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O PROJETO DE URBANIZAÇÃO VILA DO MAR E A LÓGICA DO ESPAÇO URBANO NA CAPITAL CEARENSE

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Academic year: 2021

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O PROJETO DE URBANIZAÇÃO VILA DO MAR E A LÓGICA DO ESPAÇO URBANO NA CAPITAL CEARENSE

THE VILA DO MAR URBANIZATION PROJECT AND THE LOGIC OF URBAN SPACE IN THE CEARENSE CAPITAL

Ana Rochelly Silva Costa Graduada em Serviço Social – UECE regulacao@faculdadefmb.edu.br Marcizo Veimar Cordeiro Viana Filho Doutorando em Psicologia – UNIFOR marcizo@faculdadefmb.edu.br RESUMO

O presente artigo vem se apresentar como elemento importante para analisar como vem sendo implementado o projeto de urbanização Vila do Mar em Fortaleza. A execução desse projeto nos remete a algumas críticas e reflexões a cerca dos possíveis benefícios trazidos à comunidade; do processo de reassentamento de famílias que residiam em áreas de risco, visto que em Fortaleza as ações de reassentamento dos programas de urbanização de favelas e a execução do PMCMV tem sido recorrente a mercantilização dos imóveis desses conjuntos habitacionais, seja através de venda, troca ou aluguel; e de como vem sendo pensada a lógica do espaço urbano na capital cearense manipulando os interesses da população em prol dos interesses do capital, especificamente aqui mencionados o capital imobiliário e turístico.

Portanto, o espaço urbano submete-se aos interesses do capital e a cidade vai sendo construída nessa lógica, logo os assentamentos subnormais expressam as consequências dessa dialética. O processo de urbanização acentua o crescimento das moradias irregulares e a cidade vai sendo fragmentada conforme o valor do espaço. Diante da quantidade de aglomerados urbanos que ainda temos no Brasil, consideramos pertinente uma reflexão a cerca desses projetos de urbanização implementados pelas políticas públicas a fim de constatar a real inclusão social da comunidade atingida.

Palavras- chave: Urbanização. Espaço urbano. Capitalismo. Capital imobiliário.

ABSTRACT

This article presents an important element to analyze how the Vila do Mar urbanization project

in Fortaleza has been implemented. The execution of this project reminds us of some criticisms

and reflections about the possible benefits brought to the community; of the resettlement

process of families residing in areas of risk, since in Fortaleza the actions of resettlement of

slum upgrading programs and the execution of the PMCMV have been recurrent to the

commercialization of the properties of these housing estates, either through sale, exchange or

rent; and how the logic of urban space in the capital of Ceará has been thought by manipulating

the interests of the population in favor of the interests of capital, specifically here mentioned

real estate and tourism capital. Therefore, urban space is subject to the interests of capital and

the city is being built on this logic, so the subnormal settlements express the consequences of

this dialectic. The urbanization process accentuates the growth of irregular housing and the city

is fragmented according to the value of the space. Given the amount of urban clusters that we

still have in Brazil, we consider it pertinent to reflect on these urbanization projects

implemented by public policies in order to verify the real social inclusion of the affected

community.

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Keywords: urbanization; urban space; capitalism; real estate capital.

INTRODUÇÃO

O objetivo desse artigo é trazer um esboço sobre o Projeto Vila do Mar, sendo este um projeto que visa a urbanização de um dos maiores aglomerados urbanos de Fortaleza, o grande Pirambú, a fim de dialogarmos sobre a implementação do projeto de urbanização na comunidade, bem como as benesses advindas com a urbanização do referido espaço e refletir sobre os desafios a serem mitigados.

O Projeto de Urbanização Vila do Mar é um projeto municipal diretamente ligado a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza – HABITAFOR com foco em reassentamentos, melhorias habitacionais, regularização fundiária e urbanização dos bairros Pirambú, Cristo Redentor e parte da Barra do Ceará, denominado como o grande Pirambú.

Questionamentos referentes ao processo de urbanização com a participação popular, às ações de reassentamento e à lógica capitalista evidenciada nesse projeto estão presentes neste arcabouço.

Antes de adentrarmos no cerne do presente artigo acreditamos ser de suma importância um breve texto sobre a problemática da questão urbana no Brasil e suas implicações na problemática habitacional e no direito à cidade que até os dias atuais se perpetuam.

UM BREVE CONTEXTO DO BRASIL URBANO

Desde o início da urbanização do Brasil verifica-se que o maior problema enfrentado pela população, principalmente as de menor poder aquisitivo, é a questão de moradia. Para Maricato (2015, p. 27) “a terra urbana (assim como a terra rural) ocupa um lugar central nessa sociedade”. O poder social, econômico e político sempre esteve associado a detenção de patrimônio, seja sob a forma de escravos (até 1850), seja sob a forma de terras ou imóveis (de 1850 em diante). “Essa marca patrimonialista se refere também à privatização do aparelho do Estado, tratado como coisa pessoal”. Logo, a exclusão social é característica presente no crescimento urbano.

O acelerado crescimento urbano no Brasil é datado da segunda metade do século XX onde

“em 1940 a população que residia nas cidades era de 18,8 milhões de habitantes chegando a 26,3% do total e nos anos 2000 a população é de 138 milhões de habitantes residindo nas cidades, um percentual de 81,2% do total.” (MARICATO, 2008, p. 16).

