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A DISCRIMINAÇÃO NO DISCURSO: A CATEGORIZAÇÃO DA MULHER SOB O ENFOQUE DA LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM

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Academic year: 2019

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP

CLAUDIA MOREIRA DOS SANTOS

A DISCRIMINAÇÃO NO DISCURSO: A CATEGORIZAÇÃO DA MULHER SOB O ENFOQUE DA LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL

MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM

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CLAUDIA MOREIRA DOS SANTOS

A DISCRIMINAÇÃO NO DISCURSO: A CATEGORIZAÇÃO DA MULHER SOB O ENFOQUE DA LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL

Dissertação apresentada em atendimento à exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem à Banca Julgadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Orientadora: Profª. Drª. Sumiko Nishitani Ikeda

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BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________

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Esta dissertação é uma construção coletiva, fruto de várias representações. Desta forma, presto a minha gratidão:

A Deus, Ser supremo, que conduz nossos passos.

À orientadora, Prof.ª Dr.ª Sumiko Nishitani Ikeda, pela paciência e compreensão de minhas limitações, pelas orientações assertivas, e co-autoria neste projeto. Seu exemplo como educadora perdurará em toda minha vida profissional.. Sinto-me honrada de ter tido a oportunidade de ter sido formada por essa grande profissional. Deixo aqui gravado o meu respeito e admiração.

À Prof.ª Dr.ª Ângela B. C. T. Lessa (PUCSP), integrante da Banca de Qualificação, por aceitar gentilmente o convite e apontar ajustes fundamentais para a concretização teórica da pesquisa.

À Prof.ª Dr.ª Leiko Matsubara Morales (USP-SP), também integrante da Banca de Qualificação, por sua orientação especial e sugestões valiosas para a análise dos dados.

Ao meu marido Robinson Rosário Pitelli, pela confiança, discussões tão enriquecedoras e contribuições pontuais que tornaram o meu sonho realidade. Também por estar ao meu lado em todos os momentos, acompanhando-me nas horas difíceis com palavras de carinho e força.

À minha grande amiga, Eliane Alves de Sousa, pelo apoio constante, em momentos críticos.

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A todas as minhas colegas de curso, especialmente, Ângela, Rosânia e Fernanda pelo carinho, companheirismo e com as quais tive a honra de partilhar medos, alegrias e sonhos.

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EGÍGRAFE

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CLAUDIA MOREIRA DOS SANTOS

A DISCRIMINAÇÃO NO DISCURSO: A CATEGORIZAÇÃO DA MULHER SOB O ENFOQUE DA LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL

RESUMO

Não é incomum e nem causa estranheza se, no trânsito de uma avenida, ouvirem-se frases como: 'Lugar de mulher é na cozinha' ou 'Vá pilotar no fogão', como se a mulher estivesse invadindo um terreno que não lhe pertencesse. Sempre me intrigou essa diferença na consideração da mulher, quanto às suas atividades e seus deveres, em contraposição aos do homem. Se imaginarmos que o mundo é uma vasta coleção de coisas e de pessoas, poder-se-ia pensar que as pessoas teriam direito a essas coisas. Assim, ao entrar em contato com as ideias de Fowler (1991) sobre 'categorização' e 'grupo', decidi-me a pesquisar o assunto. A comunicação humana, segundo Fowler (1991), envolve sistemas de crenças, sistemas de categorias, ‘graus de discriminação’, que representam o mundo de acordo com as necessidades das sociedades em que ocorre a comunicação. Na medida em que categorizamos uma pessoa, continua o autor, como tendo atributos ou comportamentos fortemente previsíveis, a categoria pode enrijecer-se em um estereótipo. Segundo o autor, a categorização é a base discursiva para práticas de discriminação. O autor é um dos idealizadores da ‘Linguística Crítica’, segundo a qual, a análise feita com instrumentos linguísticos próprios e com referência a contextos históricos e sociais relevantes pode trazer a ideologia, normalmente escondida pela habitualização do discurso, à superfície para inspeção. Como em nossos dados constam também algumas imagens que apareceram na página do jornal em questão, apoiamo-nos em Macken-Horarik (2004), que analisa a contribuição complementar entre imagens (ilustrações) e palavras (do texto), no processo da construção de significados. O objetivo desta pesquisa é comparar, à luz da Linguística Crítica (Fowler, 1991), com apoio metodológico da Linguística Sistêmico-Funcional (Halliday, 1985; 1994), a categorização da mulher e a do homem na primeira página, do jornal Folha de S. Paulo. Para tanto, a pesquisa deve responder às seguintes perguntas: (a) Com que frequência a mulher ou o homem são citados na primeira página do jornal Folha de S. Paulo? (b) Que tipo de atividade exercem homens e mulheres citados nessa página? (c) Que escolhas léxico-gramaticais revelam a ideologia subjacente à figura da mulher e à do homem? O corpus desta pesquisa compõe-se das primeiras páginas das 30 edições do mês de abril de 2010 do jornal Folha de S.Paulo. Na LSF, considero a TGR (Teoria de Gêneros e Registro), proposta por Eggins e Martin (1997), bem como contribuições mais recentes que a teoria tem recebido, tais como a Avaliatividade de Martin (2000) e os conceitos de papel desempenhado e papel projetado, de Thompson e Thetela (1995), além de outros recursos retóricos, como a chamada 'política do apito do cão' (dog whistle politics) (COFFIN & O'HALLORAN, 2006) ou o 'contrabando' de informação (LUCHJENBROERS; ALDRIDGE, 2007).

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THE DISCRIMINATION IN DISCOURSE: THE CATEGORIZATION OF WOMEN UNDER THE LIGHT OF SYSTEMIC FUNCTIONAL LINGUISTICS

ABSTRACT

It isn’t neither uncommon nor surprising when we hear on the streets male drivers crying to a female driver: ‘Go to the kitchen!’ or ‘Cooking is what you should be doing!’ as if women who dare drive had invaded a man’s territory. I have always felt puzzled by such attitude towards women’s chores against men’s duties. If we picture the world as a vast collection of things and people one could understand such rights. Therefore, getting acquainted with Fowler’s ideas on women’s categorization and groupings made me decide to go deep inside it. Human communication, according to Fowler, involves belief systems, labeling arrangements and degrees of discrimination, which all together represent the world according to the needs of the societies where communication takes place. As we proceed with categorization of people, we go on assigning persons specific attributes and associating them with strongly predictable behaviors in a way that the categories end up turning into stereotypes. According to Fowler, categorization is a discursive basis for discrimination. He is one of the creators of Critical Linguistics which says that analysis made with appropriate linguistic tools and related to relevant social and historical contexts may reveal the ideology hidden under the surface of ordinary discourse and display it for inspection. Because there are also images which we picked up from the newspaper and included in this study, we refer to Macken-Horarik (2004) to account for the complementary contribution of image (artwork) and verbiage (text panel) to the meaning-making process. The objective of this study is to compare the categorization of women and men on the first page of Folha de S. Paulo newspaper, under the light of Critical Linguistics (Fowler 1991), with the support of Systemic Functional Linguistics (Halliday, 1985; 1994). For this purpose, the study shall answer the following questions: (a) How often are women or men cited on the first page of Folha de S. Paulo newspaper? (b) What type of activities do women and men cited on these pages are engaged in? (c) Which lexico-grammatical choices does the ideology behind the image of woman and man reveal? The corpus of this research is composed by the first pages of the thirty editions of Folha de S. Paulo in April 2010. From Systemic Functional Linguistics, I consider the TGR (Theory of Genres and Register), proposed by Eggins and Martin (1997), as well as more recent contributions that such theory has received, such as Martin´s Appraisal Theory (2000) and the concepts of Thompson and Thetela´s enacted and projected roles (1995), and some other rhetoric features as well as the so-called ‘dog whistle politics’ (COFFIN & O'HALLORAN, 2006) or smuggling of information (LUCHJENBROERS; ALDRIDGE, 2007).

