• Nenhum resultado encontrado

Os espaços públicos como interface para o envelhecimento pessoal

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Os espaços públicos como interface para o envelhecimento pessoal "

Copied!
157
0
0

Texto

(1)

ANDRÉA HOLZ PFUTZENREUTER

V IVER A C IDADE , E NVELHECER NA C IDADE .

Os espaços públicos como interface para o envelhecimento pessoal

São Paulo

2014

(2)

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

ANDRÉA HOLZ PFUTZENREUTER

V IVER A C IDADE , E NVELHECER NA C IDADE .

Os espaços públicos como interface para o envelhecimento pessoal

Tese apresentada a Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Arquitetura e Urbanismo.

Orientadora: Profª. Drª. Angélica A. Tanus Benatti Alvim

São Paulo

2014

(3)

P531vPfützenreuter, Andréa Holz

Viver a cidade, envelhecer na cidade: os espaços públicos como interface para o envelhecimento pessoal./ Andréa Holz Pfützenreuter – 2014.

157f. : il. ; 30cm.

Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2014.

Bibliografia: f. 143-147.

1. Envelhecimento. 2. Políticas públicas. 3. Espaço urbano.I. Título.

CDD 711.4

(4)

Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie como parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Doutor.

Aprovada por:

Profª. Drª Angélica A. Tanus Benatti Alvim FAU/Mackenzie

Profª. Drª Gilda Collet Bruna FAU/Mackenzie

Prof. Dr Luiz Guilherme Rivera de Castro FAU/Mackenzie

Profª. Drª Maria Cristina da Silva Schicchi FAU/PUCCAMPINAS

Prof. Dr. Eduardo Alcântara de Vasconcellos

(5)

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que me beneficiou com a bolsa CAPES-PROSUp e proporcionou um estágio relativo a esta pesquisa, com bolsa sanduíche PDSE, na Universidade Friedrich Schiller, em Jena, na Alemanha. Ao meu coorientador PDSE, prof.

Heiko Schmid ( in memoriam ), pela acolhida, compreensão e ensinamentos nos cinco meses que permaneci no departamento de Geografia.

À Universidade Presbiteriana Mackenzie, que oportunizou o desenvolvimento desta tese de Doutorado, sendo que este trabalho foi financiado em parte pelo Fundo Mackenzie de Pesquisa.

Em especial à minha orientadora Angélica A. Tanus Benatti Alvim, pela sua paciência, compreensão, determinação, cobrança, estímulo, esforço e por não me deixar desistir. Levo comigo o seu exemplo de perseverança, garra e alegria, de um espírito conquistador de resultados que são mérito de trabalho, dedicação e entusiasmo.

Ao professor Dr. Luiz Guilherme de Castro Rivera, por me aceitar e permitir que eu participasse do grupo de pesquisa Espaços Públicos:

relações e articulações entre campos disciplinares – teorias e projeto.

Aos professores das disciplinas das quais participei, nesta Universidade, e que me auxiliaram na delimitação da pesquisa: Eunice Helena S. Abascal, Gilda Collet Bruna, José Geraldo Simões Jr, Ricardo Hernán Medrano, Roberto Righi, Luiz Guilherme Rivera de Castro, Carlos Leite de Souza, Charles C. Vincent.

da Silva Schicchi por todas as contribuições realizadas no momento da qualificação desta tese.

Aos funcionários da secretaria, pesquisa e biblioteca do Mackenzie.

Aos meus colegas de ingresso, Luciana Monzillo de Oliveira e Sílvio Stefanini Sant´Anna, nossos Seminários contribuíram muito para a delimitação e mudança da pesquisa.

Aos meus amigos doutorandos Gabriela Morais Pereira, Leandro Silva Leite, Renata Cavion, nossas angústias, medos, discussões e realizações me fizeram mais forte e com energia para almejar o melhor.

Aos meus amigos Patrícia de Castro Pedro, Roberta Cristina Silva, Edison Kiyoshi Tsutsumi, Mateus Szomorovski, Rodolfo Sastre, Kátia de Paula, Luciana Faganello, Denise Rogge e Valdene Silva, pelas conversas, carinho, apoio e devaneios inspiradores.

À minha família, que sabe o quanto desejei desenvolver esta pesquisa e realizar este trabalho. Desculpe-me pelos momentos de ausência, irritação e angústias. Obrigada pela compreensão, suporte, alegrias, por todos os momentos em que estivemos e estaremos juntos. Em especial à minha mãe, pelas correções e conselhos.

Ao meu marido, que nestes quatro anos entendeu as minhas

ausências e minhas crises existenciais. Sem a sua ajuda, carinho e amor,

nada disso seria possível

.

(6)

Esta tese discute a organização e a qualidade do espaço urbano como possibilidade de encontros, simultaneidade de acontecimentos e convívio das diferenças, e principalmente como meio para estimular a interação entre as gerações e o aumento da qualidade de vida no âmbito de uma sociedade cada vez mais longeva. Analisa-se os Projetos “Cidade Amiga do Idoso” da ONU e “Cidade Acessível é Direitos Humanos” da Secretaria dos Direitos Humanos do Brasil que em geral concedem títulos aos municípios que aderem às suas diretrizes. Discute-se o caso de Joinville (SC), município do sul do Brasil, que vem implementando um conjunto de ações voltadas para a melhoria da acessibilidade dos espaços públicos, com enfoque nos idosos, no âmbito de um importante programa federal Projeto Cidade Acessível é Direitos Humanos. Sem a pretensão de comparação, o caso de Jena, município situado na região da Turíngia, Alemanha, é apresentado nesta tese como um exemplo de um processo de planejamento sistêmico e contínuo que atende às necessidades da intergeracionalidade, sem estar envolvido no âmbito de programas governamentais que dão títulos às cidades. Dessa forma, a utilização dos princípios de planejamento de uma Cidade para Todos, de Jan Gehl (2010), como metodologia de análise e contextualização, enaltece a importância entre a distribuição das funções das cidades para integrar e prover experiências diferenciadas às pessoas, convidando-as a aumentar a sua permanência nos espaços públicos, melhorando suas condições de vida e salubridade psicossociais, indiferentemente ao título existente ou ao rótulo proposto pelos projetos.

Reafirma-se que uma cidade não pode ser avaliada meramente por suas aplicações de normativas e especificações técnicas, mas deve considerar a metodologia de análise de uma forma holística e que compreenda a dimensão humana para o conceito de qualidade de vida nos espaços públicos, que de forma completamente heterogênea e individual deve ser tratada coletivamente.

Palavras-chave: envelhecimento, políticas públicas, espaço urbano

This thesis discusses the organization and the quality of urban space as a possibility for meetings, events and simultaneous coexistence of differences, and especially as a means to stimulate the interaction between generations and enhancing the quality of life within an increasingly long-lived society. We analyze the projects ' age-friendly city "

and UN " Accessible City 's Human Rights " of the Secretariat of Human

Rights of Brazil, which generally grant titles to municipalities that adhere to

their guidelines. Discusses the case of Joinville (SC), a town south of Brazil

, which has been implementing a series of actions aimed at improving the

accessibility of public spaces , focusing on the elderly, within a major

Federal City Project Access program is Human rights . Without intending to

compare the case of Jena, the municipality located in Thuringia, Germany,

the region is presented in this thesis as an example of a systemic and

continuous process of planning that meets the needs of intergenerational

without being involved in the context of government programs giving titles

to cities. Thus, the use of the principles of planning a City for All, Jan Gehl

(2010), as a method of analysis and contextualization, extols the

importance of the distribution of the functions of cities to integrate and

provide unique experiences to people, inviting them to raise their stay in

public spaces, improving their living conditions and psychosocial health,

regardless the existing title, or projects proposed by the label. It is

reiterated that a city cannot be judged merely by its applications on

standards and technical specifications, but should consider the

methodology of analysis in a holistic way and to understand the human

dimension to the concept of quality of life in public spaces, which

completely heterogeneous and individually should be treated collectively .