Percebemos, portanto, que entre os anos 1940 a 2000 o número de habitantes

residentes no espaço urbano triplicou e isso passou a se acentuar como um sério problema no

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contexto social, político e econômico no país, visto que esse crescimento acelerado da população nas cidades não foi acompanhado de um planejamento urbanístico adequado o que trouxe graves consequências para a população, dentre elas em especial a questão habitacional.

Contudo, as políticas habitacionais e de desenvolvimento urbano no Brasil desde a década de 1930, seja através dos Institutos de Aposentadorias e Pensões

1

(IAPs), seja através da criação da Fundação Casa Popular (FCP) em meados dos anos 1940, ou por meio da implantação do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) que criou o Banco Nacional de Habitação (BNH) no período da Ditadura Militar, foram realizadas de forma centralizada e autoritária com provisão de moradias populares tornando-se impotente quanto ao atendimento da população de baixa renda.

A ineficiência das políticas ao longo desses anos em que o Brasil passou a ser um país essencialmente urbano revela o alto déficit habitacional que ainda persiste. Não obstante, é válido ressaltar que a Constituição de 1988 originou avanços na questão urbana através dos artigos 182 e 183

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com o princípio da “função social da propriedade” e o instrumento de

“usucapião urbano para fins de moradia” com pressões populares por meio de movimentos organizados pelo Movimento Nacional de Reforma Urbana - MNRU que desde os anos 1960 reivindicavam melhorias urbanas. O movimento teve seu amadurecimento nos anos 1980 e lutavam pela garantia do cumprimento da função social da cidade alcançados na Constituição.

A habitação passa a ser uma atribuição dos três níveis de governo, acentuando a tendência de descentralização dos programas habitacionais.

É importante considerar os avanços do final dos anos 90 para início dos 2000 durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995 – 2003) com a visão integrada da questão habitacional no Brasil. Foi no início dos anos 2000, mais precisamente em 2001, que foi aprovada a Lei nº 10.257 referente ao Estatuto das Cidades, considerado o marco mais importante da questão urbana no país, instituindo o direito à cidade e que veio de forma tardia se avaliarmos todo o contexto de urbanização no Brasil.

O Estatuto das Cidades vem com o objetivo de fornecer suporte jurídico mais consistente às estratégias e processos de planejamento urbano (FERNANDES, 2008),

1 O IAPS, tem por finalidade assegurar o gozo dos benefícios previstos em Lei, a serem custeados pelo Município, suas entidades e pelos segurados, de acordo com os instrumentos normativos correspondentes. Para isso, o Regime deve estar equilibrado financeira e atuarialmente, de forma a garantir o pagamento aos servidores dos benefícios previdenciários previstos legalmente, a partir de uma reserva financeira, constituída num regime de capitalização.

Fonte: <http://www.iaps.com.br/index.php?pag=1&id=84>.

2 Constituição Federal 1988 – Da Política Urbana. Disponível em:

<http://alerjln1.alerj.rj.gov.br/constfed.nsf/16adba33b2e5149e032568f60071600f/2b0b3fe92a9119b8032565610 07b7c24?OpenDocument> Acesso em: 22 jan 2016.

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garantindo a função social da propriedade, o planejamento participativo nas políticas urbanas e o acesso do direito à cidade.

O Conselho das Cidades, resultado da criação do Ministério das Cidades (2003), cria a Política Nacional de Habitação – PNH com as diretrizes que orientam a forma de atuação da questão da habitação e visa promover as condições de acesso à moradia digna a todos os segmentos da população, especialmente o de baixa renda, contribuindo, assim, para a inclusão social, logo a PNH (Política Nacional de Habitação) é aprovada em 2004 durante o governo Lula.

Em 2007 o Governo Lula lançou um plano destinado a promover o crescimento econômico – o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). No entanto, a marca do governo Lula (2003-2010) foi o Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV)

3

do Ministério das Cidades lançado em março de 2009 com a meta de construir um milhão de moradias para atender às famílias com renda entre 0 e 10 salários mínimos, embora a maior demanda por moradia é de famílias com renda entre 0 e 3 salários mínimos.

Em tempos atuais muitos fatores estão envolvidos na produção do espaço urbano e na sua valorização. Equipamentos existentes ao redor de determinado espaço é determinante para sua valorização, bem como a existência de favelas em um lugar desvaloriza os contornos.

Contudo, há um personagem com importante papel na produção do espaço urbano, o Estado. É ele o controlador do fundo público para investimentos e responsável pela regulamentação e o controle sobre o uso e a ocupação do solo. Seria ele o responsável a efetivar o direito à cidade de forma ampla e igualitária.

O GRANDE PIRAMBÚ

O Grande Pirambú está localizado no litoral oeste de Fortaleza e compreende os bairros Pirambú, Cristo Redentor e parte da Barra do Ceará. A comunidade é considerada, segundo pesquisa divulgada pelo IBGE (2010), uma das comunidades mais antigas da capital cearense e o sétimo maior aglomerado urbano do Brasil, onde 19% da população não possui esgotamento sanitário. Ainda segundo o IBGE (2010), 716 residências não possuem energia elétrica, conforme, o que ocasiona a criação de ligações clandestinas. Sua população concentra 42.878 habitantes vivendo nessas condições

4

.

Sua ocupação em maior escala deu-se, essencialmente, com a chegada dos refugiados das secas na cidade de Fortaleza durante o início do século XX, já a partir dos anos

3 O programa foi aprovado pela Medida Provisória nº 459, publicada em 25 de março de 2009, posteriormente convertida na Lei no 11.977, de 7 de julho 2009, e pelo Decreto no 6962, de 17 de setembro de 2009. (CARDOSO, A. L.; ARAGÃO, T. A., 2013)

4 Fonte: <http://g1.globo.com/ceara/noticia/2011/12/pirambu-em-fortaleza-e-7-maior-aglomerado-do-pais-diz- ibge.html> Acesso em: 15 dez 2015.

