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A "colcha de retalhos" da metropole paulista : simples aglomerados ou sistemas produtivos e inovativos na industria do vestuario?

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Número 154/2005 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

AUTORA: MARIA DAS GRAÇAS MOURA BRITO

A “COLCHA DE RETALHOS” DA METRÓPOLE PAULISTA: SIMPLES AGLOMERADOS OU SISTEMAS PRODUTIVOS E INOVATIVOS NA INDÚSTRIA DO

VESTUÁRIO?

Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Geociências como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Política Científica e Tecnológica.

Orientador: Prof. Dr. Roberto Carlos Bernardes

CAMPINAS - SÃO PAULO

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA

BIBLIOTECA CENTRAL DA UNICAMP

Bibliotecário: Helena Joana Flipsen – CRB-8ª / 5283

Brito, Maria das Graças Moura.

B777c A “colcha de retalhos” da Metrópole Paulista : simples aglomerados ou sistemas produtivos e inovativos na indústria do vestuário? / Maria das Graças Moura Brito. - Campinas, SP : [s.n.], 2005.

Orientador : Roberto Carlos Bernardes.

Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

1.

Vestuário – Indústria – São Paulo (SP).

2.Inovações tecnológicas. 3. Aprendizagem. II. Bernardes,

Roberto Carlos. III. Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Geociências. IV. Título.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

AUTORA: MARIA DAS GRAÇAS MOURA BRITO

A “COLCHA DE RETALHOS” DA METRÓPOLE PAULISTA: SIMPLES

AGLOMERADOS OU SISTEMAS PRODUTIVOS E INOVATIVOS NA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO?

ORIENTADOR: Prof. Dr. Roberto Carlos Bernardes

Aprovada em: _____/_____/_____

EXAMINADORES:

Prof. Dr. Roberto Carlos Bernardes ___________________________________Presidente Prof. Dr. Renato de Castro Garcia ___________________________________

Prof. Dr. Wilson Suzigan ___________________________________

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Agradecimentos

Ao pensar nas palavras de agradecimento sinto como quem recupera uma película de um

filme que ficou guardado num canto da sala esperando o momento de ser assistido. Como já

dizia Cícero “guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por admirá-la...”. Recuperando estes

momentos que marcaram meu ingresso no DPCT até aqui, último dia de dedicação árdua a este

trabalho, expresso com alegria e emoção, meus agradecimentos às pessoas que contribuíram

direta ou indiretamente para sua conclusão.

Agradeço inicialmente ao Roberto Bernardes meu orientador pela paciência e cuidado

com que me conduziu a realização desta tarefa, por ter tido a calma e abstração necessária para

que eu superasse condições adversas, viabilizando a colheita dos frutos! Deixou meus

agradecimentos a Eliane Franco por ter me incentivado a estudar, depois a não desistir frente as

dificuldades que surgiram e por fim as dicas no período de finalização.

Agradeço aos meus professores Margareth, Tamás, Ruy, Daniel pela dedicação e

comentários durante as disciplinas e a Leda pela competência, carinho e dedicação aos alunos.

Agradeço a Val e a Edinalva pelo trabalho cuidadoso e humano, obrigada Rita, Rúbia,

Mariana, Vanessa, a Daniela e a Guta pela bela dissertação que tanto me auxiliou.

Meu ingresso no Mestrado está associado ao período que passei no SEADE, assim quero

agradecer aos queridos amigos com quem convivi por alguns anos, mesmo sabendo que as

palavras não expressam suficientemente o que levamos para nossas vidas e o que aprendemos

durante as PAEPs!!! Agradeço ao Vagner Bessa por me incentivar já nos áureos tempos da 1ª.

PAEP. Mais uma vez ao Roberto assim como a Zil, Alda, Cássia, Caiado, Lucinda, Amay,

Clara, Robin, Zuleika, Helô e Deise. Agradeço especialmente ao França, que com bom humor,

dedicação e competência tornou possível o trabalho estatístico contido neste estudo. Agradeço

ainda ao André Nagy pelos mapas, André Kalup pelos gráficos e a Marisa e a Regina do Geadi,

pelo excelente atendimento.

Agradeço muitíssimo a Fátima Araújo pela confiança e pelas oportunidades oferecidas

ao longo do tempo que me proporcionaram janelas de oportunidades! Obrigada Calu, Kleber e

Ricardo pelas dicas dos últimos dias.

Quero expressar meus agradecimentos ao Dr. Pablo Novick pela dedicação e consciência

com que trata as mazelas da saúde paulista. Agradeço muitíssimo ao carinho, delicadeza e a

competência da Dra. Ruth Doris Friedlaender por me proporcionar as condições necessárias para

o prosseguimento dos meus estudos e da minha vida.

Agradeço aos meus amigos sorocabanos, Alvânia, Alzira, Regina, Pedro, Francisco, que

entenderam este período de recolhimento para que eu pudesse escrever. Aos amigos da Uniso!

Agradeço ao Carlos pelos sonhos e idealismo e pelos momentos de alegria (que venham agora os

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dias de sol, mar e cachoeiras na Ilha)!! Ao Ricardo pelo olhar externo, esotérico e filosófico, pelo

eterno retorno e o ombro amigo. Dedico este trabalho, como forma de agradecimento à memória

da Vó Maria, ao meu amigo Caio e a memória do meu Pai.

Agradeço a minha Mãe, Araci pela compreensão dos dias de ostracismo e aos meus dois

irmãos, Inácio e Vivi.

Quero agradecer ao Prof. Suzigan pelas inúmeras contribuições oferecidas na

qualificação e nos textos, assim como ao Prof. Renato Garcia. Por fim agradeço especialmente

ao André Furtado, pela dedicação, pelas contribuições, pelo estágio maravilhoso, aos

ensinamentos e confiança!!

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SUMÁRIO

Lista de Siglas e Abreviaturas Lista de Quadros e Tabelas

Introdução...1

Objetivos deste estudo...3

Hipótese inicial...3

Metodologia aplicada ...4

Estrutura e composição dos capítulos ...6

Capítulo 1 – Heterogeneidade e Especialização na Economia Metropolitana...7

1.1. A Estrutura Produtiva Metropolitana: uma “Colcha de Retalhos” ... 8

1.2. A Indústria do Vestuário e as Metrópoles... 13

1.3. Natureza e Dinâmica do Processo de Inovação e Aprendizado no Setor do Vestuário ... 15

1.4. Fontes de Informação... 20

1.4.1. Considerações Metodológicas das Principais Pesquisas Econômicas ... 21

1.4.2. A Pesquisa da Atividade Econômica Paulista como Fonte de Informação... 22

1.4.3. Considerações Metodológicas sobre a Pesquisa Qualitativa... 24

1.5. Métrica dos Indicadores... 25

1.5.1. Identificando Aglomerações Produtivas no Município de São Paulo... 25

1.5.2. Caracterizando Aglomerações Produtivas no Município de São Paulo... 33

Conclusões ... 40

Capítulo 2 – Identificando e Caracterizando Aglomerações Produtivas do Vestuário no Município de São Paulo ...43

2.1. Identificando Aglomerações Produtivas do Vestuário no Município de São Paulo ... 44

2.2. Trajetórias Constitutivas e Elementos Estruturais do Vestuário da Área Central... 50

2.2.1. Condicionantes Históricos das Atividades do Vestuário da Área Central ... 51

2.2.2. Características da Estrutura Produtiva do Vestuário da Área Central ... 55

2.3. Trajetórias Constitutivas e Elementos Estruturais do Vestuário da Área Leste... 57

2.3.1. Condicionantes Históricos das Atividades do Vestuário da Área Leste ... 58

2.3.2. Características da Estrutura Produtiva do Vestuário da Área Leste... 60

Conclusões ... 63

Capítulo 3 – Padrão Tecnológico dos Aglomerados da Área Central e Leste do Município de São Paulo ...67

3.1. Esforço Tecnológico nos Aglomerados do Vestuário da Área Central e Leste ... 67

3.2. Acumulação de Conhecimento nos Aglomerados Central e Leste ... 73

3.3. Níveis de Aprendizado nos Aglomerados Central e Leste... 75

(7)

