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Maleta Pedagogica

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Academic year: 2021

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MALETA

LÚDICO/PEDAGÓGICA

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO À MALETA LÚDICA ... 3

HISTÓRIAS ... 5

O LOBOFEROZ ... 5

A ARANHA COM TEIAS DE OURO ... 8

A VASSOURA MÁGICA... 12

PORQUE É QUE EU SOU TÃO PEQUENO? ... 20

A FADA DESASTRADA ... 23

A CHUPETA DE NINA ... 29

A GALINHA QUE PUNHA OVOS DE OURO ... 32

A PRINCESA QUE BOCEJAVA A TODA A HORA ... 35

O CASAMENTO DA GATA ... 38

O GRILO VERDE ... 41

A CASA DA MOSCA FOSCA ... 47

A BORBOLETA BRANCA ... 55

O GIGANTE E AS TRÊS IRMÃS ... 59

O LAGO DOS CISNES ... 68

CHIBOS SABICHÕES ... 72

A FESTA DE ANOS ... 77

QUEM ESTÁ AÍ? ... 82

UMA HISTÓRIA DE DEDOS ... 89

JOGOS ... 92

NOME DO JOGO: TELEGRAMA ... 92

NOME DO JOGO UM BAÚ MÁGICO ... 93

NOME DO JOGO: PANOS ... 94

NOME DO JOGO: DE QUEM É? ... 95

NOME DO JOGO: SEGREDOS ... 96

NOME DO JOGO: PADRÕES ... 97

NOME DO JOGO: IMITA-ME... ... 98

NOME DO JOGO: TRANSMITINDO EMOÇÕES ... 99

NOME DO JOGO: O JOGO DAS PORTAS ... 100

NOME DO JOGO: O TESOURO ... 101

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NOME DO JOGO: DE QUE OBJECTO ESTOU A FALAR? ... 103

NOME DO JOGO: PASSOS & PASSOS ... 104

NOME DO JOGO: EXPLORAR OS OBJECTOS REDONDOS ... 105

NOME DO JOGO: O JOGO DAS PORTAS ... 106

NOME DO JOGO: BRINCANDO COM A VOZ... 107

NOME DO JOGO: UMA VASSOURA É UM CAVALO... 108

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INTRODUÇÃO À MALETA LÚDICA

A Maleta Lúdico/Pedagógica é um projecto a longo prazo e que se vai construindo. Nesta Maleta Lúdico/Pedagógica estão presentes vários jogos dramáticos, histórias, cartas ilustradas e cartas com palavras. Relativamente às cartas ilustradas, as imagens recolhidas são de contos ilustrados pela Manuela Bacelar, tendo também duas imagens de outros dois ilustradores. A imagem da floresta é do ilustrador Stephane Jorisch e a imagem do pássaro, da ilustradora Elsa Navarro.

É relevante referir a importância de utilizar, como instrumento de trabalho, esta Maleta Pedagógica em contexto escolar. Através desta maleta há possibilidade de criar contos a partir de imagens, fazer jogos de expressão dramática, contar, dramatizar e explorar interdisciplinarmente as histórias.

Relativamente aos jogos dramáticos, estes dão oportunidade à criança para experienciar situações que possibilitam a construção do conhecimento e o desenvolvimento de uma expressão ampla, verbal, gestual e criadora.

No domínio da expressão dramática há um grande número de tipos jogos que se podem implementar. Nesta Maleta Pedagógica são abordados os jogos de apresentação, que ajudam a pôr as pessoas à vontade num grupo recém-formado e permitem descobrir coisas interessantes ou especiais sobre os outros membros do grupo. No maior número de jogos, os jogadores desempenham sozinhos os seus papéis. É frequente que estes jogos sejam de curta duração e que os pares se vão alternando, para que todos se fiquem a conhecer. São também abordados os jogos de sensações, que ajudam os participantes a utilizar os sentidos e a desenvolver a concentração. Os jogos de sons destinam-se a consciencializar os participantes para os sons que os rodeiam. Os jogos com máscaras são jogos onde a cara está parcial ou totalmente coberta, o que implica que o meio típico de expressar emoções está escondido, por isso mesmo, é necessário exagerar nos gestos e torná-los mais claros. Os jogos com fantoches implicam que o seu manipulador tenha confiança e esteja bem preparado na apresentação para que o fantoche não faça movimentos incorrectos. Os jogos de confiar, ver e ouvir e, também, os jogos de Pantomima permitem a

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representação de emoções, acções e situações sem recurso a falas, a efeitos sonoros ou a adereços. Para não ficarem muito silenciosos, o educador/animador pode pôr música ambiente, apropriada para a história ou situação.

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HISTÓRIAS

O LOBOFEROZ

Era uma vez um lobo mandrião que, para não se esforçar muito, só comia papas de arroz com noz.

Um dia, olhando-se ao espelho, percebeu que estava tão magro que já não metia medo nenhum. Então decidiu mudar de vida e tornar-se num lobo feroz.

Anda que anda, o lobo encontrou uma CABRA: - Cabra, tenho fome…e por isso vou comer-te! - Então, tu que és? – perguntou a cabra.

- Sou o Loboferoz, farto de papas de arroz com noz.

- Pois abre bem a boca, que vou dar um salto para que me engulas de uma só vez.

O lobo abriu a boca. A cabra subiu a uma colina, desceu a correr… E deu-lhe tal cornada, que lhe partiu três dentes.

Quando o lobo recuperou os sentidos, viu um BURRO a pastar no prado: - Burro, tenho muita fome… e vou comer-te!

- Então, tu quem és? – perguntou o Burro. - Sou o Loboferroz,

Farto de cabras, e de papas de arroz com noz.

- Pois vai começando pelo rabo, que eu continuarei a comer erva para estar mais gordo, e te encher mais.

E quando o lobo se pões atrás dele, o burro deu-lhe tal coice que o atirou para cima de um carvalho.

Quando o lobo conseguiu descer da árvore, encontrou uma OVELHA: - Ovelha, tenho muita muita fome… e vou comer-te!

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- Então, tu quem és? – perguntou a ovelha.

- Sou o Loboferoz, farto de cabras, burros, e de papas de arroz com noz.

- Pois aproxima a tua orelha, que eu digo-te onde há agulhas para tricotar meias com a minha lã.

O lobo aproximou-se confiado. A ovelha, com uma dentada, trincou-lhe a orelha inteira e deixou-o completamente pálido.

Ainda não estava de todo recuperado o pobre lobo, quando passou uma VACA. - Vaca, tenho muitíssima fome… e vou comer-te!

- Então, tu quem és? – perguntou a vaca.

- Sou o Loboferoz, farto de cabras, de burros, de ovelhas, e de papas de arroz com noz.

- Pois bebe primeiro um bocadinho de leite das minhas tetas, que tenho as carnes duras, e assim farás melhor a digestão.

Quando o lobo se pôs a beber, a vaca sentou-se em cima dele e deixou-o tal qual um tapete de pele de lobo.

Aos poucos, aproximou-se um PORCO que andava a esgravatar bolotas: - Porco, estou morto de fome… e vou comer-te!

- Então, tu quem és? – perguntou o porco.

- Sou o lobo feroz, farto de cabras, de burros, de ovelhas, de vacas, e de papas de arroz com noz.

- Pois monta-te em cima de mim, que vou lavar o focinho e as orelhas para que possas regalar-te com gosto.

O lobo montou-se em cima do porco e puseram-se a andar. Quando estavam a chegar à aldeia o porco disse:

- É melhor avisarmos para que nos vão preparando o banho e nos despachemos depressa. Grita tu, que eu estou sem fôlego.

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- AUUU…! – uivou o lobo.

Quando ouviram o lobo a uivar, os cães saíram de todas as casas da aldeia. O lobo teve de fugir a correr para o monte, para não acabar esfolado.

E lá ficou para sempre o Loboferoz, a comer papas de arroz com noz.

Ficha Técnica da História Autor Patacrúa Ilustrador Chené Gómez Local e data Pontevedra, 2006 Editora OQO

Tradução Dora Isabel Batalim Tema (s) Educação Alimentar

Direcções de exploração pedagógica - A narrativa sensibiliza as pessoas a terem uma alimentação saudável e variada, por isso a educadora pode propor a construção de uma pirâmide dos alimentos;

- No Domínio da Expressão Plástica pode ser construído um livro de receitas saudáveis, no jardim-de-infância;

- Na Área do Conhecimento do Mundo, podem ser explorados os vários animais que estão presentes na narrativa (o que comem, de que região são…).

