O USO DE DIURÉTICOS COMO FORMA DE DOPING NO MEIO
ESPORTIVO
Rogério Rocha Lucena1- Eloiza Helena Ferreira da Silva2, Julia Mischur Carvalho3, Michel Ruediger4
1 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Guarujá, São Paulo. Docente do Curso de Medicina. lucena.rogerio@gmail.com
2 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Guarujá, São Paulo. Discente do Curso de Medicina. eloizabiomed@gmail.com
3 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Guarujá, São Paulo. Discente do Curso de Medicina. julia_mischur@hotmail.com
4 Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP), Guarujá, São Paulo. Discente do Curso de Medicina. michel_rue@hotmail.com
RESUMO
Após a morte de dois atletas nas olimpíadas de 1960 e 1964, o Comitê Olímpico
Internacional (COI) estabeleceu a Comissão Médica no ano de 1967, que passou a atuar nas olimpíadas de 1968 no México. O controle oficial pelo COI começou nos Jogos Olímpicos de Inverno de Grenoble, França, em 1968, entretanto, apenas no ano de 1988 os diuréticos entraram na classe das substâncias proibidas, que compõe o quadro atualizado todos os anos pela Agência Mundial Antidoping (Wada). Os diuréticos aumentam o débito e o volume urinário. Alguns também aumentam a
excreção urinária de solutos, principalmente sódio, potássio e cloreto. O diagnóstico
do abuso de drogas no esporte depende de sua identificação inquestionável em material colhido do atleta. A urina contém moléculas representativas de todas as substâncias presentes no organismo, sejam elas endógenas ou exógenas. Apresenta-se nesApresenta-se estudo o motivo dos diuréticos encaixarem-Apresenta-se na clasApresenta-se das substâncias proibidas no meio esportivo segundo a Wada e a COI, e leva-se em consideração como o exame é feito para avaliar a integridade do atleta.
PALAVRAS-CHAVE: Doping; Diuréticos; Esporte. ÁREA DE CONHECIMENTO: Saúde.
1 INTRODUÇÃO
Após a morte de dois atletas nas olimpíadas de 1960 e 1964, o COI estabeleceu uma Comissão Médica no ano de 1967, que passou a atuar nas olimpíadas de 1968 no México (1).
O controle oficial pelo COI começou nos Jogos Olímpicos de Inverno de Grenoble, França, em 1968, mas apenas alguns estimulantes e narcóticos poderiam ser testados devido às limitações na metodologia analítica (2). Entretanto, apenas no
ano de 1988 os diuréticos entraram na classe das substâncias proibidas, que compõe o quadro atualizado todos os anos pela Wada (3).
O objetivo desse trabalho é responder o porquê dos medicamentos diuréticos no meio esportivo serem considerados doping e em qual exame eles podem ser identificados pela Agência Mundial Antidoping (Wada).
3 DESENVOLVIMENTO
3.1 DEFINIÇÃO DE DIURÉTICOS
Os diuréticos aumentam o débito e o volume urinário. Alguns também aumentam a excreção urinária de solutos, principalmente sódio, potássio e cloreto. A redução na reabsorção dos íons causa natiurese, que por sua vez leva à diurese (4). Ou seja, o
aumento da excreção de água ocorre secundariamente à inibição da reabsorção dos solutos (5).
3.2 MECANISMOS DE AÇÃO DAS DIFERENTES CLASSES DOS DIURÉTICOS
De acordo com a fração máxima excretada do sódio filtrado e seus princípios locais de ação no néfron, os diuréticos disponíveis em nosso meio pode ser assim classificados: 1) Diuréticos de alta eficácia (> 15%) ou potentes, com ação na porção ascendente na alça de Henle, como furosemida e bumetanida; 2) Diuréticos de eficácia média (5% a 10%), com ação na porção inicial do túbulo distal: tiazídicos e correlatos − clorotiazida, hidroclorotiazida, clortalidona e indapamida; 3) Diuréticos fracos ou adjuntivos (≤ 5%), em geral poupadores de potássio, com ação na porçãoção final do túbulo distal (troca de Na+, K+/H+) − amilorida, triantereno e espironolactona, este último antagonista competitivo da aldosterona (6).
