HOSPITAL DE CARIDADE, PARTE DA HISTÓRIA
DE SANTA CATARlNA
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FABIANACOMERlATO'
RESUMO
Esta pesquisa analisa as edíflcaçõcs do conjuntozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAarouítetônlco do Hospital de Caridade de Florianópolis a partir de sua história construtiva. Para compreendermos como o hospital
chegou até a década de 40 do século XX, faz-se necessário analisar a organização dos espaços hospitalares desde a construção da Capela Menino Deus. As edíflcações do Hospital de Caridade foram o resultado de práticas socais e, posteriormente, científicas, influenciadas pelas escolhas estéticas e culturais ao longo da história de Santa Catarina.
PAlAVRAS-CHAVE:Hospital de Caridade, Irmandade Senhor dos Passos, História de Santa Catarina.
o
Hospital de Caridade, espaço construído no último Quartel do século XVIII,foi a primeira Santa Casa de Misericórdia da Capitania de Santa Catarina e o primeiro
hospital civil da Vila do Desterro. A história do Hospital está materializada nos espaços
aroultetados, nos corpos de pacientes, nos gestos dos médicos, nas manifestações
religiosas Que cercam a instituição, na documentação escrita e na paisagem da baía sul
da Ilha de Santa Catarina.
O objetivo deste artigo é compreender como surgiu o conjunto arouitetônico
do Hospital de Caridade, percebendo como a diversidade de construções pode ser
"lida" e contextualizada historicamente,
A história inicial do Hospital está diretamente ligada a uma construção prévia
-imaginária - de seus ldealizadores. O Hospital de Caridade percorreu um longo
caminho para sair do plano das idéias e estabelecer-se como espaço construido.
O conjunto Hospital de Caridade teve início com a construção da primeira edificação
-a C-apel-a Menino Deus - pl-anej-ad-a pela beata Dona [oana Gomes de Gusmão.
Desse modo, é oportuno ter o conhecimento da trajetória dessa mulher até
Desterrol
• loana Gomes nasceu na Vila de Santos em 1688, filha do casal Francisco
; Doutoranda do Programa de Pós-Graduação de História - PUCRS; e-rnail: fabic@matrix.com.br Quando aparecer Desterro leia-se "Nossa Senhora do Desterro".
Lourenço e Dona Maria Álvares. [oana casou-se com Antônio Ferreira Garnboa, figura importante naVila de Santos. Não tiveram filhos. O casal, Que tinha contraído grave
enfermidade, foi com o espírito cheio de fé a umas águas ditas miraculosas situadas
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àmargem do rio Iguape. Nesse local, segundo Carneiro, "(...) lavara-se uma imag ell1
vinda de Portugal, Que fôra encontrada a boiar no mar,devido a oualouer naufragio Ou encontro com navios infiéis, preferindo os christãos desfazerem-se de lia, ave-Ia
írreverencíada."
A beata, ao enviuvar, tomou o hábito da Ordem Terceira da Penitência e saiu esmolando pelo sul do Brasil Colônia, portando uma caixa contendo a mesma imagem
- a do Menino Deus. Ela chegou naVila do Desterro não se sabe ao certo em Que ano. Em 1756 a beata passou a percorrer a pé as ruas dessa vila, as vizinhas povoações no continente próximo e na Ilha de Santa Catarina, com duas outras
mulheres, sob licença especial do Bispo D. Frei Antônio do Desterro. Dona loan,
integrou-se ao local e fixou residência na sede da Capitania:
Admitida na Ordem Terceira local. foi residir na Freguesiada Lagoa, onde pretendeu
erlgir uma capela para entronizar a peouena imagem do Deus-menino, mas, ao Quese
diz, extraviou-sea Provisãoreouerída. Mudando-se para a Vila, obteve, então, privilégio para erigir a pretendida capela, contando para tanto com 200 mil réis Que obtivera de esmolas(Cabral, 1972b, p. 159).
Chegou, nessa época, a entender-se com a Ordem Terceira para Que esta
construísse, mas enquanto o processo transitava, Gusmão obteve de André Vieira da
Rosa e sua esposa Ana de Souza Furtado, "(... ) em 1762, a doação de um terreno de
I O braças em Quadro [444 metros ouadrados], na encosta do morro a leste da vila, deu início a construção da sua sonhada capela e de uma casa anexa, onde passara morar com as suas companheiras." (Cabral, 1968, p. 77).
Assim, loana de Gusmão desfez o trato com a Ordem Terceira e em 2 de maio
de 1762 deu início à construção da capela e ao lado uma pecuena casa para residir
com outras Quatro beatas. A capela do Menino Deus era o espaço da assistência
espiritual, ediflcada no centro do terreno, ficando as outras edificaçôes anexas. A
capela consistia em uma capela-rnor e nave. Adjunto ficava uma peouena casa para a moradia das beatas e em uma parte dessa edificação ficava o Colégio de Meninas, onde além do ensino formal eram ensinadas boas maneiras e artes manuais. O estilo
do conjunto era colonial, sendo o seu exterior provavelmente caiado.
O conjunto recebeu intervenção em 1768, com o acréscimo lateral na
volumetria da capela,devido à necessidade de um local para a permanência da imagem de Nosso Senhor Jesus dos Passos. Esta, em 1764, estava sendo levada para o Rio Grande num navio Que, por três vezes, tentou seguir viagem, mas foi impedido devido
2Enciclopédia de Santa Catarina, v. 67. Setor de Obras Raras da Biblioteca Central da UFSC.
70 Biblos. Rio Grande. Is.
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6 9 · 8 5 . 2 0 0 3 .
• condições climáticas desfavoráveis: "Em tais sucessos julgou o capitão do navio a:
tarmanifestada a vontade divina, pelo Que, urgido também por aperturas financeiras, se resolveu a deixar a imagem na Vila do Desterro, pagas lhe sendo as despesas do seu
feitio." (Fontes, 1954, p. I 1-12).
Na época, Desterro era um povoado voltado ao comércio e a serviços ocasionais de fornecimento de madeira e víveres para os navios Que aportavam. Logo assim, as informações sobre a chegada dos navios eram de interesse da população, e
Q!.landose tratava de imagens sacras daouela envergadura, parece-nos provável Que
tenha sido objeto de intensa discussão à época. Fontes acrescenta em trabalho posterior Que a população manifestou-se pela permanência da imagem, sendo
acordado com o capitão da embarcação o preço do feitio da imagem (1965, p. 5).
