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Avaliação Processual de Burnout em Enfermeiros para e na Gestão das Organizações de Saúde

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A

VALIAÇÃO PROCESSUAL DE

B

URNOUT EM ENFERMEIROS

PARA E NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE

J

OSÉ

E

DUARDO

L

IMA

M

ARTINS

Orientadora:

Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro

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A

VALIAÇÃO PROCESSUAL DE

B

URNOUT EM ENFERMEIROS

PARA E NA GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE

Dissertação de Mestrado em Gestão dos Serviços de Saúde

J

OSÉ

E

DUARDO

L

IMA

M

ARTINS

Orientadora:

Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro

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Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Gestão dos Serviços de Saúde, sendo apresentada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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À minha esposa Conceição

À minha filha, Carolina, a fonte da minha vida

(5)

À minha orientadora, Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro, pela orientação atenta, pela franca disponibilidade, pela motivação, pela compreensão e pelas aprendizagens que me proporcionou em todos os momentos;

À professora Maria da Conceição Alves Rainho Soares Pereira, pela sua co-orientação, pela sua disponibilidade, pelo incentivo e motivação, bem como pelos momentos de aprendizagem que me proporcionou;

Ao Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro, na pessoa da Enfermeira Directora – Enfermeira Antonieta Alves, pelas facilidades concedidas, visando a formação e a valorização dos seus recursos humanos;

Aos enfermeiros que se disponibilizaram a integrar o presente estudo;

À senhora D. Teresa Carvalho, pela paciência e dedicação com que configurou a versão final desta tese;

Por último, mas não somenos proeminente, a toda a nossa família e amigos, pelo incentivo, tolerância, paciência e compreensão demonstradas na presença de que se viram privados e cuja afectividade foi fundamental para a concretização desta tese.

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O aparecimento do burnout está relacionado com a exposição continuada a eventos de origem laboral e são vários os estudos (Carlloto & Câmara, 2004; Maslach & Jackson, 1982; Queirós, 2005) a demonstrar que os profissionais que mantêm uma relação continuada e directa com outras pessoas apresentam com mais frequência o síndroma de burnout, aumentando significativamente quando esta relação é de ajuda. Os enfermeiros são considerados um dos grupos profissionais mais afectados pelo síndroma de burnout, por integrarem nas suas práticas uma filosofia humanística e uma forma de cuidar holística. A partir do processo de fundamentação conceptual deste síndroma, as autoras propõem um conceito operacionalizado em três dimensões: exaustão emocional; cinismo ou despersonalização e redução da realização pessoal.

As razões apontadas orientam o desenvolvimento desta investigação que tem como finalidade contribuir para o bem-estar dos enfermeiros na sua relação com o trabalho, que se repercute na qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem, e que se concretiza nos seguintes objectivos: i) caracterizar o síndroma de burnout nos profissionais de enfermagem quanto a variáveis demográficas e socioprofissionais; ii) determinar a relação entre factores antecedentes de burnout e a expressão do síndroma em profissionais de enfermagem; iii) determinar a relação entre os factores antecedentes de burnout e as dimensões que constituem este síndroma. Como instrumento de recolha de dados utilizou-se um questionário composto por váriáveis de caracterização e pelo Questionário Breve de Burnout (Moreno Jimenez, Bustos, Matallana & Mirrales, 1997), constituído por 21 itens, que permite avaliar antecedentes de burnout, síndroma de burnout e consequências do síndroma.

Participaram no estudo 103 enfermeiros a desempenhar funções nos serviços de urgência e cuidados intensivos de um centro hospitalar do norte do país. São predominantemente do sexo feminino (73,8%), a média de idades é de 36,31 anos, a maioria mantém uma relação com parceiro habitual, tem filhos e pessoas dependentes a seu cargo. A maioria detém licenciatura em enfermagem. A média de anos na profissão é de 13,5 anos e a maioria está no nível 1 da categoria profissional. Verifica-se que 93,2% realiza um horário por turnos e que o tipo de vínculo laboral predominante, é o contrato em funções públicas. No que diz respeito à interacção com os utentes, 57,1% atende menos de 30 utentes por dia e 80% do tempo diário é dispendido na prestação de cuidados.

Relativamente ao síndroma de burnout, verificou-se que os enfermeiros apresentam uma média ponderada de burnout de 2,55 e d.p.0,53 e que a dimensão despersonalização apresenta uma

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positiva foi verificada entre os factores antecedentes de burnout e o síndroma, bem como com as dimensões do mesmo e entre o síndroma de burnout e as suas consequências. Constatou-se que os elementos do sexo masculino, os que têm mais filhos, os que desempenham funções em serviços de urgência versus os que desempenham em cuidados intensivos, os que trabalham por turnos há mais de 12 anos, os que possuem um vínculo laboral mais estável, os que dispendem mais de dez minutos na deslocação de casa para o trabalho, e os que atendem um maior número de utentes apresentam valores médios de burnout mais elevados. Quanto à análise de regressão linear, constatou-se que os factores antecedentes de burnout explicam 50% da variância do síndroma de burnout; quanto às dimensões constituintes do sóndroma de burnout, explicam 32% da exaustão emocional, 18% da despersonalização e 40% da redução da realização pessoal: O (re)conhecimento deste problema, no seio das organizações e dos profissionais de saúde, constitui um passo decisivo para a definição de estratégias que o adjectivam como uma “epidemia invisível”.

(8)

The appearance of burnout syndrome is related to permanent exposure to work-related events and there are several studies ( such as Maslach & Jackson, 1982; Carlotto & Câmara, 2004; Queirós, 2005) which show that the professionals who keep a permanent and direct relationship with other people show burnout syndrome more often, increasing significantly when this is a relationship of assistance. Nurses are considered to be one of the professional groups most affected by burnout since they incorporate a humanistic philosophy and a holistic way of caring in their profession. By using a process of conceptual validity of this syndrome, the authors propose functional concept in three dimensions: emotional exhaustion, cynicism or depersonalization and reduction of personal fulfillment.

The reasons mentioned above guide the development of this research, which aims to contribute to the well-being of nurses in their relation to work. This is reflected in the quality and safety of healthcare and is evidenced by the following goals: i) the characterization of burnout syndrome on nursing professionals considering demographical and social -professional variables; ii) the determination of the relation between the antecedent factors of burnout and its effects on nurses; iii) the determination of the relation between the antecedent factors of burnout and its dimensions. As a research tool we have used a questionnaire composed of several characterization variables and by the Brief Questionnaire of “Burnout” (Moreno Jimenez, Bustos, Matallana & Mirrales, 1997), composed of 21 items, which allows for the evaluation of the antecedents of burnout, burnout syndrome itself and its consequences.

About 103 nurses, who are working in emergency rooms and intensive care services in the north of Portugal, took part in the research. They are mainly female (around 73.8%), with an average age of 36.31. They all maintain a stable relationship with a usual partner, and have children and people who depend on them. The majority have a nursing degree. The average number of years that they have been working as health care professionals is 13.5 and the majority has attained the 1st level in their professional category. It is noticeable that 93.2% work in a timetable divided into shifts and the main type of contract is that of public service. As far as interaction with patients, 57.3% answered that they saw fewer than 30 patients per day and 80% of their daily time is spent taking care of patients.

With regards to burnout syndrome, we verified that nurses had an average of 2.55 and s.d.0.53 burnouts with depersonalization dimension exhibiting a higher average (2.83 s.d.=0.82) . A significant and positive statistical correlation was verified between the antecedent factors of burnout and the syndrome itself, as well as its dimensions and also, between burnout syndrome

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work in emergency rooms versus those who work in intensive care, those who have been working in shifts for over 12 years, those whose professional bond is more stable, those who spend more than 10 minutes going to work, and finally those who take care of a large number of patients exhibit higher levels of burnout (extremely high average).

As for the analysis of linear regression, we ascertained that antecedent factors of burnout explain 50% of its variance; furthermore, the constituent dimensions of burnout syndrome explain 32% of the emotional exhaustion, 18% of the depersonalization and 40% of the reduction of personal fulfillment.

