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da imigração japonesa no Brasil de 1992; e, Resistência & integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil de 2008.

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TÍTULO

Os japoneses em textos comemorativos dos aniversários da imigração para o Brasil: um estudo sobre quem é classificado como membro da comunidade japonesa

RESUMO

Será avaliado em textos comemorativos do aniversário da imigração japonesa no Brasil quem são as pessoas contabilizadas como a comunidade de imigrantes e descendentes. A apresentação de estatísticas é parte integrante do discurso de exaltação das qualidades dos japoneses e de suas colaborações à população local de brasileiros. Nem sempre ficam claros os critérios utilizados para se definir quem é o japonês mostrado nos dados demográficos e quando há a preocupação em se descrever as premissas, não costuma haver um debate sobre as vantagens e desvantagens para tais escolhas ou os motivos para a decisão. Em meio à celebração se esquece a profundidade exigida no uso das ideias de geração e de coorte, conceitos caros aos demógrafos em geral. Isso influencia a percepção da representatividade quantitativa dos japoneses no Brasil, além de enviesar as análises culturais e socioeconômicas decorrentes destas definições. Por serem os textos comemorativos escritos muitas vezes por membros da própria comunidade, este trabalho constitui-se um apelo para a reflexividade em pesquisa social.

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INTRODUÇÃO

Ryder (1965) postula que toda sociedade tem pretensões de uma continuidade que transcende seus membros. Isso implica em uma constância no campo material, devido ao fato de ela ser formada por indivíduos, e também em uma estabilidade e previsibilidade no campo das ideias, por sua dependência do senso de pertença a um grupo específico. Migrações, nascimentos e óbitos têm relação direta com a manutenção do “metabolismo demográfico” proposto por Ryder (1965, p. 843), “o massivo processo de reposição de membros” em uma sociedade. No processo de socialização e controle social através do qual novos membros são incorporados, há necessidade de se reforçar aquilo que dá sentido à união, ainda que ao longo da sucessão das coortes mudanças sociais se estratifiquem e a heterogeneidade interna implique em uma tensão permanente. Novos significados e novos padrões de comportamento se observam em uma população que ainda se diz ser a mesma de tempos longínquos, mesmo que gerações já tenham se passado desde os membros originais.

Uma comunidade de imigrantes tem como referência cultural um deslocamento, ainda que apenas uma geração dita pioneira tenha participado de tal evento e o grupo seja formado também por seus descendentes. No caso dos japoneses no Brasil não foi diferente. Nem toda a comunidade estava presente no navio Kasato Maru em 1908, mas a chegada deste navio ao porto de Santos é utilizada como marco do início da formação do estrato populacional. Aniversários da comunidade são realizados anualmente e as características distintas da comunidade são avaliadas e reavaliadas em textos comemorativos carregados de emoção. Os dados apresentados em tais documentos exigem atenção para serem analisados tanto pela complexidade da definição do que é ser um japonês no Brasil, quanto pelas possíveis decorrências desta formulação.

MÉTODOS

O método é a análise crítica de estatísticas demográficas contidas em documentos representativos celebrando a imigração japonesa. Em particular, será avaliado quem foi contabilizado na população dita de “japoneses” no Brasil. As obras incluem “Brasil e Japão: Duas civilizações que se completam” de 1934 publicado em comemoração aos 25 anos de imigração; o censo da imigração japonesa de 1958 conhecido como “The Japanese Immigrant in Brasil”; “Uma epopeia moderna: 80 anos

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da imigração japonesa no Brasil” de 1992; e, “Resistência & integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil” de 2008.

