• Nenhum resultado encontrado

AS ORÍGENS E A HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARTE I

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "AS ORÍGENS E A HISTÓRIA DA MAÇONARIA PARTE I"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

AS ORÍGENS E A HISTÓRIA DA MAÇONARIA

JOSÉ EVERALDO ANDRADE SOUZA

MESTRE-MAÇOM DA LOJA ELIAS OCKÉ N° 1841

FEDERADA AO GRANDE ORIENTE DO BRASIL – RITO BRASILEIRO ORIENTE DE ILHÉUS – BAHIA.

PARTE I

Oficialmente a Maçonaria surgiu em 1717 na Inglaterra e logo se espalhou pelo mundo inglês colonizado. No entanto, essa data se refere à Maçonaria Moderna. Historicamente a orígem da Maçonaria antecede a nossa contagem de tempo cristã. Se não, vejamos.

Diferentes fontes de pesquisa citam que por volta de 4 mil anos antes de Cristo, quando o mestre-construtor Hiram Abiff (vindo de Tiro) ergueu um templo para o rei Salomão, já havia o ideal maçom entre os operários. Conta-se também que Hiram Abiff era membro de uma antiga sociedade, a Artífices de Dionísio, na qual usavam sinais e senhas secretas e se dedicavam a ajudar os pobres. Ele deve ter se sentido em casa, pois entre os pedreiros havia membros de outra sociedade conhecida sua: a dos Jônios. Todos que vieram trabalhar no Templo de Salomão sabiam usar a Geometria Sagrada.

Findo o trabalho no templo, os Artífices de Dionísio passaram a denominar Filhos de Salomão e adotaram o selo (estrela de seis pontas ou dois triângulos sobrepostos) como insígnia (que depois virou o esquadro e o compasso sobrepostos). Os que ficaram em Israel fundaram uma corporação de artesãos chamada Cassidens – que mais tarde se tornariam os Essênios.

Outros pesquisadores focam a orígem da Maçonaria nos colégios fundados pelo segundo rei de Roma: Numa Pompílio (714-674aC) que sucedeu o rei Rômulo. O sabino Numa Pompílio era um homem justo que se preocupava com a agricultura e a religião. Criou leis de segurança e reformou o calendário romano para 12 meses. Foi o primeiro a organizar os artesãos de Roma distribuindo-os em corporações as quais chamou de “Collegia Fabrorum”. Cada um dos nove colégios tinha seus próprios regulamentos e aceitava artesãos de uma determinada profissão (ourives, sapateiros, carpinteiros). Por onde as legiões romanas passavam destruindo, por causa das guerras de conquista, os collegiatti iam atrás construindo e reconstruindo

Conta a tradição que o Imperador Augusto (63-14aC) foi grão-mestre do Colégio Romano de Arquitetos e Pedreiros, uma sociedade também estabelecidas em corporações que usavam símbolos baseados nas ferramentas de seu ofício (fio de prumo, compasso, esquadro, e o nível). O Colégio Romano fazia valer rituais iniciatórios baseados no mito pagão da morte e do renascimento. Um templo usado por eles foi achado nas ruínas de Pompéia (soterrada pelo Vesúvio em 71dC). Nas paredes remanescentes da cidade podiam ser vistos o triângulo, a prancha de decalque preta e branca, o fio de prumo, o bastão de peregrino e o manto esfarrapado – símbolos usados na Maçonaria Medieval e depois na Maçonaria Especulativa.

(2)

Na época do Imperador Teodósio (346-395dC) surge a Ordem dos Comancini, fundada por membros do Colégio Romano de Arquitetos e Pedreiros que foram obrigados a fugir dos ataques dos bárbaros e fixaram sua sede na Ilha de Comancina, no Lago Como (Lombardia, norte da Itália). Durante o governo de Teodósio a potência imperial romana foi dividida em duas partes: Império Romano do Oriente e o Império Romano do Ocidente e uma nova era começou.