The recognition of this problem in the world of healthcare represents a decisive step for defining strategies that call it the “Invisible Epidemic”.

(10)

Í

NDICE

DEDICATÓRIA ... iii

AGRADECIMENTOS ... iv

RESUMO ... v

ABSTRACT ... vi

LISTA DE FIGURAS,QUADROS E TABELAS ... xi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ... xii

INTRODUÇÃO ... 1

PARTE I–ENQUADRAMENTO TEÓRICO ... 5

1.DELIMITAÇÃO CONCEPTUAL DE BURNOUT ... 6

1.1. Evolução histórica ... 6

1.2. Modelos teóricos de burnout ... 8

2.FACTORES ANTECEDENTES ... 13

2.1. Factores antecedentes organizacionais ... 14

2.2. Características da tarefa ... 16

3.CONSEQUÊNCIAS ... 18

4.OBURNOUT NOS ENFERMEIROS ... 19

5.AAVALIAÇÃO DE BURNOUT NOS PROCESSOS DE GESTÃO DAS ORGANIZAÇÕES... 22

6.CONTEXTO DO ESTUDO:SERVIÇOS DE URGÊNCIA/UNIDADES DE CUIDADOS INTENSIVOS ... 25

PARTE II–ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO ... 27

1.HIPÓTESES DE INVESTIGAÇÃO ... 28

2.JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO ... 29

3.DESENHO DO ESTUDO ... 30

4.AMOSTRA ... 31

5.VARIÁVEIS DO ESTUDO E OPERACIONALIZAÇÃO ... 32

(11)

6.2. Fiabilidade ... 35

7. PROCEDIMENTO NA RECOLHA DOS DADOS ... 36

8.ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 37

PARTE III–APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 39

1.APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 40

1.1. Caracterização da amostra do estudo ... 40

1.2. Descrição das sub-escalas ... 44

1.3. Análise correlacional e regressão linear simples ... 45

1.4. Comparação das médias do síndroma de burnout nos enfermeiros da população ... 48

PARTE IV–CONCLUSÕES E SUGESTÕES ... 53

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 58

ANEXOS ... 67

I.QUESTIONÁRIO BREVE DE DE BURNOUT (QBB) ... 68

APÊNDICES ... 71

I.OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS ... 72

II.INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS ... 74

(12)

L

ISTA DE

F

IGURAS

,

Q

UADROS E

T

ABELAS

Figura 1. Modelo geral explicativo de burnout ... 10

Quadro 1. Fases do burnout (Modelo de Golembewski & Muzenrider, 1988) ... 12

Quadro 2. Fases do burnout (Modelo de Leiter, 1988, 1989) ... 13

Quadro 3. Sumarização dos trabalhos internacionais sobre o burnout em profissionais de saúde ... 20

Quadro 4. Estrutura teórica do Questionário Breve de Burnout ... 34

Quadro 5. Valores de fiabilidade das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout em diferentes estudos ... 36

Tabela 1. Distribuição dos enfermeiros segundo as características sóciodemográficas ... 41

Tabela 2. Distribuição dos enfermeiros segundo as características profissionais ... 43

Tabela 3. Estatísticas descritivas das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout ... 44

Tabela 4. Correlação entre os factores antecedentes de burnout e o síndroma ... 46

Tabela 5. Correlação entre o síndroma de burnout e as consequências ... 46

Tabela 6. Regressão linear tendo como variável independente os factores antecedentes e variáveis dependentes o síndroma de burnout, e as suas dimensões ... 47

Tabela 7. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o sexo ... 48

Tabela 8. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com a existência ou não de filhos ... 49

Tabela 9. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o serviço onde desempenha funções ... 49

Tabela 10. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o número de anos de trabalho por turnos ... 50

Tabela 11. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o tipo de vínculo laboral ... 51

Tabela 12. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o tempo médio de deslocação de casa para o trabalho ... 51

Tabela 13. Médias do síndroma de burnout dos enfermeiros de acordo com o número de utentes que atende por dia ... 52

(13)

L

ISTA DE

A

BREVIATURAS E

S

IGLAS

cit. - citado

cols. – colaboradores d.p. - desvio padrão

MBI - Maslach Burnout Inventory nº - número

p. - página

QBB - Questionário Breve de Burnout s.d. - standard deviation

(14)
(15)

A sociedade actual e de modo particular as organizações de saúde são confrontadas com modificações profundas, motivadas pela rápida evolução científica e tecnológica, que se repercutem profundamente em todo o tecido económico, social e cultural. Neste contexto de mudança, emerge a problemática da preparação dos profissionais de saúde para uma intervenção dinâmica e inovadora numa sociedade cuja característica intrínseca é estar em permanentes processos de mutação.

Acompanhando as modificações científicas e tecnológicas, surgem novos modelos de gestão que pretendem primordialmente melhorar a eficiência e eficácia dos colaboradores, transformando as organizações e modificando o clima organizacional existente. Um exemplo, na área da saúde, foi a transformação de 33 hospitais públicos em sociedades anónimas e, posteriormente, em empresas públicas empresariais, que alteraram de forma repentina o modelo e as práticas subjacentes à sua gestão.

É neste enquadramento que a atenção sobre todos os intervenientes, nomeadamente os actualmente designados de colaboradores na sua relação com o trabalho, tem sido objecto de reacções, de aprovação, indiferença ou oposição, mas que de uma maneira ou de outra vão influenciar o desempenho profissional.

Segundo Rebelo (1998), a noção de prática está associada à realidade de um trabalho, em que “as práticas não resultam das boas vontades dos seus agentes, mas decorrem da intercepção de vários contextos – o social, marcado pela história; o do sujeito, lugar da biografia de cada um; o da profissão, onde emergem e se constroem os modelos profissionais (saberes, normas e valores que orientam a profissão); o da acção que materializa os modelos organizacionais, lugares e estruturas concretas do trabalho a realizar” (Rebelo, 1998, p. 16).

Tendo por base a teia de relação enumeradas pelo autor, e cientes da importância do bem-estar e da felicidade numa das circunstâncias vivenciais mais absorventes do homem moderno, o trabalho, consideramos oportuno estudar um dos factores que mais contribui, de forma silenciosa, para condicionar a realização pessoal e profissional, a saber o burnout.

(16)

Utilizado pela primeira vez na literatura científica por Freudenberg, em 1974, o conceito de burnout foi definido como um estado de fadiga ou frustração resultante da devoção a uma causa, estilo de vida ou relação que falhou na produção da expectativa esperada (Mendes, 1996).

Na década seguinte, foram inúmeros os autores que se debruçaram sobre esta temática, elaborando outras definições do síndroma, no entanto, a mais consolidada foi a proposta por Maslach e Jackson, em 1981. A partir do processo de fundamentação conceptual e empírica deste síndroma, as autoras propõem um conceito sustentado em três dimensões conceptualmente distintas, mas empiricamente relacionadas, que são: exaustão emocional, cinismo ou despersonalização e redução da realização pessoal.

Segundo Maslach e Goldberg (1998), o aparecimento do burnout está relacionado com a exposição continuada a eventos de origem laboral e que desencadeiam stresse. Vários estudos (Carlloto & Câmara, 2004; Maslach & Jackson, 1982; Queirós, 2005), demonstram que os profissionais que mantêm uma relação continuada e directa com outras pessoas apresentam com mais frequência o síndroma de burnout, aumentando substancialmente quando esta relação é considerada de ajuda, como são exemplo os médicos, professores e enfermeiros. O grupo profissional de enfermeiros tem sido objecto de vários estudos que apontam para uma prevalência considerável, como o estudo de Queirós (2005), com enfermeiros a exercer funções em centros de saúde e hospitais, ao revelar que um em cada quatro enfermeiros apresentava burnout no trabalho, e que os enfermeiros que exerciam em unidades de urgência geral, apresentavam níveis de exaustão emocional e física mais elevados.

Por conseguinte, os enfermeiros são considerados um dos grupos profissionais mais afectados pelo síndroma de burnout, por integrarem nas suas práticas uma filosofia humanística e uma forma de cuidar mais holística. Por vezes confrontam-se com realidades adversas como a desumanização e despersonalização do sistema de saúde, tendo que adoptar estratégias de adaptação que implicam um maior investimento psicossocial nem sempre reconhecido e frequentemente sem as condições mínimas que promovam a capacidade de resiliência.

