Regulação e Contratualização
Data: 3/1/2005
Autor: Ana Cristina Portugal, Ana Paula Pereira, Dídia Eusébio, Eduardo Carlos Noronha, Margarida Baltazar (mbaltazar@alunos.ensp.unl.pt)
Num cenário de mudança, como o que se observa hoje no sector da Saúde, o desafio da Regulação pressupõe dois caminhos: centralizar ou descentralizar a regulação, aproximando-se mais dos actores sociais interessados (stakeholders), nomeadamente através de Agências de Contratualização.
As Agências de Acompanhamento dos Serviços de Saúde (agências de contratualização), criadas a partir de 1997, ficaram aquém dos seus objectivos por falta de autonomia,
nomeadamente financeira… A Entidade Reguladora da Saúde foi criada em 10 de Dezembro de 2003 e ainda se encontra em fase de instalação…
Resumo
A Regulação em saúde é necessária porque existem objectivos sociais que devem ser cumpridos e porque se verificam "falhas" ou especificidades de mercado que devem ser corrigidas
O que é a regulação, porquê regular, quem deve regular, como regular e o que regular, são questões fundamentais no domínio da saúde.
Com o objectivo de separar a função reguladora das funções financiadora e prestadora exercidas pelo Estado, é criada, através do Decreto-Lei 309/2003 de 10 de Dezembro a Entideade Reguladora da Saúde (E.R.S).
A Contratualização pertence a uma nova cultura que privilegia os resultados, a transparência da informação e a descentralização. Insere-se nos mecanismos inovadores de regulação (New Public Managment) e vem substituir as relações de hierarquia ou tutela, que são baseadas na autoridade, por contratos baseados na autonomia e na responsabilidade.
Consiste num processo cíclico, explicitando as necessidades de saúde e defendendo os
interesses dos cidadãos e da sociedade, com vista a assegurar a melhor utilização dos recursos públicos para a saúde e a máxima eficiência e equidade nos cuidados a prestar.
Desenvolvimento
Os modelos de saúde devem funcionar numa base contratual (WHO, 1996) em que os prestadores são independentes dos financiadores do sistema, estabelecendo-se entre eles relações de compra e venda de serviços num mercado em que os diferentes agentes se encontram sem grandes assimetrias de informação. As suas relações tornam-se mais transparentes promovendo uma "orientação dos serviços para o cliente".
Os governos devem assumir essencialmente um papel regulador, que garanta a efectividade dos cuidados, a equidade do acesso e o controlo dos custos e qualidade.
Num cenário de mudança, como o que se observa hoje no sector da Saúde, o desafio da Regulação pressupõe dois caminhos: centralizar ou descentralizar a regulação,
aproximando-se mais dos actores sociais interessados (stakeholders), nomeadamente através de Agências de Contratualização.
REGULAÇÃO
A Regulação em saúde é necessária porque existem objectivos sociais que devem ser cumpridos e porque se verificam "falhas" ou especificidades de mercado que devem ser corrigidas
O que é a regulação, porquê regular, quem deve regular, como regular e o que regular, são questões fundamentais no domínio da saúde.
Com o objectivo de separar a função reguladora das funções financiadora e prestadora
exercidas pelo Estado, é criada, através do Decreto-Lei 309/2003 de 10 de Dezembro a Entidade Reguladora da Saúde (E.R.S.).
Estando já prevista no programa do XV Governo Constitucional, a E.R.S. surge nas seguintes circunstâncias:
· Trinta e um Hospitais passam a Sociedades Anónimas, dez a Parcerias Público Privadas. A gestão dos Centros de Saúde pode ser aberta a grupos profissionais ou entidades privadas e de solidariedade social.
· Significativo aumento do sector privado e social nos cuidados de saúde primários, hospitalares e continuados.
· Hospitais públicos passam a gozar de uma grande autonomia de gestão, de tipo empresarial, num quadro de "mercado administrativo".
· Mais de cinquenta por cento das unidades prestadoras de saúde deixam de estar submetidas ao comando administrativo do Estado e funcionam numa lógica empresarial potencialmente geradora de competição.
CARACTERIZAÇÃO DA E.R.S.
