• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS - UFGD FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS - UFGD FACULDADE DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO"

Copied!
149
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS - UFGD FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (MESTRADO)

GENI ROQUE SOBRINHO CANDADO

PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E CONDICIONALIDADES:

ESCOLA MUNICIPAL INDÍGENA TENGATUI MARANGATU

DOURADOS-MS, 2016

(2)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS - UFGD FACULDADE DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO (MESTRADO)

GENI ROQUE SOBRINHO CANDADO

PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E CONDICIONALIDADES:

ESCOLA MUNICIPAL INDÍGENA TENGATUI MARANGATU

Trabalho apresentado como requisito para Banca de Defesa ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Educação.

Linha de Pesquisa: Educação e Diversidade Orientadora: Profª Drª Maria Beatriz Rocha Ferreira

DOURADOS-MS, 2016

(3)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP).

C216p Candado, Geni Roque Sobrinho.

Programa Bolsa Família e condicionalidades: Escola Municipal Indígena TengatuiMarangatu. / Geni Roque Sobrinho Candado. – Dourados, MS : UFGD, 2016.

149f.

Orientadora: Prof. Dra. Maria Beatriz Rocha Ferreira.

Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal da Grande Dourados.

1. Programa Bolsa Família. 2. Educação. 3. Criança indígena.4. Figuração social. 5. Condicionalidades. I. Título.

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central – UFGD.

©Todos os direitos reservados. Permitido a publicação parcial desde que citada a fonte.

(4)

UFGD

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSDADE FEDERAL DA GRANDE DOURADOS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

MESTRADO e DOUTORADO EM EDUCAÇÃO

ATA DA DEFESA DE DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA PELA

ALUNA GENI ROQUE SOBRINHO CANDADO, DO PROGRAMA DE

PÓSGRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO, ÁREA DE CONCENTRAÇÃO

“HISTÓRIA, POLÍTICAS E GESTÃO DA EDUCAÇÃO”.

Aos seis dias do mês de abril de dois mil e dezesseis, às 14h, em sessão pública, realizou-se, na sala 11 da Unidade II da Universidade Federal da Grande Dourados, a Defesa de Dissertação de Mestrado intitulada “PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA E CONDICIONALIDADES: ESCOLA MUNICIPAL INDÍGENA TENGATUÍ MARANGATU”, apresentada pela mestranda Geni Roque Sobrinho Candado, do Programa de Pós-Graduação em Educação, à Banca Examinadora constituída pelos professores Dra. Maria Beatriz Rocha Ferreira/UFGD (presidente/orientadora), Dr. Levi Marques Pereira/UFGD (membro titular) e Dra. Aline Maira da Silva/UFGD (membro titular). Iniciados os trabalhos, a presidência deu a conhecer à candidata e aos integrantes da Banca as normas a serem observadas na apresentação da Dissertação. Após a candidata ter apresentado a sua Dissertação, os componentes da Banca Examinadora fizeram suas arguições, que foram intercaladas pela defesa da candidata. Terminadas as arguições, a Banca Examinadora, em sessão secreta, passou aos trabalhos de julgamento, tendo sido a candidata considerada ____________________, fazendo jus ao título de MESTRE EM EDUCAÇÃO.

Nada mais havendo a tratar, lavrou-se a presente ata, que vai assinada pelos membros da Banca Examinadora.

Dourados, 06 de abril de 2016.

Dra. Maria Beatriz Rocha Ferreira _______________________________________________

Dr. Levi Marques Pereira ______________________________________________________

Dra. Aline Maira da Silva ______________________________________________________

ATA HOMOLOGADA EM: ___ / ___ / _____, PELA PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA/UFGD.

Profª. Kely de Picoli Souza

Pró-Reitora de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa Matr. n. 1641876

(5)

AGRADECIMENTOS

A Deus!

A minha família pelo apoio incondicional: minha mãe Delice Roque, mulher guerreira, que apesar das dificuldades conseguiu fazer estudar todos os seus 10 filhos; a meu pai, Valfrido Correa Sobrinho (in memorian), e a todos os meus 10 irmãos que, mesmo de longe estavam torcendo por mim em cada etapa árdua e prazerosa da minha trajetória de vida como pesquisadora.

Sou grata, em especial, ao meu querido esposo Reginaldo Candado pela paciência e por me ajudar de todas as formas durante a pesquisa, me incentivando e apoiando nas horas difíceis de desânimo e de inquietações; aos meus preciosos filhos: Biana, Bruno, Iago e a minha pequenina Darla Roque, que se fizeram presentes em grandes momentos e que reclamaram várias vezes, pois eu não saia do computador nos períodos de estudo; aos meus netos Evelin, Ana Clara e Davi Roque, e ainda aos enteados Fernando e Amanda Candado, que torceram por mim, ainda que de longe. Muito Obrigada!

A minha querida orientadora “internacional”, Profª Drª Maria Beatriz Ferreira Rocha pela paciência, pela amizade, pelas palavras tranquilizadoras nos momentos de quase desistência da Pós-Graduação de Mestrado, pela gentileza e doçura em suas palavras. Com sabedoria e discernimento me conduziu nesta trajetória.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação de Mestrado em Educação e Diversidade da Universidade Federal da Grande Dourados/MS, que muito colaboram para a construção/reconstrução desta dissertação.

Aos queridos professores Prof. Dr. Neimar de Souza Machado e Profª Me. Ilma Saramago pelas contribuições e sugestões na trajetória de construção e finalização da dissertação.

Aos professores Dr. Levi Marques e Drª Aline Maria por aceitarem compor a banca de defesa desta dissertação.

Aos amigos do grupo de Pesquisa GEPEI pelo aprendizado contínuo e eterna amizade.

Em especial às amigas de coração Profª Me. Michelle Alves Machado e Profª Me.

Maria Gorette da Silva Matosso pelas colaborações e acolhimento, pelo apoio em todos os momentos de cansaço, angústias e desânimo.

(6)

À Escola Municipal Indígena Tengatui Marangatu e aos participantes da pesquisa pela contribuição e colaboração na coleta de dados e, a todos aqueles que de alguma forma colaboraram para a conclusão desta pesquisa.

E, finalmente, respeitosamente aos povos indígenas da RID e região, que muito admiro, de quem tenho muito orgulho e respeito e com quem tive o privilégio e a oportunidade de conviver, trabalhar e aprender com todos o seu modo de ser indígena. Minha Gratidão a todos e todas.

Atima! (aos Guarani), Agwyje! (aos Kaiowá) e Anaypuiakue! (aos Terena).

(7)

RESUMO

O Governo Federal, por meios de Políticas Públicas no ano de 2003, unificou alguns programas de Transferência de Renda para o Programa Bolsa Família que é condicionado à utilização de serviços básicos, entre eles a educação. Este programa busca minimizar as dificuldades e melhorar as condições de vida das famílias que estão em situação de vulnerabilidade e risco social. O presente trabalho tem como objetivo geral estudar o Programa Bolsa Família - PBF e as especificidades das condicionalidades da frequência escolar, considerando a realidade e o contexto de crianças indígenas, guarani kaiowá, guarani ñandéva1 e terena da Escola Municipal Indígena Tengatui Marangatu. O método foi desenvolvido através da fundamentação teórica, análise de documentos e estudo de caso. O campo de coleta de dados ocorreu na unidade escolar da Reserva Indígena de Dourados – RID. Entrevistas semi estruturadas foram realizadas com educadores e mães das crianças. As categorias de análise escolhidas foram: concepção PBF, a condicionalidade na educação, a percepção das professoras, mães e coordenação sobre o PBF e a condicionalidade da frequência escolar. Ao analisar as políticas educacionais e sociais, em especial as políticas específicas nas questões indígenas, entre as quais se insere as condicionalidades do PBF, observamos contradições no que se relaciona as garantias educacionais e sociais anunciadas pela Constituição de 1988 para os povos indígenas. Os resultados da pesquisa evidenciaram informações significativas em relação a frequência escolar do PBF com os alunos indígenas da unidade escolar. Verificamos que a coordenação, professoras, algumas mães pesquisadas conhecem pouco as condicionalidades do PBF. Um dos fatos que se destaca ao longo do trabalho é a exigência do PBF ser limitado ao controle da frequência escolar. Este programa poderia ter outros incentivos para a maior participação das famílias na escola e entusiasmo para os alunos estudarem com mais interesse. Espera-se que os resultados da pesquisa possam colaborar para que novos olhares sejam lançados sobre a especificidade das condicionalidades da educação do PBF nas questões indígenas.