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Relação processos/participantes... 13

Quadro 2 - As três metafunções (fonte: HALLIDAY, 1994) ... 14

Quadro 3 - Exemplo de análise de N-Rema (fonte: FRIES,1995)... 15

Quadro 4 - Oferecimento e pedido, bens & serviços ou informação (fonte:HALLIDAY, 1994)... 19

Quadro 5 - Funções da fala e respostas (fonte: HALLIDAY, 1994)... 20

Quadro 6 - Avaliação (Fonte: Martin, 2000)... 23

Quadro 7 - Análise de Afeto (fonte: MARTIN, 2000a)... 25

Quadro 8 - Análise de Julgamento (fonte: MARTIN, 2000a)... 25

Quadro 9 - Análise de Apreciação (fonte: MARTIN, 2000a)... 26

Quadro 10 - Atividades exercidas por homens e por mulheres... 37

Quadro 11 - O contexto social/situacional do texto 1... 40

Quadro 12 - Relação processos/participantes... 40

Quadro 13 - Análise do sistema da Transitividade da notícia 1... 41

Quadro 14 - Análise da metafunção interpessoal da notícia 1... 42

Quadro 15 - Análise da metafunção textual da notícia 1... 43

Quadro 16 - Análise da questão visual da notícia 1... 44

Quadro 17 - Notícia veiculada na primeira página do jornal em 15/04/10.... 45

Quadro 18 - O contexto social/situacional da notícia 2... 45

Quadro 19 - Análise do sistema da Transitividade da notícia 2... 45

Quadro 20 - Análise da metafunção interpessoal da notícia 2... 46

Quadro 21 - Análise da metafunção textual da notícia 2... 48

Quadro 22 - O contexto social/situacional da notícia 3... 49

Quadro 23 - Análise do sistema da Transitividade da notícia 3... 50

Quadro 24 - Análise da metafunção interpessoal da notícia 3... 51

Quadro 25 - Análise da metafunção textual da notícia 3... 52

Quadro 26 - Análise da questão visual da notícia 3... 52

Quadro 27 - Notícia veiculada na primeira página do jornal em 01/04/10.... 53

Quadro 28 - O contexto social/situacional da notícia 4... 53

Quadro 29 - Análise do sistema da Transitividade da notícia 4... 53

Quadro 30 - Análise da metafunção interpessoal da notícia 4... 54

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Tabela 1 - Frequência de citação de homens e mulheres... 36

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO... 1

1.1. Justificativa... 5

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA... 6

2.1. A Análise do Discurso, segundo Fairclough... 7

2.2. A Linguística Crítica... 8

2.2.1. A discriminação... 10

2.3. A relação entre língua e ideologia... 11

2.4. A Linguística Sistêmico-Funcional... 12

2.4.1. O Novo-Rema... 15

2.4.2. Língua e contexto... 15

2.4.3. Teoria de Gêneros e Registros... 17

2.4.4. A Metafunção interpessoal... 19

2.4.4.1. A modalização... 21

2.4.5. A Avaliatividade (Appraisal)... 23

2.4.5.1. Token de Atitude... 27

2.4.5.2. O Fenômeno da Propagação Avaliativa... 28

2.5. A abordagem intertextual ou translinguística... 29

2.5.1. Intertextualidade, coerência e sujeitos... 30

2.6. A comunicação visual... 30

2.6.1. As ferramentas... 32

3. METODOLOGIA... 33

3.1. Dados... 33

3.2. Procedimentos de análise dos dados... 34

4. ANÁLISE... 35

4.1. Frequência de citação de homens e mulheres... 35

4.2. Atividade exercida por homens e por mulheres... 37

4.3. A avaliação do homem e da mulher: As escolhas léxico-gramaticais... 38

4.3.1. Texto I: Beijinho, Beijinho, Tchau, Tchau... 39

4.3.2. Texto II: Ex-performer erótica assessora governo do Pará... 45

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS... 58

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Introdução − 1

A DISCRIMINAÇÃO NO DISCURSO: A CATEGORIZAÇÃO DA MULHER SOB O ENFOQUE DA LINGUÍSTICA SISTÊMICO-FUNCIONAL

1. INTRODUÇÃO

Não é incomum e nem causa estranheza se, no trânsito de uma avenida, ouvirem-se frases como: 'Lugar de mulher é na cozinha' ou 'Vá pilotar no fogão', como se a mulher estivesse invadindo um terreno que não lhe pertencesse. Também todos achariam normal que, se uma criança começasse a chorar por algum motivo (isso aconteceu comigo durante as férias da família), alguém dissesse: 'Onde está a mãe desta criança?' em vez de dizer: 'Onde está o pai desta criança?'.

Sempre me intrigou essa diferença na consideração da mulher, quanto às suas atividades e seus deveres, em contraposição aos do homem. Se imaginarmos que o mundo é uma vasta coleção de coisas e de pessoas, poder-se-ia pensar que as pessoas teriam direito a essas coisas. E, na realidade, podem ter, pelo menos em termos gerais. Tanto é que (aproveitando o exemplo acima), hoje, talvez haja até mais mulheres do que homens dirigindo veículos, já que a elas cabe levar as crianças à escola, ao curso de línguas, de natação, de balé, além de fazer compras no supermercado e a suprir tantas outras necessidades da família. Também há muitas mulheres em cargos de chefia, mulheres na política, na polícia, nos hospitais e assim por diante. Mas há sempre a sensação de serem elas casos de 'exceção', e sabemos que essas mulheres enfrentam dificuldades. Disse uma reitora de uma universidade: "A mulher precisa antes de tudo provar que existe para, só depois, merecer algum respeito à sua pessoa".

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de 2000, em chamá-la de "dona Marta", na expectativa de atiçar contra ela o machismo que, sem dúvida, ainda perpassa a sociedade em graus variados."

Porém, em muitos casos, é a própria mulher que recua diante de uma possibilidade melhor de colocação profissional, julgando-se incapaz para o cargo. E há outras que "regam a árvore de marido e filhos", como se prega o dito popular, nada exigindo para si, pois acreditam que a dedicação à família preencha os anseios de uma mulher. Por que isso? Por que encher-se de culpa quando se percebem pensando em seu bem estar, na realização de algum sonho, de algum desejo fora da área caseira? Foi nesse contexto que, nas aulas de linguística, entrei em contato com as ideias de Roger Fowler, ao ler seu livro Language in the news, de 1991.

Fowler sugere que as mulheres são constituídas no discurso como um grupo

especial com suas características peculiares, separadas da população como um todo por meio de avaliação específica. "Irrationality, familial dependence, powerlessness and sexual and physical excess" (FOWLER, 1991, p. 95) são esses os aspectos do paradigma para esse grupo, diz o autor, como tem sido relatado por escritores sobre sexismo na língua. A força do discurso em facilitar e manter esse tipo de discriminação contra membros de um grupo é tremenda. Pode não ser discriminatória na intenção, continua ele, ou, estritamente falando, na forma linguística; o ponto é simplesmente que o uso repetido de expressões que implicam um gênero apenas reforça as categorias de gêneros (masculino ou feminino) distintos, fazendo-os parecer que sejam normais. Esse não é especificamente um ponto linguístico, mas um ponto sobre discurso: o aparecimento no discurso de grande número de expressões mencionando categorias sociais poderosas, referindo-se a homens como seus portadores, sugere implicitamente que essa seja a ordem natural das coisas, e assim, por extensão, reforça a resistência da admissão da mulher a certas posições e atividades. A questão é que se a língua fornece nomes para as categorias, contribuindo para o estabelecimento de limites e relações, o discurso permite que esses nomes sejam ditos e escritos frequentemente, assim contribuindo para a aparente realidade e atualidade das categorias. É esse o fato que me fez examinar um jornal de grande circulação, que garantiria a frequência das categorias na formação da opinião pública.

