Superior Tribunal de Justiça
AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.138.214 - RS (2009/0084744-3)
RELATOR : MINISTRO HUMBERTO MARTINS
AGRAVANTE : MAXIFORJA COMPONENTES AUTOMOTIVOS LTDA ADVOGADO : FABIO LUIS DE LUCA E OUTRO(S)
AGRAVADO : FAZENDA NACIONAL
ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator):
Cuida-se de agravo regimental apresentado por MAXIFORJA COMPONENTES AUTOMOTIVOS LTDA. contra decisão monocrática de minha relatoria que apreciou recurso especial interposto com o objetivo de reformar acórdão proferido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, assim ementado (fls. 344/350-e):
"TRIBUTÁRIO. PIS. COFINS. CRÉDITO PRESUMIDO.
ESTOQUE DE ABERTURA. §§ 1º DOS ARTS. 11 DA LEI 10.637/02 E 10.833/03. LEGALIDADE.
1. As Leis n.ºs 10.637/02 e 10.833/03 instituíram o regime da não-cumulatividade do PIS e da COFINS, respectivamente. Ao fazê-lo, operaram, de um lado, a majoração da alíquota de 0,65% para 3% e de 3% para 7,6%, respectivamente (art. 2º), e concederam, de outro, benefícios fiscais na forma de créditos escriturais que resultariam na redução da carga tributária das empresas (art. 3º). São exemplos dos benefícios fiscais concedidos os descontos decorrentes da aplicação das alíquotas vigentes quando do sistema cumulativo sobre o estoque de abertura de bens existentes em 1º de dezembro de 2002 para o PIS e em 01 de fevereiro de 2004 para a COFINS, consoante arts. 11 da Lei 10.637/02 e 12 da Lei 10.833/03.
2. Não há se falar em ilegalidade do § 1º do art. 11 da Lei 10.637/02 e do § 1º do art. 12 da Lei 10.833/03 porque as alíquotas de PIS e COFINS a incidirem sobre os estoques existentes só poderiam ser aquelas previstas quando do sistema cumulativo. Anteriormente à nova sistemática, todas as 'entradas' tinham embutido em seu valor de aquisição as alíquotas então vigentes: 0,65 para o PIS e 3% para a COFINS.
3. É vedado ao Poder Judiciário conferir benefícios fiscais não previstos em lei ou estendê-los aos contribuintes não contemplados pela lei existente, nem tampouco, determinar a
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majoração de alíquota também prevista em lei. Isso implicaria em legislar de forma positiva, em flagrante afronta ao princípio da separação dos poderes adotado pelo sistema constitucional pátrio. "
A decisão agravada negou provimento ao recurso especial, nos termos da seguinte ementa (fl. 381-e):
"PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO – PIS – COFINS – VIOLAÇÃO DOS ARTS. 2º E 3º DAS LEIS N. 10.673/02 E 10.833/03 – MERCADORIAS EM ESTOQUE – CREDITAMENTO – REGRAS DE TRANSIÇÃO – ALÍQUOTAS UTILIZADAS NO
SISTEMA CUMULATIVO – LEGALIDADE – RECURSO
ESPECIAL IMPROVIDO."
Sustenta a recorrente que houve violação dos arts. 3º das Leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003. Aduz que a regra de transição para o creditamento das contribuições PIS e COFINS embutidas nas mercadorias em estoque estabelecida nos arts. 11 da Lei n. 10.637/2002 e 12 da Lei n. 10.833/2003 afrontam o princípio constitucional da não cumulatividade, bem como aos citados arts. 3º das leis.
Pugna, por fim, caso não seja reconsiderada a decisão agravada, submeta-se o presente agravo à apreciação da Turma.
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AgRg no RECURSO ESPECIAL Nº 1.138.214 - RS (2009/0084744-3)
EMENTA
TRIBUTÁRIO – PIS – COFINS – NÃO CUMULATIVIDADE – LEIS N. 10.637/2002 E 10.833/2003 – MERCADORIAS EM ESTOQUE – CREDITAMENTO – REGRAS DE TRANSIÇÃO – ALÍQUOTAS UTILIZADAS NO SISTEMA CUMULATIVO.