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30 formavam enormes contingentes, famintos, mas decididos a atingir o seu objetivo, enfrentavam as centenas de quilômetros.

A área em questão foi crescendo e se expandindo consideravelmente após o desenvolvimento do distrito industrial no decorrer da Avenida Francisco Sá, de próxima localização, ainda durante o século XX. Vale ressaltar que o Ceará ainda desenvolvia uma economia voltada para a pecuária e agricultura, com pouca atividade fabril, destacando-se apenas a indústria têxtil (NEVES, 2000).

As secas possuem registros desde o século XVII, mas aconteceram secas de grande extensão no Estado do Ceará nos anos de 1877-1879, 1915 e 1932. Na época dessas grandes secas as famílias refugiados eram destinadas, a partir das políticas estatais da época (escassas), aos campos de concentração e, destes, rumavam para outras áreas desvalorizadas, esquecidas e excluídas pela burguesia fortalezense, como, por exemplo, a orla que não possuía valor na época pelas classes de maior poder aquisitivo tida como local de despejo de resíduos orgânicos, dejetos e lixo.

Os imigrantes das secas que chegavam à cidade eram vistos com maus olhos pelas elites e autoridades, acreditavam que traziam má impressão para a capital que encontrava-se ainda em processo de aformoseamento.

Logo, os imigrantes juntamente com alguns pequenos pescadores que já viviam na região compõe a população do surgimento do bairro Pirambú e seu entorno formando assim as primeiras favelas do oeste da capital. Portanto, desde o início a comunidade já surge em condições físicas precárias, insalubres, sem infraestrutura urbana visto que erguiam suas casas com materiais de improviso em terrenos impróprios que não fossem de interesse da elite fortalezense e próximo aos seus locais de trabalho tais como as indústrias e o mar.

Prontamente as separações sociais do espaço foram sendo realizadas pelas indústrias localizadas na Avenida Francisco Sá e as ferrovias, onde dividiam ao sul a área das nobres residências de boa qualidade e bem estruturadas, que mais tarde devido a falta de investimentos na região a população de alta renda passam a constituir outras novas áreas nobres ainda em ascensão na cidade, e ao norte os assentamentos precários da Comunidade Pirambú como mencionado anteriormente que foram se compondo cada vez mais.

É a partir dessa inversão de valores das classes mais favorecidas com relação ao

litoral que iniciam os primeiros conflitos com as minorias que viviam excluídas nesta área do

mar a oeste, já fortalecidos com vínculos nesse meio, construíram suas famílias, construíram

bairros e a luta pela permanência no local desde então passa a ser uma luta diária a partir do

momento em que os olhos de interesse do capital imobiliário se voltam para a região.

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Os moradores de baixa renda do Grande Pirambú, principalmente os segmentos femininos, insatisfeitos com a disputa territorial, passaram a lutar contra as ameaças de expulsão no bairro e se organizar com a finalidade de reivindicar a regularização fundiária de seus terrenos e melhores condições de infraestrutura para essa parte esquecida da cidade que passa agora a ser alvo de especulações capitalistas.

A Igreja Católica teve grande relevância na luta dos moradores pela permanência no local e por melhores condições de infraestrutura contribuindo com a organização da expressão popular contra as ordens de despejo e proibição de construção de novas moradias que vinham por parte da polícia e da marinha alegando ser o terreno de sua propriedade. Cabe ressaltar que as autoridades só passaram a reivindicar o referido terreno, após a inversão de valores do litoral em Fortaleza.

A comunidade, portanto, foi às ruas. Sucedeu em 1962, com grande repercussão, a Marcha do Pirambú, movimento que representou a luta do povo pela posse da terra. Foram dois anos de organização dos moradores para o Movimento. O vigário da Paróquia Pirambú, Pe.

Hélio Campos, durante esse período esforçou-se para dar visibilidade à problemática do Pirambú através de publicações em jornais, lançando ainda um Plano de Recuperação do Pirambú, plano esse que consistia na organização do bairro tendo o Centro Social Paroquial Lar de Todos como o órgão de planejamento no qual a Igreja e o Serviço Social trabalham em conjunto, com o objetivo de erradicar a miséria do bairro (OLIVEIRA, 2013).

A Marcha do Pirambú foi considerado o primeiro movimento de grande porte de reivindicação nas ruas de fortaleza. Estimava-se cerca de 20.000 moradores caminhando nas ruas em direção a Prefeitura denunciando suas precárias condições de vida e gritando por justiça social. Sobre a luta e resistência da comunidade, Barreira comenta:

“O modo como o bairro foi formado teve implicações no processo de resistência e organização dos moradores. A mobilização, pela apropriação legal da terra, funda-se inicialmente no sentimento coletivo pela situação comum de desbravadores da terra.”

(BARREIRA, 1992, p. 56)

A repercussão da Marcha do Pirambú trouxe como resposta a aprovação do Decreto Lei 1.058, de 25 de maio de 1962, que desapropriou da utilidade pública os terrenos do Pirambú onde os moradores estavam situados e declarou necessária melhores condições de habitabilidade e infraestrutura para melhor utilização estética e fixação dos habitantes respectivos

5

. Isso “leva a marcha a se constituir como pioneira na experiência local de desapropriação por interesse social” (BARREIRA,1992, p. 61).

