• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 1 – Heterogeneidade e Especialização na Economia Metropolitana

1.5. Métrica dos Indicadores

1.5.2. Caracterizando Aglomerações Produtivas no Município de São Paulo

A caracterização das aglomerações produtivas já identificadas utilizou a classificação proposta no trabalho de Mytelka e Farinelli (2000), que analisou clusters20 especializados em atividades tradicionais ou low tech. As autoras ressaltam que nem todos os aglomerados se configuram em sistemas inovativos, mas algumas experiências mostram trajetórias virtuosas nos processos de aprendizado, interação e inovação, qualificando-os como sistema de produtivo e inovativo local (Cassiolato e Lastres, 2003).

Tendo como base as experiências de diferentes clusters21, as autoras observaram que os princípios de organização e algumas dificuldades específicas tiveram impacto na dinâmica dos processos de produção e mudança tecnológica destas aglomerações, conferindo-lhes potencial distinto para que o processo de inovação ocorra de forma sustentada e contínua. Dessa forma as autoras as autoras desenvolveram uma classificação que distingue os aglomerados como:

Cluster informal: devido as baixas barreiras de entrada, este cluster é formado por um grande número de micro e pequenas empresas, que apresentam nível tecnológico baixo em relação à fronteira tecnológica do setor, além de capacidade produtiva e administrativa reduzida. Raramente suas empresas demonstram capacidade de investimento para inovar seus produtos e processos, para a promoção de melhoria na qualidade do produto, diversificação da produção e exportações. Contam com mão-de-obra pouco qualificada,

19 Esta escolha alinha-se a opção feita no trabalho de Kontic (2001), que abordou a atuação de redes

socioeconômicas na reestruturação da indústria da moda na capital paulista.

20 O termo clusters utilizado por Mytelka e Farinelli (2000) refere-se basicamente as aglomerações territoriais de empresas.

21 As autoras analisaram experiências como o cluster de Suame Magazine (Ghana), Nnewi (Nigéria), Sialkot

limitando as possibilidades de aprendizado contínuo, apresentando ainda baixo nível de confiança e concorrência baseada em preço. A coordenação neste tipo de cluster é baixa e sua infra-estrutura de apoio é fraca, ou ausente contribuindo para a baixa interação local. • Cluster organizado: é caracterizado por apresentar um processo produtivo coletivo, e

provisão de infra-estrutura e de serviços de apoio, possibilitando o enfrentamento de problemas comuns em conjunto. Embora seja formado basicamente por pequenas empresas, apresentam algumas médias empresas com melhor nível de competitividade. Quanto à capacidade tecnológica, as empresas estão mais atualizadas, entretanto poucas destas estão perto da fronteira, apresentando capacidade de adaptar novas tecnologias, desenvolver novos produtos e processos. A cooperação e as redes de pequenas empresas tendem a emergir neste modelo.

Cluster inovador de indústrias tradicionais: é formado por empresas de pequeno, médio e grande porte, onde um pequeno grupo desponta como elemento crítico para o aglomerado, mas suas empresas exibem trajetórias de inovação virtuosas e contínuas, contando ainda com mão-de-obra especializada. O grande diferencial deste cluster está nos hábitos e práticas que facilitam a interação entre suas empresas, possibilitando o compartilhamento de conhecimento e informações, ou seja, a cooperação é mais densa, além de apresentarem atividades exportadoras mais consistentes.

Os clusters organizados e clusters inovadores descritos pelas autoras são aqueles que contêm os elementos potenciais para se enquadrarem como um Sistema Produtivo e Inovativo Local (Cassiolato e Lastres, 2003).

Neste contexto, o Capítulo II analisou informações estruturais dos aglomerados identificados, iniciando com uma análise descritiva dos eventos históricos que apresentaram influência sobre a trajetória constitutiva e desenvolvimento dos aglomerados. As informações utilizadas para essa descrição foram obtidas nas entrevistas qualitativas e levantamento bibliográfico, buscando identificar:

• Eventos provenientes de um “acidente histórico”, e/ou deliberados, ou seja, aqueles planejados, que tiveram influência na formação do aglomerado.

