Andrade CF, Camargo SM, Cardoso PFG, Felicetti JC
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Carcinoma mucoepidermóide
*CRISTIANO FEIJ Ó ANDRADE1, SPENCER MARCANTÔNIO CAMARGO2, PAULO FRANCISCO GUERREIRO CARDO SO3, JOSÉ CARLOS FELICETTI4
O carcinoma mucoepidermóide é uma neoplasia infreqüente da árvore traqueobrônquica e de etiologia ainda indeterminada. Sua localização endobrônquica preferencial freqüentemente causa sintomas respiratórios obstrutivos e pneumopatias de resolução lenta. Normalmente, são tumores de
crescimento lento, mas que podem apresentar comportamento agressivo, com invasão local e metástases para linfonodos, dependendo das suas características histopatológicas. O tratamento de
eleição é o cirúrgico, com ressecção completa, seja através de lobectomia ou broncotomia e broncoplastia. O prognóstico dependerá do grau de diferenciação celular desses tumores. Relata-se
um caso dessa rara neoplasia descrevendo suas características clínicas, radiológicas e o tratamento cirúrgico. (J P n e u m o l 2 0 0 2 ;2 8 (6 ):3 4 2 -4 )
Mucoepiderm oid carcin om a
Mucoepiderm oid carcin om a is an un com m on n eoplasm of the tracheobron chial tree, of un k n own etiology. Its preferred en dobron chial location often results in respiratory sym ptom s such as obstruction of the airways an d lun g diseases of slow recovery. T hey usually are slow growin g tum ors although they m ay presen t an aggressive behavior with local in vasion an d lym ph n ode m etastases depen din g on their histopathologic characteristics. T he m ain stay therapy is com plete
surgical resection either by m ean s of lobectom y or by lun g sparin g procedures such as bron chotom y an d bron choplasty. Progn osis depen ds upon the degree of cellular differen tiation of
the tum ors. T he authors report a case of this rare n eoplasia an d describe the clin ical an d radiographic characteristics, an d the surgical treatm en t.
RELATO DE CASO
* Trabalho realizado no Dep artamento de Cirurgia Torácica, Pavilhão Pereira Filho, Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Funda-ção Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, RS. 1 . Cirurgião Associado do Serviço de Cirurgia Torácica do Hosp ital da
Criança Santo Antônio – Santa Casa de Porto Alegre. Mestre em Pneumologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). 2 . Cirurgião do Grupo de Transplante Pulmonar da Santa Casa de Porto Alegre. Mestrando da Pós-Graduação em Pneumologia, Universida-de FeUniversida-deral do Rio GranUniversida-de do Sul.
3 . Professor Adjunto de Cirurgia Torácica, Dep artamento de Cirurgia, Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre.
Cirurgião Torácico do Pavilhão Pereira Filho, Santa Casa de Porto Alegre.
4 . Professor Assistente de Cirurgia Torácica, Dep artamento de Cirur-gia, Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Ale-gre. Cirurgião Torácico do Pavilhão Pereira Filho, Santa Casa de Porto Alegre.
En d ereço p ara corresp on d ên cia – Paulo F. Guerreiro Cardoso,
Pavi-lhão Pereira Filho, Santa Casa, Rua Prof. Annes Dias, 2 8 5 , 1o andar –
9 0 0 2 0 -0 9 0 – Porto Alegre, RS. Tel./ fax: (5 1 ) 3 2 2 7 -3 9 0 9 , 3 2 2 8 -2 5 1 0 ; e-mail: cardoso@via-rs.net
Re ce bido p ara p ublicação e m 4 / 4 / 0 2 . Ap ro vado , ap ó s re vi-s ã o , e m 1 7 / 7 / 0 2 .
Descrit ores – Carcinoma mucoepidermóide. Neoplasias
pulmona-res. Pneumonectomia.
Key words – Mucoepidermoid carcinoma. Lung neoplasms.
Pneu-monectomy.
I
NTRODUÇÃOO carcinoma mucoepidermóide é uma neoplasia infre-qüente da árvore traqueobrônquica, representando cerca de 0 ,1 % a 0 ,5 % das neoplasias primárias do pulmão(1 ,2 ).
Sua etiologia ainda é indeterminada, mas supõe-se que esses tumores sejam originados das glândulas brônqui-cas(3 ).
R
ELATO DO CASOJ Pneumol 28(6) – nov-dez de 2002 343
Carcinoma mucoepidermóide
de lesão endobrônquica adjacente à carena secundária à esquerda (Figura 1 ). A paciente não relatava história pré-via de infecções resp iratórias. O exame físico revelou apenas a presença de sibilos localizados à esquerda. Fi-brobroncoscopia evidenciou presença de lesão endobrôn-quica em brônquio p rincip al esquerdo, com obstrução quase completa de sua luz impedindo a progressão do aparelho para brônquio de lobo inferior e superior. Uma biópsia realizada foi inconclusiva devido à dificuldade em obterem-se fragmentos adequados por causa da consis-tência endurecida da lesão.