RESULTADOS

Uma certa Taxa de Fixação é usada por Nobutane Egoshi, engenheiro-chefe da seção agrícola do consulado do Japão em São Paulo, para hierarquizar grupos imigrantes nas comemorações dos 25 anos de imigração japonesa em 1934. A Taxa é obtida do quociente do saldo migratório pelo número de imigrantes calculados a partir de entradas e saídas do porto de Santos entre 1908 e 1932. Não se discutem outras formas de entrada e saída do país e assume-se que a simples persistência dos japoneses em território brasileiro já satisfaz como argumento exaltador. A Taxa para os japoneses seria de 92%, enquanto para italianos seria de 13%, por exemplo (EGOSHI, 1934, p. 60). Alfredo Ellis Jr., ex-deputado estadual de São Paulo, também assina um capítulo em que apresenta uma tabela com a porcentagem de óbitos de japoneses em relação ao total de óbitos no estado de São Paulo (ELLIS JR., p. 272). 0,5% do total de óbitos no estado de São Paulo seria de japoneses. Óbitos por causa também são apresentados utilizando o mesmo raciocínio. O indicador não-normalizado de mortalidade não permite isolar o efeito do tamanho da comunidade de japoneses em relação à população do estado como um todo. “Por ele fica bem demonstrado não ter o japonez nenhum ponto fraco”, diz Ellis Jr (1934, p. 272). As estatísticas são utilizadas apenas como complementos nos textos dos 25 anos, entretanto, em nenhum momento há a preocupação em se definir claramente quem são exatamente estes japoneses sendo contabilizados, fala-se de forma genérica em imigrantes e suas famílias.

O censo da imigração japonesa de 1958 representou um salto em relação à quantidade e qualidade das estatísticas populacionais sobre a comunidade dos japoneses e descendentes no Brasil (COMISSÃO DE RECENSEAMENTO DA COLONIA JAPONESA NO BRASIL, 1964; SUZUKI, 1965, 1969). Ainda assim há espaço para críticas. A população recenseada é nomeada simplesmente “japonesa” através do documento: “The proposed census was to include the entire population of Japanese immigrants and their descendants, referred to throughout as the ‘Japanese population’ or simply, ‘Japanese’” (SUZUKI, 1969, p. 3). Entretanto, a separação entre japoneses e descendentes foi crucial na análise dos dados e na preparação dos

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questionários de pesquisa, principalmente nos trechos em que se discute uma suposta perda de raízes e a integração cultural dos descendentes aos costumes brasileiros.

O glossário define “japonês” da seguinte forma: “Persons born in Japan or persons of Japanese origin born in other countries of jus sanguinis as well as persons born in other countries of jus soli who have adopted Japanese citizenship” (Ibid., p. 271). “Descendentes” são definidos como “a person of Japanese origin born in Brazil. Includes second, third and fourth generation” (Ibid., p. 265). A ideia de “geração”, necessária para elucidar o que é um “descendente” no censo de 1958, é mais complexa e induz a ressalvas importantes na interpretação dos resultados (Ibid, p. 267). Quando famílias integradas por pais e filhos migravam em conjunto eram consideradas de primeira geração; se estes pais tivessem outros filhos no Brasil, estes seriam de segunda geração. Os filhos de casais compostos por um homem e uma mulher de gerações diferentes foram enquadrados na geração seguinte daquela mais recente entre o casal, ou seja, se o pai é da primeira geração e a mãe da segunda, a criança dos dois seria da terceira. No mais, filhos de casais de japoneses e não-descendentes eram classificados como não-não-descendentes e excluídos da análise mais detalhada.

Nakasumi e Yamashiro (1992) utilizam-se dos dados do censo de 1958 para descrever a história do comunidade japonesa em seu texto comemorativo dos 80 anos da imigração. Dados de 1977 obtidos a partir da JICA (Japan International Cooperation Agency), posteriores ao censo, são apresentados em uma tabela diferenciando: “longa permanência”; as pessoas de nacionalidade japonesa; e, os isseis naturalizados, niseis e sanseis (Ibid, p. 425). Longa permanência se refere ao visto obtido por funcionários japoneses de matrizes de empresas japonesas estabelecidas no Brasil que passam alguns anos na filial brasileira e depois retornam ao Japão. Isseis, niseis e sanseis são as palavras japonesas para primeira, segunda e terceira geração. Novamente, não há a preocupação em se definir quem é esta população recenseada.