Keywords: elderly, public politicies, urban spaces

(7)

Capítulo 1

Tabela 1.1 – Participação dos grupos etários: jovem e idoso no total da

população 10

Capítulo 4

Tabela 4.1 – Taxa de Crescimento da População Idosa observada e

projetada por idade(%) 77

Tabela 4.2 – Informações sobre as Cidades Acessíveis eleitas pela Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com

Deficiência 92

Capítulo 5

Tabela 5.1 – Faixas de índice de qualidade das calçadas 117 Tabela 5.2 – Índice de caminhabilidade por trecho da rota acessível 125

L ISTA DE F IGURAS

Capítulo 1

Figura1.1 – Quadro de conceituação de Qualidade de Vida por diversos

autores 14

Figura 1.2 – Quadro com os doze critérios, estabelecidos por Gehl (2010)

considerando a escala do pedestre 19

a população de 1950 – 2050 (projeção)

Figura 2.2 – Grupos de países e as áreas avaliadas 31 Figura 2.3 – Panorama global da população acima dos 50 anos 32 Figura 2.4 – Os determinantes do envelhecimento ativo 36 Figura 2.5 – Quadro de diretrizes políticas praticadas perante o

envelhecimento 38

Figura 2.6 – Mapa mundi com as primeiras parcerias do projeto Cidade

Amiga do Idoso 39

Figura 2.7 – Praça Nossa Senhora dos Prazeres (antes e depois das obras) 43 Figura 2.8 – Imagens do relatório A Toolkit for Establishing on Aging Improvement District in Your Community 2012 45 Figura 2.9 – Quadro dos quesitos da Cidade Amiga do Idoso (OMS, 2008)

e dos Critérios de avaliação GEHL (2010) 46

Capítulo 3

Figura 3.1 – Localização da cidade de Jena na região da Turingia 54 Figura 3.2 – Mapa da cidade com as demarcações de áreas e prioridades 55 Figura 3.3 – Mapa da região central da cidade de Jena 57 Figura 3.4 – Localização da área de estudo e equipamentos urbanos

significativos 58

Figura 3.5 – Localização da área de estudo e a Marketplatz (Praça do

Mercado) 61

Figura 3.6 – Localização da área de estudo e a Eichplatz (Praça da

Custódia) 64

Figura 3.7 – Ideias de projetos para a praça Eichplatz 65

Figura 3.8 – Localização da área de estudo e a Engelplatz (praça de Engel) 66

Figura 3.9 – Localização da área de estudo e as ruas de comércio 68

(8)

Figura 3.11 – Localização da área de estudo e a pavimentação da rua

Teichgraben 70

Figura 3.12 – Vias públicas e tipo de pavimentação 71 Figura 3.13- Faixa de pedestre delimitada por piso especial na faixa sob a calçada e por troca de piso no calçamento da via. 72 Figura 3.14 – Piso rebaixado e confluência de fluxos entre os modais 72 Figura 3.15 – Delimitação da faixa de cruzamento das vias 72 Figura 3.16 – Pintura da faixa de atenção de cruzamento de fluxos entre ciclistas e veículos (ponto de maior risco de acidente) 72

Capítulo 4

Figura 4.1 – Expectativa de vida dos idosos de 60,70 e 80 anos ou mais,

segundo o sexo 78

Figura 4.2 – Estrutura relativa, por sexo e idade no Brasil, entre 1940/2050 79 Figura 4.3 – Evolução da razão de dependência da população, total e por grupos de idade específicos e índice de envelhecimento no Brasil, entre

1940-2050. 80

Figura 4.4 – Quadro resumo das principais legislações brasileiras relativas

ao idoso (continuação) 81

Figura 4.5 – Quadro cronológico da normatização da acessibilidade para

edificações e espaços públicos 85

Figura 4.6 – Critérios de Avaliação da Cidade Acessível é Direitos Humanos 87 Figura 4.7 – Mapa indicando a localização das seis cidades no Brasil 88 Figura 4.8 - Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cuca) e o

Paço Municipal de Fortaleza 89

Figura 4.9 – Estações de embarques adaptadas em Belo Horizonte 90 Figura 4.10 – Situação das calçadas em Campinas em 2013 91

Capítulo 5

Figura 5.1 – Localização da cidade de Joinville 100 Figura 5.2 – População por faixa etária em Joinville(SC), em 2012. 101 Figura 5.3 – Comparação da população por faixa etária de 2010, entre Joinville, estado de Santa Catarina e Brasil. 101

Figura 5.4 – Divisão Modal 102

Figura 5.5 – Mapa das Centralidades Locais de Negócios 103 Figura 5.6 – Quadro com as informações para o Projeto Cidade Acessível é

Direitos Humanos 105

Figura 5.7 – Metas do Plano de Ação para Joinville(SC) 109 Figura 5.8 – Nome das vias da Rota Acessível, estado anterior e atual 114 Figura 5.9 -Quadro de critérios e avaliação de caminhabilidade 118 Figura 5.10 - Mapa da rota acessível estabelecida no plano municipal de

ação Cidade Acessível é Direitos Humanos 121

Figura 5.11 - Mapa de identificação dos equipamentos urbanos na rota

acessível 122

Figura 5.12 - Mapa de localização dos 23 setores para avaliação da

caminhabilidade urbana da rota acessível. 124

Figura 5.13 - Análise Qualitativa do Trecho 1 – IQC=2,88DE e 2 – IQC=

3,50D e 2,50E(Rua Getulio Vargas) 126

Figura 5.14 - Análise Qualitativa do Trecho 11 – IQC= 2,38DE (Rua

Engenheiro Niemeyer) 175

Figura 5.15 - Análise Qualitativa do Trecho 17 – IQC=3,00D e 2,88E (Rua

9 de março) 128

Figura 5.16 - Análise Qualitativa do entorno do Terminal Urbano de ônibus

(Rua 9 de março) 129

(9)

Figura 5.18 - Análise Qualitativa do Trecho 21 – IQC=0,88E e 22 –

IQC=0,63E (Avenida Hermann Augusto Lepper) 131

Figura 5.19 - Análise Qualitativa do Trecho 23 – IAC=0,88E (Avenida

Hermann Augusto Lepper) 132

Figura 5.20 - Análise Qualitativa de algumas faixas de pedestres existentes

na rota acessível 133

Figura 5.21 - Análise Qualitativa de alguns espaços públicos: as praças da

rota acessível 134

Figura 5.22 - Análise Qualitativa de fluxos de pedestres 135

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas ANTP – Associação Nacional dos Transportes Públicos

CAPES - Coordenação de Aperfeiçoamento de pessoal de nível superior

CEPAM – Centro de Estudos e Pesquisas de Administração Municipal (São Paulo) Compedef- Comissão de Políticas Públicas Municipais para Atenção às Pessoas com Deficiência

CPA- Comissão Permanente de Acessibilidade

Cuca- Centro Urbano de Cultura, Arte, Ciência e Esporte FSU -

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INSS – Instituto Nacional do Seguro Social

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada OMS – Organização Mundial da Saúde

ONU – Organização das Nações Unidas

Padef- Política Pública Municipal de Atenção às Pessoas com Deficiência PDSE - Bolsa de Doutorado Sanduíche no Exterior

UNFPA - Fundo de Estatística das Nações Unidas

(10)

Introdução 1 1. Envelhecimento populacional: heterogeneidade e a cidade 9

1.1 Dinâmicas comportamentais e a segregação espacial 10 1.2 Espaços públicos abertos e a interação urbana 16 1.3 Acessibilidade e mobilidade urbana como rede integradora de

espaços de convivência 21

1.4 Considerações finais 25

2. O direito a cidade: as diretrizes políticas mundiais para o

envelhecimento 27

2.1 Envelhecimento populacional e suas expectativas 28 2.2 Políticas públicas de saúde para o envelhecimento 33 2.3 Cidade Amiga do Idoso: rótulo ou necessidade? 39 2.3.1 A configuração da Cidade Amiga do Idoso 42