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A ARANHA COM TEIAS DE OURO

À primeira vista esta pequena aranha não era muito diferente das suas semelhantes, ocupadas como ela a tecerem as suas teias entre os espinheiros ou os fetos da floresta. Passaria despercebida no pequeno mundo dos insectos, se não tivesse a faculdade extraordinária de tecer fios…de ouro! Porquê? Sabe Deus porquê.

A verdade é que as suas teias brilhavam maravilhosamente ao sol e que a aranhazinha tinha muita vaidade nelas. Não deixava de elogiar a qualidade excepcional dos seus fios, além do mais tão finos e tão leves como os outros.

Um velho escaravelho que vivia no bosque e que os jovens insectos tratavam por Papá Resmungão, recomendava-lhe muitas vezes mais modéstia e humildade, mas perdia o seu tempo, como acontece muitas vezes aos que desejam ensinar aos outros as suas experiências.

- Ah! Ah! Ah! – dizia, rindo, a aranha -, se você tecesse teias de ouro como estas, ficaria tão orgulhoso delas como eu!

E assim espalhou-se por toda a floresta que a nossa pequena aranha pouco modesta tecia teias de ouro: e todos vinham admirar o seu prodigioso trabalho e faziam-lhe enormes elogios.

Esta notícia em breve correu o país inteiro e chegou mesmo aos ouvidos da princesa. Esta, tão curiosa como vaidosa, quis possuir para seu uso pessoal uma fiandeira de tanto talento.

Enviou à floresta servidores com a missão de trazerem para o palácio aquele insecto prodigioso. Quais não foram a surpresa e a vaidade da aranha quando se viu assim transportada, com todas as pompas dignas de uma pessoa importante, à presença da princesa!

Todos os insectos da floresta se reuniram para assistirem à partida da sua companheira e viram-na com inveja entrar na caixa forrada de seda que lhe devia servir de coche.

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Todos os insectos excepto o escaravelho que resmungava que tantas honras não eram necessárias para uma vida feliz.

Assim, a pequena aranha compareceu perante princesa, que pediu logo para ver uma amostra do seu trabalho. A nossa hábil tecedeira pôs-se então a tecer os seus belos fios, e a princesa, maravilhada, mandou-a instalar numa bonita gaiola de cristal, dando ordem aos criados para lhe fornecerem todos os pulgões gorduchos que ela quisesse comer.

Muito lisonjeada e satisfeita pela sua sorte, a aranha, dando livre curso à sua imaginação e à sua fantasia, pôs-se então a fazer rendas maravilhosas, arabescos caprichosos para adornar com enfeites sumptuosos a princesa. Quando esta tinha convidados, mandava sempre que lhe trouxessem a gaiola de cristal e a aranhazinha empertigava-se, sentindo-se assim o foco das atenções dessas nobres assembleias: ah! Se o escaravelho pudesse vê-la assim encantando os mais altos dignitários do país! Mas, um dia em que trabalhava à frente da janela aberta sobre o jardim, sentiu vontade de ir correr um pouco no bosque. Pediu autorização à princesa, que recusou de imediato:

- Não, minha bela amiga – respondeu-lhe ela -, és demasiado preciosa para mim. E se nunca mais voltasse?

- Mas eu volto – protestou a aranha.

- Acredito em ti, mas podias ser devorada por um pássaro ou esmagada pelo pé de uma pessoa… Não, não quero correr nenhum risco de te perder.

E foi assim que a aranhazinha perdeu a esperança de voltar a ver a sua floresta natal. De repente, o seu palácio de cristal tornou-se para ela uma prisão detestável. Apesar de saborear as suas suculentas refeições, pôs-se a invejar cada vez mais os insectos que pulavam, rastejavam, volteavam lá fora. Quando viu, uns dias depois, uma aranha a balançar-se na ponta do seu fio, ficou com o coração despedaçado. E pôs-se a pensar no velho escaravelho e nos seus sábios conselhos: porque não lhe tinha dado ouvidos e vivera simplesmente no seu espinheiro, em vez de gritar aos sete ventos do que era capaz?

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- Se conseguir fugir, nunca mais vou ser vaidosa – prometeu ela a si própria. Um dia, o lacaio encarregado de levar a gaiola de cristal à princesa tropeçou e deixou-a cair: cric! crac! Partiu-se em mil pedaços no chão.

Primeiro, atordoada pelo choque, a aranha rapidamente voltou a si, percebendo que estava livre. Que felicidade! A toda a velocidade das suas oito patas atravessou a sala, passou por baixo da porta e embrenhou-se na relva do jardim e depois correu, correu a toda a velocidade para a floresta.

Em vão se lastimou a princesa e os criados, muito confusos, a procurarem pelo parque e no palácio…Bem escondida sob uma folha de amoreira, a aranha, que reencontrara a alegria de viver, contava as suas aventuras aos insectos da floresta. E, satisfeito por não se ter enganado, o velho escaravelho acenava com a cabeça por aquele feliz desenlace.

Ficha Técnica da História

Autor Janine Gollier Ilustrador François Ruyer Local e Data

Editora Civilização Tema (s) Vaidade

Direcções de exploração pedagógica - Na Área do Desenvolvimento Pessoal e Social, dialogar com as crianças sobre a atitude da aranha: “o que é que fez a aranha reconhecer que o escaravelho tinha razão?”

- Também na Área do Desenvolvimento Pessoal e Social fazer a distinção entre vaidade e humildade e pedir às crianças

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que identifiquem os humildes e os vaidosos da narrativa;

- Na área do Conhecimento do Mundo explorar sobre a vida das aranhas, nos conteúdos relativos à biologia;

- No domínio das expressões realizar um trabalho de expressão plástica sobre as teias de aranhas.

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A VASSOURA MÁGICA

Era uma vez uma vassoura que não era como as outras vassouras. Não era uma vassoura de jardim, com cabeleira de ramos.

Não era uma vassoura de cozinha, com cabeleira de palha.

Não era uma vassoura de casa de banho, com cabeleira de piaçaba. Não era uma vassoura de sala, com cabeleira de penas.

Nem destas modernas vassouras, todas feitas de plástico. Era uma vassoura mágica.

Quando a bruxa Rabucha ia, nas noitas de 6ª feira, aos bailes das bruxas, montava na vassoura, pronunciando as palavras mágicas:

Varre, varre, abracadabra, A poeira que há no ar. Rasga no céu uma estrada Sempre, sempre a vassourar.

E a vassoura voava, como um cavalo de asas.

Naquele ano o Inverno ia longo e frio. A bruxa Rabucha tiritava no seu fato de farrapos, na gruta coberta de teias de aranha e ninhos de morcegos.

Com a vassoura arrumada atrás da porta, o gato preto aos pés, a fazer de botija, dormitava quando bateram à porta.

- Quem é?

- Não adivinhas? É a tua prima, a bruxa Capucha.

-Entra, entra, que tenho uma ratazana cozida para o jantar, com esparregado de urtigas…Vais gostar…E um docinho de baba de sapo…

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- Não me apetece. Sabes, habituei-me a comer em restaurantes ou a comprar comida feita nos supermercados. Já não me caem bem os pratos tradicionais.

- Também tu! Deixaste de ser bruxa?

-Hoje sou, com muito orgulho, limpa-chaminés! - E usas a vassoura voadora para limpar chaminés? -Pois claro!

-Isto realmente vai de mal a pior.

-A prima Ramelosa empregou-se como porteira de um milionário para assustar os pedintes.

A prima Guedelhuda, que antes fazia vassouras mágicas, é operária de uma fábrica de aspiradores. Ganha ordenado certo, férias pagas e até subsídio de Natal.

A prima Chafurdona, que preparava os caldos enfeitiçados, faz hoje caldo verde na Feira Popular.

A prima Olheirenta, especialista no mau olhado, vende óculos para o sol.

A prima Malvina, que era a rainha das curas milagrosas, tirou o curso de enfermagem e trabalha agora num hospital.

-E a Verruguinha, a filha dela, que ainda andava a estudar?

-Ah, essa trabalha num circo, a fazer magias. Parece que até está para casar com um palhaço.

-Que vergonha…

-São os novos tempos. A razão da minha visita é mesmo informar-te de que és a última bruxa a exercer a profissão.

A bruxa Rabucha mal podia acreditar nas palavras que ouvia. Tomou um duche gelado numa nuvem escura para refrescar as ideias e sentou-se à porta de casa a deitar contas à vida.