5 Fonte: <http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decmin/1960-1969/decretodoconselhodeministros-1058-25-maio- 1962-353017-publicacaooriginal-1-pe.html> Acesso em 19 nov 2015.

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A construção da Avenida Presidente Castelo Branco, mais conhecida como Avenida Leste Oeste em 1973, que tinha como objetivo inicial fazer a interligação de rápido acesso da zona industrial da Avenida Francisco Sá ao Porto do Mucuripe, foi um marco importante na comunidade Pirambú, dividindo-a em duas partes. Deu-se início às intervenções na comunidade trazendo melhorias como a mobilidade urbana, atraiu comércios e serviços ao longo do eixo viário, em contrapartida afastou a convivência dos moradores que agora passaram a conviver do outro lado e outros que tiveram suas casas retiradas para a construção da via, onde receberam indenizações e a família seguiu para constituir residência em outra região (COSTA, 2007).

O bairro Pirambú desde os anos trinta do século passado tem sua área desvalorizada socialmente carregando um estigma social negativo de marginalidade e de violência. Sua favorecida localização faz com que o capital imobiliário e turístico busque estratégias de valorização do território.

O PLANO DE REQUALIFICAÇÃO: PROJETO VILA DO MAR

Diante do contexto de ocupação do Grande Pirambu que já ocorrera de maneira desigual e excludente, negligenciada pelo poder público. Observa-se que o maior interesse pela região deu-se após a cultura de valorização da faixa litorânea, acrescido da belíssima vista paisagística da área, no entanto, os moradores do lado oeste estabeleceram um histórico de lutas, reivindicações e participação política que se mantém até os dias de hoje.

No ano de 2001 o Conselho Estadual do Meio Ambiente- COEMA aprova o Projeto Costa Oeste do Governo do Estado do Ceará, no mandato de Lúcio Alcântara. O Projeto objetivava a construção de uma via paisagística com o comprimento de 5,5 quilômetros que interligaria a Escola de Aprendizes Marinheiros no Pirambú a Barra do rio Ceará para firmar a cidade turística através da divulgação de seu litoral, a via teria duas pistas, canteiro central, ciclovia e calçadão.

O projeto Costa Oeste teve um início bastante conflituoso por divergências da esfera municipal, dificultando por diversas vezes a sua implementação. A ausência de diálogo com a população residente sobre a intervenção urbanística na comunidade gerou extrema insatisfação aos moradores que mais uma vez se mobilizaram contra o referido projeto por entenderem que seriam sumariamente expulsos da região desprovidos de qualquer benesse.

Logo, o Ministério Público Federal move Ação Civil Pública determinando a

paralisação do projeto devido a irregularidades no licenciamento ambiental da obra e a pressão

popular reivindica reformulação do projeto urbanístico com inclusão social de todas as famílias

atingidas.

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A Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) havia realizado um estudo na área de intervenção, mas por se tratar de faixa litorânea o Ministério Público entende que o licenciamento ambiental compete ao órgão ambiental, Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama). (Diário do Nordeste, 14/11/2002).

O projeto Costa Oeste é então retomado e reinicia sua obras no ano de 2002 mediante o interesse das três esferas do governo, bancos e empresas privadas. No ano de 2007 a Prefeitura de Fortaleza, sob a gestão de Luizianne Lins (PT), assume o projeto Costa Oeste com uma nova ótica e passa a nomeá-lo de Projeto Vila do Mar aprovado pelo Orçamento Participativo.

O Projeto Vila do Mar

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, portanto, prevê agora a requalificação/urbanização da mencionada área litorânea, com a implantação de via paisagística; obras de urbanização e de infraestrutura e construção de equipamentos comunitários, atendendo aos bairros do Pirambú, Cristo Redentor e Barra do Ceará; Ações de reassentamento das famílias residentes em áreas de risco e de preservação ambiental permanente. Essa parte foi dividida em dois trechos.

O Trecho I é compreendido entre a Av. Radialista José Lima Verde e a Av. Dr.

Theberge e o Trecho II entre a Av. Dr. Theberge e o antigo Cartódromo. Além das obras de urbanização da área litorânea, o projeto prevê também a construção de conjuntos habitacionais em 04 terrenos situados próximo à área, para abrigar famílias desalojadas em decorrência da implantação das obras de urbanização. Os terrenos estão situados na Av. Francisco Sá nos espaços deixados pelas indústrias do antigo Distrito Industrial. A via paisagística compreende a mesma mencionada no projeto anterior (Costa Oeste), no entanto, inclui um calçadão com o reordenamento das barracas de praia existentes, e a criação de ancoradouros para os barcos dos pescadores, além de áreas de lazer.

As casas que permanecerem com vista para a nova via serão beneficiadas com um tratamento para melhoria de seus imóveis denominado, Melhorias Habitacionais e a regularização de seus terrenos por meio das ações de Regularização Fundiária, passando a serem donos de suas terras.

É relevante afirmar que a regularização fundiária sempre foi pauta de lutas e reivindicações da população do grande Pirambú. Além disso, é importante a realização do trabalho social com as famílias com o objetivo de gerar emprego e renda com ações divididas em quatro eixos de atuação, sendo estes: 1) Mobilização e Organização Comunitária – MOC;

2) Educação Sanitária e Ambiental – ESA; 3) Geração Emprego e Renda - GTR; 4) Regularização Fundiária – RF.

