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Síntese dos efeitos na saúde relacionados com o ambiente

3 DESENVOLVIMENTO

3.3 Principais problemas ambientais e de saúde do Distrito Federal

3.3.4 Síntese dos efeitos na saúde relacionados com o ambiente

A responsabilidade de gerar e analisar as informações de saúde, relativas aos dados de natalidade, de mortalidade e de morbidade dos agravos de notificação compulsória do Distrito Federal cabe à Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVEP), da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal.

A taxa ou coeficiente de mortalidade infantil é um dos melhores indicadores do nível de saúde de uma população, porque é sensível às condições socioeconômicas e às intervenções de saúde.

Em 2005, foram registrados 619 óbitos em menores de um ano, residentes no Distrito Federal (Tabela 2), o que representa um coeficiente de mortalidade infantil de 13,95 óbitos para cada 1.000 nascidos vivos. Essa taxa é considerada baixa (a OMS considera alta a taxa de mortalidade infantil acima de 50 por 1.000 nascidos vivos; média, entre 20 e 49; e baixa, quando ocorrem menos de 20 óbitos por 1.000 nascidos vivos). A taxa de mortalidade infantil, no Brasil, em 2005, foi de 22,58 óbitos por 1.000 nascidos vivos (BRASIL, 2006).

Nas últimas décadas, houve redução do coeficiente ou taxa de mortalidade infantil, devido a doenças infecciosas e parasitárias e doenças do aparelho respiratório, reconhecidas como efeitos da situação ambiental. A alta cobertura vacinal, melhor controle das doenças infecciosas, ampliação da assistência pré-natal, ao parto e neonatal e melhoria das condições sanitárias, foram os fatores responsáveis por essa redução.

Tabela 2 - Número de óbitos e percentual dos principais grupos de causas de mortalidade infantil no Distrito Federal - 1980, 1990 e 2005 Causas 1980 % 1990 % 2005 % Afecções perinatais 728 46,1 472 49,2 329 53,2 Malformações congênitas 103 6,5 126 13,1 153 24,7 Causas externas 18 1,1 32 3,3 28 4,5 D. Infecciosas e Parasitárias 309 19,6 138 14,4 30 4,8 D. Aparelho Respiratório 235 14,9 108 11,3 35 5,7 Outras 185 11,7 84 8,8 44 7,1 Total 1578 100,0 960 100,0 619 100,0 Fonte: BRASÍLIA, 2006.

Quando se analisa o coeficiente de mortalidade infantil, por localidade (Figura 10), é possível observar que, apesar do coeficiente de mortalidade infantil, em 2005, ter sido de 13,7 óbitos por 1000 nascidos vivos, as localidades com situação de saneamento e habitação precária, como Paranoá e Riacho Fundo, foram aquelas a apresentar os coeficientes mais altos.

19,1 18,6 16,8 16,0 15,0 14,5 14,4 14,3 14,2 13,5 13,4 12,8 12,6 12,2 11,9 11,9 11,3 9,6 8,3 5,6 13,7 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 P arano a R iacho F undo Santa M aria Samambaia Lago Sul N ucleo B andeirante T aguatinga Gama R ecanto das Emas Lago N o rte Guara Sao Sebastiao C ruzeiro B razlandia So bradinho C eilandia P lanaltina A sa N o rte A sa Sul C andango landia D . F ederal Coeficiente por 1000 NV

Figura 10 - Coeficiente de mortalidade infantil por localidade no Distrito Federal - 2005.

Fonte: BRASÍLIA, 2006.

A mortalidade proporcional, por grupo de causas (Figura 11), indica a importância relativa de determinado grupo de causas de óbito em relação aos demais. Em 2005, a maior proporção de óbitos por grupo de causas foi a do grupo das doenças do aparelho circulatório, responsável por 29,0% do total, seguido pelo grupo das neoplasias (17,0%) e pelo das causas externas (16,2%). A proporção de óbitos por doenças infecciosas e parasitárias foi de 5,2 % e de doenças do aparelho respiratório foi de 7,8% (BRASÍLIA, 2006).

19,9 25,3 29,0 15,4 21,1 9,6 12,8 17,0 12,5 7,8 7,8 12,9 8,6 5,2 3,9 4,5 5,1 16,2 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 1980 1990 2005 %

D.Ap.Circul. Causa Externas Neoplasias D.Ap.Resp. D.Inf.Parasit D.Ap.Dig

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Figura 11 - Mortalidade proporcional por grupos de causa no Distrito Federal - 1980, 1990 e 2005.