Capítulo 4 – Mecanismos de Interação dos Aglomerados da Área Central e Leste do

Município de São Paulo ...83

4.1. Organização e Interação Produtiva ... 83

4.2. Mecanismos Institucionais Formais e Informais de Interação ... 89

4.3. Mecanismos de Interações com o Mercado ... 94

Conclusões ...98

Considerações finais...101

Rerefências Bibliográficas ...109

(8)

LISTA DE QUADROS E FIGURAS

Quadro 1.1 – Principais Segmentações na Indústria do Vestuário. ... .18 Quadro 1.2 – Divisão das Localidades do Município de São Paulo em Áreas, Segundo

Endereçamento Postal. ... .32 Quadro 3.1 – Descrição das Principais Inovações Tecnológicas de Produto e Processo

Introduzidas entre 1999 e 2001, nas Empresas do Vestuário do Município de São Paulo ... 70 Quadro 4.1 – Características da Organização Produtiva dos Aglomerados da Área Central e Leste do Vestuário... 86 Figura 2.1 – Concentração das Unidades Locais da Indústria da Confecção de Artigos do

Vestuário, Segundo Áreas Selecionadas no Município de São Paulo, em 2001... 45 Figura 2.2 – Rua José Paulino na Metade do Século XX. ... 52 Figura 2.3 – Manifestação Operária Ocorrida em 1917, Durante Greve Geral ... 60

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 2.1 – Distribuição das Unidades Produtivas, VA, PO e Salários da Indústria do Vestuário, na Área Central do Município de São Paulo, em 2001 ... 56 Gráfico 2.2 – Distribuição das Unidades Produtivas, VA, PO e Salários da Indústria do Vestuário,

na Área Leste do Município de São Paulo, em 2001 ... 62 Gráfico 3.1 – Composição do Esforço Tecnológico das Empresas da Indústria de Vestuário, por

Tipo de Dispêndio no Estado de São Paulo e Áreas do Município de São Paulo, em 2001 ... 77

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 – Atividades Industriais Selecionadas: Índice de Especialização (QL) e Participação Percentual do Município de São Paulo, Segundo Unidades

Locais Produtivas, Pessoal Ocupado e Valor Adicionado, em 2001 ... 28 Tabela 1.2 – Atividades Industriais com Quociente Locacional e Participação Relativa

Expressivos no Município de São Paulo, Segundo Pessoal Ocupado e Valor

Adicionado, em 2001... .29 Tabela 2.1 – Distribuição do Valor Adicionado, Unidades Produtivas, e Pessoal

Ocupado da Indústria do Vestuário, no Estado de São Paulo e Áreas

Selecionadas, em 2001 ... 48 Tabela 2.2 – Quociente Locacional das Unidades Produtivas, Valor Adicionado e

Pessoal Ocupado do Vestuário nas Áreas Selecionadas, em 2001... .50 Tabela 3.1 – Idade Média das Máquinas e Equipamentos de Produção da Indústria do

Vestuário da Área Central e Leste do Município de São Paulo, em 2001 ... .72 Tabela 3.2 – Distribuição de Unidades Produtivas do Vestuário nos Aglomerados

Central e Leste do Município de São Paulo, Segundo Período de Instalação,

até 2001 ... 74 Tabela 3.3 – Índice de Produtividade e Índice Salarial dos Aglomerados do Vestuário da

Área Central, Leste e demais Regiões do Estado, em 2001 ... .77 Tabela 3.4 – Execução de Atividades Relacionadas ao Desenvolvimento de Produtos nas

Empresas do Vestuário do Aglomerado da Área Central e Leste do

Município de São Paulo, em 2001... 79 Tabela 4.1 – Sub-contratação na Produção e Atividades que se Destinam as Vendas dos

Aglomerados da Área Central e Leste do Município de São Paulo, em 2001 ... 88 Tabela 4.2 –Empresas Instaladas na Área Central e Leste do Município de São Paulo,

Cujo Maior Volume de Vendas Destina-se a Cadeia Têxtil/Vestuário, em

2001 ... 91 Tabela 4.3 –Empresas que Participam em Eventos de Feiras e Exposição no Aglomerado

da Área Central e Leste do Município de São Paulo, em 2001... 96 Tabela 4.4 – Práticas Adotadas Junto aos Principais Clientes das Empresas do Vestuário

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SIGLAS E ABREVIATURAS

AAC – Aglomerado Produtivo do Vestuário da Área Central AAL – Aglomerado Produtivo do Vestuário da Área Leste APEX – Agência de Promoção de Exportação e Investimento CEBRAP – Centro Brasileiro de Análise e Planejamento

CAEPAEP – Classificação de Atividade Econômica específica da PAEP CEMPRE – Cadastro de Empresas do IBGE

CI – Consumo Intermediário

CNAE – Classificação Nacional de Atividade Econômica C&T – Ciência e Tecnologia

CNPJ – Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica ESP – Estado de São Paulo

GREMI – Groupe de Recherche Européen sur les Mileux Innovateurs IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

MSP – Município de São Paulo

PAEP – Pesquisa da Atividade Econômica Paulista PIA – Pesquisa Industrial Anual

PO – Pessoal Ocupado QL – Quociente Locacional RA – Região Administrativa

RAIS – Relação Anual de Informações Sociais RMSP – Região Metropolitana de São Paulo SEADE – Sistema Estadual de Análise de Dados SPIL´s – Sistemas Produtivos e Inovativos Locais TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação UL – Unidade Local

VA – Valor Adicionado

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLITICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

A “COLCHA DE RETALHOS” DA METRÓPOLE PAULISTA: SIMPLES

AGLOMERADOS OU SISTEMAS PRODUTIVOS E INOVATIVOS NA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO?

RESUMO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Maria das Graças Moura Brito

Este estudo aborda a questão do espaço metropolitano para os processos de aprendizado e inovação tecnológica. Parte-se do princípio que o Município de São Paulo (MSP) preserve uma “colcha de retalhos” de aglomerações produtivas de características diversificadas. Nesta perspectiva, o objetivo principal é compreender em que medida o espaço econômico e institucional do MSP é propício à organização de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais, tendo como foco de estudo a indústria do vestuário. A análise empírica utilizou informações extraídas da Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (PAEP) e entrevistas com produtores e instituições. Para identificar os aglomerados produtivos, os limites geográficos do MSP foram divididos em cinco áreas (centro, norte, sul, leste e oeste), onde foi aplicado o Quociente Locacional. A fim de caracterizar a dinâmica tecnológica dos aglomerados a análise descreveu e comparou os elementos estruturais, o padrão tecnológico e os mecanismos de interação. Os resultados mostram que as principais aglomerações do vestuário do MSP estão localizadas nas Áreas Central e Leste, cujas estratégias produtivas são diferenciadas. No aglomerado da “Área Central” a dinâmica tecnológica está direcionada ao desenvolvimento de design, investimento na marca e lançamento de novos produtos, mantendo interações mais sensíveis com o mercado e instituições. Neste sentido apresenta elementos potenciais de uma trajetória evolutiva, caracterizando-se como um sistema produtivo e inovativos. Já o aglomerado da “Área Leste” apresenta características elementares, decorrente da especialização em produto de menor valor agregado, com competitividade baseada no preço. Os mecanismos de aprendizado e interações são fracos, se constituindo num aglomerado com organização incipiente.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

PÓS-GRADUAÇÃO EM POLITICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA

THE SAO PAULO METROPOLIS´ “PATCHWORK”: STRAIGHT FORWARD AGGLOMERATES OR INNOVATIVE AND PRODUCTIVE SYSTEMS IN THE

CLOTHING INDUSTRY?

ABSTRACT

Maria das Graças Moura Brito

This study addresses the question in the Metropolitan space, of processes of learning and innovation. The São Paulo Metropolis gets into XXIst century preserving a “patchwork” of diversified productive agglomerations. The purpose of this research is to understand in which measure the economic and institutional space of São Paulo is propitious for the emergence and organization of innovative local and productive systems using the clothing industry as a case study. The empirical data came from survey “Pesquisa da Atividade Econômica Paulista – PAEP”, as well as from interviews with producers and institutions. To identify the structural elements, the productive agglomerations, the city of São Paulo was divided into five areas (center, north, south, east, west), which we have associated with a “specialization indicator”. To analyze the technical-productive strategies of the agglomerates, the technological patterns and the mechanisms of interaction, were compared. The results show that the main agglomerations of clothing industry are in the Central and Eastern areas of the City of São Paulo This comparison indicates that in the “Central Area”, the tecnological characteristics are linked to design development, trademark strengthening and launching of new products, keeping, at the same time, interactions that are more sensitive to the market and the institutions. This structural profile has the character of innovative local productive system. On the other hand, the agglomerate of “Eastern Area”, as a result strategies of lower added value and price based competitiveness, has a very week interaction and learning mechanism, thus constituting an agglomerate with a still very tentative organization.