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Introdução − 3

tipo, as nossas relações com essa pessoa são simplificadas, pois pensamos nela em termos das qualidades que atribuímos à categoria já pré-existente em nossas mentes. Mais adiante esclarecemos as noções de 'categoria' e 'grupo', segundo o autor.

Fowler é um dos idealizadores da ‘Linguística Crítica’, segundo a qual a análise feita com instrumentos linguísticos próprios e com referência a contextos históricos e sociais relevantes, pode trazer a ideologia, normalmente escondida pela habitualização do discurso, à superfície para inspeção. Segundo ele, nas ciências sociais e nas humanidades, ‘crítica’ é em geral usada para referir-se a perspectivas teóricas e metodologias que têm como objetivo alterar a ordem social e política existentes. A Linguística Crítica, portanto, envolve a análise ideológica do conteúdo textual em geral implícito, e baseia-se na visão de que os textos não são neutros como parecem; isso porque os processos sociais que levam a escolhas conscientes são escondidos ou feitos opacos na codificação linguística.

Em termos metodológicos, concordamos com Fowler e também com Fairclough (1992), que, da sua posição de linguistas críticos, elegem a Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), proposta por Halliday (1985; 1994) e seus seguidores para servir de base de sua análise, pois acreditam que essa teoria lance luzes sobre a relação língua e contexto, através de dois ramos do contexto social: (a) o contexto cultural ou gênero, pois o reconhecimento de um gênero permite regular a leitura sobre um sistema de expectativa, inscrevê-la numa trajetória previsível (VIGNER, 1988); (b) o contexto situacional ou registro e suas variáveis de Campo, Relações e Modo; e (c) o contexto ideológico, já que esse afeta a semântica e estrutura do texto – fato que Campo, Relações e Modo não são suficientes para caracterizá-la (BANKS, 2005).

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do discurso, fornecendo intravisões críticas na organização dos significados do texto. A LSF tem recebido contribuições que ampliaram seu poder analítico, e que serão úteis em nossa análise. Propostas como as de Martin (2000, 2003) detiveram-se no exame da metafunção interpessoal, da LSF, através das noções de Avaliatividade e dos tokens de Atitude.

Como em nossos dados constam também algumas imagens que apareceram na página do jornal em questão, apoiamo-nos em Macken-Horarik (2004), que analisa a contribuição complementar entre imagens (ilustrações) e palavras (do texto) no processo da construção de significados. O fenômeno do texto composto ou multimodal é um desafio para analistas do discurso, diz a autora, particularmente para os que trabalham com ferramentas linguísticas moldadas para o texto verbal. Porém, com apoio da Linguística Sistêmico-Funcional e, em especial, na análise da Avaliatividade (MARTIN, 2000, 2003) e praticada na Sydney School Linguistics, ela propõe uma avaliação da imagem e da verbiagem mais rica do que é feito atualmente em análises desses modos em separado.

O objetivo desta pesquisa é comparar, à luz da Linguística Crítica, com apoio metodológico da Linguística Sistêmico-Funcional, a categorização da mulher e a do homem no jornal Folha de S. Paulo. Para tanto, a pesquisa deve responder às seguintes perguntas: (a) Com que frequência a mulher ou o homem são citados na primeira página do jornal Folha de S. Paulo? (b) Que tipo de atividade exercem homens e mulheres citados nessa página? (c) Que escolhas léxico-gramaticais revelam a ideologia subjacente à figura da mulher e à do homem?

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Introdução − 5

1.1 JUSTIFICATIVA

A formação de um leitor crítico deve ser o objetivo da escola. Para isso, faz-se necessária a adoção de um conceito de leitura que privilegie a negociação e a construção de interpretações "situadas"; um conceito de leitura como prática social, que dê conta dos vários tipos de conhecimento que interagem nos processos interpretativos: conhecimento linguístico-textual, conhecimento prévio do mundo, de práticas sociais gerais e discursivas (FAIRCLOUGH, 1992; BAYNHAM, 1995 E MOITA LOPES, 1996).

Sou professora de Língua Portuguesa tanto na rede pública quanto na particular, e tenho constatado que o texto jornalístico tem sido o motivador de muitas aulas de compreensão da escrita em nossas salas de aula, em praticamente todos os níveis de ensino. Ora, a estrutura de um texto jornalístico, sob pressão das circunstâncias sociais da comunicação, incorpora valores e crenças, já que, como diz Fowler (1987, p. 67), "Não há representação neutra da realidade". Dizer que a voz de um jornal é um construto institucional, e, por conseguinte, impessoal na origem, não é dizer que não seja pessoal no estilo. A linguagem empregada será a versão do jornal da linguagem do público para quem é endereçada, continua o autor. Padrões de vocabulário mapeiam os registros e seus usuários; enfatizam preocupações especiais, projetam valores sobre o assunto do discurso; a sintaxe analisa ações e estados, moldando as pessoas com papéis e atribuindo a elas responsabilidade; afirmam-se ou implicitam-se temas recorrentes e generalizações. Se o leitor do jornal julgar que o modo coloquial de discurso é-lhe familiar e confortável, acaba considerando a ideologia que sua estrutura incorpora como um 'senso comum', e a aceita.

Nesse sentido, Macken-Horarik (2003) menciona o trabalho de Bakhtin (1953 [1986]), que conscientizou os linguistas para o caráter profundamente ‘endereçador’ dos textos tratados como monológicos, e fala em textos que ensinam implicitamente, em especial itens de conteúdo de certos valores éticos, que assim engajam os leitores no processo da leitura.

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tema, respostas críticas, influência em seguidores e sucessores, etc. (BAKHTIN, 1953 [1986]:76)

Diante desse fato, Fowler (1991) julga justificável praticar um tipo de linguística direcionada para a compreensão de tais valores, conhecida como Linguística Crítica. O leitor crítico, diriam Fowler et al. (1979), deve saber que qualquer aspecto da estrutura linguística carrega significação ideológica. Seleção lexical, opção sintática, etc., todos têm sua razão de ser. Há sempre modos diferentes de dizer a mesma coisa, e esses modos não são alternativas acidentais. Diferenças de expressão trazem distinções ideológicas e assim diferenças de representação. A LC procura, estudando detalhes da estrutura linguística à luz da situação social e histórica de um texto, trazer para o nível da consciência os padrões de crenças e valores que estão codificados na língua – e que estão subjacentes à notícia, para quem aceita o discurso como 'natural'.É o que tentamos mostrar aos nossos alunos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

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Fundamentação Teórica − 7

2.1 A Análise do Discurso, segundo Fairclough

Discurso, para Fairclough (1992),refere-se ao uso de linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais. Essa definição tem várias implicações. Primeiro: discurso é um modo de ação, uma forma em que as pessoas podem agir sobre o mundo e especialmente sobre os outros, como também um modo de representação. Segundo, implica uma relação dialética entre o discurso e a estrutura social, existindo mais geralmente tal relação entre a prática social e a estrutura social. Por outro lado, o discurso é socialmente constitutivo.

Podemos distinguir três aspectos dos efeitos constitutivos do discurso. O discurso contribui, em primeiro lugar, para a construção do que variavelmente é referido como 'identidades sociais' e 'posições de sujeito' para os 'sujeitos' sociais e os tipos de 'eu'. Segundo, o discurso contribui para construir as relações sociais entre as pessoas. E, terceiro, o discurso contribui para a construção de sistemas de conhecimento e crença.

