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INEFICIÊNCIA TÉCNICA E DESPERDÍCIO DA ÁGUA NA FRUTICULTURA IRRIGADA NO VALE DO SÃO FRANCISCO.

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INEFICIÊNCIA TÉCNICA E DESPERDÍCIO DA ÁGUA NA FRUTICULTURA IRRIGADA NO VALE DO SÃO FRANCISCO.

J ORGE L UIZ M ARIANO DA S ILVA

∗∗

1. Introdução

Nas últimas décadas, a irrigação no Vale do São Francisco impulsionou a geração de emprego e renda nos municípios de Petrolina (PE) e Juazeiro (BA). Nos perímetros irrigados foram implantadas empresas agrícolas e assentadas famílias de agricultores que, juntos, tornaram a região um dos principais pólos de produção da fruticultura irrigada do país. A irrigação promoveu uma nova dinâmica na região semi-árida, principalmente no que se refere à inserção de famílias de baixa renda na produção de frutas. Os projetos de irrigação permitiram a transformação da agricultura familiar tradicional − voltada para a produção de subsistência − em uma agricultura diversificada, dinâmica, direcionada para a produção comercial. Essa transformação reflete a viabilidade da produção irrigada em pequena escala nos projetos de irrigação pública implantados na região.

A agricultura irrigada requer um pacote tecnológico no qual, ao lado da água, é imprescindível o uso de defensivos e, de forma crescente, adubos e fertilizantes. Alguns estudos apontam para o fato de que o processo da salinização dos solos nas regiões semi- áridas irrigadas é provocado pela irrigação acelerada e a insuficiência de drenagem. Nessas áreas, é comum o surgimento da salinidade ocasionada pelo excesso de quantidades inadequadas de água e uso indiscriminado de fertilizantes. O efeito adverso do excesso da água é a queda da produtividade das culturas e da eficiência técnica dos colonos.

Doutor em Economia (PIMES-UFPE). Professor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte.

E-mail: jdal@ufrnet.br. Fone: 84 - 2153508(09).(Fax): 84 - 2153538

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Uma das questões pertinentes para o diagnóstico do desempenho dos colonos nos perímetros irrigados na região do Vale do São Francisco é o uso eficiente da água. Algumas indagações são colocadas quando se discute a racionalidade no uso da água. Por exemplo:

Que volume de água é desperdiçado na irrigação das culturas? Qual o valor que poderia ser economizado? Respostas a essas perguntas seriam de grande importância tanto do ponto de vista econômico levando-se em conta uma melhor utilização da água, quanto do ponto de vista ambiental em conseqüência da redução das taxas de salinização e empobrecimento do solo, que aumentam com o uso inadequado da irrigação. Nesse contexto, pesquisas direcionadas para identificação de colonos com práticas inadequadas na utilização da água ajudariam, não apenas a melhorar a eficiência no uso desse recurso como também a controlar as taxas de salinização dos solos nas regiões irrigadas.

Com uma extensão de 16.054 hectares de áreas irrigáveis, o perímetro Senador Nilo

Coelho é considerado o maior perímetro da região, com cerca de 1.436 colonos distribuídos

em lotes com área média de seis hectares. Entre os principais produtos cultivados destacam-

se, a banana, a manga, o melão, a uva, o tomate, a cebola e o feijão. Em se tratando das

culturas permanentes, a manga é o maior destaque. Nos últimos anos, a participação dos

colonos, no total do volume da produção e no número de produtores de frutas, vem crescendo

significativamente. Nesse perímetro, os colonos vêm reduzindo a área cultivada com culturas

temporárias voltadas para o mercado doméstico. É o que vem sucedendo, principalmente com

o feijão, o tomate e a cebola. Ao mesmo tempo, expandem a área cultivada com culturas

permanentes, em especial, a banana, a manga e a uva. Estas últimas são culturas de maior

receita para o perímetro. Esses resultados têm incentivado os produtores à substituição das

culturas temporárias por culturas permanentes, tornando o projeto um dos principais

produtores da fruticultura irrigada na região. Entretanto, a despeito dos bons resultados no que

concerne aos rendimentos e à qualidade dos produtos, nem todos os colonos acompanham

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esse desempenho. Um dos principais problemas apontados é a inadimplência no pagamento mensal da água.