6 Informações fornecidas através de documentos internos da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Habitacional de Fortaleza – HABITAFOR.

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O projeto foi custeado, em parte, por recursos do Orçamento Geral da União (OGU), por meio do Contrato de Repasse 223.652-94/2007 (Siafi 621849), firmado com representação da Caixa Econômica Federal. O valor inicial foi de R$ 90.000.000,00 (R$

73.800.000,00 de recursos federais e R$ 16.200.000,00 de contrapartida)

7

, entretanto, de acordo com publicação do Diário do Nordeste (2011), até 2012 (gestão de Luizianne), investiu-se mais de 142 milhões de reais, sendo R$ 92 milhões do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), R$ 20 milhões do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social e R$ 30 milhões de uma parceria com o Governo do Estado de Ceará

8

.

Parte das obras do projeto já estão concluídas, até o início do ano de 2016 o calçadão e a via paisagística encontram-se com 70% onde uma parte foi concluída ainda na gestão do PT dando prosseguimento com o atual prefeito da cidade do PROS (Roberto Cláudio). Foi realizada a entrega de 02 (dois) Conjuntos Habitacionais com 264 e 84 Unidades Habitacionais respectivamente, sendo o primeiro entregue na gestão anterior e o segundo na atual gestão.

Prossegue a conclusão do calçadão, da via e das unidades habitacionais, que estão sendo construído pela atual gestão da prefeitura.

Os recursos financiariam a execução de todas as moradias restantes (1.170 unidades), urbanização e construção da via paisagística, realização de trabalho social, regularização fundiária de 8.310 famílias, construção de 26 unidades da vila dos pescadores, realização de 2.490 melhorias habitacionais e aquisição de 150 imóveis. Para a continuação e conclusão do Vila do Mar foi iniciada uma articulação junto ao Ministério das Cidades, que autorizou a Prefeitura a acessar um financiamento de contrapartidas de obras públicas.

9

O projeto Vila do Mar conta com a formação de um Conselho Gestor composta pelos órgãos municipais: HABITAFOR

10

; Secretaria de Urbanização e Meio Ambiente - SEUMA; Secretaria Executiva Regional I – SER I; Secretaria de Turismo de Fortaleza - Setfor;

Gabinete do Prefeito; Empresas privadas envolvidas no projeto, núcleo de participação popular e sociedade civil que tem a oportunidade de fiscalizar e deliberar através de reuniões alguns destinos do projeto, bem como reivindicar as ações previstas. A sociedade civil do Conselho

7 Fonte: Tribunal de Contas da União – TCU, Disponível em:

<http://www.camara.gov.br/internet/comissao/index/mista/orca/orcamento/OR2013/Fiscobras2012/anexo2/sintet ico%5Csint%C3%A9tico_2012_371.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2016.

8 Disponível em< http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/cidade/previsao-de-entrega-para-2012- 1.753303>. Acesso em: 16 jan. 2016.

9 Fonte: <http://www.fortaleza.ce.gov.br/noticias/habitacao/prefeito-roberto-claudio-assina-ordem-de-servico- do-vila-do-mar-ii> Prefeitura de Fortaleza. Acesso em 21 nov 2015.

10 Secretaria responsável pela implementação do projeto Vila do Mar. Conta com parceria de outros órgãos municipais.

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Gestor do Vila do Mar é formada por membros das associações do bairro e possuem mandato de dois anos.

As reuniões promovidas para o Conselho Gestor acontecem normalmente a cada 30 dias. A participação popular proporciona ambientes de troca que, junto à comunidade, buscam resgatar o sentimento de pertence ao bairro, que vem se perdendo sem a participação. É também uma forma encontrada de reivindicar melhorias para a comunidade.

Em 2007 a HABITAFOR realizou um diagnóstico social com 4.386 famílias do Projeto, as informações foram obtidas através dos Boletins de Informações Cadastrais – BICs (instrumental interno), sendo este um instrumento utilizado para a coleta de informações domiciliares objetivando apreender o perfil básico das famílias, as condições de moradia, assim como a infraestrutura urbana acessível à comunidade. Os cadastros foram realizados “in loco”

pela equipe social da HABITAFOR a fim de evitar qualquer inversão dos reais fatos. A equipe social chega à comunidade no dia do cadastramento de forma inesperada pela população deixando os moradores eufóricos com a visita, logo que os moradores tem ciência da execução do projeto.

Por meio do diagnóstico supracitado foi verificada a precária tipologia de moradia da comunidade em sua maioria são residências próprias e não regularizadas, seguidos por casas cedidas e alugadas, muitas residências construídas com madeira, taipa, papelão, plástico, embora ainda prevalece alvenaria.

Logo, a partir do diagnóstico social verificaram-se na maioria das famílias algumas questões relevantes, tais como: não possuem ligação oficial de água e luz; não possuem saneamento básico; são provenientes da referida comunidade; possuem uma média de 4 a 6 pessoas por família; tem baixa escolaridade (a maioria com ensino fundamental incompleto);

renda de meio a dois salários mínimos; chefes de família do sexo feminino.

O estudo realizado pela HABITAFOR na área de intervenção do Projeto Vila do Mar demonstra o nível de pauperização e as condições de extrema vulnerabilidade social dessa população que vivem em moradias sem as mínimas condições de habitabilidade.

A localização dos Conjuntos (Barra do Ceará) contribui para que não haja a quebra

de vínculos com a comunidade fazendo com que seja preservado o sentimento de pertence dos

moradores com a mesma tendo em vista que a maioria deles tiveram suas histórias construídas

na comunidade. Por outro lado a nova moradia acarreta novas despesas e novos hábitos

ocasionando com isso a venda das unidades habitacionais que vem sendo uma prática comum

dos moradores.