Pereira e Oliveira (2008) em comemoração aos 100 anos de imigração tratam como japoneses aqueles que possuem a nacionalidade japonesa e acrescenta a estes os japoneses que se naturalizaram brasileiros. Utilizam-se dos censos demográficos de 1920 a 2000 para traçar a trajetória desta população de imigrantes. Rejeita-se a parte da comunidade formada por filhos, netos e bisnetos de japoneses. Beltrão, Sugahara e Konta (2008), na mesma obra, assumem uma proxy para a

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“comunidade nikkey” (de japoneses e descendentes). Foram considerados japoneses os integrantes de domicílios em que “morava pelo menos um indivíduo que se autodeclarou amarelo, ou que nasceu no Japão, ou, ainda, que declarou um movimento migratório (o último ou de data fixa – 5 anos) com origem no Japão. Foram retirados deste grupo os domicílios com indivíduos – ainda que autodeclarados amarelos – que se declararam nascidos em outros países asiáticos (China, Taiwan e Coréia) ou com um movimento migratório destes mesmos países” (Ibid, p. 58). Ignoram-se as intensas relações culturais, econômicas e o passado de guerras e dominação entre os países do Leste asiático que levaram a um fluxo de pessoas. Por exemplo, o Japão anexou Taiwan em 1895 e as Coréias em 1910 (ICHIHASHI, 1931).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELTRÃO, K. I.; SUGAHARA, S.; KONTA, R. Vivendo no Brasil: características da população de origem japonesa. In: Resistência & integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil. Rio de Janeiro : IBGE, 2008, pp. 54-71.

COMISSÃO DE RECENSEAMENTO DA COLONIA JAPONESA NO BRASIL. The Japanese Immigrant in Brazil. Tóquio: The University of Tokyo Press, 1964.

EGOSHI, N. O trabalho e a producção agrícola do japonez em São Paulo. In: DIÁRIOS ASSOCIADOS. Brasil e japão: Duas civilizações que se completam. São Paulo: Revista dos Tribunaes, 1934, pp. 59-61.

ELLIS JR., J. O japonez. In: DIÁRIOS ASSOCIADOS. Brasil e japão: Duas civilizações que se completam. São Paulo: Revista dos Tribunaes, 1934, pp. 267-81. ICHIHASHI, Y. International Migration of the Japanese. In: WILLCOX, W. F. International Migrations, v. 2: Interpretations. Nova Iorque: National Bureau of Economic Research, 1931, pp. 617-36.

NAKASUMI, T.; YAMASHIRO, J. O fim da era de imigração e a consolidação da nova colônia Nikkei. In: COMISSÃO DE ELABORAÇÃO DA HISTÓRIA DOS 80 ANOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NO BRASIL. Uma epopeia moderna: 80 anos da imigração japonesa no Brasil. São Paulo: HUCITEC: Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, 1992, pp. 417-458.

PEREIRA, N. de O. M.; OLIVEIRA, L. A. P. Trajetória dos imigrantes japoneses no Brasil: Censo Demográfico 1920/2000. In: Resistência & integração: 100 anos de imigração japonesa no Brasil. Rio de Janeiro : IBGE, 2008, pp. 32-53.

RYDER N. B. The Cohort as a Concept in the Study of Social Change. In: American Sociological Review, 1965, v.30, n.6, pp. 843-61.

SUZUKI, T. Japanese Immigrants in Brazil. In: Population Index, v. 31, n. 2, 1965, pp. 117-138.

SUZUKI, T. (Ed.) The Japanese Immigrant in Brazil – Narrative Part. Tóquio: The University of Tokyo Press, 1969.

Referências

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