Fonte: BRASÍLIA, 2006.

- Doenças diarréicas

De acordo com dados da SES-DF (GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, 2006), até o mês de julho 2006 haviam sido registrados 8.045 episódios de diarréia, com predomínio entre crianças de 1 a 5 anos. Os maiores registros ocorreram nas Regiões Administrativas (RA) de Planaltina (1.425) e Gama (771). Nos anos anteriores (1999 a 2005), os episódios de diarréia, em período equivalente, variaram de 4.842 a 9.280. O grupo etário mais atingido foi de 1 a 5 anos. São Sebastião, Paranoá e Ceilândia aparecem também com detecção relevante, nos mesmos anos.

As doenças diarréicas agudas, predominantemente, ocorrem como gastrenterocolites agudas. Entretanto, muitas outras doenças podem ser acompanhadas por diarréia, que consiste em um sinal de doença. Pessoas acometidas de pneumonia, estresse, dengue, alimentação em quantidade e conteúdo inadequados, e outras doenças sistêmicas, podem apresentar esse sinal. Centenas de microorganismos podem provocar as gastroenterites. Esses são agrupados entre vírus, bactérias, helmintos, protozoários e fungos (BRASÍLIA, 2006).

Esses registros demonstram também um comportamento epidemiológico do tipo sazonal, isto é, com predomínio nos meses de inverno e baixa umidade. As regiões de maior detecção recebem muitos pacientes provenientes de áreas carentes e irregulares do

DF, onde a oferta de saneamento é deficiente. As crianças de 0 a 5 anos têm sido as mais atingidas.

As principais medidas de prevenção para a situação existente devem ser voltadas para uma ampliação da cobertura dos serviços de saneamento, em áreas carentes ou de ocupação irregular, orientação sobre cuidados de higiene pessoal e uso adequado de hidratação. Uma vez instalada a diarréia, é importante o uso oral do “soro caseiro”14, que deve ser preparado com água de boa qualidade.

- Hepatites

O vírus da hepatite A (VHA) tem distribuição universal e é transmitido, basicamente, pela via fecal-oral. A água contaminada pode provir de esgotos e, devido a condições de higiene ou de saneamento ambiental inadequadas, entrar em contato com os alimentos. Além disso, o vírus A pode sobreviver longos períodos (de 12 semanas até 10 meses) em água. Em moluscos e crustáceos, o vírus pode atingir concentrações até 15 vezes maiores que as do nível original da água. No Distrito Federal, a partir de 2003, com a intensificação das ações de vigilância epidemiológica, registrou-se elevação dos coeficientes de incidência da hepatite A. Esse crescimento é atribuído à redução da subnotificação e indica que a magnitude do problema pode ser ainda maior que a registrada pela Secretaria de Saúde. Segundo dados do SINAN a incidência da hepatite A é maior nas áreas menos favorecidas economicamente, visto que nesses locais a condição de saneamento básico é mais precária. Paranoá, Santa Maria, Planaltina, Rio Preto e Samambaia apresentaram, em 2005, valores de incidência superiores a 100 casos/100.000 habitantes (BRASÍL, 2007).

- Dengue

A Região Administrativa de São Sebastião, localizada a 30 quilômetros de Brasília, foi o ponto mais vulnerável a novos casos de dengue, em 2005 (Figura 12), o

14

A UNICEF determina que o soro caseiro deve ser preparado dissolvendo-se uma medida rasa de sal (medida menor da colher-padrão) e três medidas rasas de açúcar (medida maior da colher-padrão) em um copo de água limpa (ou 1 litro de água c/ 3.5g de sal e 40g de açúcar).

que é em parte atribuído ao fato de a coleta de lixo ser realizada apenas 2 vezes por semana. Ali, o índice de infestação predial (IIP) é de 3,5% – o que significa que, a cada 100 casas, 3,5 têm focos de larvas do mosquito. No DF, 80% dos criadouros dos mosquitos encontram-se dentro das residências (BRASÍLIA, 2006).

Figura 12 - Casos de dengue no Distrito Federal - 2006. Fonte: BRASÍLIA, 2006.