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As famílias remanescentes estão sendo inseridas no Programa de Locação Social (PLS)

11

, recebendo o valor de quatrocentos e vinte reais, onde permanecerão até o momento da conclusão dos Conjuntos. Essa inserção deu-se para que a obra de urbanização dê continuidade na área. Mais de trezentas famílias estão inseridas no PLS.

A DISTRIBUIÇÃO SÓCIO ESPACIAL EM FORTALEZA E A LÓGICA URBANA Segundo dados obtidos pela HABITAFOR por meio do diagnóstico social das famílias residentes na área de intervenção do projeto Vila do Mar realizado no ano de 2007 referente ao tipo de atividade exercida pelos chefes de família na área, constatou-se em maior número os trabalhos domésticos, com percentual de 7,76%, em segundo lugar as donas de casa com 4,75%, e em terceiro para a atividade de pescador com 3,20%, além de outras especificidades, tais como comerciante, lavadeira, castanheira, costureira, catador, pedreiro, vendedor.

Segundo o mesmo levantamento da área de intervenção do projeto cedido pela HABITAFOR, observou-se que os índices de escolaridade da população cadastrada são de 33,21% para o Ensino Fundamental I, 25,01% para o Ensino Fundamental II, e de 13,49% para o Ensino Médio, completo ou incompleto. Logo mais da metade da população possui nível escolar de ensino fundamental.

O nível escolar dos moradores é uma questão primordial que influencia na renda das famílias, pois tem relação direta com a ocupação dos mesmos, visto que a qualificação da força de trabalho traz oportunidades de novos ramos ocupacionais, o que de nenhuma maneira contribui para a queda do mercado de trabalho informal que só cresce na cidade. Mas por outro lado, “o trabalho é elemento comum e definidor da relação espaço, capital e população”

(ARAUJO, 2010, p. 23.) e a educação é elemento essencial para o desenvolvimento econômico, cultural e social.

As famílias provenientes do projeto de urbanização, em sua maioria, ainda segundo o estudo realizado pela Secretaria, possuem renda mensal familiar em torno de ½ a 1 salário mínimo, seguida de famílias com renda entre 1 e 2 salários mínimos e ainda com famílias que informaram não possuir renda alguma.

O Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece) também realizou estudo sobre a distribuição da renda e da população por bairro de Fortaleza. A tabela abaixo

11 O Programa Locação Social consiste na concessão de auxílio às famílias que se enquadrem nas situações previstas no art. 1º da lei Nº 10.328, de 12 de março de 2015 e que não disponham de meios materiais para adquirir ou alugar moradia. Acesso em: <https://leismunicipais.com.br/a/ce/f/fortaleza/lei-ordinaria/2015/1033/10328/lei- ordinaria-n-10328-2015-redefine-o-programa-locacao-social-no-ambito-do-municipio-de-fortaleza-e-da-outras- providencias>.

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mostra os vinte primeiros e os vinte últimos bairros de acordo com a renda média apontados pelo referido estudo.

Tabela 01 – Os 20 primeiros bairros de acordo com renda média

Bairros População Renda Média

Nome SER Total % R$

Meireles 2 36982 1.5 3659.54

Guararapes 2 5266 0.2 3488.25

Cocó 2 20492 0.8 3295.32

De Lourdes 2 3370 0.1 3211.09

Aldeota 2 42361 1.7 2901.57

Mucuripe 2 13747 0.6 2742.25

Dionísio Torres

2 15634 0.6 2707.35

Varjota 2 8421 0.3 2153.8

Praia de Iracema

2 3130 0.1 1903.17

Fátima 4 23309 1.0 1756.11

Salinas 2 4298 0.2 1749.91

Cambeba 6 7625 0.3 1628.07

Parque Iracema

6 8409 0.3 1610.86

Parque Manibura

6 7529 0.3 1591.49

Cidade dos Funcionários

6 18256 0.7 1549.05

Eng. Luciano Cavalcante

2 15543 0.6 1524.32

Papicu 2 18370 0.7 1476.65

Joaquim Távora

2 23450 1.0 1446.03

Gentilândia 4 3984 0.2 1404.45

São Gerardo 1 14505 0.6 1347.59

Fonte: IPECE, 2012. Elaboração própria.

Tabela 02 – Os 20 últimos bairros de acordo com renda média

Bairros População Renda Média

Nome SER Total % R$

Parque São José

5 10486 0.4 419.79

Jangurussu 6 50479 2.1 416.9

Ancuri 6 20070 0.8 413.44

(13)

Barra do Ceará

1 72423 3.0 398.61

Aeroporto (Base Aérea)

4 8618 0.4 398.13

Barroso 6 29847 1.2 393.71

Cais do Porto 2 22382 0.9 393.02

Floresta 1 28896 1.2 380.81

Cristo Redentor

1 26717 1.1 377.42

Planalto Ayrton Senna

5 39446 1.6 360.67

Bom Jardim 5 37758 1.5 349.75

Autran Nunes 3 21208 0.9 349.74

Granja Lisboa 5 52042 2.1 341.36

Pirambú 1 17775 0.7 340.36

Granja Portugal

5 39651 1.6 334.83

Genibau 5 40336 1.6 329.98

Siqueira 5 33628 1.4 326.8

Canindezinho 5 41202 1.7 325.47

Parque Presidente Vargas

5 7192 0.3 287.92

Conjunto Palmeiras

6 36599 1.5 239.25

Fonte: IPECE, 2012. Elaboração própria.