Perdera família, amigos, clientes (quem é que ainda acredita nas bruxas?). tinham-se acabado os bailes de 6ªa feira, com as fogueiras crepitantes, à roda das

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quais tanto gostava de dançar. Restava-lhe um gato velho, um mocho zarolho, uma vassoura despenteada.

Olhou para o calendário espetado com um dente de cobra na parede e exclamou:

-Carnaval! É a melhor altura para eu descer até à cidade sem ninguém estranhar.

Montou na vassoura até à paragem da camioneta. Nem cinco minutos esperou. Sentou-se comodamente (melhor que na vassoura, que não tem encosto) e deixou-se levar. Só que a camioneta virava à direita, à esquerda, subia, descia, travava, acelerava, enquanto a bruxa enjoava, enjoava, enjoava.

-Ai que não trouxa os pós mágicos…Ai que se me viram as tripas…

E saiu, aflita na primeira paragem da cidade. Tão aflita, uma mão agarrada à barriga, a outra à boca, que se esqueceu da vassoura mágica, que continuou viagem até ao fim da carreira.

Ao vê-la ali caída, o motorista sorriu – Olha a vassoura sem bruxa! - e atirou-a pela janela. Muita gente passou, sem lhe ligar importância.

Até que a Ana, uma menina do bairro de lata, a apanhou. Lavou-a no chafariz, penteou-a com os dedos, espetou-lhe dois pregos a fingir de olhos, desenhou-lhe o nariz e a boca. Pôs-se a dançar com ela ao som de um rádio. Era uma boneca.

Só que no bairro de lata, uma vassoura, mesmo sendo uma boneca, tem de trabalhar. Com ela a menina limpava o tecto de tábuas, as esteiras de palha, a rua de terra batida diante da porta. Quando acabava de trabalhar, a vassoura era de novo boneca, era soldado muito direito a marchar e uma noite foi a cavalo.

A menina montou-a como se monta qualquer vassoura, mas aquela estranha vassoura saiu pela janela, subiu pelo céu, passou por cima de cidades, rios, campos a perder de vista. Ia chocando com um avião militar, assustou um bando de patos bravos, furou 257 nuvens e por mais que a menina lhe gritasse, lhe arrepelasse os cabelos, não havia meio de parar. Finalmente, desesperada, Ana deu-lhe um pontapé e

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a vassoura, muito mansa, pôs-se a baixar devagarinho, furou em sentido contrário as 257 nuvens, planou sobre a cidade e entrou pela janela aberta da casa de lata.

A partir daí, todas as noites, com o coração em sobressalto, não fosse alguém descobri-la, ou perder o controlo da sua montada, a menina viajava.

Se é verdade que de dia não estudava as lições, porque estava cheia de sono, o certo é que ia conhecendo o mundo, sabia onde nasciam os rios, onde crescia o trigo, onde levavam os caminhos-de-ferro, onde os barcos se abrigavam da tempestade. Tinha visto palácios reais, templos forrados a ouro, florestas virgens, cidades imensas.

-Como pode ela saber tanta coisa? - Perguntava a professora. -É de ver televisão - dizia a mãe, pouco convencida.

Se um gato fugia com medo de um cão para o cimo da araucária, a maior árvore do jardim, às escondidas montava a vassoura para o ir salvar. Os rapazes admiravam-se.

-Dantes era sempre preciso chamar os bombeiros…

Se as bolas caíam no telhado do Sr. Zacarias, que não deixava ninguém ir buscá-las, era certo e sabido que no dia seguinte estavam no chão.

A menina subira com a vassoura.

-Seria o vento que atirou a bola abaixo? – Perguntavam, admirados, os miúdos. Se algum papagaio de papel se prendia nos fios, lá ia ela, sorrateira, soltá-lo. -Como é possível? Estava tão embaraçado…

Só a menina sabia.

Como o pai de peixe, montava de noite a vassoura, por cima do mar e chegava a casa toda salpicada das ondas mas como o camaroeiro cheio de carapaus, sardinhas, pescadas e até peixes voadores.

Para sobremesa, trazia nêsperas, cerejas, nozes, castanhas, que colhia do alto das árvores.

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-A nenhum.

-Não mintas, ó Ana – zangava-se o pai.

Quando faltava a água, dias a fio, no Verão, ia tomar banho e lavar a roupa ao lago mais próximo, a 20 quilómetros.

-Onde é que lavaste a cabeça, rapariga? Como é que estás a estender a roupa? O chafariz deita água só para ti? – Bisbilhotavam as vizinhas.

-Espero pela noite.

-Anda por aqui mistério, anda, anda….- todos diziam. Mas qual seria?

Se a mãe se queixava do preço dos ovos, ao almoço apresentava-lhe uma omoleta de ovos de águia.

-ó Ana, olha que isto não são ovos de galinha. Foste roubá-los à Srª Ermelinda, que cria peruas?

-Não fui, não fui, achei-os – desculpava-se ela.

-Olha que ando com o olho em cima de ti. Somos pobres mas honrados. Livra-te de roubar! – ameaçava a mãe. – Agarra-Livra-te à vassoura e limpa as Livra-teias de aranha, a esteira, a rua diante da porta.

A vassoura cada dia ia ficando mais velha. Já não voava como antigamente. Estava mesmo a precisar de oficina. Havia noites em que não pegava, como um carro depois de uma grande chuvada, outras em que se ia abaixo, fraquejava.

Tinha o pau todo carunchoso e só lhe restavam três pêlos no alto da cabeça. Ora numa noite de frio, em que a neve vestia de um cobertor branco o bairro de lata, a menina abriu a janela mais uma vez para sair. Bem empurrava ela a vassoura, lhe arrepelava os três pêlos, que ela teimava em não partir. Até que, tem-te-não-cais, levantou voo para o norte, entre os flocos muito brancos que desciam pela escuridão.

-Vamos ver os pinguins e os ursos – propôs a menina. A vassoura abanou a cabeça como quem diz que não.

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-Vamos ver os esquimós e as focas, estás a ouvir? A vassoura tornou a abanar a cabeça.

-Já não tens genica. Estás boa para a reforma. Para cavalo de pau.

Ao ouvir isto, a vassoura pareceu reunir as últimas forças num solavanco ofendido e rumou para a estrela polar.

Mas de repente - Zás, catrapás- começou a falhar: subia, para logo descer às cambalhotas pelo ar.

-Volta para trás. Vamos descansar para casa, minha vassourinha – gritava a menina, guiando-a em vão.

A vassoura continuava a descer, às cambalhotas, céu abaixo. Até que por fim – pum! – se estatelou num campo aberto.

A Ana enregelava. Chamava e nenhuma voz lhe respondia. Só os lobos, ao longe uivavam. Deixou-se ficar, muito encolhidinha, no seu casaco de malha fina, mas as mãos sem luvas iam-se tornando duras e insensíveis, brancas como as mãos das estátuas. Tirou uma caixa de fósforos da algibeira e acendeu um para se aquecer. Um lindo fogo pequenino brilhou na noite, desentorpeceu-lhe os dedos, mas logo se apagou. Acendeu outro. Logo se apagou. E outro e outro.

Ia morrer gelada, porque só tinha um único fósforo e não havia lenha para fazer a fogueira. Lembrou-se do pai, da mãe, da sua pequena casa de lata. Acendeu o último fósforo. Então a vassoura, num repente, moveu-se, pousando os três únicos cabelos no lume. Um clarão de fogo de artifício rasgou a noite quando ela começou a arder, primeiro a cabeça, depois a cara pintada, finalmente o pau carunchoso do seu corpo.

Os pastores da serra viram o clarão, desceram até à planície, onde encontraram a Ana a chorar sobre as cinzas. Da vassoura nada restava senão os pregos dos olhos, que a menina recolheu como um tesouro.

Quando chegou a casa, acompanhada de um pastor, levou uma sova para não voltar a passar a noite ao relento.

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E a bruxa?

Sem dinheiro nem vassoura mágica, não podia voltar para casa.

Apanhou o Diário de Notícias num caixote de lixo e percorreu a página dos anúncios.

“Hospedeira do ar – Precisa-se”.

Foi apresentar-se, cheia de esperança, pois tinha grande prática de voar. Não a aceitaram pela horrível figura.

Em seguida foi oferecer-se como empregada a um colégio. Mas os meninos, mal a viram, desataram a chorar e a fugir.

Resolveu então concorrer ao baile de máscaras do Carnaval e ganhou o primeiro prémio.

-Parece uma autêntica bruxa! -Até mete horror!

-Só lhe falta a vassoura! – exclamava toda a sala, aplaudindo.