(17)

Torna-se, portanto, evidente a relação que existe entre o burnout e o meio laboral em que o indivíduo exerce a sua actividade profissional, e daí emerge a importância de identificar os aspectos relevantes e caracterizadores dos antecedentes do síndroma e das consequências do burnout, perspectivando a integração deste fenómeno nas políticas de gestão das organizações modernas e competitivas.

As razões apontadas sustentam o desenvolvimento desta investigação, que tem como finalidade contribuir para o bem-estar dos enfermeiros na sua relação com o trabalho e que se repercute na qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem prestados, e que se concretiza nos seguintes objectivos: i) Caracterizar o síndroma de burnout nos profissionais de enfermagem quanto a variáveis demográficas e socioprofissionais; ii) Determinar a relação entre factores antecedentes de burnout e a expressão do síndroma em profissionais de enfermagem; iii) Determinar a relação entre os factores antecedentes de burnout e as dimensões que constituem este síndroma.

De forma sumária, este trabalho é constituído essencialmente por quatro partes. A primeira, diz respeito às contribuições teóricas mais relevantes para a compreensão da temática em estudo, centrado na perspectiva histórica do conceito, factores antecedentes e consequências, bem como na dimensão deste fenómeno num grupo profissional particular, os enfermeiros, e características dos serviços onde decorre o estudo. A segunda, é referente à metodologia e, por isso, respeita os aspectos inerentes à justificação e hipóteses da investigação, desenho do estudo, amostra, variáveis e sua operacionalização e instrumento de recolha de dados, quanto à fiabilidade. Termina-se com referência aos aspectos subjacentes aos procedimentos na recolha, tratamento e análise de dados. A terceira parte, compreende a apresentação e discussão dos resultados obtidos, confrontando-os com os estudos em domínios semelhantes e que suportam a confirmação das hipóteses do estudo e a formulação das principais conclusões. Por último, a quarta parte, pretende destacar os aspectos mais relevantes deste estudo, quanto ao síndroma de burnout em enfermeiros que exercem funções em serviços de urgência e cuidados intensivos, projectando-se a definição de algumas estratégias que, integradas numa política de gestão global da qualidade, visem uma maior satisfação e bem-estar profissional, bem como a qualidade e segurança dos cuidados que este grupo profissional proporciona à comunidade servida por um centro hospitalar de natureza regional.

(18)

P

ARTE

I

(19)

De acordo com Marconi e Lakatos (1996), a pesquisa bibliográfica é “um apanhado geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de importância, por serem capazes de fornecer dados actuais e relevantes relacionados com o tema” (p. 24). São também de opinião que “…o estudo da literatura pertinente pode ajudar a planificação do trabalho, evitar duplicações e certos erros, e representa uma fonte indispensável de informações, podendo até orientar as indagações” (p. 24).

A orientação da revisão bibliográfica deste projecto visa fundamentar os diversos aspectos relacionados com o tema e o problema deste estudo. Assim, parece-nos imprescindível abordar as temáticas relacionadas com o burnout no que concerne à evolução do constructo, modelos explicativos do burnout, factores antecedentes e consequências bem como as principais características do contexto de trabalho dos profissionais que exercem funções nos Serviços de Urgência/Unidades de Cuidados Intensivos.

1.

D

ELIMITAÇÃO

C

ONCEPTUAL DE

B

URNOUT

A delimitação conceptual de burnout resultou da contribuição de múltiplos estudos (Hingley & Harris, 1986; Leiter, 1989; Leiter & Maslach, 1988; Maslach & Pines, 1977; Maslach & Jackson, 1982), que contribuiram para fundamentar o seu conteúdo e para identificar os factores antecedentes (indicadores e predictores), bem como para prevenir o síndroma de burnout no âmbito das profissões cujos clientes são pessoas.

1.1. Evolução histórica

A origem do termo burnout é atribuída consensualmente a Freudenberg que, em 1974, o utilizou para designar a situação que se manifesta através de uma verdadeira crise de identidade, colocando em questão todas as características da pessoa, no plano físico psíquico e relacional.

(20)

O termo burnout tem sido definido de diversas maneiras por diferentes investigadores. A definição mais abrangente (Freudenberger & Richelson, 1980) equipara burnout a stresse, associando-o a diferentes factores de saúde e bem-estar, e sugere que o burnout esteja ligado a uma expectativa elevada de sucesso. Em 1975, estes autores definiram

burnout como um conjunto de sintomas médico-biológicos e psicossociais

inespecíficos, como resultado de uma exigência excessiva de energia no trabalho, que ocorre particularmente nas profissões envolvidas numa relação de ajuda.

A exposição crónica aos factores laborais de stresse pode levar os profissionais de enfermagem a desenvolver o síndroma de burnout, termo definido inicialmente por Freudenberger e posteriormente conceptualizado como um síndroma por Maslach e Jackson (1982). De acordo com estas autoras, trata-se de um síndroma que se apresenta como uma resposta inadequada ao stresse emocional crónico. Operacionalizaram o conceito como um síndroma mutidimensional, constituído por três dimensões: Exaustão emocional; Despersonalização; Redução de realização pessoal. Segundo Moreno Jiménez, González Gutiérrez e Garrosa Hernandez (2001), o construto burnout fica assim definido como uma disfunção pessoal e profissional num contexto laboral basicamente de tipo assistencial. Como tal, o conceito de burnout pressupõe deterioração e desgaste e a probabilidade de ocorrência é superior nas profissões marcadas por uma forte matriz relacional.

Segundo Queirós (1995), o burnout é definido como uma síndroma psicológica de exaustão, cinismo e ineficácia no local de trabalho.

As definições de burnout têm sido alteradas ou modificadas como resultado do aprofundamento deste constructo e tem-se observado uma crescente diversidade na sua aplicação. Pines e Maslach (1980) tinham como objectivo a análise dos estados emocionais dos profissionais e as suas reacções aos clientes, relacionando-as com determinadas características do seu trabalho.

Na década de 80, os estudos aplicaram o conceito de burnout a muitas áreas, cujos profissionais estão expostos a elevados níveis de stresse no trabalho, não se limitando às profissões cujos clientes são pessoas. Indubitavelmente que o desenvolvimento do constructo de burnout está associado aos trabalhos de Maslach e colaboradores. Se bem

(21)

que se deve reconhecer a Freudenberg o uso pioneiro do termo, embora o seu estudo tenha sido um caso pontual, centrado nos aspectos clínicos e descritivos do termo. Foi com Maslach e colaboradores que o burnout se converteu num paradigma de investigação.

1.2. Modelos teóricos de burnout

Terminada a descrição da evolução do conceito de burnout, consideramos fundamental conhecer os modelos explicativos do desenvolvimento do síndroma, pelo que descrevemos de forma sumária os que julgamos mais significativos, tomando como suporte a reflexão sistematizada de Queirós (2005).

O Modelo de House e Wells (1978), é um modelo que apresenta uma abordagem cognitiva-perceptual com interpretação sobre o meio envolvente do indivíduo e as variáveis pessoais. Identifica variáveis individuais e organizacionais que podem estar relacionadas com o burnout. Segundo este modelo, o burnout instala-se em quatro fases:

Fase 1. Grau em que a satisfação é conducente ao stresse, existindo duas circunstâncias

em que o mesmo pode surgir: aptidão inadequada e discrepância entre o indivíduo e o meio de trabalho.

Fase 2. Stresse percepcionado com relação estreita entre a história e personalidade do

indivíduo e das variáveis organizacionais, que vão condicionar a passagem da 1ª à 2ª fase.

Fase 3. Resposta ao stresse.

Fase 4. Resultados do stresse. O burnout, enquanto experiência multifacetada do stresse

emocional crónico, está presente nesta quarta fase.