Durante o ano de 2007, São Sebastião, Planaltina, Gama, Samambaia, Sobradinho II, Taguatinga e Estrutural somaram 239 casos confirmados da doença. As referidas localidades concentraram 78% do total de 304 vítimas infectadas pelo mosquito Aedes

aegypti (transmissor da dengue) no DF, até o mês de outubro (GOULART, 2007).

- Hantavirose

A hantavirose foi registrada pela primeira vez no país em 1993, no interior de São Paulo. De acordo com o Ministério da Saúde, até hoje foram registrados 350 casos da doença no Brasil, com mais de 150 mortes (SVS/MS 2005). Trata-se de uma doença causada pelo hantavírus, presente na urina, saliva e fezes de roedores silvestres infectados. A contaminação se dá por meio da respiração de pó com partículas formadas a partir do ressecamento das fezes, urina e saliva de rato silvestre contaminado. A contaminação também pode ocorrer durante o contato direto com a vegetação, em áreas

de habitat dos ratos ou com as fezes, urina e saliva do animal. É também uma doença com alto grau de mortalidade — mais de 50%.

Os primeiros casos de hantavirose, no Distrito Federal, ocorreram em 2004, com vários óbitos. A zona rural de Ceilândia foi considerada área de surto da doença transmitida por roedores silvestres; e São Sebastião foi considerada região de surto, com zonas de perigo, tais como o Assentamento Conquista da Vitória, Vila do Boa e Bairro João Cândido e os endereços das vítimas (FERRI, 2004).

Cerca de 90 mil pessoas viviam na zona rural do Distrito Federal, espalhadas por 170 comunidades existentes e de acordo com o governo local, todas as regiões agrícolas ainda correm riscos de contágio. Há problemas com lixo, entulho, plantações próximas às casas e armazenamento inadequado da produção, que podem atrair os roedores silvestres, hospedeiros do hantavírus.

Segundo dados do IBGE (2005), cerca de 80% do território de São Sebastião são área rural, com remanescentes de mata e pastagens nas grandes propriedades e horticultura e pequenas pastagens nas chácaras que circundam a área urbana. Há também, entre os bairros urbanos de São Sebastião, áreas de mata contíguas as residências.

- Intoxicações por agrotóxicos

Os agrotóxicos constituem-se num dos mais importantes fatores de riscos para a saúde humana. Sua produção, em escala industrial, teve início em 1930, intensificando-se a partir da década de 40. Desde então, surgiram inúmeros grupos de substâncias químicas para combater pragas e doenças presentes na agricultura, o que gerou cerca de 3.500 ingredientes ativos de agrotóxicos, distribuídos em 35.000 diferentes produtos, no mercado mundial (BRASIL, 1997).

Utilizados em grande escala, por vários setores produtivos, e mais intensamente pelo setor agropecuário, os agrotóxicos têm sido estudos sob diferentes aspectos: pelos danos que provocam à saúde das populações humanas (dos trabalhadores, de modo particular); pelos danos que causam ao meio ambiente; e pelo aparecimento de resistência em organismos alvo (pragas e vetores).

Rebelo (2006), em dissertação defendida na Universidade de Brasília (UnB) sobre Intoxicações por Agrotóxicos e Raticidas no Distrito Federal em 2004 e 2005, aponta que os 360 pacientes pesquisados eram, predominantemente, crianças intoxicadas por

acidentes individuais e adolescentes ou jovens adultos intoxicados por tentativa de suicídio. A maioria das intoxicações era aguda, sendo que os pacientes foram intoxicados em suas residências, na zona urbana. As crianças com até 5 anos, do sexo masculino, se intoxicaram por acidente e constituem 31% da amostra; enquanto que adultos e jovens, entre 15 e 25 anos, que representam 11% da amostra, são predominantemente mulheres que tentaram suicídio. Crianças geralmente ingerem “chumbinho”, um raticida ilegal, que na aparência pode ser confundido com chocolate.

O perfil das intoxicações por agrotóxicos e raticidas no DF é semelhante ao cenário nacional. Entretanto há fortes indícios de sub-notificação desses casos, especialmente em pacientes com intoxicações. Problemas de falta de fiscalização e treinamento para médicos e enfermeiros sobre os procedimentos corretos foram apontados pela pesquisadora.

3.4 Resultados: o modelo FPSEEA aplicado à construção de indicadores de saúde