Com o dinheiro do prémio comprou um vestido e dirigiu-se a um instituto de beleza. Arranjou o cabelo, tirou os pêlos que lhe cresciam no queixo, arrancou as verrugas, besuntou-se com cremes para amaciar a pele. Ao mirar-se ao espelho não acreditou nos que os seus olhos viam.

No dia seguinte esta empregada ao balcão da Casa da Sorte a vender lotaria. Por mais estranho que pareça, nunca adivinhou o número da sorte grande.

A menina para ir para a escola, a bruxa para ir para o emprego entram sempre na mesma carruagem no metropolitano.

-Se em vez de ir aqui apertada, eu tivesse uma vassoura mágica – suspirava a bruxa.

-Se em vez de ir aqui apertada também eu tivesse uma vassoura mágica – suspira a menina.

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Ficha Técnica da História Autor Luísa Ducla Soares

Ilustrador Paula Oliveira

Local e Data Porto, 1986

Editora Edições Asa

Tema (s) Imaginário; Ambição.

Direcções de exploração pedagógica - Na Área do Conhecimento do Mundo, pode ser explorado o planeta terra através de globos, mapas e atlas; os diferentes continentes e descobrir as pessoas e os animais que lá habitam; - Também na Área do Conhecimento do Mundo, pesquisar as grandes mudanças que ocorrem ao longo dos anos a nível do vestuário, alimentação, profissões,

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PORQUE É QUE EU SOU TÃO PEQUENO?

Todas as manhãs, o Óscar perguntava a mesma coisa a si próprio:

“Porque é que eu sou tão pequeno? O meu irmão Marco é grande...porque é que eu também não posso ser grande?”

O Óscar entrou na cozinha e perguntou à mãe: “Porque é que eu sou tão pequeno?”

“És pequeno, és querido e és o meu ratinho fofinho!”, respondeu a mãe.

Mas o Óscar ainda não tinha percebido e, por isso, decidiu perguntar ao seu irmão Marco.

O Marco estava na casa de banho a lavar os dentes: “Porque é que eu sou tão pequeno”, perguntou o Óscar “ e tu és maior do que eu?”

“Eu sou maior do que tu, porque faço muito desporto, como muita comida saudável e durmo muito”, disse o Marco.

“Talvez eu fique grande se fizer tudo o que o Marco faz”, pensou o Óscar e correu para o jardim.

Fez exercício de alongamento, saltou à corda um bocadinho e jogou à bola. Depois, correu para a cozinha. Sentou-se com a mãe e comeu alguma comida saudável: cenouras e rabanetes, feijões e pão fresco... Também bebeu imenso leite.

Na hora da cesta o Óscar foi para o quarto e enfiou-se na cama mas não conseguia adormecer... Estava tão excitado com a perspectiva de ficar maior!

Depois de descansar, o Óscar foi tomar um banho. Já se sentia um bocadinho maior e pôs no cabelo um pouco do gel do Marco para parecer maior ainda. A seguir, foi ao quarto do irmão e encontrou uma camisola de futebol vermelha. Agora que estava mais crescido, já lhe devia servir.

No Óscar, a camisola do Marco parecia mais uma camisa de noite, mas ele nem reparou.

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O Óscar decidiu ir para o parque de diversões com o Marco. Estava morto que os amigos do irmão o vissem e dissessem: “estás tão grande!”. De certeza que seria maior do que todos eles.

Quando chegaram ao parque de diversões, o Marco e os seus amigos subiram para as barras. O Óscar também tentou subir, mas, por muito que tentasse as barras eram muito altas e ele não lhe chegava. “PASSA-SE ALGUMA COISA!”, gritou o Óscar. “Porque é que eu continuo tão pequeno?” “Não se passa nada”, disse o Marco. “Crescer demora tempo... tens de fazer exercício, comer e dormir durante muito tempo!”.

O Marco levou o Óscar para o sítio onde brincavam os ratinhos pequeninos. “Olha para estes bebés. Tu já foste pequenino como eles, depois cresceste e cada dia ficas maior... Talvez um dia fiques ainda maior do que eu!”

O Óscar sentiu-se muito melhor. Pegou num dos ratinhos mais pequeninos ao colo. “Sabes porque é que és tão pequenino?” perguntou o Óscar. “ Deixa-me levar-te ás cavalitas por esta encosta a baixo, enquanto te explico tudo!”

Ficha Técnica da História Autor Eun Ju Kim

Ilustrador Eun Ju Kim

Data e Local 2002, Porto

Editora Âmbar

Tema (s) Crescimento e Educação Ambiental

Direcções de exploração pedagógica - Na temática corpo humano a educadora pode explorar com as crianças as etapas do crescimento e desenvolvimento humano;

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- Na temática de saúde e bem-estar físico e mental, a educadora deve sensibilizar as crianças para a prática de exercício físico e para terem uma alimentação saudável (corpo são e mente sã);

- No Domínio da Expressão Plástica pode-se construir uma pirâmide dos alimentos e colocar fotografias dos alimentos. Para fomentar a participação da família, as fotografias deverão ser tiradas pelas crianças com um acompanhamento dos pais.

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A FADA DESASTRADA

Tu sabes que as fadas são lindas e prendadas. Mas a Fada Desastrada nasceu errada… Nem parecia uma fada!

Era feia, gorda, desajeitada. O penteado estava sempre desmanchado. Trazia o manto do avesso e tinha um sorriso tão travesso!...

Era traquina como qualquer menina e era até capaz de ter traquinices de rapaz. Atirava fisgadas ás pessoas despreocupadas, puxava o rabo ao gato…

Era um desacato!

Por vezes, montava a vassoura da cozinha, em grandes cavalgadas. -Parece uma bruxinha!, diziam as outras fadas.

A Fada Rainha quis conhecê-la e , ao vê-la, disse desapontada: -De fada não tem nada!

E sempre que a via, repetia desanimada: -De fada não tem nada!

Então a Fadazinha tentou ser perfeita no que fazia, mas não conseguia!

Tocava as plantas com a varinha de condão, mas em vez de flores bonitas, nasciam fitas. Fitas de todas as cores! Eram bonitas mas não eram flores!

Começaram a temê-la e ela, com ar sisudo, quis compor tudo, mas apareceram rosas na Amendoeira e amêndoas na Roseira!

Então, as plantas revoltadas convocaram o Conselho das Fadas, para a julgar. A sessão ia começar.

A Fada Rainha com um manto de luz preso por uma estrela sentou-se no seu trono de cristal.

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A Roseira, a Amendoeira e outras plantas eram testemunhas de acusação. E até o gato lá estava, muito quietinho, sentado num cantinho, com muita atenção.

A ré acabara de chegar e de se sentar.

A Fada de Acusação perguntou zangada: -Sabes de que és tu acusada?

-Não, Senhora Fada!

- Não estejas a fingir! Se começas a mentir, o castigo será maior! É melhor dizeres a verdade! O teu comportamento será mesmo maldade?

E ela respondeu apressada: - Não, eu sou apenas desastrada!

A Roseira, uma das mais atingidas com asneiras repetidas, perguntou: -Porque não fazes as coisas com acerto?

E a Fadazinha, apesar de estar perto, gritou:

-Gostaria de ser perfeita no que faço, mas isto parece andaço! A Rainha que fazia de juiz censurou:

-Não sabes que é feio gritar?

E a Desastrada, desorientada, já nem sabia como se desculpar! E então, resolveu contar:

- Bem, eu estava destinada a ser um modelo de perfeição, mas nunca mais nascia, e quando «cá cheguei» já era quase dia! As fadas estavam ensonadas e as palavras mágicas saíram-lhes erradas! Nem me tocaram com a estrela da varinha, como convinha, mas com o lado oposto! A mim, até me dava gosto fazer o que me apetecia…e quando via as outras admiradas…dava gargalhadas! Ria, ria… até cair para o chão… então vinham os ralhos e os conselhos! Era preciso ter juízo! Mas eu não tinha! E todos contra mim, trouxeram-me até aqui!

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E lembrando-se bem do que tinha passado, disse ainda, com ar de enfado: -Proponho que esta Maria Rapaz me deixe o rabo em paz!

Então, nervosa, a tremer, a Fadazinha perguntou à Fada indicada para a defender:

-Será meu destino ficar sempre assim? Dizem que sou ruim!

-Penso que não. Para seres ajuizada tu precisas de ser ajudada, e não castigada. Não tens boas maneiras, mas tens bom coração! Poderás mudar para melhor!

-Sim senhor! A Fada tem razão!, gritaram as Plantas numa grande confusão!