Emjaneiro de 1765 foi fundada a Irmandade Senhor dos Passos, instalando-se
primeiramente na Igreja Matriz. Essa instituição religiosa tinha como princípio venerar
a imagem do Senhor dos Passos, Que em 1767 passou a ser festejada através
de procissão, a cada ano com pompa maior. Tradição e fé unem-se nessa festa
religiosa, Que ainda hoje é uma das mais fervorosas manifestações públicas dedevoção
do povo catarinense.
A Irmandade era, no segundo Quartel do século XVIII, a terceira associação religiosa a ser fundada em Desterro, à Qual Ioana de Gusmão iria se flliar
posteriormente. A primeira Mesa da Irmandade do Senhor dos Passos era composta
por 25 membros (irmãos), sendo Que entre esses havia os políticos de maior
representação da Capitania. O cargo mais alto da Mesa - o de provedor - foi
primeiramente ocupado pelo governador da Capitania, Brigadeiro Francisco Antônio
Cardoso de Menezes e Souza.
A provisão do Bispo do Rio de Janeiro de 3 de julho de 1767 concedeu à
Irmandade o direito de construir uma capela para abrigar o santo de devoção, sendo
iniciada a obra em 27 de [ulho de 1768 (Cabral, 1972a, p. 77). A Capela do Senhor
dos Passos é um acréscimo na lateral direita da Capela Menino Deus, formando um só
volume. A capela foi construída em aproximadamente um ano e meio por serventes e
escravos, totalizando o custo de 421.810 réis (Fontes, 1954, p. 12).
A piedade e a devoção eram os princípios básicos dasírmandades'. sendo Que
algumas também promoviam a assistência social, como é o caso da Irmandade do
:;.
J "As confrarias ou Irmandades eram formadas por leigos, sem restrições de Qualificação profissional e, às vezes, até mesmo sem distinção social, Que se reuniam para o exercício das 'obras de Misericórdia' definidas no século XIII por S. Tomás de Aoulno." (Mesgravis, 1976, p. 26). De origem na Idade Média, as irmandades, como as confrarias portuguesas, organizavam-se através de afinidades profissionais. No Brasil Colônia, sustentado pelo sistema escravista, as irmandades terão como parâmetros de distinção a raça e a condição social e econômica do devoto. Associações de caráter local. as irmandades eram formadas e administradas por leigos. Q.!Je promoviam e assistiam a devoção de um santo, sem a necessidade de Intervenção do clero (Priore, 1994, p. 37-38).
Senhor dos Passos em Desterro, Que após 1782 passa a multiplicar o seu benefício
social. A Irmandade em Questão passa, com a assistência aos enfermos e expostos, a
ter maior
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destaque na Vila, pois amplia suas tarefas de alcance social, transferindo uma parte das responsabilidades do governo da Capitania para essa instituição religiosa.A Irmandade Senhor dos Passos caracteriza-se por ser formada por homens
ricos e humildes e por mulheres (as "senhoras donas", incluindo [oana de Gusmão, Q.Ue
entram para a Irmandade a partir de 1797). Os cargos principais da Mesa da
Irmandade eram ocupados por homens influentes da elite (homens brancos, ricos e
livres) de Desterro, portanto existia distinção social, de gênero e racial. Na época, era
clara essa diferença - os afro-descendentes também tinham a sua própria confraria, a
Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito dos Homens Pretos. Segundo
Mortari, apesar de essa Irmandade ser composta por irmãos de cor, os cargos mais
altos (da Mesa) eram ocupados por homens de cor branca com grande representação
social na Vila e Capitania (1995, p. 23-24).
Nunes, em sua pesouísa sobre a Irmandade do Senhor dos Passos, percebe a
existência da distinção: "No Livro da Irmandade (atas e registros). escravos aparecem
como propriedade (bens da Irmandade) e não como Irmãos." (1994, p. 146). Os
escravos faziam os trabalhos mais pesados e "repugnantes", eram alugados para
aumentar a receita da Irmandade, angariavam esmolas junto com um irmão,
arrumavam e limpavam a igreja e cuidavam do asseio dos caixões de defuntos (Cabral,
I 972a, p. 10 I). Exemplo disso encontra-se no Termo da Mesa da Irmandade, na
décima resolução, de 5 de julho de 1782:
Determinárão Que o Tesoureiro actual dará ao preto da Irmandadea roupa Querequer
necessaria[...\, e da mesmaforma o sustento; tendo cuidado Queo dito preto trabalhe
de aluguel, e recebendo os dinheiros Que ele ganhar nesse trabalho dos ouaes
sera dever fazer carga, para ficarem pertencendo a mesma Irmandade de Quem o pretoéescravo.
A próxima edlfkação a fazer parte do conjunto foi o Hospital da Caridade dos Pobres, chamado inicialmente de lesus, Maria e [osé, concluído em fins de 1788. A
construção de uma Santa Casa" era necessária desde 1753, ouando pobres e
indigentes eram tratados no Hospital Militar? pela falta de outro.
4 Segundo Santos Fllho, as Santas Casas de Misericórdia são "(...) associações independentes do poder
público, compostas por pessoas endinheiradas, pertencentes à Igreja Católica Romana, QYe contribuíram com mensalidades, anuidades, donativos, esmolas e legados para o custeio das despesas hospitalares. Com uma tal benemerência, essas pessoas exerciam, através da caridade, um ato de alcance social. ou seja. o
amparo ao doente destituído de recursos, o tratamento hospitalar do indigente." (1991. p. 445).
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SO Hospital Militar localizava-se em salas do Quartel do Campo do Manejo. no local onde hoje encontra-se
o Instituto Estadual de Educação. O atual Hospital Militar foi construído em 1872, restando poucos traços de como fora originalmente edificado.