Esses três efeitos, continua Fairclough, correspondem respectivamente a três funções da linguagem e a dimensões de sentido que coexistem e interagem em todo discurso - o que ele denomina funções da linguagem 'identitária', 'relacional' e 'ideacional'. A função identitária relaciona-se aos modos pelos quais as identidades sociais são estabelecidas no discurso; a função relacional ao modo como relações sociais entre os participantes do discurso são representadas e negociadas; e a função ideacional aos modos pelos quais os textos significam o mundo e seus processos, entidades e relações. As funções identitária e relacional são reunidas por Halliday (1978) como função interpessoal. Halliday distingue também uma outra função, a textual, que pode ser utilmente acrescentada à lista e diz respeito ao modo como as informações são trazidas ao primeiro plano ou relegadas a um plano secundário; tomadas como dadas ou apresentadas como novas; selecionadas como Tópico ou Tema; e como partes de um texto se ligam a partes precedentes e seguintes do texto, e à situação social fora do texto.

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ideias nas cabeças das pessoas, mas de uma prática social que está firmemente enraizada em estruturas sociais materiais e concretas, orientando-se para elas.

2.2 A Linguística Crítica

A Linguística Crítica (LC) é uma abordagem desenvolvida por um grupo da Universidade de East Anglia na década de 1970 (FOWLER et al., 1979; KRESS; HODGE, 1979). Eles tentaram casar um método de análise linguística textual com uma teoria social do funcionamento da linguagem em processos políticos e ideológicos, recorrendo à teoria linguística funcionalista associada com Halliday (1978; 1985) e conhecida como Linguística Sistêmico-Funcional.

Enquanto o foco da análise do discurso tradicional está nos significados estabelecidos entre sentenças e enunciados, na LC o foco está na seleção que é feita na construção de textos, em fatores que restringem e determinam essas escolhas (i.e. sua causa), e em seu efeito. Isso porque, da perspectiva da LC, todos os enunciados são potencialmente restringidos - e, realmente, determinados - pelas relações sociais que existem entre os participantes.

O ponto teórico principal na análise de Fowler é de que qualquer aspecto da estrutura linguística carrega significação ideológica - seleção lexical, opção sintática, etc. – todos têm sua razão de ser. Há sempre modos diferentes de dizer a mesma coisa, e esses modos não são alternativas acidentais. Diferenças em expressão trazem distinções ideológicas (e assim diferenças de representação).

Desse modo, na medida em que há, sempre, valores implicados no uso da língua, deve ser justificável praticar um tipo de linguística direcionada para a compreensão de tais valores, afirma Fowler. Esse é o ramo que se tornou conhecido como ‘Linguística Crítica'.

A LC está interessada no questionamento das relações entre signo, significado e o contexto sócio-histórico, que governam a estrutura semiótica do discurso, usando um tipo de análise linguística.

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Fundamentação Teórica − 9

construída apenas em termos do léxico usado, mas que a nossa escolha das estruturas linguísticas para representar (aspectos de) eventos, processos ou estados é tão significativa do ponto de vista das ideologias que eles refletem e assim constituem.

Continuando, diz Fowler, a comunicação humana envolve sistemas de crenças, sistemas de categorias, ‘graus’ de discriminação, que representam o mundo de acordo com as necessidades das sociedades em que ocorre a comunicação. A língua, entre os meios humanos de comunicação, é uma forma altamente efetiva de codificar representações de experiência e valores. O léxico (o dicionário mental) estoca ideias em compartimentos estruturados de acordo com certas relações lógicas, isto é, de posição, de complementaridade, de inclusão, de equivalência (e.g., ‘homem: mulher’, ‘pais: filho’; ‘legal: ilegal’; ‘moderado; extremado’, etc.), desenvolvendo princípios em direção a conceitos-chave e relações. Além disso, continua o autor, não é somente a estrutura taxonômica do vocabulário-chave que é importante para que a categorização fique evidente; é também vital que os sistemas de significados sejam conservados vivos e familiares, através de enunciação regular em contextos apropriados.

Portanto, diz o autor, a língua fornece nomes para as categorias e assim ajuda a estabelecer seus limites e relações; e o discurso permite que esses nomes sejam falados e escritos frequentemente, contribuindo assim para a aparente realidade e atualidade de uma categoria. O vocabulário é taxonomicamente organizado: as relações de sentido entre palavras efetuam a classificação da experiência e ideias apropriadas à ideologia da comunidade do discurso. A força do discurso, facilitando e mantendo a discriminação contra 'membros' de 'grupos', é notável, segundo Fowler. O autor julga que o uso da língua pode ser sexista, respondendo a paradigmas ideológicos no discurso que atribui a mulheres em especial o status preconceituoso em certos aspectos. Nesse sentido, a representação em um meio semiótico como a língua é inevitavelmente um processo estruturador, e valores e proposições implícitos são continuamente articulados de tal forma, que o discurso é sempre uma representação de um certo ponto de vista.

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determinado tipo. Vemos, assim, um processo ideológico básico em ação, afirma o autor. A categorização é a base discursiva para práticas de discriminação, que afeta os indivíduos, através de desigualdade de oportunidades de trabalho, educação, dinheiro, atenção pela polícia e punição pela lei, distribuindo a estima de maneira desigual.

Um modelo de mundo socialmente construído é projetado sobre os objetos da percepção e da cognição, de tal modo que essencialmente as coisas que vemos e sobre as quais pensamos são construídas de acordo com um esquema de valores, e não com as entidades diretamente percebidas. A concretude da referência individual é enfatizada, pelo fornecimento de detalhes como idade, residência, profissão aparência pessoa - com o uso liberal de fotografias.

2.2.1 A discriminação

Fowler (1991) mostra que a categorização é uma base discursiva para a

discriminação. A discriminação é uma prática que afeta sujeitos individuais, implicando oportunidades desiguais de emprego, educação, dinheiro, atenção pela polícia, punição ilegal, resultando em desigualdade de estima. E, segundo o autor, a 'justificativa' para essas práticas, quando oferecidas, não é dada em termos do indivíduo, mas em termos de algum grupo ao qual a pessoa pretensamente pertence; e o estereótipo que a cultura atribui convencionalmente ao grupo é aplicado ao indivíduo de modo preconceituoso. O estereótipo, diz ele, pode ser expresso como um conjunto de proposições 'de senso comum', que a cultura processa, mas raramente expressa, como, por exemplo: "Não podemos aceitar a sra. X para essa posição, embora seja qualificada, pois ela é uma jovem casada e todos sabemos que elas terão um filho um ano ou dois depois de ter quitado os móveis da casa”.

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Fundamentação Teórica − 11

justificar a desigualdade, e que adquire solidez ao ser negociado no discurso. Fowler mostra que grupos tais como 'jovem mulher casada', 'imigrantes', 'professora', 'capitalistas', 'minorias étnicas', são imaginários, são conceitos socialmente construídos, quase tão fictícios quanto princesas em torres (FOWLER, 1991, p. 94).

2.3. A relação entre língua e ideologia

Para explicar a relação que se estabelece entre língua e ideologia, Li (2010) recorre às ideias de Van Dijk (1993, 1997). Este autor desenvolve uma abordagem da Análise do Discurso Crítica, que procura ligar o texto com o contexto, integrando a análise textual com processos de produção e interpretação do discurso.

Analisando a estrutura do discurso de textos de reportagem, Van Dijk (1985) oferece um modelo analítico de três níveis. O primeiro nível, a superestrutura, refere-se a esquemas de gênero, que desempenham um papel importante na compreensão e na produção de textos, por meio da organização geral em termos de temas e tópicos; no segundo nível, estão as formas linguísticas concretas do texto (escolhas lexicais, variações sintáticas ou fonológicas, relações semânticas entre proposições e traços retóricos e estilísticos). Essas formas linguísticas no nível superficial implicam significados no terceiro nível, a estrutura profunda. Aqui, o analista crítico examina, o papel de certas estruturas sintáticas como, por exemplo, as construções passivas que podem expressar posições ideológicas subjacentes ao omitir ou ao desenfatizar agentes da posição de sujeito ou como escolhas retóricas específicas podem atribuir maior poder a certos indivíduos ou grupos sociais.