E, muito interessadas, pediram à Rainha das Fadas que resolvesse a situação. Então, sorrindo com bondade, ela tocou-lhe na mão com a varinha de condão. Todos os presentes ficaram conscientes que algo de importante se iria passar.

O olhar da Fadazinha ficou preso à varinha e, pouco a pouco, começou a deixar de ser gordinha e a tornar-se elegante e bonitinha. Depois, a Fada Rainha tocou-lhe o coração e foi completa a transformação.

Bastava-lhe olhar para tudo embelezar, e as próprias flores lhe pediam favores. Bastava respirar junto delas, para as tornar mais belas.

É agora uma das fadas mais bem comportadas, uma das de maior encanto.

Já não trás o manto do avesso, tem um sorriso lindo sem ser travesso… já não faz nada do que antes fazia.

- Estar junto dela é uma alegria! - Será??

- As plantas, o gato e a própria fadazinha andam contentes? - Parece que estão a conversar.

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-Ninguém deseja que tu sejas má, mas, afinal, fadas boazinhas há tantas! Parecem santas! Um pouco de traquinice não faz mal! É como o sal! Dá gosto e tempero à vida! Dá alegria! Agora é uma monotonia! Diz lá Fadazinha, não andas aborrecida?

- Ando, sim senhor! Isto é vida? Gostava tanto de brincar, de arreliar! Não era melhor uma partidinha de vez em quando?

Eu ando mortinha por isso! Livrem-me deste enguiço! Desta perfeição exagerada! Ser tão certinha em tudo não leva a nada! Não prejudicar ninguém, está certo, está bem, mas umas partidinhas das minhas… até tinham piada!...

-Não digas mais nada! Vamos além, à Montanha de Cristal, onde há remédio para o teu e o nosso mal, pedir ao Génio da Graça que, embora te mantenha bondosa e bonita, te deixe de vez em quando, dando largas á imaginação, fazer a tua partidita, deixando toda a gente a rebolar-se a rir pelo chão…

- Oh! Meus amigos, tanto também não!

Puseram-se a caminho, com jeitinho, porque lá perto, quase ao chegar, o piso também, era de cristal, e por seu mal quem não fosse devagar poderia rebolar, batendo de certeza com as costas na dureza.

Não havia portas na montanha. Para entrar, bastava usar de manhã e dizer, concentrando a mente:

- Quero e vou passar! O cristal será mole como a gelatina quando eu o atravessar! Como a mente tem muito poder, é só querer!

O gato passou adiante e, muito lambareiro, imaginou uma sobremesa gigante, que tremeu. Ele até lambeu!

O Génio tinha uma carequinha muito redondinha, com cabelos dos lados muito branquinhos! Parecia linho. E a barba também parecia. Era uma simpatia!

Olhou-os e começou a rir. E quando ele se ria tinha uma cara patusca, tão cómica e descarada que a Fadazinha ficou embaraçada.

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Já sei o que vos trás aqui! Larilolá, lariloli!, disse ele para as plantas e para o bichano. Querem que todo o ano ela faça das suas! Que tanto em casa como nas ruas ande desaustinada, sem comportamento de fada!

-Todo o ano não! Tenha compaixão! -Então, dia sim, dia não?

-Oh! Por amor de Deus! Isso bradava aos Céus! Quase nem tínhamos descanso e nós gostamos do nosso ripanço!

- Se não me engano, de quinze em quinze diz era o que tu querias, não era bichinho?

- Sim, não estaria mal, se ela tivesse um pouco de respeito e me puxasse o rabo com jeito…com carinho…

- A Roseira mês sim, mês não, mas a Amendoeira não foi dessa opinião, porque partidinhas muito espaçadas e assim deixariam até de ser engraçadas e propôs de oito em oito dias, como qualquer série da T.V.

A Desastrada disse que não, porque se a partida tivesse continuação teria de parar no momento de maior emoção e acrescentou:

- Por mim vou faze-las todos os dias!

- Isso era o que tu querias!, disse o bicharoco já rouco. Todos os dias vê-la e sofrê-la como à Telenovela? Queriam doença maior?

- Não senhor! Todos os dias era demais, disseram todos à uma. Algumas partidinhas sim, mas sem nenhuma é que não queremos passa!

- Vamos lá combinar!

- E continuaram a falar, a falar, sem nunca mais parar! - E ainda lá estão, sem chegarem a uma conclusão!

Não te é difícil acreditar, que através do cristal tudo se pode observar, pois não? A Fadazinha acenou-me agora com a mão.

Continua boazinha e bela. Gostarias de conhecê-la?

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Ficha Técnica da História Autor Renata Gil

Ilustrador Luísa Brandão

Local e Data Porto, 1989

Editora Afrontamento

Tema (s) Diferença

Direcções de exploração pedagógica - Na Área do Desenvolvimento Pessoal e Social, explorar a atitude de tolerância perante a diferença;

- No domínio da Expressão Dramática, as crianças podem dramatizar a história.

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A CHUPETA DE NINA

- Quando vais tu deixar de chupar essa chupeta? – pergunta a mamã. - Nunca – responde Nina. – É a minha chupeta.

- Mas quando fores grande, vai ser preciso desembaraçares-te dela! Nina põe a chupeta na boca.

- `Unca, ` unca, `unca!

- Então, quando fores passear, vais levá-la? - C`aro! Com os bô`os e os choco`ates!

- E quando fores para a piscina, também a vais levar? - Sim. Me`gulho com e`a!

- E, quando fores grande, vais com ela para o trabalho? - Sim. Terei semp`e a minha supeta.

- Mas, quando casares não vais, com certeza, usar a tua chupeta? - Sim! Fica`á `onita com um be`o `estido!

E, então, Nina vai sair.

De repente, um lobo sai da mata. Um lobo terrível, furioso e esfomeado. - Ah, menininha, vou comer-te!

- Oh! – exclama Nina. – Dei`a-me em pa!

- O quê? – disse o lobo, que não compreendeu nada. Nina repete: - Dei`a-me em pa!

Decididamente, o lobo não compreende. - O quê? Que é que tu dizes? Nina tira a chupeta e grita:

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O sangue do lobo sobe-lhe à cabeça!

- Ah, sim? Não sou bonito! Não sou simpático! Cheiro mal! Agora é que vais ver, menininha! “AHHHHHH!!!”

Poc!

- Toma, chupa. Isto vai acalmar-te.

Por fim, o lobo já não quer comer Nina. O lobo terrível, esfomeado e furioso tornou-se um lobo meigo, sossegado e fofinho.

Com um sorrisinho, o lobo desaparece na mata. Nunca mais voltará. Nina volta para casa.

- Então, já não tens a tua chupeta? – admira-se a mãe. - Espero que não a tenhas perdido.

- Não – responde Nina. – Dei-a a alguém que precisava mesmo muito dela.

Ficha Técnica da História

Autor Christine Naumann-Ville

Ilustrador Marianne Barcilon

Local e Data Porto, 2004

Editora Âmbar

Tema (s) Crescimento e Generosidade

Direcções de exploração pedagógica - Na Área do Conhecimento do Mundo, a educadora pode explorar com as crianças o corpo humano e as etapas do

crescimento e desenvolvimento do mesmo;

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- Na Área do Desenvolvimento Pessoal e Social, pode explorar valores como, a generosidade e o respeito pelas escolhas e vontades individuais;

- No domínio da linguagem a educadora poderá pedir às crianças que identifiquem as palavras ditas pela Nina,

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A GALINHA QUE PUNHA OVOS DE OURO

Era uma vez um homem que tinha uma bela capoeira muito bem recheada de gordos galináceos. Naquela capoeira havia lindíssimos perus; patos e patinhos muito remexidos, que era um encanto ver a caminho da ribeira próxima quando lhes abriram a porta da capoeira; galinhas gordas e um galo de truz! Tudo criação de se lhe tirar o chapéu!

O homem mais a sua mulher é que tratavam da bicharada toda e com o maior dos cuidados, como se está a ver! Eles não eram nem ricos nem pobres: eram remediados e, com a ajuda dos produtos da horta que tratavam, e da exploração da capoeira, lá iam vivendo muito felizes.

Um dia o homem foi à capoeira recolher ovos que as galinhas tinham posto naquele dia e…o que havia ele de ver?! Um ovo a brilhar, por entre os outros!

Pegou nele e nem podia acreditar no que os seus olhos viam: era nem mais nem menos do que um ovo de ouro, o que estava ali à sua frente!

A correr, foi mostrá-lo à mulher.