Após investigação pré-operatória de rotina, a paciente foi submetida a toracotomia póstero-lateral esquerda com ressecção de terço distal de brônquio principal esquerdo e de carina interlobar, onde estava localizado o tumor. A ressecção do tumor foi realizada e a reconstrução da via aérea foi obtida através da confecção de uma neocarina com anastomose do brônquio principal esquerdo com os brônquios do lobo superior e pirâmide basal, uma vez que houve necessidade de adicionar-se a segmentectomia do segmento superior do lobo inferior esquerdo como abor-dagem tática para a realização da anastomose (Figura 2 ). O exame anatomopatológico revelou presença de cé-lulas mucinosas e intermediárias com baixa atividade mi-tótica, sem evidência de necrose celular e com pleomor-fismo nuclear. A lesão encontrava-se restrita à parede brônquica, compatível com tumor mucoepidermóide de baixo grau em brônquio principal esquerdo (Figura 3 ). A p aciente evoluiu satisfatoriamente, os drenos de tórax foram retirados no 5o dia de pós-operatório, tendo obti-do alta hospitalar na mesma data.
D
ISCUSSÃOOs tumores mucoepidermóides são neoplasias raras, representando menos de 1 % dos carcinomas brônquicos(4 ).
Normalmente, são tumores de crescimento lento, mas que podem apresentar comportamento agressivo, com invasão local e metástases para linfonodos, dependendo das suas características histopatológicas. São tumores in-traluminais brônquicos, mais encontrados nos brônquios lobares e segmentares, com raras instâncias de localiza-ção pulmonar periférica. Seu pico de incidência situa-se em indivíduos com idade inferior a 3 0 anos, embora pos-sa ocorrer dos quatro aos 7 8 anos de idade(3 ).
De acordo com o grau de diferenciação celular, divi-dem-se em alto e baixo grau. O carcinoma mucoepider-móide de alto grau freqüentemente apresenta compro-metimento de linfonodos mediastinais ou metástases a distância. O de baixo grau pode infiltrar localmente as paredes brônquicas, mas sem disseminação hematogê-nica(1 ). Esses tumores podem causar uma variada sinto-matologia, a qual, na maioria das vezes, é inespecífica, oscilando desde a tosse seca ou produtiva, dispnéia e he-moptise. Devido ao seu componente obstrutivo freqüen-te, pode haver história prévia de sibilância e de
pneumo-Figura 1 – Lesão endoluminal à esquerda (seta)
Figura 2 – A) Representação esquemática de tumor envolvendo a carena secundária; B) broncoplastia com neocarena.
Andrade CF, Camargo SM, Cardoso PFG, Felicetti JC
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nias de repetição. Não obstante, 9 -2 8 % dos pacientes podem ser assintomáticos(4 ).
Os exames radiológicos revelam lesões centrais que aparecem como massas ou nódulos solitários, com ou sem pneumonias teleobstrutivas. Focos de calcificação podem ser encontrados em metade dos casos na tomo-grafia computadorizada de tórax. Como o seu crescimen-to é preferencialmente endoluminal, a fibrobroncoscopia é diagnóstica na maioria dos casos(2 ).
O tratamento dos carcinomas mucoepidermóides é es-sencialmente cirúrgico; os de baixo grau podem ser com-pletamente removidos com ressecções econômicas e, mais comumente, através de lobectomias. O tipo da ressecção dependerá da localização do tumor(5 ). A broncotomia com excisão local e reconstrução por broncoplastia, quando possível, tem excelentes resultados, com sobrevida em cinco anos de até 8 0 %(4 ). J á os carcinomas mucoepider-móides de alto grau devem ser tratados de forma similar aos carcinomas brônquicos, com margens amplas e dis-secção linfonodal mediastinal. Nesses casos a sobrevida em cinco anos é de 3 1 %(3 ). O uso da quimioterapia e da radioterapia nos tumores de alto grau ainda é controver-so, devido à pobre resposta desse tumor.
Em conclusão, esses tumores, embora raros, podem ser tratados satisfatoriamente através de ressecções eco-nômicas, com ablação mínima de parênquima pulmonar, com bons resultados funcionais e oncológicos. Atualmen-te, a paciente encontra-se no 3o ano de acompanhamen-to pós-operatório sem evidência de recidiva tumoral ao exame endoscópico.
A
GRADECIMENTOSOs autores agradecem ao Dr. Geraldo Geyer (médico patolo-gista), pela revisão da histopatologia deste caso.
R
EFERÊNCIAS1 . Vadasz P, Egervary M. Mucoep idermoid bronchial tumors: a review of 3 4 op erated cases. Eur J Cardiothorac Surg 2 0 0 0 ;1 7 :5 6 6 -9 .
2 . Kim TS, Lee KS, Han J . Mucoep idermoid carcinoma of the tracheo-bronchial tree: radiograp hic and CT findings in 1 2 p atients. Radiology 1 9 9 9 ;2 1 2 :6 4 3 -8 .
3 . Yousem AS, Hochholzer L. Mucoep idermoid tumors of the lung cancer 1 9 8 7 ;6 0 :1 3 4 6 -5 2 .
4 . Heitmiller RF, Mathisen DJ , Ferry J A, Mark EJ , Grillo HC. Mucoep ider-moid lung tumors. Ann Thorac Surg 1 9 8 9 ;4 7 :3 9 4 -9 .