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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA/ARTES CÊNICAS

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES CÊNICAS

LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO ARTÍSTICA/ARTES CÊNICAS

PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

O jogo teatral como ferramenta de formação política no teatro documentário: estudo de caso e exercício

teórico-prático sobre os encontros e os caminhos percorridos pela Cia. Teatro Documentário na cidade

de São Paulo

Aluna: Luana Joia Chrispin Número USP: 9305660 Projeto de pesquisa apresentado à Comissão de Pesquisa da ECA/USP para o ingresso no Programa de Iniciação Científica, PIBITI, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos Marcelo Soler.

Maio/2016

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Qualquer jogo digno de ser jogado é altamente social e propõe intrinsecamente um problema a ser solucionado.

Viola Spolin

Todo teatro é necessariamente político político, porque políticas são todas as ações do homem e o teatro é uma delas”

Augusto Boal

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Introdução

A relação entre teatro e política remonta às origens das artes cênicas. Os rituais predecessores da encenação teatral tinham um caráter mágico ou religioso, no geral, mas eram realizados em sociedades nas quais as autoridades religiosas e políticas eram exercidas pelo mesmo grupo e, muitas vezes, a mesma pessoa. É este o caso, por exemplo, do ta'zieh, ritual cênico e religioso da Pérsia antiga que sobrevive ainda hoje na República Islâmica do Irã, agora sob a influência da cultura muçulmana1. É este também o caso das manifestações cênico-religiosas pré-colombianas e orientais estudadas pelo teórico, ator e encenador francês AntoninArtaud2.

Na Grécia antiga, temas políticos eram recorrentes nas tragédias. O texto mais antigo de teatro grego que sobreviveu aos dias de hoje é Os Persas, de Ésquilo, encenada pela primeira vez em 472 a.C., trata de um acontecimento histórico real envolvendo conflitos bélicos e políticos entre Esparta e Pérsia, nos quais o próprio autor participou como combatente3.

Ao longo da História do Teatro, outras temáticas políticas podem ser destacadas, como a obra renascentista A Mandrágora4, de Maquiavel, ou o drama barroco A Vida É Sonho5, de Calderón de La Barca, entre outras. No entanto, a definição do que seria um "teatro político" só irá aparecer após a chamada "crise do drama", no início do

1 Ver, a esse respeito, MARTINS & MARCOLINO (2012).

2 Ver, a esse respeito, ARTAUD (2006).

3 ÉSQUILO (2013) [472 a.C.].

4 MAQUIAVEL, Nicolau, 2003.

5 LA BARCA, Calderón, 2007.

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século XX6. Os primeiros encenadores a tematizar especificamente sobre o teatro político foi Erwin Piscator e Bertold Brecht. Não por acaso, ambos também desenvolveram jogos teatrais como instrumentos didáticos de conscientização política, tanto dos artistas quanto dos espectadores.

A pesquisa aqui proposta, que se insere na área de Pedagogia do Teatro, propõe estudar jogos teatrais como ferramenta de mobilização política. O sistema de jogos teatrais surge com Viola Spolin na obra Improvisação para o teatro, sistema este que será recorrente à criação de espaço e relação não só para atores. O jogo, segundo Spolin, "é uma forma material de grupo que proporciona envolvimento e liberdade pessoal necessária para a experiência". Dessa forma, o jogo teatral caminha para a criação de uma linguagem artística a partir do encontro entre jogadores e as regras que envolvem a criação.

Nesse sentido, surgem questões como quais as perspectivas políticas do fazer teatral a partir do jogo cênico na sala de aula? Como a arte se expressa enquanto ferramenta de luta a e qual essa perspectiva dentro da educação? A partir de reflexões de pesquisadores do Departamento de Artes Cênicas da ECA/USP, que possui um significativo histórico de contribuições para a área de Pedagogia do Teatro no Brasil, esta pesquisa visa dar conta destes questionamentos no âmbito de um estudo de caso da Cia. Teatro Documentário.