Os Comancini obtém em 643dC a proteção do rei da Lombardia que lhes concede o controle sobre todos os pedreiros e arquitetos da Itália. A Ordem dos Mestres de Comancini era dividida em lojas governadas por mestres. Os membros usavam aventais e luvas brancas e se reconheciam por meio de sinais e senhas secretas.

(3)

PARTE II

DOCUMENTOS ESCRITOS

Durante a Idade Média, a hoje chamada Maçonaria Operativa ou Maçonaria de Ofício se desenvolveu fortemente, preservando assim a Arte Real entre os mestres construtores da Europa.

Após o século VI o segredo da arte de construir ficou confinada aos conventos, pois as associações monásticas eram formadas por clérigos. Isso deu certa segurança, pois a qualquer ataque bárbaro os artistas e arquitetos se escondiam nos conventos e os segredos estavam salvos.

Surgem então os frades construtores que ensinam leigos e isso gera a formação de confrarias leigas até o século X. Acontece que em 926, o rei Athelstan, após vencer os escoceses, passa pela cidade de York onde se reúne com os Colideus na Catedral de São Pedro. Imediatamente ele proclama um édito para que todos os operários e construtores se reúnam ali para tratar de assuntos pertinentes à associação de construtores, ou seja: reparar os prejuízos que as associações tiveram com as sucessivas guerras e invasões.

York era famosa pelo número de confraria de construtores. Sua fundação remonta a 71dC quando o governador romano da Britânia, Quintus Petillius Cerialis invade a Brigantia (Úmbria) e fixa acampamento entre os rios Ouse e Foos. Com o tempo ergueram no local uma fortaleza que ganhou o nome de Eboracum. O ponto virou cidade, cresceu e tornou-se de grande importância para o Império Romano. Tudo leva a crer que os colegiatti participaram da construção.

Voltando a 926, após a reunião, o príncipe Edwin (filho de Athelstan) concede Carta Constitutiva à Loja de York e se torna o seu primeiro venerável-mestre. A carta (hoje chamada de York) contém um estatuto que deveria ser seguido como lei suprema pela confraria.

Por volta do século XII surgem associações que preparam profissionais: as chamadas Guildas – associações estabelecidas entre as corporações de operários, artesãos, negociantes e artistas.

As guildas tinham um ritual no qual se despejava fora três chavelhos de cerveja: !° Homenageava os deuses; 2° Honrava antigos heróis; 3° Agraciava os parentes e amigos mortos. Após o exótico “brinde” os participantes juravam defender uns aos outros como irmãos.

As reuniões das guildas eram feitas com banquetes, prática repugnada veementemente pela Igreja devido a orígem pagã. Para abrandar os clérigos, cada guilda tinha um santo como patrono.

A Carta de York é o primeiro documento que cita a palavra Loja como designativo de corporação. Outros documentos maçônicos antigos conhecidos são a Carta de Bolonha e o Poema Régio.

O texto da Carta de Bolonha foi redigido em latim por um tabelião sob a ordem do Prefeito da cidade italiana de Bolonha, Bonifacii De Cario, no dia 8 de agosto de 1248. O historiador espanhol, padre Ferrer Benimeli, especializado em Maçonaria, traduziu e comenta: “Tanto pelo aspecto jurídico, quanto pelo simbólico e representativo, o Estatuto de Bolonha de 1248 com seus documentos anexos nos coloca em contato com uma experiência construtiva que não foi conhecida e que interessa à moderna historiografia internacional, sobretudo da Maçonaria, porque situa-se, pela sua cronologia e importância, até agora não conhecida, à altura do manuscrito britânico

(4)

“Poema Régio”, do qual é muito anterior e que até hoje tem sido considerado a obra mais antiga e importante”.

Os Estatutos de Bolonha de 1248 foram seguidos pelos de 1254 – 1256. O fato é que em 1257 decidiu-se a separação entre os Mestres do M uro (pedreiros) e os Mestres da Madeira (marceneiros), que na época eram uma só corporação, apesar de separados nas assembléias, tinham os mesmos Chefes.