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na língua e na ideologia, bem como os grupos e seus membros adquirem e reproduzem ideologias através da compreensão do discurso.

A abordagem de Van Dijk da TR recorre a uma metodologia que se apoia na gramática-da-oração para entender as ideologias específicas e identidades de grupo no nível profundo por meio dos traços do texto na estrutura superficial. Li (2010) faz uso da gramática-da-oração, no enquadre da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF) de Halliday (1994). Assim, a língua é entendida como uma "rede de opções entrelaçadas" (HALLIDAY, 1994, p. xiv). A LSF é uma gramática do significado, ou seja, ela vê a língua como um sistema de significados realizados por meio de

funções dentro do rico recurso de opções gramaticais disponíveis ao usuário da língua. O significado envolvido na língua emerge em relação a escolhas específicas feitas pelos seus usuários. Essas escolhas gramaticais são descritas em termos funcionais para que sejam significativas semântica e pragmaticamente. As funções da gramática, de acordo com Halliday, consistem de três distintos sistemas de metafunções, embora interrelacionados: o Textual, o Interpessoal e o Ideacional. Essas metafunções tratam da forma como a informação está estruturada e apresentada, como os significados sobre as várias interações são expressas, e os tipos de experiência, percepção e consciência incorporadas na língua, nos níveis da oração e da frase para compreender os significados sociais e ideológicos envolvidos em determinadas escolhas linguísticas e retóricas.

2.4 A Linguística Sistêmico-Funcional

A Linguística Sistêmico-Funcional (LSF) é uma teoria iniciada por Halliday (veja Halliday, 1994), linguista britânico, radicado há muitos anos na Austrália. Segundo essa teoria, a linguagem é formada por muitos sistemas, cada um representando um tipo de escolha (geralmente inconsciente) de sentido feito pelos falantes (daí o nome ‘sistêmico’); além disso, essas escolhas servem para os falantes realizarem coisas com a língua (daí o nome ‘funcional’).

(26)

Fundamentação Teórica − 13

(três simultâneos, os já referidos: ideacional (experiencial + lógico), interpessoal e o textual) a fim de entender o mundo e o outro. A finalidade principal da língua é, portanto, semântica, para a LSF.

Na LSF, entende-se que há três funções primordiais que os falantes exercem com a linguagem, chamadas de metafunções, porque elas sintetizam muitas outras:

Metafunção ideacional: refere-se ao conteúdo, assunto ou tópico de que as pessoas tratam.

Metafunção interpessoal: refere-se às relações entre pessoas expressas na linguagem.

Metafunção textual: refere-se à maneira como as pessoas organizam a fala e a escrita de acordo com seu propósito e as exigências do meio sócio-histórico-cultural.

Essas metafunções agem juntas: cada palavra que dizemos realiza as três metafunções. Em sendo assim, tudo que expressamos linguisticamente quer dizer, simultaneamente, três coisas: alguma coisa (ideacional) dita a alguém (interpessoal) de algum modo (textual).

Veja como o exemplo: 'Ele estudou inglês no passado', seria analisado nessas metafunções, conforme apresenta o Quadro 2. Mas, antes apresentamos o Quadro 1, que mostra o sistema da Transitividade, pertencente à metafunção ideacional, que representa os eventos das orações em termos de fazer, sentir ou ser, envolvendo: (i) participantes; (b) processos; e (c) circunstâncias. Os integrantes das demais metafunções podem ser visualizados no mesmo quadro.

Processo Participantes

Material Ator, Meta, Extensão, Beneficiário

Comportamental Comportante, Comportamento, Fenômeno Mental Experienciador, Fenômeno

Existencial Existente

Relacional Identificativo: Característica, Valor

Atributivo: Portador, Atributo

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Ele estud- -ou inglês no passado

Ideacional Ator processo material Meta Circunstância

Mood Resíduo Mood Resíduo

Interpessoal

Sujeito Predicador Finito Complemento Adjunto adverbial

Textual Tema Rema

Quadro 2: As três metafunções (fonte: HALLIDAY, 1994)

Em relação à metafunção ideacional, o verbo ‘estudar’ expressa um processo material, ‘Ele’ um participante ‘Ator’, ‘inglês’ um participante ‘Meta’ e ‘no passado’ uma Circunstância de tempo. Esses elementos representam a Transitividade da oração.

Em relação à metafunção interpessoal, é uma sentença declarativa, na qual ‘Ele’ realiza o Sujeito, a terminação ‘-ou’ (da forma verbal ‘estudou’) o Finito, e ‘estud-‘ (da forma verbal ‘estudou’) o Predicador. ‘Ele’ ainda realiza o Mood e o restante da frase forma o Resíduo.

Em relação à metafunção textual, ‘Ele’ realiza o Tema da frase e o restante, o Rema. O Tema é o ponto de partida da mensagem e indica uma posição importante na frase, ajudando a estruturar o discurso e a dar proeminência aos elementos que o compõem.

Essa fusão dos três significados é possível, diz Halliday (1994), porque a língua possui um nível intermediário de codificação: a léxico-gramática. É este nível que possibilita à língua construir três significados concomitantes, e eles entram no texto através das orações. Daí porque Halliday dizer que a descrição gramatical é essencial à análise textual.

A partir de cada metafunção, são realizadas muitas outras funções, cada uma em um sistema diferente. Cada realização, por sua vez, é uma escolha. A escolha é entendida aqui como um ato normalmente inconsciente, guiado por motivos individuais, segundo nossas intenções, vontades, afetividade, subjetividade, mas também por razões sociais, históricas e culturais, ditadas pelo contexto. Sendo assim, a LSF é uma teoria que tenta explicar o funcionamento da linguagem por meio da descrição de como as pessoas falam e escrevem e quais escolhas fazem nesse processo.

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Fundamentação Teórica − 15

2.4.1 O Novo-Rema

Hasan e Fries (1995) dizem que para a LSF, Rema é tudo menos o Tema. O que significa que existe muita coisa dentro do Rema, mas não significa que tudo que esteja aí tenha a mesma função. Assim, Fries (1995) destaca o Novo dentro do Rema, (unindo, assim, o sistema do Tema/Rema com o sistema da informação Dado/Novo), chamando esse elemento de N-Rema (e o que resta do Rema ele chama de Outros). O que seria esse N-Rema? Vamos analisar um exemplo, dado por ele:

Adeus às armas

Tema (= negrito) N-Rema (=itálico e sublinhado)

1. No fim do verão daquele ano, moramos numa casa de uma vila que se via através do rio e da planície próximos da montanha.

N-Rema (Prev s) N-Rema (Skip 3)

2a. No leito do rio havia seixos e pedras, secos e brancos ao sol, 2b. e a água era clara e se movia suavemente e era azul nos canais. 3a. Os rebanhos passavam diante da casa e desciam pela estrada, 3b. e a poeira que eles que levantavam polvilhavam as folhas das árvores.

N-Rema 4a. Os troncos das árvores também estavam empoeirados

4b. e as folhas caíram cedo naquele ano

4c. e vimos os rebanhos marchando pela estrada 5a. A planície era rica de plantações, [...]

Quadro 3: Exemplo de análise de N-Rema (fonte: FRIES,1995)

No exemplo, o N-Rema rio é o que o escritor quer que o leitor se lembre quando ler 2a e 2b (rio, noleito dorio e água formam uma cadeia de semelhança). (Notar que as folhas das arvores e as folhas formam uma cadeia de identidade). Não é o Rema todo que deve funcionar nesse sentido, mas apenas o N-Rema, segundo a proposta de Fries. E ele é chamado N-Rema da oração anterior (=Prev S, ou seja, previous sentence). Por outro lado, planície deve ser lembrado pelo leitor em 5a. (3 sentenças abaixo) e, portanto, é chamado N-Rema Skip 3.

