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Número de Greves no Brasil(1990-1997)

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Fonte:Dieese

Número de Grevistas no Brasil(1990-1997)(em Mil)

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 Fonte:Dieese

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Antunes (1995, p. 34) acrescenta um outro elemento para a compreensão da atual crise do movimento sindical: a incapacidade de aglutinar os trabalhadores “estáveis”, parciais, temporários, precários da economia e subempregados, bem como a incapacidade, até o momento, de o sindicalismo tradicional atuar de uma forma mais abrangente, incorporando amplos setores que hoje compreende a classe trabalhadora.

A precarização das condições de trabalho através da terceirização e a perda de direitos sociais têm dificultado o movimento sindical de aglutinar, numa mesma empresa, os operários “estáveis e terceirizados”. Sobre esse fato, Antunes (1995) acrescenta:

Com o abismo social no interior da própria classe trabalhadora, reduz-se fortemente o poder sindical, historicamente vinculado aos trabalhadores “estáveis”, até agora, incapaz de aglutinar os trabalhadores parciais, temporários, precários, da economia informal. E com isso, começa desmoronar o sindicalismo vertical, herança do fordismo, e mais vinculados à categoria profissional, mais corporativo (ANTUNES, 1995, p. 63).

Esse processo de precarização das profissões e de implosão do mundo do trabalho com a perda de postos de trabalho tem dificultado, ainda mais, as possibilidades do desenvolvimento e consolidação de uma consciência de classe dos trabalhadores, fundada em um sentimento de pertencimento de classe, aumentando, conseqüentemente, na visão de Antunes (1995), os riscos de expansão dos movimentos xenófobos, corporativos, racistas, paternalistas, no interior do próprio mundo do trabalho.

Diante dessa tensão entre capital e trabalho, a qualificação profissional emerge como estratégia política capaz de contribuir no processo de ampliação e de reprodução do capital.

O movimento sindical, que historicamente esteve ausente das políticas públicas de qualificação, delegando a responsabilidade para o Estado e para o empresariado, emerge como um dos principais executores das políticas de

qualificação e requalificação dos trabalhadores, na segunda metade dos anos noventa.

Ocorre um amplo debate nas instâncias de poder do movimento sindical cutista29 e a qualificação dos trabalhadores é incorporada às agendas dos sindicatos como prioridade política, apesar de ela, de alguma forma, já se fazer presente, ficava em segundo plano, diante de outras prioridades nas pautas de acordos coletivos e negociações. Ganz (2001), assim, comenta a trajetória da formação profissional na agenda sindical nos últimos vinte anos:

Los temas de la educación para el trabajo siempre estuvieron presentes en la acción sindical. Sin embargo, no se puede olvidar que, en los últimos viente años, la agenda de la negociación colectiva estuvo centrada en la lucha contra las perdidas salariales causadas por un grave proceso inflaciacionario. Esa condicionate dejaba poco espacio para otros aspectos de negociación, fuera de aquellos ligados directamente a los salarios (GANZ, 2001, p. 185).

A inserção do movimento sindical como colaborador e gestor da política de qualificação profissional aparece, segundo os críticos do movimento, como uma ação própria do sindicalismo de resultado30.

Os críticos enfatizam que o movimento sindical parece compactuar com o capital, contribuindo com o seu processo de ampliação, reprodução e dominação. Alertam que a trajetória desses últimos vinte anos do sindicalismo no Brasil foi marcada por profundas mudanças no plano da política sindical, da “confrontação à cooperação conflitiva”, como enfatiza Alves (2001b), ou, ainda, da luta de classes, na produção, para uma ”convergência antagônica”, ou um sindicalismo de “concertação social”, que é um esboço de conciliação entre classes.

29 Discutiremos na próxima seção os principais congressos da CUT que abordam as políticas

permanentes de qualificação profissional.

30 É uma corrente operária surgida na década de 70 e financiada pela American Federacion of

Labour - Congress of Industrial Organization (AFL – CIO) instalada no Brasil em 1963, quando passou a prover cursos de sindicalismo. Um dos seus principais fundadores foi Roberto Magri que define o sindicalismo de resultado como uma nova corrente do sindicalismo brasileiro, defensora de uma linha de atuação pragmática, apartidária e de resultados (BEZERRA, 1994, p. 18).

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Prevalece o neocorporativo na prática sindical, hegemônico no interior da CUT. Neocorporativismo operário que tem debilitado a perspectiva de classe que caracterizou a luta política e sindical dos anos 80.

Estudos realizados na década de 90 constatam uma ambigüidade do movimento sindical cutista. Deluiz (1999) acrescenta que, se por um lado, o sindicalismo de cariz mais propositivo se aproxima da visão empresarial de adequação do estoque de capital humano à necessidade da reestruturação produtiva, adaptando a educação às exigências da ordem econômica capitalista. Por outro, o sindicalismo cutista, dentro de uma visão mais crítica, tem apontado para uma compreensão de educação mais ampliada, que viabiliza conhecimentos gerais sobre a sociedade e a cultura, numa lógica de encontro entre, essa última, trabalho e educação, possibilitando aos trabalhadores uma compreensão crítica da vida social, da evolução técnico-científica, da história e da dinâmica do trabalho31.

Apesar das inúmeras críticas realizadas às propostas mais conciliadoras ou neocorporativas da CUT, observamos que, mesmo nessas condições, essa Central não tem deixado de lutar contra as ações hegemônicas do capital. Essa afirmação é validada pela proposta de qualificação profissional, coordenada pela Confederação Nacional dos Metalúrgicos/Central Única dos Trabalhadores, embora não deixe, também, de aderir às exigências do capital.

A proposição da CNM/CUT de elevação de escolaridade e qualificação profissional, explicitada no Programa Integrar, tem se diferenciado daquelas de qualificação, que buscam, apenas, atender às exigências mercadológicas de qualificação. Como demonstram os cadernos curriculares, que serão analisados posteriormente, o Programa Integrar – PID, além de contribuir para que o aluno tenha condições de se inserir no mundo do trabalho formal, diminuindo, em

termos relativos, a desigualdade de oportunidade, aponta para alternativas de trabalho e renda numa perspectiva solidária. A formação ministrada tem um caráter tecnopolítico que permite ao aluno uma visão ampla e crítica dos processos desencadeados no trabalho, como, também, procura resgatar a identidade de classe.

A crise que o movimento sindical cutista tem enfrentado parece exigir novos horizontes e estratégias. Ele tem estendido as ações sindicais para as instâncias públicas, participando dos fóruns e órgãos formuladores e deliberativos de políticas públicas, aproveitando as instâncias estatais para consolidar suas concepções e projetos. Nessa ótica, o aparente caos, provocado pela recessão e desemprego, tem se revelado, para o movimento sindical, como amplo de possibilidades, como acrescenta Santos (1997, p. 39): ”longe de ser

por essência negativo, o caos é um horizonte dramaticamente ampliado de inúmeras possibilidades, e, como tal, compreende, como nenhum outro, possibilidades progressivas e possibilidades regressivas”.

Buscaremos, no decorrer desta investigação, apresentar como a proposta de educação profissional da CNM/CUT tem adquirido materialidade.

CAPÍTULO 2 – O MOVIMENTO SINDICAL CUTISTA E A