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Universidades/Fundações/Institutos Públicos 21% 25% Centrais/Sindicatos de trabalhadores 20% 24% Universidades/Fundações/Institutos Privados 18% 15% Sistema S 17% 18% ONGs 12% 12%

Escolas Técnicas CEFETs 6% 1%

Escolas Técnicas Privadas 5% 2%

Outras entidades (empresariais e internacionais). 1% 3%

Total 100% 100%

Total de recursos do FAT investidos (R$ em milhões) 348,2 408,8

FONTE: Ministério do Trabalho e Emprego/PLANFOR 2000.

A partir da visualização das tabelas, verificamos os inúmeros recursos públicos destinados às centrais sindicais27, com maior percentual de destinação à CUT e à FS, como, também, números significativos de recursos para as instituições públicas e privadas. Os investimentos com recursos públicos em educação profissional, via PLANFOR, revelam o processo de financiamento da participação como uma das vias de cooptação política utilizada pelo governo FHC, representante oficial das teses neoliberais no contexto brasileiro.

As ações implementadas por esse governo, como enfatiza Oliveira (2001, p. 229), “não conseguiram reverter o processo de exclusão social, resumindo-se

numa estratégia ideologicamente comprometida com o modelo de reestruturação industrial que atende imediatamente aos interesses do capital”. Nessa ótica, o

plano é um indicativo da lógica subordinada e mercadológica de educação

27 Cabe assinalar que esses recursos são propiciados pelos convênios nacionais. Para nos

aproximarmos do valor real recebido, por exemplo, pela CNM/CUT, teríamos que levantar os recursos recebidos pelos diversos estados da federação, através dos PEQs estaduais. Se considerarmos o acesso aos recursos estaduais, perceberemos que os valores do quadro acima aumentam significativamente.

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imposta pelo Banco Mundial. Numa análise mais precisa e sistemática do PLANFOR, verificamos o quanto esse plano se subordinou à lógica mercadológica, falseada, imposta pelos representantes do capital (OLIVEIRA, 2001).

É possível verificar esse fato a partir da abrangência e da heterogeneidade do público-alvo. O Plano conseguiu agregar desempregados da fila do SINE, trabalhadores dos mercados formal e informal, micro e pequenos empresários e produtores urbanos e rurais, jovens à procura de emprego, jovens em situação de risco pessoal e social, mulheres chefes de famílias, portadores de necessidades especiais, trabalhadores sob o risco de desemprego, entre outros. (MTE, 1999). Essa amplitude e multiplicidade do objeto correspondiam à ambição das metas estabelecidas quanto à implementação do plano, que consistiu em capacitar 20% da população economicamente ativa.

De acordo com Araújo (2000, p. 417), a amplitude das metas estimadas pelo PLANFOR significa associar o desemprego à inadequação da mão-de-obra, cujo perfil seria incompatível com as transformações tecnológicas e organizacionais do sistema produtivo. Ou seja, atribui-se grande peso analítico a aspectos concernentes ao lado da oferta, sem levar, na devida conta, à influência de fatores macroeconômicos sobre o mercado de trabalho, o que implica criar falsas expectativas ao atribuir ao plano uma tarefa descomunal: reduzir, de forma significativa, os efeitos de um desemprego de grandes proporções.

Araújo (2000, p. 418) enfatiza, ainda, que, em virtude da amplitude da meta, se atribuiu, também, ao plano, o papel de elevar a escolaridade da mão- de-obra, algo mais factível se feito via melhora do sistema educacional propriamente dito. A amplitude e a heterogeneidade do objeto do PLANFOR levaram a uma contradição no que diz respeito aos objetivos pretendidos:

aumentar a eficiência econômica, via elevação da produtividade da mão-de-obra e, ao mesmo tempo, ter foco na força de trabalho de mais baixo grau de qualificação. Ocorre que o primeiro objetivo está vinculado a investimentos em trabalhadores com razoável grau de escolarização; aqueles que, em princípio, possuem melhores condições de absorver, em curto espaço de tempo, novas técnicas.

Outro aspecto problemático, observado em relação ao plano, também se referiu à ambição das metas em capacitar 20% do PEA, ou seja, cerca de 75 milhões de pessoas, mesmo considerando o esforço das entidades parceiras. Na perspectiva de Araújo (2000), implica:

exercer sobre as secretarias estaduais de trabalho uma enorme pressão quantitivista pelo cumprimento das metas. O casamento desse imperativo com a persistente lentidão burocrática na execução dos PEQs terminou por deixar às entidades menos de seis meses para realização dos cursos de capacitação (ARAÚJO, 2000, p. 420).

O objetivo quantitativo foi alcançado via predominância de cursos de curta duração, uso de palestras e seminários para cumprimento da carga horária e recrutamento apressado dos treinandos.

Como resultado desse processo, uma parcela expressiva da população foi capacitada de forma precária, orientada, apenas, pelo parâmetro quantitativo.

A descontinuidade das ações implementadas revelou-se na forma acelerada e fragmentada dos cursos. As metas estimadas foram ambiciosas demais; a falta de continuidade das ações de formação profissional tornou-o um plano de qualificação de massa, que nada teve de política permanente.

Na próxima seção discutiremos as crises pela qual tem passado o movimento sindical frente às transformações do mundo do trabalho, o impacto dessas transformações no movimento sindical cutista e sua inserção como

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executor de educação profissional, como uma das mutações ocorridas frente à reconfiguração das relações entre capital e trabalho.

1.3 – A crise do sindicalismo contemporâneo

As transformações de base tecnológica, desencadeadas pelo processo produtivo, têm tornado cada vez mais complexa as relações produtivas e sociais, principalmente para a “classe que vive do trabalho” (KUENZER, 2000). O novo padrão de acumulação impulsionado por novas forças produtivas tem como conseqüência o desemprego estrutural, a fragmentação e a heterogeinização das formas de contração da força de trabalho, dificultando a constituição da identidade de classe, como ressalta Alves (2000, p. 98): “[...] desenvolve-se, em

maior amplitude, um mundo do trabalho no Brasil, mais segmentado, polarizado, que tende a tornar ainda mais difícil a própria constituição da solidariedade de classe”.

A constituição da identidade e solidariedade de classe que caracterizou o movimento sindical na década de 80 parece entrar na fase de esgotamento. Nessa nova conjuntura, o movimento sindical tem encontrado dificuldades em organizar a classe trabalhadora. Dificuldades28 essas que persistem há mais de uma década com as constantes ameaças de desemprego e tem arrefecido as lutas, mobilizações e greves. A reivindicação dos movimentos sindicais tem saído da esfera do aumento salarial para a negociação e manutenção do emprego. O poder sindical de classe operária organizada tem sido debilitado incessantemente. Alves (2001a, p. 252) enfatiza que esse enfraquecimento não se reduz à dimensão subjetiva, com o aumento da captura da subjetividade

28 O processo de crise e as dificuldades de organização vivenciadas pelo movimento sindical têm

sido amplamente discutidos por vários autores: Antunes (1995); Boito Jr. (1999); Alves (2000); Cruz (2000).

operária pelo capital, mas, em sua dimensão objetiva, com a “implosão” do mundo do trabalho, principalmente nos pólos “modernos”.

Essa crise que tem vivenciado o movimento sindical pode ser observada em nível global através da diminuição das taxas de sindicalização nos países da Europa e da América do Norte na década de 80, como, também, na diminuição do número de greves e grevistas no Brasil, nos anos 90, conforme dados dos gráficos abaixo.

GRÁFICO 1