Este estudo tem como objetivo mensurar, por meio da aplicação de modelos de fronteira de produção DEA os escores da eficiência técnica dos colonos na produção irrigada, no perímetro Senador Nilo Coelho, e quantificar o desperdício na utilização da água. O trabalho está organizado da seguinte maneira: na seção 2, descrevem-se os modelos aplicados na estimação dos escores de eficiência dos colonos e as informações utilizadas; na seção 3, apresentam-se os indicadores do excesso na utilização da água obtidos a partir dos modelos estimados; na última seção, destacam-se as principais conclusões.

2. Metodologia

Nos últimos anos, uma grande variedade de estudos tem procurado estimar a eficiência em unidades produtivas, com o propósito de avaliar os seus desempenhos em relação à fronteira de produção.

1

Esses estudos são importantes tanto do ponto de vista teórico quanto empírico, na medida em que contribuem para a formulação de políticas que visem reduzir a ineficiência de setores ou firmas.

Tendo como propósito estimar a (in)eficiência dos colonos na produção irrigada, no perímetro Senador Nilo Coelho, e medir o desperdício na utilização da água nesse perímetro, este estudo toma como base metodológica os modelos de envelopamento de dados, conhecidos como modelos DEA (Data Envelopment Analysis). Uma vez que os modelos DEA admitem certas suposições para estimar a fronteira de produção entre elas a de retornos de escala, três modelos foram escolhidos: o modelo DEA-C, que pressupõe a hipótese de retornos constantes de escala; o DEA-V que incorpora a suposição de retornos variáveis de escala; e o DEA-NC que admite a suposição de retornos não crescente de escala.

1

Ali e Flinn (1989), Battese e Coelli (1992), Bravo-Ureta (1994), Caudill e Gropper (1995).

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2.1 Aporte teórico dos modelos de envelopamento de dados, DEA.

A literatura sobre funções fronteiras e cálculo das medidas de eficiência começou com o artigo clássico de Farrell (1957). Na sua visão, uma medida de eficiência permite testar empiricamente argumentos teóricos e obter indicadores para aumentar o desempenho de firmas ou indústrias. Assim sendo, uma firma ou indústria pode aumentar seu produto simplesmente aumentando a eficiência, sem qualquer utilização adicional de recursos.

Atualmente, existem duas abordagens usadas para estimação de fronteiras na literatura econômica

2

. Essas abordagens são conhecidas como paramétrica e não paramétrica. A abordagem paramétrica tem como característica básica a suposição de uma forma funcional para a tecnologia da produção e sobre a distribuição dos resíduos do modelo estimado. Os modelos que se apóiam nessa abordagem admitem que as ineficiências dos produtores em relação à fronteira de produção são representadas pelos resíduos dos modelos de regressão.

Geralmente, esses modelos são estimados por máxima verossimilhança ou mínimos quadrados corrigidos. Em contraposição, a abordagem não paramétrica não faz uso de qualquer uma dessas suposições. A única restrição é que todas as firmas estejam sobre a fronteira ou abaixo dela. Nessa abordagem, destacam-se os modelos de análise de envelopamentos de dados, DEA (Data Envelopment Analysis). Esses modelos partem da hipótese fundamental de que é possível construir uma fronteira com segmentos lineares − fronteira de melhor prática − usando firmas reais em seus pontos extremos e firmas inventadas ou firmas compostas formadas por combinações convexas das firmas reais. As firmas são consideradas eficientes se estiveram sobre a fronteira. Por outro lado, se estiverem abaixo são consideradas ineficientes.

A Figura 1 mostra uma fronteira de produção com segmentos lineares construída a partir das observações de insumos e produtos de cinco firmas, A, B, C, D, e E. Pode-se

2

Bauer (1990); Lovell (1993); De Borger e Kerstens (1996).