A estrutura produtiva foi caracterizada através dos dados fornecidos pela PAEP, tendo como base analítica o porte das unidades, que foram classificadas através do número de pessoas

ocupadas (PO). As unidades com até 29 pessoas ocupadas foram denominadas como pequenas unidades produtoras. Aquelas que tinham entre 30 e 99 pessoas ocupadas foram tratadas como médias e as unidades que apresentaram 100 ou mais pessoas ocupadas como grandes unidades utilizando:

• A distribuição Percentual das Unidades Locais produtivas, Valor Adicionado, Pessoal Ocupação e Salários pagos, que forneceram insumos para caracterizar a estrutural produtiva dos aglomerados e identificar o porte das unidades que são críticas para a produção e o emprego do aglomerado. Considerando que as relações horizontais entre produtores de um mesmo setor proporcionem melhores condições de interação e competitividade do aglomerado, considera-se que quanto mais discrepante for a distribuição de UL, PO, VA e Salários, maior será a heterogeneidade dentro do aglomerado e mais difícil será a interação entre as firmas.

No Capítulo III foi abordado padrão tecnológico, tendo em vista que estes sejam determinantes para o desenvolvimento dos aglomerados, assim como para sua classificação enquanto clusters organizados (ou não), além de produzir insumos para o direcionamento de políticas de desenvolvimento. Foi aplicado um método comparativo nas informações estatísticas disponibilizadas na PAEP entre os aglomerados identificados, onde foram analisados:

• O esforço tecnológico dos aglomerados, que computou os investimentos em bens tangíveis e intangíveis. Considera-se que num setor intensivo em mão-de-obra, como no caso do vestuário, o esforço tecnológico mais elementar é o direcionado à renovação do parque das máquinas (bens tangíveis). Já os dispêndios com a elaboração de projetos e design e fortalecimento da marca (bens intangíveis), mostram-se como ativos dinâmicos. Nesse sentido o maior dispêndio com bens intangíveis confere ao aglomerado maior dinamismo tecnológico, ampliando as possibilidades de aprendizado tecnológico contínuo.

Condições de acumulação de conhecimento, utilizando como proxy a distribuição de unidades produtivas, segundo período de instalação. Considera-se que o período mais longo de existência das unidades pode proporcionar melhores condições de apropriação de ativos do conhecimento cumulativo e tácito, fundamental para atividades low tech.

• Atualização do parque de máquinas e equipamentos, analisada através da idade média, serviu como complemento analítico do dinamismo tecnológico dos aglomerados. Quanto mais novos são as máquinas e equipamentos, mais atualizados estão os bens tangíveis do aglomerado, melhorando a capacidade produtiva e tecnológica do aglomerado.

Produtividade (medida pela razão entre VA sobre PO) foi analisada como proxy dos indicadores de capacitação técnica, pois com a cumulação de conhecimentos produtivos, associados à agregação funções qualificadas, este indicador tem assumido contornos cada vez mais dinâmicos. Quanto maior o nível de eficiência, mais o aglomerado pode apresentar funções qualificadas e capacidade técnica.

Índice de Produtividade:

VAi ● / POi ● ——————— VA ij / PO ij Onde: i = setor ou indústria j = região escolhida

● = região de referência (Estado SP)

VA ij = ∑ do Valor Adicionado do setor ( i ) na região ( j ) PO ij = ∑ do Pessoal Ocupado do setor ( i ) na região ( j ) VA i ● = ∑ do Valor Adicionado do setor ( i ) no ESP PO i ● = ∑ do Pessoal Ocupado do setor ( i ) no ESP

Média salarial foi analisada como proxy da concentração de ocupações qualificadas, através da divisão social de trabalho. Quanto maior a índice salarial, maior a concentração de ocupações qualificadas, as funções inteligentes e por conseqüência maior a possibilidade do aglomerado gerar produtos e processos inovadores.

Índice Salarial:

Wi ● / POi ●

——————— W ij / PO ij Onde: i = setor ou indústria j = região escolhida

● = região de referência (Estado SP)

W ij = ∑ do Salário pago pelo setor ( i ) na região ( j ) PO ij = ∑ do Pessoal Ocupado do setor ( i ) na região ( j ) W i ● = ∑ do Salário pago pelo setor ( i ) no ESP

PO i ● = ∑ do Pessoal Ocupado do setor ( i ) no ESP

• Incidência dos serviços produtivos de Desenvolvimento e Gerenciamento de Novos Projetos e Desenvolvimento de Produtos. Foi observada inicialmente a proporção de ocorrência dessas tarefas na empresa ou se também são frutos de sub-contratações, já que é comum nas empresas que operam no segmento de prêt-à-porter contratarem tais tarefas, principalmente no Desenvolvimento de Projetos, podendo ainda proporcionar novas possibilidades de interação entre os agentes locais. A presença destas atividades, principalmente o Desenvolvimento de Projetos, confere ao aglomerado a concentração das funções inteligentes.

