Disclosure - Revelação
Rosane Oliveira Simões
Consultora em Gerenciamento e Vigilância de Risco - Segurança do Paciente Sociedade Beneficente Israelita Hospital Albert Einstein
CONCEITO
✓ Reconhece e informa ao paciente/familiar a ocorrência de um evento adverso de forma clara, honesta e transparente:
✓ O que aconteceu? ✓ Por que aconteceu?
✓ O que será feito para evitar a recorrência do evento?
✓ Fornece suporte para o paciente, familiar e aos profissionais de saúde.
Canadian Safety Institute. Canadian Disclosure Guidelines: Being with patients and families. Ottawa: 2011
POR QUE DIVULGAR?
Direito do paciente Eticamente correto
Diminui risco de ações judiciais Melhora a segurança do paciente
Portaria do Ministério da Saúde nº1286, de 26/10/93, art.8º e nº74, de 04/05/94 Boothman et al. 2009. Journal Health & Life Sciences Law 2(2): 125–59 Kachalia et al. 2010. Annals of Internal Medicine 153: 213–21 McDonald et al. 2010. Quality & Safety in Health Care 19(6):e11 Bell SK et al. 2012. The Milbank Quarterly, 90 (4): 682–705
QUANDO REALIZAR?
SEGUNDO A LITERATURA…
Incidente (Evento Adverso)
Incidente com dano Sempre realizar Disclosure
Incidente sem dano Realizar eventualmente*
Near Miss Não é realizado, exceto em situações de risco**
Canadian Safety Institute. Canadian Disclosure Guidelines: Being with patients and families. Ottawa: 2011
PASSO A PASSO
Canadian Safety Institute. Canadian Disclosure Guidelines: Being with patients and families. Ottawa: 2011
Ocorrência de evento adverso com dano ao paciente
Fornecer os cuidados necessários para minimizar o dano
Planejar o disclosure inicial
Realizar o disclosure inicial
DIVULGAÇÃO INICIAL
• Prazo: 24h após o evento ou no ato do evento, se aplicável • Identificar os fatos conhecidos
• Dizer apenas o que ocorreu, não os motivos pelos quais ocorreram (investigação posterior)
• Não utilizar a palavra ERRO
• Explicar as medidas adotadas para minimizar o dano e os próximos passos (terapêutica,
prognóstico)
• Verificar a necessidade de suporte psicológico ao paciente e familiares
• Programar nova reunião em até 45 dias e deixar um meio de contato
Divulgação Inicial: informações sobre os fatos do evento, impacto para o paciente e
DIVULGAÇÃO FINAL
Divulgação Final: informações complementares com exposição das causas e lições
aprendidas
• Envolver a diretoria e gerência , se EAG ou catastrófico
• Mostrar-se empático (usar “sinto muito”) quando uma falha estiver associada
• Assumir responsabilidades
• Explicar ao paciente e a família o que aconteceu, considerando as causas e fatores
contribuintes
• Explicar o que será feito para evitar futuros eventos adversos (lições aprendidas e as
oportunidades de melhoria)
DESAFIOS
• Apesar da maioria dos médicos concordarem que os erros devem ser
inteiramente divulgados aos pacientes, na prática, os erros não são revelados de forma clara.
Gallagher TH, Garbutt JM, Waterman AD, et al. Choosing your words carefully: how physicians would disclose harmful medical errors to patients. ArchIntern Med. 2006;166:1585-1593.