2.4 Considerações finais 47

3. Reestruturação do espaço público para o pedestre, o caso de

Jena, na Alemanha 48

3.1 Reestruturação política e social da Alemanha para o envelhecimento

populacional 51

3.2 A cidade de Jena e as políticas urbanas para o envelhecimento da

população 54

4. Projeto brasileiro Cidade acessível é direitos humanos:

fragilidade legal? 76

4.1 População idosa e um breve histórico de políticas públicas no Brasil 77 4.1.1 O idoso e a Política de Acessibilidade 83 4.2 Projeto Cidade Acessível é Direitos Humanos e o envelhecimento

populacional 85

4.3 Comparação entre as estruturas dos Projetos: Cidade Amiga do Idoso (OMS, 2008) e Cidade Acessível é Direitos Humanos 94

4.4 Considerações finais 97

5. Estudo da área central de Joinville(SC), uma cidade acessível? 99

5.1 Joinville(SC), o idoso e o projeto Cidade Acessível é Direitos

Humanos 100

5.1.1 Educação e Turismo 108

5.1.2 Marco Legal 109

5.1.3 Mobilidade urbana e Acessibilidade 111

5.2 Rota Cidade Acessível: mobilidade urbana e a caminhabilidade

como metodologia 114

5.2.1 Metodologia de avaliação 115

5.3 Avaliação da Rota Acessível de Joinville (SC) 120

5.4 Considerações finais 136

Conclusões 138

Referências 143

(11)

I NTRODUÇÃO

Este trabalho aborda o processo de envelhecer na cidade com qualidade de vida, ou seja o envelhecimento ativo da população, tendo como pressuposto a possibilidade de uso do espaço publico da cidade por qualquer pessoa, independente de sua faixa etária. Busca-se compreender se os programas e projetos governamentais que vem sendo implementados no Brasil, voltados para a adaptação do espaço público como meio de interação social e de promoção de atividades, indiferentemente à condição socioeconômica do indivíduo, estão sendo implantados com o “conceito de uma sociedade para todas as idades”.

Discute-se o caso de Joinville (SC), município do sul do Brasil, que vem implementando um conjunto de ações voltadas para a melhoria da acessibilidade dos espaço publico, com enfoque nos idosos, no âmbito de um importante programa federal Projeto Cidade Acessível é Direitos Humanos. Sem a pretensão de comparação, o caso de Jena, município situado na região da Turíngia, Alemanha, é apresentado nesta tese como um exemplo de um processo de planejamento sistêmico e contínuo que atende às necessidades da intergeracionalidade, sem estar envolvido no âmbito de programas governamentais que dão títulos às cidades.

A preocupação com o envelhecimento ativo não é recente e nem localizada no Brasil. No início dos anos de 1990, a Assembleia Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU), por intermédio da Resolução

estes: independência, assistência, autorrealização, dignidade e participação, a qual se entende como permanecer integrado à sociedade, participando ativamente na formulação de políticas públicas intergeracionais e de bem-estar. Ao celebrar o Ano Internacional do Idoso, em 1999, foi lançado o conceito de uma sociedade para todas as idades como tema, tendo quatro dimensões essenciais: o desenvolvimento individual durante toda a vida; relações entre várias gerações; relação mútua entre envelhecimento da população e desenvolvimento; e a situação dos idosos. A um passo do século XXI, as organizações mundiais mostram-se preocupadas com o envelhecimento e a longevidade.

Os idosos são reconhecidos como uma população antropometricamente distinta, devido às diferenças que existem entre as quatro décadas que formam esse grupo que, cronologicamente, se inicia aos 60 anos e pode terminar depois dos 100 anos. De acordo com Netto (2006, p.9), o envelhecimento (processo), a velhice (fase da vida) e o velho ou idoso (resultado final) constituem um conjunto, cujos componentes estão intimamente interligados.

A capacidade de adaptação comportamental e de resiliência

diminuem com o envelhecimento, assim como a plasticidade individual é

dependente das condições histórico-culturais e limita o potencial de

desenvolvimento na velhice. À medida que o ser humano envelhece, o

interesse passa a ser não somente somar mais anos de vida, mas, sim,

mais vida aos anos.

(12)

idoso, a Organização Mundial da Saúde (2002), preocupada com o processo de otimização das oportunidades para a saúde, a participação e a segurança, incentivou o envelhecimento ativo, tanto em relação a indivíduos quanto a grupos populacionais, para que estes percebam o seu potencial para o bem-estar físico, social e mental ao longo da vida, permitindo que essas pessoas participem da sociedade de acordo com suas necessidades, desejos e capacidades, protegendo-as e providenciando segurança e cuidados.

A palavra “ativo” refere-se à participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, extrapolando o que diz respeito apenas à capacidade de estar fisicamente ativo ou de fazer parte da força de trabalho. Dessa maneira, o objetivo do envelhecimento ativo é aumentar a expectativa de uma vida saudável e da qualidade de vida para todas as pessoas que estão envelhecendo, inclusive as que são frágeis, incapacitadas fisicamente, e que requerem cuidados. (OMS, 2002, p.10)

Dessa maneira, fica evidenciado que dependência, independência e autonomia são condições que não se excluem umas às outras, e que muitas vezes se entrelaçam,presentes em todo o ciclo vital, sob diferentes formas de manifestação e de valoração individual e pela sociedade.

Num panorama de ações mundiais, percebe-se como nos países mais envelhecidos, no sistema de formulação das políticas públicas para o envelhecimento populacional, estão reveladas a importância: do cuidar, apoiar e da família. Em 1942, na Inglaterra houve a inauguração do

conceitua a saúde como um estado holístico coletivo, e não somente a ausência de doença, em 1982 é instituído pela OMS, o Plano de Ação Internacional em prol do envelhecimento, e em 2002 é apresentado o II Plano Internacional para o Envelhecimento, conceituando o envelhecimento ativo como sendo uma forma de manter as relações sociais, econômicas, de serviços sociais e saúde. Reforçando o quanto as condições do ambiente físico interferem nas relações pessoais e comportamentais.

Uma iniciativa da ONU, em 2002, foi pensar qualidades de uma Cidade que viabilizassem lugares e avaliassem as condições de uso dos espaços urbanos pelos idosos, tendo o compromisso de enaltecer o envelhecimento ativo. Surgiu a partir desta pesquisa entre diferentes grupos focais de idosos, equipes especializadas em envelhecimento e prestadores de serviços, um Guia para uma Cidade Amiga do Idoso.

A Organização Mundial da Saúde, em 2007, legitimou o Projeto Cidade Amiga do Idoso como sendo um importante Projeto para a Cidade que valoriza e identifica o envelhecimento populacional como uma realidade que faz parte do contexto social urbano.

O envelhecimento populacional relaciona-se a um panorama

mundial, que age de diferentes formas, de acordo com o país em que se

estuda ou avalia, principalmente devido à influência das políticas públicas

no contexto geral do país e da receptividade da população. As

Organizações das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde

(13)

ideias que possam beneficiar gestores das mais diversas localidades mundiais e com diferentes situações políticas, sociais e econômicas.

Uma vez que as alterações oriundas do envelhecimento ocorrem de diferentes maneiras nas pessoas, projetar o espaço urbano e arquitetônico, de maneira que se permita a flexibilidade de adaptação, de acordo com a necessidade individual e atendendo às diferenças socioculturais evidentes, é fundamental para que as cidades sejam planejadas para o envelhecimento da população e não apenas para a velhice. A idade cronológica é apenas um ponto de referência na linha do tempo, e as políticas públicas devem ser estimuladas e pensadas para prazos passíveis de implantação, adaptação e aceitação por parte de seus moradores.

No Brasil, o surgimento de um sistema legislativo de proteção às pessoas idosas é recente, haja vista que a Política Nacional do Idoso (PNI), através da Lei nº. 8.842/1994. Antes da implantação da mesma, o que houve, em termos de assistência a essa faixa etária, consta em alguns artigos do Código Civil (1916), do Código Penal (1940), do Código Eleitoral (1965) e de inúmeros decretos, leis, portarias. Dentre esses documentos, merecem destaque: a Lei n° 6179 de 1974, que cria Renda Mensal Vitalícia e a Constituição de 1998, que contempla os idosos, sobretudo nos aspectos relacionados à aposentadoria proporcional por tempo de serviço, à aposentadoria por idade e a pensão por morte para viúva.

tem a obrigação de resguardar o cidadão em qualquer situação,e à família é delegada a responsabilidade do cuidado. Mas, pensando na pessoa que aprende no decorrer dos anos, o quão importante é manter-se saudável, gozar a vida plena e ponderar o seu conceito de qualidade de vida; a oportunidade em continuar as suas atividades, de maneira a perceber os espaços públicos urbanos e interagir socialmente com as pessoas, vislumbrando novas opções e motivações do cotidiano, melhoram a qualidade urbana dos espaços públicos urbanos pelo fato de haver a troca entre pessoas das mais diferentes idades.