1. Com a vigência das Leis n. 10.833/2003 e 10.637/2002, foram majoradas as alíquotas da COFINS e do PIS de 3% para 7,6% e de 0,65% para 1,65%, respectivamente, passando a vigorar o sistema da não cumulatividade para estes específicos sujeitos passivos.
2. O legislador, ciente de que existiria mercadoria que já se encontrava em estoque (sistema de cumulatividade), estabeleceu regras de transição nos arts. 11 da Lei n. 10.637/2002 (PIS) e 12 da Lei n. 10.833/2003 (COFINS) para o sistema de creditamento destas mercadorias.
3. Considerando-se que o recolhimento da etapa anterior se deu sob as alíquotas menores do sistema cumulativo, quais sejam, 3% da COFINS e 0,65% do PIS, configuraria enriquecimento ilícito, para fins de creditamento, a utilização das alíquotas maiores (7,6% da COFINS e 1,65% do PIS) do sistema não cumulativo atual. Precedentes: AgRg no REsp 1.110.181/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, julgado em 9.2.2010, DJe 18.2.2010; REsp 999.458/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, julgado em 20.10.2009, DJe 4.11.2009; REsp 1.071.061/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, Primeira Turma, julgado em 16.9.2008, DJe 1º.10.2008.
4. Estando a decisão recorrida em consonância com a jurisprudência desta Corte, e uma vez que a agravante não trouxe qualquer argumento que pudesse infirmá-la, deve ser ela mantida íntegra por seus próprios fundamentos.
Agravo regimental improvido.
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO HUMBERTO MARTINS (Relator):
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Consoante consignado na decisão agravada, a questão posta para julgamento consiste em determinar quais alíquotas do PIS e da COFINS devem prevalecer para fim de creditamento, nos casos em que as mercadorias já estavam estocadas quando as Leis n. 10.833/2003 e 10.637/2002 entraram em vigência.
Com a vigência das referidas leis, foram majoradas as alíquotas da COFINS e do PIS de 3% para 7,6% e de 0,65% para 1,65%, respectivamente, passando a vigorar o sistema da não cumulatividade para estes específicos sujeitos passivos.
O legislador, ciente de que existiria mercadoria que já se encontrava em estoque (sistema de cumulatividade), estabeleceu regras de transição nos arts. 11 da Lei n. 10.637/2002 (PIS) e 12 da Lei n. 10.833/2003 (COFINS) para o sistema de creditamento destas mercadorias.
Observo que a agravante pretende fazer o creditamento de suas mercadorias em estoque utilizando as alíquotas do sistema não cumulativo de 1,65% para o PIS e 7,6% para a CONFINS, sendo que o recolhimento da etapa anterior se deu sob as alíquotas do sistema cumulativo.
Assim, a agravante pretende creditar-se de uma diferença de alíquotas que não foi recolhida nas etapas anteriores, e tal pretensão se trata de um verdadeiro enriquecimento sem causa.
Nesse sentido, os seguintes julgados:
"TRIBUTÁRIO. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. PIS E COFINS. NÃO CUMULATIVIDADE.
VIOLAÇÃO DOS ARTS. 2º E 3º DAS LEIS N. 10.673/02 E 10.833/03. MERCADORIAS EM ESTOQUE. CREDITAMENTO.
REGRAS DE TRANSIÇÃO. ALÍQUOTAS UTILIZADAS NO
SISTEMA CUMULATIVO.
1. A partir da vigência das Leis 10.833/03 e 10.637/02, foram majoradas as alíquotas da Cofins e do PIS de 3% para 7,6% e de 0,65% para 1,65%, respectivamente, marcando a mudança do regime da cumulatividade para a não cumulatividade.
2. Os arts. 11 da Lei 10.637/02 (PIS) e 12 da Lei 10.833/03 (Cofins) estabeleceram regras de transição para o sistema de creditamento de mercadorias que já se encontravam em estoque, ou seja, que haviam sido adquiridas em sistema de cumulatividade.