A Cia. Teatro Documentário foi fundada em 2006 na cidade de São Paulo. Seu primeiro trabalho foi o estudo cênico Desde Quanto Eu Ainda Era Travesti ou Lamentos do Palácio das Princesas, que estreou na Mostra Experimentos do Teatro da USP em 2007. Desde então, a companhia vem desenvolvendo trabalhos práticos e teóricos sobre o teatro documentário7. Esta modalidade de fazer teatral vincula-se à

6A crise do drama tem como expoentes os dramaturgos August Strindberg, Antonin Tchekhov, Henrik Ibsen, Maurice Maeterlink e GerhartHauptmann e o encenador André Antoine. Trata-se de um momento específico da História do Teatro, no qual os padrões dramáticos de escrita dramatúrgica e de encenação foram colocados em questão. GerhartHauptmann, ainda que não tenha desenvolvido um teatro propriamente político, antecipou conteúdos que posteriormente seriam explorados por Erwin Piscator e Bertold Brecht. É o caso, por exemplo, da peça Os Tecelões, que narra conflitos em uma fábrica de tecido e denuncia a exploração do trabalho operário. Este tema será encontrado, também, em A Santa Joana dos Matadouros, de Bertold Brecht, entre outros.

7 De acordo com Marcelo Soler, diretor da Cia. Teatro Documentário e professor do Departamento de Artes Cênicas da ECA/USP, uma das primeiras manifestações do teatro documentário foi a obra A morte de Danton, de Georg Büchner (1835), que “usou explicitamente certos documentos dentro da construção dramatúrgica de

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tradição de teatro político iniciada por Erwin Piscator. Os trabalhos da Cia. Teatro Documentário dialogam com temas referentes à memória e à relação dos moradores com a cidade de São Paulo.

Justificativa

Como aluna do segundo ano do curso de Licenciatura em Artes Cênicas, tenho me dedicado aos estudos sobre jogos teatrais na Pedagogia do Teatro. Esta pesquisa visa estudar a relação entre o jogo teatral enquanto ferramenta política e apoia-se bibliograficamente nos pensadores de teatro e educação Ingrid Koudela, Flávio Desgranges e Maria Lucia Pupo, professores do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da ECA/USP.

Como objeto de estudo, selecionei o olhar sensível da Cia. Teatro Documentário e sua perspectiva de encontro. Há alguns anos acompanho o trabalho dessa companhia. A relação começou no ano de 2013 quando participei de um Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade Paulista de Teatro, onde foi proposto como encenação um trabalho que partiu de um ponto em comum que era a memória que o grupo tinha em relação a uma pessoa, e este trabalho foi apresentado da sede da Cia.

Teatro Documentário.

Nossos encontros continuaram. Por coincidência, o Prof. Dr. Marcelo Soler, diretor da Cia. Teatro Documentário e orientador desta pesquisa, ministra na licenciatura em Danton, procedimento esse que será recorrente entre os autores do século XX, filiados ao documentário em teatro” (Soler, 2013).

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Artes Cênicas da USP, como professor temporário, as disciplinas “Jogos Teatrais I”,

“Jogos Teatrais II”, “Ação Cultural em Teatro” e “Teatro e Educação.

Desta forma, estarei agregando os conhecimentos recebidos em sala de aula com atividades da prática do licenciado em Artes Cênicas. Além disso, por meio de uma proposta de ação cultural, alinho esses conhecimentos com o umaintervenção a ser executada posteriormente. De acordo com o avanço da pesquisa e da observação outras ações culturais propostas pela Cia. Teatro Documentário, pretendo criar em grupo uma ação cultural na Escola Pública, colocando em xeque a relação artístico-política na educação

Objetivos

O objetivo geral desta pesquisa é estudar o jogo teatral como ferramenta de formação política. Para tanto, elege como objeto de pesquisa a trajetória da Cia. Teatro

Documentário, de São Paulo/SP, e propõe construir uma ação cultural teórico-prática na área de Pedagogia do Teatro.

Os objetivos específicos incluem:

 Rever a bibliografia sobre teatro político e teatro documentário e analisar as relações entre estas duas manifestações.

 Reconstruir historicamente a trajetória da Cia. Teatro Documentário.

 Elaborar um portfólio dos trabalhos realizados pela companhia.

 Discutir as possibilidades de criação de jogos teatrais e ações culturais no âmbito do teatro documentário.

 Elaborar uma ação cultural e pedagógica em teatro documentário.

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Metodologia

Em sua primeira fase, o trabalho inicia-se com uma revisão teórica da bibliografia sobre teatro político e teatro documentário. Inicia-se com a leitura de textos de Erwin Piscator e Bertold Brecht. Para pensar a relação do teatro político com a área de Pedagogia do Teatro, serão também analisados os trabalhos dos pesquisadores brasileiros Maria Lúcia Pupo, Ingrid Koudela e Flávio Desgranges. Sobre teatro documentário, serão trabalhos os livros e artigos de Marcelo Soler, orientador deste trabalho e pesquisador da ECA/USP. Paralelamente, acompanharei o trabalho da companhia, tanto em suas apresentações formais, quanto em encontros promovidos em sua sede e outros espaços.