A importância do documento procede, pois em 1723, quando James Anderson compilou informações para publicar as Constituições de Anderson, com certeza consultou a Carta de Bolonha.

O Poema Régio (Regius Poem) ou Manuscrito Halliwell (sobrenome de seu descobridor) foi escrito por volta de 1390 em inglês arcaico sobre pele de carneiro. Crê-se que as 64 páginas são cópias de um documento mais antigo. Contém lendas, fatos bíblicos, descrições de artes e normas. O documento cita o rei Athelstan (924-939) que convocou um encontro de operários para definir leis, regras e preços do ofício.

Outros documentos antigos e interessantes sobre a Maçonaria Operativa são: “Preambolo Veneziano dei Taiapiera” (1307); “Manuscrito de Cooke” (1430-1440); “Manuscrito de Estrasburgo” (1488).

As sociedades maçônicas são oriundas então das corporações de construtores da Idade Média. Se não vejamos: a palavra francesa “maçonnerie” e a inglesa “masonry” significam “construção”. Enfim, todas as afirmações estão ligadas certamente à construção que, na verdade, significa a construção de um homem melhor. Havia dois tipos de pedreiros: o rough mason (pedreiro bruto) que trabalhava com a pedra sem dar-lhe forma, e o free mason (pedreiro livre) que detinha o segredo de dar forma à pedra bruta. A pedra bruta simboliza as “arestas” da personalidade queo maçom deve aparar para se aperfeiçoar:. tais arestas são os vícios, a falta da moral e dos bons costumes; enfim, os defeitos humanos.

A máxima milenar “Conhece-te a ti mesmo” (Nosce te ipsum, em latim, e Gnothi seauton, em grego), foi escrita no portal do templo de Apolo, em Delphos, e é atribuída a Sócrates (470aC) que ensinava a seus discípulos. A primeira profissão de Sócrates foi de pedreiro, ofício que aprendeu com o pai, mas depois se dedicou à filosofia. Alegava que a sabedoria começa no reconhecimento da própria ignorância: “Só sei que nada sei!”. Dizia que a “virtude” era a mais importante de todas as coisas. A máxima “Conhece-te a ti mesmo” encontra abrigo na ação do maçom, pois esse conhecimento interior o tornará polido, perfeito (a pedra cúbica).

Muito se fala da diferença entre franco-maçons e maçons. Elucidando a questão, “franco” significa: “desembaraçado”, “livre”, portanto a tradução correta do termo inglês “freemason” é “maçom-livre” ou “franco-maçom”. Os pedreiros medievais trabalhavam com um calcário aplainado ou arenito chamado de cantaria, um tipo de pedra que podia ser cortada sem trincar. Quem trabalhava essas pedras esquadradas era “freestone” (pedreiro-livre ou autônomo).

Em 1375, aparece o o termo “freemason” (franco-maçom). Trezentos anos depois a palavra “free” foi abandonada. Em 1656 a Companhia de Pedreiros de Londres retirou a palavra “free” antes de “maçom”, pois começou a receber membros

não-pedreiros: chamados especulativos, livres ou aceitos. O termo “livre e aceito” foi usado pela primeira vez na The Old Constituitions,

publicada por J. Roberts em 1722 da Sociedade Antiga e Honorável de Maçons Livres e Aceitos. O “aceito” significa que a Fraternidade Interna de Maçons Especulativos, dentro da Companhia de Veneráveis Pedreiros de Londres, aceitava membros operativos por aprendizado ou patrimônio.