É importante salientar que antes da década de 70, o trabalho realizado com idosos no Brasil era de cunho caritativo, desenvolvido especialmente por ordens religiosas ou entidades leigas e/ou filantrópicas.

A Política Nacional do Idoso criou condições para promover a longevidade com qualidade de vida, colocando em prática ações voltadas, não apenas para os que estão velhos, mas também para aqueles que vão envelhecer.

Todavia, não se poderia deixar de mencionar que há um distanciamento enorme entre teoria e prática quando se trata da aplicação da lei. Após sete anos tramitando no Congresso, foi aprovado em setembro de 2003, através do projeto de Lei n° 3561/1997, o Estatuto do Idoso no Brasil.

No Brasil, existe um projeto chamado Banco de Leis

1

, que surgiu a partir de uma parceria entre a Prefeitura de Belo Horizonte e o Ministério da Justiça. Ele funciona como um espaço de referência em legislação

1Banco de Leis para Idosos. Disponível em http://pbh.gov.br

(14)

utilizado por legisladores estaduais ou municipais, interessados em implantar ou aprimorar o atendimento aos idosos. O banco norteia proposições de novas leis para adequar às necessidades da Política Nacional do Idoso e serve, também, como locus de consulta. Neste site, podem ser consultadas as leis de 87 municípios referentes aos idosos, além das experiências inovadoras para a população idosa apresentada nos três seminários nacionais relativos ao assunto, desde 1994.

No Brasil evidencia-se uma grande preocupação com a seguridade do trabalho e do alcance para o exercício das atividades, por meio da acessibilidade físico-motora e mobilidade urbana.

Em 2007, a Secretaria dos Direitos Humanos do Brasil percebe a necessidade e a realidade em pensar uma Cidade inclusiva, lançando o Projeto Cidade Acessível é Direitos Humanos. Apesar do projeto ter sido pensado, em princípio, com os termos de “Acessibilidade” e “Mobilidade”

para as pessoas com mobilidade reduzida. Se houvesse uma argüição quanto a Direitos Humanos de uma Cidade Acessível ao envelhecimento, a amplitude da ação seria ainda maior do que o estigma da nomenclatura ou a resistência por parte de algumas pessoas que são resistentes a aceitação das normativas para acessibilidade.

Pensar uma cidade para passar os anos ou alguns anos de vida é avaliar a infraestrutura dessa cidade para que se possa nela permanecer pelo maior tempo possível, viabilizando o Morar, Trabalhar, Estudar e ter Lazer. Estas atividades surgem pelo convívio entre diferentes grupos

(DEBERT,2004) em um contexto socioecológico que depende de fatores econômicos, sociais e culturais (KAIKA, 2005, HEYNEN, 2006- MORAN,2010).

De acordo com as previsões da Organização Mundial da Saúde, o percentual de pessoas de 60 e acima de 60 anos, em todo o mundo, duplicar-se-á e passará de 10% (2000) para 21% (2050).

Segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apresentados em dezembro de 2009, no ano de 2030 o número de idosos no Brasil será quase igual ao dos jovens. Assim, uma nova pirâmide populacional vem crescendo no país, com características de um acelerado envelhecimento, apresentando o formato com base alargada e apontando para um aumento de mais de três anos na expectativa de vida, no período de 1998 a 2008. Essa mudança salienta os principais desafios decorrentes da longevidade: saúde, assistência social, economia e interação socioespacial.

O psicólogo Abraham Maslow definiu, entre 1943 e 1968, os cinco

estágios das necessidades humanas básicas, que devem ser atendidos

para atribuir qualidade de vida às pessoas: as fisiológicas, que nos

remeterão ao conforto; a necessidade de segurança e proteção; a

sensação de pertencimento ao local e pelo grupo, assim como o

sentimento de valorização pelos outros e de atualidade.

(15)

são projetadas para as pessoas, valorizam estes cinco estágios. Ambos os autores supracitados evidenciam que nenhum item ou estágio deve ser menosprezado ou esquecido, pois são complementares e interligados, propiciando territorialidade, sobrevivência e atividade nas cidades, independente da idade ou tempo.

Os princípios de planejamento de uma Cidade para Todos, de Jan Gehl (2010), discutem a importância entre a distribuição das funções das cidades, para integrar e prover experiências diferenciadas às pessoas, convidando-as a aumentar a sua permanência nos espaços públicos, melhorando as suas condições de vida e salubridade psicossociais.

A cidade é vista como lugar propício a novas experiências, diversidade e multiculturalidade (PEREIRA, 2011), sendo o espaço humano de conquistas individuais e de identidade urbana coletiva; como o lugar do possível(CARLOS, 2004)que enaltece os contatos sociais como forma de inspiração e descobertas.

Cada cidade apresenta características que se diferenciam, por meio da percepção e da apropriação do espaço urbano pelos moradores, dentro do contexto específico de abordagem. É importante compreender o potencial existente ou a estrutura de centralidade da cidade, reconhecendo e investigando as tendências de conveniência locacional, assim como sua interatividade com outras centralidades e seu potencial de atratividade urbana, para que se possa articular e hierarquizar o sistema multifuncional

seja planejada para todos, sem distinção de idade ou mobilidade.

A organização do espaço urbano como possibilidade de encontros, simultaneidade de acontecimentos, convívio de diferenças, espaços plurifuncionais, são a razão de ser, de forma dominante de expressão de centralidade.Segundo Ferreira e Sanches(2001), o ambiente ideal para pedestres deve garantir espaço, conforto, segurança e, se possível, contemplar aspectos estéticos agradáveis durante a caminhada.

Uma calçada com fluidez apresenta largura e espaço livre compatíveis com os fluxos de pedestres, que devem conseguir caminhar com velocidade constante. Uma calçada com conforto apresenta piso liso e antiderrapante, mesmo quando molhado. Não há descontinuidades, como degraus ou buracos. Não há obstáculos no espaço livre ocupado pelos pedestres, que os obriguem a desviar do seu caminho. Uma calçada com segurança não oferece aos pedestres nenhum risco de queda ou tropeço, e reune todos os requisitos de fluidez e conforto, acrescidos da ausência de perigos temporários, como veículos estacionados na calçada ou posicionamento inadequado de equipamentos urbanos.

Neste contexto, o objetivo geral desta pesquisa é contribuir para a

formulação de políticas públicas de forma holística e de longo prazo,

respeitando as leis e normativas vigentes,considerando o envelhecimento

ativo como articulador dos pressupostos do contexto, de maneira a

articular a intergeracionalidade nos espaços urbanos, seja pela interação

(16)

seu tempo.

Têm-se os objetivos específicos:

. Discutir se os Projetos Públicos estão sendo implementados como forma de publicidade e propaganda de intenções, e em que medida foram previstos medidas de fiscalização dos planos de ação proposto pelo poder público da cidade de Joinville(SC);

. Entender se os Projetos são apenas um item para a aprovação pelo governo federal e como marketing de exposição em eventos públicos, e não uma meta de mudança do planejamento estratégico das cidades

. Caracterizar o papel da Organização Mundial de Saúde como promotor de projetos ou fomentador de diretrizes políticas ou até mesmo, especulador de temas relevantes que devem fazer parte do escopo das políticas públicas futuras.

Para a construção da hipótese central que norteia a pesquisa, o pressuposto desta pesquisa é revelar as condições de subjetividade de análise do espaço urbano da cidade de Joinville (SC) que participa de um Projeto em prol da acessibilidade de todos e, associado a isso, avaliar a necessidade de premiação por um título (rótulo, prêmio ou selo) que atue como promotor de aplicação de políticas públicas.

