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2.1 Saúde, ambiente e desenvolvimento

2.1.4 Modelo FPSEEA da OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS), preocupada com os reflexos do comprometimento da salubridade ambiental na saúde humana, promoveu diversos estudos para um melhor entendimento da relação meio ambiente – saúde, de forma a subsidiar a definição de políticas e estratégias para esses setores. Como parte desse esforço, foi desenvolvido o projeto HEADLAMP (Health and Environment Analysis for Decision Making), em 1996, que teve como objetivo “a melhoria do apoio à informação para as políticas de saúde ambiental e a disponibilização de informações sobre os impactos da saúde ambiental em vários níveis a tomadores de decisão, profissionais de saúde e ao público” (VON SCHIRNDING, 1998, p.4).

Nesse projeto, é utilizado um modelo de construção de indicadores de saúde ambiental que a OMS denominou FPSEEA, onde procurou-se complementar os modelos PER, da OCDE, e PEIR, do PNUMA, introduzindo neles as Forças motrizes relacionadas com processos de desenvolvimento e correlacionando o Impacto com a identificação da Exposição humana a fatores ambientais de risco e seus efeitos na saúde. Como último estágio na construção de indicadores, o modelo traduz a resposta em Ações, favorecendo assim um entendimento mais integral do problema e das relações causais que embasaram a indicação dessas ações, de modo a garantir transparência aos processos de tomada de decisão.

O modelo FPSEEA, apresentado na Figura 4, consiste da construção de uma matriz, em seis estágios, que correspondem à identificação de: Força Motriz, Pressão, Situação, Exposição, Efeito e Ação (CORVALAN et al. 1996). Tomando como exemplo a ocorrência de doenças diarréicas, o procedimento pode ser iniciado pelas “forças motrizes”, considerando o crescimento desordenado na periferia dos centros urbanos e/ou uma política de saneamento básico que não atende áreas críticas. Tais forças geram as “pressões” associadas ao uso intensivo de determinados recursos naturais, o grande volume de resíduos produzidos numa determinada área com grande adensamento populacional, falta de abastecimento de água com qualidade e inexistência de coleta e tratamento dos esgotos e lixo. Tais pressões contribuem para gerar uma “situação”, onde os recursos hídricos tornam-se contaminados ou deteriorados, facilitando a “exposição” humana a fatores ambientais de risco, como por exemplo, ao consumir água e alimentos contaminados.

A exposição pode gerar “efeitos” na saúde, no caso, as diarréias. Para cada uma das categorias analisadas, são construídos indicadores e propostas “ações” de promoção da saúde, bem como de controle e prevenção de riscos.

Figura 4 - Modelo FPSEEA de construção de indicadores de saúde ambiental Fonte: ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE, 2001.

Para o estabelecimento de indicadores de saúde ambiental, que define como sendo “Uma expressão da conexão entre saúde e ambiente, focalizada em uma questão de gerenciamento ou de política específica, apresentada de forma a facilitar a interpretação para a tomada de decisão efetiva e eficaz” (BRIGGS et al., 1996), sugere alguns critérios:

Aplicabilidade geral, ou seja:

a) Os indicadores devem estar diretamente relacionados a uma questão específica de interesse da saúde ambiental;

b) Devem estar baseados em uma associação conhecida entre ambiente e saúde;

c) Relacionados às condições ambientais e/ou de saúde que são passíveis de controle, ou que podem ser modificadas com o desenvolvimento de ações específicas.

Solidez:

a) Imparciais e representativos das condições de interesse;

b) Cientificamente confiáveis para que sua validade não seja posta em dúvida; c) Baseados em dados de qualidade conhecida e aceitável;

Forças motrizes

Crescimento da população, da economia, tecnologia.

Situação/Estado

Riscos naturais, níveis de poluição.

Pressão

Produção, consumo, descarte.

Exposição

Exposição externa, dose absorvida.

Efeito

Morbidade, mortalidade, bem estar.

Revisão das políticas econômicas e sociais Tecnologias limpas Avaliação / comunicação de riscos Monitoramento ambiental e controle da poluição Promoção / prevenção Ação

d) Resistentes e não vulneráveis a pequenas mudanças na metodologia/escala usada para sua construção;

e) Consistentes e comparáveis, independentemente de tempo e espaço. Aplicabilidade prática:

a) Baseados em dados que estejam disponíveis, ou que sejam construídos há um tempo e custo-benefício aceitáveis pelos interessados;

b) Facilmente compreensíveis e aplicáveis por usuários potenciais;

c) Disponíveis logo após o evento ou período ao qual está relacionado (para não atrasar as decisões).