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Introdução

Ao longo dos anos 80, período em que são observadas profundas transformações nos processos de produção que estão associadas à emergência de uma nova ordem de acumulação no capitalismo global, uma série de ensaios chamaram a atenção para o êxito de algumas regiões, em detrimento a outras que outrora demonstraram dinamismo econômico, mas que passavam por um período de estagnação e crise. Dentre as chamadas “Regiões que Ganham” (Benko e Lipietz, 1994) estão localidades de características distintas, como o Vale do Silício, Los Angeles e os distritos industriais da Terceira Itália. Neste contexto, novos estudos resgataram para a ciência política e econômica a questão do espaço como um fator estratégico para o desenvolvimento econômico e locus privilegiado da inovação, elemento analítico que andava à margem das principais linhas de pesquisa.

A nova agenda de estudo recupera as contribuições formuladas por Marshall a respeito dos fatores de aglomeração econômica e industrial, além de trazer para o debate “[...] as categorias não pecuniárias (hors-marché) como, por exemplo, contatos face a face, ativos relacionais, efeitos de transbordamento dos processos de aprendizagem etc” (Miglino, 2003: 3).

O debate em torno do papel exercido pela metrópole também incorporou novas abordagens. Storper (1997: 221), relaciona esta discussão em três grandes eixos, que abordam estas regiões como centros orientados para: (i) os serviços financeiros e negócios globais, onde se destaca a obra de Sassen (1991), que aborda a internacionalização dos serviços e Friedmann e Wolff (1982) que propõem uma nova hierarquização das metrópoles mundiais, a partir da ótica das empresas transnacionais; (ii) o fenômeno da sociedade da informação de Castells e os fluxos de informação e (iii) a produção flexível, estudo engendrado por Scott (1994), contemplando ainda os trabalhos de Veltz (1997), que analisa a questão das redes produtivas e a integração do setor de serviço1.

Nos estudos elaborados e aplicados ao caso brasileiro, devido ao papel central exercido já no início da industrialização do Estado, a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) tem

1 Storper (1997: 258), chama atenção para uma terceira abordagem que trata a produção flexível: a escola francesa

que estuda o conceito de innovative milieux, dando ênfase a imersão social para o processo de inovação. O autor ressalta que embora estas pesquisas não tenham sido direcionadas exclusivamente para as áreas urbanas, algumas versões tiveram aplicação para metrópoles.

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despertado grande interesse, de onde surgiram estudos que se esforçaram em analisar a natureza e os impactos das transformações produtivas sob os mais diversos ângulos, tais como a interiorização do desenvolvimento (Cano, 1988; Negri, 1994), as vantagens comparativas da relação centro-periferia (Furtado, 1986), fragmentação produtiva e re-industrialização da metrópole (Pacheco, 1998), a desconcentração limitada (Matteo e Tapia, 2002). Outros abordam sua nova dinâmica econômica, analisando a emergência dos espaços e fluxos informacionais e a concentração dos segmentos intensivos em tecnologia (Tinoco, 2001) e a Metrópole de serviços produtivos e inovadores (Araújo, 2001), dentre outros.

Suzigan et al (2005: 9-11) em estudo recente, indicam que à revelia do processo de desconcentração industrial pelo qual passou a RMSP, como parte mais ampla de um processo de reestruturação industrial, não se presenciou um processo semelhante de desconcentração nas chamadas funções corporativas superiores, uma vez que os escritórios de administração central e os departamentos de engenharia e desenvolvimento permaneceram na antiga sede ou na unidade de produção principal, mesmo quando verificou-se queda do emprego e do faturamento. Este movimento explicaria a alta concentração de ocupações tecnológicas e das atividades de P&D nesta região. Os autores identificaram ainda 7 sistemas produtivos na RMSP que operam como Vetores Avançados, sem, no entanto, aprofundarem suas análises sobre as características destas aglomerações.

Nos estudos direcionados ao Município de São Paulo (MSP), se destacam as análises sobre as estratégias de desenvolvimento da Região Central (Comin et al, 2002) e o papel das redes produtivas na indústria do vestuário (Kontic, 2001 e 2002). Ainda assim, as especificidades das aglomerações produtivas delineadas pela produção flexível (Scott, 1994) são questões pouco exploradas.

Neste contexto, este trabalho busca compreender a capacidade sócio-produtiva de articulação institucional e local dos atores no MSP, tendo como perspectiva que no início do século XXI a estrutura industrial metropolitana se configurar como uma região extremamente heterogênea, portanto não interessa aos propósitos deste estudo debater o caráter das forças de concentração e desconcentração que influenciam a dinâmica econômica de São Paulo nos últimos 30 anos, embora considere o peso de tais questões.

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Objetivos do Estudo

O objetivo central deste estudo é identificar e caracterizar aglomerações produtivas no Município de São Paulo. Esse objetivo foi guiado pela seguinte questão: Existe na metrópole paulista a configuração de sistemas produtivos ou na verdade o que realmente existe é pura e simplesmente aglomerações produtivas, onde os princípios de eficiência e aprendizado praticamente inexistam?

Deste questionamento inicial suscitaram ainda outras questões vinculadas à primeira: i) existem elementos de potencialidade institucional, capital social e econômico para a formação de eventuais SPIL´s? Se existem, quais são seus ativos estratégicos? ii) A localização metropolitana conduz a aglomerações de padrões tecnológicos homogêneos ou heterogêneos? iii) Qual a natureza e a função da inovação no desenvolvimento dos aglomerados?

Esse estudo, portanto, abordará as aglomerações produtivas localizadas na área metropolitana. Tal questão é justificada pelo fato de que:

• A estrutura industrial do MSP, segundo a PAEP, ainda representa sozinha mais de 27,6% do Pessoal Ocupado, 33,7% das Unidades Locais e 28,2% do Valor Adicionado das unidades industriais do Estado de São Paulo, embora haja grande diferenciação entre as atividades produtivas. No Serviço esta proporção chega a 43%, 43,8% e 52,6% respectivamente.

• Acredita-se que tal relevância é obtida por atividades de características extremamente heterogêneas, mesmo dentro de um único setor.

Para estudar a heterogeneidade e as características das aglomerações produtivas localizadas no Município de São Paulo foi necessário um enfoque analítico que se acomodou num nível entre as análises da estrutura produtiva metropolitana e as análises de aglomerações setoriais, conhecidas na literatura como clusters ou SPIL´s.

Hipótese Inicial

Esta pesquisa partiu da hipótese de que o Município de São Paulo (MSP) possui uma produção heterogênea acomodando aglomerações de dinâmica produtiva diferenciada, pois admite-se que a absorção dos ativos relacionados à cultura e ao conhecimento disponíveis na

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metrópole ocorre de forma distinta. Este postulado foi aplicado à indústria do vestuário, atividade industrial que mais emprega no Município e que concentra nesta região mais de 50% da total produzido pelo setor no Estado de São Paulo.

Tamanha grandeza de um setor num único município fundamentou a hipótese de existirem pelo menos dois aglomerados produtivos do vestuário no MSP, cuja dinâmica tecnológica pode ser diferenciada, em decorrência da trajetória constitutiva e tecnológica, com implicações para os processos de inovação. Não se considera, portanto que o peso de determinados setores da metrópole paulista seja fruto de uma única aglomeração.

Metodologia Aplicada

A principal fonte de informação utilizada foi a Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (PAEP/2001) da Fundação SEADE (Sistema Estadual de Análise de Dados), único levantamento estatístico que dispõe de informações que caracterizam e qualificam os processos de produção e inovação, disponibilizando concomitantemente as informações econômicas. Os dados estatísticos foram ainda complementados com informações obtidas por meio de entrevistas qualitativas com produtores e instituições identificando e qualificando temas que a PAEP não abordou, como as especificidades das interações locais, os fatores históricos e as instituições que apóiam a atividade nos aglomerados estudados.