Para os autores deste modelo, segundo Pereira (1992) e Gomes (1995, como cit. em Queirós, 2005), as três dimensões do burnout reflectem as três categorias de stresse e sintomas principais: i) Fisiológicos, focando os sintomas físicos (exaustão emocional);

(22)

despersonalização); iii) Comportamental, focando os comportamentos sintomáticos (despersonalização e diminuição da produtividade no trabalho).

O Modelo de Cherniss (1980) considera o burnout como um processo, constituído por diferentes estados sucessivos que ocorrem no tempo e representa uma forma de adaptação às particulares causas de stresse (Cherniss, 1980, como cit. em Gomes, 1995; Correia, 1997; Queirós, 2005). Este modelo baseia-se num estudo de dois anos, que caracterizou profissionais de quatro áreas propensas ao burnout (saúde mental, enfermagem, ensino e direito), no qual o autor propõe que determinadas características do trabalho interagem com características do indivíduo, assim como com as suas expectativas, provocando grande stresse, que o indivíduo experimenta a vários níveis.

Modelo geral explicativo de burnout (Maslach, Jackson & Leiter, 1996)

Este será o modelo mais explanado, na medida em que suporta o trabalho empírico. Trata-se de um modelo multi-dimensional, em que o conceito de burnout foi definido como a experiência individual do stresse, inserida num contexto de relações sociais e envolvendo, portanto, a concepção que o indivíduo tem de si mesmo e dos outros. É definido através das suas três componentes: a exaustão emocional, o ”cinismo” ou despersonalização e a ineficácia ou sensação de diminuição no desempenho pessoal (Maslach & Goldberg, 1998).

A exaustão emocional tem a ver com as sensações de inadequação (de não estar à altura das solicitações) e de esgotamento dos recursos emocionais e físicos do indivíduo (como desgaste, perda de energia, esvaziamento, debilitação e fadiga). O trabalhador sente-se “drenado” emocionalmente e esgotado, sem qualquer fonte onde se reabastecer, sem energia para ajudar outra pessoa que necessite de ajuda ou para enfrentar mais um dia de trabalho. Esta componente representa a dimensão individual básica do stresse no

burnout.

A despersonalização ou “cinismo” corresponde à atitude negativa de reacção ao trabalho excessivamente indiferente ou hostil, muitas vezes com perda de idealismo. É inicialmente uma resposta autodefensiva à sobrecarga que resulta da exaustão emocional, considerada uma espécie de amortecedor emocional, de “envolvimento

(23)

indiferente”que pode eventualmente transformar-se em desumanização. A componente

“cinismo” representa a dimensão interpessoal do burnout.

A redução de realização pessoal ou ineficácia relaciona-se com o declínio dos sentimentos de competência e de produtividade no trabalho. O indivíduo experimenta um crescente sentimento de inadequação relativamente à sua capacidade de executar bem o trabalho, com incapacidade de adaptação e diminuição da auto-estima. Este sentimento pode induzir a uma auto recriminação, dada a incapacidade sentida de realização no trabalho. Esta componente representa a dimensão de auto-avaliação do

burnout.

Figura 2. Modelo geral explicativo de burnout

(Maslach & Goldberg,1998, p. 65).

As três componentes do síndroma de burnout (Maslach & Goldberg, 1998), emergiram de estudos sobre o burnout, os quais utilizaram como instrumentos questionários e entrevistas dirigidos a diferentes profissionais que interagem com pessoas no desempenho das funções profissionais. Os estudos relativos ao fenómeno de burnout, foram inicialmente descritivos, seguindo-se uma etapa de investigação sistematicamente empírica. Esta última etapa da investigação sobre burnout, contribuiu para identificar os

(24)

factores presentes no local de trabalho que melhor predizem o síndroma de burnout (sobrecarga de trabalho e conflito). Estes autores também afirmam que são mais importantes os factores atrás mencionados do que os que se relacionam com a área pessoal (diminuição: controlo, coping, suporte social, capacidades, autonomia e envolvimento na tomada de decisão). Explicam o síndroma de burnout da seguinte forma: primeiro ocorre a exaustão emocional, seguindo-se a despersonalização, enquanto que a redução na realização pessoal se desenvolve separadamente. O síndroma tem como consequências: diminuição do compromisso com a organização, elevada rotatividade, absentismo e consequências físicas.

Este modelo multidimensional do burnout apresenta importantes implicações teórico-práticas. Permite uma ampla compreensão deste tipo de stresse no trabalho, através da identificação de várias reacções psicológicas que podem ser vividas por diferentes trabalhadores, num dado contexto social.

A primeira fase de investigação empírica de Maslach e colaboradores centrou-se na avaliação de burnout. O instrumento que desenvolveram foi o Maslach Burnout

Inventory ([MBI], Maslach & Jackson, 1981, 1986; Maslach, Jackson & Leiter, 1996).

A interrelação entre as três componentes definidas foi objecto de subsequentes teorizações e investigações.

No seguimento dos estudos de Maslach, outros autores aprofundaram a análise das dimensões implicadas no desenvolvimento de burnout. Assim, surgem os modelos de Gollembiewski e Muzenrider (1988), referidos por Queirós (2005).

O Modelo de Golembieweski e Munzenrider (1988)

É um modelo estruturado a partir dos resultados do MBI, num modelo em oito fases evolutivas para a ocorrência de burnout, numa sequência com início em valores baixos e a evoluir, conforme pode ser observado no Quadro 1. É considerada a pontuação das três dimensões do MBI, sendo a despersonalização a primeira etapa do modelo. De acordo com este modelo, níveis elevados na dimensão despersonalização podem ter efeitos negativos na dimensão redução de realização pessoal. Um nível elevado nas dimensões anteriores, pode desencadear níveis altos de exaustão emocional.

(25)

Quadro 1. Fases do burnout (Modelo de Golembewski & Muzenrider, 1988)

Factores I II III IV V VI VII VIII

Despersonalização Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta Baixa Alta

Redução de realização pessoal Baixa Baixa Alta Alta Baixa Baixa Alta Alta

Exaustão emocional Baixa Baixa Baixa Baixa Alta Alta Alta Alta

Fonte: Adaptado de Queirós (2005)

O modelo indica unicamente que as fases são progressivas quanto aos níveis, mas um indivíduo pode não seguir a sequência descrita no modelo e até pode não experimentar algumas delas. O modelo explica duas formas de apresentação do burnout: crónico, com uma progressão desde a primeira à oitava fase; agudo, em que o indivíduo ultrapassa algumas fases, por exemplo da fase 1 à 5, e desta à 8. O modelo não explica como o indivíduo recupera desde a oitava fase.

O Modelo de fases burnout de Leiter (1988, 1989)

Este modelo utiliza a amplitude total das três subescalas sem dicotomizar, admitindo quatro fases possíveis (Quadro 2). Permite assegurar toda a riqueza do MBI, sem perda de informação. Leiter (1989), refere que os profissionais que experimentam situações de exaustão emocional, aquando da exposição a situações de stresse no trabalho (sobretudo face aos pedidos relacionados com a função), reagem alheando-se, através da despersonalização. Os profissionais perdem, assim, o compromisso emocional que mantinham na sua relação laboral, ao mesmo tempo que continuam a sofrer de exaustão emocional, produzindo-se uma avaliação negativa da sua realização pessoal, que conduz ao síndroma de burnout. No modelo de Leiter, a exaustão emocional ocupa o lugar central, pois está associada a níveis elevados de despersonalização e níveis baixos de realização pessoal, bem como a outros aspectos, tais como o aumento do absentismo devido à redução do compromisso/envolvimento. A despersonalização aparece como uma tentativa ineficaz para lidar com sentimentos de exaustão, surgidos no relacionamento interpessoal.

(26)

Quadro 2. Fases do burnout (Modelo de Leiter, 1988, 1989)

Fases 1 2 3 4

Exaustão emocional Baixa Baixa Alta Alta

Despersonalização Baixa Alta Baixa Alta

Redução de realização pessoal Baixa Baixa Baixa Alta

Fonte: Adaptado de García (1990)

Maslach (2000), refere ainda que, de acordo com um modelo recente, quanto maior é a disparidade ou o desajustamento entre a pessoa e o trabalho que executa, tanto maior será a probabilidade de ocorrência de burnout. Este modelo especifica as áreas, nas quais se pode produzir o desajustamento: sobrecarga, controlo, recompensa, suporte social, adequação de competências à função, autonomia e envolvimento na tomada de decisão. Em cada área, a natureza do trabalho pode não estar em harmonia com a natureza do indivíduo, o que se traduz num aumento de exaustão, de cinismo e de ineficácia. No entanto, quando existe uma melhor adequação nestas áreas, o resultado provável é o empenhamento no trabalho.