Ficaram os dois excitadíssimos com a novidade: tinham, na sua capoeira, uma galinha que tinha posto ovos de ouro!

No dia seguinte foram os dois recolher os ovos, em grande curiosidade e…lá estava outro ovo também de ouro, por entre outros ovinhos normais que as galinhas costumavam pôr! Ficaram radiantes, como bem se pode calcular.

No dia seguinte, bem cedinho, a mulher escondeu-se na capoeira e, a seguir a cada galinha que subia para pôr o seu ovo, ela ia ver qual seria a que punha os ovos de ouro. Assim, descobriu que era a galinha mais gorda que ela tinha! A partir desse momento, não sabiam mais o que haviam de fazer à galinha: deram-lhe um poleiro especial, ração dobrada, enfim, prestaram-lhe todos os cuidados que prestariam a uma senhora galinha que fosse uma princesa encantada!

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Para ver se o ouro era de boa qualidade, o homem foi vender alguns ovos à cidade, onde muitos lhos gabaram e lhe deram por eles tanto dinheiro como ele nunca julgou ver na vida!

Tornaram-se ambiciosos e começou a parecer-lhes pouco que aquela galinha só pusesse um ovo por dia…disse o homem para a mulher:

-Ó mulher, ela que pões todos os dias um ovo de ouro, muitos ovos deve ter lá dentro dela!!!

E disse a mulher:

- Também acho, homem! E se a gente a matasse e lhe tirasse todos os ovos de lá de dentro?! Escusávamos de os receber aos bocadinhos…

E assim fizeram: foram à galinha e mataram-na. Dentro dela não encontraram ovo nenhum e, a partir desse dia, nunca mais houve nenhuma galinha que pusesse ovos de ouro!

Galinha dos ovos de ouro Houve só uma e mais não!

Ainda podia ser viva, Se não fosse a ambição!

Ficha Técnica da História

Autor Maria Alberta Meneres

Ilustrador Dago Vianna

Local e Data Porto, 2002

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Tema (s) Ambição

Direcções de exploração pedagógica - No domínio da Linguagem Oral e abordagem escrita, pode-se cruzar esta história com outras que retratam a ambição;

- No domínio da Expressão Plástica (realizar um desenho, uma colagem, uma pintura, …) e no domínio da expressão musical (ouvir uma melodia e marcar o ritmo dessa melodia) relacionada com os temas, quinta e animais;

- Na Área do Conhecimento do Mundo, explorar os animais da capoeira e questionar as crianças sobre quais os animais que põem ovos, se os ovos são todos iguais.

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A PRINCESA QUE BOCEJAVA A TODA A HORA

Esta é a história de um palácio amarelo, de um rei com uma coroa de ouro e de uma princesa que bocejava a toda a hora.

O rei passava o dia a percorrer de cá para lá e de lá para cá o quarto real. Tinha uma enorme preocupação: a sua filha não fazia mais do que bocejar! Abria tantas vezes a boca que já lá tinha entrado um par de moscas varejeiras, um colibri despistado e uma borboleta violeta.

Como os bocejos são muito contagiosos, o palácio inteiro andava com a boca aberta: o rei bocejava, a rainha bocejava, os ministros bocejavam... até o gato e o cão do jardineiro bocejavam!

- Por que bocejará tanto esta princesa? - perguntava-se o rei – Será de fome? Preocupado, mandou trazer os manjares mais requintados de países longínquos: gelado de Itália, arroz da China, cacau do Brasil, peixe cru do Japão, gafanhotos fritos da Tailândia...

A princesa comeu até se fartar, mas não deixou de bocejar! E tal como ela, também o rei, a rainha, os ministros... e até o gato e o cão do jardineiro!

O rei continuava preocupado, percorrendo de cá para lá e de lá para cá o quarto real. – Por que bocejará tanto esta princesa? Será de sono? Desta vez mandou preparar uma cama macia com colchão de penas lençóis de seda e dossel de cetim. Para além disso, ordenou que a perfumassem cm pétalas de rosa e que trouxessem o melhor trovador tocando o seu alaúde para embalar a princesa com doces canções. A princesa dormiu um sono profundo até que um raio de sol travesso se infiltrou pela janela e se pôs a brincar com o seu cabelo, mas ela não deixou de bocejar! E tal como ela, o rei, a rainha, os ministros... e até o gato e o cão do jardineiro!

O rei, pensando e repensando, de cá para lá e de lá para cá, já tinha gasto as solas dos sapatos reais e tornou a perguntar-se: - Porque bocejará tanto esta

princesa? Será de aborrecimento? Desta vez mandou vir de um reino afastado uma

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bocejar! E tal como ela, também o rei, a rainha, os ministros... e até o gato e o cão do

jardineiro!

A notícia foi correndo de boca em boca. Depressa, todos os reinos vizinhos souberam do grande problema daquela corte. Vieram médicos e curandeiros de todo o lado; mas pró mais xaropes que lhe fizessem tomar, por mais mezinhas que lhe aplicassem, a princesa continuava a bocejar! E tal como ela, também a rei, a rainha, os ministros... e até o gato e o cão do jardineiro!

Um dia, enquanto passeava pelos jardins, o filho de um criados do palácio tentou aproximar-se da princesa. O pobre estava tão nervoso que tropeçou na raiz de um carvalho e caiu de cabeça na fonte real. Quando saiu, molhado como um pinto, trazia um peixe colorido dentro da boca e um par de caranguejos pendurados nas orelhas. Ao vê-lo, a princesa teve um ataque de riso e esteve mais de um quarto de hora ah ah ah! Hi hi hi! Sem dar um bocejo. E tão-pouco bocejaram o rei, a rainha, os ministros... ou o gato e o cão do jardineiro!

O rapaz, a tremer como im pudim, mas feliz com o rso da princesa, conseguiu dizer-lhe: - Dão per, Ciprensa! Que na linguagem dos que se ensarilham com a língua quer dizer: Perdão, Princesa!

Quanto mais falava o rapaz, mais vontade de rir tinha a menina. E quanto mais ria a menina, mais falava o rapaz: - Radíama a nhora, Gamestade, de ecaitar uma

ferota? Que na linguagem dos que se ensarilham com a língua que dizer: dar-me-ia a

honra, Magestade, de aceitar uma oferta?

O filho do criado, encarnado como um tomate, entregou-lhe uma caixa de madeira. Quando a abriu, no rosto da princesa nasceu um sorriso: lá de dentro estava a rã mais verde e brilhante que alguma vez vira.

O rapaz levou a princesa a caçar grilos, a dar cambalhotas na montanha, a procurar fantasmas num castelo abandonado, a chapinhar no charco, a jogar à apanhada, a pintar a cara com lama... e a divertir-se com as brincadeiras que sempre lhe tinham sido proibido.

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A princesa deixou de bocejar a toda a hora. E tal como ela, também o rei, a rainha, os ministros... e até o gato e o cão do jardineiro!

Isto porque nem as bolas de gelado de Itália, nem colchões macios de penas, nem as elefantas amarelas alegram tanto o coração das princesas como um bom amigo.

Ficha Técnica da História Autor Carmen Gil

Ilustrador Eliana Odriozola

Local Pontevedra, 2006

Editora OQO

Tradução

Tema Valores humanos (amizade)

Direcções de orientação pedagógica - Na Área do Desenvolvimento Pessoal e Social, explorar a noção de valores tais como amizade; - Na Área do Conhecimento do Mundo, explorar a vida dos reis, onde viviam, o que faziam, que

desportos preferiam, como se vestiam, entre outros; - A nível gastronómico, a educadora pode explorar com as crianças os pratos típicos de cada país;

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O CASAMENTO DA GATA

Diz o Dom Gato para a Dona Gatinha: Não queres casar a nossa filhinha? Já tem seis meses, sabe arranhar E os seus bigodes são de encantar. Já temos a noiva para se casar. Mas esse noivo? Vamos lá procurar. Salta o coelho da toca do prado: Se querem noivo, estou preparado. Já temos noivo para casar.

Mas os padrinhos? Vamos lá procurar. Saltam os lobos do grande rochedo: Nós somos padrinhos, não tenham medo. Temos padrinhos para apadrinhar.