72 Biblos. Rio Grande. 15: 6 9 · 8 5 . 2 0 0 3 .
Devido à dificuldade do cirurgião-mor em atender a grande demanda
o ulacional. oue em 1748 a 1756. com a chegada de casaisaçoríanos" na Vila do 6tsterro. passou de 1.000 para 6.000 habitantes (número aproximado). tornou-se
rgente a construção de uma Santa Casa para ampliar o atendimento. Em 1753. em ~arta do Conselho Ultramarino ao Governador da Ilha de Santa Catarina, Sua Majestade
mandou curar os pobres até o terceiro ano de residência no país: mesmo depois desse
razo os colonos poderiam curar-se no Hospital Militar. na falta de um civil. No mesmo ~ocumento. Sua Majestade manda o governo persuadir os moradores para contribuir
na fundação de uma Casa de Misericórdia e Hospital. visto a grande utilidade pública,
sendo QUeo estabelecimento também receberia somas convenientes da realeza.
A Coroa Portuguesa. em reposta a um requerimento de 1765 do povo da Vila do Desterro. enviou em 1769 o cirurgião Paulo Lopes Falcão. nomeado cirurgião-mor
do Hospital Real (Militar) (Cabral, 1942. p.13). Para suprir a assistência aos doentes
vinham médicos de Portugal. Q.uemesmo assim não eram suficientes.
Entre 1754 e 1774. de acordo com Veiga, já estavam delineadas as ruas
centrais do núcleo (Igreja Matriz. praça e ramificações) e as oue faziam as ligações das
fortalezas e a Capela Menino Deus (1993, p. 64). As primeiras edificações em Desterro formaram-se no entorno das capelas e instituições religiosas. Com a
construção da Capela do Menino Deus começou a surgir um agrupamento de casas
em suas proximidades. originando assim o bairro do Toca. oue compreendia desde a
base da rochosa ladeira dos Passos até o morro da Boa Vista (Veiga. 1993, p. 110).
Para estes moradores oue viviam no entorno da Capela e para as povoações
vizinhas o dia 16 de novembro de 1780 foi um dia triste, pois falecia Dona Ioana de
Gusmão. considerada figura de grande sabedoria. piedade e bondade. Em Desterro,
Dona Ioana e posteriormente o Irmão [oaoulrn passaram a ser lembrados com grande
admiração por seus atos QUe marcaram a religiosidade popular.
O clima espiritual no século XVIII no Brasil foi marcado por leigos piedosos
Que atuavam nas populações mais humildes. e depois de mortos eram reverenciados
pelo povo (Priore, 1994, p. 47). Em correspondência régia àCâmara de Desterro em
1754, o Rei de Portugal em provisão ordena admitirem somente pedintes QUe
tivessem licença do Bispo. poroue era grande o número de eremitas pedindo com
caixinhas e imagens de santos na Capitania, sendo oue não poderiam andar vagamente
cometendoabusos.'
A Capela do Menino Deus fica aos cuidados da beata laclnta Clara, e após a sua morte foi entregue àIrmandade, em 19 de outubro de 1781. A Irmandade Senhor dos Passos assume a prática das obras de misericórdia aos enfermos indigentes,
6DeVido ao escorbuto e outras doenças. os imigrantes doentes Que chegavam à povoação de Desterro e
arredores eram conduzidos ao Hospital Militar.
7Correspondência Régia à Câmara. Ano 1750 a 1753.
Fundando a "Caridade dos Pobres". além de continuar com o culto do Senhor
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d o sPassos. a manutenção da capela e a organização de solenidades (Nunes. 1994.
p. 146). Pela necessidade de recursos para o sustento da Caridade dos Pobres. elll
10 de setembro de 1792 a Irmandade resolveu estabelecer um patrimônio QUe
Fornecesse soma suficiente. construindo uma caieira e casas para alugar.
Através dos cornprorníssos" da Irmandade Senhor dos Passos podemos
enumerar seus objetivos filantrópicos. Além do culto. tinha como atividade assistir os
necessitados com o Que lhe fosse possível. indo ao encontro da ética cristã. em Que o
princípio de igualdade diverge da sociedade escravocrata. O Termo da Mesa da
Irmandade de 3 de setembro de 1782 confirma essa vocação da instituição:
Que será continuada aos póbres enfermos. toda a assistencia a beneficio possivel Quê a Irmandade podér praticar com eles. como está determinado; enquanto senão formalisa o reouerímento. e Compromisso. Que brevemente sera de pôr em execução. para pedir a S. Mag. aouelas mercês. Que a sua Real grandeza. não deixará de conceder. Como esperamos para perpétua existencia de tais Santa Caridade.
Ainda no Termo da Mesa da Irmandade de 5 de julho de 1782 estabelece-se
no primeiro artigo o compromisso seguinte:
Determinarão Que visto não haver nesta vila a Santa Caza de Misericordia; para remedio dos pobres e necessitados e sem embargo de Que a Irmandade do Senhor dos Passos
desta mesma Vila não tem ainda suficiente funda para os socorros nas suas
enfermidades. contudo. se asistirá dos mesmos peouenos rendimentos dela aos ditos póbres Que necessitarem; dando Ihes não somente sepultura na nossa Capela Quando
falecerem. acompanhados da mesma Irmandade. mas também contribuindolhes
com sustento. e remedios necessarios para o seu curativo pelo amor de Deus. e
mandando os recolher para efeito em alguma casa. Quando forem totalmente destituidos de todo o Socorro [... ]
Em 3 de novembro de 1782 foi registrado o envio de um pedido de
autorização para a Coroa relativo à construção da Santa Casa": ''[. .. ] se pretende
8
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Cada irmandade. como instituição própria. tem o seu regimento. chamado de compromisso. onde estão os objetivos da sua existência. as normas de funcionamento e organização. os deveres. direitos e atividades dos irmãos.9As Santas Casas de Misericórdia da Ásia. da África e do Brasil tinham como referência para a elaboração de seus compromissos o da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa do ano de I 5 16 e suas reformas subseqüentes. Essa Santa Casa de Misericórdia tinha como obras de caridade sete práticas espirituais e sete corporais. a serem cumpridas por todos os irmãos. respectivamente: ensinar os ignorantes. dar bom conselho. punir os transgressorcs com compreensão. consolar os infelizes. perdoar as injúrias recebidas. suportar as deficiências do próximo. orar a Deus pelos vivos e pelos mortos. resgatar cativos e visitar prisioneiros. tratar dos doentes. vestir os nus. alimentar os famintos. dar de beber aos sedentos. abrigar os viajantes e os pobres. sepultar os mortos (Russel-Wood. 1981. p. 15).