Elucidados os conceitos relativos aos termos qualidade de vida e cidade para todos, consegue-se identificar se as diretrizes do projeto

“Cidade Acessível é Direitos Humanos – Brasil” consideram a mudança

cidade como meio de interação social e promotor de saúde.

Uma bolsa sanduíche (PDSE) concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), à cidade de Jena, na Alemanha, viabilizou a oportunidade de analisar a possibilidade da reconstrução dos espaços urbanos, contando com a participação de seus moradores, mediante um planejamento estratégico de longo prazo.O estudo das políticas públicas urbanas desta cidade foi necessário para analisar se os gestores consideram o envelhecimento populacional e a intergeracionalidade como diretrizes de projeto.

Portanto, a hipótese que sustenta esta pesquisa é a seguinte: As políticas públicas mundiais que enfocam o envelhecimento populacional,exercem sob o âmbito local das cidades um fomento de estímulo para diretrizes de pensamentos e políticas sociais. No entanto, na contramão do discurso, os títulos provenientes do Projeto “Cidade Amiga do Idoso”, da Organização Mundial da Saúde, e do Projeto “Cidade Acessível é Direitos Humanos”, da Secretaria de Direitos Humanos do Brasil, como é o caso do município de Joinville(SC), são produtos de ação direta de marketing e propaganda, sem interesse de abranger a Toda a Cidade, e todas as faixas etárias.

A partir da comprovação da hipótese principal, pretende-se

defender a seguinte tese: O Projeto “Cidade Acessível é Direitos

Humanos”, da Secretaria de Direitos Humanos do Brasil, atribuiu

ao município de Joinvile a responsabilidade de redigir um Plano

de Ação para ser merecedor de um título que vem sendo utilizado

(17)

às necessidade reais da cidade, particularmente sem promover o envelhecimento ativo de sua população.

Para a pesquisa e validação do questionamento, foram elucidadas as relevâncias entre ter ou não um rótulo/título que nomeie a Cidade, sem que esta, de fato, apresente condição para exercer a titulação. Como exemplo de uma iniciativa local com processo de planejamento continuo que visa a integração intergeracionais apresenta-se a cidade de Jena, na Alemanha.

A metodologia utilizada nesta pesquisa, para analisar a interação entre as pessoas e para verificar o cumprimento das metas determinadas no plano originado no Projeto “Cidade Acessível é Direitos Humanos – Brasil” foi de Jan Gehl (2010), para identificação de uma cidade na qual se pensam os espaços urbanos para todos, sem distinção de idade, faixa etária ou mobilidade, e a caminhabilidade (quanto ao modo a pé) das vias públicas como conexão entre os espaços urbanos.

Desta forma, para relativizar a importância dos cuidados com a saúde, mas também para propiciar o acesso à todos, foram realizadas algumas pesquisas nas vias públicas, por meio de walkthrough , e com um questionário de avaliação de critérios aplicados sob a visualização da via pública e aos transeuntes.

Este trabalho é composto por cinco capítulos, incluindo o capítulo de introdução, a saber:

O capítulo 1 evidencia os elementos da fundamentação teórica utilizados na pesquisa, elucidando a heterogeneidade do envelhecimento

as mudanças física e psicossocial relacionadas à segregação espacial, pela falta de segurança nas conexões dos espaços, referindo uma revisão sobre os termos de acessibilidade, mobilidade urbana e espaços públicos.

O capítulo 2, no qual são sintetizadas algumas diretrizes políticas mundiais que tratam o envelhecimento e a longevidade como mentores de qualificação da saúde pública e dos espaços urbanos públicos.

O capítulo 3 apresenta uma discussão sobre a cidade de Jena, na Alemanha, destacando que essa oportunidade foi possível pela concessão da bolsa PDSE Capes. O local foi escolhido para o estudo devido ao processo de reestruturação urbana ao qual a cidade foi submetida entre os anos de 1990 e 2010, por meio de um planejamento estratégico que privilegiou o atendimento de todos os seus moradores e com a participação da opinião destes.

O capítulo 4 aborda o histórico das políticas públicas brasileiras

com enfoque no idoso e na acessibilidade, uma vez que o idoso é

considerado uma pessoa com mobilidade reduzida. O projeto Cidade

Acessível é Direitos Humanos é utilizado como exemplo de política pública

brasileira e comparado ao projeto Cidade Amiga do Idoso, da Organização

Mundial da Saúde, em um quadro avaliativo da estrutura conceitual, da

operacionalização, da operação e dos resultados. A finalidade desta

comparação é avaliar a potencialidade de ação e de critérios estabelecidos

para a mensuração dos resultados.

(18)

cidades participantes do Projeto Cidade Acessível é Direitos Humanos.

Também é avaliada a implantação da Rota Acessível, uma das metas identificadas no Plano de Ação entregue à Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, e trajeto referenciado como modelo para os demais bairros da cidade.

Nas conclusões estão as principais considerações da tese, relacionadas à comparação entre os programas “Cidade Amiga do Idoso” e

“Cidade Acessível é Direitos Humanos”, entre a sua aplicação e entre programas obtidos pelos levantamentos realizados em cidades diferentes, mas que receberam oportunidades para modificar os espaços urbanos, pensando uma “Cidade para todos”. Na etapa final, são feitas sugestões para o desenvolvimento de trabalhos futuros.

Finalmente, são apresentadas as referências bibliográficas

utilizadas no desenvolvimento desta pesquisa.

(19)

1 E NVELHECIMENTO POPULACIONAL :

HETEROGENEIDADE E A CIDADE

O envelhecimento do ser humano é um processo no qual o tempo é o limitador das etapas, quer seja enquanto criança, adulto ou idoso, iniciando ao nascer e finalizando ao morrer. A maneira como as pessoas vivenciam cada etapa e se submetem aos acontecimentos é o que as caracteriza, por este motivo, o fator tempo é tão subjetivo quanto a própria relação entre ficar e sentir-se velho. Neste processo os aspectos físicos, biológicos, psicológicos e sociais são preponderantes para os efeitos da idade, de forma individualizada e específica. Para a abordagem a cada pessoa que envelhece, devem-se levar em consideração as suas preferências e recorrências sintomáticas, para que estas percebam que as escolhas realizadas geram uma consequência ao longo do tempo, favorecendo a saúde e o bem-estar do indivíduo, o que promove a qualidade de vida da coletividade.

Em uma sociedade que preza pela beleza e pela estética, para muitas pessoas os sinais aparentes da velhice são impressões negativas ou até mesmo difíceis de serem absorvidos e compreendidos. A mudança promovida pelo envelhecimento é constante e implacável. A sequência de experiências e vivências resulta na maneira como o grupo é visto e percebido como um todo e, principalmente, na maneira como se lidam

com as mudanças contínuas e também como se enfrentam tais mudanças, indiferentemente à idade cronológica calculada.

Se para o indivíduo pensar e aceitar o envelhecimento pode ser agonizante e depressivo, para o poder público a longevidade apresenta qualidades, desafios e preocupações representativas em âmbito social, econômico, político e administrativo. Pensar em uma cidade para passar os anos ou alguns anos de vida é avaliar a infraestrutura dessa cidade para que se possa nela permanecer o maior tempo possível, com os menores gastos para morar, trabalhar, estudar e ter lazer. Uma cidade que favorece o envelhecimento saudável é uma cidade que promove a inserção das pessoas em seus espaços públicos promovendo a interação humana, a troca de serviços e conversas, viabilizando diferentes atividades que estimulem o “ser” e não o “ter”, enaltecendo a qualidade de viver e vivenciar as etapas da vida e, por consequência, minimizando os custos com tratamentos prolongados e onerosos.

Neste capítulo são apresentados alguns aspectos relacionados à heterogeneidade da população idosa, ou seja, das pessoas acima de 60 anos, relacionando a dificuldade de caracterização e de conceituação do termo qualidade de vida que constitui o desejo e a ansiedade de todos.