Palavras-chave: Programa Bolsa Família, Educação, Criança Indígena, Figuração Social, Condicionalidades.

1 A partir deste tópico refiro-me aos Guarani Ñandéva como “Guarani” e aos Guarani Kaiowá como “Kaiowá”.

(8)

ABSTRACT

The Federal Government, through the Public Politics in the year 2003, unified the program of transference of income called the Family Grand Program – FGP [Programa Bolsa Família – PBF] to the usage of basic services, among them the education. This program tries to minimize the difficulties and improve the life conditions of the families who are in a situation of vulnerability and social risk. The aim of this research is to study of the Family Grand Program – FGP and the implications in the education of the Guarani Kaiowá, Guarani Nandéva children from the Native Municipal School Tengatui Marangatu. The research method was developed through literature, documents analysis and study of cases. The place for collecting data was the native school inside the Native Area of Dourados (RID). The data collection field occurred in the indigenous school unit in the Indigenous Reserve of Dourados – RID. Semi-structured interviews were conducted with the program manager, educators and mothers of children. The selected categories of analysis were: the conception of FGP, the conditionality of the program in education, the perception of interviewed about the FGP.

When analyzing the social and educational politics, giving special attention to the indigenous matters on specific politics, among which is inserted the FGP conditionalities, contradictions were observed when related to the educational and social guarantees declared in the 1988 Constitution for the indigenous people. The results of the current research highlighted significant information about the indigenous school attendance with the PBF. It has been found that the coordination, the teachers and some mothers that took part in this research knew little of the FGP conditionings. One of the facts that could be pointed out from this research is that the FGP exigencies are limited to the school attendance control. This program could lead to other encouragements in order to increase the families’ support at school, giving the students motivation to study with more enthusiasm. These research’s results are expected to cast a new glance over the specificities of the FGP education conditionalities once related

to the indigenous people matters.

Key Words: Family Grand Program Education, Indigenous Children, Social Figuration, Conditionalities.

(9)

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 - Base de Dados da Biblioteca Ministério do desenvolvimento Social - Junho

2015 ... 27

QUADRO 2 - Demais publicações ... 28

QUADRO 3 - Número de Alunos da Escola Municipal Indígena Tengatui Marangatu ... 32

QUADRO 4 - Número de Alunos das Extensões da Escola Municipal Indígena Tengatui Marangatu ... 33

QUADRO 5 - Número de Alunos dos 4º e 5º anos de acordo com a etnia, sexo, idade escolar e turma ... 33

QUADRO 6 - Número de Alunos referente ao desempenho escolar dos 4º e 5º anos do Ano de 2014 ... 34

QUADRO 7 - Categorização dos alunos por faixa etária 4º ano ... 35

QUADRO 8 - Categorização dos alunos por faixa etária 5º ano ... 35

QUADRO 9 - Quantidade de pessoas entrevistadas ... 37

QUADRO 10 - Programas e Benefícios... 54

QUADRO 11 - Condicionalidades gerenciadas por setores ... 58

QUADRO 12 - Motivos justificados e não justificados ... 61

QUADRO 13 - Calendário escolar para coleta de dados ... 62

QUADRO 14 - Perfil das professoras, coordenadores e técnico entrevistado(as) ... 95

QUADRO 15 - Perfil das mães entrevistadas ... 96

QUADRO 16 - Conhecimento sobre a condicionalidade da frequência escolar ... 101

QUADRO 17 - Quantitativo pesquisado ... 115

(10)

LISTA DE FIGURAS E TABELA

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Revisão bibliográfica no banco de dados da CAPES - BDTD e UFGD ... 27 FIGURA 2 - Cadastro único sistematizado ... 53 FIGURA 3 - Quantitativo de pessoas cadastradas no Sistema do Cadastro Único ... 63 FIGURA 4 - Quantitativo de pessoas cadastradas no Sistema do Cadastro Único no MS ... 64 FIGURA 5 - Quantitativo de pessoas cadastradas no Sistema do Cadastro Único em Dourados/MS ... 65 FIGURA 6 - Mapa representativo das Aldeias Jaguapiru e Bororó ... 77

LISTA DE TABELA

TABELA 1 - Distribuição da população em extrema pobreza por cor ou raça ... 80

(11)

LISTA DE SIGLAS

APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais BDTD Biblioteca Digital de Teses e Dissertações

BF Bolsa Família

BVJ Benefício Variável Jovem CAD’ÚNICO Cadastro Único

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CEAID Coordenadoria Especial de Assuntos Indígenas

CRAS Centro de Referência da Assistência Social CEIM Centro de Educação Infantil Municipal

CF Constituição Federal

DISOC Diretoria de Estudos e Políticas Sociais ECA Estatuto da Criança e do Adolescente EMI Escola Municipal Indígena

FAIND Faculdade Intercultural Indígena FUNAI Fundação Nacional do Índio FUNASA Fundação Nacional de Saúde

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDEB Índice de Desenvolvimento da Educação Básica IDH Índice de Desenvolvimento Humano

INESC Instituto de Estudos Socioeconômico IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada IPH Índice de Pobreza Humana

LDB Lei de Diretrizes e Bases MAS Ministério da Assistência Social MEC Ministério da Educação e Cultura

MESA Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar e Nutricional MS Mato Grosso do Sul

MDS Ministério de Desenvolvimento Social ODM Objetivo do Desenvolvimento do Milênio OIT Organização Internacional do Trabalho ONGs Organizações não governamentais

(12)

ONU Organização das Nações Unidas

PAIF Programa de Atendimento Integrado à Família PBF Programa Bolsa Família

PIB Produto Interno Bruto

PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais PDE Plano de Desenvolvimento da Escola PNAA Programa Nacional de Acesso à Alimentação PNAIC Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa PPP Projeto Político Pedagógico

RCNEI Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indígenas

RH Recurso Humano

RTB Rede de Atenção Básica

RID Reserva Indígena de Dourados

SEMAS Secretaria Municipal de Assistência Social SEMED Secretaria Municipal de Educação de Dourados SENARC Secretaria Nacional de renda de Cidadania SPI Serviço de Proteção ao Índio

SUAS Sistema Único de Assistência Social SUS Sistema Único de Saúde

SECADI Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão

TI Terra Indígena

TR Transferência de Renda

UCDB Universidade Católica Dom Bosco

UEMS Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul UFGD Universidade Federal da Grande Dourados UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul UNIGRAN Centro Universitário da Grande Dourados UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

(13)

SUMÁRIO

Meus Caminhos! ... 14

INTRODUÇÃO ... 19

PRIMEIRO CAPÍTULO CAMINHO METODOLÓGICO ... 25

1 - Apresentação ... 25

1.1 - Revisão bibliográfica ... 25

1.2 - Os bancos de dados investigados ... 26

1.3 - Revisão bibliográfica na biblioteca do MDS ... 27

1.4 - Estágio atual da escolha metodológica: mostrando os caminhos das pedras ... 28

1.5 - Elementos teóricos e metodológicos ... 29

1.6 - Trabalho de campo ... 29

1.7 - Como iniciar? ... 31

1.8 - O cenário e os sujeitos da pesquisa ... 31

SEGUNDO CAPÍTULO FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA E PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA ... 40