(5)

PARTE III

A MAÇONARIA MODERNA

O primeiro registro da palavra “maçom” na Idade Moderna foi feito pelo antiquário e rosa-cruz inglês Elias Ashmole (1617 – 1692) também muito interessado em química e plantas medicinais. Ashmole dedicou-se ao estudo da alquimia e em 1650 publicou o Fascículo Chemicus (sob o pseudônimo de James Hasholle), uma tradução inglesa de dois trabalhos alquímicos latinos. Em 1652 publicou sua melhor obra: Theatrum Chemicum Britannicum, uma compilação de poemas alquímicos em inglês com notas explicativas. Foi membro da Royal Society (1661).

Em 16 de outubro de 1646 Ashmole escreve em seu diário: “Fui feito maçom livre em Warrington, em Lancashire, por Henry Mainwaring (seu sogro), de Karincham, em Cheshire”. Ashmole manteve bom relacionamento com a Ordem, pois em 1682 ainda frequentava reuniões e anotou no diário que em 11 de março participou de um jantar na Mason’s Hall, em Londres.

Nesse período não havia rituais com graus sequenciais na Maçonaria, apenas duas cerimônias impulsionavam o maçom à sua inciação: a Recepção do Candidato e a Passagem do Aprendiz para o grau de Companheiro, aliás, preceitos baseados na Carta de York de 926dC.

A Moaçonaria Moderna surge em 24 de junho de 1717 (Dia de São João Batista). Nesse dia, quatro maçons londrinos que praticavam rituais elaborados (transcritos) por Elias Ashmole, se encontraram na cervejaria Goose & Gridiron de St. Paul, e criaram a Grande Loja da Inglaterra.

Três deles são eleitos grandes vigilantes. O quarto maçom, Anthony Sayer, não era pedreiro, mas era membro da Loja Apple Tree Tavern (hoje Fortitude and Old Cumberland N° 12) e foi empossado como grão-diretor sênior da Grande Loja da Inglaterra.

Durante um tempo a Grande Loja foi usada para o banquete anual das lojas londrinas. Em 1718 Anthony Sayer é sucedido por George Payne.

Sayer passou a ser guardião da Loja Old King Arms n° 28 _ na qual está registrada sua morte em 6 de janeiro de 1742. E em 1719, o clérigo John Theophilus Desaguliers substitui a George Payne. Desaguliers nasceu em La Rochlle (França) em 13 de março de 1683 e faleceu em 29 de fevereiro de 1744 em Londres. Era membro da Royal Society de Londres desde 29 de julho de 1714 na qual recebeu a medalha Copley em 1734, 1736 e 1741, essa última por descobrir as propriedades da eletricidade. Desaguliers ajudou Isaac Newton em suas experiências e fez muito pela Maçonaria. Em 1720 George Payne volta ao cargo e compila os Regulamentos Gerais.

Em 1721 o grão-mestre era John Montagu, o duque de Montagu, aprova os Regulamentos e fica no cargo até 1723 quando é publicado os Regulamentos Gerais ou “Constituição de Anderson” (baseada nos antigos estatutos). O texto foi escrito pelo pastor presbiteriano James Anderson e veio à luz em 24 de junho de 1723. Nesse momento encerra-se o período da Maçonaria Operativa e dá-se início à Moderna (Simbólica). Nessa obra aparece pela primeira vez a palavra landmark, depois suprida por rules (regras). Em 1734 foi editada por Benjamin Franklin (o primeiro livro maçônico impresso na América).

(6)

Então a Grande Loja se firma como corpo regulador dos maçons na Inglaterra. Tal abertura propicia a filiação de membros estrangeiros e as reuniões passaram a ser trimestrais. Ganha autoridade para fazer novos regulamentos ou alterá-los em benefício da Ordem, mas sem mudar os landmarks. Em inglês os landmarks são “pontos de referência”, “marcos”, preceitos antigos e inalteráveis. Trocando em miúdos: é conjunto de princípios que não podem ser mudados – o objetivo é manter a unidade maçônica mundial. Um dos preceitos, por exemplo, é a obrigatoriedade dos maçons filiados crerem num ser superior (O Grande Arquiteto do Universo). O 25° landmark (último) diz que nada poderá ser mudado nos landmarks: Nolumus Leges Mutari!