De acordo com o estudo realizado verificamos que o bairro Pirambú, Cristo Redentor e Barra do Ceará (áreas de intervenção do referido projeto de urbanização) ocupam a tabela dos 20 últimos bairros de acordo com a renda média, o que dialoga com o levantamento da situação socioeconômica das famílias inseridas no projeto Vila do Mar.

Pudemos observar resumidamente que há uma distribuição espacial de renda média

pessoal nas Secretarias Executiva Regionais (SERs), onde os bairros com maior renda média

concentram-se, em maior parte, na Regional II e, por conseguinte, os bairros com menor renda

média localizam-se em sua maioria nas delimitações da Regional V. A tabela abaixo mostra a

distribuição da renda e da população de acordo com as Secretarias Regionais Administrativas

de Fortaleza.

(14)

Tabela 03 – Distribuição da Renda e da População por Regionais Administrativas de Fortaleza

SER Nº de Bairros População Renda Média

I 15 363912 587.7

II 21 363406 1850.1

III 16 360551 658.0

IV 20 281645 845.2

V 18 541511 471.7

VI 29 541160 715.4

Fonte: IPECE, 2012. Elaboração Própria.

Essa distribuição não é uma regra, verificamos certa desigualdade espacial de renda dentro das mesmas regionais. Por exemplo, a SER VI ocupa a terceira posição na distribuição de renda da tabela acima e, no entanto, vimos alguns bairros que compõem a referida Regional entre os vinte primeiros bairros em renda média pessoal.

Vimos de acordo com a tabela 06 que as Regionais I, III, V e VI possuem renda inferior a um salário mínimo, porém, vale ressaltar que o estudo foi realizado pelo Ipece no ano de 2012 quando o salário mínimo contabilizava R$ 622,00, logo em valores de 2012, se analisarmos, apenas as Regionais I e V possuem renda média inferior a um salário mínimo, isso revela o baixo poder aquisitivo da maior parte da população de Fortaleza.

Se analisarmos as Regionais que possuem renda média superior a 2 salários mínimos, em valores de 2012, observaremos que apenas a Regional II compõe tal requisito e não configura a SER mais populosa, sendo essas as de menor renda média. Notamos que as Secretarias Executiva Regionais mais populosas não corroboram as de maior renda.

A partir das análises comparativas observamos que há uma forte concentração de renda em uma pequena área da cidade e que a distribuição de renda também interfere na distribuição do espaço. Como afirma Gondim (2011, p. 120) “O baixo poder aquisitivo de grande parte da população de Fortaleza restringe o consumo de bens essenciais e determina a qualidade e forma de consumo da cidade” bem como sua forma de crescimento.

Como afirma Araújo (2010, p. 14) “a distribuição desigual da população, no espaço, de certo modo, reflete e reforça a concentração de capitais e de investimentos na reorganização regional”. No caso de Fortaleza verificamos através desse estudo comparativo das Secretarias Regionais a divisão sócio espacial da cidade, os lados privilegiados e os lados excluídos dos investimentos público-privados.

Os conjuntos habitacionais do projeto Vila do Mar estão situados em torno da

Avenida Francisco Sá no bairro Barra do Ceará, ala menos favorecida com infraestrutura urbana

(15)

social deficitária, região para onde se dirigem as indústrias e como dito, os conjuntos de habitação popular.

Logo, são evidentes os contrastes sociais em Fortaleza, como se houvessem duas cidades separadas, de um lado a cidade rica localizada nas regiões Leste e Sudeste, “onde se concentram as inversões do poder público”, e do outro lado, a oeste, a cidade pobre, “carente de serviços de infraestrutura urbana”. (GONDIM, 2011, p. 122). Cabe mencionar que a divisão não é uma regra, ou seja, também encontramos a pobreza em áreas consideradas nobres, a riqueza convivendo com a pobreza, enquanto o poder público ainda não os expulsa.

Portanto há uma fragmentação sócio espacial da cidade cada vez mais tênue, onde o Estado, seguindo os interesses capitalista, decide qual lado da cidade que a população proletária irá ocupar. É fácil observar que o valor do metro quadrado em determinado espaço segue em consonância com a renda dessa determinada população que atrai os melhores serviços e infraestrutura da cidade.

O espaço vai sendo valorizado de acordo com as possibilidades de uso e o poder aquisitivo das classes sociais. Veja a tabela abaixo, podemos relacioná-la com os bairros de população com maior renda média da tabela 01 e instantaneamente perceberemos os bairros pautados abaixo inseridos entre eles.

Ilustração 01 – Os 10 bairros com m² mais caro de Fortaleza

Fonte: www.taperuabanoticias.com.br, 2013.

A cidade de Fortaleza cresceu dividida entre o leste, zona ocupada pela burguesia

e o oeste, área reservada aos pobres, logo a paisagem dos lugares é marcada pela desigualdade

social entre as classes. Não à toa Meireles é na atualidade um dos bairros com metro quadrado

mais caro de Fortaleza. Como exposto na tabela acima a cidade vem crescendo no sentido leste

e sudeste.

(16)

O capital vai se expandindo pelos espaços urbanos e expulsando a parcela mais pobre cada vez mais para as bordas da cidade, os imóveis são ofertados em áreas cada vez mais valorizadas que antes eram esquecidas e o Estado tem sido a chave para esse processo intervindo com ações de urbanização e infraestrutura e fazendo uma limpeza social para que o espaço seja valorizado e o capital venha a investir. Como afirma Maricato (2011, p. 112), “a lógica na cidade é a valorização imobiliária”.

