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Possibilidades de aplicação do modelo FPSEEA/OMS na construção de indicadores de saúde ambiental

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(1)

Universidade

Católica de

Brasília

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO

SENSU EM PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL

Mestrado

POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO DO MODELO

FPSEEA/OMS NA CONSTRUÇÃO DE

INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL

Autora: Mara Lúcia Barbosa Carneiro Oliveira

Orientadora: Prof

a

Dra. Sueli Corrêa de Faria

(2)

MARA LUCIA BARBOSA CARNEIRO OLIVEIRA

POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO DO MODELO

FPSEEA/OMS NA CONSTRUÇÃO DE

INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL

Dissertação submetida ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Orientadora: Profa Dra. Sueli Corrêa de Faria

(3)

7,5cm

Ficha elaborada pela Coordenação de Processamento do Acervo do SIBI – UCB.

17/01/2008

O48p Oliveira, Mara Lúcia Barbosa Carneiro.

Possibilidades de aplicação do modelo FPSEEA/OMS na construção de indicadores de saúde ambiental / Mara Lúcia Barbosa Carneiro Oliveira. – 2007.

155 f.: il. ; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2007. Orientação: Sueli Corrêa de Faria

1. Gestão ambiental – Distrito Federal. 2. Saúde ambiental – Distrito Federal. 3. Meio ambiente – indicadores de saúde. I.Faria, Sueli Corrêa, orient. II. Título.

(4)

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

Mara Lúcia Barbosa Carneiro Oliveira

POSSIBILIDADES DE APLICAÇÃO DO MODELO FPSEEA/OMS NA CONSTRUÇÃO DE INDICADORES DE SAÚDE AMBIENTAL

Dissertação aprovada em 14 de dezembro de 2007 para obtenção do título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Área de concentração: Planejamento e Gestão Ambiental.

Banca Examinadora:

______________________________________________ Profª Dra. Sueli Corrêa de Faria - UCB

Orientadora

_______________________________________________ Prof. Dr. Arlindo Philippi Junior – USP/FSP

Examinador Externo

_______________________________________________ Prof. Dr. Flávio Giovanetti de Albuquerque - UCB

(5)

"Quem quer que deseje fazer uma investigação médica adequadamente, deve proceder assim: em primeiro lugar considerar as estações do ano, e os efeitos que cada uma delas pode produzir uma vez que não são de modo algum similares, mas diferem muito entre elas mesmas e em relação a suas mudanças. Depois os ventos, o quente e o frio, especialmente como são comuns a todos os países, e depois como são peculiares a cada localidade. Deverá considerar com o maior cuidado todas estas coisas e também de onde tem que ir os nativos para buscar água, se usam águas pantanosas, suaves, ou que são duras e vem de lugares altos e rochosos, ou são salobras e ásperas. Também o solo, se é plano e seco, ou de bosque e de águas abundantes. Além disso, observar o modo de vida que tem os habitantes, se são grandes bebedores e comem em excesso e se são inativos, ou se são atléticos, trabalhadores e se alimentam bem, bebendo pouco.”

(6)

Dedicatória

À minha família pelo apoio, companheirismo e compreensão.

(7)

AGRADECIMENTOS

A minha orientadora, Professora Doutora Sueli Corrêa de Faria, pelo carinho, paciência, amizade e pelos conhecimentos transmitidos.

A todo o corpo docente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental, da Universidade Católica de Brasília, em especial, aos Professores Antônio José, Fernando Bessa, Flávio e Sueli, por me introduzirem no conhecimento da gestão ambiental e pelas demais contribuições, que começam a dar um novo sentido à minha vida profissional.

Aos Professores Doutores Arlindo Philippi Junior e Flávio Giovanetti Albuquerque, pela gentileza de participar da banca examinadora.

A todos os colegas do Mestrado, pela alegria e a amizade, que fizeram com que a Turma 2005 fosse especial, em todos os sentidos.

Ao Dr. Guilherme Franco Netto, Diretor do Departamento de Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador/SVS/MS, e a todos os outros componentes da CGVAM, por me facilitarem informes e dados imprescindíveis ao desenvolvimento desta dissertação.

(8)

RESUMO

O estudo, desenvolvido no âmbito do Distrito Federal/Brasil, tem como objetivo a construção de um conjunto de indicadores de saúde ambiental, que sirva de instrumento de apoio à tomada de decisão, no que diz respeito à identificação e monitoramento daqueles riscos, presentes no ambiente, que podem interferir na saúde da população. Nessa construção, é utilizado o modelo FPSEEA (Força motriz – Pressão – Situação – Exposição – Efeito - Ação), da Organização Mundial de Saúde, que possibilita a compreensão e a mensuração dos determinantes ambientais da saúde, contribuindo assim para a transparência dos processos de tomada de decisão voltados para o controle de riscos. Os procedimentos metodológicos partem de uma revisão bibliográfica, onde é feito o reconhecimento das questões históricas e conceituais relacionadas com saúde, ambiente e desenvolvimento, bem como dos modelos que serviram de base para o desenvolvimento do modelo FPSEEA, em seus aspectos conceituais e metodológicos. A seguir, é analisada a experiência brasileira e internacional de construção de indicadores de saúde ambiental, onde o mesmo modelo é aplicado na construção de sistemas de informação e na interface dos órgãos públicos com a sociedade civil organizada. O estudo destaca alguns dos principais problemas na interação da saúde com o meio ambiente, no Distrito Federal, que ilustram a importância da utilização de indicadores de saúde ambiental na gestão pública da saúde e do meio ambiente. A construção de indicadores de saúde ambiental, representativos da realidade do Distrito Federal, demonstra a viabilidade de aplicação desse modelo tanto na avaliação de ações voltadas para equacionar problemas de saúde ambiental, quanto na formulação de políticas públicas integradas, com participação da comunidade.

(9)

ABSTRACT

This work pursuits the purpose of building a set of environmental health indicators in support of decision making in the identification and monitoring of those environmental risks, that interfere in human health in Distrito Federal/Brazil. In this process is applied the model DPSEEA (Driving force – Pressure – State – Exposition – Effect – Action), originally developed by the World Health Organization, which allows a better understanding and measurement of the environmental determinants of health, contributing in this way to the transparency in decision making processes related to risks control. The methodological procedures start with a literature review for recognition of historical and conceptual issues on health, environment and development, and of the models that served WHO as a basis by construction of DPSEEA, in its conceptual and methodological aspects. After that, is analyzed the Brazilian and international experience on the development of environmental health indicators, where the same model has been used in information systems design, and in the interface between public sector and society. The study points out some of the main problems on health and environment interactions, in Distrito Federal, which show the importance of using environmental health indicators in health and environment public management. The development of environmental health indicators, that represent the local situation, shows the viability of actions for solving environmental health problems and designing integrated public policies, with community participation.

(10)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Cadeia ambiente e saúde... 34

Figura 2 - Modelo PER ... 36

Figura 3 – Modelo PEIR... 41

Figura 4 - Modelo FPSEEA de construção de indicadores de saúde ambiental ... 44

Figura 5 - Indicadores priorizados pelo Comitê Gestor de Saúde – Programa Fronteira 2012. ... 58

Figura 6 - Localização do Distrito Federal ... 77

Figura 7 - Regiões Administrativas do Distrito Federal ... 78

Figura 8 - Urbanização do Distrito Federal ... 80

Figura 9 - Sistema de saúde do Distrito Federal... 87

Figura 10 - Coeficiente de mortalidade infantil por localidade no Distrito Federal - 2005... 96

Figura 11 - Mortalidade proporcional por grupos de causa no Distrito Federal - 1980, 1990 e 2005. ... 97

Figura 12 - Casos de dengue no Distrito Federal - 2006. ... 99

Figura 13 - O Modelo FPSEEA/OMS e os indicadores de saúde ambiental para o Distrito Federal - Doenças diarréicas agudas ... 105

Figura 14 – O Modelo FPSEEA/OMS e os indicadores de saúde ambiental para o Distrito Federal – Acidentes e inundações... 107

Figura 15 - O Modelo FPSEEA/OMS e os indicadores de saúde ambiental para o DF - Hantavirose... 109

