CONSELHO EDITORIAL DA COLEÇÃO CIBERCULTURA
Adriana Amaral André Lemos
Alex Primo Clóvis Barros Filho
Denize Araújo Erick Felinto Fernanda Bruno Francisco Menezes Juremir Machado da Silva
Luis Gomes Paula Sibilia Raquel Recuero Simone Pereira de Sá Vinicius Andrade Pereira
© André Lemos, 2002 Capa: Mari Fiorelli Foto: Afonso Jr.
Projeto gráfico e editoração: Daniel Ferreira da Silva Revisão: Caren Capaverde
Editor: Luis Antônio Paim Gomes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação ( CIP ) Bibliotecária Responsável: Ginamara Lima Jacques Pinto CRB 10/1204
L557c Lemos, André
Cibercultura: tecnologia e vida social na cultura contemporânea / André Lemos. – 7. ed. — Porto Alegre: Sulina, 2015.
295 p. – (Coleção Cibercultura) ISBN: 978-85-205-0577-9
1. Sociologia. 2. Cultura – Mídia. 3. Cibercultura. 4. Tecnologia da Informação. I. Título.
CDD: 301.243
CDU: 316
Todos os direitos desta edição reservados à Editora MEridional ltda.
Av. Osvaldo Aranha, 440 cj. 101 Cep: 90035-190 Porto Alegre-RS Tel: (051) 3311-4082
www.editorasulina.com.br e-mail: sulina@editorasulina.com.br
{Janeiro/2015}
5
AgrAdecimento
Este livro é uma adaptação da minha tese de doutorado em So-ciologia defendida em 1995 na Université René Descartes, Paris V, Sorbonne, e aprovada pelos professores André Akoun, Pierre Fouge-rollas e Pierre Lévy, sob a orientação do sociólogo Michel Maffesoli. Sem a sua orientação e os trabalhos do Groupe de Recherche sur la Technique et le Quotidien (GRETECH), criado por mim em 1993 no Centre d’Etudes sur l’Actuel et le Quotidien (CEAQ/ParisV, Sorbonne), este trabalho não chegaria a seu término. Agradeço aos colegas do CEAQ pelo ambiente de pesquisa e camaradagem. A pesquisa foi enriquecida pela minha experiência como professor da Faculdade de Comunicação da UFBA e como bolsista do CNPq. Agradeço, assim, aos colegas da Faculdade de Comunica-ção, especialmente aos membros do Ciberpesquisa (Centro de Estu-dos e Pesquisa em Cibercultura), pelo amadurecimento profissional e pelo excelente ambiente de diálogo, criticismo e sinceridade que eles me proporcionaram, e ao CNPq pela ajuda financeira através de bolsas de doutorado e de pesquisa.
Este livro reflete a minha experiência pessoal entre 1991 e 1995 em Paris, e em docência e pesquisa na Facom/UFBA, de 1996 até hoje. Aparecem aqui os resultados da pesquisa “A cibercultura no Brasil”, em andamento com apoio do CNPq, entre 1997 e 2000. Agradeço também a Greice Menezes e a Messias (brincando de deus) Bandeira pela ajuda na revisão do texto, e a Irene Piñeiro que me suportou durante o período de preparação da tese.
Sumário
Apresentação 9
Uma perspectiva vitalista sobre a cibercultura, por Pierre Lévy 12 Cibercultura, primeira aproximação 15
Parte 1- Técnica e tecnologia 23
Capítulo I 25
Capítulo II – O fenômeno tecnológico através da história 39
Parte II - A vida social contemporânea 59
Capítulo I – Condição pós-moderna e cibercultura 61
Parte III - A cibercultura 99
Capítulo I – O nascimento da cibercultura: a microinformática 101 Capítulo II – As estruturas antropológicas do ciberespaço 127 Capítulo III – Realidade virtual 154
Capítulo IV – Corpo e tecnologia 161
Capítulo V – Cyberpunk: atitude no coração da cibercultura 185 Capítulo VI – A rua e a tecnologia. Os cyberpunks reais 199 Capítulo VII – O espírito da cibercultura: entre apropriação,
desvio e despesa improdutiva 237
Capítulo VIII – O imaginário da cibercultura. Entre neoluddismo,
tecnoutopia, tecnorrealismo e tecnossurrealismo 246 Conclusão: Cibercultura 256
9
Apresentação
Quando comecei a escrever este livro, a Internet estava ainda engatinhando. Estávamos em 1991, na França. Buscava compreender, sob o prisma da filosofia da técnica e da sociologia do cotidiano, o surgimento da cultura digital. O meu interesse foi dirigido, em primeiro lugar, ao underground da microinformática, povoado por personagens como phreakers, hackers e crackers e pelas primeiras comunidades virtuais. Aos poucos, a cibercultura ia se tornando um fenômeno mundial e os primeiros estudos apareciam sobre chats, MUDs, BBSs, vírus, hipertexto (Gopher e depois a web e os navegadores Mosaic, Nestcape), games, “Newsgroups” da Usenet... É interessante observar que, para os que adentram agora a cultura digital, muitos desses termos não significam nada. O mundo digital estava se configurando como uma Cultura – com “C” maiúsculo – e não como um universo de nerds e hackers. A França era, na época, o país do Minitel. Compreendi que um fenômeno maior se desenhava. Este livro é fruto dessa observação e foi um dos primeiros a tratar de forma ampla e profunda a cibercultura.