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observar medidas de eficiência técnica por duas formas. A primeira denomina-se medida de eficiência técnica com orientação produto. Para um determinado nível de insumos, ela mede a distância entre a produção da firma que se observa e outra sobre a fronteira. Nessa figura, percebe-se que, usando as mesmas quantidades de insumos, a firma B produz mais do que a firma D. Portanto, a firma D é tecnicamente ineficiente em produto. A segunda é conhecida como medida de eficiência técnica com orientação insumos. Para um determinado nível de produto, ela mede a distância entre o nível de insumos usados por uma determinada firma com aquele incorrido por uma outra firma sobre a fronteira. Nessa figura, observa-se que a firma D produz o mesmo nível de produto que a firma A, usa uma maior quantidade de insumos e, assim, é tecnicamente ineficiente em relação a insumos. Nota-se, ainda, que a firma E é também ineficiente quando comparada com firmas virtuais, V’ e V’’ inventadas por combinações convexas das firmas reais A e B.

B C Produto Y V”

V’ E A D

O Insumo X Figura 1. Representação geométrica da fronteira de produção mo modelo DEA-V.

Na estrutura analítica dos modelos DEA, admite-se que existam n firmas representadas

por j ∈ J ={j j = 1,2, ..., n} e que o processo de produção de cada firma possa ser

representado por um vetor de insumos X

j

= (x

1j

, x

2j

,..., x

mj

)

T

> 0 , e um vetor de produtos Y

j

=

(y

1j

, y

2j

,..., y

sj

)

T

> 0. Matematicamente, a eficiência de uma firma é obtida pelo seguinte

problema de programação:

(6)

Maximizar µ

T

Y

k

; Sujeito a υ

T

X

k

= 1

µ

T

Y

j

− υ

T

X

j

≤ 0, j = 1, . . . , n,

µ

T

≥ 0 e υ

T

≥ 0 (1) em que k é a firma que está sendo analisada, µ

T

e υ

T

são vetores de pesos dos produtos e pesos dos insumos. O problema consiste em maximizar a soma ponderada dos pesos dos produtos da k-ésima firma, sujeito às restrições que a soma ponderada de seus insumos seja igual à unidade, e que a diferença entre a soma ponderada dos pesos dos produtos e dos insumos de todas as firmas seja menor ou igual a zero. A última restrição significa que todas as firmas estejam sobre a fronteira ou abaixo dela. O modelo mostra que o problema de programação deve ser resolvido n vezes (n = número de firmas).

A Figura 2 mostra três variantes do modelo DEA. O segmento contínuo OF representa a fronteira com retornos constantes de escala, DEA-C. O segmento tracejado OBC representa a fronteira com retornos variáveis de escala, DEA-V, e o segmento XABC forma a fronteira com retornos não crescentes de escala, DEA-NC.

Produto F

Y C B

A

O X Insumos Figura 2. Fronteira DEA-C; DEA-V e DEA-NC

Retornos Constantes de Escala Retornos Variáveis de Escala

Retornos Não Crescentes de Escala

(7)

2.2 Os Modelos DEA-C, DEA-V e DEA-NC com a presença de folgas nos insumos e no produto.

O modelo DEA com a suposição de retornos constantes de escala e orientação produto na sua forma dual é representado pelo seguinte problema de programação matemática

3

: ___________________________________________________________________________

Maximizar θ

k

Sujeito a X

k

- e = ΣΧ Χλ θ,λ , e

l

, s θ Y

k

+ s

= ΣΥ Υλ

(1) em que Χ Χ é uma matriz de insumos m por n, com coluna X

k

, Υ Υ é a matriz de produto s por n, com coluna Y

k

. Os λ ´s são os pesos dos insumos e produtos. As letras e , s representam as fogas nos insumos e produto, respectivamente. O problema é resolvido n (n= 113) vezes para cada produtor.

Esse modelo tem como suposição básica que os produtores operam sobre retornos constantes de escala, isto é, se eles aumentarem todos os insumos na mesma proporção, a produção aumentará nesse valor. Nesse caso, nenhuma suposição é feita quanto aos valores de λ´s, os pesos dos insumos e produtos.