3. Configuraria enriquecimento ilícito a utilização, para fins de creditamento, das alíquotas maiores do sistema não cumulativo atual, considerando-se que o recolhimento da etapa anterior se deu sob as alíquotas menores do sistema cumulativo anterior.
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Precedentes.
4. Decisão mantida por seus próprios fundamentos. 5. Agravo Regimental não provido."
(AgRg no REsp 1.110.181/RS, Rel. Min. Benedito Gonçalves, Primeira Turma, DJe de 18.2.2010.)
"TRIBUTÁRIO - PIS - COFINS - NÃO-CUMULATIVIDADE - LEIS 10.637/02 E 10.833/03. MERCADORIAS EM ESTOQUE - CREDITAMENTO - REGRAS DE TRANSIÇÃO - ALÍQUOTAS UTILIZADAS NO SISTEMA CUMULATIVO.
1. A partir da vigência das Leis 10.833/03 e 10.637/02, foram majoradas as alíquotas da COFINS e do PIS de 3% para 7,6% e de 0,65% para 1,65%, respectivamente, marcando a mudança do regime da cumulatividade para a não-cumulatividade.
2. Os arts. 11 da Lei 10.637/02 (PIS) e 12 da Lei 10.833/03 (COFINS) estabeleceram regras de transição para o sistema de creditamento de mercadorias que já se encontravam em estoque, ou seja, que haviam sido adquiridas em sistema de cumulatividade.
3. Configuraria enriquecimento ilícito a utilização, para fins de creditamento, das alíquotas maiores do sistema não-cumulativo atual, considerando-se que o recolhimento da etapa anterior se deu sob as alíquotas menores do sistema cumulativo anterior. Precedentes.
4. Recurso especial não provido."
(REsp 999.458/RS, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma,DJe de 4.11.2009.)
"PIS. COFINS. NÃO-CUMULATIVIDADE. LEIS 10.637/02 E 10.833/03. EMPRESAS QUE APURAM IR COM BASE NO
LUCRO REAL. MERCADORIAS EM ESTOQUE.
CREDITAMENTO. REGRAS DE TRANSIÇÃO. ALÍQUOTAS
UTILIZADAS NO SISTEMA CUMULATIVO. LEGALIDADE.
I - A partir da vigência das leis 10.833/03 e 10.637/02, aplicadas às empresas que apuram seu imposto de renda com base no lucro real, foram majoradas as alíquotas da COFINS e do PIS de 3% para 7,6% e de 0,65% para 1,65% respectivamente, passando a vigorar o sistema da não-cumulatividade para estes específicos sujeitos passivos. Ciente de que haveria mercadorias que já se encontravam em estoque, ou seja, haviam sido adquiridas em sistema de cumulatividade, o legislador estabeleceu regras de transição nos arts. 11 da Lei 10.637/02 (PIS) e 12 da Lei 10.833/03 (COFINS) para o sistema de creditamento destas mercadorias.
II - A recorrente pretende fazer o creditamento de suas mercadorias em estoque, utilizando as alíquotas maiores do
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sistema não-cumulativo atual, sendo que o recolhimento da etapa anterior se deu sob as alíquotas menores do sistema cumulativo outrora vigente.
Em resumo, pretende creditar-se de uma diferença de alíquotas que não foi recolhida nas etapas anteriores. Tal pretensão se trata de um verdadeiro enriquecimento sem causa. Caso acolhida, estar-se-ia, a bem da verdade, negando vigência às
regras de transição estabelecidas. Precedente: REsp nº
1.005.598/RS, Rel. Min. JOSÉ DELGADO, DJe de 23.06.2008. III - Recurso especial improvido."
(REsp 1.071.061/RS, Rel. Min. Francisco Falcão, Primeira Turma, DJe de 1º.10.2008.)
Assim, uma vez que a decisão recorrida encontra-se em consonância com a jurisprudência desta Corte e se a agravante não trouxe qualquer argumento que pudesse infirmá-la, deve ser ela mantida íntegra por seus próprios fundamentos.
Ante o exposto, nego provimento ao agravo regimental. É como penso. É como voto.
MINISTRO HUMBERTO MARTINS Relator