A palavra “landmark” aparece na Bíblia (Provérbios 22:28): “não remova os antigos marcos que teus pais fixaram” – chamando atenção para os limites da terra marcados com colunas de pedra. Há outra citação da Lei Judaica: “Não remova os marcos vizinhos, eles têm sido usados desde os tempos antigos para definir as heranças”.

Segundo o historiador americano Mark Tabbert, curador de coleções maçônicas, as regulamentações atuais dos landmarks são derivadas das regras medievais dos pedreiros ancestrais.

Se sim ou se não, a classificação dos landmarks foi por feita Albert Gallatin Mackey no artigo “As Fundações da Lei Maçônica” que escreveu para a revista American Quarterly Review of Freemasonry, em 1858. Ele destacava três características básicas: antiguidade imemorial nacional; universalidade; e absoluta irrevogabilidade, que depois ele incluiu em seu livro “Text Book of Masonic Jurisprudence”. Desde então a lista de 25 landmarks foi adotada por várias Grandes Lojas americanas. Mackey foi iniciado em 1841 na Loja Saint Andrews N° 10 (Carolina do Sul). Foi venerável-mestre da Loja Salomon N° 1 (Charleston). Tornou-se Cavaleiro Templário em South Carolina Encampment n° l em 1842 e seu comandante em 1844. Em 1851 foi membro fundador da Loja Landmark N° 76 e grande-secretário de 1842 – 1867 (Carolina do Sul). Morreu em 1881.

A MAÇONARIA SE EXPANDE

Em 1723 a Grande Loja controlava mais de 100 lojas na Inglaterra e País de Gales e autorizou a abertura de lojas em vários países como a Irlanda (1725), França (1728) América do Norte (1733), Escócia (1736), depois Austrália, África e América do Sul.

Na Inglaterra as reuniões eram anunciadas nos jornais locais e havia grande atenção do público. Para atrair leitores, os periódicos publicavam ensaios revelando “segredos maçônicos”. Tamanha publicidade gerou interesse de aristocratas, da nobreza e de profissionais querendo se filiar. Mexeu tanto com as pessoas que o interesse atingiu a realeza. Em 1737 foi iniciado o primeiro maçom de sangue azul: Frederick Louis, filho de rei George II. Frederick (príncipe de Gales e duque de Edinburgo) nasceu em 1° de fevereiro de 1707. Gostava de pintar, patrocinava artistas, se interessava por música e críquete – esporte popular na época e do qual teve um time. Antes de falecer em 31 de março de 1751, doou o Poema Régio ao Museu Britânico.

(7)

PARTE IV

APARANDO AS ARESTAS DA PEDRA

FUNDAMENTAL.

Um pouco antes da morte de Frederick, muitos irlandeses tinham chegado à Inglaterra, a maioria era maçom e enfrentava dificuldades para entrar nas lojas inglesas. Havia certa rusga entre Grande Loja da Inglaterra e as Grandes Lojas da Irlanda e Escócia. Maçons irlandeses e escoceses trabalhando na Inglaterra acusavam a Grande Loja Inglesa de não seguir as práticas outorgadas pela Carta de York de 926dC. Não tendo respaldo, esses maçons estrangeiros acabaram entrando em lojas inglesas não-filiadas a Grande Loja, ou seja: as “independentes”.

No dia 17 de julho de 1751, representantes de cinco dessas lojas independentes se juntaram na Taverna Cabeça do Turco, em Soho, e fundaram a “Grande Loja dos Livres e Aceitos Maçons da Inglaterra de Acordo com as Antigas Instituições” – trocando em miúdos: a Antiga Grande Loja da Inglaterra, cujos membros foram depois chamados de Maçons de Atholl, pois teve como grão-mestre John Murray, o 3° deque de Atholl.

