabril, através da especialização das funções, controle e otimização do tempo, competitividade e produção em grande escala..

(35) 34 arrasta para a torrente da ‘civilização’ mesmo as nações mais bárbaras. Os baixos preços de seus produtos são a artilharia pesada que destrói todas as muralhas da China e obriga a capitularem os bárbaros mais tenazmente hostis aos estrangeiros. Sob pena de morte, ela obriga todas as nações adotarem o modo burguês de produção, constrange-as a abraçar o que ela chama de civilização, isto é, a se tornarem burguesas. Em uma palavra, cria um novo mundo à sua imagem e semelhança (MARX & ENGELS, 1980, p. 12-13).. O capital – no seu processo de ampliação, acumulação e reprodução – não tem fronteiras. O seu movimento é insaciável (MARX, 1980). As crises decorrentes desse ciclo são partes do processo virtuoso do capital. Para Antunes (2000), o processo de reestruturação produtiva, nesse contexto, é uma dessas reconfigurações que corresponde a resposta do capital à sua crise estrutural, o que configura sua revitalização. Ele enfatiza: Como resposta à sua própria crise, inicia-se um processo de reorganização do capital e do sistema ideológico e político de dominação, cujos contornos mais evidentes foram o advento do neoliberalismo, com a privatização do Estado, a desregulamentação dos direitos do trabalho e desmontagem do setor produtivo estatal, da qual a era Thatcher-Reagan foi expressão mais forte, a isso se seguiu também um intenso processo de reestruturação do trabalho, com vistas a adotar o capital do instrumental necessário para tentar repor os patamares de expansão anteriores (ANTUNES, 2000, p. 31).. Como conseqüência desse processo paradoxal de crise/revitalização, há os seguintes desdobramentos: a destruição das forças produtivas, com o retorno do desemprego em dimensão estrutural18; a precarização do trabalho, de forma ampliada; e a perda das conquistas e direitos sociais. Esses são os traços constitutivos dessa fase da reestruturação produtiva do capital. Outro aspecto desse paradoxo é a introdução de novas tecnologias de gestão e produção, como ameaça constante ao emprego, o que exige novas qualificações e. 18. Desemprego estrutural ou tecnológico que se origina em mudanças na tecnologia de produção (aumento da mecanização e automação) ou nos padrões de demanda dos consumidores (tornando obsoletas certas indústrias e profissões e fazendo surgir outras novas): em ambos os casos, grande número de trabalhadores fica desempregado, em curto prazo, enquanto a minoria especializada é beneficiada pela valorização de sua mão-de-obra (GORENDER, 1985)..

(36) 35 competências para a classe trabalhadora. Alves (2001a) explicita os novos dispositivos da lógica de produção capitalista: O toyotismo tende a exigir, para o seu desenvolvimento uma nova lógica da produção capitalista novas qualificações do trabalho que articulam habilidades cognitivas e habilidades comportamentais. Tais novas qualificações tendem a serem imprescindíveis para a operação dos novos dispositivos organizacionais do toyotismo e da sua nova base técnica. (ALVES, 2001a, p. 04). Nesse contexto, o conhecimento constitui um dos principais insumos no processo produtivo. A educação, principalmente a qualificação profissional, revela-se enquanto fator de desenvolvimento, competitividade, qualidade e produtividade. Investir minimamente em capital humano19 com fins de aumentar os lucros e a competitividade é uma ação inerente à lógica do capital. A exigência de um profissional de novo tipo, com novas habilidades e competências é considerada condição indispensável para aumentar a produtividade. A exigência da competência e de novas habilidades faz parte de uma ação estratégica do capital; qualificar, com fins de manter os processos de exploração dos trabalhadores. Deluiz (1999) menciona as mais requeridas habilidades e competências. do. novo/velho. explorado. trabalhador.. Dentre. as. “novas. habilidades e competências” requeridas para o novo protótipo de trabalhador destacam-se: capacidade de auto-aprendizagem, compreensão dos processos, capacidades de observar, interpretar, tomar decisões e avaliar resultados. Articulado ainda, ao domínio da linguagem técnica, da capacidade de comunicação oral e escrita, disponibilidade para trabalhar em grupo, polivalência e versatibilidade funcional no trabalho (DELUIZ, 1999, p. 145).. 19. A Teoria do Capital Humano surgiu nos Estados Unidos na década de 50 com um grupo de estudos coordenado por Theodoro Schultz. O pressuposto dessa teoria é que um acréscimo marginal de instrução, treinamento e educação, produz um acréscimo marginal na capacidade de produção. A disseminação dessa teoria constituiu, segundo Frigotto (1998), uma panacéia de solução das desigualdades entre os países desenvolvidos e subdesenvolvidos e entre os indivíduos. No Brasil, ela adquiriu impulso a partir do período do “milagre econômico”..