2.1 - Sociedade dos Indivíduos e o Processo Civilizador ... 40

2.2 - Conceito de Civilização ... 42

2.3 - Regras como reguladoras para a sociedade ... 43

2.4 - Compreensão do conceito de Cultura ... 46

2.5 - Temática Programa Bolsa Família e desdobramentos ... 48

2.6 - Panorama Histórico e o Desenvolvimento do Programa Bolsa Família ... 51

2.7 - O Programa Bolsa Família como uma das Transferências de Renda ... 56

2.8 - As Condicionalidades do Programa Bolsa Família ... 57

2.8.1 - Condicionalidade da Assistência Social ... 59

2.8.2 - Condicionalidade da Saúde ... 60

2.8.3 - Condicionalidade da Frequência Escolar ... 61

TERCEIRO CAPÍTULO CONTEXTUALIZAÇÃO DA FIGURAÇÃO SOCIAL NA RESERVA INDÍGENA DOURADOS – RID ... 66

(14)

3.1 - Educação entre os Indígenas ... 69

3.2 - Histórico e contexto social guarani, kaiowá e terena ... 73

3.2.1 - Os Guarani e os Kaiowá ... 73

3.2.2 - Os Terena ... 75

3.3 - Zona de Pobreza e a interface com a Educação e Educação Indígena ... 77

3.4 - Marcos Legais: A especificidade da Educação Escolar Indígena ... 82

3.5 - Contextos dos marcos legais vinculados ao processo escolar ... 83

3.6 - Programas sociais e as especificidades indígenas na Educação ... 85

3.7 - Comunidades guarani, kaiowá e terena ... 88

3.8 - Figurações Sociais das Etnias da reserva Indígena de Dourados ... 89

QUARTO CAPÍTULO A CONDICIONALIDADE DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA EM ESCOLA INDÍGENA ... 94

4.1 - Interlocutores ... 95

4.2 - O contexto do PBF e a Condicionalidade da Educação ... 101

4.3 - A percepção das mães, coordenadora e professoras sobre o PBF e implicações da Condicionalidade da Frequência Escolar ... 108

4.3.a - A percepção das entrevistadas sobre o benefício do PBF na permanência dos estudantes indígenas na escola ... 108

4.3.b - A percepção da coordenadora e professora entrevistadas sobre qual o rendimento escolar dos alunos que recebem bolsa família ... 112

4.3.c - A percepção do/as entrevistado/as sobre a Frequência Escolar acerca da Tabela de Motivos Justificados e Injustificados do PBF ... 115

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 121

REFÊRENCIAS ... 126

SÍTIOS VISITADOS ... 133

APÊNDICES ... 135

(15)

APÊNDICES

Apêndice I - Solicitação de Consentimento da Pesquisa (Coordenador Técnico Local – RID)

... 135

Apêndice II - Solicitação de consentimento da pesquisa ... 136

Apêndice III- Termo de Consentimento Livre Esclarecido ... 137

Apêndice IV - Termo de Autorização para gravação de voz ... 138

Apêndice V - Termo de Consentimento Livre Esclarecido para a coordenadora ... 139

Apêndice VI - Termo de Consentimento Livre Esclarecido para as professoras ... 140

Apêndice VII - Termo de Consentimento Livre Esclarecido para o(a) responsável pelo(a) aluno(a) ... 141

Apêndice VIII - Termo de Consentimento Livre Esclarecido para o técnico da frequência escolar ... 142

Apêndice IX - Roteiro de entrevista para a Coordenadora participante da pesquisa ... 143

Apêndice X - Roteiro de entrevista para as professoras participantes da pesquisa ... 144

Apêndice XI - Roteiro de entrevista para o técnico da frequência escolar ... 145

Apêndice XII - Roteiro de entrevista para as mães participantes da pesquisa ... 146

(16)

MEUS CAMINHOS

O início da minha vida acadêmica aconteceu tardiamente em virtude da trajetória de vida que me foi posta. Apesar das muitas dificuldades, nunca deixei de acreditar na possibilidade de realizar meus sonhos. Entre tantos, ser bem sucedida nos estudos era um deles.

Em 2004, ingressei em um curso de Graduação após diversas tentativas no Processo Seletivo de Vestibular. Tentei entrar numa universidade pública, mas não foi possível. Em 2007, conclui o curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, com ênfase em Anos Iniciais do Ensino Fundamental e Gestão Escolar pelo Centro Universitário da Grande Dourados – UNIGRAN. Logo em seguida, ingressei e conclui o curso de especialização (Lato Sensu) em Mídias na Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul- UFMS.

Fatos vêm à memória. Quando pequena, morava em uma vila simples, na qual os caminhos eram muito difíceis. Para chegar até a escola era uma aventura, pois, na estrada, muitas vezes, acabava por encontrar animais peçonhentos. Nesse sentido, penso ser válido destacar algumas das várias questões que passam em minha mente: De onde vim? Por que fiz estas escolhas? Por que trilhei estes caminhos?

O conhecimento era algo que me inquietava. Por isso saí em busca dele, ciente dos obstáculos que precisava superar, desafiando meus próprios limites. Partindo desse pressuposto, saí em busca de superá-los.

Nesta perspectiva, passei a me identificar com algumas partes do filme “THE CROODS2”. Fazer a relação com o filme é não voltar para a caverna. É sair desse meio para conhecer novas possibilidades, quebrando paradigmas. A razão de tudo isso é seguir a luz, as mudanças de comportamento que fazem parte da transformação do ser humano. Rever atitudes, modos de pensar, formas diferentes de resolver determinadas situações, estar aberta a novas ideias e conhecimentos que nem sempre é uma tarefa fácil.

Para entrelaçarmos este texto, considero relevante que no contexto sejam contemplados alguns fatos, o período e o lugar que relato. Por isso, considero que sou filha

2 “Os Croods” conta a trajetória de uma família nuclear da Pré-história, que ficava dentro da caverna como forma de proteção em que o patriarca criava resistência de sair e buscar o novo, uma saída, pois foi educado com limites e essa mudança gerava conflitos emocionais. Em algumas situações era muito mais cômodo e seguro ficar onde estava, ou seja, na caverna.

(17)

desta terra, “Terra Vermelha3” e sul-mato-grossense. Minha trajetória de vida está intimamente imbricada na minha forma de pensar.

A escolha do curso de Pedagogia se deu por conta das possibilidades de atuação no mercado de trabalho. Inicialmente comecei a fazer minhas escolhas futuras. A ruptura foi abrupta. Deixei um trabalho que considerava seguro, para desempenhar a função de estagiária, com remuneração menor que um salário mínimo na Secretaria Municipal de Educação – SEMED. O encantamento pela área começou neste primeiro período de estágio.

No ano de 2006, fui nomeada para um cargo de comissão de Coordenadora de Serviços, no qual atuei desenvolvendo funções de contratação de estagiários, remoção e regulação dos serviços, entre outros. Tal função me proporcionou grandes conhecimentos de gestão pessoal, recursos humanos e funções afins.

Seguindo a trajetória profissional, me deparei com situações que, muitas vezes, exigiam de mim difíceis decisões. Mesmo com pouca experiência, passei a desempenhar funções de coordenadora de Recursos Humanos - RH e, muitas vezes, substituindo a superintendência de RH, ou seja, de chefia imediata em exercício. Tal fato ocorria devido às situações em que os servidores das funções se encontravam em afastamento.

Foi neste período que passei a entrar em contato com os indígenas do município de Dourados, pois tudo o que se tratava de recursos humanos passava por aquele setor, tais como: lotação, remoção, contratação, manutenção entre outros, inclusive a dos indígenas.

Minha trajetória profissional na área da Educação seguia outro curso, o que me fascinava, apesar do aprendizado oscilar constantemente.