Os escores da eficiência técnica dos produtores são obtidos invertendo-se o valor de θ : Eficiência técnica = 1/θ.

4

Esse valor indica a (in)eficiência do produtor em atingir um maior nível de produto, dados os níveis de insumos usados. Os escores de eficiência variam no intervalo entre 0 – 1. Quanto mais próximo da unidade, mais eficiente é o produtor. A medida de eficiência para uma determinada firma representa a discrepância entre o ponto (Y

k

, X

k

) e o ponto projetado ( Y ˆ k , X ˆ k ) sobre a fronteira.

3

O dual do problema de programação matemática (1) é também conhecido como forma envelope, (Lovell, 1993, p. 27).

4

Essa é uma medida de eficiência técnica com orientação produto de Debreu-Farrell. Ver (Lovell, 1993; Ali e

Seiford, 1993, e Färe e Primont, 1995).

(8)

Se for admitido que a fronteira incorpora retornos variáveis de escala, o modelo será o DEA-V. Esse modelo diz que, se o produtor aumentar todos os fatores, o produto poderá aumentar na mesma proporção, menos que proporcionalmente, ou ainda, mais que proporcionalmente ao aumento dos fatores. A estrutura formal do modelo é a mesma do DEA- C, com a suposição adicional de que a soma dos pesos dos insumos seja igual à unidade:

___________________________________________________________________________

Maximizar θ

k

Sujeito a X

k

- e = ΣΧ Χλ θ,λ , e

l

, s θ Y

k

+ s

= ΣΥ Υλn λ =

J

j 1 (2) ___________________________________________________________________________

Por outro lado, se for admitido que a fronteira possa incorporar retornos não crescentes de escala, o modelo será o DEA-NC. Esse modelo diz que, se o produtor aumentar todos os fatores, o produto poderá aumentar no mesmo percentual, ou menos que proporcionalmente, ao aumento dos fatores. A estrutura do modelo é a mesma do DEA-C, com a suposição adicional de que a soma dos pesos dos insumos seja inferior á unidade:

___________________________________________________________________________

Maximizar θ

k

Sujeito a X

k

- e = ΣΧ Χλ θ,λ , e

l

, s θY

k

+ s

= ΣΥ Υλ n λ <

J

j 1 (3) ___________________________________________________________________________

2.1 Informações e variáveis

As informações usadas na estimação dos modelos de fronteiras de produção foram

abstraídas de questionários da pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura

Irrigada e Seus Determinantes sobre o Emprego e a Renda” realizada entre março e

setembro de 1998 pela FADE/UFPE com apoio da CODEVASF. Essa pesquisa abrangeu

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informações sobre os colonos, empresas agrícolas e empresas agro-industriais da região do Vale do São Francisco. Para esse estudo foram selecionadas as informações de 113 colonos do perímetro Senador Nilo Coelho.

As descrições das variáveis são as seguintes: a variável dependente é um o “mix” da produção dos colonos, isto é, o valor da produção das culturas irrigadas (valor das quantidades produzidas, menos perdas); as variáveis explicativas foram a área irrigada, insumos, capital, irrigação e mão-de-obra. A variável área irrigada representa a área cultivada com toda produção irrigada. Os insumos foram medidos pelos gastos com sementes, mudas, adubos, fertilizante, defensivos e herbicidas. A variável capital representa a soma dos valores das benfeitorias e equipamentos. A variável irrigação corresponde às despesas com o faturamento da energia, considerando que nessas despesas estão incluídos os volumes de água utilizados pelo colono. A mão-de-obra foi medida pelo coeficiente homens/dias de trabalho, compreendendo o trabalho familiar e contratado, por dias de trabalho no ano.