As definições consideradas por Carneiro et al (2005) indicam que os indicadores de Forças Motrizes (F) representam atividades humanas que imprimem processos e padrões ao desenvolvimento sustentável e são úteis para:

(i) Auxiliar os tomadores de decisão na definição de ações (respostas) que previnam problemas futuros (pressões), por exemplo, a abertura de novas estradas ou a construção de usinas hidroelétricas, e

(ii) Servir como base para o planejamento de longo prazo.

Os indicadores de Pressão (P) apontam diretamente as causas dos problemas. Uma característica específica do indicador de pressão é permitir uma resposta ou uma ação contrária imediata. Esses indicadores são as resultantes das forças motrizes. Como as pressões se expressam, normalmente, pelas atividades humanas ou pela exploração dos recursos naturais, são geradas por diversos os setores das atividades econômicas. Ex.: emissões tóxicas, emissões de CO2.

Os indicadores de Situação (S) mostram a atual condição do ambiente e permitem, por exemplo, planejar a restauração de habitats e a eliminação de fontes de contaminação. No modelo FPSEEA (CORVALÁN et al.1996), a situação é considerada em constante mudança, podendo ser complexa e de longo alcance, afetando quase todos os aspectos do meio ambiente. Essas mudanças podem ocorrer com diferentes freqüências, magnitudes e escalas geográficas. Algumas das mudanças podem ser localizadas e freqüentemente concentradas muito próximas às fontes de pressão, como é o caso da contaminação de um reservatório de abastecimento de água; outras mudanças são mais abrangentes, contribuindo para mudanças regionais ou globais (ex: desertificação, poluição marinha).

Os chamados indicadores de Exposição (E) tratam da exposição das pessoas aos riscos ambientais e são considerados apenas para situações nas quais as populações estão envolvidas em alguma situação de risco, sendo, portanto, um conceito bem desenvolvido para questões de poluição. O risco pode estar relacionado a diferentes tipos de exposição à poluição - inalação, ingestão, contato ou absorção dérmica - e pode envolver um largo espectro de organismos e substâncias. Como indicadores de exposição, podem ser utilizados: a quantidade de pessoas expostas a uma determinada fonte de água contaminada, as emissões de material particulado (MP10) ou a dose absorvida pelo organismo humano de um determinado agente tóxico.

Por fim os indicadores de Efeito (E) permitem demonstrar os resultados, em temos de situação de saúde, do modelo de desenvolvimento existente e facilitar discussões sobre ações para evitar efeitos negativos, no futuro. É muito recente o estabelecimento de correlações estatísticas sólidas entre pressões e impactos, devido às enormes demoras e à influência de variáveis não ambientais. Na análise realizada por Corvalán et al (1966) esses indicadores são tratados como indicadores de efeitos resultantes da exposição aos riscos ambientais. Eles podem variar segundo o tipo, a intensidade e a magnitude, conforme a situação de risco a que a população estiver submetida. Os primeiros e menos intensos são os efeitos subclínicos, que envolvem apenas a redução de alguma função ou alguma perda de bem-estar. Efeitos mais intensos podem revelar formas de doenças ou morbidade. Em condições extremas, o resultado pode ser a morte. Ex.: a porcentagem de crianças que apresentam problemas de infecção respiratória ou o número de casos de diarréias, a mortalidade por doenças cardíacas, número ou incidência de casos de dengue, óbitos por hantavirose, etc.

Os indicadores de Ação (A) ou de Resposta monitoraram as medidas que fazem o movimento do sistema socioeconômico, Por exemplo, o volume de dinheiro gasto em proteção ambiental, por órgãos públicos e indústria, pode servir como uma indicação rápida de que foram tomadas ações apropriadas. Para as instituições de saúde as ações podem tomar diferentes formas e podem ser focadas a partir de diferentes pontos dentro da cadeia ambiente-saúde. Podem ser ações de curto prazo, isto é, primárias, de remediação, ou de longo prazo; caracterizadas como de proteção.

Segundo Carneiro et al. (2005) o Ministério da Saúde entende que, com o apoio do modelo FPEEEA, é possível integrar análises dos efeitos dos riscos ambientais ao desenvolvimento e implementação de processos decisórios, políticas públicas e práticas de gerenciamento de riscos. Os problemas ambientais atuais e seus conseqüentes efeitos na saúde necessitam ser discutidos pela sociedade a fim de que sejam implementadas ações corretivas e

preventivas, que levem a minimização ou controle dos riscos. As ações de longo prazo mais efetivas, entretanto, são aquelas que abordam o tema de maneira preventiva, com vistas a diminuir ou eliminar as forças motrizes.

2.2 Experiências de construção de indicadores de saúde ambiental em suporte à