(37) 36 Todos esses novos requisitos têm por fim atender os princípios imperialistas do capital. Para consolidação desse propósito, no cenário brasileiro, mudanças na legislação educacional e a implementação de políticas públicas compensatórias de qualificação profissional entram em cena, no sentido de “alavancar” o país para o “desenvolvimento”. Como expressão dessa reconfiguração, a década de 90 vai ser palco da nova institucionalidade da qualificação profissional. Nesse novo contexto, perde força a idéia de qualificação como “estoque de conhecimento e habilidade” e ganha vitalidade a concepção de qualificação fundamentada em competências e capacidade de agir, intervir, decidir em situações nem sempre previstas, ou imprevisíveis. Esse novo perfil exige uma postura operária ativa e propositiva. Alves (2001b, p. 38) acrescenta: “na verdade a idéia de qualificação é uma adequação à lógica do toyotismo, vinculada à captura da subjetividade operária20 para valorização do capital”. A partir dessa ótica de captura da subjetividade operária via qualificação profissional, abordaremos, na seção a seguir, a Lei de Diretrizes e Bases (Lei 9394/96), o decreto 2.208/97 e o PLANFOR, que constituem os elementos fundamentais da nova institucionalidade da qualificação profissional.. 1.2 – A nova institucionalidade da educação profissional brasileira Para atender, dentre outras coisas, à lógica de controle e formação do novo perfil profissional, foi sancionada, em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº 9.394/96). Elaborada de forma antidemocrática, seu texto final, como afirmam as educadoras Brzezinski e Aguiar (2000, p. 14) “contem alguns. 20. A captura da subjetivada operária no toyotismo também se dá pela aparência do novo ambiente de trabalho. Segundo Alves (2000, p. 28), “O novo ambiente é capaz de desenvolver a individualidade dos trabalhadores e com ela, o sentimento de liberdade, independência e autocontrole, ao mesmo tempo em que instaura, em toda sua plenitude, a concorrência e a emulação entre os próprios trabalhadores, apesar da retórica do trabalho em equipe”..

(38) 37 avanços, mas denunciam o seu anacronismo para sociedade”. Essa Lei contribuiu, eficientemente, para que a educação profissional adquirisse espaço e relevância no sistema educacional, passando a se constituir como uma modalidade autônoma dentro do sistema. Após a homologação da Lei de Diretrizes e Bases, o Ensino Médio foi reformado via Decreto 2.208/97, que regulamentou o ensino técnico-profissional, desvinculando-o do antigo segundo grau (nomeado pela nova LDB de Ensino Médio). Essa mudança contribuiu para que a educação profissional fosse organizada em níveis de formação – nível de educação profissional de nível básico, formação profissional de nível técnico e nível de educação profissional tecnológico –, ofertados sem equivalência com quaisquer dos cursos regulares. A educação profissional básica, destinada à parcela da população desempregada, não escolarizada ou pouco escolarizada, passou a ser desenvolvida por meio de curso de qualificação de rápida duração, podendo ser oferecida por instituições públicas e particulares. Com ela, abriu-se a possibilidade para participação dos sindicatos, federações e centrais sindicais como proponentes de cursos de qualificação. A formação profissional de nível técnico, de caráter preferencialmente modular, é destinada à formação de técnicos. Esses cursos podem ser freqüentados concomitantemente ao curso de nível médio ou após sua conclusão. Para obtenção do diploma de técnico é exigida, a conclusão do Ensino Médio. O último nível – de formação profissional e o tecnológico – é destinado à formação de tecnólogos em cursos superiores de duração reduzida, para cujo acesso é necessário o certificado de conclusão de nível médio ou técnico..

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