No Capítulo IV foram analisados os mecanismos de interação, elemento crítico na dinâmica de inovação dos aglomerados, podendo ocorrer na cadeia produtiva, na relação usuário- produtor e entre agentes locais e instituições.

Na medida em que as unidades se concentram e especializam em determinadas tarefas, estas buscam outras empresas para a complementação do processo produtivo, através dos processos de sub-contratação, com interação derivada do fluxo de informação e transmissão de Know-how desenvolvido pelas empresas contratantes.

Através da relação de questões levantadas pela PAEP e das informações obtidas nas entrevistas qualitativas foi possível classificar os expedientes da organização produtiva das firmas em quatro modalidades. Para qualificar a organização da produção foi preciso levar em conta que

a PAEP aplica esse tipo de questão a todas as indústrias do Estado de São Paulo (de todos os setores e de todas as regiões). Neste sentido construiu-se uma proxy tendo como base:

• As informações de sub-contratação das tarefas de produção e destino das vendas. O cômputo das empresas que externalizam parte do processo produtivo representa as chamadas Produtoras de Moda, identificadas como aquelas empresas que têm relação com o mercado e se concentram nas chamadas funções inteligentes.

• As empresas que afirmam externalizar totalmente o processo produtivo representam as Intermediárias, ou seja, aquelas que ainda são classificadas como indústrias, mas se concentram nas tarefas de controle e distribuição.

• No caso das empresas que não externalizam as tarefas de produção, a métrica exigiu um esforço de abstração maior, já que entende-se que nesse conjunto estão as empresas Faccionistas (que executam as tarefas de produção das empresas contratantes) e uma parcela de empresas, que normalmente manufaturam internamente seus produtos, que foram denominadas como empresas do Vestuário não-especializado. Para ajustar o cômputo destas empresas, foi utilizado como parâmetro a proporção de empresas que vendem a maior parte da produção para a Cadeia Têxtil-Vestuário elementos característicos das empresas Faccionistas.

Considera-se que quanto maior a externalização das tarefas de produção com a presença das empresas faccionistas, maior as possibilidades de especialização e interação produtiva, aumentando a eficiência do aglomerado. Quanto mais as empresas se distanciam da especialização da produção, se estabelecendo num patamar entre a facção e o lançamento de produtos em mercados precários, menores serão as possibilidades de interação produtiva.

Como ressaltam Suzigan et al (2002) a presença dos setores correlatos à atividade principal, no caso o vestuário, exerce influência significativa para o desenvolvimento do aglomerado, ampliando os laços de interação. Os dados disponibilizados possibilitam mapear: • A proporção de empresas instaladas em cada aglomerado, cujo maior volume de vendas é

destinado à cadeia têxtil/vestuário, fazendo uma aproximação das interações dentro da cadeia de produção dos aglomerados no local. Quanto maior a proporção de empresas locais vendendo a maior parte de sua produção para a cadeia têxtil-vestuário, maior as possibilidades de interação.

No que se refere aos mecanismos de interações com instituições foram pesquisadas e comparadas a existência das interações formais e informais através dos:

• Mecanismos formais de interação com instituições onde foram identificadas ações que apóiam o desenvolvimento tecnológico e estimulam a cooperação, como consórcios, projetos de cooperação etc.

• Mecanismos informais onde foram pesquisados locais que se configuram como facilitadores para troca de informações e interação entre profissionais especializados. Essas informações foram obtidas através das entrevistas qualitativas conduzidas junto aos produtores e instituições de classe. Considera-se que quanto maior os vínculos locais institucionais sejam eles formais ou informais, melhor são as oportunidades de aprendizado por interação no aglomerado.

A caracterização dos mecanismos de interação finaliza-se com os aspectos mais relevantes em relação ao mercado, pois admite-se que diante dos vários segmentos do setor, a forma de interação com o usuário tenha influência determinante nas trajetória tecnológica e de aprendizado. No caso do vestuário, a interações com o mercado podem se referir aos fornecedores, os atacadistas, os compradores de lojas especializadas, os grandes distribuidores, dentre outros. Nos mecanismos de interação com o mercado também foram verificados mecanismos formais e informais que foram captados através das entrevistas e visitas aos aglomerados, pesquisando:

• A relação dos produtores com os clientes no ponto de venda foi considerada como um mecanismo informal de interação, pois considera-se que nos locais que em há um esforço de enquadramento da área física com os elementos que compõe uma dada coleção, os canais de interação com os compradores estão facilitados, devido a facilidade de comunicação, podendo gerar troca de informações direta sobre o design e qualidade dos novos produtos.