- Independência do poder político.
- Objecto:
Regular, acompanhar e supervisionar a actividade dos estabelecimentos, instituições e serviços prestadores de cuidados de saúde com vista a:
- Assegurar a igualdade e universalidade de acesso ao S.N.S. - Garantir a qualidade dos serviços de saúde.
- Assegurar os direitos e interesses legítimos dos utentes.
- Órgãos - Conselho Directivo e Fiscal Único.
- Poderes:
Regulamentares, de supervisão, fiscalização e sancionatórios exercidos com independência do poder político. Poder de conciliação e arbitragem sem necessidade de recorrer a outra jurisdição.
- Responsabilidade:
Financeira, disciplinar, civil, criminal e pública (perante a Comissão Parlamentar).
QUE BALANÇO É POSSÍVEL FAZER DA E.R.S.?
Virtudes - Separa o regulador do prestador - Estatuto de independência - Responsabilidade pública
Defeitos - O debate público esteve ausente da sua génese - O modelo escolhido não está baseado na evidência
- A insuficiência e falta de qualidade da informação é um obstáculo ao funcionamento do sistema
- Centralização numa única entidade
- Pouca participação do cidadão (empowerment) de que é exemplo o abandono da figura do Provedor do Utente.
CONTRATUALIZAÇÃO
A Contratualização é um processo que explicita as necessidades de saúde e defende os interesses dos cidadãos e da sociedade, com vista a assegurar a melhor utilização dos recursos públicos para a saúde e a máxima eficiência e equidade nos cuidados a prestar.
Num sentido lato, a contratualização tem os seguintes objectivos de regulação: § Ajustar a prestação às necessidades;
§ Ajustar o orçamento à prestação;
§ Ajustar o acesso, a eficiência e qualidade entre instituições("benchmarking"); § Incluir os cidadãos;
§ Estabelecer os limites – orçamentais, das instituições e da prestação.
Ao ter como ponto de partida o contrato público, a contratualização podia vincular os incentivos para que o sistema funcionasse na direcção desejada.
AS AGÊNCIAS DE CONTRATUALIZAÇÃO E A ENTIDADE REGULADORA DA SAÚDE
Apesar do seu importante papel regulador as Agências de Contratualização distinguem-se da Entidade Reguladora da Saúde nos seguintes aspectos:
§ Numa situação em que o Estado acumulava, em larga medida as funções de regulação, de financiamento e de prestação, a actividade das Agências visa sobertudo separar a
função financiadora da prestadora enquanto a ERS visa separar a função reguladora da prestadora;
§ A força legislativa dos diplomas que as instituíram e as competências que lhes conferiram são diferentes (mais poderosos na ERS);
§ A ERS terá uma estrutura com mais condições (nomeadamente de pessoal);
§ E a ERS, ao contrário da Contratualização, impõe um regime de incompatibilidades aos seus membros.
Apesar das diferenças, as Agências de Contratualização e a ERS também têm pontos em comum, como é o caso de:
§ Ambos preverem a participação de operadores privados;
§ Preocupações (por vias diferentes) com o acesso, equidade, qualidade, transparência e responsabilização pública.
Base de Evidência
· BUSSE R. (2001), Regulation in health care: a basic introduction, Madrid: European Observatory on Health Care Systems.
· ESCOVAL, Ana (2003), Evolução da Administração Pública da Saúde: O papel da Contratualização – factores críticos do contexto Português, ISCTE, Lisboa, (tese para obtenção do grau de Doutor em Organização e Gestão de empresas).
· SALTAMN R, Busse R, Mossialos E. (2002), Regulating entrepreneurial behavior in European health care systems. European Observatory on Health Care Systems Series. Buckingham: Open University Press.
· OPSS (2001), Conhecer os Caminhos da Saúde – Relatório da Primavera, Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), ENSP/UNL, Lisboa.
· OPSS (2002), Saúde Que Rupturas? – Relatório da Primavera, Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), ENSP/UNL, Lisboa.
· OPSS (2003), O Estado da Saúde e a Saúde do Estado – Relatório da Primavera, Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), ENSP/UNL, Lisboa.