Disclosure parcial: menção sobre evento
adverso, mas não sobre os erros
Disclosure completo: explicações sobre os
DESAFIOS
• Apenas 30% dos médicos que vivenciaram um evento adverso grave em sua
prática relataram que os profissionais de saúde haviam realizado disclosure e se desculpado pela falha
• Dificuldades no processo:
• Medo de processos (litígio)
• Desconforto em enfrentar o paciente
• Receio do impacto em sua reputação
• Falta de conhecimento e habilidade nesse processo (treinamento)
• Não postergar a comunicação dos fatos (aumento do stress e ansiedade)
• O disclosure deve ocorrer em local reservado com horário marcado
• Garantir que a conversa final contará com a presença de todas as pessoas importantes para a tomada de decisão
• A comunicação deve transcorrer de forma clara, simples, sensível e compreensiva
• Reações emocionais devem ser esperadas. Dê tempo ao paciente e seus familiares para que eles possam pensar sobre o que aconteceu
• Expressar genuína preocupação
• Avaliar o risco de imagem - orientação jurídica
COMO NOS ORGANIZAMOS…
Gatilhos:1. O evento é percebido pelo paciente/família e/ou médico titular – exemplo: queda
2. Há dúvidas do paciente/família quanto à evolução de seu caso, questionando a possibilidade de algum evento adverso (grave ou não) – exemplo: complicações cirúrgicas
3. Se há dano grave ou catastrófico ao paciente relacionado ao processo assistencial
Disclosures (iniciais ou finais) 2011 a 2016 (n:102) Pacientes que Retornaram ao Hospital
86% Retornaram 14% Não retornaram
Disclosures (iniciais ou finais) 2011 a 2016 (n:120) Número de Processos (Judicialização)
94% Sem ações legais(n=113) 6% Processos contra o hospital (n=7)
Ações Legais 2011 a 2016 (n: 42) Ações Legais vs Disclosure
83% Sem disclosure (n=35) 17% Com disclosure (n=7)
• Retenção de compressa em paciente de cirurgia abdominal,
identificada 2 dias depois em que o paciente fez febre e muita dor abdominal. No USG identifica-se retenção de compressa – dano moderado
• Erro de medicação (prescrito cetoprofeno dispensado cefazolina
adiministrado cefazolina 1g). Motivo: letra da prescrição confusa – sem dano
• Queda: idosa cai no banheiro pois o fundo da cadeira de banho se
solta no momento em que ela está sentada. Técnica segura a idosa pelos braços e ela não vai ao chão. Porém, idosa tem lesão de plexo braquial em um dos braços. Dano: Moderado
• Paciente 42 anos, interna para cirurgia de endometriose, segue
para CMC, estável. Refere muita dor abdominal por 2 dias seguidos, tratada com sintomáticos. Piora do HB e paciente apresenta enterorragia. Acionado código amarelo e segue para UTI. Na UTI, paciente não tem seu diagnóstico definido de forma rápida
e há um atraso de 12h para levarem a paciente para cirurgia. No ato cirúrgico, identifica-se lesões de intestino e fezes na cavidade.
• Faz-se ampla limpeza da cavidade e paciente volta para UTI com
colostomia.
• Paciente necessitou de 3 novas intervenções e mais de 2 meses de
internação – dano grave, família e paciente muitos insatisfeitos.
Apesar da jornada, para realmente informar os pacientes após um evento adverso, ainda estar no início...
Uma comunicação aberta e honesta com pacientes e famílias, pode ser um passo fundamental para a compreensão mútua, aceitação, perdão e fortalecimento do relacionamento com o serviço de saúde. Albert W et al. Disclosing Adverse Events to Patients: International Norms and Trends. J. Patient Saf. 2014; 00 (00):5.
• Comunicação com transparência, honestidade, verdade e empatia
• Manutenção da confiança institucional
• Ações em parceria com familiares e amigos –
criação de conselho consultivo pela segurança do paciente
• Criação do Programa Julia Lima pela Segurança
do Paciente
• Memorial Júlia Lima
• Divulgação do caso com enfoque no
compartilhamento das lições aprendidas
Projeto Júlia Lima
Memorial
Memorial em homenagem à Júlia Giuliani Cruz Lima e a todos os pacientes que nos inspiram a novas atitudes na prática assistencial.
• Processo crítico e delicado que exige preparo e maturidade
organizacional para a implantação e efetividade do processo
• O disclosure deve estar alinhado com os valores da instituição de
saúde
• Os profissionais devem ser treinados e desenvolvidos para este
processo
• O suporte jurídico é fundamental – cultura da culpabilidade
• Fornecer suporte ao paciente, familiar e profissional na mesma
proporção
Só vale a pena “revelar” se for para ser “transparente”....