2.4.2 Língua e contexto

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ocorrem a fim de entender a qualidade dos textos: por que um texto significa o que significa, e por que ele é avaliado como o é. Língua e contexto estão interrelacionados, tanto que sem um contexto não somos capazes, em geral, de dizer que significado está sendo construído. Portanto, ao fazermos perguntas funcionais, não é suficiente enfocarmos somente a língua, mas a língua usada em um contexto. Mas quais as feições desse contexto afetam o uso da língua? Para responder a essa questão, os sistemicistas lançam mão de dois conceitos: registro

e gênero. Hoje, a ideologia também participa desse contexto, como veremos.

(a) Gênero

O gênero descreve a influência das dimensões do contexto cultural sobre a língua. Dessa forma o texto não é utilizado somente para explorar as formas gramaticais isoladas, mas tem-se o objetivo de analisá-lo com uma dimensão textual-discursiva, concepção sócio-interacionista de linguagem centrada na interlocução. Na LSF, Martin (1985, p. 25) oferece uma definição mais operacionável: "gênero é uma atividade organizada em estágios, orientada para uma finalidade na qual os falantes se envolvem como membros de uma determinada cultura". Menos tecnicamente (MARTIN, 1985, p. 248), diz que gêneros são como as coisas são feitas, quando a linguagem é usada para efetivá-las.

(b) Registro

O registro descreve a influência das dimensões do contexto situacional imediato sobre a língua. Halliday (1978, 1985) sugere que os elementos do contexto que influem no uso da língua sejam somente três: (a) Campo (o assunto sobre o que a língua está sendo usada); (b) Relação (a relação entre os interlocutores) e (c)

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Fundamentação Teórica − 17

(c) Ideologia

A ideologia ocupa um nível superior de contexto. Refere-se a posições de poder, a vieses políticos e suposições sobre os valores, tendências e perspectivas que os interlocutores trazem para seus textos. A ideologia tem chamado a atenção dos sistemicistas, na medida em que, em qualquer registro, em qualquer gênero, o uso da língua será sempre influenciado pela nossa posição ideológica.

Embora a ideologia tenha importância atestada, apenas algumas áreas do conhecimento humano e do estudo da linguagem tentam analisar aspectos ideológicos (C.f. VAN DIJK, 1999), dentre as quais se destaca a Análise de Discurso Crítica (ADC), que engloba uma variedade de abordagens em torno da análise social do discurso (FAIRCLOUGH; WODAK, 1997; PÊCHEUX, 1982; WODAK; MEYER, 2001). A ADC oferece uma contribuição significativa da Linguística para debater questões da vida social, como o racismo, o sexismo (a diferença baseada no sexo), o controle e a manipulação institucional, a violência, as transformações identitárias, a exclusão social, entre outros. (MAGALHÃES, 1986).

A LSF faz menção ao contexto ideológico, sem, porém, oferecer detalhes sobre sua influência no discurso. Quem o faz é Banks (2005), que, analisando dois textos do fim do séc. XVII: “Newton’s Opticks”, de Newton (em inglês) e o “Traité de la lumière”, de Huygens (em francês), verifica que embora abordem o mesmo assunto - a teoria das luzes e cores - os autores das obras operam sob ideologias

diferentes: Newton se apoia no paradigma empírico e Huygens é cartesiano. Esse fato tem um efeito na semântica e na léxico-gramática dos dois textos, diz o autor, e prova que a ideologia atravessa diretamente o nível do contexto afetando a semântica e estrutura do texto – e que Campo, Relações e Modo não são suficientes para pinçá-la. Advém dessa constatação a preocupação do linguista moderno buscar a ideologia nas metafunções, através da léxico-gramática, pois, uma vez que ela é anterior e ulterior ao texto, é essencialmente detectada no nível semântico e nunca poderia ser dimensionada nos níveis de Gênero e Registro.

2.4.3 Teoria de Gêneros e Registros

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Gêneros e Registros, que explicamos a seguir. Os textos têm estruturas geradas por escolhas sistêmicas em três planos de comunicação semiótica: gênero (contexto cultural), registro (contexto situacional) com suas variáveis de Campo, Relações e Modo. De um lado, o texto constrói significados Ideacionais sobre a realidade. Além disso, o texto diz algo sobre a atitude do autor em relação ao tópico e seu papel no relacionamento com os leitores. Este é o significado Interpessoal. Finalmente, o texto, através do significado Textual, diz algo sobre como ele é organizado como um evento linguístico (isto é, que é um texto escrito, e deve ser lido como tal).

A relação entre os componentes da linguagem - as metafunções ideacional, interpessoal e textual - e as variáveis de contexto - campo, relações e modo -, respectivamente, é chamada de realização. Lido da perspectiva do contexto, a realização se refere ao modo como os diferentes tipos de campo, relações e modo condicionam os significados ideacional, interpessoal e textual; lido da perspectiva da linguagem, a realização se refere ao modo como as diferentes escolhas ideacionais, interpessoais e textuais constroem diferentes tipos de campo, relações e modo.

São essas noções de significado no texto e sua correlação com as dimensões contextuais, que dão à abordagem da TGR dois temas comuns.

• Primeiro, o foco na análise detalhada da variação dos traços linguísticos do discurso: isto é, há especificações explícitas, idealmente quantificáveis de padrões gramaticais e semânticos do texto.

• Segundo, a abordagem TGR procura explicar a variação linguística pela referência à variação contextual: isto é, há elos explícitos entre traços do discurso e variáveis críticas do contexto social e cultural empregados para explicar o significado e a função da variação entre textos.

Como resultado da aplicação dessa descrição delicada do sistema linguístico a uma série de textos, desenvolveu-se um novo modo de caracterizar Campo, Relações e Modo. Por outro lado, é importante a noção de escolha da LSF. Quando se faz uma escolha no sistema linguístico, o que se escreve ou o que se diz adquire significado contra um fundo em que se encontram as escolhas que poderiam ter sido feitas.

(32)

Fundamentação Teórica − 19

desenvolver uma teoria sobre a língua como um processo social e uma metodologia que permita uma descrição detalhada e sistemática dos padrões linguísticos.

Além dos contextos sociais acima mencionados, gênero e registro, outro contexto foi mencionado - o ideológico -, que não foi elaborado e nem recebeu propostas de análise. Nesse sentido, Banks (2005) mostra, sem descartar o embasamento teórico da LSF, como as ideologias afetam diferentemente as metafunções semânticas dos textos. Sua pesquisa focaliza áreas de escolhas linguísticas que refletem os diferentes modos pelos quais os escritores constroem um assunto. O autor tenta provar que a análise de Campo, Relações e Modo levaria a uma ideia equivocada dos textos, já que há textos idênticos tomados nesses aspectos, porém diferentes do ponto de vista ideológico.

2.4.4 A Metafunção interpessoal

Segundo Halliday, a oração está organizada como um evento interativo, envolvendo falante (ou escritor), e audiência. Os tipos fundamentais de papel de fala são apenas dois: (i) dar, e (ii) pedir. O falante ou está dando ou está pedindo algo para o ouvinte (uma informação, por exemplo). Portanto, um 'ato' de fala é algo que poderia ser mais apropriadamente chamado de uma 'interação': é uma permuta, na qual dar implica receber e pedir implica dar em resposta. Juntamente com essa distinção básica está uma outra distinção, igualmente fundamental, que se relaciona com a natureza do produto que está sendo permutado. Este pode ser (a) bens e serviços ou (b) informação. Veja o quadro 4 abaixo:

Produto permutado →

Papel na permuta ↓

(a) bens & serviços (b) informação

(i) oferta 'oferecer'

Você quer um café? 'afirmação' Ela lhe oferece um café.

(a) pedido 'ordem'

Me dá um café!