74 Biblos. Rio Grande. I S:6 9 · 8 S . 2 0 0 3 .
anexar á mesma Irmandade do Sr. dos Passos. com duma petição Relatoria. e varios
documentos. por onde se mostra a S. Magestade os primeiros e justificados motivos.
QlIe esta Irmandade tem. para intentar a fundação de um ospítal, em beneficio dos
pobres miseraveis. indigentes. e necessitados [...]"10.
Em 5 de agosto de 1787 determinou-se a total separação financeira entre a
Irmandade e a Caridade dos Pobres. necessitando-se construir um hospital para recolher
os enfermos assistidos pela Caridade dos Pobres. Nesse mesmo dia. a Mesa
da Irmandade reuniu-se também para decidir sobre a construção do hospital. O
tesoureiro da Irmandade. Tomás Francisco da Costa. nessa reunião. apresentou
a Quantia Que seu filho [oaouirn Francisco do Livramento I I e um escravo haviam
arrecadado para as obras. A Mesa determinou o início da construção. mesmo antes
de receber autorização régia já solicitada. Os irmãos também determinaram Que
o dinheiro das esmolas para esse propósito fosse registrado no livro de receita e
despesa da Caridade.
O terreno para a construção do hospital ao lado da capela foi doado pelo
imigrante açoriano Capitão André Vieira da Rosa. A edífícação denominada Hospital
de Jesus. Maria e José - do lado direito da capela - ficou concluída no fim do ano de
1788 e inaugurada a 10de janeiro de 1789. sendo nesse mesmo dia os enfermos
recolhidos das residências particulares para o novo nosocômio.
A construção teve como responsável técnico. na função de mestre-de-obra. o
Irmão Tomás Francisco da Costa. A mão-de-obra era composta de pedreiros. carpinteiros.
serventes. escravos e um pintor. além do mestre carpinteiro. A matéria-prima básica era cal.
tijolos. telhas. madeiras e ferragens (Fontes. 1965. p. 269-270). Provavelmente outros
materiais foram empregados. como pedras para a fundação. não sendo especificados no
livro de despesa da Irmandade relativo ao período de 1788 a 1789.
Existem poucos registros desse período. As informações existentes nos
permitem dizer Que o Hospital era uma edificação retangular. térrea e de estilo
colonial. Althoff supõe tratar-se de urna ou duas enfermarias e um espaço para botica
(1988). Fontes. em sua pescuisa sobre a Irmandade. contabiliza no exercício dos anos
de 1789 a 1790 despesas com a enfermaria das mulheres (1965. p. 290). Esse dado
nos indica Que das duas enfermarias do Hospital. uma era destinada aos homens e
outra às mulheres - a separação era pelo gênero. Em outubro de 1795. foi construída
a casa do capelão. A obra foi coordenada e financiada por Tomás Francisco da Costa.
Que na época era provedor da Irmandade. sendo concluída em janeiro de 1796.
Nas atas da Irmandade e nos documentos pesouísados não encontramos mais
,
'.
)
10livro de Registro de Atas nO 2 - 1778 a 1797. .
II"Oapelido Livramento. Que ele substituiu ao de Costa. Q!Je seu pai e Irmãos usaram, deve ter procedido de devoção Que a família tinha por uma Imagem de N. Senhora do Livramento, colocada em um nicho na eSQuina da casa da rua Bela do Senado com a do Livramento, perante a Qual os vizinhos rezavam o terço todas as noites." (Jornal Argos da Cidade de Desterro, 19/9/1861, n. 813).
{
III11I1
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informações sobre a disposição interna do hospital e nem plantas!'. exceto a descrição
do naturalista viajante francês Auguste de Saint-Hilaire. Que. em 1820. em visita à Ilha
de Santa Catarina. nos fornece dados sobre o nosocômio: "Esse hospital tem apenas
um pavimento e oito janelas na fachada; goza. porém. de uma grande vantagem. pois
os ventos renovam ali o ar constantemente. ao mesmo tempo em Que a altitude do
lugar e a distância em Que se encontra da cidade colocam os habitantes desta ao
abrigo de todo o contágio." (1978. p. 171).
Em 1816. a Santa Casa foi considerada hospital militar e os doentes pobres da
região voltaram a ser atendidos em casas de particulares. sendo Que em 182 I o
hospital voltou a sua finalidade de origem. Saint-Hilaire descreve as transformações
dessa época:
Acompanhado do major-cirurgião do batalhão. fui visitar o Hospital do Menino Deus. o
oual [...1 havia sido provisoriamente transformado em hospital militar. As salas são
perfeitamente iluminadas. mas o prédio tem o inconveniente de ser muito baixo. e por
causa disso as janelas não podem. em certos casos. ser abertas sem risco para os
doentes. Quando o hospital ainda não era usado pelos militares. todas as salas eram
divididas. por tabiQueslJ• em peouenos cubículos individuais para os doentes.
(1978.p.183).
Saint-Hilaire continua na descrição Quanto aos espaços internos e à retirada
das divisórias dos Quartos a mando do major-cirurgião. formando da enfermaria um
único espaço:
Mas como era difícil renovar o ar nesses compartimentos. bem como mantê-tos
rigorosamente limpos. o major-cirurgião mandara retirar as divisões. Oestabelecimento
era bem administrado. nada faltava aos doentes. e os regulamentos. Que me pareceram
muito sensatos. eram seguidos à risca. Cada doente tinha sua própria cama. Ql.le ficava
bastante afastada das outras e não tinha cortinas. como é justo Que aconteça num país
Quente. Junto ao leito de cada doente havia um Quadro onde estava anotado o seu
nome. a data do seu internamento ete. (I978. p. 183).
Em 1828. foi implantada a Roda dos Expostos" no Hospital de Caridade;
12A respeito da inexistência nosarquivos das plantas das obras executadas. o pesouísador Carlos Ott, no caso da Santa Casa de Misericórdia da Cidade de Salvador. concluiu Que as folhas soltas de plantas só eram guardadas até a conclusão das obras. Com a obra finalizada não se via razão para conservá-Ias. pois a própria obra testemunhava a realização da planta (1960. p. 13-14). Provavelmente o mesmo deve ter sucedido no Hospital de Jesus. Maria e José - atual Hospital de Caridade.