O conceito de aglomeração utilizado na obra de Scott (1994) compreende a concentração de empresas de um determinado setor num dado espaço geográfico, que normalmente está associada às atividades da cadeia de produção e os serviços de outros especialistas. A metrópole retratada pelo autor é o local ideal para as novas formas flexíveis de produção, que formam um conjunto heterogêneo de distritos (no sentido de aglomerações), abrigando desde as indústrias tradicionais e artesanais como o vestuário, até as indústrias de alta tecnologia e os serviços numa relação complexa, originando a colcha de retalhos metropolitanos.

Autores como Cassiolato e Lastres (2003), desenvolveram o conceito de aglomeração avançando sobre a questão da interação entre os agentes. Para estes autores as aglomerações podem ser classificadas como Arranjos Produtivos Locais, que “são aglomerações territoriais fragmentadas, que não apresenta significativa articulação entre os agentes”. Ou ainda Sistemas Produtivos Inovativos Locais (SPILs), que são conjuntos de “agentes econômicos, políticos e

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sociais localizados num mesmo território, desenvolvendo atividades econômicas correlatas e que apresentam vínculos expressivos de produção, interação, cooperação e aprendizagem. Geralmente inclui produtores de bens e serviços finais, fornecedoras de equipamentos e outros insumos, prestadoras de serviço, etc, além de cooperativas, associações e demais organizações voltadas à formação e treinamento de recursos humanos, informação, pesquisa, desenvolvimento e engenharia, promoção e financiamento”.

É interessante notar que a essência do conceito de aglomeração de Scott pode ser considerada como análoga à abordagem desenvolvida por Cassiolato e Lastres (2003), mas Benko (1995) ressalta que a articulação dos agentes das aglomerações metropolitanas, nem sempre é clara. Dessa forma o trabalho de Mytelka e Farinelli (2000) foi útil para calibrar a dinâmica da interação e da inovação dos aglomerados estudados, mas optou-se por manter o termo utilizado na obra de Scott (aglomeração), para no prosseguimento da análise e classificá-lo (ou não), enquanto sistema produtivo inovativo.

Para contemplar tal questão os indicadores utilizaram um recorte analítico mais sensível às idiossincrasias e vicissitudes relativas à heterogeneidade e ao adensamento econômico do Município de São Paulo, utilizando:

• Um recorte geográfico mais desagregado, dividindo os limites do MSP em cinco grandes áreas – Norte, Sul, Leste, Oeste e Centro (regionalização utilizada pelos Correios), com o qual foram relacionados a localização das unidades industriais.

• A aplicação da técnica de georeferenciamento, através da plotagem das informações de unidades locais da indústria do vestuário que resultaram num mapa, possibilitando a visualização da “mancha” de empresas que estão espacialmente aglomeradas (clustering). • Para denotar a importância da aglomeração para a Área, foram aplicados o Quociente

Locacional e a Participação Relativa.

• Para evidenciar dinâmica tecnológica nas aglomerações foram analisados e comparados os elementos de natureza estrutural, os padrões tecnológicos e os mecanismos de interação em cada aglomerado identificado.

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Estrutura e Composição dos Capítulos

Esta dissertação foi dividida em quatro capítulos que seguem a partir desta introdução. Os pressupostos teóricos e a metodologia utilizada para a identificação e caracterização de aglomerações produtivas no Município de São Paulo são abordados no Capítulo 1, que explora inicialmente os conceitos de heterogeneidade e especialização da metrópole e o delineamento das trajetórias virtuosas de inovação tecnológica na indústria do vestuário, atividade escolhida para o prosseguimento da análise, além de detalhar o estudo empírico.

O Capítulo 2 aplica a metodologia de identificação dos principais aglomerados do vestuário no Município de São Paulo, abordando sua importância para o local e para a produção do vestuário do Estado de São Paulo. Descreve ainda, as trajetórias constitutivas e as características estruturais dos aglomerados já identificados. O Capítulo 3 analisa e compara o padrão tecnológico, visando identificar as especificidades da acumulação de conhecimento, o padrão tecnológico e os níveis de aprendizado tecnológico dos aglomerados. O Capítulo 4 compara os mecanismos de interação, tratando inicialmente a organização e dinâmica produtiva para em seguida colocar em questão os mecanismos institucionais formais e informais, tratando por último da interação com o mercado. A conclusão apresenta os resultados da comparação entre os dois aglomerados trazendo ainda, a proposição de políticas.

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CAPÍTULO 1 – HETEROGENEIDADE E ESPECIALIZAÇÃO NA ECONOMIA METROPOLITANA

Este capítulo aborda os elementos teóricos e empíricos que balizaram a análise das aglomerações produtivas na Metrópole Paulista, tendo como referencial a abordagem engendrada na “Escola Californiana de Geografia Econômica”, especialmente as pesquisas de Scott (1994 e 1998), Storper (1997) e Storper e Salais (1997).

Scott desenvolveu os pressupostos teóricos sobre a dinâmica econômica das áreas metropolitanas no ensaio Metropolis2, observando as transformações ocorridas na Califórnia e mais especificamente de Los Angeles. Recentemente Scott (1998) e principalmente Storper (1997) incorporam ao conjunto explicativo californiano “as categorias não pecuniárias” (Miglino, 2003: 3), acentuando a importância do local para o desenvolvimento de aglomerações produtivas. Neste contexto, o item 1.1 deste capítulo reserva espaço para abordar a heterogeneidade da estrutura produtiva do tecido metropolitano e a influência dos agentes e da cultura local no desenvolvimento das aglomerações produtivas.

O item 1.2 aborda as experiências de cidades como Nova Iorque, Los Angeles e Paris, que como São Paulo, abrigam uma indústria do vestuário muito expressiva, o que motivou a escolha desta atividade para análise empírica. O item 1.3 debate a natureza e dinâmica do processo de inovação e aprendizado das atividades do vestuário. Já o item 1.4 relaciona as principais pesquisas que disponibilizam informações para o Município de São Paulo, com destaque para a PAEP e a pesquisa qualitativa realizada nos aglomerados. O item 1.5 descreve a metodologia aplicada para os indicadores que identificaram das aglomerações produtivas do vestuário mais relevantes para o Município de São Paulo e caracterizaram a dinâmica tecnológica.

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1.1. A Estrutura Produtiva Metropolitana: uma “Colcha de Retalhos”

Ao interpretar o papel das metrópoles nas novas relações entre o espaço e a organização da produção Scott (1994), resgata inicialmente os pressupostos da teoria dos custos de transação (Williamson, 1975) e alguns elementos da discussão do chamado “novo regime de acumulação”3 para retratar a estrutura sócio-econômica metropolitana como um viveiro de relações complexas e multifacetadas.

As metrópoles têm a seu favor a possibilidade de geração de economias de aglomeração, advindas das atividades de P&D e os spin-off das demais atividades que estão alocadas nestas áreas. Em contrapartida, as Metrópoles geram deseconomias de aglomeração que aumentam os custos produtivos devido “aos elevados custos da terra, as dificuldades de circulação de cargas, as exigências ambientais [...], aumento do custo de vida, principalmente custo do metro quadrado, às questões relativas ao trânsito, clima, assim como dos custos dos salários” (Caiado, 2000:12). Esta dicotomia faz com que a atividade econômica da metropolitana, se desenvolva sobre uma linha tênue que equilibra as economias e deseconomias de aglomeração.

Scott (1994) destaca que na produção fordista as empresas tinham mobilidade, por isso buscavam instalar-se em regiões que oferecem vantagens comparativas numa relação a montante com o local. Mas como o advento da produção flexível, as relações das empresas com o ambiente ocorrem de forma lateral, apresentando maior interdependência. Neste contexto as metrópoles oferecem condições privilegiadas para aglomerações produtivas, já que nelas é possível encontrar inúmeras empresas interligadas em rede, mas “o sucesso das relações vai depender do grau de articulação das redes que elas integram” (Miglino, 2003: 73).