É interessante observar como o mercado imobiliário se insere na sociedade de modo a visualizar a moradia não como um espaço de habitação, de direito, mas como uma mercadoria, uma forma de acumulação de capital.

A valorização imobiliária de um lugar se dá pelas condições urbanas do bairro tornando-o altamente atrativo e bastante valorizado. Por exemplo, a construção de um shopping em uma área desvalorizada é considerada motivo de valorização do lugar, logo os imóveis que antes eram vendidos em certo preço, após a construção do shopping passam a possuir outro valor, um preço bem acima do anterior.

Portanto, o Estado, provedor da maior parte dos serviços urbanos, à medida que implanta determinados serviços urbanos amplia a valorização de espaços desvalorizados. Os serviços atraem famílias de renda mais elevada que estão dispostas a pagar preço maior pelo uso do espaço e os serviços implantados ao invés de beneficiar a população de mais baixa renda irá beneficiar as novas famílias que irão ocupar o espaço. Singer (1982) comenta:

A elevação do preço dos imóveis resultante pode deslocar os moradores mais antigos e pobres, que vendem suas casas, quando proprietários, ou simplesmente saem quando inquilinos, de modo que o novo serviço vai servir aos novos moradores e não aos que supostamente deveria beneficiar. (SINGER, 1982, P.34).

Contudo, a especulação se dá pela reserva de um determinado espaço aguardando sua valorização seja pelos investimentos do capital de turismo, seja pelo do capital industrial, de serviços públicos e/ou privados ou por expansão do espaço urbano para posterior rendimento financeiro.

CONCLUSÃO

Não se pode negar que o projeto de requalificação do grande Pirambú trouxe muitos

ganhos sociais para a comunidade (infraestrutura; saneamento; moradia) e as reivindicações

dos moradores foram importantes para esses ganhos. Muitas famílias ansiavam ser beneficiados

com as unidades habitacionais nos Empreendimentos, por outro lado haviam famílias que

atingidas pelo processo de remoção resistiam.

(17)

Cabe destacar que a implantação do projeto acarretou uma valorização do solo o que atrai os investimentos do capital imobiliário que se encontram atentos a expansão do turismo no litoral cearense. É tendencioso que os interesses do capital se voltem para o oeste do litoral de Fortaleza, visto que o leste já foi explorado sendo hoje um dos espaços mais valorizados da cidade com altos investimentos voltados para o turismo. A favorecida localização faz com que o capital imobiliário e turístico busque estratégias de valorização do território. Portanto, a luta e resistência dos moradores não cessam.

Logo a densidade das regiões de solo valorizado faz com que o capital imobiliário e turístico busque novas regiões para sua expansão e isso pode ser considerado como manobra para a implantação do projeto de requalificação da orla do grande Pirambú.

É interessante destacar que o Estado é aliado do capital imobiliário e muitas vezes oferece infraestrutura para um determinado território a fim de facilitar a situação de empresas imobiliárias. A intervenção do poder público na orla oeste pode ser considerada como uma forma de barganha da expansão do espaço para o capital imobiliário e turístico.

O projeto de requalificação do Pirambú vem desempenhando esse trabalho voltado para a comunidade, entretanto, a tendência é de que essa área cada vez mais se valorize, expulsando moradores de menor poder aquisitivo direta ou indiretamente, como tem acontecido em vários litorais turísticos. É a lógica capitalista do espaço urbano.

Vimos que a maioria dos moradores da comunidade inseridos na área de intervenção do projeto Vila do Mar são provenientes de famílias com baixa renda, baixa escolaridade e que vivem em situação de extrema vulnerabilidade social. O trabalho social, atividade importante na execução do projeto, objetiva transformar essa realidade das famílias, visando sua melhoria e a geração de emprego e renda, mas nos cabe refletir se de fato o trabalho social vem cumprindo seus objetivos.

É importante que o Trabalho Social seja executado concomitante a execução do projeto, no entanto algumas importantes ações do projeto não foram acompanhadas do trabalho social. Exemplo disso foi a atividade de reassentamento das famílias do II Empreendimento desacompanhada do trabalho social logo que chegava ao fim o contrato da empresa executora.

Acreditamos que o Trabalho Social desempenhado durante o processo de reassentamento contribui para a permanência das famílias nos mesmos.

Referente a comercialização das unidades habitacionais nos Conjuntos onde as

famílias foram reassentadas, pode-se considerar muitos fatores que corroboram para as práticas,

tais como: as expressões da questão social simuladas pelo desemprego, violência, criminalidade

e em novo cenário o tráfico de drogas, colaboram para que o beneficiário, desprovido de

alternativas secundárias, negocie ou até abandone a moradia; Os vínculos estabelecidos na

(18)

comunidade pelos anos de convívio, junto à familiares que vão se constituindo ao redor e permanecem no local também influem nas práticas de negociação do imóvel no conjunto para o retorno à comunidade, ainda que o Conjunto esteja situado em local próximo à área de intervenção (como é o caso do Vila do Mar); As novas despesas que surgem com a nova moradia tais como contas de água e energia, também implicam na mercantilização das unidades, visto que a maior parte dos beneficiários não contava com esse tipo de despesas na residência anterior, onde se utilizavam de ligações clandestinas para tais serviços.

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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(19)

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