Figura 16 - O Modelo FPSEEA/OMS e os indicadores de saúde ambiental para o DF – Dengue... 111

Figura 17 - O Modelo FPSEEA/OMS e os indicadores de saúde ambiental para o DF – Problemas respiratórios ... 113

(11)

LISTA DE TABELAS E QUADROS

Quadro 1 - Grupo de indicadores desenvolvidos por tema - OCDE... 40

Quadro 2 - Indicadores de saúde ambiental para a Região Européia da OMS. ... 49

Quadro 3 – Indicadores de saúde ambiental infantil selecionados pela CEC... 51

Quadro 4 - Indicadores de saúde ambiental e ocupacional selecionados pelo México... 55

Quadro 5 – Indicadores de saúde ambiental selecionados pelo Projeto Fronteira 2012 – Modelo DPSIR ... 59

Quadro 6 - Indicadores desenvolvidos em Cuba ... 61

Quadro 7 - Indicadores desenvolvidos no Canadá... 63

Quadro 8 - Indicadores do sistema de vigilância das populações expostas ao asbesto... 72

Quadro 9 - Indicadores de saúde ambiental e ações propostas – água e doenças diarréicas... 120

Quadro 10 - Indicadores de saúde ambiental e ações propostas – causa externas e inundações ... 122

Quadro 11 - Indicadores de saúde ambiental e ações propostas – hantavirose... 123

Quadro 12 - Indicadores de saúde ambiental e ações propostas – dengue ... 125

Quadro 13 - Indicadores de saúde ambiental e ações propostas – problemas respiratórios... 127

Quadro 14 - Indicadores de saúde ambiental e ações propostas – Intoxicação por agrotóxicos... 128

Quadro 15 - Indicadores de saúde ambiental, fontes e periodicidade - doenças diarréicas. ... 130

Quadro 16 - Indicadores de saúde ambiental, fontes e periodicidade – causas externas e inundações... 132

Quadro 17 - Indicadores de saúde ambiental, fontes e periodicidade – hantavirose ... 133

Quadro 18 - Indicadores de saúde ambiental, fontes e periodicidade - dengue... 135

Quadro 19 - Indicadores de saúde ambiental, fontes e periodicidade – problemas respiratórios. ... 137

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS.

ABRE - Associação Brasileira de Embalagem AGROFIT – Sistemas de Agrotóxicos Fitossanitários ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária APP - Área de Preservação Permanente

APA - Área de Proteção Ambiental

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CAESB - Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal CDC – Control Disease Center, USA

CEC - Commission for Environmental Cooperation (Mexico, USA, and Canada)

CGVAM - Coordenação Geral de Vigilância em Saúde Ambiental do Ministério da Saúde CENEPI - Centro Nacional de Epidemiologia

CH4 – Hidreto de metila - metano

CFC - Clorofluorcarbono

CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo

COPASAD - Conferência Pan-Americana de Saúde, Ambiente e Desenvolvimento Humano Sustentável CO - Monóxido de carbono

CO2 - Dióxido de Carbono

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento DATASUS – Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

DATUM SAD - 69 -South American Datum 1969 - Sistema Geodésico Brasileiro DBO – Demanda bioquímica de oxigênio

DQO – Demanda química de oxigênio ENSP - Escola Nacional de Saúde Pública ETA - Estação de Tratamento de Água ETE - Estação de Tratamento de Esgotos FIOCRUZ - Fundação Oswaldo Cruz FUNASA – Fundação Nacional de Saúde GEO – Global Environment Outlook

HEADLAMP - Health and Environment Analysis for Decision Making

IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano. IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada MUNIC - Pesquisa de Informações Básicas Municipais MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MMA - Ministério do Meio Ambiente

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MS – Ministério da Saúde

MRE - Ministério das Relações Exteriores MCIDADES – Ministério das Cidades

NAFTA - North American Free Trade Agreement

NOVACAP – Companhia Urbanizadora da Capital Federal NO2 - Dióxido de nitrogênio

O3 - Ozônio

OECD - Organization for Economic Co-operation and Development OPAS – Organização Pan-Americana da Saúde

OMS – Organização Mundial da Saúde PIB – Produto Interno Bruto

PMSS – Projeto de Modernização do Setor de Saneamento PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente PNSB - Pesquisa Nacional de Saneamento Básico

PDOT - Plano Diretor de Ordenamento Territorial do Distrito Federal

PREVFOGO - Sistema Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais

SEAPA – DF - Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Distrito Federal SES - DF Secretaria de Estado da Saúde do Distrito Federal

SIA – Sistema de Informação sobre Agrotóxicos

SVS - Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEDUMA - Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente do Distrito Federal

SEDURH - DF - Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação do Distrito Federal (extinta em 2007) SINIMA – Sistema Nacional de Informação sobre o Meio Ambiente

SIM - Sistema de Informações sobre Mortalidade SINASC - Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos SINAN - Sistema de Informação de Agravos de Notificação

SNIS – Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento

SIV- SOLO - Serviço Integrado de Vigilância do Solo do Distrito Federal SO2 - Dióxido de enxofre

STDF - Secretaria dos Transportes do Distrito Federal UCB – Universidade Católica de Brasília

USEPA – United States Environmental Protection Agency UnB – Universidade de Brasília

(14)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...13

1.1. Objetivos...17

1.1.1 Objetivo geral...17

1.1.2 Objetivos específicos...17

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ...18

2.1 Saúde, ambiente e desenvolvimento...19

2.1.1 Aspectos conceituais sobre indicadores...29

2.1.2 O modelo PER da OCDE...35

2.1.3 O Modelo PEIR do PNUMA...40

2.1.4 Modelo FPSEEA da OMS...42

2.2 Experiências de construção de indicadores de saúde ambiental em suporte à formulação e avaliação de políticas públicas de desenvolvimento sustentável, no exterior e no Brasil. ...47

2.2.1 A experiência da OMS na construção de indicadores de saúde ambiental para a Europa...47

2.2.2 A experiência da Comissão para a Cooperação Ambiental da América do Norte (CEC)...50

2.2.3 A experiência do México...52

2.2.4 Programa Fronteira México – Estados Unidos – Frontera XXI e 2012...56

2.2.5 A experiência de Cuba...60

2.2.6 Experiência da Argentina...61

2.2.7 Experiência do Canadá....62

2.2.8 A construção de indicadores de saúde ambiental no Brasil...63

3 DESENVOLVIMENTO...74

3.1 Procedimentos metodológicos...74

3.2 Caracterização da área de estudo ...76

3.2.1 Localização e urbanização do Distrito Federal...76

3.2.2 Aspectos sociais e demográficos do Distrito Federal...80

(15)

3.2.4 Estruturas de meio ambiente, saneamento básico, saúde e educação....84

3.3 Principais problemas ambientais e de saúde do Distrito Federal ...88

3.3.1 Problemas relacionados aos recursos hídricos no Distrito Federal...90

3.3.2 Problemas relacionados à qualidade do ar no Distrito Federal...91

3.3.3 Os efeitos na saúde relacionados com o clima do Distrito Federal...92

3.3.4 Síntese dos efeitos na saúde relacionados com o ambiente...94

3.4 Resultados: o modelo FPSEEA aplicado à construção de indicadores de saúde ambiental para o Distrito Federal...101

3.4.1 Construção e análise das matrizes FPSEEA...103

3.4.2 Identificação dos indicadores e possíveis fontes de informação...117

4 CONCLUSÃO E RECOMENDAÇOES ...140

(16)

1 INTRODUÇÃO

Compreender as inter-relações da saúde humana com o meio ambiente, a partir do reconhecimento dos efeitos da ação antrópica e dos reflexos das condições ambientais na saúde da população, é indispensável para subsidiar a definição de políticas e estratégias de diversos setores. A urbanização desordenada, as condições inadequadas de moradia e de saneamento e os modelos de produção - industrial e agrícola - pouco comprometidos com a responsabilidade social, promovendo desmatamentos e contaminação do ambiente com poluentes químicos e físicos, têm levado à degradação ambiental e contribuído para a diminuição das condições de saúde da população e proliferação de uma série de doenças, inclusive de algumas supostamente erradicadas, como cólera, dengue e tuberculose.