Elemento fundamental na obra dos autores californianos, a flexibilidade tornou-se um elemento chave para vários domínios na vida econômica, por isso a relação entre os vários conceitos é por vezes conflitante. Com efeito, é importante delinear as principais características do fenômeno da flexibilidade que influenciou a obra dos referidos autores.

2 Originalmente escrito em 1988.

3 Não se constitui como foco desse estudo abordar os regimes de acumulação, mas os autores que discutem essa

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A produção flexível , segundo Benko (1995: 31-33), está relacionada às tarefas internas e externas às firmas, onde são observadas várias formas de flexibilização, dentre as quais a: i) flexibilidade numérica, fenômeno no qual as empresas, amparadas pelo mercado de trabalho externo, ajustam os postos de trabalho efetivos, assim como os salários; ii) flexibilidade funcional que é a capacidade da firma em adequar as tarefas em virtude de novas demandas, tecnologias e marketing, priorizando a qualificação e a redefinição de funções; iii) estrutura industrial flexível que está relacionada tanto à capacidade da firma em operar e adaptar internamente novos conjuntos de tarefas, quanto à introdução de máquinas flexíveis, resultantes principalmente da difusão das tecnologias de informação e a iv) flexibilidade do capital, que está associada ao fortalecimento e a fluidez do capital e redução da participação do Estado.

Benko (1995) ainda chama a atenção para a controvertida flexibilidade dos custos da mão-de-obra (vínculos trabalhistas flexíveis) e emprego (tempo de trabalho flexível), além de destacar os modos de consumo flexíveis, onde a estética estável dá lugar à diferença, ao efêmero e à moda. Neste sentido a produção flexível pode favorecer os ajustamentos na estratégia produtiva e a busca de arranjos mais competitivos, permitindo ainda flexibilidade nas variações e quantidade dos produtos oferecidos.

Ao relacionar o local aos processos de flexibilização, Scott aborda basicamente os fundamentos da produção flexível descrita por Benko (1995), embora a polarização da renda do emprego estejam implícitas na sua obra, unindo a face inovadora, qualificada e atualizada da atividade econômica metropolitana, a parcela arcaica, desqualificada e precarizada, assemelhando-se a característica socioeconômica observadas na cidade de São Paulo.

Outra referência importante na obra de Scott é a teoria dos custos de transação de Williamson (1975), que aborda questões como a incerteza, a freqüência e a especificidades produtivas para determinar a coordenação dos custos relativos às tarefas da produção (custos de transação). Para o autor a coordenação dos custos da produção pode ser: i) hierárquica, quando as tarefas estão internalizadas e a firma comanda sua execução (custo de transação interno), ou ii)

produção padronizada, consumo em massa e forte intervenção do Estado. Já o regime de acumulação pós-fordista fundamenta-se na crescente flexibilização das relações econômicas e sociais.

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de mercado, quando as firmas adquirem determinadas tarefas, no mercado (custo de transação externo)4.

As redes surgiram como uma forma de coordenação alternativa ao mercado e também à firma, já que mantêm relações mais estreitas com os fornecedores, podendo baixar os custo de transação, mas para autores como Storper e Salais (1997), o êxito dessas redes está associado às relações e cultura.

É interessante observar que para os autores californianos, a atividade econômica possui certa tendência intrínseca à aglomeração (concentração) num dado espaço geográfico, estando normalmente acompanhada das atividades correlatas ligadas à cadeia de produção e serviços, como nos distritos industriais e clusters estudados5. Scott (1994) relaciona tal tendência aos efeitos do que o autor denomina divisão social do trabalho. Nota-se na bibliografia que trata da produção flexível que as formas territoriais verificadas neste modelo de produção são: i) os distritos industriais italianos; ii) o meio inovador, iii) os pólos tecnológicos e iv) os arranjos e/ou sistema produtivo e inovativo local (SPIL´s). Destas formações, as três últimas são factíveis de ocorrência em áreas metropolitanas.

A divisão social do trabalho é tratada como o fracionamento das várias tarefas da empresa em unidades cuja produção é especializada. Tal conceito nada mais é que o fenômeno da produção verticalmente desintegrada em pequenas e médias empresas, favorecendo as interações e encadeamentos (linkages) para frente e para trás na cadeia de produção, passando a operar no sistema input-output.

A produção verticalmente desintegrada, segundo Scott facilita o ajustamento da produção em virtude das flutuações de mercado intrínsecas de cada atividade, mas pode ser mais acentuada quando: i) o processo produtivo for muito complexo, apresentando muitas etapas de produção; ii) as economias de escala e de escopo internas são reduzidas; iii) os produtos estão submetidos a

4 Nesse sentido a freqüência das transações inter-firmas pode diminuir as incertezas e conseqüentemente os custos de

transação no mercado, mas a especificidade dos ativos tem forte influência sob a forma de coordenação. Tendo em vista o comportamento oportunista de alguns agentes, essa relação pode ser associada a um contrato, para que haja diminuição dos riscos. Assim, quanto mais específico são ativos da produção, maior será o custo de transação que pode ir além da coordenação de mercado. Quanto menor a especificidade da transação, mais a coordenação passa para o mercado

5 Para Scott a aglomeração pode coincidir com os limites geográficos de um bairro, um distrito, cidade e até mesmo

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diferenciação muito intensa ou condições econômicas imprevisíveis ou ainda quando iv) a divisão social do trabalho possa gerar nichos de mercado.

Os custos de transação tendem a cair com a geração de economias externas em decorrência do grande número de produtores especializados, multiplicando as relações inter-firmas, tornando-as mais interdependentes do espaço, pois a distância pode elevar os custos (dos transportes ou de informação), mas algumas economias são percebidas somente na forma de aglomeração.

Neste ponto Scott (1994) relaciona os custos de transação, à divisão social de trabalho e à metrópole. Para o autor tal relação pode proporcionar diminuição dos custos de transação, redução no ciclo do produto e respostas rápidas a diferenciação na demanda, exigindo nesse caso a especialização da empresa, uma vez que as firmas se estabelecem em torno de competências essenciais, externalizando tarefas mais rotineiras, aumentando dessa forma os encadeamentos para frente e para trás. Nessa perspectiva as grandes cidades passam a estabelecer certas vantagens, pois contam com uma estrutura econômica que abrange milhares de empresas operando de forma especializada, interligadas direta ou indiretamente num denso tecido de relações produtivas (Scott, 1994: 105), fenômeno que Benko (1995) ilustrou como uma colcha de retalhos (patchwork).

Embora Scott (1994), tenha tratado basicamente das dinâmicas dos custos transacionais, o autor confere a importância de outros fatores para o desenvolvimento urbano, como a estrutura institucional e de aprendizado, além é claro do mercado de trabalho amplo e variado. Mas foi nos trabalhos mais recentes de Scott e Storper que estas questões foram abordadas, incorporando “conceitos como lock-in tecnológico, desenvolvimento tecnológico dependente da trajetória (path-dependent), características localizadas e tácito-contextuais do processo de inovação, o caráter localizado da circulação do conhecimento etc” (Miglino: 2003: 96).

Storper e Salais (1997) afirmam que com o advento da micro-eletrônica as restrições relativas à distância diminuíram, mas as experiências já estudadas apontam que há uma grande diferenciação no acesso, nas formas de absorção e transformação do conhecimento em inovação, nesse sentido a proximidade entre os atores assume um papel estratégico diante do caráter endógeno, localizado e assimétrico do conhecimento. Para os autores, assim como para os

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pesquisadores do GREMI6 e dos Distritos Italianos7, dentre outros, a interação dos agentes e a cultura local assumem um papel central no sucesso dos aglomerados.

A divisão social do trabalho, segundo Storper e Salais (1997), permite que as firmas experimentem várias formas de coordenação das tarefas de produção e especialização a partir de novas tecnologias. Neste contexto, a dinâmica econômica de cada aglomeração produtiva está intimamente ligada às relações, processos intelectuais e práticas rotineiras dos indivíduos que nela interagem, os chamados ativos relacionais. Esses ativos orientam a apropriação de economias externas, fluxos de conhecimento e aprendizado tecnológico, determinando o foco da produção e os processos de diferenciação, melhoria e reconfiguração de produtos, gerando produtos especializados.