'pergunta'

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Se você me diz algo, diz Halliday, com a finalidade de conseguir que eu faça algo para você, tal como 'beija-me!' ou 'desapareça!', ou que eu lhe dê algum objeto, como em 'me passa o sal!', o produto permutado é estritamente não-verbal: o que está sendo pedido é um objeto ou uma ação, caso em que a língua serve para ajudar no processo. Essa é uma troca de bens & serviços. Mas se você me diz algo com a finalidade de conseguir que eu lhe diga algo, como em 'É terça-feira'? ou 'Quando foi a última vez que viu seu pai? ', o que está sendo solicitado é uma informação: a língua é o fim bem como o meio, e a única resposta que se espera é verbal. Veja quadro 5 abaixo:

Iniciação Resposta esperada Alternativa contrária DAR bens & serviços

PEDIR bens & serviços oferta ordem aceitação realização rejeição recusa DAR informação

PEDIR informação

afirmação pergunta

entendimento resposta

contradição negação Quadro 5: Funções da fala e respostas (fonte: HALLIDAY, 1994)

Destas, apenas a última é essencialmente uma resposta verbal, continua o autor; as outras podem ser não-verbais. Mas em geral, em situações da vida real, as quatro respostas são verbalizadas, com ou sem acompanhamento de alguma ação não-verbal.

Quando a língua é usada para permuta de informação, a oração toma a forma de PROPOSIÇÃO. O autor continua a usar os termos 'proposição' no seu sentido usual para se referir a afirmações e perguntas. Mas julga ser útil introduzir um termo paralelo para a referência a oferecimentos e ordens: PROPOSTA. A função semântica da oração como permuta de informação é uma proposição; a função semântica da oração como permuta de bens & serviços é uma proposta.

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Fundamentação Teórica − 21

a) desempenhados, realizado pelo ato de fala por si, ou seja, o participante não pode desempenhar esses papéis (aqui eles examinam as perguntas e as ordens);

b) projetados, em que tratam da questão da (i) rotulação dos falantes/ouvintes (aqui eles examinam os elementos de tratamento (senhor, você) e (ii) da atribuição dos papéis que exercem na transitividade (ator, meta etc).

Os autores, ao tratarem dos papéis projetados - a rotulação dos participantes e a atribuição dos papéis no sistema da Transitividade -, dizem que é aí que o componente interpessoal se sobrepõe ao ideacional do modelo de Halliday, já que, se o escritor projeta os papéis, a pessoa sobre quem o papel é projetado é simultaneamente um participante no evento linguístico e um participante na oração. Assim, esclarecem uma característica importante para a minha análise, qual seja a da simultaneidade das duas metafunções, já prevista, mas não detalhada, por Halliday. Também Fowler (1991: 85) afirma essa sobreposição, dizendo, que "é da essência da representação ser sempre a representação de algum ponto de vista ideológico, conforme tratada pela inevitável força de estruturação da Transitividade e da categorização lexical".

2.4.4.1 A modalização

A seguir, devido ao interesse que representa para o meu estudo, incluo a modalidade, elemento da metafunção interpessoal, que tem sido enfocada sob vários ângulos. Aqui a trazemos na visão de Kress (1988).

Em qualquer enunciado proposicional, o produtor deve indicar o que Hodge e Kress (1988: 123) chamam de um grau de 'afinidade' com a proposição; portanto, qualquer enunciado desse tipo tem a propriedade da modalidade, ou é 'modalizado'.

(35)

presente do indicativo ('é') realiza uma modalidade categórica. Outro aspecto é o conjunto de advérbios modais, como 'provavelmente', 'possivelmente', 'obviamente' e 'definitivamente', com seus adjetivos equivalentes (por exemplo, ‘é provável/possível que a terra seja plana’). Além dessas possibilidades, existe ainda uma gama um tanto difusa de formas de manifestação de vários graus de afinidade: indeterminações ('uma espécie de', 'um pouco', 'ou uma coisa assim'), padrões de entonação, fala hesitante, e assim por diante.

A modalidade pode ser subjetiva, no sentido de que a base subjetiva para o grau de afinidade selecionado com uma proposição, pode ser explicitado: ‘penso/suspeito/duvido’ que a terra seja plana’. Ou a modalidade pode ser objetiva, em que essa base subjetiva está implícita: ‘a terra ‘pode’ ser/é ‘provavelmente’ plana’.

É comum que a modalidade se realize em múltiplos aspectos de um enunciado ou frase simples. Por exemplo, em ‘penso que ela estava um pouco bêbada, não estava?’, a baixa afinidade é expressa no marcador de modalidade subjetiva ('penso'), na indeterminação ('um pouco') e na adição de uma pergunta final à asserção ('não estava?').

Porém, na modalidade há mais do que o comprometimento do falante ou do escritor com suas proposições. Os produtores indicam comprometimento com as proposições no curso das interações com outras pessoas, e a afinidade que expressam com as proposições é frequentemente difícil de separar de seu sentido de afinidade ou solidariedade com os interagentes. Por exemplo, ‘ela não é bonita!’ ou ‘ela é bonita, não é!’ são formas de expressar alta afinidade com a proposição ‘ela é bonita’, mas também formas de expressar solidariedade com a pessoa com quem se fala.

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Fundamentação Teórica − 23

modalizadores. Há também predileção por modalidades objetivas que permitem que perspectivas parciais sejam universalizadas.

2.4.5 A Avaliatividade (Appraisal)

Na Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), de Halliday (1994); Halliday; Matthiessen (2004), diz Martin (2000), que o sistema interpessoal têm sido gramatical em sua base, funcionando no nível da oração. A tradição-baseada-na-gramática tem focalizado o diálogo como uma troca de bens e serviços ou de informação.

O que tendeu a ser omitido pelas abordagens da LSF, segundo o autor, é a semântica da avaliação, isto é, o modo como os interlocutores estão se sentindo, os julgamentos que eles fazem, o valor que eles atribuem a vários fenômenos de sua experiência. Nos exemplos do Quadro (6), diz ele, é evidente que, em diálogos como esses, a interação envolve mais que uma simples troca de bens e serviços ou de informação, mas, também, afeto, julgamento ou apreciação. Assim, juntamente com modelos baseados-na-gramática, precisamos elaborar sistemas lexicalmente-orientados que tratem também desses elementos.

AFETO – emoções

RITA Eu adoro esta sala. Eu adoro aquela janela. E você gosta também? FRANK O quê?

JULGAMENTO – ética (avaliando comportamento)

FRANK E é o seguinte, entre você, eu e as paredes, eu sou na verdade um professor péssimo. Na maioria das vezes, veja, nem interessa realmente – dar aulas péssimas está bem para a maioria dos meus alunos péssimos.

APRECIAÇÃO – estética

RITA Sabe, a Rita Mae Brown, que escreveu Rubyfruit Jungle? Você leu esse livro? Ele é

fantástico.

Quadro 6: Avaliação (Fonte: Martin, 2000)

(37)

número de conjuntos básicos de opções: ou seja, o que parece ser, a princípio, um grupo variado intratável de itens lexicais, poderia ser sistematizado.

Assim, Martin desenvolveu um sistema reticular de descrições de opções semânticas para avaliar pessoas, coisas e fenômenos. Ele e seus colaboradores estavam interessados em uma série ampla de recursos interpessoais e adotaram o termo APPRAISAL (doravante: Avaliatividade) para esse estudo. O grupo, trabalhando dentro do enquadre geral da LSF (HALLIDAY, 1967, 1985, 1994; MARTIN, 1992), estava interessado na função social desses recursos, não simplesmente para expressar sentimentos, mas, em termos de sua habilidade em construir comunidades, para alinhar pessoas na negociação em curso, na vida em comunidade.