A velocidade das mudanças é vertiginosa. Na época em que comecei a escrever este livro, não havia Wikipedia, Blogs, Orkut, Facebook, Twitter, Google... Não havia Web 2.0, não havia computação nas nuvens, não havia redes P2P e torrents, e a primeira versão do Linux estava apenas nascendo. Os games estavam migrando dos consoles para as redes. As relações sociais aconteciam nas “comunidades virtuais”, hoje chamadas de “redes sociais”. O corpo estava em xeque com o pós-humanismo dos “extropians” e ciborgues. O debate ficava enredado, como ainda o é hoje, entre pessimismo e otimismo em um momento de muita dúvida, excitação e medo. Era a última década do século XX. O imaginário do futuro, do século XXI, estava ficando distante daquele de robôs, máquinas voadoras ou do “Big Brother”. A microinformática em rede era Dionísio dançando com Apolo. Os telefones celulares ainda não faziam parte do nosso cotidiano,
10
muito menos os de tipo “inteligente”, com multifunções e acesso à Internet. Tablets eram apenas sonhos fracassados em “Dynabooks” e “Newtons”. Não falávamos de “transmídia” ou “crossmídia”, mas de “multimídia”, interatividade e hipertextos. Agora falamos de mobilidade informacional, nuvens, Big Data, aplicativos, mídias locativas e Internet das coisas.
Hoje essa cibercultura já faz parte do nosso cotidiano e podemos dizer que, mesmo em graus diferenciados de potência de acesso e uso de equipamentos, ela é uma realidade na maioria dos países. Alguns sugerem que falar em ciberespaço, ou Internet, nem faça mais sentido. Estamos caminhando para a ubiquidade total das redes e para o seu “desaparecimento”, para o seu retraimento em um fundo de coisas conectadas e mineração de dados. A nuvem do Big Data paira sob nossas cabeças e age sob o nosso futuro. Grandes empresas ameaçam a privacidade e o anonimato, transformando as relações on-line em valor financeiro. Não é à toa que passamos das comunidades virtuais anônimas e temáticas da Usenet para as redes sociais pessoais em grandes condomínios empresariais, como o Facebook, o Orkut ou o Twitter. Vivemos uma crise de modelos culturais: a cultura de massa industrial foi abalada pela cultura pós-massiva dos novos produtos e serviços da cultura digital contemporânea. O usuário é também produtor e distribuidor (e não apenas consumidor) nessa atual “remediação” cultural.
Terminei este livro no final de 1995. Estava escrito em francês. Levei mais alguns anos para traduzi-lo, modificando aos poucos os capítulos, atualizando algumas partes. Agora ele chega à sua 6ª edição, com milhares de exemplares. O livro ganha uma dimensão histórica, mas vai além. Discutimos conceitos e princípios e, nesse sentido, ele não envelheceu. Mais do que nunca, uma compreensão em perspectiva da cibercultura é fundamental. Um dos problemas da prática e da crítica da cultura digital contemporânea vem do esquecimento de sua história.
A tese de fundo continua válida: a cibercultura é uma sinergia entre a vida social e os dispositivos eletrônicos e suas redes telemáticas. Os dispositivos mudam, as associações entre humanos e não humanos, que formam esse social, também. Para a compreensão das associações atuais, precisamos efetivamente ver os seus rastros. Tudo começa com o surgimento da Internet em 1969 e com a microinformática em 1975, mas a cibercultura ganha importância na década de 1990, quando escrevi este livro.
11
Insistimos que essa cultura não é fruto de um determinismo social, assim como também não é consequência de um tecnodeterminismo. Trata-se de um processo híbrido em que, nas tramas da vida em sociedade, humanos e seus artefatos fazem desenrolar o destino.
Nos diversos aspectos aqui analisados, o leitor encontra algumas chaves para compreender o que acontece agora. A cibercultura não é um domínio à parte da cultura, uma esfera independente de usuários de computadores ou de nerds afastados do mundo real. A Matrix, como um mundo eletrônico, virtual, à parte, nunca existiu e agora parece mesmo estar definitivamente soterrada. Falávamos disso na década de 1990. Insistíamos na relação próxima entre vida cotidiana e cibercultura, práticas urbanas e espaço digital. Nunca houve um ciberespaço descolado da vida real. A cibercultura está inscrita no nosso dia a dia, presente em todas as atividades, sejam elas de trabalho, lazer ou vida privada. Se antes se pensava em áreas específicas em tensão (a técnica, a sociedade, a cultura, a comunicação...), agora a cibercultura é o mundo.
André Lemos Salvador, janeiro de 2013.