Tal capacidade proporciona às economias um salto substancial nas condições que permitem vantagens comparativas, já que os ativos relacionais são elementos de difícil reprodução, são interdependências não-comercializáveis (Storper, 1997: 28) disponíveis em algumas aglomerações. Schmitz e Nadvi (1999) destacam que a articulação entre economias externas resultantes da aglomeração espacial (aquelas não-intencionais) e economias resultantes de ações conjuntas dos agentes de aglomerado (cluster), aquelas que surgem de um esforço deliberado, podem gerar ganhos de eficiência coletiva.

A presença destes ativos pode proporcionar ajustamento e revitalização das aglomerações produtivas metropolitanas, aproveitando o potencial para criar ambientes inovadores, que são próprios da sua heterogeneidade social, cultural e econômica. Mas pressupõe-se que num ambiente metropolitano de característica cultural eclética e acolhedora de diferentes experiências, como o Município de São Paulo, possa haver diversificação das relações locais fomentando interações e negócios diferenciados, podendo trazer implicações relevantes.

Para finalizar, as relações socioeconômicas retratadas por Scott (1994) são evidentemente distintas das abordadas nos distritos italianos, principalmente no que se refere às relações de cooperação e confiança, mas refuta-se a idéia de que a metrópole não possa gerar capital humano,

6 Ver, por exemplo, o estudo de Aydalot (1984) e Maillat (1995) dentre outros.

7 A experiência de desenvolvimento dos Distritos Industriais italianos foi retratada em vários estudos e pesquisa.

Uma coletânea das principais obras pode ser observada na obra de Benko e Lipietz “Las Regiones que Ganan” (1994), dentre outras obras.

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já que na ausência desta “interdependência não-comercializável” dificilmente seriam observadas transformações na economia das grandes cidades como as retratadas no GREMI (Aydalot, 1995)8.

Neste sentido, a percepção da metrópole que permeia esse estudo é de uma região heterogênea, influenciada naturalmente pelas deseconomias de aglomeração e pelo processo da produção flexível, cuja lógica está engendrada na dinâmica industrial e dos serviços. Neste sentido as aglomerações produtivas metropolitanas, se apropriam de forma distinta das economias proporcionadas pelos encadeamentos para frente e para trás (linkages), do mercado de consumo, que é denso e diversificado, do amplo mercado de trabalho e do capital social9. Considera-se ainda, que a localização metropolitana pode significar uma fonte de competitividade extra, uma vez que a oferta da infra-estrutura física e conhecimento, além da concentração de recursos humanos são ativos valiosos na dinâmica da economia contemporânea.

1.2. A Indústria do Vestuário e as Metrópoles

A cidade de São Paulo, assim como ocorre em algumas metrópoles, chega ao início do século XXI abrigando uma expressiva participação na indústria do vestuário, mas a concentração desta atividade na capital paulista não é uma novidade, já que setor passou a se concentrar no período de industrialização. O que surpreende é o fato do vestuário não ter sido impelido para outras localidades devido às deseconomias de aglomeração como ocorreu com o têxtil (Caiado, 2000), por exemplo. É provável que tal fenômeno encontre eco nos processos de reestruturação no setor e em grande medida na intensificação dos ativos da moda, com a valorização do desenvolvimento de produto e design.

Nas experiências internacionais retratadas na bibliografia, destaca-se o Garment District novaiorquino, que se especializou na produção de moda feminina de alta costura, atendendo ao mercado de forte poder aquisitivo de Nova Iorque. Observa-se na dinâmica econômica deste

8 Segundo Miglino (2003: 15), o GREMI avaliou a revitalização produtiva e local de três regiões metropolitanas

(Amsterdã; Cidade Científica de Île de France Sud (Paris) e Nordeste da área metropolitana de Milão), que segundo a autora são regiões que passaram por dificuldades socioeconômicas e processos de reorganização produtiva, através da introdução de novas tecnologias e novos processos produtivos.

9 Capital social é o conjunto de instituições formais e informais que afetam os níveis de confiança, interação e

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distrito, o deslocamento das atividades produtivas do vestuário, com a concentração das atividades de desenvolvimento e coordenação da cadeia de produção (Garcia e Cruz-Moreira, 2004), assim como a presença efetiva de várias colônias de imigrantes onde se destacam os judeus, os italianos e os chineses que atualmente dominam o setor.

A estratégia produtiva do Garment District se apóia nos ganhos competitivos proporcionados pelo desenvolvimento de uma rede de produção internacional. Este modelo concentrou nos produtores de Nova Iorque as atividades de desenvolvimento de design, controle, estabelecimento da marca e distribuição de produtos, sub-contratando de forma bastante agressiva, as tarefas mais rotineiras da produção, como o corte e a costura, em países que oferecem menor custo de mão-de-obra, especialmente o México (Matinez, 2001) e alguns países Caribenhos como Porto Rico.

Garcia e Cruz-Moreira (2004) destacam ainda o caso de Los Angeles entre as grandes cidades norte-americanas com forte concentração das atividades do vestuário, ressaltando entre os elementos relevantes para a atração desta atividade o clima cultural proporcionado pela indústria cinematográfica de Hollywood e a afluência de imigrantes, em especial de mexicanos e de norte-americanos da região central, na produção flexível local.

Dentre as cidades asiáticas os autores destacam ainda o papel exercido pelas cidades de Tóquio e de Hong Kong na coordenação e liderança da comercialização da produção e design de moda na Ásia, sub-contratando as tarefas mais rotineiras nas localidades próximas que oferecem menores custos de mão-de-obra, como ocorre no Garment District.

Outro exemplo importante de concentração das atividades do vestuário em metrópoles é o constatado em Paris, mas especificamente o Sentier parisiense. Stoper e Salais (1997) chamam atenção para redes de sub-contratação que demonstram uma trajetória evolutiva e capacidade de inovação em design, combinando relações de cooperação e competitividade produtiva.

A experiência do Sentier parisiense possui alguns elementos comuns às experiências anteriormente mencionadas, como a presença de trabalhadores imigrantes, o esforço de inovação através do design e fortalecimento de marcas, mas os produtores franceses contam com um diferencial. Storper e Salais (1997) destacam que o Sentier é formado por vários sistemas produtivos que atendem a mercados distintos. Kontic (2001) destaca que a indústria do vestuário parisiense se especializou na moda feminina em três segmentos de produção, a alta costura e o

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prêt-à-porter e system mode (modinha), apoiando-se numa extensa divisão de trabalho entre empresas de pequeno porte.

As experiências internacionais retratadas mostram que a concentração das atividades nas tarefas mais nobres do setor do vestuário, notadamente as tarefas anteriores e posteriores à produção, é um elemento comum nestas experiências, o que sugere que tais atividades tornaram-se estratégicas para o tornaram-setor. Cabe ressaltar que a pretornaram-sença de todas as tarefas que compõem as atividades do vestuário, mantendo capacidade de inovação e aprendizado tecnológico é um fenômeno relativamente raro às experiências internacionais, ocorrendo apenas no Sentier parisiense, possivelmente em Los Angeles e nos Distritos Industriais Italianos (Lazerson, 1992).

1.3. Natureza e Dinâmica do Processo de Inovação e Aprendizado no Setor do Vestuário

As mudanças originárias nos processos de reestruturação produtiva e nas estratégias de inovação são críticas para todos os setores, mas a ênfase dada na literatura que aborda esta questão, como ressaltam Storper e Salais (1997), está voltada para a indústria intensiva em Ciência e Tecnologia, ocultando, equivocadamente o aprendizado tecnológico nas indústrias tradicionais, como no caso das atividades do vestuário.

Oportunamente Johnson e Lundvall (2000:3), lembram que a relevância do conhecimento e do aprendizado na chamada “economia do aprendizado” não é uma exclusividade das atividades high tech, e sustentam que “a habilidade para aprender é crucial para o sucesso econômico dos indivíduos, firmas, regiões e países, [...] em todas as esferas da economia, onde se inclui setores tradicionais ou low tech”. Com efeito, ainda que seja um tema bastante debatido parece interessante abordar o conceito de inovação, já que tal questão não se mostra esgotada.