Mas cozinheiro? Vamos lá procurar. Salta a mosquita de uma estrumeira: Sou muito limpa para cozinheira. Temos cozinheira para cozinhar. Mas costureira? Vamos lá procurar. Salta velha aranha da sua teia:

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Faço vestido, grinalda e meia. Temos costureira para costurar,

Mas uma orquestra? Vamos lá procurar. Saem dez grilos da verde alface:

Tocamos música com grande classe. Temos orquestra, que sabe tocar. Mas bailarinas? Vamos lá procurar. As borboletas que brincam no ar Dizem: cá estamos prontas a bailar. Temos as bailarinas para bailar. Mas falta o padre. Vamos lá procurar. Sai o negro melro de entre a folhagem: Aqui está o padre, sigam viagem. Vai o cortejo pelos campos fora, Mas é bem tarde, já passa da hora. Então a aranha, cheia de fome, Chega-se à mosca e quase a come. Então um dos lobos, cheio de fome, Vai-se ao coelho e quase o come. Fogem os bichos, em louca corrida:

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Não tem piada servir de comida. A noiva trepa para o telhado, Vai namorar belo gato malhado. Deita para o lixo vestido e véu: Os Gatos gostam de andar ao léu.

Ficha Técnica da História Autor Luísa Ducla Soares

Ilustrador Pedro Leitão

Local e Data Lisboa, 2004

Editora Terramar

Tema (s) Casamento e os Animais

Direcções de exploração pedagógica - No Domínio da Expressão Dramática, dramatizar a história, fazer cenários e adereços;

- No Domínio da Linguagem, trabalhar as rimas, os fonemas e as sílabas;

- Na Área do Conhecimento do Mundo explorar a temática “casamento”.

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O GRILO VERDE

Certo dia, apareceu na horta do Tio Manuel Liró um grilo espantoso. Era verde, tão verde como as alfaces repolhudas que cresciam num pequeno canteiro ao cimo da horta. E em dias de sol e noites estreladas, punha-se a assobiar modinhas.

Os grilos que viviam por perto, como não eram verdes nem sabiam assobiar, acharam aquele vizinho esquisito, muito invulgar. Foram contar aos colegas que moravam por aquelas redondezas.

« VERDE» ?!

« E ASSOBIA?!... PODE LÁ SER!»

A notícia espalhou-se, andou de toca em toca, voou de lura em lura. Todos os grilos ficaram a saber das afrontas do parceiro que morava na horta do Tio Manuel Liró. Sim, afrontas! Ser-se verde e assobiar não eram coisas de grilo que se fizessem…

Resolveram fazer-lhe uma visita para o convencer a mudar de farda e de música.

Numa tarde de domingo deixaram as luras que tinham nos quintais, campos, bouças e matas. Entraram na horta do Tio Manuel Liró e perguntaram ao companheiro:

- Por que não tens uma cor igual à nossa? Porque não cricrilas? Então grilo Verde respondeu:

- Se nasci verde, não posso ser preto. E se assobio é porque não sei fazer outra coisa. E vós – pergunto – por que não sois verdes e não sabeis assobiar como eu? - Porque sempre fomos pretos e só sabemos cricrilar.

- Então – concluiu o Grilo Verde – estamos empatados: se eu sou verde, vós sois pretos; se assobio, vós cricrilais. Para quê tanta preocupação?

- Alto lá! – reagiram os grilos pretos. – Esqueceste-te que és o primeiro colega a fazer tamanhos disparates!

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- Não venhas com bazófia. Por acaso já pensaste na confusão que vais criar? - Confusão!? – espantou-se o Grilo Verde. – Eu?!...

- Já pensaste que, se por acaso os homens te vêem, vão logo dizer aos amigos que há grilos que não são pretos e grilos que assobiam. Já pensaste nisso? E por tua causa todos os grilos do Mundo ficam desacreditados!

- Não vejo mal nisso… Mas dizei-me – pediu o Grilo Verde – o que devo fazer? O Grilo Verde ficou calado, pensativo.

- Ides desculpar - disse ele - mas não posso fazer o que me pedis. - Pensa bem…

- Já pensei o que devia pensar, e volto a dizer que estais a pedir coisas impossíveis, coisas malucas. Cada um é como é…

- Então – decidiram os grilos pretos – somos obrigados a agir imediatamente para remediar o equívoco: vamos prender-te.

- Prender-me?

- Sim, caro colega. Serás metido na lura mais funda que conseguirmos fazer. Ninguém mais verá esse ridículo verde da tua pele, ninguém mais escutará essas estúpidas modinhas que assobias… Descansa, fome não passarás, haverá sempre à tua disposição alface e serradela com fartura.

O Grilo Verde olhou à sua volta e ficou desesperado: eram tantos os grilos pretos a rodeá-lo… como poderia escapar?

- Não vos passou pela cabeça - disse o Grilo Verde - que ides fazer uma coisa estúpida, praticar uma injustiça? Que mal vos fiz? Governo a minha vida como qualquer grilo e dou umas assobiadelas. Onde está o mal, dizei-me?!

- Ó Coleguinha estás a esquecer um assunto demasiado importante para todos nós: A NOSSA REPUTAÇÂO!

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- É o nome, a fama, a tradição, a reputação! Os grilos sempre foram pretos e nunca deixaram de cricrilar!

- E o nome, a fama, a tradição e a reputação dos grilos também diz que se deve prender os que não são pretos nem sabem cricrilar?- perguntou o Grilo Verde.

- Não venhas com conversa fiada, nem tentes baralhar-nos as ideias. Prepara-te para partires connosco.

Os grilos pretos começaram a fazer um cerco cada vez mais apertado ao colega vestido de verde – e este, quando se viu muito enrascado, desatou aos saltos, tentado fugir. - Agarra que é verde! Apanha o assobiador! Cri-cri-cri-cri.

E os grilos pretos saltavam, pulavam, caíam. O Grilo Verde, esse fugia para um lado, fintava um colega, saia para o lado contrário, dava um salto e fintava outro.

- Ai a minha vida! Ai que lá vou para a toca funda! -mas o Grilo verde fugia sempre, sempre, cada vez mais aflito, mais cercado, mais cansado…

E se o tio Manuel Liró não entrasse na horta a tempo de escorraçar os grilos pretos, certamente o Grilo Verde seria apanhado pelos colegas e de seguida metido numa lura funda.

Eu conto como tudo se passou.

Nas tardes de sol, o Tio Manuel Liró costumava ir sentar-se sob a sombra de uma oliveira ramalhuda que havia no fundo da horta para ler o jornal, e por fim dormir uma soneca.

Ora, nessa tarde de domingo, o Tio Manuel Liró entrou na horta e, como de costume, foi sentar-se à sombra da oliveira, ignorando que havia visitas por perto. Abriu o jornal, leu as palavras das letras gordas com muita atenção. Depois virou a página e começou a ler as letras mais pequenas. Mas essas letras, como eram pequenas, gostavam de brincar: punham-se a dar saltinhos de um lado para o outro, pulavam para cima e para baixo, faziam danças de roda… E os olhos do Tio Manuel, que já estavam um pouco cansados, não acharam piada nenhuma àquelas letras brincalhonas – fecharam-se. O sono, que rondava por perto, aproveitou a ocasião e, rápido, enfiou-se no corpo do Tio

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Manuel Liró. Mas foi por pouco tempo. Era grande, muito grande a barulheira que os grilos faziam. E o sono, que detesta barulho, fugiu a grande velocidade. O Tio Manuel Liró acordou estremunhado.

- Raio de grilos! Que barulho, santo Deus!... Calai-vos, desafinados duma cana!

Todavia, os grilos continuavam a fazer algazarra, indiferentes à zanga do dono da horta.

- Calai-vos!- gritou o tio Manuel Liró. E a barulheira continuava… - Ai sim !Então espera pelas alfaces… esperai.

Zangado, estremunhado, o Tio Manuel levantou-se, atirou o jornal ao chão, e correndo atravessou a horta.

Voltou daí a momentos com uma grande enxada nas mãos. Sem fazer barulho começou a percorrer a horta, talho a talho, tentando localizar os importunadores barulhentos. E tanto andou, tanto rebuscou, que conseguiu descobrir o paradeiro deles. Mas ó grande azar, ó pouca sorte! Onde é que os grilos haviam de estar metidos? - No meio do feijoal, no talho dos seus viçosos feijoeiros…

«E agora, Manuel? – pôs-se o velho Manuel Liró a pensar.- desfaço ou não desfaço? Se desfaço o feijoal e espanto os grilos para longe daqui, passo a dormir descansado. MAS se não desfaço os feijoeiros e não espanto os grilos, jamais dormirei uma soneca em paz. E agora, que faço?»