3. Resultados

As Tabelas 1, 2 e 3 mostram a distribuição dos colonos eficientes e ineficientes, por

excesso do gasto com água de acordo com os resultados dos modelos DEA-V, DEA-C e

DEA-NC. No modelo DEA-V, entre os colonos pesquisados, 79 foram ineficientes, cerca de

70% do total. Entre os 79 produtores ineficientes, 45, 40% do total, usaram a água em

excesso. Todos os 34 produtores eficientes, 30% do total não apresentaram excesso de gasto

com água e, assim, não desperdiçaram a sua utilização. Os resultados dos modelos DEA-C,

Tabela 2, que parte da suposição de que os colonos apresentam retornos constantes de escala,

mostraram que 99 colonos foram ineficientes, 87,6% do total. Esse mesmo número de

produtores ineficientes foi constatado pelos resultados do modelo DEA-NC, Tabela 3. Esse

modelo tem como suposição a ausência de retornos crescentes de escala. Entre os colonos

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ineficientes, no modelo DEA-C, 47 deles, aproximadamente 42% do total, gastaram excessivamente com água. No modelo DEA-NC, 44 produtores foram ineficientes, 39% do total, apresentaram excesso de gasto com água. Em ambos os modelos, DEA-C e DEA-NC, todos os produtores eficientes (14 produtores, 12,2% do total) gastaram apenas o suficiente para irrigar suas culturas.

Tabela 1

Distribuição dos colonos eficientes e ineficientes por excesso de gasto com água no modelo DEA-V.

Número de colonos ineficientes

Número de colonos eficientes

Número de colonos

Total % Total % Total %

Com excesso de gasto com água 45 39,8 45 39,82

Sem excesso de gasto com água 34 30,1 34 30,1 68 60,18

Total 79 69,9 34 30,1 113 100

Fonte: Pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura Irrigada e Seus Determinantes sobre o Emprego e a Renda”, FADE/UFPE, 1999.

Tabela 2

Distribuição dos colonos eficientes e ineficientes por excesso de gasto com água no modelo DEA-C.

Número de colonos ineficientes

Número de colonos eficientes

Número de colonos

Total % Total % Total %

Com excesso de gasto com água 47 41,6 47 41,6

Sem excesso de gasto com água 52 46,0 14 12,4 66 58,4

Total 99 87,6 14 12,4 113 100

Fonte: Pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura Irrigada e Seus

Determinantes sobre o Emprego e a Renda”, FADE/UFPE, 1999.

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Tabela 3

Distribuição dos colonos eficientes e ineficientes por excesso de gasto com água no modelo DEA-NC.

Número de colonos ineficientes

Número de colonos eficientes

Número de colonos

Total % Total % Total %

Com excesso de gasto com água 44 38,9 44 38,9

Sem excesso de gasto com água 55 48,7 14 12,4 69 61,1

Total 99 87,6 14 12,4 113 100

Fonte: Pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura Irrigada e Seus Determinantes sobre o Emprego e a Renda”, FADE/UFPE, 1999.

Esse elevado número de produtores ineficientes não necessariamente implica compreender que todos foram ineficientes por que usaram a água em excesso. A ineficiência, também, pode ser explicada pelo uso excessivo de outros fatores. Isso é mostrado nas tabelas seguintes.

As Tabelas 4, 5 e 6 mostram a média dos fatores, o excesso médio, o valor e o percentual médio reduzido dos fatores de acordo como os modelos DEA-V, DEA-C e DEA- NC. Em todos os modelos, as variáveis que apresentaram os maiores percentuais de excesso de utilização foram capital, água e insumos. Para o uso eficiente de cada um desses fatores, eles teriam que ser reduzidos respectivamente, em média, em torno de 58%, 37,6% e 37,2%

no modelo DEA-V; 50%, 41,7%, 26,7% no modelo DEA-C; 54,7%, 48,9%, 34,7% no modelo DEA-NC. Relativamente à utilização da água, a média de gasto é em torno de R$1.228,00.

Considerando que os colonos exibem retornos variáveis de escala, Tabela 4, essa média

deveria ser reduzida para R$ 767,00. Usando eficientemente a água, eles poderiam

economizar, em média, R$ 462,00, ou seja, cerca de 37 % do gasto médio. Se o pressuposto

de retornos constantes de escala é válido, essa média deveria ser reduzida para R$ 716,30, e a

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economia do gasto médio seria de R$ 512,00. Por outro lado, considerando o pressuposto de retornos não crescente de escala, o gasto médio deveria ser de R$ 628,00, economizando um gasto de R$ 600,00. Isso significa que a média do gasto com água dos colonos poderia ser reduzida, aproximadamente, em 49,0% do valor efetivamente incorrido.