Segue-se uma segunda fase, na qual prepararei uma ação cultural a ser aplicada em alunos de escolas públicas e no Teatro da USP (ver carta de anuência em anexo). Os princípios e a dinâmica desta ação serão tratados com o orientador ao longo da execução da pesquisa.

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Cronograma

O projeto será desevolvido conforme o cronograma abaixo.

Segundo Semestre 2016 Primeiro Semestre 2017 Ago Set Out Nov Dez Jan fev Mar Abr Mai Jun Jul

Pesquisa bibliográfica X X X X X

Pesquisa de campo X X X

Estudo de caso X X X X

Planejamento da Ação Cultural X X X X

Redação do Relatório parcial X

Ação Cultural X X

Balaço da pesquisa X

Relatório Final X

Bibliografia

8

ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Martins Fontes, 2006 [1938].

BOAL, Augusto. Jogos para atores e não atores. São Paulo: Sesc/Cosac Naify, 2015.

8 Bibliografia utilizada para a elaboração deste projeto. Conforme exposto, a primeira atividade de pesquisa será o levantamento e a análise de novos textos.

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BOAL, Augusto. Teatro do Oprimido e Outras Estéticas Políticas. Rio de Janeiro:

Civilização Brasileira, 1983.

DESGRANGES, Flávio. Pedagogia do Teatro. Provocação e Dialogismo. São Paulo:

Hucitec, 2003.

ÉSQUILO. Os Persas. São Paulo: Perspectiva, 2013 [476 a.C.].

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1974.

KOUDELA, Ingrid. Jogos Teatrais. São Paulo: Perspectiva, 1984.

KOUDELA, Ingrid. Texto e jogo. São Paulo: Perspectiva, 1999.

KOUDELA, Ingrid. Brecht:um jogo de aprendizagem. São Paulo: Perspectiva, 1989.

NICOLS, Bill. Indtrodução ao documentário. Campinas: Papirus, 2005.

PAVIS, Patrice. Dicionário de teatro. São Paulo: Perspectiva, 1999.

MARX, Karl. Manuscritos econômicos e filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2005.

PISCATOR, Erwin. Teatro político. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1968.

SZONDI, Peter. Teoria do drama moderno (1880-1950). São Paulo: Cosac Naify, 2003.

LA BARCA, Calderón. A Vida É Sonho. São Paulo: Editora Hedra, 2007.

MAQUIAVEL, Nicolau. A Mandrágora. São Paulo: Editora Martin Claret, 2003.

MARTINS, Ferdinando; MARCOLINO, Daniel. "A ágora persa. Considerações sobre teatro e espaço público na República Islâmica do Irã". Revista aParte XXI, número 5, São Paulo: Teatro da USP/Pró-Reitoria de Cultura e Extensão, 2012.

PUPO, Maria Lúcia de Souza Barros. Entre o Mediterrâneo e o Atlântico: uma aventura teatral. São Paulo: Perspectiva, 2005.

PUPO, Maria Lúcia de Souza Barros. Para Alimentar o Desejo de Teatro. São Paulo:

Hucitec, 2016.

SOLER, Marcelo. O campo do teatro documentário: morada possível de experiências artístico-pedagógicas. Tese (doutorado)/Programa de Pós Graduação em Artes Cênicas da Universidade de São Paulo (PPGAC/USP), 2015.

SOLER, Marcelo. Teatro Documentário: a pedagogia da não ficção. São Paulo:

Hucitec, 2010.

SOLER, Marcelo. “O campo do teatro documentário”. Sala Preta, n. 13. São Paulo:

PPGAC/USP, pp. 130-143, 2013.

SPOLIN, Viola. Improvisação para o teatro. São Paulo: Perspectiva, 2015.

SPOLIN, Viola. O jogo teatral no caderno do diretor. São Paulo: Perspectiva, 1999.

SPOLIN, Viola.

BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. São Paulo:

Brasiliense, 1996.

BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar - a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

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BERTHOLD, Margot. História mundial do teatro. São Paulo: Perspectiva, 2000.

BRECHT, Bertold. Estudos sobre teatro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005.

GARCIA, Silvana. Teatro de militância. São Paulo: Perspectiva, 1990.

CABRAL, Beatriz Ângela V. "O lugar da memória na pedagogia do teatro". Urdimento, número 6. Florianópolis: Ed. Udesc, novembro, 2004.

Referências

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