São apresentados ainda os conceitos de acessibilidade e mobilidade

urbana para que a diferença e importância de ambas sejam eminentes

quando relacionadas à mudança da capacidade física e funcional humana e

à segregação espacial por falta de segurança nos espaços urbanos,

segurança essa relacionada muito mais à questão de infraestrutura dos

(20)

espaços do que a terceiros. Na parte final são apresentadas as normativas brasileiras vigentes e a importância de se pensar uma cidade que esteja preparada para o envelhecimento de seus cidadãos, por uma questão sócio-político-econômica e de saúde pública.

1.1 Dinâmicas comportamentais e a segregação espacial

As evidências do crescimento da longevidade populacional e do número de idosos comparado ao de jovens denunciam, ao mesmo tempo, as conquistas e os problemas a serem enfrentados em um contexto sócio- político e cultural das cidades. A dinâmica demográfica brasileira evidencia

1

um crescimento em percentuais, do número de idosos, de 4,7%

em 1960, para 12% em 2013, devendo atingir 27% em 2040, sendo que o grupo que apresentará maior crescimento é o de idosos a partir de 75. O IBGE projeta também que em 2050 haverá basicamente a mesma quantidade de pessoas entre 15 e 59 anos do que em 2010, levando-se em conta o aumento populacional de 0,3% ao ano. Ver tabela 1.1.

1 Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) e Estatística e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (2013)

Tabela 1.1 – Participação dos grupos etários: jovem e idoso no total da população

Períodos Grupos Etários

0 a 59 15 a 59 60 anos+ 65 anos + 75 anos+

1980 93,9 55,7 6,1 4,0 1,2

1990 93,2 57,9 6,8 4,4 1,5

2000 91,9 62,1 8,1 5,4 1,9

2010 90,0 64,4 10,0 6,8 2,6

2020 86,3 66,3 13,7 9,2 3,5

2030 81,3 64,3 18,7 13,3 5,1

2040 76,2 61,4 23,8 17,5 7,9

2050 70,2 57,1 29,8 22,7 10,5

Fonte: IBGE (projeções demográficas 2008). GIAMBIAGIeTAFNER, 2010, p. 95 Com essa projeção e perspectiva, cabe ao Poder Público a grande tarefa de reestruturar o sistema econômico previdenciário; investir em tecnologia e engenharia capazes de aumentar a produtividade de bens e alimentos para consumo, com um menor custo de fabricação; e preparar as cidades para acomodar esse grupo etário heterogêneo, garantindo-lhe autonomia e independência.

A perspectiva de vida em estágios etários é abordada pelo estudo científico do desenvolvimento humano, que reflete a mudança de identidade e compreensão dos atos enquanto envelhecemos, considerando cinco características diferentes, apontadas por Berger (2003, p. 67):

- Multidirecional: a modificação nem sempre é linear, as transformações inesperadas fazem parte da experiência humana;

- Multicontextual: cada vida humana deve ser entendida como pertencente a muitos contextos;

- Multicultural: devem ser considerados cada conjunto de valores, tradições e recursos para a vida;

(21)

- Multidisciplinar: diversas áreas acadêmicas fornecem auxílio ao desenvolvimento;

- Plasticidade ou capacidade de modificação: cada indivíduo e suas características podem ser alterados em qualquer ponto da vida.

O envelhecimento somatiza a dificuldade de administrar o convívio entre grupos diferentes ao longo da vida e de lidar com a aceitação sempre que um recomeço é exigido. Segundo Baltes (1998), as relações entre integridade, identidade, desespero ou acomodação podem ser refletidas e justificadas pela “otimização seletiva com compensação”. Ao identificar os seus limites, ao envelhecer, as pessoas podem mudar de comportamento ou selecionar de que forma as suas atividades contribuirão para o seu bem estar. “A velhice é, antes, um processo contínuo de reconstrução”. (DEBERT, 2004, p. 95)

As pessoas tendem a mudar e adaptar-se ao ambiente. Tanto as pessoas quanto o ambiente mudam com o tempo, e o mesmo deve acontecer à tecnologia aplicada à infraestrutura do local. Estudos recentes indicam que os processos sociais e a forma da cidade desenvolvem-se a partir de processos socioecológicos (KAIKA, 2005; HEYNEN, 2006 apud MORAN, 2010). Cada vez mais esse tema deve ser motivo de preocupação, até porque, em relação ao idoso, aconselha-se o exercício físico constante, e isso só é possível se lhes forem oferecidas condições adequadas.

O que se verifica em relação aos idosos é que a inatividade física ao longo dos anos debilita a saúde e segrega o indivíduo, afastando-o do

contato e da interação social. A inclusão social deve ser a grande preocupação para os governantes, já que a vida pode ser descrita pela quantidade de anos vividos e pela qualidade da satisfação gerada.

Segundo pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo (2006), com um grupo de 3744 idosos distribuídos em 204 municípios das cinco macrorregiões do País, 51% dos entrevistados indicam a caminhada como atividade física praticada diariamente, principalmente por ser um exercício gratuito. Entretanto, as calçadas nem sempre recebem o tratamento adequado para conferir segurança e conforto ao transeunte. As queixas frequentes relatadas pelo grupo são: presença de buracos, calçadas irregulares, degraus, calçadas estreitas, sujeira ou lixo, entre outros.

O envelhecimento é um processo universal inevitável, mas alcançá-lo com qualidade depende de fatores econômicos, sociais e culturais. Analisar o processo de envelhecimento implica compreender, analisar e avaliar a complexidade de mudanças e heterogeneidades que se apresentam. Cada indivíduo é único e tem a sua própria maneira de enfrentar os desafios e as situações que se apresentam. Um dos objetivos das políticas públicas é garantir às pessoas o envelhecimento com qualidade de vida, já que envelhecer é um processo irreversível.

Em outros termos, erra-se ao priorizar a condição

biológica como a conformadora do comportamento

psicossocial do indivíduo. Sempre se é velho em algum

lugar e em um determinado tempo histórico. Na nossa

sociedade, ser velho significa estar excluído de vários

lugares sociais. Assim, a identidade do idoso se

constrói pela contraposição à identidade de jovem, e

como consequência se tem também a contraposição

(22)

das qualidades: atividade, força, memória, beleza, potência e produtividade como características.

(MERCADANTE, 2007, p. 212)

Esse processo de envelhecimento e a própria velhice são multifatoriais e multifacetados, impondo, na maioria das vezes, perdas importantes. Modificações biológicas, psicológicas e sociais transformam a velhice em um fenômeno individualizado, envolvendo a capacidade em adaptar-se e aceitar novos desafios, ativando o aprendizado; e a capacidade de compensar declínios, sendo por isso importante a atividade física para o estabelecimento do bem estar psicológico.

Segundo Freire (2007), foram relacionadas seis dimensões do funcionamento positivo para explicar o bem-estar psicológico dos idosos:

a) autoaceitação, que implica atitude positiva em relação a si próprio e a seu passado;

b) relações positivas com os outros, que envolve

ter uma relação de qualidade com os outros, ser capaz de relações empáticas afetuosas;

c)autonomia, que significa ser autodeterminado e independente;

d) domínio sobre o ambiente, ou seja, ter senso

de domínio e competência para manejar o ambiente;

e) propósito de vida, que implica ter metas na vida e um sentido de direção;

f) crescimento pessoal, ou seja, um senso de crescimento contínuo e de desenvolvimento; estar aberto a novas experiências. (FREIRE, 2007, p. 151.

grifo da autora)

Dentre os fatores de bem-estar psicológico dos idosos, ressalta-se a importância de se manter o convívio social, a interação com pessoas conhecidas ou não, a comunicação, a aceitação pelo grupo, a valorização da opinião em conversas e a importância de sentir-se seguro para utilizar o espaço em que esteja, principalmente em se tratando de espaço público coletivo. Essa segurança é tanto atribuída a atos cometidos por terceiros quanto à infraestrutura, por exemplo, a qualidade da pavimentação do local, que minimize o risco de quedas.

A legitimidade do envelhecimento como processo ou fenômeno inicia já no momento decisório da escolha do curso de graduação, na juventude; no momento de início de carreira; e até mesmo quando se deseja uma troca profissional. Ao aposentar-se o indivíduo pode retomar esses questionamentos e traçar uma nova prioridade em seu ciclo de vida.