• Participação em eventos externos ao local, principalmente em feiras e exposições que representa um refinamento e ampliação dos canais de informação. Quanto maior a participação, mais as empresas estão propícias à interação com outras experiências que não as locais, ampliando ainda o alcance geográfico dos produtos e a troca de informações entre empresas contratadas e contratantes.

• Nos mecanismos de interação formal mediu-se a sistematização da troca de informação sobre a qualidade do produto e perfil do cliente, ativo fundamental para a estratégia voltada para os ativos da moda, ocorrendo através dos 0800 e outros canais formais, mas é um evento mais comum entre os produtores e compradores de produtos finais. Quanto maior a proporção destes mecanismos mais a interação se torna mais consistente.

Nas considerações finais busca-se através da análise dos indicadores que descreveram a estrutura produtiva, assim como aqueles que compararam as estratégias tecnológicas e dos mecanismos de interação dos aglomerados da Área Central e Leste, utilizando a tipologia de Mytelka e Farinelli (2000), para classificá-los (ou não) enquanto sistema produtivo inovador (Cassiolato e Lastres, 2003).

Conclusões

Este capítulo teve como objetivo apresentar os conceitos que fundamentam este estudo, além de descrever a metodologia que permeia a análise empírica. Assim, no item 1.1 foi discutido os conceitos que relacionam a questão da heterogeneidade e especialização produtiva das metrópoles e o papel da produção flexível na formação da chamada colcha de retalhos da estrutura produtiva metropolitana, assim como as questões relativas ao aprendizado e inovação dos aglomerados.

Neste contexto, o Município de São Paulo, maior cidade da América Latina, demonstra ter as características destacadas por Scott (1994), pois a diversificação e as assimetrias são facilmente observadas na composição da estrutura produtiva (Tabela 1.1). O que de fato não é possível responder com a análise desses dados é até onde a heterogeneidade se estende e quais as características das aglomerações mais relevantes para São Paulo. Dessa forma, a estrutura metropolitana aqui retratada associa uma face inovadora, qualificada e atualizada da atividade econômica, às parcelas mais arcaicas e excludentes, ficando perceptível que as políticas públicas precisam apoiar atividades high tech, sem perder a sensibilidade para atividades low tech que também necessitam de esforços conjuntos para gerar oportunidades de inserção internacional assim como novos empregos.

No que se refere ao papel das atividades do vestuário, setor escolhido para a análise empírica deste estudo, para as grandes metrópoles e o processo de inovação e aprendizado, tema

abordado no item 1.2 e 1.3, é preciso antes de mais nada, admitir que este setor tenha a capacidade de promover inovação e aprendizado tecnológico, ainda que suas características não sejam as mesmas observadas nos setores high tech. É interessante observar que esta atividade passa por um processo reestruturação e tornou-se fundamental na geração de emprego e renda e para a própria dinâmica econômica, como no caso de Nova Iorque e Paris. Mas a ênfase dada na literatura que aborda tais questões como ressalta Storper e Salais (1997), está voltada para a indústria intensiva em C&T, ocultando o aprendizado tecnológico das indústrias low tech.

O item 1.4 apresentou as principais fontes de informação disponíveis para análise do Município de São Paulo construção metodológica da PAEP, principal fonte de informação deste estudo. Ressalta-se que a flexibilidade da PAEP e o aporte das informações disponibilizadas permitiram a identificação e caracterização das aglomerações no Município de São Paulo. O item 1.5 descreveu a metodologia aplicada para a construção dos indicadores que identificaram e caracterizaram as aglomerações produtivas do vestuário no Município de São Paulo.

Espera-se que esse estudo ofereça contribuições, principalmente no que se refere à construção metodológica, já que caminha na direção de outros ensaios que compartilham do mesmo interesse: produzir análises mais regionalizadas, para o município de São Paulo, como no caso dos estudos realizados pelo CEBRAP para a Região Central.

CAPÍTULO 2 – IDENTIFICANDO E CARACTERIZANDO AGLOMERAÇÕES