2.

F

ACTORES

A

NTECEDENTES

Os factores que estão na origem do burnout podem ser os mais variados, desde a personalidade dos indivíduos implicados até à organização dos serviços e características dos mesmos (Benach, Gimeno & Benavides, 2002).

De acordo com Moreno Jiménez e cols. (1997), quando analisaram a influência dos factores antecedentes de burnout no que diz respeito ao contexto organizacional, encontraram nos resultados dos estudos três sub-dimensões: organização, características da tarefa e tédio. No entanto, em termos de factores antecedentes de burnout, as características pessoais também são particularmente importantes (Leiter & Maslach, 2000).

(27)

Segundo Queirós (1995), vários autores sugerem que a responsabilidade por pessoas é geradora de mais stresse do que a responsabilidade por coisas, incluindo-se nessas pessoas, entre outros, os doentes, os seus familiares, os colegas de trabalho e as organizações profissionais.

2.1. Factores antecedentes organizacionais

O exercício da profissão de enfermagem implica um elevado grau de responsabilidade sobre a vida, a saúde e o cuidado de outras pessoas. Segundo Fornéz Vives (1994), os factores de stresse que podem desencadear burnout, associados à profissão de enfermagem, agrupam-se em duas grandes categorias: os específicos da profissão, que pressupõem uma elevada implicação emocional, e os relacionados com a organização do trabalho. Quanto à primeira categorização, integram o contacto contínuo com o sofrimento e a morte de doentes e outras características relacionadas com o conteúdo específico do trabalho do enfermeiro. Na segunda, salienta-se a carga de trabalho, os horários, a elevada responsabilidade, o clima organizacional, que são condicionados pelas equipas de trabalho e a relação com os superiores hierárquicos (Fornéz Vives, 1994; Revicki & May, 1989).

Quando uma organização possui uma estrutura centralizada, significa que a tomada de decisão se concentra num único ponto da organização, habitualmente na figura dos gestores, directores ou administradores. Uma organização tem uma estrutura descentralizada, quando os colaboradores possuem maior grau de controlo sobre o seu trabalho, porque podem tomar de forma autónoma decisões ou porque as suas opiniões contam e são efectivamente valorizadas para a superior tomada de decisão (Robbin, 1998; Ross & Altmaier, 1994).

O relacionamento entre colegas é de vital importância para a definição de um bom clima de trabalho, sendo esta uma condição essencial de bem-estar e segurança no trabalho. As relações precárias, fracas ou pobres entre colegas de trabalho, estão associadas a sentimentos de ameaça, desconfiança, reduzido apoio social e ausência de empatia. A falta de coesão do grupo pode desencadear comunicação disfuncional, o que contribui para os conflitos interpessoais (Ramos, 2001). As relações interpessoais são

(28)

potencialmente indutoras de stresse, uma vez que se verificam num contexto de diferenças individuais. Para Selye (1980), aprender a viver com os outros é um dos aspectos da vida de cada pessoa que mais stresse causa.

Um dos aspectos organizacionais que deve ser valorizado é o clima organizacional, (Moos, Insel & Humphrey, 1974, como cit. em Moreno Jiménez, González Gutiérrez & Garrosa Hernández, 2001). Se inicialmente o conceito era amplo e incluía aspectos interpessoais, estruturais e organizacionais, actualmente, e segundo os mesmos autores, o conceito foi delimitado aos aspectos interpessoais no âmbito laboral. Nesta linha, o clima organizacional pode relacionar-se com o conceito de apoio social no trabalho, sendo este um dos factores antecedentes considerado relevante. O conceito de apoio social inclui apoio emocional dos colegas e supervisores perante o êxito ou fracasso, bem como a ajuda no desenvolvimento do exercício profissional, dado que actua como um factor motivacional, pois permite a partilha de valores e contextos (Garret & McDaniel, 2001). Outros estudos mostram que a falta de apoio social no trabalho se associa ao aumento de burnout em enfermeiros (Constable & Russel, 1986; Garret & McDaniel, 2001; Gil Monte, Peiró & Vacarcel, 1996).

Um dos principais méritos do trabalho em equipa é o seu potencial papel na prevenção do stresse. Contudo, implica mais responsabilidade e o desenvolvimento de competências de relacionamento interpessoal (DeFrank & Ivancevich, 1998; Quick et

al., 1997, como cit. em Ramos, 2001). Por outro lado, cada vez mais se fomenta o

trabalho em equipa, como forma de aumentar a produtividade e promoção do compromisso dos colaboradores para com a organização.

Quando a pessoa tem dificuldade em adaptar-se a uma estrutura organizacional caracterizada pela centralização e complexidade organizativa, podem estar criadas situações que desencadeiem stresse. Os enfermeiros desenvolvem a profissão em contextos organizacionais diversos e complexos, quer em termos institucionais quer departamentais, desempenhando as suas funções em organizações cujo esquema de funcionalidade pode considerar-se uma burocracia profissionalizada (Mintzberg, 1988, como cit. em Moreno Jiménez et al., 2001). Os principais problemas que resultam das burocracias profissionalizadas relacionam-se com a coordenação entre os seus

(29)

membros, os problemas de liberdade de intervenção, a adopção de inovações e respostas disfuncionais por parte das direcções aos problemas organizacionais.

Mais especificamente, nos enfermeiros que desempenham funções em unidades de emergência e cuidados intensivos, a sua intervenção caracteriza-se pela imprevisibilidade nos processos de recuperação e manutenção da vida humana, logo, estão mais expostos a factores antecedentes de burnout, como a falta de suporte social do supervisor, a sobrecarga de trabalho, os ritmos de trabalho intenso em tempo reduzido, a falta de experiência profissional, as dificuldades no processo de comunicação na equipa, a interacção com os doentes e familiares.

O tipo de serviço pode influenciar os níveis de burnout, particularmente se compararmos os profissionais que trabalham em unidades de emergência e unidades de cuidados intensivos (Browning, Ryan, Thomas, Greenberg & Rolniak, 2007; Queirós, 1998; Quirós-Aragón & Labrador-Encinas, 2007), observando estes autores níveis superiores nos profissionais que desempenham funções nas unidades de emergência.

2.2. Características da tarefa

As características das tarefas são factores potencialmente indutores de stresse. Exemplos disso são: a variedade das tarefas, a autonomia do indivíduo para as realizar, o nível de conhecimentos e de competências exigidas, a responsabilidade inerente à tarefa, os problemas de eficiência.

Um dos clássicos stressores organizacionais associados à tarefa é a sobrecarga de trabalho, referindo-se habitualmente ao excesso de trabalho, isto é, ao elevado número de tarefas a cumprir. Este tipo de sobrecarga, associado à falta de tempo, designa-se por sobrecarga quantitativa, originando muitas vezes horários alargados e necessidade de realizar algumas actividades do trabalho em casa (Cartwright & Cooper, 1997, como cit. em Ramos, 2001).

A importância do ritmo de trabalho, enquanto factor indutor de stresse, reside no encontro entre o que o determina ou quem o determina, e o grau de controlo que a pessoa pode exercer sobre as tarefas a desempenhar (Karasek & Theorell, 1990; Ross &

(30)

Altmaier, 1994). A situação ideal seria aquela em que o ritmo de trabalho pudesse ser controlado pelo próprio indivíduo. Contudo, se uma pessoa tiver dificuldade em tomar decisões ou em planificar o seu trabalho, o ritmo determinado por si própria, poderá constituir uma fonte de stresse.