Os Diuréticos Osmóticos consistem na classe das substâncias injetáveis na sanguínea corrente, como a Ureia, o Manitol e a Sacarose. Atuam principalmente nos túbulos proximais aumentando a pressão osmótica do líquido tubular e com isso diminuindo a reabsorção de água (5).
Os Inibidores de Anidrase Carbônica também atuam nos túbulos proximais. No entanto sua atuação é um pouco diferente, eles bloqueiam a ação da enzima anidrase
carbônica, essencial para a reabsorção de bicarbonato de sódio no túbulo
proximal. Visto que a reabsorção de sódio está acoplada com a reabsorção de bicarbonato e com a secreção de íons hidrogênio, essess permanecem no túbulo e atuam como um diurético osmótico fazendo com que maiores quantidades de água sejam excretadas. O representante dessa classe é a Acetazolamida (5) .
Os Diuréticos de Alça - representados pela Furosemida, Ácido Etacrínico e Bumetina - atuam diretamente na alça de Henle inibindo o cotransporte dos íons sódio, potássio e cloro. Essa classe de diuréticos representa a mais forte e agressiva para o organismo, em função das quantidades reabsorvidas desses solutos serem muito altas nesse local de ação, o que faz com que o corpo elimine enormes quantidades de soluto (5).
Já nos túbulos distais iniciais do néfron ocorre a atuação dos Diuréticos Tiazídicos, grupo representado pelos derivados tiazídicos, como a clorotiazida. Esse
grupo bloqueia o cotransportador sódio-cloreto da membrana luminal das células tubulares (5).
Por último, nos túbulos coletores, ocorre a ação do Antagonistas de Aldosterona e dos Bloqueadores do Canal de Sódio. O primeiro inibe a ação do hormônio Aldosterona, o que diminuiu a reabsorção de sódio e a secreção de potássio. São representantes desse grupo a Espironolactona e a Esplerenona (5). Já o segundo, atua
bloqueando os canais de sódio causando um efeito semelhante ao primeiro, visto que também reduz a secreção de potássio. Consistem nos representantes dessa classe, o Triantereno e a Amilorida (5).
3.3 DEFINIÇÃO DE DOPING
Todo o uso de uma ou mais substâncias e métodos proibidos segundo a lista atualizada de janeiro de 2020, desde que não haja justificativa médica, será considerado doping. O objetivo da publicação dessa lista é manter os atletas atualizados e fazer com que eles assumam uma corresponsabilidade pelo processo de controle de uso na prática esportiva. Essa lista é composta principalmente por: estimulantes, narcóticos, esteroides anabólicos, bloqueadores beta adrenérgicos, diuréticos, hormônios peptídicos e analgésicos (7).
3.4 EXAMES ANTIDOPING
O diagnóstico do uso de drogas no esporte depende de sua identificação em material colhido do atleta. Hoje, devido à facilidade de coleta, garantia de evitar a adulteração e por se tratar de repositório de todas as moléculas que são eliminadas pelo organismo, considera-se a urina como o melhor material para essa finalidade. Cabelo, sangue, saliva ou outros fluidos, excretas e tecidos biológicos apresentam limitações que necessitam ser contornadas para que possam ser utilizadas (8).
A urina contém moléculas representativas de todas as substâncias presentes no organismo, sejam elas endógenas ou exógenas. Muitas vezes, a excreção da substância de interesse ocorre após modificação. As modificações mais comuns são a funcionalização ou a conjugação, ambas resultantes da necessidade de tornar as moléculas mais polares para que sejam mais solúveis em água (1).
O exame deve ser feito mediante a uma amostra a partir de 75 mL de urina cedida pelo atleta, a qual é dividida em duas partes e colocada em dois frascos distintos rotulados com números idênticos e as letras A e B, a primeira com 2/3 e a segunda com 1/3 do volume total de urina. Essa amostra é enviada ao laboratório para ser analisada. A amostra A com cerca de 50 mL é dividida em sete partes, em que é submetida à cromatografia gasosa, espectrometria de massas e ensaios imunológicos para hormônios peptídicos. Ao termino das pesquisas, o resultado, de forma sigilosa, é informado às autoridades esportivas que solicitaram o exame. Por ventura, se alguma substância proibida for confirmada positiva, o atleta é informado, e pode solicitar, ou não, a análise da amostra B. O resultado é confirmado quando o atleta abdicar da segunda análise ou quando o resultado da amostra B também revelar a presença de alguma substância proibida (7).