A Avaliatividade é constituída por três principais sistemas: (1) ATITUDE, que envolve três sub-sistemas, a saber: Afeto, Julgamento e Apreciação; (2) COMPROMISSO, que foi detidamente estudado por White (2003), e que distingue entre enunciados heteroglóssicos ou dialógicos (nos quais se sinaliza uma posição que explicitamente mostra diversidade de opiniões, com implicação de conflito e luta entre as vozes;) e enunciados monoglóssicos (em que o escritor se posiciona, construindo a audiência como partilhando a mesma visão de mundo); e, finalmente, (3) GRADAÇÃO, que trata dos recursos para intensificar ou minimizar a força da avaliação, conforme exemplificaremos mais adiante.

(a) A Atitude

(38)

Fundamentação Teórica − 25

Afeto - Para Martin (2000a), há uma série de possíveis realizações linguísticas do

Afeto:

Quadro 7: Análise de Afeto (fonte: MARTIN, 2000a)

Julgamento - Pesquisas na área da mídia (lEDEMA et al., 1994, apud MARTIN,

2000a) sugerem que o Julgamento seja dividido em dois grupos: estima social (normalidade, capacidade e tenacidade) e sansão social (veracidade e propriedade [ética]). Esses tipos relacionam-se à Modalidade (HALLIDAY, 1994): veracidade relaciona-se com probabilidade; normalidade com frequência; propriedade com obrigação; tenacidade com inclinação; e capacidade com habilidade.

JULGAMENTO

Estima social Positivo (admira) Negativo (critica) Normalidade afortunado, elegante azarado, retrógrado

Capacidade Vigoroso fraco

Tenacidade Heróico covarde

Sanção social Positivo (elogia) Negativo (condena)

Veracidade honesto, confiável manipulativo

Propriedade generoso, ético corrupto, mau

Quadro 8: Análise de Julgamento (fonte: MARTIN, 2000a)

Apreciação - O sistema de Apreciação está organizado tendo em conta 3 variáveis:

reação, composição e avaliação. A reação refere-se ao grau de impacto que o texto

(a) Afeto como qualidade

adjunto adnominal um menino feliz Epíteto

predicativo o menino estava feliz predicativo

modo do processo o menino brincava feliz circunstância

(b) Afeto como processo

comportamento Ela sorriu para ele

disposição mental Ela gostou do presente

relacional Ela se ficou feliz com ele

(c) Afeto como comentário

(39)

causa ao leitor; composição refere-se à percepção de proporcionalidade (equilíbrio) e avaliação refere-se, como diz o nome, à avaliação do significado social do texto.

APRECIAÇÃO

Positiva Negativa

Reação: impacto atraente aborrecido

Reação: qualidade Belo repulsivo

Composição: equilíbrio harmonioso discordante

Composição: complexidade preciso, detalhado insignificante

Avaliação profundo, desafiador reacionário

Quadro 9: Análise de Apreciação (fonte: MARTIN, 2000a)

(b) O Compromisso

Diz White (2003) que, para examinar e descrever adequadamente a funcionalidade comunicativa desses recursos léxico-gramaticais, é necessário vê-los como fundamentalmente dialógicos ou interativos. Em termos amplos, o autor distingue entre enunciados monoglóssicos (afirmações não-dialogizadas e enunciados heteroglóssicos ou dialogísticos (nos quais se sinaliza algum compromisso com posições alternativas/voz). Além disso, o termo 'compromisso heteroglóssico' envolve duas amplas categorias: dialogicamente expansivos

(possibilitam alternativas) ou dialogicamente contráteis (restringem as possibilidades).

(c)A Gradação

(40)

Fundamentação Teórica − 27

2.4.5.1 Token de Atitude

Diz Martin (2000) que os sistemas de Avaliatividade também se ligam a outros sistemas, no sentido de ‘redundar’ com outras partes da léxico-gramática, cobrindo a mesma área semântica com o uso de diferentes recursos linguísticos. Assim, por exemplo, o significado avaliativo (metafunção interpessoal) em: O filme era muito

triste, está próximo, em termos semânticos, ao do processo mental1 de afeição

(metafunção ideacional): O filme me comoveu até as lágrimas.

Continuando, diz Martin que, quando a avaliação é realizada explicitamente, é fácil analisar uma atitude sobre um evento como positiva ou negativa. Mas, há casos em que a avaliação não é realizada de maneira explicita como em: Maria confrontou a autoridade. Diz ele que, em casos como esse, a decisão pela Avaliatividade de Afeto - se positiva, se negativa - depende da posição de leitura.

Esse fato levou Martin a postular uma distinção importante entre Avaliatividade inscrita (explícita) e evocada (implícita). Ele explica que a avaliação evocada é feita através do que ele chama de token de Atitude em que um significado ideacional, portanto neutro em termos avaliativos, pode se investir de função interpessoal. Nesse sentido, o autor propõe a noção de token de Atitude para

denominar o modo pelo qual o significado experiencial pode ser “saturado” em termos avaliativos, ou seja, interpessoais. A propósito, Martin (2003: 173) adverte: “o apego a categorias explícitas significa que uma grande quantidade de atitude implícita pelos textos será perdida”.

Os tokens de Atitude são também sujeitos à influência do contexto, continua o autor, e uma estratégia importante no estabelecimento de posicionamento interpessoal num texto é colocar avaliações inscritas e evocadas de tal modo que o leitor partilha da interpretação do escritor sobre os tokens do texto. É assim que, evocado por uma descrição de um token, um Julgamento, por exemplo, pode se tornar tão naturalizado numa dada situação cultural que é provável que seja considerado como Julgamento explícito em vez de implícito.

Nesse sentido, Coffin e O'Halloran (2006), com base na noção de Avaliatividade, referem-se à frase dog-whistle politics, cunhada recentemente para

1 Halliday (1994), em vez de considerar a divisão dos verbos em transitivos e intransitivos, chama-os

(41)

capturar a forma de avaliação implícita. A comunicação política usa significados aparentemente neutros, mas que devem ser ‘entendidos’ como uma mensagem negativa pela comunidade alvo (Manning 2004). Dizem elas que se pode verificar que a avaliação direta de um fenômeno de um intra-texto prévio condiciona o leitor para uma avaliação indireta do mesmo fenômeno; o mesmo ocorre com a avaliação direta de fenômeno relacionado num inter-texto prévio. É o que se chama de logogênese - construção dinâmica do significado conforme o texto se desenvolve (HALLIDAY, 1992, 1993; HALLIDAY; MATTHIESSEN 1999).

As autoras estudam um artigo jornalístico - alertando o povo inglês para o perigo do desemprego devido à vinda dos europeus orientais graças à política da Comunidade Europeia - mas o faz sem empregar nenhum termo de avaliação negativa. São enunciados que – se descontextualizados – não carregam mensagem negativa - mas que, naquele contexto estavam carregados de Avaliatividade negativa, constituindo-se no dog whistle politics.

Por seu lado, Luchjenbroers e Aldridge (2007) falam em frames, conjuntos de informação aceitos culturalmente, que acompanham qualquer termo lexical. A adequação do frame escolhido é também muito importante para ‘contrabandear uma informação’, um termo usado quando uma informação (negativa) é subrepticiamente inserida, por exemplo, nas declarações de uma testemunha.

Nesse contexto, alguns significados se acrescentam àqueles proporcionados pela metafunção ideacional, graças à avaliação direta de fenômeno relacionado a um intertexto prévio, num processo chamado de logogênese [construção dinâmica do significado conforme o texto se desenvolve], segundo Halliday (1992, 1993) e Halliday & Matthiessen (1999).

2.4.5.2 O Fenômeno da Propagação Avaliativa

Imagem

Figura 1: Gráfico de citação explícita de homens e mulheres
Figura 2: Total de atividades exercidas por homens e mulheres
Figura 3: Notícia publicada na primeira página do jornal em 01/04/2010
Figura 4: Notícia veiculada na primeira página do jornal em 02/04/2010

Referências

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