Nesse contexto, a área da saúde tem contribuído com a tradução, em forma de indicadores de saúde ambiental, dos resultados de estudos epidemiológicos que demonstrem os efeitos de condições ambientais inadequadas na saúde humana, bem como com a identificação de estratégias de promoção da saúde e de prevenção e controle de riscos.

O conceito de saúde ambiental, que foi adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a partir de uma reunião do seu Escritório Regional para a Europa, realizada em 1993, na Bulgária, é expresso da seguinte forma:

Saúde ambiental compreende os aspectos da saúde humana, incluindo a qualidade de vida, que são determinados por fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e psicológicos no meio ambiente. Também se refere à teoria e a prática de valorar, corrigir, controlar e evitar aqueles fatores do meio ambiente que potencialmente podem prejudicar a saúde das gerações atuais e futuras (ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DE SAÚDE, 2001, p.2).

Diferentemente da OMS, o Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC) adota a expressão saúde pública ambiental - “environmental public health” -, definida como a ação de saúde pública que tem o foco na inter-relação entre pessoas e seu ambiente, com vistas a promover a saúde humana e o bem-estar, e a fomentar um ambiente seguro e saudável (CENTRO DE CONTROLE DE DOENÇAS, 2005).

(17)

uma expressão que agrega um valor adicional aos dados, quando são convertidos em informação clara e precisa, para utilização na tomada de decisões.

As medições, geralmente, produzem dados que são agregados, resumidos e transformados em estatísticas. Estas, quando analisadas, passam a ser expressas na forma de indicadores, que permitem interpretar uma dada situação e tomar as decisões que melhor convêm aos gestores, no momento de resolver um problema.

Segundo Corvalán et al. (1996), o conceito de indicador de saúde ambiental pode ser entendido como a expressão das relações entre o meio ambiente e a saúde. O conceito representa tanto um modo de enfrentar as necessidades de se compreender a saúde, como uma medida que resume, em termos relevantes e que podem ser facilmente entendidos, alguns aspectos dessas relações. É entendido também como um modo de expressar o conhecimento científico a respeito de um elo entre saúde e ambiente. Voltados para aspectos específicos de políticas ou de gerenciamento, os indicadores de saúde ambiental devem ser apresentados de um modo que facilite chegar a uma decisão eficiente.

Os indicadores desempenham um papel útil na identificação de tendências, no destaque de problemas e na formação de bases para o estabelecimento de prioridades, bem como na formulação e avaliação de políticas e programas. Outro fator da maior importância é que os indicadores podem ajudar a simplificar um conjunto complexo de informações a respeito de aspectos da saúde ambiental e, consequentemente serem importantes para a melhoria da comunicação com o público e com os gestores ou tomadores de decisão.

(18)

O entendimento crítico do modo como o ambiente influencia a saúde e de como desenvolver políticas e estratégias para diminuir impactos negativos é uma das características desse modelo. Outra característica importante é a apresentação da informação de forma facilmente compreensível, tanto para tomadores de decisão quanto para a sociedade em geral. Os indicadores de saúde ambiental são instrumentos importantes, não só para tomada de decisão no âmbito do setor saúde, como também nos demais setores necessários para garantir a sustentabilidade do desenvolvimento.

O modelo FPSEEA apóia-se nos conceitos e objetivos do desenvolvimento sustentável, preconizados pela Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento/Rio-92 (SACHS, 2004), e nos princípios e compromissos estabelecidos na Carta de Ottawa, resultante da I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde (1986), na medida em que indica a necessidade de integração entre políticas de desenvolvimento e necessidades sociais, de preservação ambiental e de saúde.

As ações resultantes do modelo envolvem, necessariamente, diferentes níveis e setores do governo e da sociedade, em sua execução, sendo que as ações efetivas de promoção da saúde atingem os estágios mais elevados da matriz - forças motrizes e pressões -, por sua abrangência e prazo mais longo de implementação (CORVALÁN et al., 1996).

Esta dissertação propõe um conjunto de indicadores de saúde ambiental para o Distrito Federal. Para tanto, parte-se de um reconhecimento das questões históricas e conceituais sobre saúde, ambiente e desenvolvimento, das metodologias que serviram de base para a construção do modelo FPSEEA, em seus aspectos conceituais e metodológicos, bem como de algumas experiências de aplicação do modelo, no Brasil e no exterior. É importante enfatizar que não se pretende esgotar o tema, mas de analisar as alternativas mais utilizadas, no momento, para definição de um elenco mínimo de indicadores comuns a todos os níveis de governo.

No desenvolvimento do trabalho, utiliza-se o modelo em questão para construir indicadores de saúde e de ambiente, que permitam identificar situações de risco, exposição e efeito, em um determinado espaço geográfico, tomando como referência os principais problemas ambientais e de saúde relacionados com o ambiente, no Distrito Federal. A seguir, são identificados os sistemas de informação que poderão compor um sistema de suporte à decisão, na gestão ambiental do Distrito Federal. É importante destacar a necessidade de identificação e acesso às fontes de informação disponíveis, para que se possam analisar os fatores que estão contribuindo ou gerando “efeitos” na saúde.

(19)
(20)

1.1. Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

Construir indicadores de saúde ambiental para integrar um sistema de suporte à decisão adequado à base de informações disponível sobre o Distrito Federal.

1.1.2 Objetivos específicos

a) Identificar os principais problemas relacionados com os reflexos do meio ambiente na saúde humana, no Distrito Federal;

b) Propor um conjunto de indicadores de saúde ambiental como instrumento de apoio à tomada de decisão, no âmbito do Distrito Federal;

c) Indicar as fontes de informação responsáveis pela divulgação e periodicidade dos indicadores selecionados;

(21)

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão da bibliografia disponível sobre o tema da dissertação destacou, em primeiro lugar, a história da relação entre saúde, ambiente e desenvolvimento, buscando a compreensão dessa problemática em suas relações de origem, desde o inicio da civilização, mostrando o modo como o homem lidava com o ambiente e cada vez mais se transformava no principal responsável pelas condições atuais.

Nessa perspectiva, foi realizado um levantamento inicial para identificar a evolução histórica da relação entre o homem, o ambiente e as ações de saneamento e de saúde. Resende e Heller (2002), da Universidade Federal de Minas Gerais, fizeram um trabalho importante ao publicar “O Saneamento no Brasil – Políticas e Interfaces”, que complementado pelas publicações “Saneamento, Saúde e Ambiente – Fundamentos para um Desenvolvimento Sustentável” (PHILIPPI Junior., 2005) e “Saúde, Ambiente e Sustentabilidade” (FREITAS; PORTO, 2006), destaca o papel determinante da maneira como o homem se relaciona com o ambiente e os reflexos dessa relação na saúde, desenvolvimento e qualidade de vida.

Em seguida, abordou-se o significado de indicadores e de sistemas de informação, assim como os principais processos de construção de indicadores voltados para a identificação da situação social, econômica e ambiental, nos planos locais e globais.

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2.1 Saúde, ambiente e desenvolvimento.

Quando o ser humano apareceu no mundo, sua expectativa de vida era de 30 a 40 anos. Para sobreviver, tinha que estar em busca constante de fontes de água e de alimentos, muitas vezes já contaminados. Era preciso evitar, sempre que possível, a ingestão de plantas naturalmente tóxicas ou de carne infectada. Convivia também com infecções e parasitas, transmitidos entre as pessoas e animais ou por vetores transmissores de doenças. Lutava também com os acidentes, as quedas, a luta com animais e o fogo, além das altas ou baixas temperaturas, chuvas, neve e desastres naturais.

Há cerca de 10.000 anos, o homem adquiriu a capacidade de alterar seu ambiente, utilizando ferramentas, armas e fogo; conquistando novos habitats e fixando-se em pequenos vilarejos. Segundo Resende e Heller (2002), essas modificações propiciaram maior concentração de seres humanos e interação com os agentes transmissores de doenças, que se encontravam nos ambientes modificados e nos animais domesticados ou não, como ratos, morcegos, cavalos e ambientes propícios a uma série de doenças, tais como a influenza, sarampo, tuberculose, lepra, varíola, malária, esquistossomoses, entre outras.

