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Arq. Bras. Oftalmol. vol.64 número5

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Academic year: 2018

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Arq Bras Oftalmol 2001;64:489 Recentemente um Professor Universitário brincou durante uma

apresentação para graduandos dizendo que os Professores não são ricos pois “dão” aulas, e não as “vendem”. O comentário irônico produziu o efeito desejado e permitiu que sua apresentação prosse-guisse com mais entusiasmo.

Infelizmente temos visto que a ironia tem se tornado tragédia. É trágico quando uma Sociedade organizada vincula a recepção do conhecimento ao poder aquisitivo dos que a receberão. É ignóbil quando as nossas Sociedades não somente limitam a recepção, mas a transmissão do mesmo, vinculando a participação em palestras con-vidadas, ao pagamento de taxas.

São os Convites Pagos para Cursos e Congressos Oftalmoló-gicos. Com o pretexto de melhorar a saúde financeira de Sociedades de Especialidade vinculadas ao Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), e mesmo de outras organizações, assistimos impassíveis a uma tendência que tem se mostrado isolacionista e contra-produ-cente no campo da disseminação do conhecimento. A cobrança para apresentação de Palestras.

Devemos aqui fazer uma distinção entre a participação em um congresso para apresentação dos resultados de um trabalho cien-tífico (ARVO por exemplo) e a participação como um professor convidado a proferir uma palestra. Na segunda hipótese o palestran-te é um dos motivos pelos quais uma pessoa se inscreve no congres-so, enquanto o interesse da apresentação e discussão de um trabalho científico é do próprio pesquisador.

A criação de uma sociedade oftalmológica pode se tornar uma grande e lucrativo “negócio”, pois temos cerca de 10.000 oftalmolo-gistas no Brasil, alguns dos quais dispostos a pagar para dar uma aula

CARTAS AO EDITOR

Dando Aulas

em algum congresso. O Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) deu um exemplo louvável ao dispensar da inscrição no maior con-gresso da história do Brasil e um dos maiores concon-gressos do mundo, todos os palestrantes convidados pela sua comissão científica. Aqueles que já foram convidados a proferir palestras em congressos como os da Academia Americana de Oftalmologia sabem que esta política já era aplicada por eles. Tomara seja possível chegar a outro patamar de desenvolvimento e cultura, quando os palestrantes não só seriam isentos de taxas, mas teriam estímulos para suas apresen-tações.

Enquanto isso, em algumas sociedades que têm como principal objetivo a obtenção de lucros através dos congressos, fazem o inverso: os convidados estrangeiros têm as suas despesas pagas pelos grandes laboratórios enquanto os brasileiros pagam até a inscrição nos congressos.

Em outro cenário, diríamos que os organizadores estariam vendendo espaço publicitário, que em nada desmerece um evento de vendas, mas é absurdo num ambiente científico. A ciência não deve ser veículo de promoção pessoal, não pode retroceder a Idade Média. É a universali-zação do conhecimento que separa a humanidade da barbárie.

Cabe uma pergunta aos participantes dos congressos no Brasil: qual informação eles estão dispostos a pagar para receber?

É absurdo pensar em congressos sem congressistas. É tolice pensar em conhecimento sem estudo, dedicação e experiência. É natural que em meio a infinidade de encontros repetitivos, haja dificuldade em aumentar a audiência própria, porém inverter as prioridades, e resolver problemas “pessoais” usando do trabalho alheio é injusto e deve ser repudiado.

Amadorismo ou exploração

Há algum tempo, criticado e aplaudido, porém não imitado, o Prof. Dr. Harley Bicas (redator dos Arquivos Brasileiros de Oftalmologia), passou a rejeitar propostas de participações em reuniões científicas, tendo que arcar financeiramente com todas as suas despesas como se apenas fosse um dos participantes inscritos no evento. Na maioria dos eventos de porte no país nenhuma vantagem se oferece àqueles que são considerados os melhores em suas atividades e que na realidade representam os artistas do show. Quem já convidou um artista famoso para um show sem cachê? É honroso para qualquer de nós a participação como palestrante em qualquer evento. Enche-nos o ego. Coloca-nos junto a outros colegas ilustres. Dá-nos despesas de confecção de trabalhos, de diapositivos, de disquetes de computador. Dá-nos obrigações cientí-ficas, estudo exagerado, tempo perdido. Todos estes “prós e con-tras” para que este mesmo ego seja satisfeito, pois há longo tempo esta é a rotina dos “professores” em nosso país, em troca de papéis que na maioria das vezes de nada valem.

Não somos contra esta postura vigente, já que participamos de quase todos os eventos em nosso país, porém chamamos a atenção para o momento que passamos, passando também a, em certas situações, a aplaudir mais entusiasticamente a atitude do Prof. Harley.

Queremos falar especificamente de fato ora rotineiro de que, ao chegarmos a um evento somos logo abordados por alguém para que assinemos um termo abrindo mão de todos os direitos, para permitir a filmagem de nossas palestras.

Santo amadorismo ou exploração descabida?

O pior é a situação hoje comum de chegarmos a alguns locais e nos vermos, de repente em uma tela qualquer a ministrarmos repetidos cursos, para os quais não fomos convidados e ainda por cima termos estas imagens sendo vendidas em forma de vídeos comerciais por vários anos.

No entanto, assinamos o malfadado papel, uma única vez de modo bastante inocente.

Talvez estejamos buscando mostrar o caminho do profissiona-lismo inicialmente defendido pelo Harley.

Não queremos, na maioria das situações, ser ditos mercenários ou coisa similar, porém devemos nos conscientizar que nosso trabalho científico colocado em vídeos deve ser valorizado, e que as empresas que hoje inclusive são pagas para filmarem os eventos devem ser as responsáveis, através de direitos autorais dos benefí-cios a serem oferecidos aos palestrantes dos eventos, do mesmo modo que a quaisquer artistas, o que de fato somos.

Prof. Dr. Renato Curi

Wallace Chamon Paulo Schor

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