Concordamos com Pines (1993), quando afirma que o burnout resulta de um processo gradual de desilusão na busca de um significado existencial através do trabalho. Os enfermeiros, dado as características do seu trabalho, procuram um significado existencial e motivação através do mesmo. No entanto, por vezes deparam-se com ambientes de trabalho nos quais os obstáculos e as situações de stresse são as mais diversas, enquanto a recompensa, o apoio e os desafios são minímos, resultando frequentemente em experiências subjectivas de fracasso.

O trabalho que resulta rotineiro e monótono, porque se faz sempre a mesma coisa, durante muito tempo, implica um profissional passivo e concorre para a ocorrência de sintomas associados ao stresse. Segundo o modelo de exigência – controlo de Karasek e Theorell (1990), este tipo de trabalho repetitivo, fruto da repetição contínua de tarefas, assemelha-se à sobrecarga de trabalho, pois não coloca grandes exigências ou desafios ao trabalhador, não exigindo particulares conhecimentos ou competências.

O trabalho por turnos é uma necessidade social, pode até revelar-se positivo, pois além de quebrar as rotinas dos horários fixos e habituais, permite ao indivíduo gozar de uma disponibilidade de tempo vantajosa para algumas actividades sociais. No entanto, este pode acarretar consequências psicossomáticas negativas e crónicas, quando se torna prolongado no tempo. Para Gomes (1998), a desregulação do ritmo interno do organismo, que pode acontecer por acção do trabalho por turnos, pode, entre outras consequências, desencadear insónia, cefaleias e alterações gastrointestinais bem como consequências psicológicas e sociais.

Aos enfermeiros pede-se um tempo considerável de interacção com pessoas, enquanto processo de “…percepção, comunicação entre pessoa e ambiente e entre pessoa e pessoa, manifestado por comportamentos verbais e não verbais. Cada indivíduo numa interacção (enfermeiro e utente) é detentor de conhecimentos, necessidades, objectivos, experiências passadas e percepções diferentes que influenciam as interacções” (King,

(31)

1981, como cit. em Ackermann, 1989, p. 205). É sobretudo quando as pessoas se encontram em situações problemáticas, que potencialmente estão associadas a sentimentos de frustação, medo e desespero, desencadeando com maior probabilidade stresse e exaustão emocional, que pode predispor ao desenvolvimento do síndroma de

burnout. Pode, então, verificar-se que este síndroma não é de instalação súbita, pelo

contrário, resulta de um desgaste que se instala de modo silencioso e progressivo.

3. C

ONSEQUÊNCIAS

O burnout é um problema real que necessita de programas especificos dirigidos aos grupos vulneráveis, que é o caso dos enfermeiros no sentido de reduzir a ocorrência dos efeitos negativos ou consequências (Braithwaite, 2008). Relativamente às consequências do síndroma de burnout e dado que é um síndroma característico do meio laboral, tem consequências negativas tanto a nível individual, como organizacional, familiar e social (Maslach, 2000).

As consequências a nível físico parecem mais relacionadas com a exaustão emocional conforme mencionado em vários estudos (Edwards & Burnard, 2003; Maslach & Leiter, 1997) ao demonstrarem que existe uma correlação com sintomatologia como: cefaleias, fadiga crónica, perturbações gastrointestinais, insónias, tensão muscular, hipertensão. A exposição a situações desencadeadoras de stresse crónico correlaciona-se com manifestações de ansiedade, sentimento de incompetência e percepção de falta de compromisso com os objectivos da organização, podendo também associar-se a depressão em profissionais de saúde (Murcho, Jesus & Pacheco, 2009).

A exaustão emocional pode ter como consequência o aumento do absentismo, diminuição da produtividade e ambas podem afectar a carga de trabalho dos outros profissionais e comprometer os cuidados aos utentes.

O burnout pode originar uma deterioração da qualidade dos cuidados e serviços prestados aos doentes e/ou clientes na medida em que uma das consequências é que o indivíduo que vive um processo de burnout pode exercer uma influência negativa nos colegas, como desencadear conflitos, perturbar a execução das tarefas. O burnout tem

(32)

sido associado a várias formas de afastamento do trabalho – absentismo, intenção de abandonar o trabalho e rotatividade. A intenção de demissão, rotatividade (turnover), é um problema com implicações especialmente para as organizações cuja actividade envolve o atendimento de pessoas. A maior parte dos estudos que investigaram a intenção de rotatividade dos trabalhadores demonstraram que a rotatividade desejada ou intencional estava significativamente relacionado com o burnout (Maslach & Jackson, 1984).

4. O

B

URNOUT NOS

E

NFERMEIROS

O trabalho constitui um dos aspectos mais importantes na formação da identidade socioprofissional dos indivíduo, pois é através dele que ocorre a afirmação de si mesmo e o desenvolvimento mais complexo da interacção social, podendo, no entanto, o trabalho ser um factor gerador de stresse.

O síndroma de burnout apresenta uma ocorrência elevada entre os profissonais de saúde e de modo particular entre os enfermeiros, conforme evidenciam os estudos epidemiológicos europeus e canadianos. De acordo com Delbrouck (2006), os resultados são convergentes, nas diferentes tipologias dos serviços, com a exaustão profissional a atingir cerca de um quarto dos enfermeiros de hospitais gerais, também corroborado por Queirós (2005), ao concluir que “um em cada quatro enfermeiros apresentam burnout no trabalho” (p. 234).

O Quadro 3 pretende compilar os dados sobre o burnout em profissionais de saúde quanto ao tipo de amostra, instrumentos de avaliação de burnout e principais conclusões.

(33)

Quadro 3. Sumarização dos trabalhos internacionais sobre o burnout em profissionais de saúde

Amostra: contexto Conclusões

Moreno-Jiménez, Villa-George, Rodríguez-Carvajal, Villalpando-Uribe (2009) Profissionais de saúde n=380, secretárias,

admnistrativos e directores.

Instrumento: - QBB;

Serviços de saúde pública no México.

- Os resultados obtidos mostraram claramente a complexidade dos factores intervenientes na predição das consequências negativas relacionadas com o trabalho, tal como no QBB acontece com os problemas organizacionais, sociofamiliares e sintomatológicos. - Os resultados também indicam que grande parte das

consequências negativas se correlacionam com o síndroma de burnout. Confirmou-se que a exaustão emocional de associa fortemente com as consequências do burnout.

Moreira, Magnago, Sakae, Magajewski (2009) Profissionais de saúde n=269, 20

enfermeiros, 132 técnicos de enfermagem e 127 auxiliares de enfermagem

Instrumento: - MBI;

Hospital Nossa Senhora da Conceição (Rio de Janeiro).

- Observou-se uma relação significativa entre os pedidos de licença para tratamento de saúde e níveis de burnout maiselevados;

Sahraian, Fazelzadeh, Mehdizadeh, Toobaee (2008) Enfermeiras n= 180

Instrumento: - MBI;- Questionário geral

de saúde (GHQ)

Hospitais no Shiraz, Irão (5)

- No serviço de psiquiatria as participantes, apresentam níveis mais elevados de Burnout que nos outros serviços estudados.

Román Hernandéz (2003) Enfermeiros - 118 Centro saúde: 55 Hospital: 63 Médicos - 169 Centro saúde: 89 Hospital: 80

Instrumento: Questionário Breve de

Burnout

- Médias mais elevadas de: . Despersonalização (síndroma);

. Tédio e características da tarefa, (antecedentes)

. Os profissionais que desempenhavam funções em Centros de Saúde apresentaram valores significativamente mais elevados de burnout;

. Os profissionais que trabalhavam em hospitais apresentaram valores significativamente mais elevados de despersonaliza ção, (síndroma).

Adali, Priami (2002)

Profissionais de saúde: Enfermeiros n=223 Instrumento: MBI

- 5 Hospitais Gregos;

- Os enfermeiros dos departamentos de emergência apresentam maiores níveis de burnout que os enfermeiros das unidades de cuidados intensivos e serviços de internamento de medicina.