IJ Segundo Mascarello, tabíoue é uma parede delgada. geralmente de tábuas. Que serve para dividir
compartimentos (1982. p. 17).
14A roda era uma armação giratória com uma prateleira. em Que pelo exterior do edifício podia-se colocar o
exposto; o peso deste fazia com Que o mecanismo girasse. recolhendo-o ao hospital.
76 Biblos. Rio Grande. I S: 69· 8S. 2003.
antes dessa data os expostos" eram recolhidos em casas de particulares. e a
responsabilidade de fiscalizar o bom trato ficava à Câmara. O registro mais antigo até
hoje encontrado sobre essa prática em Desterro data de 1757 (Oliveira. 1990. p. I I).
O hospital administrava o destino dos expostos e fiscalizava se as amas estavam
cuidando como o combinado em contrato. Esse trabalho era pago pela Câmara
Municipal. Para cuidar de todas as atividades relativas a esses recém-nascidos
abandonados. foi criado na Irmandade o cargo de Mordomo dos Expostos.
Porém. no primeiro Quartel do século XIX. era necessário uma reforma do
Hospital pois seu estado era de calamidade: "Em 1839 (... ). argumentava-se Que o
Hospital. além de ter reduzida capacidade para receber doentes. foi feito para recolher
doze homens e seis mulheres. achava-se em estado de ruína. Quando sobreveio a
tempestade de março do mesmo ano. Que a aumentou (... )" (Oliveira. 1990. p. 178-179).
Em reuniões da Mesa da Irmandade. resolveram erigir um novo hospital do
lado direito da capela. A Irmandade. através da extração de loteria. resolveu i,( ... ) a
7 de julho. convocar dois engenheiros para darem planta e orçamento; e a 30 de
julho. aprovou e resolveu executar a planta elaborada pelo emigrado argentino
Dr. Moreno [ ...
l"
(Fontes. 1965. p. 337).O lançamento da pedra fundamental em 23 de setembro de 1845 foi feito
pelas maiores autoridades existentes no Reino: o Imperador Dom Pedro 11. Dona
Teresa Cristina. o Bispo Diocesano Dom Manoel de Araújo e outras personalidades
locais. O prédio demorou dez anos para ser construído. e ao seu término foi
inaugurado com o título de "Imperial" Hospital de Caridade. "O ato ocorreu a 5 de
março de 1855 e culminou com a transferência dos doentes da velha Casa para a
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n o v a . E av e l h a ' Casa desapareceu." (Fontes. 1965. p. 337).
A construção de 1854 era um edifício de dois pavimentos. permanecendo o
primeiro hospital do lado direito da capela. Sobre essa obra do lado norte da capela. a
Fala do Presidente da Província oferece-nos importante descrição:
Está concluido o lado do Norte. o .centro e a cozinha; a primeira enfermaria do lado Sul
acha se coberta e fechada. conserva-se porém em osso. por assoalhar.e forrar. Conouanto
o lado do Norte tenha bastante com modo para 120 enfermos. numero muito superior ao
Que demandão os socorros. e mesmo podem ser socorridos attentos os poucos reditos do
hospital e irmandade. entendo de conveniencia Que se conclua ao menos em parte o lado
do Sul para haver uma melhor separação dos sexos. (18S6. p. 14).
Em 1855 resolve-se edíflcar um Asilo para Lázaros na extremidade sul da
propriedade do Hospital. É possível Que esta edifícação seja o prédio hoje conhecido
como Casarão. A obra. concluída em 20 de dezembro de 1856. foi financiada pelo
IS
. Expostos eram crianças rejeitadas. abandonadas nas ruas em lugares Q!Jegeralmente colocavam em risco a Vidado recém-nascido. As crianças ficavam expostas ao relento e ao ataoue de animais. eram largadas por faltade condições para seu sustento ou por serem resultado de uma relação proibida.
Biblos.Rio Grande. 15: 69· 85. 2003.
irmão José Martinho Callado e sua esposa D. Rita Candida Pereira Callado
(Cabral. 1942. p. 84).
A lepra tornara-se freoüente. sendo necessário uma casa de recolhimento.
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Oasilo construído em terrenos do Hospital de Caridade. segundo o Presidente da
Províncía", tinha o inconveniente de estar próximo da comunidade urbana. além de a
Irmandade não obter recursos suficientes para o tratamento dos leprosos.
Posteriormente. em 1879. a Irmandade contratou os serviços de pedreiros e serventes
para consertos no prédio destinado ao hospital dos lázaros. mas não temos
conhecimento de até Quando o prédio continuou a exercer sua função de origem.
Em 1857. as primeiras irmãs de caridade chegam à Ilha de Santa Catarina para
servirem de enfermeiras no Hospital de Caridade. junto com dois padres. Todos eram
franceses; assistiam os doentes e ensinavam meninos e meninas. Para essa última tarefa
foi criado um Asilo de Órfãos. Que Cabral denomina de educandário para crianças
maiores (I 972c. p. 158). O Relatório do Vice-Presidente da Província de 1864 traça
um panorama desse asilo. Que parece abrigar somente meninas:
He igualmente Iisongeiro o estado do serviço do Asylo de orphãs anexo ao Hospital.
onde existem vinte e seis recolhidas educandas de idade entre 7 a 16 annos. orphãs
desvalidas e expostas. e Que alem das primeiras letras. aprendem grammatica da Iingua
nacional. francez, geographia. doutrina chrístã. as prendas domesticas. em fim recebem
a educação moral propria para formar boas mães de família (... ) (1864. p. 24).
Essas irmãs. da Ordem de São Vicente de Paula, trabalharam por oito anos no
Hospital exercendo várias tarefas e também ajudando no orçamento através da venda
de flores artificiais e de outros objetos manufaturados no estabelecimento.
Posteriormente. outras irmãs de diferentes ordens vão ser contratadas pela Irmandade
Senhor dos Passos para prestar assistência social aos Que estavam abrigados no
complexo hospital-asilo.