Uma vez graduada, esse período de experiência profissional foi deveras marcante e permitiu que eu conhecesse as dificuldades interna e externa de uma Secretaria e ter conhecimento das dificuldades dos povos indígenas da RID. Tal momento serviu para meu crescimento profissional e pessoal.

Os anos tiveram seu curso normal até o período eleitoral de 2008, quando houve mudanças significativas na conjuntura política da cidade de Dourados em virtude da mudança política de gestão do município.

Com a interrupção dos trabalhos na SEMED, saí em busca de novo emprego. Em seguida, consegui lotação em um Centro de Educação Infantil Municipal- CEIM, onde fui desenvolver a função de professora da Educação Infantil no Pré Escolar e Maternal II. Era

3 “Dourados, terra vermelha, onde brilha a centelha, de quem não perde a esperança, este chão abençoado, deixa a todos um recado, quem espera sempre alcança!” Odila Schwingel Lange:

http://www.poetasdelmundo.com/detalle-poetas.php?id=2036. Acesso em 22/05/2015.

(18)

uma nova experiência, um novo desafio, pois precisei planejar muito para depois ensinar. Tal situação me fez encontrar meios mais precisos para poder transmitir o que havia aprendido nos momentos de universitária. Este período me reporta a parte principal do filme:

“Sobrevivência Num Mundo em Transformação4”, a transformação pessoal e profissional que me fez superar muitos desafios.

Os questionamentos deste período, na maioria das vezes, como professora da Educação Infantil, davam-se por conta de não querer ser cuidadora5, mas educadora. O que fazer diante deste cenário?

A grande dificuldade estava em desenvolver um aprendizado em uma sala com quantidade de alunos acima do permitido legalmente. Aprendemos na graduação que é necessário criarmos condições no processo de aprendizagem em sala de aula. Em meio às rememorações, os bons professores são identificados como aqueles que dominam o conhecimento a ser transmitido e, ao mesmo tempo, são amáveis, carinhosos e compreensivos para com todos.

No ano de 2011 fui convidada pela Secretária de Assistência Social, Ledi Ferla, a fazer parte do quadro de funcionários da Secretaria Municipal de Assistência Social – SEMAS, como técnica de referência da Frequência Escolar do PBF. Tal função me era totalmente desconhecida.

Iniciei estudando e conhecendo as leis que regiam o referido programa. Neste mesmo tempo, teria que lançar a frequência escolar do Programa Bolsa Família- PBF no sistema, haja vista que nenhuma escola tinha sido cadastrada no sistema frequência do Ministério da Educação- MEC.

A frequência escolar dos alunos é exigência para quem recebe o benefício PBF, como condicionalidade. O montante de frequências a ser lançado no sistema/presença era exorbitante. Constavam no sistema, aproximadamente, 12.000 (doze mil) alunos cadastrados das redes: municipal, estadual, particular e CEIMs.

Nesse período, muitas famílias estavam com seus benefícios bloqueados, pois a frequência escolar é um requisito para obtenção da Transferência de Renda do PBF, sendo a contrapartida das famílias manterem seus filhos na escola. Esses fatos chamaram a minha atenção.

4 O filme conta a história de uma família nuclear da Pré-história, essa família fica dentro da caverna como forma de proteção, e o patriarca cria resistência de sair e buscar o novo ou buscar uma saída, pois ele foi educado com limites e essa mudança gera conflitos emocionais. Para o patriarca da família era muito conveniente e seguro ficar onde estava. O filme mostra que as buscas são necessárias para alcançarmos nossos objetivos.

5 No sentido de cuidar a criança. Para assistir na íntegra, acessar o Portal da educação https://www.youtube.com/watch?v=nvQPC74vLnQ. Acesso em 02/05/2015.

(19)

Com essa inquietação saí em busca de respostas. Foi elaborada uma pequena lista com o nome das famílias, cujos filhos estariam matriculados em unidades escolares.

Posteriormente, verificamos a real situação desses alunos nas unidades escolares. Como resultado dessa busca constava a baixa frequência dos alunos que estavam inseridos no programa.

No decorrer das investigações sobre o porquê das baixas frequências, foram surgindo novas situações. Naquele momento, a escola não sabia explicar, haja vista que a unidade escolar teria conhecimento somente para o lançamento das frequências manuscritas, isto é, as unidades escolares não eram cadastradas no sistema6. O lançamento da frequência escolar do PBF era transcrito para uma planilha que o técnico responsável havia deixado nas escolas.

No decorrer do período se deu o rompimento de algumas normas na frequência escolar. O registro desta nem sempre era feito corretamente pelas unidades escolares. As mães se apresentavam dizendo que seus filhos iam constantemente para escola e elas não sabiam por que estavam constando as faltas no sistema do programa. Verificando tal situação familiar no sistema do cadastro único, para minha surpresa, muitas vezes as unidades escolares lançavam erroneamente a frequência escolar de seus alunos. Tal procedimento causava o retrabalho.

Mas a situação de surpresa maior foi o caso de uma família indígena que tinha uma criança que se encontrava matriculada na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais- APAE, cujo benefício estava cortado, embora já houvesse a prática das visitas domiciliares.

Neste momento, o coordenador me chamou a atenção, por que ia tanto para a reserva indígena? Até brincou: “quer achar a técnica da frequência escolar do PBF, vai à reserva indígena”.

Relatar este caso talvez seja o mais triste da minha trajetória, enquanto profissional do programa. Fui até APAE, conversei com a técnica que atendia o aluno e expliquei a situação em que se encontrava aquela família. Passamos, então, a fazer um estudo de caso, visitamos a casa da família na Aldeia Bororó.

A família deste aluno encontrava-se em situação subumana. Tal situação desconfortante levou-me a lembranças vividas de extrema pobreza. A mãe da criança era cega e tinha mais filhos. A avó idosa encontrava-se doente e os filhos também tinham filhos, e o padrasto era o único que estava bem, mas não podia trabalhar, pois tinha que ficar em casa

6 O sistema frequenciaescolarpbf.mec.gov.br é o sítio onde são lançadas as frequências dos alunos matriculados na escola vinculados ao Programa Bolsa Família.

(20)

para cuidar dos demais. A família se encontrava em situação de total vulnerabilidade e risco social. Naquele momento, a composição familiar era de 19 (dezenove) pessoas.

Como poderia entender esta situação se não estivesse ido em busca de resposta? Qual seria a melhor maneira de lidar com isso?

Arrisco-me a dizer que essa experiência chamou muito a minha atenção pois, uma coisa é conhecer a realidade dos povos indígenas por meio dos livros e artigos e, outra coisa é perceber pessoalmente a negligência e o descaso com esses povos. A pesquisa contribuiu sobre maneira em minha formação acadêmica e profissional, pois atualmente me sinto melhor qualificada para exercer um cargo nesta área.

Meu interesse nesse tema de pesquisa ficou ainda mais evidente ao cursar, como aluna especial do Mestrado em Educação da Universidade Federal da Grande Dourados– UFGD, no ano de 2013, a disciplina “Metodologia de Pesquisa em Estudos Culturais”, ministrada pela Profª Drª Maria Beatriz Rocha Ferreira. Nessa disciplina tivemos contato com professores e alunos regulares de mestrados e alguns autores clássicos como: Hall (2003), Elias (2000), Silva (2010) entres outros, que foram fundamentais para que eu delimitasse o problema investigado neste estudo.

Já como pesquisadora, o estudo em Educação e Diversidade traz à cena, mais uma vez, discussões relevantes sobre várias temáticas. O meu interesse por esse tema de pesquisa ficou ainda mais evidente ao cursar a disciplina como aluna especial.