Tabela 4

Resultados do modelo DEA-V do excesso médio na utilização da área irrigada, insumos, capital, mão-de-obra e água.

Área irrigada (hectare)

Insumos (R$)

Capital (R$)

Mão de obra (homens/dia)

Água (R$)

Média 5.16 3.574,62 8.818,19 2024,77 1.228,25

Excesso médio 0.80 1.327,11 5.112,70 457,61 461,88

Valor médio reduzido 4.36 2.247,50 3.705,49 1567,16 766,36 Redução percentual 15.48 37,13% 57,98% 22,60% 37,61%

Fonte: Pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura Irrigada e Seus Determinantes sobre o Emprego e a Renda”, FADE/UFPE, 1999.

Tabela 5

Resultados do modelo DEA-C do excesso médio na utilização da área irrigada, insumos, capital, mão-de-obra e água.

Área irrigada (hectare)

Insumos (R$)

Capital (R$)

Mão de obra (homens/dia)

Água (R$)

Média 5,16 3.574,62 8.818,19 2024,77 1.228,25

Excesso médio 0,91 957,00 4.415,86 411,46 511,99

Valor médio reduzido 4,25 2.617,61 4.402,33 1.613,30 716,26 Redução percentual 17,61 26,77% 50,08% 20,32% 41,68%

Fonte: Pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura Irrigada e Seus

Determinantes sobre o Emprego e a Renda”, FADE/UFPE, 1999.

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Tabela 6

Resultados do modelo DEA-NC do excesso médio na utilização da área irrigada, insumos, capital, mão-de-obra e água.

Área irrigada (hectare)

Insumos (R$)

Capital (R$)

Mão de obra (homens/dia)

Água (R$)

Média 5,16 3.574,62 8.818,19 2024,77 1.228,25

Excesso médio 1,15 1.238,38 4.825,48 473,31 600,34 Valor médio reduzido 4,01 2.336,23 3.992,71 1.551,46 627,91 Redução percentual 22,35% 34,64% 54,72% 23,38% 48,88%

Fonte: Pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura Irrigada e Seus Determinantes sobre o Emprego e a Renda”, FADE/UFPE, 1999.

As Tabelas 7, 8 e 9 mostram os resultados dos modelos DEA-V, DEA-C e DEA-NC da soma total dos fatores utilizados, o número de colonos com utilização excessiva de fatores, o valor total dos fatores após a redução do desperdício, o valor e o percentual reduzido. No modelo DEA-V, Tabela 7, a variável água apresentou o maior número de produtores que a usaram de forma excessiva. Sob condições de retornos constantes de escala, aproximadamente 40% dos colonos, 45 do total, usaram excessivamente a água na irrigação das culturas.

Entretanto, apesar de o número de colonos com excesso de gasto com água, o valor que

poderia ser reduzido representa, apenas, 16% do total gasto. Isso significa que, para o nível de

produção que os 113 colonos atingiram, eles deveriam ter gastado apenas 192.647,40 em vez

de R$ 228.798,50. Isto é, eles poderiam ter economizado R$ 36.151,00, cerca de 16% do total

gasto. No modelo DEA com retornos constantes de escala, as variáveis com maiores números

de produtores com excesso de utilização foram mão-de-obra (62% dos produtores) e água

(42% dos produtores). Nesse modelo, o valor desperdiçado de água é de R$ 40.735,00. Esse

valor representa, aproximadamente, 18,0 % do valor total gasto. No modelo DEA com

retornos não crescente de escala, as variáveis mão-de-obra (65,5% dos produtores) e água

(48% dos produtores) foram, também, aquelas que apresentaram os maiores percentuais de

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produtores com utilização excessiva de fatores. O valor desperdiçado de água foi de R$

46.857,50, cerca de 20,5% do valor gasto. Em todos os modelos, as variáveis com maiores percentuais de redução foram o capital, a mão de obra e os insumos. Cada uma dessas variáveis deveria ser reduzida, respectivamente, em 40,5%, 26,3% e 26,00% no DEA-V; 44%, 36,5%, 23,5% no modelo DEA-C, e 48%, 43% e 31% no modelo DEA-NC.