Na metade do século XIX. as polêmicas acerca da higiene e saúde pública
começaram a provocar as primeiras reformas na concepção dos espaços. Os corpos
dos falecidos. em sua maioria. nos séculos XVI. XVII e XVIII eram enterrados dentro
dos templos. Esse costume passa. nessa época de controvérsias. a ser considerado
insalubre. Essa nova concepção higienista irá estimular a construção de cemitérios. O
cemitério da Irmandade Nosso Senhor dos Passos é construído em 1852. alguns anos
depois da proibição de enterrar-se dentro de igrejas ecapelas".
16Fala do Dr. Ioão Capistrano Bandeira de Mello Filho. 1879: p. 45-46.
17lei Provincial nO 137. de 22/4/1840. lei Que autoriza a construção de um Cemitério Público em Desterro.
localizado próximo àcabeceira insular da futura ponte Hercílio luz. sendo administrado pela Câmara Municipal. Vide artigo 3°: "Do I ° de Janeiro de 1848 em diante. só no Cemiterio publico se sepultarão os cadaveres das pessoas. Que falecerem no Districto da Capital. ou Que nelleoueírão sepultar-se."
78 Biblos. Rio Grande. I S:
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6 9 · 8 S . 2 0 0 3 .Em 1864. o hospital por falta de recursos não empreendeu nenhuma obra:
(... ) apesar de ser urgente o encanamento da agoa por tubos de ferro. chumbo. ou ao
menos de barro até a casinha e enfermarias; nem lhe é possível dar modos á edificação
de uma enfermaria para alienados de Que tanta necessidade temos nesta cidade (...).'8
Os doentes mentais eram atirados na Câmara Municipal em celas escuras e
isoladas. Segundo Cabral, dar a estes um local próprio junto ao Hospital de Caridade já era
uma preocupação desde 1850 (1942. p. 58). O poder público. em 1876. preocupado em
oferecer "melhores condições". transferiu oito alienados para a Fortaleza de Anhatomirim.
Somente em 1942. com a criação da Colônia Santana. em São José. projetou-se um
. espaço especial para o tratamento de pessoas. com alguma deficiência mental.
Por volta de 1877 a 1888. a situação financeira do Hospital era grave:
"DeseQuilibradas. como andam. a receita e a despeza daouelle pio estabelecimento. si
o poder competente o não auxiliar convenientemente ver-se-ha a respectiva
administração obrigada a fechal-o, o Que será uma verdadeira calarnidade."!" Em Fala
do Presidente da Província em 1886. os leitos destinados a Quem Quisesse ou pudesse
pagar foram considerados uma alternativa para o aumento da renda do Hospital de
Caridade. Nessa época. havia dois leitos no hospital para este fim. A separação de
enfermos pagantes e o aumento desses leitos eram aconselháveis para a época. O
Presidente da Província. em seu relatório em maio de 1888. faz severas críticas às
Casas de Caridade da Província 20:
Devo declarar a V. Ex. Que no geral as casas de caridade n'esta Provinda não
correspondem á sua grandiosa missão. Levantadas á custa da Provincia, tem cada uma
sua organização dever a. e as respectivas Mezas consideram se com o direito de pôr e
díspôr sem contraste. e de exigir Que a Provincia não só Ihes dê o patrimonio. mas
ainda largas subvenções annuaes para ficarem ásua disposição. sem Que elIas ao menos
dirijam á Presidencia o relato rio annual, a Que são terminantemente obrigadas por Lei.
Algumas o fornecem Quando exigido para base dos relatorios da Presidencia: a da
Capital ainda assim. apenas fornece balancetes. De algumas sei Que limitaram o numero
de leitos. e a da Capital tem sempre recusado receber os enfermos. ainda Que poucos.
Que as autoridades têm tido necessidade de enviar para o seu hospital.
Apesar das críticas do poder público. no final do século XIX as subvenções são
mantidas. Em 1892. o Tesouro do Estado doou dois mil contos de réis para a
construção da ala direita do hospital.
18Relatório do Vice-Presidente da Província, 1864, p. 25.
19Relatório da Província, 1878. p. 33.
10Nesta época existiam Quatro Casas de Caridade na Província de Santa Catarina: o Imperial Hospital em
Desterro (Hospital de Caridade). o de Laguna. o de São Francisco do Sul e o de Caldas da Imperatriz.
Depois das irmãs francesas, enfermeiros e enfermeiras cuidaram dos doentes
no hospital até Que, em 1897, cinco irmãs da Congregação da Divina Providência
assumiram a sua direção. Foram recebidas em 29 de agosto desse ano com uma missa
solene. O hospital era a escola prática dessas irmãs, Que aprendiam a atuar corno
enfermeiras e farmacêuticas. De 1924 a 1939, nos relatórios dos Provedores são
citados os serviços das irmãs da Divina Providência.
No biênio de 1924/26 também prestaram auxílio ouatorze irmãs da Ordem da
Beneficência Portuguesa de Pelotas, Rio Grande do Sul. Em 1939, a atuação das irmãs
da Divina Providência foi restrita a farmácia, sala de operações, gabinetes de raíos-x e
fisioterapia.
A última década do século XIX e o começo do século XX são marcados por
obras de reforma e a construção de acréscimos. Em 1906 é construída outra
ediflcação de dois pavimentos Que avança dos fundos da lateral esouerda, alinhando-se
frontalmente com a capela. A fachada é embelezada com pia tibandas vazadas com
linhas curvas e balaustradas e detalhes decorativos em gesso, tornando-se eclética. No
biênio I 9 18/20, ocorrem melhoramentos internos: "São obras de renovação do
assoalho na enfermaria térrea do lado direito da entrada do hospital, construção de
nova sala para arouivo e construção de um compartimento para laboratório da farmácia
do hospital. tudo isso no ano de 1919." (Althoff, 1988).
Durante os anos de 1922 a 1924, algumas enfermarias foram pintadas
internamente, sendo completada a pintura exterior do edifício. O cemitério da
Irmandade foi ampliado em 1924, obra administrada pelo irmão engenheiro Frederico
Selva, dispondo de mais de 108 catacumbas, além das 120 já existentes."