A partir das experiências expressas decidimos pesquisar sobre a temática Programa Bolsa Família e condicionalidades. A escola municipal indígena escolhida foi a Tengatui Marangatu, da Reserva Indígena de Dourados – RID. As minhas indagações serão mais exploradas no decorrer do trabalho, levando em consideração o posicionamento crítico dos atores que fazem parte do processo educativo: coordenadora, professoras e as mães dos alunos pesquisados.

(21)

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, as ações do governo Federal no campo das políticas públicas sociais estão voltadas a, num cenário de (re) estruturação da sociedade brasileira em decorrência do aumento do desemprego e pobreza em diferentes regiões, situações em que o Estado brasileiro se vê impulsionado a desenvolver programas sociais voltados para o combate à fome e à pobreza. É no esteio desse processo que se verifica, desde os anos 1990, experiências de implementação de programas de transferência de renda dirigidos à população das classes menos favorecidas.

Em outubro de 2003, o Governo Federal cria o PBF que tem como objetivo central instituir um programa nacional de transferência condicionada de renda às famílias pobres, pautado notadamente na gestão descentralizada e intersetorial.

O PBF exige das famílias beneficiadas o cumprimento das chamadas condicionalidades, sendo elas: Condicionalidade da Saúde, da Educação e da Assistência Social, trazendo a obrigatoriedade de inserção de crianças, adolescentes, gestantes e nutrizes em determinados programas de saúde e de crianças e adolescentes na escola.

A escola é uma instituição na qual as famílias têm o dever de matricular seus filhos.

Tais normas constitucionais encontram-se no Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA/90, que aos pais, como “titulares do pátrio poder, compete-lhes, quanto à pessoa dos filhos, dirigirem-lhes a criação e educação” (art. 22), afirma aos mesmos a incumbência e o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores.

O desenho da Transferência de Renda do PBF tem suscitado inúmeras indagações no que se refere às condicionalidades. Uma delas é questionar a exigência de cumprimento, condição e regras para as famílias que estão em situação de extrema pobreza. Deveria haver algumas especificidades nas condicionalidades para as famílias indígenas? As regras da Transferência de Renda PBF violam os direitos garantidos na Constituição Federal?

A pesquisadora Oliveira (2011) discute sobre a frequência escolar e a condicionalidade na área da educação, a execução sistematizada da frequência escolar é considerada um sucesso com seus parceiros intersetoriais. Para a autora, a educação é um instrumento fundamental para a construção de um país e nas decisões de cada ser humano. Ela é, acima de tudo, essencial ao desenvolvimento humano em sentido amplo, mas se confunde com o processo de expansão da liberdade. O termo desenvolvimento humano deveria ser mais contextualizado pela autora, visto que o básico é negado a alguns povos indígenas, como o

(22)

direito a terra, à etnoeducação, à saúde indígena, enfim programas para atender as especificidades das culturas.

Conforme mencionado na contextualização dessa pesquisa, o PBF mantém a vinculação com a educação, no entanto, o MEC se responsabilizou em acompanhar os alunos que são beneficiários somente pela frequência na escola. Com isto, ao invés de termos uma política educacional desenvolvida socialmente entre os estudantes mais pobres, tivemos, a partir desse momento histórico, uma política pública social, cuja exigência na área da educação ficou muito restrita, ou seja, alguns dos objetivos do PBF ficaram de forma subjetiva no que diz respeito aos avanços educacionais dos beneficiários.

As condicionalidades do programa são a contrapartida mais cobrada. Na verdade, é um dever constitucional que toda família deve cumprir, conforme as linhas expressas pela Constituição Federal, que estabelecem que a educação é “dever do Estado e da família” e que o Ensino Fundamental é obrigatório (BRASIL, 1988). Vale ressaltar que, nem sempre, a família e o estado assumem seu papel na vida dos alunos, mesmo com esses conjuntos de direitos e deveres previstos na legislação brasileira.

As orientações das políticas gerais não atendem muitas vezes as especificidades das questões indígenas, o que ocasionam contradições. Por um lado, os direitos específicos desses povos estão garantidos em leis expressas como na Constituição Federal de 1988, RCNEI (1998), leis complementares, entre outros. Estas reconhecem que os povos indígenas possuem organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, que se expressam em suas línguas maternas e possuem processos próprios de aprendizagem. Além disso, reconhecem seus direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam. Esses direitos têm natureza coletiva, comunitária (Capítulo VIII - Dos Índios, artigos 231 e 232). Por outro lado, o que podemos perceber, na realidade, as dificuldades das famílias indígenas se incluírem nas obrigações exigidas pelos programas.

Isso está posto também no campo da educação, principalmente nas escolas indígenas, uma vez que os conteúdos veiculados, em grande parte, são da escola urbana e não atendem as especificidades das culturas indígenas. A prática da interculturalidade é um desafio a ser superado, desde as interpretações das leis à prática cotidiana nas escolas indígenas.

No que se refere à temática das políticas públicas com ações sobre as especificidades dos povos indígenas que tenham o benefício do PBF, dois modelos de cadastramento foram testados visando o atendimento emergencial das solicitações específicas de duas etnias consideradas como de alto grau de vulnerabilidade social: Os Guarani de Dourados, no Mato Grosso do Sul, e os Xavante, de Campinápolis, no Mato Grosso. O compromisso do MDS em

(23)

realizar o cadastramento das famílias indígenas dessas etnias considerou como referência os critérios de insegurança alimentar levantados pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) em 1995. Diante da situação acima mencionada as leituras nos apontam que “não há”

publicações específicas sobre as “condicionalidades” do PBF para as comunidades indígenas.

Porém, os estudos me permitiram aproximações significativas com a temática.

As reflexões trazidas até aqui, motivou ainda mais o estudo em descrever as condicionalidades da frequência escolar do PBF e suas implicações em âmbito educacional.

Considerando os objetivos do nosso estudo, a educação é vista como uma das políticas públicas indispensáveis para o desenvolvimento do ser humano, embora em alguns processos tomem diferentes direções. Desta forma, entendemos que para que tenha impacto positivo na vida dos estudantes e na sociedade em geral, precisa estar articulada com outras políticas sociais e o PBF pode ter contribuído para dar um mínimo de amparo para as famílias e incentivo para as crianças frequentarem as escolas (BRASIL, 2004).

Entretanto, a temática estudada nos motiva para a continuidade de nossos estudos e ainda a perceber que existe a necessidade de pesquisas para acompanhamento deste programa junto às escolas, pesquisas sobre a aprendizagem e dificuldades dos alunos, entre outras.

Enfim, questões relacionadas à educação para populações que estão em situação de vulnerabilidade e risco social.

Além da legislação nacional, outro instrumento importante para a garantia dos direitos indígenas é a Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Esta define como povos indígenas aqueles que, contando com uma continuidade histórica das sociedades anteriores à colonização que foi desenvolvida em seus territórios, consideram a si mesmos distintos de outros setores da sociedade e estão decididos a conservar, a desenvolver e a transmitir às gerações futuras seus territórios ancestrais e sua identidade étnica, como base de sua existência continuada como povos, em conformidade com seus próprios padrões culturais, as instituições sociais, econômicas, políticas e os sistemas jurídicos. Para garantia destes direitos são vários os órgãos que buscam desenvolver ações em conjunto, tais como:

Fundação Nacional do Índio - FUNAI, Fundação Nacional da Saúde - FUNASA, Ministério de Educação - MEC e, por fim, o Ministério de Desenvolvimento Social - MDS. Desta forma o MDS7, responde e explica, em linhas gerais, por que cadastrar famílias indígenas:

Os direitos específicos dos povos indígenas são o reconhecimento das histórias e da diversidade desses povos, que devem ser respeitadas e garantidas por toda a sociedade brasileira. Muitas famílias indígenas passam por situações de insegurança

7 Encontra-se o texto na íntegra no sítio do www.mds.gov.br).

(24)

alimentar e nutricional e vulnerabilidade social que tem suas origens no passado colonial da sociedade brasileira. Superar esse quadro exige a participação direta do Estado brasileiro, por meio da colaboração entre Governo Federal, os governos Estaduais e municipais e a sociedade civil organizada. (www.mds.gov.br).