Todos esses riscos e efeitos na saúde ocorriam no ambiente natural, ainda sem modificações significativas feitas pelo próprio ser humano. Entretanto, juntamente com esses riscos, o homem foi criando o que se pode chamar de riscos modernos causados pela tecnologia e o desenvolvimento industrial, que transformaram as suas condições de saúde e de qualidade de vida.

Os mais antigos registros históricos mostram o desenvolvimento das primeiras comunidades nos vales dos rios Amarelo, Hindu, Tigre e Eufrates, situados respectivamente na China, Paquistão, Mesopotâmia e Egito, donde provêm registros de aplicação de técnicas e leis voltadas para o saneamento e a melhoria das condições ambientais. Na descrição das cidades mais antigas, historiadores indicam a existência de obras de saneamento e de atividades ligadas à saúde pública: sistemas de irrigação na Mesopotâmia (400 a.C.), galerias de esgoto em Nipur, na Índia (3.750 a.C.), sistemas de água e drenagem no Vale dos Hindus (3.200 a.C.) e tubulações de cobre no palácio real do faraó Quéops, em 2.750 a.C. (ROCHA, 1997).

(23)

sob a forma de sistemas de abastecimento de água e de disposição de efluentes. Esses sistemas auxiliavam no afastamento do perigo representado pelas epidemias, que os povos antigos atribuíam à “ira divina”, como punição pela ausência de cuidados com a higiene. Foi por esse senso lógico, que as civilizações greco-romanas conseguiram estabelecer uma associação entre a ausência de saneamento e a presença de algumas doenças.

A relação entre ambiente físico e a ocorrência de doenças ficou evidente com Hipócrates1, considerado o pai da medicina científica, pois foi quem primeiro sugeriu que o desenvolvimento da doença humana estaria relacionado com características pessoais e ambientais. Hipócrates e seus seguidores foram os que estabeleceram, de modo mais evidente, no Ocidente, uma passagem do sobrenatural para o natural, no que diz respeito às representações de saúde e doença. Em sua obra "Sobre os ares, águas e lugares", Hipócrates (400 a.C.) identificava a influência da localização geográfica e dos elementos físicos (clima, ar, qualidade e facilidade de acesso à água, presença de vegetação), à saúde dos habitantes de cada lugar. Destacava ainda a importância de se conhecerem os ventos e de se considerar as temperaturas atmosféricas, bem como observar a sua sazonalidade, durante o ano. Em relação à água, Hipócrates preocupou-se com a observação da sua qualidade e quantidade em cada lugar e sugeriu a análise de sua proveniência.

Na Antigüidade, a relação entre saúde e ambiente pode ser percebida nos seguintes fatos, relatados por Resende e Heller (2002):

• A construção, pelos romanos, dos sistemas de aquedutos, bacias de

sedimentação, sistemas de esgotamento sanitário e instalações sanitárias para banhos, que revelam preocupação com as demandas coletivas e a drenagem dos pântanos e com a correlação entre as regiões pantanosas e a ocorrência de algumas doenças.

• Os eficientes sistemas de esgotamento sanitário e drenagem na América Pré-Colombiana.

• O sistema de administração da saúde pública criado durante o império de Augusto, entre 27 a.C. e 14 d.C com a de finalidade cuidar dos assuntos relacionados com suprimento e abastecimento de água, e questões de saúde e doenças.

1 Hipocrates viveu entre 460 e 379 a. C. Grego, era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante

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Azevedo Netto (1984) destaca o uso, pelos egípcios, ainda em 2000 a.C., do sulfato de alumínio na clarificação da água e os cuidados que se deveriam ser tomados com a água de beber, tais como o seu armazenamento em vasos de cobre, a purificação pela fervura e filtração através de areia e cascalho grosso.

Esses povos atingiram um alto grau de conhecimento, que acabou se perdendo, com as invasões bárbaras e o retrocesso sanitário na Idade Média, marcada pela falta de higiene e ausência de cuidados básicos com a saúde, que resultaram nas grandes epidemias que vitimaram aproximadamente um terço da população européia. As invasões bárbaras levaram à desintegração do mundo greco-romano e desencadearam o processo de desorganização da saúde pública.

Na Idade Média, as civilizações explicavam os acontecimentos sob o ponto de vista do pensamento mágico e sobrenatural. A presença de doenças era enfrentada pelo homem medieval com uma mistura de religiosidade e magia. Nesse período, Resende e Heller (2002, p. 40) destacam:

• A presença forte do cristianismo com a conexão entre o pecado e a doença levando a população a se limitar a orar e fazer penitências quando acometida pelas doenças, sem se preocupar com as condições ambientais e hábitos de higiene. Incoerentemente, o conhecimento de saúde e higiene ficou preservado nos claustros e igrejas, onde foi possível identificar sistemas de água canalizada, latrinas apropriadas e sistemas de aquecimento e ventilação. Essas construções serviram de modelo para as comunidades que se formaram na Europa no século X.

• As cidades medievais ou fortificações desenvolvidas ao longo dos rios e das rotas comerciais, com a finalidade de defender-se das agressões, mas, que do ponto de vista sanitário, mantinha a população amontoada em cortiços, construídos dentro das muralhas, sem iluminação, ventilação adequada e sem instalações sanitárias.

(25)

• A adoção de medidas fiscalizadoras para proteger os mananciais, a exemplo das proibições de lançamento de dejetos dos animais perto das nascentes, lavação de peles dos curtumes e lançamento das águas de tinturaria nos rios, Essas medidas foram a base do código sanitário oficial de muitas cidades • O estabelecimento de regulamentos e punições, por parte das autoridades,

como a quarentena das epidemias, ou isolamento do doente e das pessoas que tinham contato com ele.

O fim da idade média e transformação do sistema feudal para a criação de Estados Nacionais centralizados, as relações entre saúde e ambiente se renovaram com o desenvolvimento das ciências e dos conceitos de saúde pública. Nos séculos XIV e XV a ciência começou a desenvolver o método experimental e a matemática, com o interesse voltado para os aspectos da sociedade, incluindo as doenças, que muitas vezes causavam uma redução significativa do número de pessoas de uma determinada região. Iniciou-se um processo de observação clinica e o enfoque individual sobre as doenças. Francastoro2, famoso médico, cientista e poeta italiano foi o criador da primeira teoria científica consistente, que tratava do contágio das doenças (RESENDE; HELLER, 2002).

Foi também a partir dos Estados Nacionais que se consolidou um conjunto de doutrinas e praticas econômicas, chamado de Mercantilismo3 onde as autoridades públicas eram responsáveis pelos problemas locais e podiam impedir a entrada de pessoas infectadas em suas jurisdições. A administração das cidades, segundo os autores responsabilizava os habitantes pela limpeza das ruas (lixo de dejetos humanos e de animais) e previa punições para quem causasse a poluição dos cursos d água usada para o abastecimento

Durante a ocupação das Américas, populações indígenas foram dizimadas pelo impacto de doenças européias, como varíola, sarampo, gripe, tifo, entre outras, representando a morte de milhões e pessoas. Além disso, populações inteiras foram deslocadas da África para as Américas com o comercio de escravos, transportados de navio, vivendo e trabalhando em condições precárias. Segundo Freitas (2006) estima-se que no Brasil a população indígena no século XVI era de três a quatro milhões de pessoas, pertencentes a mais de 1000 povos diferentes. O seu extermínio ocorreu principalmente devido às epidemias, conflitos armados e

2 Francastoro, médico de Verona que elaborou em 1546 uma teoria racional sobre a infecção, que atribuía a

passagem de corpos diminutos do agente infector ao individuo são. Essas sementes teriam o poder de se multiplicar

3 O mercantilismo tinha por princípio a identificação da riqueza com o metal precioso, a balança comercial

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às tentativas de escravização que produziram um enorme impacto em termos de desorganização social, ambiental e cultural.

A partir da revolução industrial, o trabalho assalariado passou a ser o elemento essencial à geração de riqueza, com conseqüências sobre a saúde e qualidade de vida dos trabalhadores. A revolução disparou também um grande fluxo migratório do campo para as cidades, provocando um grande crescimento urbano e industrial.