Inovação tecnológica compreende a introdução de um novo produto, bens materiais ou serviço, assim como um novo processo (forma como são produzidos os bens) no mercado das empresas. Ressalta-se que a criação ou aperfeiçoamento tecnológico que não tem aproveitamento mercadológico pode ser tratado como boa idéia, embora se mantenha fora do campo da inovação. Não é necessário que a inovação tecnológica gere rupturas a partir de novo produto ou processo, ou seja, a inovação pode apresentar características incrementais ou de aperfeiçoamento, introduzindo pequenas alterações nos produtos e/ou processos gerando na mesma medida,

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competitividade. Nesta perspectiva, a inovação tecnológica é fenômeno interativo, que se apropria de conhecimento e competências gerados a partir de fontes internas e externas à firma.

Nas fontes internas interagem os conhecimentos provenientes da P&D, assim como conhecimentos arraigados no dia-a-dia das firmas, provenientes da produção, design, gestão, comercialização, elementos característicos de processos onipresentes e interativos. Nas fontes externas, a inovação esta relacionada às relações inter-firmas e a interação da firma com o ambiente na qual ela está estabelecida. Neste caso a interação entre instituições, cultura local e usuários assume um papel fundamental, na geração de conhecimento, aprendizado e inovação (Lundvall, 1992).

Dessa forma a construção contínua de novos conhecimentos e habilidades está no centro da dialética entre inovação e aprendizado e por conseqüência na competitividade de empresas e regiões (Johnson e Lundvall, 2000). Não é demais ressaltar que a concepção de inovação tecnológica anteriormente descrita distingue-se da visão linear da inovação, onde esse processo estava restrito ao cumprimento das etapas de invenção, inovação e difusão.

No setor do vestuário os processos de aprendizado e inovação tecnológica verificados nas tarefas de produção são escassos, pois trata-se de um processo produtivo descontínuo e intensivo em trabalho. Abreu (1989) ressalta que a maquinaria necessária para a confecção de roupas é limitada, acarretando num certo atraso na introdução de inovações tecnológicas e acentuando uma faceta arcaica no setor que esta fortemente arraigada nas tarefas mais rotineiras. Exemplo desta limitação foi a lenta transposição da atividade produtiva realizada quase totalmente nas casas de alfaiates e costureiras para o sistema produtivo das primeiras fábricas. Por outro lado, o setor do vestuário foi receptor de importantes transformações tecnológicas que marcaram época.

O desenvolvimento da máquina de costura pela Singer, por exemplo, foi um dos principais precedentes do Fordismo (Hounshell, 1984). Nesse mesmo período foram introduzidas importantes mudanças, que ainda são cruciais nas máquinas de costura modernas, como o “pé” de apoio que sustenta a agulha e a própria agulha, peças que ainda permanecem como foco do esforço tecnológico de empresas especializadas nas máquinas de costura. A intensificação das mudanças no design e o desenvolvimento de novos tecido verificados recentemente, também provocam adaptações na tarefa de costura.

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Os novos designers passaram a exigir maior flexibilidade da costura, assim alguns modelos necessitam que agulha e a linha firam minimamente o tecido, em outros casos a costura, mais saliente, passa a compor a peça. Há ainda algumas peças que não admitem uso da linha e nem recortes. Outros exigem a implementação de pequenos ajustes na máquina de costura, tarefa feita quase artesanalmente por profissionais especializados nas adaptações e concerto de máquinas do setor em conjunto com clientes.

As novas máquinas de costura também adensaram componentes eletrônicos que proporcionaram melhor desempenho com aumento da velocidade, diminuição de ruído e consumo de energia, assim como exclusão de algumas sub-tarefas, como introdução e corte da linha e posicionamento do tecido.

Nas tarefas anteriores e posteriores a produção, as inovações buscam agregação de conhecimento no desenvolvimento do produto, além de novas máquinas nas tarefas de desenho e corte como o CAD/CAM, Ploters etc e mostram-se como estratégicas para o setor.

É importante ressaltar que o vestuário é uma atividade segmentada por vários elementos que vão formando os nichos de mercado. Geralmente esta segmentação inicia-se pelo tipo de peça a ser produzido (primeira divisão do Quadro 1.1), dividindo a atividade na produção de “roupas”, “acessórios” ou “artigos do lar”, que embora estejam enquadradas dentro da mesma atividade (vestuário), apresentam características produtivas próprias.

O setor do vestuário possui ainda segmentação das características elementares (segunda divisão do Quadro 1.1), que especifica o mercado a ser atendido, dividindo-o em vestuário feminino, masculino, infantil, dando início à especificação mais fina do mercado. Já a segmentação por tipo de insumo (terceira divisão do quadro 1.1) merece maior cuidado, pois exige técnicas de corte e costura específicos e em alguns casos pesquisa de design. Mas é o nicho de mercado (último nível de segmentação do Quadro 1.1) que mostra-se crítico para a inovação do setor.

Na maioria dos casos as firmas são classificadas como as direcionadas para o segmento da alta costura, onde a produção é por vezes realizada de forma artesanal ou sob encomenda. Já o prêt-à-porter é uma combinação de “elementos da alta moda com difusão em massa e produção industrial. Tira do primeiro a autoridade da marca, o luxo e experimentação, combinando com processos industriais de escala, nos quais, parte dos produtos são itens de larga difusão,

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recebendo grife de grandes criadores” (Kontic, 2001). A modinha, segundo o autor, é segmento caracterizado por “peças leves de vestuário feminino, captando tendência de moda passageira”, normalmente destinadas ao público de poder aquisitivo mais baixo.

Fonte: Entrevistas e consultas com instituições e sites especializados.

No processo de inovação destes nichos de mercado podem ser destacadas três etapas críticas: o ciclo de desenvolvimento de design e produto, as tarefas relacionadas ao marketing e a relação com os fornecedores.

No ciclo do desenvolvimento das novas coleções no vestuário verifica-se uma dinâmica específica para os principais segmentos do vestuário. Na alta costura essa tarefa se inicia com a captação de informações e conhecimento que dão o tom aos conceitos (temática) a serem trabalhados nas coleções que são em torno de quatro ao ano. Com base nessa bagagem os estilistas começam desenhar os modelos da coleção, escolher e pesquisar os tecidos, padronagens e acabamento.

No prêt-à-porter, os estilistas e especialistas em moda buscam interação com centros geradores de informações e conceitos, identificando as tendências nos desfiles de estilistas da alta costura, principais revistas de moda e tendências de "rua". Alem desta pesquisa os produtores introduzem inúmeras inovações incrementais no design, produzindo novos produtos

● Roupas ● Acessórios ●Produtos do Lar

• Vestuário infantil • Vestuário feminino • Vestuário masculino • Lingeries e meias • Uniformes e roupas

● Alta costura ● Prêt-à-porter ● Modinha

● Tecido plano ● Malha circular e retilínea ● Não-tecidos

Quadro 1.1

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semanalmente e em alguns casos diariamente. No caso do segmento da modinha o esforço destinado ao design é menor, já que os produtores inseridos neste mercado identificam as peças a serem replicadas ou readaptadas, reproduzindo a custos mais baixos.

Nas tarefas de desenvolvimento do produto e do design, a inovação e o aprendizado das firmas que atuam no segmento de alta costura e no prêt-à-porter se apropriam de mecanismos formais (como a pesquisa indumentária e antropométrica e engenharia), e de formas menos estruturadas do aprendizado (learning by doing e using), que se remetem ao conhecimento tácito e ao conhecimento extraído de atividades contínuas, cumulativas e hereditárias. Assim como as interações (learning by interacting) que são obtidas junto às instituições locais, além da inter-relação produtiva complementar entre os agentes. No caso do segmento da modinha este esforço ocorre em escala mínima, gerando formas mais simplificadas do aprendizado informal.

Nessa ótica, o know-how (o saber fazer), proveniente da experiência do indivíduo, torna-se fundamental para interpretação dos padrões tecnológicos contemporâneos, assim como o know-who, que está relacionado ao conhecimento da tecnologia e a capacidade de cooperar e comunicar, compartilhando rotinas e códigos comuns (Johnson e Lundvall, 2001), remetendo-se aos ativos relacionais e interdependências não-comerciáveis (Storper e Salais, 1997) que são idiossincrasias locais.