Os Maçons de Atholl, convencidos de que praticavam a mais pura e antiga maçonaria, se intitularam de “Antigos”, e apelidaram os membros da Grande Loja de “Modernos”.

A divisão entre as duas partes gerou polêmica por anos seguidos. Tanto que Benjamim Franklin, membro da Grande Loja da Filadélfia(EUA), ao voltar de uma missão na França em 1785 (onde esteve negociando uma missão militar importante: Tratado de Paris em 1783), soube com surpresa que sua Loja tinha mudado o nome para “Antiga Grande Loja”. Franklin, nascido em Boston em 17 de janeiro de 1706, jornalista, editor, autor, filantropo, abolicionista, funcionário público, cientista, diplomata, inventor, foi iniciado em fevereiro de 1730 na Loja Saint John na Filadélfia; tornou-se grão-mestre em 24 de junho de 1734, e grão-mestre provinciano em Boston em 10 de junho de 1749; foi grão-mestre-provinciano na Filadélfia em junho de 1760; grão-mestre-delegado em 13 de março de 1750 da Grande Loja da Pensilvânia; e segundo venerável-mestre (1779-80, 1782) da Loja das Nove Irmãs (La Loge des Neufs Soeurs) em Paris, da qual fizeram parte Voltaire (cujo nome era François-Marie Arouet) e Danton. Morreu na Filadélfia em 17 de abril de 1790.

O tempo é o Mestre da Paciência.

Mesmo com tais deferenças, as duas Grandes Lojas co-existiram na Inglaterra e também fora dela por 63 anos, mas uma não reconhecia os filiados da outra como sendo maçons regulares. Portanto, havia membros atuando em ambas as Grandes Lojas.

Tanto os Antigos quanto os Modernos tiveram lojas filiais pelo mundo todo. Talvez por isso haja certa variedade nos rituais.

(8)

Arestas aparadas e polidas

Após a Revolução Francesa (1799) vários Atos de Parlamento inglês eram elaborados visando restringir a atuação de sindicatos, clubes políticos e outras organizações “subversivas”. Num desses, o ato “Sociedades Ilegais” de 1799 proibia reuniões de grupos que exigiam de seus membros juramentos ou obrigações. Para dar um fim nisso, o conde de Moira (grão-mestre interino da Grande Loja da Inglaterra) e o duque de Atholl (grão-mestre da Antiga Grande Loja) foram até o primeiro-ministro William Pitt e lhe esclareceram que a Maçonaria comungava com a lei, tinha autorização oficial e só visava obras beneficentes. Tal argumento livrou a Maçonaria dos termos do Ato. No entanto, uma vez por ano, cada secretário de loja deveria fazer uma lista dos membros da loja (idade, profissão e endereço) junto com o escriturário local. Ou seja: um cadastro de controle.

Por fim, em 1809, as duas Grandes Lojas escolheram representantes para acertar uma união. As negociações só se concluíram em 27 de dezembro de 1813 num grande cerimonial no Salão dos Maçons na Grande Loja da Inglaterra. As duas partes aceitaram a criação da Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI) que teria o duque de Sussex como grão-mestre. Augustus Frederick, duque de Sussex, nasceu no palácio de Buckingham em 27 de janeiro de 1773. Era filho de George III e neto de Frederick Louis (apaixonado por críquete). Foi presidente da Society of Arts (1816-1843), presidente da Royal Society (1830-1838) e grão-mestre da primeira Grande Loja. Morreu no palácio de Kensington em 21 de abril de 1843.

A união da lojas foi um momento de consolidação e padronização que fixou a administração básica da Maçonaria – em uso até hoje. Adotou-se também um ritual padrão. As lojas fora da Inglaterra, agrupadas em províncias, seriam lideradas por um grão-mestre-provinciano designado pelo grão-mestre. Uma lista de propósitos gerais foi elaborada para a política interna.