Surgiu, no mercado, a necessidade de se buscar mecanismos que minimizassem os problemas de saúde dos trabalhadores e de promoção de avaliações quantitativas acerca dos problemas de saúde, o que levou a pratica de estudos estatísticos e probabilidades, baseados nas tábuas de vida e na mortalidade para determinação da expectativa de vida. A evolução tecnológica e a industrialização nos países capitalistas como a Inglaterra, França, Alemanha e Estados Unidos possibilitaram também a execução de grandes sistemas de abastecimento de água e esgotamento sanitário, graças à produção de tubos de ferro fundido e do aperfeiçoamento das técnicas de engenharia e construção.

Com a Revolução Industrial os paises industrializados modernizaram-se e os demais que ainda não possuíam indústrias apostaram na nova tendência mundial. Houve uma melhoria significativa nos sistemas de transportes e abertura de estradas, canais e via fluviais, possibilitando maior integração entre os povos. No entanto a pobreza e a distância sociais aumentaram nas mesmas proporções e com a demanda por mão de obra industrial, a população urbana multiplicou-se rapidamente aumentando os problemas relacionados à falta de saneamento e de condições adequadas de moradia.

Na maior parte das cidades, os trabalhadores, com o intuito de viver próximo aos seus locais de trabalho eram obrigados a se amontoar em distritos urbanos superpovoados. Uma série de febres epidêmicas demonstrou a relação entre a disseminação das doenças e os aglomerados de fábrica e moradias inadequadas obrigando os empregadores a se preocupar com estes problemas inconvenientes para a produção (ROSEN, 1994)

As mudanças sociais ocorridas com o crescimento das cidades beneficiaram as classes mais altas e acentuou a aglomeração em subúrbios e distritos mais pobres, fora dos interesses das classes dominantes, principalmente no que dizia respeito à urbanização, abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem e controle de vetores.

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mercadorias e a disseminação das doenças, as pesquisas epidemiológicas começaram a buscar a explicação do processo saúde e doença e o entendimento dos contágios.

John Snow4 foi um dos grandes estudiosos da epidemia de cólera de Londres no ano de 1848. Snow (1999) mostrou a correspondência entre o número de mortos de cada região e o respectivo sistema de abastecimento de água, isolando os poços que estavam contaminados e descrevendo o ciclo de transmissão da doença, tornando-se um clássico da epidemiologia.

A teoria do Contágio também foi confirmada através dos estudos de Koch5 em 1892, quando ele isolou o vibrião das águas do Rio Elba. Koch observou que em Altona, cidade situada à jusante de Hamburgo a água usada no abastecimento era filtrada, evitando a transmissão da doença. O mesmo procedimento não aconteceu em Hamburgo, cidade que teve oito mil mortes causadas pela cólera. A implantação de sistemas de esgotamento sanitário nas grandes cidades só aconteceu depois das epidemias de cólera, a exemplo de Paris com a epidemia em 1832 e a construção da rede em 1833, em Londres em 1833 e 1855 respectivamente e Buenos Aires em 1869 e a construção da rede em 1874. (KOIFMAN, 1990 apud RESENDE; HELLER, 2002).

O próximo passo na evolução da saúde pública foi a criação de vacinas e soros específicos, desenvolvidos por laboratórios financiados pelos governos, que chamaram para si a responsabilidade sobre a promoção da saúde Tal fator levou as autoridades de vários países a se reunirem na I Conferencia Sanitária Internacional em 1851, na cidade de Paris. Os paises da região das Américas também se aliaram na busca pelo controle de doenças transmissíveis e criaram a Organização Pan-Americana da Saúde – OPS em 1902, a fim de empreenderem uma ação conjunta e eficaz que acompanhasse a evolução mundial. (LIMA, 2002)

Embora os problemas de saúde relacionados com as preocupações ambientais nessa época restringissem as questões relacionadas ao saneamento das cidades, havendo pouca ou nenhuma preocupação com a “natureza”, Freitas e Porto (2006) observam que os movimentos já incorporavam a dimensão social para a compreensão das causas e busca das soluções. Por outro lado, as preocupações com a destruição e degradação da natureza encontravam-se dissociadas, tanto dos problemas de saúde, como de uma dimensão social.

O século XX foi marcado por um nível de intervenção humana sem precedentes na natureza, pelo aumento populacional e nível de poluição decorrente da concentração e extensão das atividades de produção e consumo. Várias publicações de grande impacto internacional, como o polêmico relatório chamado “Os limites do crescimento” produzido por

4Snow, médico inglês, anestesista e epidemiologista ( 1813 -1858)

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um grupo de ambientalistas e cientistas, denominado Clube de Roma, divulgado em 1972 (MEADOWS et al., 1978), alertava para as perspectivas de um futuro sombrio para a humanidade. O relatório atentava para a preocupação com as principais tendências do ecossistema mundial, extraídas de um modelo global articulando cinco parâmetros: industrialização acelerada, forte crescimento populacional, insuficiência crescente da produção de alimentos, esgotamento dos recursos naturais não renováveis e degradação irreversível do meio ambiente.

Tanto Freitas e Porto (2006), como Von Shirnding (2002) destacam quea exploração dos recursos naturais tem sido predatória, colocando em risco espécies vegetais e animais, além de outros recursos naturais (ar, água e solo). Os problemas da urbanização, da produção e consumo e do meio ambiente são crescentes, atingindo de forma diferenciada os países do norte e do sul. No entanto, os primeiros sinais dos questionamentos sobre a questão ambiental surgiram após a segunda guerra mundial, em função das armas nucleares, do processo de industrialização e do aumento do consumo de bens. A partir daí, fatos históricos passam a marcar o processo de tomada de consciência sobre os impactos do desenvolvimento no meio ambiente. O livro Primavera Silenciosa de Rachel Carson (1964) questionou o uso de pesticidas químicos e foi responsável pelo levantamento mundial da questão da preservação do ambiente, o naufrágio do petroleiro Torrey Canyon na Cornualha; o incêndio da plataforma da Union Oil Co na Califórnia; a poluição por mercúrio na Bacia de Minamata no Japão, estes e outros eventos, ampliam o debate sobre a problemática ambiental.

Diversos fóruns têm colocado em suas pautas de discussão a questão das desigualdades sociais, da saúde pública e da degradação ambiental. A Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, realizada em Estocolmo em 1972, foi um marco na busca de respostas aos problemas existentes ao defender que:

O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar de bem-estar, e é portador solene da obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações futuras. A esse respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o "apartheid”, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de dominação, permanecem condenadas (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, 1972).

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ambiental ganhou força e as questões ambientais tornaram-se itens importantes na agenda da saúde pública.

A Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, realizada em 1978 em Alma-Ata, URSS, estabeleceu o conceito de saúde até hoje adotado pela ONU:

A saúde, estado de completo bem estar físico, mental e social, e não somente a ausência de doenças ou enfermidades, é um direito humano fundamental e que a obtenção do mais alto grau possível de saúde é um objetivo social sumamente importante em todo o mundo, cuja realização exige a intervenção de muitos outros setores sociais e econômicos, além o da saúde. (ORGANIZAÇÃO PAN AMERICANA DA SAÚDE, 1978).

Franco (2001) e Yassi (2001) ressaltam o surgimento do conceito de desenvolvimento sustentável, que surgiu a partir de alguns marcos referenciais importantes, tais como:

• O Relatório Brundtland (Nosso Futuro Comum), de 1987, que definiu

desenvolvimento sustentável como sendo o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades da geração presente sem comprometer a habilidade das gerações futuras de satisfazerem suas próprias necessidades”;

• A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO 1992), realizada no Rio de Janeiro, que institui a Agenda 21, como um compromisso global com a manutenção da qualidade de vida e a conservação dos recursos naturais;

• A Conferência Pan-Americana de Saúde e Desenvolvimento Humano Sustentável – COPASAD (1995), realizada em Washington, que destacou a abrangência, a complexidade e urgência das questões ambientais, enquanto problema de saúde pública;

• A Conferência HABITAT II (1996), realizada em Istambul, que realçou a importância da qualidade do meio ambiente urbano no desenvolvimento sustentável.