Entretanto, a implementação destas políticas por vezes apresentam papeis confusos. A FUNAI, por exemplo, antes da reestruturação pós CF era responsável por todos os serviços direcionados as populações indígenas, incluindo a saúde e a educação.

Com o tempo, muitas destas responsabilidades foram sendo transferidas para outros setores do governo. A questão da saúde, por exemplo, vai para a Secretaria Especial de Saúde Indígena - SESAI. Não vamos aprofundar essa questão por não ser o foco de nossa investigação.

No campo da Educação, a publicação do Decreto da Presidência da República nº 26/91, retirou da entidade as funções relativas à educação formal transferindo para o Ministério da Educação e Cultura – MEC, a responsabilidade pela coordenação das iniciativas educacionais e aos estados e municípios a responsabilidade pela execução das ações de Educação Escolar Indígena. No entanto, apesar de não ser mais responsável diretamente pela educação formal, a tradição assistencialista do órgão permanece por meio de tímidas ações e investimentos para o acesso e permanência de estudantes indígenas nos centros urbanos, através da parceria com outras entidades educacionais.

Portanto, subentende-se que a FUNAI possui orçamentos desenvolvendo ações paliativas em vários setores sociais da/na questão indígena, causando confusões no papel do próprio órgão indigenista em detrimento de outras ações, dificultando ainda mais o desenvolvimento das políticas públicas no setor.

As políticas públicas sociais do Governo Federal deveriam, ainda que paulatinamente, ter um “olhar especial” e rever as especificidades dos povos indígenas nas normativas do PBF, especificamente nas condicionalidades escolares, visto que, o PBF objetiva oferecer melhores condições de vida às pessoas que estão em situação de vulnerabilidade e risco social.

O presente trabalho tem como objetivo geral estudar o Programa Bolsa Família - PBF e as especificidades das condicionalidades da frequência escolar, considerando a realidade e o contexto de crianças indígenas, guarani kaiowá, guarani ñandéva8 e terena da Escola Municipal Indígena Tengatui Marangatu.

8 A partir deste tópico refiro-me aos Guarani Ñandéva como “Guarani” e aos Guarani Kaiowá como “Kaiowá”.

(25)

Como objetivos específicos elencamos: a) descrever a política de transferência de renda, mais especificamente o PBF e as ações em andamento da Secretaria Municipal de Educação de Dourados– SEMED relativas à Escola Municipal Indígena Tengatui Marangatu;

b) conhecer as contribuições e/ou limitações do PBF e suas condicionalidades na escolaridade dos alunos indígenas; c) conhecer a percepção das mães indígenas sobre as condicionalidades relacionadas ao PBF e as implicações na escolaridade dos filhos.

O trabalho tem como fundamento a teoria figuracional de Norbet Elias (1993, 1994, 2000, 2011), os teóricos dos estudos culturais como Stuart Hall (2006, 2010), Bhabha (2010) e os pesquisadores das etnias Guarani, Kaiowá e Terena, Pereira (2004, 2005, 2011, 2014), entre outros.

O trabalho está dividido em quatro capítulos. O primeiro capítulo intitulado “O Caminho Metodológico”, apresento os caminhos investigativos no intuito de atender melhor a temática supracitada, com base em levantamento bibliográfico acerca das produções acadêmicas delineando passos tomados para definir os instrumentos de pesquisa e a análise dos dados, com a perspectiva metodológica de estudo de caso, investigando questões afetas à dinâmica de atuação da condicionalidade escolar do PBF em escola indígena. Este capítulo antecede aos pressupostos teóricos por entender que o método abarca tanto a fundamentação teórica como o trabalho de campo.

No segundo capítulo intitulado “Pressupostos teóricos”, apresento os conceitos teóricos essenciais para as discussões e reflexões teóricas, tais como: Sociedade9 e indivíduo, as regras como condicionantes e o processo civilizador. Fundamentamos da Teoria Figuracional, de Norbert Elias, e, ainda, contamos com apoio de estudos para a apresentação do contexto histórico PBF e seus desdobramentos. Este programa foi desenvolvido pelo governo brasileiro com o objetivo de contribuir para a superação da exclusão social, proporcionando uma renda mínima para as famílias para que não dependessem do trabalho dos filhos para a sua sobrevivência e terem acesso à escola. Compreender estes conceitos foi determinante para o entendimento sobre as políticas sociais, econômicas e educacionais.

No terceiro capítulo apresento o contexto histórico e social das três etnias que vivem na Reserva de Dourados, em Mato Grosso do Sul, indígenas guarani, kaiowá e terena.

9 Antes da Segunda Guerra Mundial, o conceito de sociedade costumava referir-se, implicitamente, às sociedades organizadas como Estados, ou talvez como tribos. Como um legado de sua tradição, os sociólogos guardavam consigo a ideia de que a sociedade e o Estado eram dois objetos muito diferentes da investigação erudita. Para levar em conta o fato de que a imagem da experiência associada ao conceito de “sociedade” implicava algumas fronteiras da sociedade, alguns sociólogos falavam em sociedade como um todo, ou como um sistema. Desse modo, contornavam a incômoda necessidade de admitir que as fronteiras de uma sociedade em relação a outras geralmente coincidam com as fronteiras de Estados ou tribos (ELIAS, 1994, p. 134).

(26)

Apresento ainda neste capítulo a zona de pobreza com base nos dados do IBGE de 2010, os marcos legais das especificidades indígenas e, também os marcos legais vinculados à educação.

O quarto capítulo mostra os resultados e análises dos dados coletados por meio das entrevistas com a coordenação, professoras e mães. As entrevistas realizadas tiveram contribuições pontuais que nortearam o desenvolvimento da pesquisa com a percepção da condicionalidade da frequência escolar do PBF.

Por fim, apresento minhas considerações finais esperando que os resultados desta pesquisa colaborem para que novos olhares sejam lançados sobre as especificidades da frequência escolar do PBF.

(27)

PRIMEIRO CAPÍTULO

O CAMINHO METODOLÓGICO

1. Apresentação

Este capítulo trata do caminho metodológico percorrido nesta pesquisa. As fases desenvolvidas não foram lineares, pois as informações se cruzaram durante o processo, a saber: revisão bibliográfica, definição do referencial teórico e elaboração do formulário de entrevista, desenvolvimento do trabalho de campo, organização das informações obtidas e análise dos resultados da pesquisa. Para o levantamento bibliográfico acerca das produções acadêmicas sobre a temática, foram utilizados os bancos de dados referidos: Portal Capes - Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD); Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade Federal da Grande Dourados (BDTD – UFGD) e sítio do MDS.

1.1 Revisão Bibliográfica

O levantamento das produções científicas e técnicas foi realizado nos últimos 11 (onze) anos, quando se iniciou a discussão sobre o PBF. Neste levantamento incluíram-se todas as publicações de teses, dissertações, textos científicos e técnicos e resumos que estavam disponíveis no sistema virtual.

Para tal procedimento buscou-se no Portal Capes - Banco de Teses e Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes); Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD); Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da Universidade Federal da Grande Dourados (BDTD – UFGD) e sítio do Ministério de Desenvolvimento Social- MDS.

A proposta desta pesquisa tornou-se desafiadora, pois se debruça em aspectos relevantes sobre a temática PBF e, Escola e Crianças Indígenas.