Ao término da fase de desenvolvimento inicia-se o planejamento e gerenciamento da coleção (quantidade e momento da distribuição), tarefa que subsidia o marketing e a confecção da peça piloto, que depois é repassada para outras empresas que efetuarão tarefas relacionadas à facção do produto.

Nas funções relacionadas ao marketing, mais comuns no prêt-à-porter e na alta costura, as tarefas envolvem o trabalho de criação e consolidação da marca, bem como da estratégia de comunicação do conceito de moda escolhido, remetendo-se a capacidade de aprendizado por interação (learning by interacting). Estas atividades preocupam-se ainda com o estabelecimento de canais de comunicação com o cliente, que englobam centrais telefônicas (0800), home pages e eventos promocionais, além das estratégias de lançamento das coleções com a definição da arquitetura, decoração, iluminação e até vitrine do ponto de venda.

No que se refere à integração com o conjunto de fornecedores da cadeia de produção, comuns nos três segmentos, onde realiza-se a maior parte das etapas da produção, são detalhados

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as especificações da costura, bem como os critérios para controle da qualidade. Em alguns casos a produção também recebe contribuições relativas aos novos materiais, corantes, tecidos e ajustes técnicos nas máquinas de costura, como anteriormente destacado.

Normalmente, os requisitos exigidos aos fornecedores dizem respeito a flexibilização da produção, pois as firmas contratantes demandam produção em pequenos lotes e com grande variedade de design, bem como prazos reduzidos de entrega, assim como a garantia da qualidade do produto, que consiste em exigência para a permanência no cadastro de fornecedores.

Recentemente, algumas empresas do setor têxtil como a Vicunha, a Rhodia e a Rosset têm ensaiado parcerias importantes para o setor do vestuário, patrocinando estilistas e marcas já consagradas nos desfiles da São Paulo Fashion Week, com a contrapartida de desenvolver e lançar novos tecidos e fios, criando demanda para os segmentos mais populares, principalmente no prêt-à-porter. Segundo Paulo Borges (2004), organizador deste evento, os desfiles são acompanhados por grande parte das empresas de moda do País, que buscam inspiração e são eventuais compradores dos fios e tecidos desenvolvidos nas parcerias. "É o grande segredo da sustentação da pirâmide: a inovação do Fashion Week de hoje, seja estampa floral, corte a laser, ou vestido trapézio, em duas estações se transforma em produto de massa e cria demanda".

Esse tipo de interação junto ao segmento de alta costura já resultou na criação de novos tecidos e novos fios, mas caso os agentes envolvidos consigam sistematizar esta interação, este tipo de evento pode se transformar numa fonte geradora de inovações muito importante para os dois setores. Ressalta-se ainda que o know-how desenvolvido para o segmento da alta costura, ainda que não seja direcionado ao grande mercado tende a transbordar parte do conhecimento já adquirido para os eventos mais direcionados para os segmentos mais cotidianos, com o prêt-à-porter.

1.4. Fontes de Informação

Esse item descreve as principais fontes de informação disponíveis para análise econômica de aglomerações no Município de São Paulo, acentuando a abordagem sobre a PAEP e a pesquisa qualitativa realizada junto aos agentes locais. O sub-item 1.4.1 destaca as principais fontes de informação que podem ser utilizadas para a análise do Município de São Paulo. O sub-item 1.4.2.

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destaca a concepção metodológica da PAEP, pesquisa escolhida como principal fonte empírica que deu origem aos indicadores utilizados para o cumprimento da análise. O sub-item 1.4.3. destaca as considerações metodológicas da pesquisa qualitativa.

1.4.1. Considerações Metodológicas das Principais Pesquisas Econômicas

Os estudos e ensaios cujo enfoque recai sobre a atividade econômica do Estado de São Paulo, principalmente a RMSP e Município de São Paulo, têm o privilégio de poder contar com mais de um instrumental estatístico à disposição do pesquisador, o que possibilita uma escolha mais direcionada e qualificada para a solução do problema proposto. Para o enfoque desse estudo encontram-se disponíveis a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho, Pesquisa Industrial Anual (PIA) produzida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (PAEP) da Fundação SEADE.

A RAIS embora conte com cobertura setorial, temporal e geográfica muito ampla e seja provavelmente a base de dados mais utilizada para identificar aglomerações produtivas no Brasil, não é uma ferramenta desenvolvida para exploração estatística e por isso apresenta algumas deficiências técnicas típicas de um conjunto de “registros”.

Suzigan et al (2003a: 42-43), apontam problemas como o da: i) cobertura, já que este Cadastro, apesar da proporção nacional, inclui apenas relações contratuais formalizadas por meio da “carteira assinada”; ii) método de auto-classificação na coleta das informações primárias, sem qualquer exame de consistência por parte do Ministério; iii) métrica relacionada aos estabelecimentos, não distinguindo as unidades locais da empresa; iv) emprego como a variável-base, deixando de captar diferenças inter-regionais de tecnologia e produtividade e v) descontrole das empresas não-declarantes.

Na PIA as limitações são decorrentes da disponibilidade de informações e possibilidades de recortes geográficos, pois trata-se de um levantamento amostral aplicado para todo o Brasil. Para o universo de empresas formalmente constituídas com mais de 5 pessoas ocupadas, a pesquisa é feita por amostragem aleatória. Já para as empresas com 30 ou mais pessoas ocupadas a pesquisa é censitária. Esta pesquisa não apresenta as deficiências de captação encontradas na RAIS, pois como destacam Suzigan et al (2003a), sua metodologia diferencia os dados da

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empresa e dos estabelecimentos, convencionalmente conhecidos como filiais, além de realizar a consolidação final dos dados, o que representa um salto qualitativo muito grande.

Esta pesquisa oferece além de informações de empresas e unidade locais (filiais) produtivas e de apoio, o total de pessoas ocupadas, número de empresas e unidades, Valor da Transformação Industrial (VTI), dentre outras informações econômicas. Já as informações de caráter qualitativo e técnico são colhidas em outras pesquisas, cuja disponibilidade de uso exige um exercício estatístico e tabulações especiais. Outro ponto a se destacar desta pesquisa foi a consolidação de vários conceitos, fazendo com que outras pesquisas, como a PAEP, buscassem adequar sua coleta de dados, utilizando alguns conceitos comuns como UL, Empresa e PO, a fim de compatibilizar a produção estatística brasileira.

Além dos conceitos citados, a PAEP, pesquisa utilizada como principal fonte empírica deste estudo, possui um arcabouço de questões e variáveis único para pesquisa desse porte, permitindo a caracterização e cruzamento, em mesmo período temporal e numa dada região, entre informações econômicas e informações qualitativas. Outro fator de diferenciação na PAEP é a composição da amostra que é consideravelmente maior que as demais pesquisas, ampliando as possibilidades de recortes e análises especiais, determinando a escolha dessa base de dados como principal fonte empírica.

1.4.2. A Pesquisa da Atividade Econômica Paulista como Fonte de Informação

A Pesquisa da Atividade Econômica Paulista (PAEP) é um levantamento estatístico de caráter amostral, que buscou fotografar o estado das artes da atividade econômica no Estado de São Paulo (ESP) nos anos de 1996 e 2001, priorizando a mensuração da atividade econômica e a compreensão do fenômeno da reestruturação produtiva no Estado de São Paulo.

A amostra da PAEP foi construída a partir do conjunto de empresas do Cadastro Central de Empresas (CEMPRE) do IBGE, onde constam apenas empresas juridicamente estabelecidas10.

10 Uma empresa passa a ter existência jurídica quando é inscrita no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas – CNPJ,

recebendo um número de identificação composto por 14 dígitos. Os 8 primeiros são chamados de Raiz e identificam a Empresa de fato. Os 4 números seguintes servem para identificar a unidade, iniciando sempre do 0001, onde em boa parte dos casos esta fixada a sede da empresa. Os dois últimos números que compõe o CNPJ são verificadores. Esse procedimento regulamenta o processo de abertura das firmas em todo território brasileiro, mas o grande problema ocorre na atuação jurídica das empresas, que é bastante flexível. Por exemplo, o empresário pode optar por ter uma única empresa (um único CNPJ) com várias filiais, com atividades e

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