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(138 milhões) viviam nas cidades; o restante (31,5 milhões), nas áreas rurais. O crescimento econômico gerou uma série de contradições e tensões resultantes do aumento acelerado e desigual da população. Estima-se que o país possua cerca de 20,3 milhões de indigentes6 e, além disso, os 50% mais pobres detêm apenas 13,9% da renda nacional, enquanto os 10% mais ricos detêm 47% (BRASIL 2005).

Apesar da taxa de mortalidade infantil (número de óbitos em menores de 01 ano por 1.000 nascidos vivos) ter decrescido nas últimas décadas, a mesma ainda encontra-se alta, comparada com outros países em desenvolvimento, tendo atingido, em 2004, 25,17 por mil nascidos vivos. Além disso, a mortalidade varia nas regiões do Brasil, tendo-se a mais elevada em Alagoas, no Nordeste (47,1) e a mais baixa no Rio Grande do Sul (14,8), segundo dados do Periódico IDB 2006. Brasil (Ministério da Saúde; Organização Pan Americana de Saúde, 2006).

Com relação ao meio ambiente, o MSAUDE (2002) destaca nos documentos produzidos para o Curso básico de vigilância ambiental em saúde (CBVA) que as formas de urbanização e os modelos de produção industrial e agrícola têm levado à degradação ambiental. Os déficits de saneamento ambiental têm contribuído para a diminuição da salubridade ambiental e para a proliferação de uma série de doenças, inclusive algumas antes erradicadas, como a cólera, dengue e tuberculose, enfermidades que podem ser reduzidas com medidas de saneamento. Os municípios brasileiros têm sido marcados pela segregação espacial entre as cidades formais e informais, resultante do processo de exclusão social ampliado pela globalização da economia. A ocupação desordenada do espaço urbano, a carência de serviços básicos – como abastecimento de água, esgotamento sanitário e coleta de lixo – e a ocupação de habitações insalubres pela maior parte da população têm determinado a degradação ambiental e a má qualidade de vida.

O paradigma do desenvolvimento sustentável leva em conta um tipo de informação na qual o meio ambiente e a capacidade de sustentabilidade ambiental estão inseridas em uma nova abordagem do desenvolvimento. Segundo Minayo et al (2002) esse conceito deve ser considerado sempre que se estabeleçam processos de construção de indicadores e de produção de informação em saúde e meio ambiente, sendo que, na grande maioria das nações, já vem sendo utilizado gradativamente na busca de resultados que permitam subsidiar as instâncias de decisão com as informações necessárias à gestão política e administrativa.

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Dentre os problemas ambientais que entraram no cenário público internacional, principalmente, a partir da década de 70, Porto (2007, p. 32) destaca:

i. A crescente degradação ambiental em várias regiões do planeta, e o reconhecimento científico dos riscos ecológicos globais, tais como o efeito estufa (o aquecimento do planeta), a redução da camada de ozônio a destruição das florestas, a redução da biodiversidade, a poluição atmosférica e marítima, a diminuição da água potável disponível, dentre outros;

ii. O agravamento dos problemas ambientais presentes nas regiões e aglomerados urbano-industriais, superpondo os efeitos da poluição industrial, do consumo e dos transportes dos países industrializados com os problemas da exclusão social e da falta de infra-estrutura básica principalmente nos países de industrialização recente e economia periférica marcados por desigualdades;

iii. A previsão de escassez de recursos naturais básicos para a produção e consumo das sociedades industriais, reestruturando o pensamento liberal pautado na abundância e suplantação da escassez.

Porto (2007) ressalta, ainda, que tais problemas revelaram o surgimento e difusão de diferentes tipos de riscos ambientais, cuja origem encontra-se na intervenção humana na natureza, e que trouxeram novos desafios para a civilização moderna. Alguns aspectos dessa nova problemática ambiental possuem uma escala temporal e espacial jamais observada, podendo gerar efeitos de curto, médio ou longo prazo, afetando gerações atuais e futuras, como no caso dos depósitos de resíduos químicos e nucleares. Espacialmente, os riscos ambientais não seguem as fronteiras políticas e a relação entre fenômenos locais (como a emissão de clorofluorcarbono - CFC ou monóxido de carbono - CO) e globais (como o efeito estufa), exigindo políticas globais de caráter internacional para o controle da poluição ambiental.

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deslocamento de um modelo essencialmente economicista para uma reflexão que envolve eqüitativamente as dimensões ambientais, econômicas e sociais.

Para Porto (2007), apesar dos avanços científicos e das investigações inter e transdisciplinares, muitos dos problemas ambientais graves possuem elevados níveis de incertezas científicas ou epistemológicas8, o que significa que a ciência não possui respostas precisas, tanto sobre o diagnóstico quanto sobre as ações que devem ser realizadas para se controlar tais problemas. Além disso, os países e regiões com menores recursos econômicos e técnico-científicos possuem incertezas técnicas e metodológicas, ocasionadas pela falta de dados, ou ainda pela incapacidade de análise e controle dos problemas de ambiente e saúde.

Ainda segundo o mesmo autor, a exclusão social e desigualdades entre países e regiões fazem com que muitos problemas ambientais atinjam de forma mais grave populações mais pobres e marginalizadas pelo processo de desenvolvimento. Além dos problemas básicos de falta de condições adequadas de saneamento ambiental, também os riscos ambientais modernos freqüentemente afetam mais as populações excluídas, como aquelas que moram em favelas perto dos lixões e dependem dele para sobreviver, e outras populações que constroem suas habitações em áreas de risco, como encostas, áreas de enchentes ou de poluição e acidentes industriais. A ineficácia de políticas públicas voltadas para estas populações agrava a vulnerabilidade social das mesmas.

2.1.1 Aspectos conceituais sobre indicadores

O conceito de indicador não é novo. Originado do latim “indicare”, o termo significa: apontar para, desvendar, estimar, colocar preço ou trazer ao conhecimento do público. Um indicador deve ser direto, sem necessidade de interpretação adicional. Os indicadores podem comunicar ou informar sobre o progresso em direção a uma determinada meta e podem também ser entendidos como um recurso que facilita a percepção de uma tendência ou fenômeno, que não possa ser imediatamente observado. Indicadores podem requerer ajustes, por exemplo, para sazonalidade ou clima, e freqüentemente são relacionados a variáveis de referência, por exemplo, emissões de CO2 per capita, quantidade de fertilizante por hectare de terra cultivável (HAMMOND et al., 1995 apud BELLEN, 2007, p. 41).

8Epistemologia - teoria da ciência, do conhecimento e da metodologia. Estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados

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Para a Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento - OCED (1993), um indicador deve ser entendido como um parâmetro ou valor derivado de parâmetros que apontam e fornecem informações sobre o estado de um fenômeno, com uma extensão significativa. Um indicador ambiental, portanto, é um parâmetro que aponta para o estado de um ambiente ou área, oferecendo informação sobre esse estado ou descrevendo-o. De maneira geral, os indicadores simplificam e tornam fenômenos complexos quantificáveis, de modo a promover uma melhor comunicação. Outras definições também colocam o indicador como uma variável que está relacionada com outra variável estudada, mas que não pode ser diretamente observada (CHEVALIER et al., 1992 apud BELLEN, 2007).

Bellen (2007) considera que uma variável é entendida como a representação operacional de um determinado atributo (qualidade, característica, propriedade) de um sistema. Uma variável é, portanto, uma representação ou imagem desse atributo. A mais importante característica de um indicador, quando comparado com outros tipos ou formas de informação, é a sua relevância para a política e o processo de tomada de decisão. Para ser representativo, um indicador deve ser importante, tanto para os tomadores de decisão quanto para o público.

A necessidade de utilização de indicadores teve sua origem nas áreas da economia - PIB e taxa de desemprego –; de administração - indicadores de desempenho e produção - e de ecologia, com o seu emprego na identificação das espécies. Nos últimos anos, tem havido um interesse muito grande de outros setores pelo uso de indicadores - sociais, de pobreza, educação, de saúde e de ambiente. Gallopin (1996 apud BELLEN, 2007) chama atenção para o fato de que a grande maioria dos sistemas de indicadores existentes e utilizados foi desenvolvida por razões específicas: são ambientais, econômicos, de saúde, sociais e não podem ser considerados indicadores de sustentabilidade em si, mas possuem um potencial representativo dentro do contexto de desenvolvimento sustentável.