O Estado da Arte motivou e aprofundou a percepção e o conhecimento da pesquisadora sobre a temática, podendo assim, tentar responder de que forma, e, em que

(28)

locais e temas da produção do conhecimento está inserido. Desta forma, o estado da arte pode significar uma contribuição importante na,

Constituição do campo teórico de uma área de conhecimento, pois procura identificar os aportes significativos da construção da teoria e prática pedagógica, apontar as restrições sobre o campo em que se move a pesquisa, as suas lacunas de disseminação, identificar experiências inovadoras investigadas que apontem alternativas de solução para os problemas da prática e reconhecer as contribuições da pesquisa na constituição de propostas na área focalizada (ROMANOWSKI1 &

ENS, 2006, p. 39).

A busca dos estudos deu-se por meio de palavras-chave e descritores. Após leituras detalhadas, os resumos foram lançados em planilha Excel e os resultados, descritos em gráficos e quadros, para consultas posteriores. Os descritores utilizados foram organizados por assuntos combinados.

1 - “Programa Bolsa Família e as Condicionalidades da Frequência Escolar”;

2 - “Programa Bolsa Família e Crianças Indígenas”;

3 - “Criança Indígena e Escola”;

4 - “Condicionalidade do Programa Bolsa Família na Educação”;

5 - “Especificidade Indígena e a Condicionalidade do Programa Bolsa Família”.

Também foram incluídos no “Estado da Arte” ou “do Conhecimento”, os artigos disponíveis na biblioteca do MDS.

1.2 Os Bancos de Dados Investigados

Os primeiros trabalhos localizados totalizaram 524 (quinhentos e vinte e quatro), sendo referentes a teses de doutorado e dissertações de mestrado, voltadas para os temas PBF, Condicionalidade do programa na Educação, Crianças Indígenas e Escolas. Após leituras detalhadas dos resumos foram selecionados um total de 73 trabalhos. Destes, após uma releitura mais detalhada dos resumos, foi possível organizar os trabalhos da seguinte forma:

14 (quatorze) dissertações referentes ao contexto histórico indígena, 11(onze) sobre o tema PBF, 05 (cinco) sobre a temática Condicionalidades do PBF na escola, 08 (oito) teses que se referem à criança indígena regional, e, por fim, 25 (vinte e cinco) artigos e 10 (dez) resenhas relacionados com a relevância das temáticas.

(29)

FIGURA 1 - Revisão Bibliográfica no Banco de Dados da CAPES - BDTD e BDTD/UFGD.

Fonte: Elaborado pela autora.

Com as inquietações sobre o tema da nossa pesquisa, continuamos à busca com descritores que poderiam qualiquantificar e nortear o tema referido. A busca deu-se no sítio do MDS.

1.3 Revisão Bibliográfica na Biblioteca do MDS

No sítio do MDS, havia inúmeros textos dos mais diversos temas, local onde foram encontrados cadernos de pesquisas para estudos, livros, coletânea, textos sobre a educação permanente, entre outros, conforme mostra os Quadros 1 e 2.

QUADRO 1- Base de Dados da Biblioteca do MDS, Junho 2015

Caderno de Pesquisa* Quantidade

PBF 1

Produção/Renda 1

Avaliação do MDS e avanços 6

Programa cisterna: Um estudo sobre a demanda, cobertura e focalização

1

Quilombola 2

Programa da saúde, condição de vida, saúde, nutrição 8

Desenho, gráficos 1

Erradicação da Pobreza 1

Inclusão Produtiva 1

Educação: Agente Jovem 1

(30)

Povos Indígenas, ações e desenvolvimento 1

Assistência Social: benefícios eventuais 1

The state of food and nutrition security in Brazil- 2011, 2012, 2013, 2014

1 Brazilian Desenvolviment Indicatives, 2013, 2014 1 Censo Suas: Perfil, cadastro único e mapeamento 1

Fonte: Elaborado pela autora, *cada caderno contempla de 4 a 6 artigos referentes ao tema.

QUADRO 2 - Demais Publicações

Relatório do Estado de Segurança Alimentar e Nutrição Brasil 2013 e 2014 Acompanhamento

ODM - Objetivo do Desenvolvimento do Milênio

ODM-1

- Saúde

- Pobreza extrema infantil - Pobreza extrema urbana

- Dez anos do programa de aquisição de alimentos da agricultura familiar

ODM- 2

- Universalizar a educação primária

- Índice de desenvolvimento da educação básica - Investimento público do direito à educação ODM-3

- Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres e conquistas recentes das trabalhadoras domésticas

ODM-4

- Reduzir a mortalidade na infância - A importância do alimento materno

- Atenção básica e transferência de renda no combate à mortalidade infantil

- Atenção à saúde Indígena ODM-5 - Melhorar a saúde materna

ODM-6 - Combate ao HIV/AIDS, às malárias, entre outras.

ODM-7 - Sustentabilidade ambiental

ODM-8 - Estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento

Fonte: Elaborado pela autora, com dados coletados no sítio do MDS. *Optou-se por fazer separado por tratar-se de temática que envolve a área social.

As perspectivas nos estudos selecionados aumentam as possibilidades e diversidades das áreas de conhecimento, o que pode contribuir na visão ampla e significativa da temática.

1.4 Estágio Atual da Escolha Metodológica: mostrando os caminhos das pedras

Buscar aproximação de determinada realidade, como se fosse possível apresentar a pura verdade. Neste contexto nos apropriamos das ideias de Chauí (2000).

[...] não espera que seu trabalho apresente a realidade em si mesma, mas ofereça estruturas e modelos de funcionamento da realidade, explicando os fenômenos observados. [...] Não espera, portanto, apresentar uma verdade absoluta e sim

(31)

uma verdade aproximada que pode ser corrigida, modificada, abandonada por outra mais adequada aos fenômenos (CHAUÍ, 2000, p. 321).

As temáticas foram organizadas em fichamentos, o que contribuiu para alargar a compreensão do conhecimento e enriquecer a pesquisa no âmbito da educação.

1.5 Elementos Teóricos e Metodológicos

Para o desenvolvimento desta pesquisa, escolhemos alguns conceitos essenciais tais como: Sociedades e indivíduo, as regras como condicionantes e o processo civilizador.

Compreender estes conceitos foi determinante para o entendimento sobre as políticas sociais, econômicas e educacionais que serão tratadas no capítulo II.

1.6 Trabalho de Campo

A presente pesquisa se configura na categoria descritiva e analítica, caracterizada como um estudo de caso. Lüdke e Andre, (1986, p. 44) destacam que o interesse do pesquisador recai sobre a vida de uma instituição, e “a elaboração de um estudo de caso apresenta, pelo fato de ser o estudo de um fenômeno bem delimitado, algumas particularidades, dentre elas, o cuidado especial que se deve ter com as conduções generalizadoras”. O estudo de caso, por ser sempre bem delimitado, apresenta características fundamentais que são destacadas pelas autoras mencionadas.

Os estudos de caso visam à descoberta, a ‘interpretação em contexto’, buscam retratar a realidade de forma completa e profunda, variedade de fontes de informação, revelam experiência vicária e permitem generalizações naturalísticas, procuram representar os diferentes e às vezes conflitantes pontos de vista presentes numa situação social, e por fim os relatos de estudo de caso utilizam uma linguagem e uma forma mais acessível do que os outros relatórios de pesquisa (Lüdke; André, 1986, p. 45).

Como a pesquisa se caracteriza como estudo de caso, nela ocorre o que André (1986) defende quando diz que todo começo, apesar de ter toda essa preocupação com o estudo, não tem a intenção de predeterminar nenhum posicionamento, pelo contrário, o interesse vai ser de explicitar, reformular ou até mesmo abandonar alguma questão inicial. Nessa mesma linha, citando Locke, Chauí (2000) propõe,

(32)

[...] analisar cada uma das formas de conhecimento que possuímos, a origem de nossas idéias e nossos discursos, a finalidade das teorias e as capacidades do sujeito cognoscente relacionadas com os objetos que ele pode conhecer. Seguindo a trilha que fora aberta por Aristóteles, Locke também distingue graus de conhecimento, começando pelas sensações até chegar ao pensamento (p. 155).