Envelhecimento, portanto, não significa obrigatoriamente redução da capacidade de trabalho, ausência de atividades sociais ou reclusão pessoal. É muito mais uma retomada de projetos.

A longevidade promove uma condição atual multigeracional nas

famílias, ou seja, a convivência simultânea de várias gerações,

possibilitando novas relações e conflitos no mesmo tempo social. O que se

percebe quanto ao comportamento é a mudança estabelecida pelos

padrões do trabalho, com relação ao comportamento de cuidar e interagir

entre gerações. Os filhos jovens não dispõem mais de tanto tempo para

seus pais idosos quanto a situação familiar no passado provia, assim como

esses pais já se mostram avessos à ideia de cuidar dos netos tal qual seus

(23)

avós faziam. Ainda assim, poder-se-ia antever a crise econômica como um relato dos adultos em idade produtiva, que não terão a condição de ajudar os filhos com sua aposentadoria e pensões, como acontece na situação atual brasileira. O modo de vida do idoso reflete suas atitudes e comportamentos durante a vida, entretanto o diálogo entre as gerações tem aumentado e promovido uma alteração da maneira de viver.

O termo qualidade de vida é discutido e citado por diferentes

especialistas, entretanto, não há um consenso quanto ao seu conceito,

dadas as diferentes abordagens em âmbito econômico, ambiental, saúde e

percepções subjetivas, conforme se verifica na figura 1.1.

(24)

Area Autores Definição

Medicina Leavell&Clark (1976) Conjunto de processos interativos compreendendo as inter-relações do agente (causador da doença), do suscetível (seres humanos) e do meio ambiente, que afetam o processo global e seu desenvolvimento, desde as primeiras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, ou em qualquer outro lugar, passando pela resposta do homem ao estímulo até as alterações que levam a um defeito, invalidez ou morte.

Subjetivos

Lawton (1983) (...) avaliação multidimensional vinculada a critérios sócio normativos e intrapessoais a respeito das relações atuais, passadas e prospectivas entre o idoso e o seu ambiente, descrevendo quatro dimensões:

a)“Competência comportamental: representa a avaliação do funcionamento do indivíduo no tocante à saúde, à funcionalidade física, à cognição, ao comportamento social e à utilização do tempo.

b)Bem-estar subjetivo: reflete a avaliação pessoal e privada sobre o conjunto e a dinâmica das relações entre as três áreas precedentes. É referenciado a dois tipos de indicadores, cognitivos e emocionais.

c)Qualidade de vida percebida: refere-se à avaliação subjetiva que cada pessoa faz sobre seu funcionamento em qualquer domínio das competências comportamentais.

Seus principais indicadores são: saúde percebida, doenças relatadas, consumo relatado de medicamentos, dor e desconforto relatados.

d)Condições ambientais: dizem respeito ao contexto ecológico e ao construído pelo homem e têm relação direta com a competência comportamental. O ambiente construído deve oferecer aos idosos adequadas condições de acesso, manejo, conforto, segurança, variabilidade, interesse e estética.

Peñaloza Fuentes (1990) Os indicadores de qualidade de vida baseiam-se em relatos dos indivíduos sobre suas próprias percepções, sentimentos e reações, motivo pelo qual o conceito difere conforme o grau do desenvolvimento do país analisado.

Bravo&Vera(1993) Qualidade de vida de uma sociedade ou de um indivíduo é a quantidade e a qualidade dos meios a que se pode assentir para satisfazer suas necessidades, o modo como os obtêm e o papel que lhes atribuem.

Minayo, Hartz&Buss(2000) (...) qualidade de vida boa ou excelente (é) aquela que oferece um mínimo de condições para que os indivíduos nela inseridos possam desenvolver o máximo de suas potencialidades, sejam estas: viver, sentir ou amar, trabalhar, produzindo bens e serviços, ciências ou artes.

Spirduso&Cronin(2001) Boa qualidade de vida para os idosos pode ser interpretada como o fato de eles poderem se sentir melhor, conseguirem cumprir com suas funções diárias básicas adequadamente e conseguirem viver de forma independente.

Merege(2001) Pode-se dizer que é semelhante à liberdade – não há quem não a defina, não há quem não a entenda. Suscita-se então um complexo debate onde são inevitáveis os conflitos de valor, revelando que nossos desafios não se reduzem às escolhas técnicas, permeados por opções políticas e éticas.

Rosa et al(2003) A manutenção da capacidade funcional tem implicações para a qualidade de vida dos idosos, por estar relacionada com a capacidade de ocupar-se.

Cardim&Souto (s.d) Relacionada a fatores psicossociais de cada indivíduo, decorrentes da satisfação ou insatisfação de suas necessidades no contexto: trabalho, família, amizades e lazer. Os fatores interferentes são: alimentação, vestuário, habitação, higiene e saúde, educação, trabalho, circulação, comunicação, recreação e lazer. Essas necessidades variam no tempo, no espaço e nas características individuais das pessoas.

Organização Mundial da Saúde – Whoqol Group (World Health Organization Quality of Life Group)

A percepção subjetiva do indivíduo sobre sua posição na vida dentro do contexto da cultura e dos sistemas de valores em que vive e com relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações.

MeioAmbiente

Guimarães da Silva (1996) Condições do meio ambiente urbano (planejamento físico, infraestrutura, serviços urbanos, transportes, segurança, entre outros), dinâmica populacional e situação socioeconômica. Não podendo ser estudada apenas em seu caráter normativo, considera as percepções individuais, sob influência da cultura e educação.

Mateo Rodriguez (1997) O desenvolvimento pode ser concebido basicamente como um processo de mudança estrutural, global e contínua de liberação individual e social que tem como objetivo satisfazer as necessidades humanas, iniciando pelas básicas, e aumentar a qualidade de vida das gerações presentes e futuras.

Herculano (1998) (...)definida como soma das condições econômicas, ambientais, científico-culturais e políticas coletivamente construídas e postas à disposição dos indivíduos para que estes possam realizar suas potencialidades: inclui a acessibilidade à produção e ao consumo, aos meios para produzir cultura, ciência e arte, bem como pressupõe a existência de mecanismos de comunicação, através da gestão territorial que assegure água e ar limpos, higidez ambiental, equipamentos coletivos urbanos, alimentos saudáveis e a disponibilidade de espaços naturais amenos urbanos, bem como a preservação de ecossistemas naturais.

Silva (1999) Aplica-se ao indivíduo aparentemente saudável e diz respeito ao seu grau de satisfação com a vida nos seus múltiplos aspectos que a integram: moradia, transporte, alimentação, lazer, satisfação/realização profissional, vida sexual e amorosa, relacionamentos com outras pessoas, liberdade, autonomia e segurança financeira.

Fonte: DIOGO et al (2009); KEINERT org (2002); NERI org (1993). Elaborada e grifada pela autora

(25)

ser um conceito subjetivo, visto que cada cidadão tende a qualificar o termo de acordo com sua experiência pessoal, formação e entendimento individual. Assim, torna-se importante, analisando os diferentes conceitos de qualidade de vida, a necessidade de instigar as pessoas a buscar o novo e coisas diferentes, mantendo os seus papéis próprios, integrando-se em contextos sociais que lhes sejam significativos, mantendo o domínio funcional e de bem-estar.

As atividades em grupo podem reduzir o estresse, ampliando as possibilidades de interação social, mas também a atividade solitária pode contribuir para o entendimento do significado da existência, reduzindo o impacto do estresse e da depressão sobre a saúde psicológica e física dos idosos. A prática regular de atividade física beneficia variáveis fisiológicas, psicológicas e sociais, segundo Rolim e Forti (2009, p. 49), melhorando a estética corporal, a autoestima e autoimagem, a integração e a socialização, a diminuição da ansiedade e dos aspectos cognitivos. Todas essas variáveis, ligadas à prática de atividade física, fazem parte dos benefícios relacionados ao aspecto psicológico.