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consumo - de grãos, peixes, produtos florestais e água potável - e um relacionado às emissões de CO2 (BAHIA, 2006).

Segundo Borja e Moraes (2000), desde o início dos anos 60 começaram a formar-se grupos nacionais e internacionais preocupados com a incorporação da variável ambiental ao escopo dos indicadores sociais Os princípios estabelecidos pela declaração da Conferência Rio/92 foram alguns dos mais importantes estímulos ao uso de indicadores de desenvolvimento, na área da saúde e ambiente, ao colocar os seres humanos no centro da preocupação com o desenvolvimento sustentável e ressaltar o seu direito a uma vida saudável e produtiva, em harmonia com a natureza. O Capítulo 40, da Agenda 21 – Informação para a Tomada de Decisão -, por exemplo, estabelece que: “Indicadores de desenvolvimento sustentável precisam ser desenvolvidos para prover bases sólidas na tomada de decisão em todos os níveis e para contribuir para a regulação própria da sustentabilidade do ambiente, integrado a outros sistemas de desenvolvimento” (CNUMAD, 1996, p.575).

Segundo Ribeiro (2007), para que uma sociedade seja capaz de avaliar seu próprio progresso, sua evolução e seu desenvolvimento, ela necessita de um suporte de informação adequado, não apenas em apoio à decisão política acerca desse desenvolvimento, como também para acompanhar o impacto das atividades, no contexto socioambiental. A transição para o desenvolvimento sustentável requer esse entendimento. A mensuração da sustentabilidade é condição sine qua non para a construção de soluções sustentáveis de desenvolvimento.

Os indicadores ambientais, por exemplo, estão estreitamente associados aos métodos de produção e de consumo e refletem, frequentemente, intensidade de emissões, quantidade de resíduos ou de utilização dos recursos, assim como suas tendências e evoluções, dentro de um determinado período. Segundo Kraemer (2004 apud BAHIA, 2006), servem também para evidenciar os progressos alcançados na relação entre as atividades econômicas e o ambiente, que são indispensáveis para fundamentar as decisões referentes aos mais diversos níveis e setores.

A CEPAL define indicadores ambientais como sendo aqueles que refletem uma relação significativa entre algum aspecto do desenvolvimento econômico e social e um fator ou processo ambiental. (CARRIZOSA, 1992 apud BAHIA, 2006).

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precisam ser considerados a partir da dimensão de tempo, relacionados a espaços geográficos, esferas de dimensão mundial ou global, nacional, regional, local, resultados dos mais diversos fatores culturais e históricos, entre outros, que vão demonstrar as diferenças que existem e as possíveis formas de medir a sustentabilidade.

A partir da Conferência Rio-92, organizações internacionais tradicionalmente ligadas aos aspectos econômicos e sociais do desenvolvimento, começaram a se preocupar com a definição de indicadores relativos ao meio ambiente. Nesse sentido, destacam-se: a Organização para a Cooperação Econômica e o Desenvolvimento (Organisation for Economic Cooperation and Development – OECD em inglês), o Comitê Científico para Problemas do Meio Ambiente (Scientific Committee on Problems of the Environment – SCOPE), a Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável (United Nations Comission on Sutainable Development – CSD), a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Centro das Nações Unidas para Assentamentos Humanos (United Nations Centre for Human Settlements – UNCHS), o Instituto de Recursos Mundiais (World Resources Institute – WRI), o Banco Mundial e a Comissão Européia, bem como os governos dos Estados Unidos da América, Canadá, Reino Unido, Holanda e outros.

O Comitê Científico para Problemas do Meio Ambiente - SCOPE recomendou, em 1995, que os indicadores de desenvolvimento sustentável incluíssem medições relacionadas com o impacto da exposição humana (VON SHIRNDING, 2002, p 20). Muito antes dessa recomendação, todavia, a OMS já adotava o conceito de saúde ambiental e fazia uso de indicadores de saúde ambiental. Sua iniciativa pioneira, do começo da década de 70, foi o Programa Marco de Atenção ao Meio (OPS/OMS, 1992), que buscava o conhecimento de dados básicos sobre o meio físico e social, no âmbito dos sistemas locais de saúde. A preocupação inicial era gerar informação sobre abastecimento de água e esgotamento sanitário. Posteriormente, o Programa passou a incluir o destino do lixo, a drenagem e condições da habitação, que até hoje são os indicadores de saúde ambiental mais empregados para o conhecimento do estado de desenvolvimento de uma localidade.

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específicas de mortalidade e de morbidade, onde não é visível a relação com questões ambientais.

Os mesmos autores ressaltam que um indicador com base na exposição demonstra o conhecimento sobre um determinado perigo ambiental e dá a medida do risco estimado. Tais indicadores são, normalmente, concebidos como indicadores ambientais, mas podem ser conceituados como de saúde ambiental, quando se trata de uma relação de saúde e ambiente já conhecida. Um exemplo são os casos de cólera, em áreas onde não existam sistemas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário adequados, ou os casos de infecções respiratórias atribuídos a uma associação entre a exposição e a contaminação do ar, em áreas de trânsito intenso.

A primeira reunião da OMS, voltada especificamente para indicadores de saúde ambiental, aconteceu em Düsseldorf /Alemanha, em 1992 (Organização Mundial da Saúde, 1993). Desde então, têm sido realizados vários eventos e investigações para desenvolvimento de indicadores. Naquela reunião, foram propostos critérios para a seleção de indicadores de saúde ambiental e um modelo de agregação de indicadores (Figura 1), em diferentes escalas, que deixa clara a conexão entre ambiente e saúde.

Desde então, vêm ocorrendo estudos que buscam um maior detalhamento, sofisticação e validação científica dos indicadores de saúde ambiental e vem crescendo sua utilização sistemática no âmbito da organização. Exemplo disso são os programas “Saúde para Todos” e “Programas de Municípios e Comunidades Saudáveis”. A OMS tem também desenvolvido indicadores de saúde ambiental específicos para grupos vulneráveis, a exemplo dos indicadores de saúde ambiental infantil (Organização Mundial da Saúde, 2003).

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Figura 1 - Cadeia ambiente e saúde Fonte: CORVALAN, 1996.

O estabelecimento de programas e redes de vigilância, na década de 90 - tais como os programas Global Environment Monitoring System GEMS – WATER, para a vigilância da água, e GEMS–AIR, para a vigilância do ar, das Nações Unidas; ou sistemas transnacionais, como o CORINE (Coordination of Information on the Environment Programme), da Comunidade Européia (BRIGGS 1995); o Sistema Geodésico Brasileiro (Datum SAD-69) ; e, mais recentemente, o TerraView e o Google Earth - têm facilitado o acesso a dados importantes sobre o meio ambiente. As técnicas de vigilância no campo, a modelagem e a computação também têm aumentado muito as possibilidades de obtenção de dados locais. O uso de sistemas de informação geográfica (SIG) e de outras tecnologias de informática tem desempenhado papel decisivo nesse processo.

O modelo conceitual denominado FPSEEA (CORVALÁN et al., 1996), proposto pela OMS para a construção de indicadores de saúde ambiental, possibilita o entendimento das relações abrangentes e integradas entre saúde e meio ambiente, com vistas à adoção de um

Atividades Fonte

Emissões

Concentração Ambiental

Ar Água Alimentos Solo

Exposição

Exposiçãoexterna

Doseabsorvida

Moderados Avançados Precoces

Efeitos na Saúde

Transporte Atividades

domésticas Gerenciamentode

Residuos

Agricultura Indústria

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conjunto de ações de promoção e prevenção adequadas a cada realidade estudada. Esse modelo sistematiza as principais etapas do processo de geração, exposição e efeitos de riscos ambientais, bem como as principais ações de controle, prevenção de doenças e promoção da saúde. Todavia, ele não fornece uma seleção acabada de indicadores; ao contrário, pressupõe a construção de indicadores a partir de cada situação específica, seja ela em nível local, regional ou nacional.