Dois anos depois a GLUI incluiu nas Constituições de Anderson:”Tenha um homem a religião ou forma de culto que tiver, ele não será excluído da Ordem, contanto que acredite no glorioso Arquiteto do Céu e da Terra, e pratique os deveres sagrados de moralidade.”

A partir daí a Maçonaria inglesa se consolidou e expandiu. Os grandes centros urbanos tinham agora fácil acesso devido às estradas de ferro. A comunicação entre a Grande Loja e as lojas das províncias era mais rápida e eficiente. O número de lojas cresceu e a participação efetiva de maçons na comunidade aumentou.

O prestígio aumentou também, principalmente quando Albert Edward, príncipe de Gales, tornou-se grão-mestre da GLUI em 1874. Tal figura entre os membros maçônicos deu grande impulso à Ordem.

(9)

PARTE V

MAÇONARIA INGLESA E A FRANCESA:

ARESTAS A SEREM POLIDAS

A Grande Loja de França nasceu em 1728 e virou o Grande Oriente de França (GOF) em 1738, oficializado em 1773. Adotou o deismo e era tolerante em relação a Deus e a Religião.

A publicação da edição revisada e aumentada das Constituições de Anderson, em 1738, trouxe mudanças. O enfoque deísta (sistema filosófico-religioso ou religião natural) passa a ser teísta (doutrina filosófica que admite a existência de Deus pessoal, primeiro princípio e fim último de tudo que existe).

O deísmo se instalou no pensamento francês. Isso se deve a iniciação de Voltaire na Loja das Nove Irmãs em 1778 que trouxe à elite da maçonaria francesa um conceito de religião natural de cunho deísta (em harmonia com as Constituições de 1723). O rito francês da época não fazia menção a Deus nem a GADU, mas era diante desse último que o iniciando prestava juramento.

Enquanto isso a Maçonaria se expande na França e fundam-se várias Lojas e Capítulos. Foi necessário estabelecer uma doutrina própria dos Altos Graus para cessar a propagação de inúmeros graus e rituais. Em 1782 o GOF cria uma Câmara de Altos Graus e publica uma circular (1784) firmando a reunificação de sete Soberanos Capítulos Rosa-Cruz e criando uma nova instituição: O Grande Capítulo Geral de França, cuja finalidade é ser a “Assembléia Geral de todos os Soberanos Capítulos que existam ou que venham a existir regularmente em França” e que “não afiliará nenhum Soberano Capítulo que não seja portador de constituições outorgadas pelo Grande Oriente de França”. À frente do Capítulo Geral estava Roettiers de Montaleau que faz um estudo dos graus existentes e redigiu um ritual apropriado.

Na Convenção de 1849 o GOF adota a primeira Constituição da Obediência que tinha apenas regulamentos gerais. O 1° artigo reza: “A Maçonaria, instituição essencialmente filantrópica, filosófica e progressista, tem por base a existência de Deus (landmark 19) e a imortalidade da alma (landmark 20); ela tem por objetivo o exercício da beneficência, o estudo da moral universal, das ciências e das artes, e a prática de todas as virtudes. Sua divisa tem sido a de todos os tempos: Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.

O Congresso de Lausanne, realizado em setembro de 1875 na Suíça, objetivava fazer uma revisão da Constituição. Após muita celeuma, em 1877, a Assembléia Geral do Grande Oriente de França eliminou das práticas o conceito de GADU – Grande Arquiteto do Universo e o juramento sobre a Bíblia (landmark 21). Ou seja, não se exigia mais a crença em Deus, por uma questão de respeito à liberdade religiosa e de pensamento – que permitia a filiação de ateístas.