3.5 DIURÉTICO COMO DOPING
Os diuréticos não possuem atividade farmacológica passível de beneficiário o desempenho do atleta. Contudo, são usados para diminuir o peso artificial e transitório, e para diluir a urina coletada para o exame antidoping em casos que a pessoa utilizou alguma substância de uso proibido. São utilizados, igualmente, para impedir um dos efeitos adversos mais frequentes dos esteroides anabolizantes, que é a retenção de água no organismo (9).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os diuréticos entram na lista proibida a partir do ano de 1988. No entanto, a sua utilização não traz nenhum benefício para o desempenho do atleta. O seu uso, entretanto, contribui para a redução do peso artificial, a diminuição do edema causado pelo efeito colateral do uso dos esteroides anabolizantes e ainda mascara a presença de outras substâncias proibidas pela Agência Mundial Antidoping, por esses motivos foi adicionado à lista há mais de 30 anos. O teste utilizado é o de urina, por essa excreta conter boa parte das substâncias presentes no organismo. A amostra, por sua vez, passa por diversos testes, como cromatografia gasosa, espectrometria de massas e ensaios imunológicos para hormônios peptídicos, que ao final confirmam o uso ou não dessa e de outras substâncias.
5 REFERÊNCIAS
1. NETO, F. R. D. A. O papel do atleta na sociedade e o controle de dopagem no esporte. Revista Brasileira de Medicina do Esporte. Niterói, v. 7, n. 4, dez./2005. Disponível em: https://www.scielo.br/pdf/rbme/v7n4/v7n4a05.pdf. Acesso em: 19 jun. 2020.
2. DICKMAN, S. East Germany: science in the disservice of the state: A secret East German program to perfect steroid drug for athletes was a full-fledged scientific endeavor. American Association for the Advancement of Science: Science, Alemanha, v. 254, n. 5028, p. 26-27, dez./2005. Disponível em: https://science.sciencemag.org/content/254/5028/26. Acesso em: 24 jun. 2020.
3. GIZMODO BRASIL. Um breve histórico do doping, e como cada substância
ajuda os atletas a trapacear. Disponível em:
https://gizmodo.uol.com.br/breve-historico-doping/. Acesso em: 19 jun. 2020.
4. BATLOUNI, M. Diuréticos: Diuretics. Revista Brasileira Hipertensão: Brazialian Journal of Hypertension, Rio de Janeiro, v. 16, n. 4, p. 211-214, dez./2005.
5. GUYTON, A.C.; HALL, J.E; Tratado de Fisiologia Médica. 13ª ed. São Paulo: ELSEVIER, 2017. p. 427-442.
6. GIORGI, D. M. A; Farmacologia terapêutica vascular: Diuréticos. 2. ed. São Paulo: Atheneu, 2005. p. 113-133.
7. AUTORIDADE BRASILEIRA DE CONTROLE DE DOPAGEM. Lista Proibida
Janeiro de 2020. Disponível em: http://www.abcd.gov.br/legislacao. Acesso em: 19
jun. 2020.
8. HENDERSON, Gary T.; HARKEY, Martha R.; ZHOU, Chihong. Incorporation of Isotopically Labeled Cocaine and Metabolites into Human Hair: 1. Dose-Response Relationships. Journal of Analytical Toxicolog, Inglaterra, v. 20, n. 1,p.1-12,dez./2005.Disponívelem:
https://academic.oup.com/jat/article/20/1/1/750825?searchresult=1. Acesso em: 24 jun. 2020.
9. PEDROSO, R. C.; Fundamentos de Toxicologia: Dopagem por cafeína, diuréticos e esteroides anabólicos no esporte. Edição. São Paulo: Atheneu, 1996. p. 357-372.