Para auxílio na manutenção do hospital, a Irmandade contava com o auxílio de
subvenção federal e estadual, e com a arrecadação do Imposto da Caridade,
proveniente da contribuição marítima e da taxa sobre o álcool. O período também é
marcado por obras Que evocam a modernidade e a higiene: "(... ) foi dotada de uma
nova mesa de operações systema moderno e outros acessorios. estando presentemente
provida de um arsenal completo.?"
Dentro dessa nova concepção de "hospital asséptico", foram internamente
pintadas as enfermarias, os Quartos, a farmácia, a cozinha e suas dependências. O
espaço interno estava sendo remodelado segundo essa ótica higienista: "A esse tempo
adaptavam-se também salas para curativos, privadas, e banheiros em todas as
dependencias internas do ediflcio de modo a' fornecer a par da hygiene e
commodidade de serviço, o conforto aos doentes.?"
Em 8 de dezembro de 1925 foram inauguradas as novas construções e
21 Relatório do biênio de 1924-1926.
22 Relatório do Provedor do biênio de 1922/24.
23 Relatório do Provedor do biênio de 1924/26.
80 Biblos. Rio Grande. 15: 69· 85. 2003.
instalações para os aparelhos de ralos-X. os primeiros de Santa Catarina. Ainda, o
acréscimo da ala norte, onde deveriam localizar-se os Quartos da primeira classe para
homens. Efetuou-se a remodelação da fachada e do lado esquerdo da ala norte, "(... )
em cuja frente notavam-se grandes fendas, apresentando um aspecto antiquado.
senão absoleto, pois Que a sua construcção data do anno de 1846.,,24 As
edificações Que apresentavam os estilos de tempos passados eram consideradas
antiQ!.lados e obsoletos.
Também foram construídos os avarandados da lateral esouerda: "Dous
extensos avarandados eram construidos ao longo dos fundos do edlfício. forrados e
ladrilhados, de modo a ficarem ligados os Quartos particulares existentes nas
extremidades, á parte central do edíflclo, com serventia para os doentes dos Quartos e
das enfermarias; todo o patio fronteira a Pharmacia foi também ladrllhado.?" O térreo
dessa mesma ala era ocupado pela oficina de caixões fúnebres, onde havia uma grande
sala, Que, depois de reformada, tornou-se uma enfermaria para tuberculosos.
As enfermarias, ouartos, farmácia, cozinha e dependências foram novamente
pintados interiormente no biênio de 1924/26. O muro do lado direito do hospital
foi completado, ligando-se aos fundos, para maior segurança, de modo Que os
visitantes obrigavam-se a utilizar somente a portaria do edifício, onde poderiam ser
notados e identificados.
Em 16 de abril de 1928 foi inaugurado o pavilhão dos tuberculosos, com o
título de Pavilhão Dona [oseflna V. Boiteux. Localizava-se no lado esouerdo da capela,
no local onde existe ó bloco com poço de elevador. A construção desse recinto para
tuberculosos era vista como necessidade pela Irmandade desde 1920.
Em meados de 1928/30 o hospital dispunha de dez enfermarias e mais
Quartos particulares, tendo como principais obras no período o "Retelhamento geral do
edifício, com excepção do telhado da ala Sul (... ) Assoalhamento de uma enfermaria e
substituições de soalhos por ladrilhamento em varias dependencias (... ) Reforma geral
em toda a rede electrica do edifício. Construção de um deposito para ínflarnaveís (... )
Pintura interna de todas as enfermarias, Quartos da secção feminina e corredores, bem
Como respectivos moveís.?"
Em 1930 e 1931, período de agitação política e revolução no país, o hospital
atendeu I 09 militares, sendo três militares operados e um falecido no
estabelecimento. Em dezembro de 1930 é inaugurada com grande solenidade a gruta
de Nossa Senhora de Lourdes, Que vem a embelezar o jardim interno.
A fachada nobre da entrada principal do hospital provavelmente tenha sido
Concebida Quando da construção do pavimento superior no centro do edifício, em
2.Relatório do Provedor do biênio de 1924/26.
25 Relatório do Provedor do biênio de 1924/26.
26Relatório do Provedor do biênio de 1928/30.
1932. para abrigar o dormitório das irmãs de caridade. A planta dessa obra fOi
organizada pelo irmão engenheiro Frederico Selva e aprovada pela Irmandade desde
1924. A entrada nobre. com escadarias em forma de cruz.
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adoulrlu importância aocentro da fachada do conjunto.
Com o crescimento da cidade e o conseoüente crescimento da demanda
hospitalar do município e microrregião. o hospital teve Que ampliar suas instalações e
modernizar-se. Principalmente nas primeiras décadas do século XX. novos volumes forarn
construídos: "Na terceira década deste século o conjunto se encontra com um grande
número de acréscimos. mas ainda continua guardando uma figuratividade coerente. o QUe
de certa forma lhe garante. a meu ver. uma unidade formaL" (Althoff. 1988).
Após a década de Quarenta. grandes edificações vêm alterar e Quebrar.
"C ..)
tanto em proporção como em estilo. o eoullíbrio formal até então existente. A torre da
capela passa a ser central. e um torreão vem com ela competir na extremidade
esouerda do conjunto. Muda-se. assim. radicalmente a figuratividade. perdendo-se a unidade anterior." (Althoff. 1988).
Na história da edificação do Hospital de Caridade. percebemos Que as grandes
mudanças foram decorrentes de ampliações para o atendimento da freoüente
demanda. Externamente os volumes recebiam as características estilísticas próprias de
cada época. Internamente o hospital se configurava segundo a organização hospitalar e
a forma de assistência social praticada.
O hospital revela-se como testemunho arouitetônico com diversos estilos.
como espaço de práticas sociais e médicas desde o século XVIII e como monumento
edificado. A relação de dependência entre a cidade e o hospital é clara Quando
observarmos Que as suas etapas de construção ocorreram em relação ao crescimento
populacíonal, e suas práticas modificaram-se em relação às alterações na vida cotidiana
da população. Sobretudo. visualizar a história do conjunto do Hospital de Caridade é
compreender um pouco da história da cidade. das relações entre cidade e hospital e
das relações entre o hospital e o povo catarinense.