Moreno Jimenez, Garrosa-Hernandez, Gálvez, González, Benevides-Pereira (2002) Enfermeiros - 247

Instrumento: Cuestionário de Desgaste

Profesional de Enfermería (CDPE) Hospitais (5)

- Entre as variáveis de corte sócio-demográfico e o síndroma de

burnout observou-se uma relação fraca:

- Quanto à relação entre o tipo de contrato (contratado ou efectivo) observou-se uma relação positiva e significativa; os enfermeiros efectivos apresentaram níveis superiores de redução de realização profissional;

- Neste estudo, o tempo de interacção diária com os utentes, mostrou ser o melhor preditor do processo de burnout;

Relativamente aos estudos realizados em Portugal, salienta-se o estudo de Queirós (2005) que numa amostra de 965 enfermeiros a exercerem funções em centros de saúde quer em hospitais em que o instrumento utilizado foi o MBI-GS concluindo que:

(34)

 O género não diferência os níveis de burnout no trabalho;

O burnout no trabalho exerce mais influência sobre o burnout conjugal, do que o

inverso;

 Os enfermeiros que trabalham na urgência geral, surgem com níveis de exaustão

emocional e física mais elevados;

O ponto de partida para o burnout pode-se encontrar na insatisfação geral no

trabalho e na ineficácia profissional.

Salienta-se também o estudo de Rainho (2005), que utilizou pela primeira vez em Portugal o QBB para estudar o síndroma de burnout numa amostra de 160 enfermeiros que exerciam funções em contexto hospitalar e centros de saúde. Teve como principais conclusões:

 A observação de diferenças estatisticamente significativa na média ponderada de burnout entre os enfermeiros que trabalhavam no hospital e nos centros de saúde, sendo superior nestes;

 A verificação de uma correlação positiva e estatisticamente significativa entre factores antecedentes de burnout e o síndroma;

 A demonstração de que os factores antecedentes são um preditor significativo do síndroma de burnout, através da análise de regressão.

Já, Garrosa, Rainho, Moreno-Jiménez & Monteiro (2010), que utilizou o Cuestionário de Desgaste Profesional de Enfermería (CDPE) para estudar o síndroma de burnout numa amostra de 98 enfermeiros a frequentar um curso pós-laboral para aquisição do grau de licenciado em Enfermagem, teve como conclusão a existência de correlações positivas moderadas e significativas dos factores antecedentes com as dimensões do síndroma de burnout.

Os enfermeiros são considerados dos grupos profissionais mais afectados pelo síndroma de burnout, por integrarem nas suas práticas uma filosofia humanística e uma forma de cuidar mais holística. Por vezes, confrontam-se com realidades adversas como a desumanização e despersonalização do sistema de saúde, tendo que adoptar estratégias

(35)

de adaptação que implicam investimento psicosocial nem sempre reconhecido e frequentemente sem as condições mínimas que promovam a capacidade de resiliência.

5.

A

A

VALIAÇÃO DE

B

URNOUT NOS

P

ROCESSOS DE

G

ESTÃO DAS

O

RGANIZAÇÕES

Uma organização é um sistema composto por actividades humanas aos mais diversos níveis, constituindo um conjunto complexo e multidimensional de personalidades, pequenos grupos, normas, valores e comportamentos, ou seja, um sistema de actividades conscientes e coordenadas de um grupo de pessoas para atingir objectivos comuns (Chiavenato, 1995).

As organizações hospitalares são cada vez mais sistemas complexos compostos por diversos departamentos e profissões, tornando-as sobretudo uma organização de pessoas confrontadas com situações emocionalmente intensas, tais como a vida, doença e morte, as quais podem causar ansiedade e tensão física e mental. Sendo o hospital uma organização formal e institucionalizada de prestação de serviços, a sua primordial função é a prestação de cuidados diferenciados aos utentes com um forte envolvimento das tecnologias.

O centro hospitalar situado no norte do País, assume como Missão, de acordo com o seu regulamento interno, prestar cuidados de saúde diferenciados, com qualidade e eficiência, em articulação com outros serviços de saúde e sociais da comunidade, apostando na motivação e satisfação dos seus profissionais, com um nível de qualidade, efectividade e eficiência elevadas. Faz igualmente parte da sua missão o ensino pós-graduado e o desenvolvimento das funções de formação consideradas necessárias ao desenvolvimento dos colaboradores através da investigação e do desenvolvimento científico em todas as áreas das ciências da saúde.

O referido centro hospitalar é constituído por quatro unidades hospitalares e uma unidade de cuidados continuados integrados. Possui a lotação de 645 camas de internamento e enquanto hospital central, possui as mais diversas valências, excepto neurocirurgia e cirurgia cardiotorácica.

(36)

O centro hospitalar, classificado como hospital central, possui um departamento de emergência e cuidados intensivos e intermédios, constituído por um serviço de urgência básica, um serviço de urgência médico-cirúrgica e um serviço de urgência polivalente, distribuídas por três das suas unidades hospitalares. O serviço de emergência, de acordo com o seu regulamento tem como missão assistencial a prestação de cuidados de saúde com níveis de qualidade e eficiência elevados a todos os indivíduos com doença emergente/urgente. De forma a dar cumprimento à missão referenciada, tem-se observado um aumento progressivo das exigências em termos de quantidade e qualidade da intervenção dos profissionais, o que implica um conhecimento aprofundado dos protocolos, que permitam uma actuação de emergência sem planeamento prévio dos cuidados. Por outro lado, devido à pressão da procura do serviço de emergência, os profissionais frequentemente ficam impossibilitados de realizar períodos de descanso programado durante o trabalho, tornando difícil perspectivar uma vida profissional equilibrada, a que se acresce o facto de que por vezes as condições ambientais não serem as mais adequadas.

Dado os condicionalismos atrás descritos, podemos afirmar que poderão estar criadas as potenciais condições para se observarem níveis de burnout cada vez mais elevados. Por isso, os gestores devem adoptar as medidas proactivas que permitam minimizar os factores condicionantes de situações que desencadeiem stresse no trabalho, de modo a evitar consequências quer individuais, quer organizacionais, que resultam do síndroma de burnout. Assim, é fundamental a adopção de uma atitude positiva na gestão dos factores que podem desencadear stresse, tendo em conta o bem-estar dos colaboradores e a manutenção de um relacionamento baseado nos principios éticos (Turner, Hulmann & Keegan, 2008).

É neste enquadramento que as organizações devem assumir um papel relevante, fomentando uma cultura de capacitação dos colaboradores, gerindo os recursos humanos, orientando-os para a avaliação de processo e para a mudança organizacional, bem como para o cliente inserido nos seus grupos socio-familiares.

Consciente da necessidade de melhorar o seu desempenho e garantir a qualidade de cuidados, o centro hospitalar em causa, iniciou um processo de acreditação em 2003, de acordo com os standards da Joint Commission International. Trata-se de forma

(37)

genérica de um processo em que uma entidade exterior e distinta à organização de saúde, procede a uma avaliação para determinar a conformidade a um conjunto de normas e requisitos destinados a melhorar a qualidade dos cuidados. Para o efeito, foi necessário proceder à elaboração e adequação de normas de procedimentos e protocolos de actuação, de acordo com as guidelines internacionais e a evidência científica, o que permitiu uniformizar procedimentos de actuação e assegurar a segurança dos cuidados, num contexto organizacional marcado pela intervenção multiprofissional e altamente diferenciada científica e tecnologicamente. Este processo, iniciado de forma voluntária, demonstra um compromisso visível de uma organização que se preocupa com a melhoria contínua e sustentada da qualidade, e com a garantia de um ambiente seguro para os utentes e colaboradores.

Um dos principais activos de uma organização, são os seus recursos humanos. Estudos realizados nos últimos anos demonstram que os recursos humanos contribuem significativamente para o sucesso da organização e são o motor do seu desenvolvimento (Delaney & Godard, 2001). Daí a importância que a gestão dos recursos humanos desempenha na organização, pelo que é essencial os funcionários executarem as suas tarefas de forma eficiente e eficaz. Para o efeito, a organização deve dispor de mecanismos que permita: i) formar os colaboradores de forma a permitir a aquisição de conhecimentos, competências e capacidades; ii) motivar os colaboradores para utilizar as suas capacidades em beneficio da organização (Yongmei Liu et al., 2007).

