PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRÁTICA 7 0 REGISTRADO(A) SOB N°
ACÓRDÃO li ii ii uni uni mu mii um um nu m
Vistos, relatados e discutidos estes autos de
Agravo de Instrumento n
2 0080945-91.2011.8;26.0000,da Comarca de São Bernardo do Campo, em que é
agravante NEOMATER LTDA. (EM RECUPERAÇÃO JUDICIAL)
sendo agravado CHASAN EXPRESS SERVIÇOS DE MOTQBOYl"
ACORDAM, em 17
a Câmara de Direito Privado doTribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte
decisão: "NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. V „ U."„ f
^
conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra
este acórdão.
O julgamento teve a participação dos
Desembargadores LUIZ SABBATO (Presidente) ê BARRETO
a.,.. '?.
FONSECA.
São Paulo, 3 de/'agosto de 2011
ERSON T./fOLJVEIRA
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AGTE. : NEOMATER LTDA. (em recuperação judicial)
AGDO. : CHASAN EXPRESS SERVIÇOS DE MOTOBOY LTDA.-ME
* Agravo de instrumento. Execução de título extrajudicial.
Irresignação contra o indeferimento dos pedidos de
reconhecimento de inexigibilidade do título executivo e
extinção da ação, em razão da aprovação do plano de
recuperação judicial. Acerto da decisão. Documentos que
evidenciam a homologação do plano de recuperação
judicial da empresa agravante. Descabimento de extinção
da execução. Necessidade de cumprimento das
obrigações previstas no plano de recuperação, a fim de
tornar definitiva a novação prevista no art. 59 da Lei n
11.101/2005. Possibilidade de suspensão da ação, ainda
que decorrido o prazo de 180 dias previsto no art. 6
o, § 4
o,
da referida lei. Precedentes. Afastado o pedido de
condenação da agravante por litigância de má-fé. Recurso
improvido.*
Trata-se de agravo interposto contra a decisão que, em autos
de execução de título extrajudicial, indeferiu o pedido de reconhecimento de
inexigibilidade do título e a consequente extinção da ação, em razão da aprovação
do plano de recuperação judicial.
Em suas razões recursais, a agravante afirma que já obteve,
na 3
aVara cível da comarca de São Bernardo do Campo, processo n°
564.01.2009.0432211-3, o deferimento da recuperação judicial, bem como a
aprovação do plano de recuperação pela assembleia geral, com homologação do
juízo.
Aduz que, a aprovação do plano deliberado em assembleia
geral e homologado pelo juízo implica novação dos créditos sujeitos à
recuperação judicial, nos termos dos artigos 49 e 59 da Lei n° 11.101/2005. Dessa
forma, sustenta que não há mais respaldo legal para a execução do título.
Por fim, ressalta que a agravada já aceitou o plano,
recuperação, o que torna o título inexigível e, assim sendo, requer a refon
decisão agravada.
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A decisão de fls. 182 deferiu o pedido de efeito suspensivo.
A agravada apresentou contraminuta a fls. 186/188 e
requereu a manutenção da decisão recorrida, bem como a condenação da
agravante por litigância de má-fé.
É o relatório.
O presente recurso não merece prosperar.
De fato, constata-se que houve a homologação do plano de
recuperação judicial da empresa agravante pelo juízo da 3
aVara cível da comarca
de São Bernardo do Campo/SP (fls. 122/125).
Porém, ainda que a agravante esteja sob recuperação judicial,
a execução não deve ser extinta e sim suspensa, pois a novação ocorrida é
condicional, conforme estipulam os artigos 58, caput; 59, caput e 61 da Lei n°
11.101/2005.
Isto é, aprovado e homologado o plano de recuperação
judicial, os créditos devem ser cumpridos de acordo com as condições nele
estabelecidas. O descumprimento das obrigações assumidas no plano de
recuperação enseja a decretação de falência da empresa. Com a decretação da
falência, os direitos e garantias dos credores são reconduzidos às condições em
que foram originariamente contratadas, descontadas eventuais quantias pagas.
Assim sendo, a novação efetivada na esfera da recuperação
judicial não extingue a obrigação primitiva, estando sujeita a uma condição
resolutiva, consistente no cumprimento do plano no prazo de até dois anos a
contar de sua concessão, nos termos do art. 61 da Lei n° 11.101/2005.
Nesse sentido, os ensinamentos de Fábio Ulhoa Coelho e a
jurisprudência deste E. Tribunal:
"As novações, alterações e renegociações realizadas no âmbito
da recuperação judicial são sempre condicionais. Quer dizer,
valem e são eficazes unicamente na hipótese de o plano de
recuperação ser implementado e ter sucesso. Caso se verifique
a convolação da recuperação judicial em falência, os credores
retornam, com todos os seus direitos, ao status quo ante. (...)".
(Comentários à nova lei de falências e de recuperação de
empresas, Editora Saraiva, 6
aedição, p. 168)
Execução - Duplicatas - Aprovado pela Assembleia Geral de
Credores o plano de recuperação judicial da agravante - Ação
que foi ajuizada, exclusivamente, em face da agravante - Arts/
58, "caput", 59, "caput", e 61, §§ 1
oe 2°, da Lei 11.101/2005/4
AGRV.N0 008094591.2011.8.26.0000 SÃO BERNARDO DO CAMPO VOTO 5786
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Aprovado e homologado o plano de recuperação judicial, os créditos devem ser cumpridos de acordo com as condições nele estabelecidas.