Tabela 7

Total da utilização, excesso e redução dos insumos de acordo com o modelo DEA-V.

Total da utilização dos

fatores no perímetro

Número de produtores com folgas na utilização dos insumos

Total dos fatores após a redução

do excesso na utilização

Redução dos fatores

Percentual da redução

Área (hectares) 583,37 37 (32,7%) 520,3 63,1 10,8%

Insumos (R$) 403.931,5 28 (24,8%) 299.089,8 104.841,7 26,0%

Capital (R$) 996.455,9 33 (29,2%) 592.552,3 403.903,6 40,5%

Água (R$) 228.798,5 45 (39,8%) 192.647,4 36.151,1 15,8%

Mão-de-obra

(Homens/dia) 138.792,0 44 (38,9%) 102.303,1 36.488,9 26,3%

Fonte: Pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura Irrigada e Seus Determinantes sobre o Emprego e a Renda”, FADE/UFPE, 1999.

Tabela 8

Total da utilização, excesso e redução dos insumos de acordo com o modelo DEA-C.

Total da utilização dos

insumos no perímetro

Número de produtores com folgas na utilização dos insumos

Total dos insumos após a redução do

excesso na utilização

Redução dos insumos

Percentual da redução

Área (hectares) 583.4 39 (34,5%) 493,3 90,0 15,4%

Insumos (R$) 403.931,5 28 (24,8%) 309.188,3 94.743,2 23,5%

Capital (R$) 996.455,9 42 (37,2%) 559.285,6 437.170,4 43,9%

Água (R$) 228.798,5 47 (41,7%) 188.057,6 40.734,7 17,8%

Mão-de-obra

(Homens/dia) 138.792 70 (61,9%) 88.104,8 50.687,2 36,5%

Fonte: Pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura Irrigada e Seus

Determinantes sobre o Emprego e a Renda”, FADE/UFPE, 1999.

(15)

Tabela 9

Total da utilização, excesso e redução dos insumos de acordo com o modelo DEA-NC.

Total da utilização dos insumos no perímetro

Número de produtores com folgas na utilização

dos insumos

Total dos insumos após a

redução do excesso na utilização

Redução dos insumos

Percentual da redução

Área (hectares) 583.4 53 (46,9%) 469.1 114.2 19.6%

Insumos (R$) 403.931,5 34 (30,1%) 281.331,7 122.599,8 30.4%

Capital (R$) 996.455,9 44 (38,9%) 518.733,2 477.722,7 47.9%

Água (R$) 228.798,5 54 (47,8%) 181.941,0 46.857,5 20.5%

Mão-de-obra

(Homens/dia) 138.792 74 (65,5%) 79.358,7 59.433,3 42.8%

Fonte: Pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura Irrigada e Seus Determinantes sobre o Emprego e a Renda”. FADE/UFPE

A tabela 10 mostra o resultado do modelo DEA-V quanto ao gasto total com água, o valor desperdiçado, o número total de colonos por produto, e o número de colonos com excesso de gasto com água por produto. Embora a estratificação da amostra por produto torne difícil a comparação entre eles em decorrência da grande variabilidade de produtos, pode-se, ainda, de forma ilustrativa, analisar aqueles produtos com maiores percentuais na amostra.

Para destacar o produto principal do colono, tomou-se como referência aquele com maior

valor da produção entre os demais produzidos. Observa-se, que as culturas com maiores

percentuais de produtores são banana (43,4%), goiaba (16,8%), manga (8,8%), acerola (8,8%)

e coco (7,1%). Entre os produtores de banana 40% (20 produtores) usaram ineficientemente a

água. Eles poderiam ter economizado 19% do que foi gasto. Entre os produtores de goiaba 12

produtores (63%) usaram água em excesso. Eles poderiam ter economizado 18% do valor

gasto. Os excessos de gasto entre os produtores de acerola e coco foram, respectivamente, de

15% e 16%. Os produtores de manga apresentaram o menor percentual de desperdício de

água, 9% do valor gasto. Esses resultados estão de acordo com aqueles obtidos por Correia et.