Quando os colaboradores só conhecem as rotinas do trabalho, não conseguem contribuir para a organização mais do que com a realização das suas tarefas. E mesmo quando lhes é permitido ultrapassar as situações de rotina, provavelmente não o farão se não forem devidamente motivados. É portanto fundamental que a gestão dos recursos humanos tenha como prioridade motivar e facilitar o desempenho dos seus colaboradores por forma a aumentar a produtividade e a satisfação profissional.

À relação problemática entre o indivíduo e a situação que este vive está inerente o conceito fundamental de stresse. Quando aplicado ao burnout, esta abordagem propõe que quanto o maior desajustamento entre o indivíduo e o trabalho, maior a probabilidade de burnout. Assim, Maslach e Goldberg (1998) especificam as seis situações em que este pode ocorrer: 1) sobrecarga de trabalho (excesso de tarefas a

(38)

desempenhar); 2) falta de controle (quando as pessoas têm pouco controle sobre o trabalho que fazem); 3) recompensa insuficiente (quer a nível económico, quer a nível emocional); 4) isolamento da equipa (perda da ligação positiva com os outros elementos da equipa); 5) ausência de equidade (resulta quando a sensação de justiça não é percebida no local de trabalho); 6) conflito de valores (ocorre quando à um desajustamento entre a exigência do trabalho e os princípios do indivíduo).

O reconhecimento destas seis áreas em que não se verifica a adequação entre o indivíduo e o trabalho aumenta o leque de opções de intervenção dos gestores no âmbito das medidas de prevenção. Assim, a sobrecarga de trabalho pode ser minimizada se o foco de atenção se centrar em alguns dos outros desajustamentos, por exemplo, as pessoas podem ser capazes de tolerar maiores cargas de trabalho se sentirem que o trabalho é valorizado, que estão a fazer algo importante, ou então que estão a ser recompensados pelo seu esforço. Acreditamos, que o potencial desta abordagem é muito mais promissor como estratégia para lidar com o burnout em contexto de trabalho.

6

. C

ONTEXTO DO

E

STUDO

:

S

ERVIÇOS DE

U

RGÊNCIA

/U

NIDADES DE

C

UIDADOS

I

NTENSIVOS

Os Serviços de Urgência integram a primeira linha de acesso aos cuidados de saúde. É o local onde ocorrem todos os utentes, desde os que têm uma simples síndroma gripal, às situações mais graves e que colocam em risco a vida dos utentes. Com atendimento disponibilizado 24 horas por dia e 7 dias por semana, estes serviços são lugares geradores de stresse por excelência, dadas as suas peculiares características, nomeadamente:

 Pressão do tempo e intervenções urgentes;

 Impossibilidade de realizar períodos de descanso programável durante o trabalho;

 Falta de condições ambientais (espaço, luz, decoração, climatização);

 Exigência de um conhecimento profundo sobre protocolos, que permita uma actuação de emergência sem planeamento prévio dos cuidados;

(39)

 Responsabilidade civil e criminal associada à prestação de cuidados em situações

de grande complexidade;

 Exposição permanente a situações de contínuo risco e perigosidade;

 Aumento progressivo das exigências em termos de quantidade e qualidade da

actuação profissional;

 Aumento contínuo da pressão social, que promove nos utentes uma permanente

atitude crítica com a actuação dos profissionais de saúde dos serviços de urgência a ser o alvo de todas as falhas do sistema de saúde.

Portanto, restam poucas dúvidas, para que não se considerem os serviços de urgência como verdadeiros ambientes potenciadores de factores de risco para o aparecimento do chamado síndroma de burnout (Vaquera, Rabazo Méndez & Bartolomé, 2004). Se por um lado, as unidades de cuidados intensivos são serviços mais organizados do ponto de vista de planeamento e gestão de cuidados, por outro, são serviços onde diariamente a tecnologia de ponta é amplamente utilizada em doente graves que necessitam das mais variadas técnicas de manutenção e suporte de vida. Acresce a este contexto de cuidados, a pressão constante do dia-a-dia de trabalhar com utentes em risco eminente de vida. Queirós (1998), ao estudar um grupo de enfermeiros de cuidados intensivos, identificou um nível de burnout mais elevado nas componentes “exaustão emocional” e “despersonalização” e paradoxalmente “realização pessoal”.

Em jeito de síntese, reafirmamos que as unidades de saúde que prestam cuidados a doentes agudos (urgências e cuidados intensivos), pelas características intrínsecas já referidas por Queirós (1998), são locais para uma maior probabilidade dos seus profissionais desenvolverem o síndroma de burnout.

(40)

P

ARTE

II

(41)

A metodologia é um conjunto de actividades sistemáticas e racionais com a finalidade de rentabilizar recursos humanos, materiais e de tempo, servindo de orientação para alcançar os objectivos deliniados. É uma etapa essencial no desenvolvimento de um estudo de investigação, permitindo ao investigador imprimir rigor metodológico à investigação e responder às hipóteses formuladas. Nesta parte, pretendemos explicitar as hipóteses de investigação, as razões que suportam a realização deste estudo e aspectos inerentes ao desenho do estudo, população, variáveis do estudo e análise estatística.

1.

H

IPÓTESES DE

I

NVESTIGAÇÃO

Após a identificação do problema e realizada a pesquisa bibliográfica, a formulação das hipóteses apresenta-se como um aspecto fulcral do estudo.

Segundo Marconi e Lakatos (1996), hipótese “…é uma preposição que se faz na tentativa de verificar a validade de resposta existente para um problema. É uma suposição que antecede a constatação dos factos e tem como característica uma formulação provisória, deve ser testada para determinar sua validade” (p. 26).. Acrescentam que a sua função na pesquisa científica “…é propor explicações para certos factos e ao mesmo tempo orientar a busca de outras informações. (...) formulada de tal maneira que possa servir de guia na tarefa de investigação” (p. 26).

Nas considerações apontadas pelas autoras, formulamos como hipóteses:

H1 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre os sexos, quanto ao

síndroma de burnout.

H2 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre a existência ou não de

filhos, quanto ao síndroma de burnout.

H3 – Existem diferenças estatisticamente significativas de acordo com os serviços onde

(42)

H4 – Existem diferenças estatisticamente significativas de acordo com o numero de anos

de trabalho por turnos, quanto ao síndroma de burnout.

H5 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre o tipo de vínculo laboral,

quanto ao síndroma de burnout.

H6 – Existem diferenças estatisticamente significativas entre o tempo médio de

deslocação de casa ao trabalho, quanto ao síndroma de burnout.

H7 – Existe relação estatisticamente significativa entre o número de utentes atendidos

por dia e o síndroma de burnout.

H8 – Existe relação estatisticamente significativa entre os factores antecedentes de

burnout e o síndroma de burnout.

H9 – Existe relação estatisticamente significativa entre os factores antecedentes e as

dimensões que constituem o síndroma de burnout.

2

.

J

USTIFICAÇÃO DO

E

STUDO

Qualquer investigação tem o seu início com a escolha de um domínio particular de interesse para uma questão de investigação que poderá ser estudada (Fortin, 2009), corroborado por Quivy e Campenhoudt (1992), ao referirem que “o primeiro problema que se põe ao investigador é muito simplesmente o de saber como começar bem o seu trabalho” (p. 29). Confrontados perante a necessidade de efectuar um projecto e consequente dissertação, colocou-se-nos de imediato um problema: o que investigar? Encontrando-nos a frequentar um Curso de Mestrado em Gestão de Serviços de Saúde, e tendo como referência a Gestão da Higiene e Segurança e Saúde no Trabalho, optamos por escolher para temática a desenvolver na dissertação a prevalência de

burnout nos enfermeiros.

As transformações ocorridas nas organizações introduziram várias alterações na gestão das organizações de saúde, salientando-se as tecnologias de informação, os estilos de

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Figura 2. Modelo geral explicativo de burnout   (Maslach & Goldberg,1998, p. 65).
Tabela 1. Distribuição dos enfermeiros segundo as características sóciodemográficas
Tabela 2. Distribuição dos enfermeiros segundo as características profissionais
Tabela 3. Estatísticas descritivas das sub-escalas do Questionário Breve de Burnout
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Referências

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