O modelo FPSEEA tem como precursores os modelos PER (Pressão/Estado/Resposta) e PEIR (Pressão/Estado/Impacto/Resposta), utilizados respectivamente pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Segundo Philippi Junior (2005, p. 773), a idéia central do modelo PER, que foi desenvolvido pelo estatístico canadense Anthony Friends, na década de 1970, e posteriormente adotada pela OCDE, consiste em avaliar um sistema a partir de três aspectos:

• O estado da situação atual, medido por meio de indicadores que captem mudanças observáveis no meio ambiente, como por exemplo, o aumento da temperatura média global;

• As forças e atividades que estão mantendo ou causando o estado atual, medidas por meio de indicadores que registrem atividades antrópicas que interferem no meio ambiente, como por exemplo, emissões de CO2;

• As medidas que estão sendo tomadas para melhoria, manutenção ou reversão do quadro encontrado, mensuradas por meio de indicadores que representem respostas da sociedade para solucionar o problema, como, por exemplo, a criação de taxas para o consumo de energia.

2.1.2 O modelo PER da OCDE

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sociedade e meio ambiente, que contempla as causas dos problemas ambientais e as respostas que a sociedade deve implementar.

Kligerman et al. (2007, p. 201) confirmam que o modelo PER, apresentado na Figura 2, está baseado em um conceito de causalidade: “as atividades humanas exercem pressões sobre o ambiente, modificando sua qualidade e a quantidade de recursos naturais; a sociedade, por sua vez, responde a essas mudanças por intermédio de políticas ambientais, econômicas e setoriais”. Esse modelo propiciou o fortalecimento da informação ambiental e a inserção das variáveis sociais e econômicas nos diferentes setores do desenvolvimento da economia.

No modelo PER, os indicadores de Pressão representam as atividades humanas, os processos e padrões que impactam o desenvolvimento sustentável; os indicadores de Estado indicam o "estado" dos recursos e das populações após a pressão; e os indicadores de Resposta indicam opções políticas e outras respostas para mudar o estado do desenvolvimento sustentável.

Figura 2 - Modelo PER Fonte: BAHIA, 2006, p. 15.

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• A pertinência política e utilidade para os usuários - facilidade de interpretação, capacidade de apontar tendências e responder às mudanças, estabelecendo padrões ou valores comparáveis com as condições ambientais, servir de referência às comparações internacionais, se reportar a um valor limite ou valor de referência para comparações e para que os usuários possam avaliar o seu significado;

• A confiabilidade analítica - fundamentação técnica e termos científicos, estar baseado em um consenso internacional sobre a sua validade;

• A mensurabilidade - os indicadores devem ser calculados a partir de dados quantificáveis já disponíveis ou disponíveis a um custo razoável;

• Os dados devem ser confiáveis e passíveis de atualização, em intervalos regulares, segundo procedimentos confiáveis, bem como acompanhados de uma documentação adequada e de qualidade reconhecida.

Segundo a própria organização (OECD, 2003), o primeiro grande marco obtido foram os indicadores de “estado”, cujos resultados ultrapassaram os objetivos iniciais de avaliação de desempenho ambiental. A partir dessa experiência, os indicadores passaram a ser estruturados segundo temas ambientais, fornecendo assim a base para a elaboração de indicadores de sustentabilidade. A importância dessa iniciativa é apontada pelo PNUMA (2006), ao reconhecer que o modelo não se restringia aos indicadores estritamente ambientais, mas que já propunha a integração de variáveis ambientais com variáveis econômicas e sociais.

No entanto, de acordo com Domingues (2000), se o modelo PER evidencia as ligações entre ambiente e economia, por exemplo, por outro lado ele tende a sugerir uma linearidade nas relações de interação da atividade humana com o meio ambiente, que são extremamente complexas. Outra deficiência estaria no fato de o modelo utilizar-se apenas de dados já existentes e não contemplar a participação da comunidade na avaliação.

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Como, em muitos casos, o modelo PER mostrava-se limitado, buscou-se melhorá-lo no que se refere ao entendimento das pressões, por meio da consideração de Forças Motrizes (Driving Forces) e Impacto. Essa nova versão do modelo foi batizada com a sigla DPSIR, que corresponde às iniciais, em inglês, de: Força motriz - Pressão – Estado – Impacto – Resposta (USEPA, 1994 apudOMS, 1996).

A OCDE trabalha, atualmente, com um grupo de 40 a 50 indicadores, com focos nos níveis nacional, internacional e global, que são regularmente publicados para comparação entre países, particularmente no que diz respeito ao desenvolvimento das questões ambientais e à integração entre políticas econômicas e ambientais. A responsabilidade de construção dos indicadores cabe a cada país membro da organização. Os indicadores (OCDE, 2003) descritos no Quadro 1 foram selecionados a partir da priorização de 15 temas, que refletem as maiores preocupações na área da saúde ambiental, em temos internacionais.

Grupo de indicadores desenvolvidos por tema - OCDE PER

1. Mudanças climáticas

Carga de emissões de gases – efeito estufa (CH4, N2O, CFC, CO2)

Concentração de gases na atmosfera / temperatura global Instrumentos econômicos e fiscais para reduzir as emissões

Pressão Estado Resposta

2. Redução da camada de Ozônio

Índice de consumo de produtos com CFC

Concentração de ODP* na atmosfera / Níveis de radiação UV-B na terra Redução dos níveis de CFC na atmosfera

* Oscilação Decadal do Pacífico

Pressão Estado Resposta

3. Eutrofização

Emissões de P e N na água e no solo (balanço de nutrientes) DBO e DQO em águas de recreação

% de esgoto coletado e tratado

Pressão Estado Resposta

4. Acidificação

Emissões de substâncias ácidas - NOx e SOx

Concentração de precipitação de ácidos (pH da água de recreação) % de veículos com catalizadores

Pressão Estado Resposta

5. Contaminação tóxica

Emissões de metais pesados e compostos orgânicos / Consumo de agrotóxicos Concentração de metais pesados e compostos orgânicos no ambiente

(42)

Mudanças na composição de componentes tóxicos em produtos e em processos

produtivos. Resposta

6. Qualidade do ambiente urbano

Volume de emissões em área urbana (SOx, NOx,); densidade de tráfego urbano; grau de urbanização / crescimento urbano

População exposta ao ar poluído / água contaminada / ruído

% de áreas verdes / áreas protegidas / % de água tratada / gastos com medidas para redução de ruído

Pressão

Estado Resposta

7. Biodiversidade (indicadores a serem construídos)

Alterações do estado natural de habitat Espécies em extinção

% de áreas protegidas / espaços naturais

Pressão Estado Resposta

8. Resíduos

Quantidade de resíduos gerados (domésticos e industriais) % de resíduos reciclados

Investimentos e instrumentos fiscais para redução de resíduos

Pressão Resposta Resposta

9. Recursos hídricos

Intensidade de uso dos recursos hídricos Freqüência de períodos de escassez de água Preço pelo uso da água / tratamento dos esgotos

Pressão Estado Resposta

10. Recursos florestais

Intensidade do uso de recursos florestais % de áreas verdes / florestas

Proteção e manejo de florestas e parques

Pressão Estado Resposta

11. Recursos de pesca

% de pesca oceânica

% de desova (reservas com limites biológicos seguros) Cotas de pesca

Pressão Estado Resposta

12. Degradação do solo / desertificação / erosão

Uso atual e potencial do solo na agricultura Grau de perda de proteção do solo

Áreas reabilitadas

Pressão Estado Resposta

13. Recursos materiais

(a serem desenvolvidos)

14. Indicadores socioeconômicos

Taxa de crescimento populacional / produção industrial / suprimentos energéticos /

Imagem

Figura 1 - Cadeia ambiente e saúde                                                                        Fonte:  CORVALAN, 1996
Figura 2 - Modelo PER                                                                                  Fonte: BAHIA, 2006, p
Figura 3 – Modelo PEIR                                                                                 Fonte: BAHIA, 2006
Figura 4 - Modelo FPSEEA de construção de indicadores de saúde ambiental  Fonte: ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2001
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