Em idosos é perceptível a melhora do equilíbrio, da coordenação motora, da resistência e da força física, assim como da manutenção da saúde nas doenças crônicas, tais como artrite e asma, entre outras. De acordo com Araújo (2001, p.58), para os idosos é importante a prática da atividade física para que possam compreender as transformações do corpo

(perdas econômicas, aposentadoria, solidão entre outros).

A atividade pode e deve ser realizada por todo e qualquer grupo populacional (crianças, jovens, adultos e idosos), que apresente ou não qualquer forma de comprometimento ou dificuldade motora, física e/ou sensorial, ajudando a criar e oportunizar a qualidade de vida. É relevante a discussão de qualidade de vida como uma das premissas norteadoras na busca do desenvolvimento de cidades que permitam o uso de seus espaços por todos.

A cidade é o espaço de vida dos cidadãos, polo de encontros sociais em movimentos aleatórios ou dirigidos e deve apresentar um ambiente físico limpo, seguro e acessível, atendendo à equidade do espaço urbano. Deve proporcionar um lugar propício a novas experiências, diversidade, multiculturalidade. A tendência do indivíduo é isolar-se, dada a cultura do capitalismo e da saga de busca das conquistas individuais que, ao envelhecer, são testadas pela pluralidade das diferenças e pela identidade urbana coletiva.

A cidade, como espaço que pertence a todos, só pode ser vivida e construída como espaço antropológico:

lugar da diversidade, lugar vivo do diálogo intercultural e do caráter plural da identidade, espaço privilegiado da experiência democrática, espaço humano.

(PEREIRA, 2011, p. 26)

(26)

idosos cujo desempenho físico é discretamente inferior ao dos jovens proporciona a medida exata da importância dos fatores externos”. Quanto maior a interação dos idosos com seu meio maior a possibilidade de adotarem comportamentos compensatórios como, por exemplo, a escolha de meios de locomoção e de melhores horários de uso. Por sua vez, medidas restritivas, como desencorajar o idoso a sair de sua residência, seja a pé ou com qualquer outro meio de transporte, resultará em prejuízo e implicará um envelhecimento precoce.

No que se refere ao idoso, a Organização Mundial de Saúde realça a capacidade funcional e sua independência como fatores preponderantes para o diagnóstico de saúde física e mental, enaltecendo os contatos sociais mantidos regularmente. Participar de atividades em grupo com pessoas da mesma idade favorece o bem-estar do idoso, porque facilita o entendimento de significados comuns e a maior aproximação interpessoal;

contudo, a intergeracionalidade auxilia e promove a troca de hábitos, de conhecimentos e instiga a busca de saúde pelos idosos, inspirando-os na descoberta de novos conhecimentos e a manterem-se atualizados.

1.2 Espaços públicos abertos e a interação urbana

A análise espacial da cidade revela o sentido do espaço urbano como o produtor das relações sociais, materializado pela apropriação do lugar em que se vive e que pode ser percebido, sentido e visto; revela

formaliza a cidade como a condição e o meio para que a multiplicidade se revele.

Nesse sentido, a prática social produz um espaço onde o uso se caracteriza pelo modo de apropriação do espaço, e a cidade se constitui como o “lugar do possível”

2

, onde a identidade da atividade realizada é modificada pela transformação do cenário devido à ocupação do espaço público pelas pessoas, o que demonstra a alteração contínua da imagem do lugar em decorrência do uso em tempo e espaço diversos.

Desse modo, Carlos (2004, p. 47) ressalta que “o lugar se liga de modo inexorável à realização da vida enquanto condição e produto de relações reais. Mas a produção da vida e do lugar revela a necessidade de sua reprodução continuada.” Importante, pois, definir a relação entre o lugar da realização da atividade, a identidade gerada pelas pessoas e o cotidiano atuante como plano real da ação, tendo o tempo como modo de apropriação do espaço e o uso ou a atividade possível como condição de realização da vida humana.

O espaço urbano deve ser pensado como produto social em constante processo de mutação, encarando a ação de seus usuários como obra inacabada, mutável e reprodutora de ações e intervenções que se sucedem e justapõem, impondo características diferenciadas a cada momento. O lugar, na verdade, concretiza as relações em tempos

2 Termo utilizado por Carlos, A. (2004), para elucidar os planos revelados para a cidade contemporânea construída pela generalização do processo de urbanização.

(27)

identificação individual do usuário em determinado tempo.

As relações entre as pessoas e os espaços são formadas pela percepção, tanto física quanto psicológica. Gehl (2009,p. 17) afirma que as atividades nos espaços públicos podem ser divididas em três categorias:

Atividades necessárias – são atividades obrigatórias do cotidiano, que em grande parte estão

relacionadas ao ato de caminhar, como: ir ao

colégio ou trabalho, fazer compras, esperar o transporte coletivo, entre outras atividades que se realizam durante todo o ano, sendo influenciadas

pela qualidade do ambiente físico.

Atividades opcionais – a participação deriva do desejo individual de fazê-lo sendo influenciado pelo tempo, lugar ou vontade pessoal; sendo que a decisão de participar dessas atividades é extremamente

afetada pelas condições físicas externas dos lugares.

Atividades sociais ou resultantes – são todas as atividades oriundas da presença de outras pessoas nos espaços públicos acessíveis; uma vez que acontecem

de maneira espontânea entre pessoas que caminham ou frequentam o mesmo espaço.(GEHL, 2009, p. 17, grifo da autora)

Estudos desse autor apontam que quanto maior o tempo que as pessoas permanecem nos espaços públicos, maior o número de encontros e conversas entre si, o que estimula o contato e a integração social. De forma geral, pode-se afirmar que a teoria de GEHL reflete o propósito do

público como promotor da atividade, da interação intergeracional que enriquece a vida social e cultural e favorece a saúde coletiva.

Outra abordagem importante nas três categorias apresentadas refere-se à qualidade física do espaço público como promotor e estimulador do estado psicológico para a participação do cidadão nas atividades, sem distinção de faixa etária, principalmente porque essas atividades são executadas enquanto se caminha. Mesmo utilizando um meio de transporte para chegar ao destino final, a forma mais comum de alcançar o espaço público é caminhando, perpassando do espaço público, semi público, semi privado ao privado. Em todas as cidades andar é a forma essencial de deslocamento.

Essa autonomia auxilia o controle de suas decisões, o exercício da independência e mostra-se essencial ao bem-estar e qualidade de vida, por mais subjetivos que se mostrem estes termos. Por se tratar da velhice, a relação tempo-espaço é diferente, pois o compromisso é determinado pela própria pessoa, que passa a ser o seu chefe e o seu limitador.

Importante, pois, que as atividades oferecidas no espaço público estejam de acordo com as suas expectativas, confirmando que o envelhecimento é

3A Organização Mundial de Saúde - OMS, em 2000, adotou o termo “envelhecimento ativo”, como o “processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam mais velhas”.

Referências

Documentos relacionados

Como visto anteriormente, o espectro obtido pela técnica espectroscópica de absorção óptica, por exemplo, resulta de transições eletrônicas do estado fundamental para

Para tal, constou de pesquisa de natureza aplicada à 4 sujeitos, os quais foram selecionados devido às suas condições de paraplegia Os dados coletados foram analisados de

complexas. 01- A partir da leitura do texto, assinale a alternativa que apresenta sua ideia central: a) Mostrar alguns resultados do desempenho das formigas. c) Apresentar os

Destacaram-se, pelo volume arrecadado, a Contribui- ção Para Financiamento da Seguridade Social (Cofins), com incremento de 12,8%, refletindo a melhoria das importações e

Neste trabalho avaliamos as respostas de duas espécies de aranhas errantes do gênero Ctenus às pistas químicas de presas e predadores e ao tipo de solo (arenoso ou

esta espécie foi encontrada em borda de mata ciliar, savana graminosa, savana parque e área de transição mata ciliar e savana.. Observações: Esta espécie ocorre

Dessa forma, os níveis de pressão sonora equivalente dos gabinetes dos professores, para o período diurno, para a condição de medição – portas e janelas abertas e equipamentos

Nos tanques de teto fixo acumula-se um volume apreciável de gases e vapores, sobre o nível do líquido armazenado, chamado de espaço de vapor, e o mecanismo principal das perdas e