REFERÊNCIAS
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Casas _ e
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
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ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SANTA CATARINA
Fala do Presidente da Província de Santa Catarina Feliciano Nunes Pires, em 10 de março de 1835
apresentado à Primeira Assembléia da mesma Província. '
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Relatório do Presidente da Província [oão Carlos Pardal à Assembléia Legislativa Provincial. Cidade do Desterro, 10de março de 1839.
Relatório do Presidente da Província Francisco [osé de Souza Soares de Andréa àAssembléia Legislativa Provincial. Cidade do Desterro, 10de março de 1840.
Relatório do Presidcntc da Província Antero losé Ferreira de Brito à Assembléia Legislativa Provincial. Cidade do Desterro, 10de março de 1841.
Relatório do Prcsidentc da Província Antero [osé Fcrreira de Brito à Assembléia Legislativa Provincial. Cidade do Desterro. 10de março de 1844.
Relatório do Prcsidentc da Província Antcro [osé Ferrcira de Brito à Assembléia Legislativa Provincial.
Cidade do Desterro, 10de março de 1845.
Relatório do Presidente da Província Antero [osé Ferreira de Brito à Assembléia Legislativa Provincial.
Cidade do Desterro. 10de março de 1846.
Fala do Presidente da Província [oâo losé Coutinho àAsscmbléia Legislativa Provincial no ato dc abertura de sua sessão extraordinária. Cidade do Desterro. 10de março de 1851 (manuscrito).
Relatório do Prcsidcntc da Província loão [osé Coutinho à Assembléia Legislativa Provincial. Cidade
do Desterro, 10de março de 1852 (manuscrito).
Fala do Presidente da Província [oão losé Coutinho à Assembléia Legislativa Provincial por ocasião de abertura de sua sessão ordinária. Cidade do Desterro, março de 1853 (manuscrito).
Relatório do Presidente da Província [oão losé Coutinho à Assembléia Legislativa Provincial. 19 dc abril de 1854 (manuscrito).
Falia Que o Exm. Sr. Dr. [osé Coutinho Presidente da Província de Santa Catharina dirigio á Asscrnblea Legislativa Provencial. no Acto d'Abertura de sua Sessão Ordinaria em o 10de março de 1885. Desterro: Typ. do Correio Catharinense, Largo do Quartel, 1855.
Falia Que o Presidente da Província de Santa Catharina Dr. loão Coutinho dirigio á Assernbléa Legislativa Provincial no Acto d'Abertura de sua Sessão Ordinaria. Em 10
de março de 1856. Rio de [anelro:
Typ. Universal de Laemmert, 1856.
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Relatorio do Vice Prcsidentc da Província de Santa Catharina o Commendador Francisco losé d'Oliveira apresentado a Assembléa Legislativa Provincial na Ia Sessão da 12a Legislatura. Santa Catharina: Typ. Catharinense de F. V. Avilla &Cia, 1864.
Relatorio apresentado á Assembléa tcgtslativa Provincial de Santa Catharina na sua sessão ordinaria, ao 10 Vice-Presidente Commendador Francisco [osé de Oliveira, por ocasião de passar-lhe a administração o
Presidente Adolpho de Barros Cavalcanti de Albuoueroue Lacerda no anno de 1868. Rio de laneiro:
Typ. Nacional, 1868. .
Biblos, Rio Grande. 15: 69-85, 200).
84
Rela tario
apresentado á Assembléa Lcgislativa Provincial de Santa Catharina pelo presidente Dr. Carlos Aug
usta
Ferraz deAbreu no Acto da Abertura da Sessão em 2de abril de 1869. Desterro: Typ. de I· I·
Lopes, 1869.
Falia dirigida à Asscmblea Legislativa provincial de Santa Catharina em 25 de março de 1874 pelo
fJ(1Tl. Sr. Presidcnte da Provincia Dr. [oão Thomé da Silva. Cidade do Desterro: Typ. de I. I·topes, 1874.
Falia com Q!le o Exm. Sr. Dr. [oão Capistrano Bandeira de Mello Filho abrio a IaSessão da 2 IaLegislatura da p.ssembléa Legislativa da provincia de Santa Catharina em 1
0
de março de 1876.
Relatorio com Q!le ao Exm. Sr. Dr. Lourenço Cavalcanti de AlbuQuerQue passou a administração
da Pro
vincia de Santa Catharina o Exm. Sr. Dr. 10aQuim da Silva Ramalho 1
0
Vice-Presidente em 7de maio
de1878. Destcrro: Typ. Regeneração, 1878.
Falia do Presidente da Provincia de Santa Catharina [osé Rodrigues Chaves. Santa Catarina, 2 de fevereiro
de 1881.
Relato
rio apresentado a Assembléa Legislativa da Provincia de Santa Cata ri na na
Ia Sessão dc sua 26
a
Legislatura pelo Presidente Dr. Francisco losé da Rocha. Em 2I de julho de 1886. Desterro:
Typ. do Conservador, 1886.
Relatorio com QUC ao Exm. Coronel Augusto Fausto de Souza Prcsidente da Provincia de Santa Catharina
passOu a administração da mesma província Dr. Francisco [osé da Rocha. Em 20 de maio de 1888.
Desterro: Typ. do Conservador.
Relatório apresentado á Mcsa Administrativa da Irmandadc do Senhor [esus dos PassoS e Hospital de Caridade pelo Vice provedor em exercício Descmbargador Antero Francisco de Assis refercntc ao biennio
de 1922 a 1924. Typ. da Escola Artificios, 1924.
Relatorio apresentado á Mesa Administrativa da Irmandade do Senhor [esus dos Passos e Hospital de
Caridade referente ao biennio de 1924 a 1926 pelo seu provedor Cel. Germano Wendhausen.
Typ da Livraria Moderna, 1927.
Mensagem apresentada á Assembléa Lcgislativa, a 29 de julho de 1928, pelo doutor Adolpho Konder, Presidente do Estado dc Santa Catarina.
Relatório aprescntado ao provcdor da Irmandade do Senhor dos Passos e Hospital de Caridade Exmo. Snr. Desembargador Antero F. de Assis refercntc ao biennio dc 1928 a 1930 pelo seu secretario Cantidio Alves
de Souza. Florianópolis, 1931.
8S