Suspensão do processo - Execução - Aprovação do plano de recuperação judicial da agravante - Descumprimento de obrigações assumidas nesse plano que enseja a decretação da falência da empresa - Direitos e garantias dos credores que, com a decretação de falência, são reconduzidos às condições em que foram originariamente contratadas, descontadas eventuais quantias pagas - Novação, efetivada na esfera da recuperação judicial, que é sempre condicional - Prematuro o pedido de extinção do processo executivo - Extinção que não se harmoniza com a sistemática da Lei 11.101/2005 -Viabilidade da suspensão da execução até o efetivo cumprimento, pela agravante, das obrigações previstas no plano de recuperação judicial - Agravo provido em parte.
(Agravo de Instrumento n° 990.10.253439-1, TJSP, 23a Câmara de Direito Privado, Rei. Des. JOSÉ MARCOS MARRONE, j. 29.09.2010)
Dessa forma, prematuro o pedido de extinção da presente execução. No caso em tela, é cabível a suspensão da ação até o efetivo cumprimento das obrigações assumidas pela agravante no plano de recuperação judicial.
Como bem destacado pelo juízo a quo, expiraram os 180 dias
de suspensão previstos no art. 6o, § 4o, da Lei n° 11.101/2005. Porém, em que
pese o decurso do referido prazo, o C. Superior Tribunal de Justiça, em benefício da função social da empresa e a manutenção da atividade económica, tem entendido que o mero decurso do prazo de 180 dias não tem o condão de restabelecer o prosseguimento das execuções individuais contra a empresa recuperanda. Confiram-se os julgados:
EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL - Hipótese em que foi aprovado plano de recuperação judicial do devedor principal -Suspensão da execução - Art. 6o, Lei 11.101/05 - Crédito habilitado nos autos da recuperação judicial - Possibilidade de prorrogação do prazo de 180 dias Precedentes do E. STJ -Recurso improvido.
(Agravo de Instrumento n° 0502562-76.2010.8.26.0000, TJSP, 23a Câmara de Direito Privado, Rei. Des. J.B. FRANCO DE GODOIJ. 23.02.2011)
COMERCIAL. AGRAVO NO CONFLITO POSITIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA COMUM E DO TRABALHO. LEI
11.101/05. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. SUSPENSÃO DE AÇÕES E EXECUÇÕES. PRAZO.
- Superado o prazo de suspensão previsto no art. 6o, §§ 4o e/ da Lei n° 11.101/05, sem que tenha havido a aprovaçãc
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plano de recuperação, devem as ações e execuções individuais retomar o seu curso, até que seja aprovado o plano ou decretada a falência da empresa.
- O legislador concatenou o período de suspensão de 180 dias com os demais prazos e procedimentos previstos no trâmite do próprio pedido de recuperação, que deve primar pela celeridade e efetividade, com vistas a evitar maiores prejuízos aos trabalhadores e à coletividade de credores, bem como à própria empresa devedora.
- A função social da empresa exige sua preservação, mas não a todo custo. A sociedade empresária deve demonstrar ter meios de cumprir eficazmente tal função, gerando empregos, honrando seus compromissos e colaborando com o desenvolvimento da economia, tudo nos termos do art. 47 da Lei n° 11.101/05. Nesse contexto, a suspensão, por prazo indeterminado, de ações e execuções contra a empresa, antes de colaborar com a função social da empresa, significa manter trabalhadores e demais credores sem ação, o que, na maioria das vezes, terá efeito inverso, contribuindo apenas para o aumento do passivo que originou o pedido de recuperação.
- Outrossim, uma vez aprovado o plano de recuperação, não se
faz plausível a retomada das ações e execuções individuais após o decurso do prazo legal de 180 dias, pois nos termos do art. 59 da Lei n° 11.101/05, tal aprovação implica novação.
- Em situações excepcionais, a serem oportunamente enfrentadas por esta Corte, a regra pode comportar exceções.
Todavia, o temperamento banalizado e desmedido do prazo de suspensão pode, desde já, importar retrocesso para o drama vivido na época das intermináveis concordatas, que o legislador procurou sepultar.
- Agravo não provido, (grifei)
(AgRg no Conflito de Competência n° 110.250 - DF, STJ, Segunda Seção, Rei. Min. NANCYANDRIGHI, j. 08.09.2010)
Portanto, com a concessão da recuperação judicial da agravante, não há que se falar em extinção da execução. Torna-se necessária, na verdade, a suspensão do feito, aguardando-se o cumprimento das obrigações assumidas no plano de recuperação.
Por fim, não restou demonstrada a alteração da verdade ou a ocorrência de deslealdade processual por parte da agravante a justificar sua condenação por litigância de má-fé, razão/p>ela qual fica afastado o requerimento formulado pela agravada.
Nesses termos, negasse provimento ao recurso.
ERSQH^OUVEIRA
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AGRV.N0 008094591.2011.8.26.({0J30 SAO BERNARDO DO CAMPO VOTO 5786