(16)

al (1999). Os autores constataram que os colonos adimplentes possuíam mais áreas cultivadas com mangueiras, e que os inadimplentes exploravam mais área com bananeira.

Tabela 10

Distribuição dos colonos com excesso do gasto com água por principais produtos no perímetro Senador Nilo Coelho.

Principais produtos dos colonos na

amostra

Total de colonos na

amostra

Colonos com excesso de

gasto com água

Percentual de colonos

com excesso de gasto com

água

Gasto com água por produtos

Gasto em excesso com água

Percentual do Gasto de

água em excesso por

produtos

Acerola 10 (8,8%) 4 40,0% 18.170,0 2.790,1 15.36%

coco 8 (7,1%) 4 50,0% 16.330,9 2.586,5 15.84%

Manga 10 (8,8%) 2 20,0% 23.107,0 2.008,2 8.69%

Goiaba 19 (16,8%) 12 63,2% 45.936,0 8.365,5 18.21%

melancia 1 (0,9%) 0 0,0% 1.200,0 0,0 0.0%

Banana 49 (43,4%) 20 40,8% 99.373,4 18.944,5 19.06%

Limão 1 (0,9%) 0 0,0% 400,0 0,0 0.0%

tomate 5 (4,4%) 0 0,0% 6.744,0 0,0 0.0%

Uva 4 (3,5%) 1 25,0% 7.487,2 951,4 12.71%

Mamão 1 (0,9%) 1 100,0% 1.560,0 83,8 5.37%

Feijão 4 (3,5%) 1 25,0% 7.650,0 420,9 5.50%

Cebola 1 (0,9%) 0 0,0% 840,0 0,0 0.0%

Total 113 45 39,82% 228.798,5 36.150,9 15.80%

Fonte: Pesquisa “Investimentos Públicos e Privados em Agricultura Irrigada e Seus Determinantes sobre o Emprego e a Renda”. FADE/UFPE.

4. Conclusões

As principais constatações deste estudo foram as seguintes: embora se verifique o bom

desempenho dos colonos na produção irrigada no perímetro de Nilo Coelho, nem todos

alcançam níveis desejáveis de eficiência. Os modelos mostraram que 70 a 88% dos colonos

poderiam atingir maiores níveis de produtividade. Isso significa que eles usaram insumos em

excesso em relação aos níveis de produção efetivamente alcançados. O desperdício médio

dos colonos na despesa com água varia entre 16% a 20% do valor total, de acordo com os

modelos DEA. Além disso, observou-se que o desperdício de fatores é mais freqüente na

(17)

utilização da água e da mão de obra. Aproximadamente, 40% a 48% dos produtores têm dispêndio excessivo com a água, enquanto cerca de 40 a 65% deles não utilizaram eficientemente a mão-de-obra. Entretanto, além da mão de obra, outros fatores de produção apresentaram grandes percentuais de desperdícios, particularmente as despesas com reparos de equipamentos (componente da variável capital) e com a utilização de insumos.

Estratificando a amostra dos colonos, por tipos de produtos, notou-se que 40% dos produtores de banana poderiam ter economizado 19% da despesa com água. Os produtores de manga desperdiçaram apenas 8,7% do total utilizado. Esses resultados estão de acordo com a linha seguida em outros estudos que observaram uma relação entre o franco desempenho produtivo dos colonos com a inadimplência do pagamento da fatura da água. Para se alcançar uma utilização mais eficaz da água nos projetos de irrigação, torna-se imprescindível identificar as práticas inadequadas de cultivos dos colonos, a fim de que esse recurso seja empregado com mais racionalidade, seja do ponto de vista econômico quanto do ponto de vista ambiental.

5. Referências bibliográficas.

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