Tal reforma provocou reações. Algumas lojas tradicionais francesas abandonaram o GOF e formaram a Grande Loja Simbólica Escocesa. A Grande Loja Unida da Inglaterra (GLUI) tachou o Grande Oriente de França (GOF) de irregular, pois não seguia as Constituições de Anderson: “Um maçom é obrigado, por dever de ofício, a obedecer a Lei Moral; e se ele compreende corretamente a Arte, nunca será um

(10)

estúpido ateu nem um libertino irreligioso. Apesar de em tempos antigos os maçons serem obrigados em cada País a adotar a religião daquele País ou nação, qualquer que fosse, hoje se pensa que é acertado somente obrigá-los a adotar aquela religião com a qual todos os homens concordam, guardando suas opiniões particulares para si próprios; isto é, serem homens bons e leais, ou homens de honra e honestidade, qualquer que seja a denominação ou convicção que os possam distinguir; por isso a Maçonaria se torna um centro da união e um meio de conciliar uma verdadeira amizade entre pessoas que de outra forma permaneceriam em perpétua distância.

Para a maioria dos maçons franceses “aquela religião com a qual todos os homens concordam”, era a religião sem dogmas da qual falava Voltaire no seu Dicionário Filosófico (1764): “o Deus dos filósofos das Luzes, que era o grande denominador comum da natureza e do cosmo, sem que lhe fosse necessário recorrer a manifestações sobrenaturais”.

Estava sendo imposto um Deus pessoal dos cristãos e judeus em vez de um Princípio Criador impessoal. Portanto estavam dentro das Constituições de Anderson de 1723 (não na de 1738).

Para o pensamento inglês da época o ateísmo era contrário ao bom uso da razão, assim a GLUI rompeu com o GOF. E não só pela questão doutrinária, mas tambem porque o GOF permitia a abordagem de assuntos políticos e religiosos (sem proselitismo) e aceitavam mulheres (mas não iniciavam).

O Supremo Conselho de França concedeu em em 1894 a supervisão independente dos três graus simbólicos básicos, que unidos à Grande Loja Simbólica Escocesa reconstituíram a Grande Loja de França, obediência que pratica a Maçonaria tradicional (ou regular).

O Brasil, apesar de manter o sistema de Grande Loja, criou o sistema de Grande Oriente, pois se inspirou na Francesa, mas acrescentou-lhe sua própria cultura.

Em 1761 foi criado o Rito Moderno e reconhecido pelo GOF em 1773. Em 1786, com o estabelecimento dos sete graus do rito (enxugando o praticado na época) ele espalhou-se pela França, Bélgica e colônias francesas e América Latina.

No início do século XIX, o Grande Oriente do Brasil (GOB) fundado em 1822, adotou o Rito Moderno, antes do Rito Escocês (adotado em 1832).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: Pitombo, Heitor

Maçonaria no Brasil – Heitor Pitombo São Paulo: Editora Escala, 2009.

Referências

Documentos relacionados

No código abaixo, foi atribuída a string “power” à variável do tipo string my_probe, que será usada como sonda para busca na string atribuída à variável my_string.. O

Dos docentes respondentes, 62,5% conhe- cem e se sentem atendidos pelo plano de carreira docente e pelo programa de capacitação docente da instituição (que oferece bolsas de

Os principais objectivos definidos foram a observação e realização dos procedimentos nas diferentes vertentes de atividade do cirurgião, aplicação correta da terminologia cirúrgica,

Os instrutores tiveram oportunidade de interagir com os vídeos, e a apreciação que recolhemos foi sobretudo sobre a percepção da utilidade que estes atribuem aos vídeos, bem como

Os principais resultados obtidos pelo modelo numérico foram que a implementação da metodologia baseada no risco (Cenário C) resultou numa descida média por disjuntor, de 38% no

Considerando esses pressupostos, este artigo intenta analisar o modo de circulação e apropriação do Movimento da Matemática Moderna (MMM) no âmbito do ensino

São eles, Alexandrino Garcia (futuro empreendedor do Grupo Algar – nome dado em sua homenagem) com sete anos, Palmira com cinco anos, Georgina com três e José Maria com três meses.

Crisóstomo (2001) apresenta elementos que devem ser considerados em relação a esta decisão. Ao adquirir soluções externas, usualmente, a equipe da empresa ainda tem um árduo