As entrevistas são importantes para que o pesquisador obtenha informações que provavelmente os entrevistados possuem. Sobre isto, Oliveira (2007) destaca que as entrevistas semiestruturadas ficam entre os extremos das outras já descritas. Há o momento das perguntas anteriormente determinadas, podendo ser as respostas relativamente livres.

Nesta pesquisa optou-se pela entrevista semiestruturada como procedimento metodológico, por se tratar de um recurso propício no contato direto com os interlocutores.

Essa entrevista tem como característica fazer questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa.

Para Lüdke e André (1986), a técnica de entrevista que mais se adapta aos estudos do ambiente educacional é a que apresenta um esquema mais livre, já que esse instrumento permite mais flexibilidade no momento de entrevistar os interlocutores.

Assim, sem desconsiderar as etapas anteriores de análises, neste ensaio metodológico faz-se necessário conhecer os interlocutores desta pesquisa, por meio da organização dos dados [entrevistas], e a técnica de análise de conteúdo.

A análise de conteúdo, neste cenário, [...] emerge como técnica que se propõe à apreensão de uma “realidade visível, mas também uma realidade invisível, que pode se manifestar apenas nas ‘entrelinhas’ do texto, com vários significados” (CAVALCANTE, CALIXTO; PINHEIRO, 2014, p. 6).

A fundamentação teórica dos autores e da documentação sobre PBF fazem parte do caminho metodológico, uma vez que abriram os caminhos para o trabalho de campo. As categorias para a apreensão e as análises das informações obtidas no trabalho de campo foram classificadas em grandes categorias e subdividida conforme segue:

a . informações dos atores pesquisados - [dados gerais e pessoais, função e etnia], b. o contexto do PBF e a condicionalidade da educação,

c. a percepção das professoras, mães e coordenação sobre o PBF e a condicionalidade da frequência escolar.

As informações em específicos estão nas seguintes subcategorias: i) coordenadora e professores [benefícios da bolsa família, conhecimento e opinião sobre as condicionalidades, motivos utilizados pelos pais, avanços na aprendizagem da criança, limitações e abrangências das condicionalidades. ii) técnico da unidade escolar: numero de crianças cadastradas, tempo

(33)

de lançamento da frequência escolar, como a frequência escolar chega no técnico, acompanhamento da escola pela bolsa família, opinião da condicionalidade na educação. iii) Mães: opinião sobre a escola do(s) seu/a(s) filho/a(s), benefício da bolsa família para a permanência da criança na escola, conhecimento sobre condicionalidades e tabelas de motivos justificáveis e não justificáveis.

1.7 Como Iniciar?

Desde o início desse curso de Mestrado em Educação na Universidade Federal da Grande Dourados surgiram preocupações sobre quais seriam os rumos da nossa investigação.

Como, em sua maioria, o trabalho científico requer estudos e buscas, optamos por fazer visitas às escolas indígenas da RID.

Os primeiros contatos ocorreram de maneira tranquila, pois já havia realizado contato anterior com os povos indígenas da RID, por ter desenvolvido ações sociais com aquela comunidade, na ocasião em que era técnica da frequência escolar pelo PBF em Dourados. Em visitas posteriores um dos objetivos era a escolha da unidade escolar em que iríamos desenvolver a pesquisa.

Optamos pela unidade escolar denominada “Escola Municipal Indígena Tengatui Marangatu”. A seleção desta se deu por ser uma unidade escolar indígena que tem o maior número de alunos matriculados, o que dá uma maior visibilidade para o objetivo do nosso estudo, visto ter ali, potencialmente, o maior número de alunos beneficiários do PBF.

Após explanação da pesquisa para o diretor e coordenadoras pedagógicas da unidade em questão, buscamos seguir com as providências regulares da UFGD: Emissão de documentos de autorização para a realização da pesquisa; Solicitação de Consentimento da Pesquisa (Apêndice I) bem como o consentimento da assinatura dos interlocutores envolvidos; Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice II) e o Termo de Autorização de Gravação de Voz (Apêndice III). Estes documentos são requisitos do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal da Grande Dourados, MS.

Tais procedimentos foram necessários por questões éticas da pesquisadora com os(as) interlocutores(as) da pesquisa, formalizações estas exigidas pelo Conselho de Ética do Programa de Pós-Graduação em Educação.

1.8 O Cenário e os Sujeitos da Pesquisa

(34)

A pesquisa realizou-se na Escola Municipal Indígena Tengatui Marangatu - Pólo, situada na Reserva Indígena de Dourados, aldeia Jaguapiru. A unidade escolar em questão atende alunos indígenas das etnias guarani, kaiowa e terena, residentes nas aldeias indígenas Jaguapiru e Bororó. A unidade é bem ampla, possui 17 salas de aula e atendia naquele momento 824 alunos10 na Educação Infantil e anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, ou seja, da pré-escola ao 8º ano.

Para se ter uma visão geral da escola, classificamos os alunos pelo ano escolar, etnia e desempenho escolar. Os quadros abaixo mostram dados importantes para se conhecer a população usuária do PBF.

O quadro 3 apresenta o número de alunos por período e ano escolar. O quadro 4 apresenta o número de alunos nas salas de extensão. A escola, além da unidade Pólo, possui 3 (três) extensões escolares situadas em áreas indígenas: a extensão Yverá fica distante, aproximadamente, 3 km (três quilômetros) da Escola Pólo; a Sala Marangatu e Tekoha Porã Arapoty um pouco mais longe. A escola Pólo atende os alunos com base em um Ensino Diferenciado e Multisseriado, conforme explicitado no seu Projeto Político Pedagógico - PPP.

Quadro 3 – Número de alunos da Escola Municipal Indígena Tengatui Marangatu Tengatui Marangatu – Dados de alunos do primeiro semestre de 2015

Turmas Anos

Período /Matutino/

Quantidade

Período/Vespertino/ Quantidade Tota l

PRE A = 19 PRE C = 19

PRE B = 18 1 C = 33

1º A = 22 2º C = 31

1º B = 25 3º C = 30

2 A = 30 3º D = 32

2 B = 33 4º B = 36

3º A = 35 4 C = 35

3º B = 33 5º C = 37

4º A = 35 6º B = 36

5º A = 30 6º C = 35

10 Os dados de infraestrutura e matrículas apresentadas representam a realidade informada pela Rede de Ensino e suas escolas no Censo Escolar 2013, oficializados pelo MEC. Os dados estão disponibilizados no site:

http://www.qedu.org.br/escola/256217. Acesso em 03/11/2013.

Referências

Documentos relacionados

porque essa relação da psicologia com a Justiça, que tá lá no pessoal como Foucault, pessoal da desconstrução, é toda uma forma de relação com o

(Bolsistas do PET podem acumular bolsa com outros programas. Caso já seja bolsista, antes de inscrever-se, deve verificar se o Programa ao qual está vinculado dá

Embora a comparação da frequência da presença do parasita entre os grupos 2, 3, 4 e 5 não tenha obtido diferença significativa, a pequena frequência de cães positivos com

O objetivo geral da pesquisa consiste em analisar a expansão da pós-graduação stricto sensu nas universidades federais sul-mato-grossenses no contexto das políticas

Este trabalho apresenta pesquisa sobre como se manifestam e são incorporadas, em âmbito curricular a partir do Projeto Político Pedagógico, as questões da

Depois de uma noite agradável com conversas, risadas e discussões sobre universidades e como não poderia de ser, também sobre política, seguimos para a casa do meu irmão, porque

localidades, considerando-se as suas singularidades e as práticas ali exercidas, é possível compreender a forma como o mesmo modelo de.. escola foi implantado nos mais

Para o seu desenvolvimento contemplou-se diferentes procedimentos de coleta de dados, como a análise de documentos e diretrizes nacionais e internacionais sobre a educação