O Tio Manuel pensou, matutou, ponderou e finalmente decidiu: - Guerra aos grilos! Nem mais um cri-cri na minha horta! Quero dormir descansado. Fora! Fora daqui, seus casacas! - E, pegando na enxada, pôs-se o Tio Manuel a cavar o talho, a arrancar os feijoeiros, a cortar as vagens... Os grilos pretos mal viram aquele pedaço de ferro afiado a arrasar tudo, tiveram medo, esqueceram de dar caça ao colega verde e tentaram escapar-se, fugindo ligeirinhos, mais lestos que saltaricos.

E o Grilo Verde? Esse, empoleirou-se numa couve, e dando um suspiro de alívio, escondeu-se entre as suas folhas verdes, tenras e largas, deixando-se estar quieto, caladinho. E o Tio Manuel continuou a cavar o talho, mexendo de ponta a ponta. Grilos não vi. E voltou a cavar, cada vez mais furioso. Cavou, cavou, estrangulou, revirou a

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terra e voltou a revirar… Mas como podiam aparecer grilos se já tinham dado à pata?! Transpirado, corado, aborrecido, enervado, fatigado, o Tio Manuel pensou «foram-se os grilos e foi-se o feijoal». Exausto, voltou para a sombra da oliveira. Pegou num jornal, leu novamente as palavras de letras gordas, virou a folha, suspirou três vezes, esqueceu o incidente, fechou os olhos e adormeceu. E foi então que se deu um caso extraordinário, só estando lá para ver e pasmar: enquanto o Tio Manuel dormia a sua soneca, cresceram umas asas cor de fogo no corpo do grilo verde, e este, saindo da couve estava empoleirado, começou a voar à roda da horta por cima dos talhos. Subiu e foi poisar no ramo mais alto da oliveira, enquanto assobiava uma bela e estranha melodia. O Tio Manuel acordou de mansinho ao som da música. «Mas que bela melodia! Onde é que está o seu executante?»- pôs-se o dono da horta a pensar enquanto olhava para todos os lados, atento, admirado. A música vinha de cima, dos ramos da oliveira, mas não se via nada!

- Quem assobia tão bem que faça o favor de descer e de se mostrar para que eu o felicite! - pediu o tio Manuel.

Então o Grilo Verde desceu da oliveira voando com as suas asas cor de fogo e mostrou-se ao dono da horta.

-Que bicho tão estranho tu és! Pareces uma borboleta, mas assobias maravilhosamente… Também és parecido com um grilo… mas és verde! És tão estranho!...Espera aí! – E o Tio Manuel pensou apanhar o Grilo Verde e levá-lo consigo para mostrar aos amigos. Mas, quando estendeu os braços e abriu as mãos para o apanhar, o Grilo Verde escapou-se e, de imediato, começou a subir no céu azul.

Foi subindo, subindo e assobiando aquela estranha melodia, até que e para espanto do Tio Manuel, o Grilo Verde desapareceu entre um castelo de nuvens, voando, voando com as suas asas cor de fogo.

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Ficha Técnica da História Autor António Mota

Ilustrador Elsa Navarro

Local e data Janeiro de 2005

Editora Gailivro

Tema Diferença

Direcções de orientação pedagógica - Na Área do Conhecimento do Mundo,

trabalhar a vida dos grilos;

- Também na mesma Área, construir uma horta;

- Na Área do Desenvolvimento Pessoal e Social, trabalhar as diferenças entre as pessoas e animais, e a aceitação e compreensão das mesmas.

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A CASA DA MOSCA FOSCA

Era uma vez a MOSCA FOSCA que vivia num bosque distante.

Farta de zunir, de dar voltas sem parar, decidiu fazer uma casa para morar. Podia dormir na cama,

e ficar muito quentinha, podia receber amigos

e preparar doces na cozinha. E a Mosca Fosca pôs-se a trabalhar erguendo uma casa num lindo lugar. Pra o seu lar inaugurar sem demora, preparou um belo bolo de amora.

O seu aroma espalhou-se pelo bosque afora. Arranjou SETE assentos,

e para a mesa, SETE pratos. Não cabia nem mais um.

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- Quem vive neste lugar? Quem venho visitar? - A Mosca Fosca.

Faço uma festa para inaugurar este que é o meu novo lar. E tu quem és?

- Sou o Escaravelho Carquelho, aquele que tem o nariz vermelho. Que bom cheiro! Posso entrar? - Claro que sim.

És o PRIMEIRO a chegar!

E muito contentes os DOIS decidiram merendar. Mas quando iam começar, passou por ali o MORCEGO. Viu a casa, cheirou-lhe a bolo e bateu à porta.

- Quem vive neste lugar? Quem venho visitar? - A Mosca Fosca

e o Escaravelho Carquelho. E tu quem és?

- Sou o Morcego Ralego, o que gosta da noite para ter sossego.

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Ai que fome, posso entrar? - Claro que sim.

És o SEGUNDO a chegar!

E muito contentes os TRÊS decidiram merendar. Mas antes da primeira dentada,

passou ali o SAPO.

Cheirou-lhe a bolo e ficou com apetite. - Quem vive neste lugar?

Quem venho visitar? - A Mosca Fosca,

o Escaravelho Carquelho, e o Morcego Ralego. E tu quem és?

- Eu sou o Sapo Larapo, com laçarote de trapo.

Que bem cheira! Posso entrar? - Claro que sim.

És o TERCEIRO a chegar!

E muito contentes os QUATRO decidiram merendar. Mas quando iam começar,

passou pelo bosque a CORUJA.

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- Quem vive neste lugar? Quem venho visitar? - A Mosca Fosca,

o Escaravelho Carquelho, o Morcego Ralego, e o Sapo Larapo. E tu quem és? - Sou a Coruja Rabuja, a que limpa e nunca suja. Boa festa! Posso entrar? - Claro que sim.

És a QUARTA a chegar!

E muito contentes os CINCO decidiram merendar. Mas quando iam começar,

passou por ali a RAPOSA.

Cheirou-lhe a bolo e animou-se a entrar. - Quem vive neste lugar?

Quem venho visitar? - A Mosca Fosca,

o Escaravelho Carquelho, o Morcego Ralego,

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e a Coruja Rabuja. E tu quem és?

- Sou a Raposa Tramosa,

sou muito esperta e muito gulosa. Que bolo apetitoso!

Posso entrar? - Claro que sim.

És a QUINTA a chegar!

E muito contentes os SEIS decidiram merendar. Mas quando iam provar o bolo,

passou por ali o LOBO. O cheiro fez-lhe crescer água na boca

e bateu à porta.

- Quem vive neste lugar? Quem venho visitar? - A Mosca Fosca, o Escaravelho Carquelho, o Morcego Ralego, o Sapo Larapo, a Coruja Rabuja e a Raposa Tramosa. E tu quem és?

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- Sou o Lobo Rebobo, o mais narigudo à face do globo.

Que bolo tão bem feito! Posso entrar?

- Claro que sim. És o SEXTO a chegar!

E muito contentes os SETE decidiram merendar. Quando por fim iam provar o bolo,

apareceu por ali o urso. Tinha estado toda a tarde à procura de amoras sem encontrar nenhuma. Viu a casa, ouviu a festa e pensou:

Porque não me convidaram? E bateu à porta.

- Quem vive neste lugar? Quem venho visitar? - A Mosca Fosca, o Escaravelho Carquelho, o Morcego Ralego, o Sapo Larapo, a Coruja Rabuja, a Raposa Tramosa e o Lobo Rebobo.

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E tu quem és?

EU SOU O URSO LAMBEIRO,

O MAIS GULOSO DO MUNDO INTEIRO. E ESTE RICO BOLO DE AMORA

VOU COMÊ-LO TODO… AGORA!

E assim se acaba o conto… Com uma dentada e… pronto!

Ficha Técnica da História Autor Eva Mejuto

Ilustrador Sérgio Mora

Local e Data

Editora Kalandraka

Tema (s) Amizade e Animais

Direcções de exploração pedagógica - Na Área do Desenvolvimento Pessoal e Social podem ser explorados valores tais como, amizade e respeito pelos outros; - No Domínio da Matemática explorar os números cardinais e os números ordinais; - Como a narrativa fala sobre um bolo de amora, a educadora poderá fazer uma receita de um bolo à escolha das crianças; - Na área do Conhecimento do Mundo

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pode ser explorado o fruto de que fala a narrativa, a amora. A amora é um fruto de época, por isso a Educadora pode

explorar com as crianças o fruto em questão e pedir às crianças que digam se conhecem mais algum fruto de época; - Também na mesma Área podem ser explorados os animais que estão abordados no texto;

- A educadora poderá também questionar as crianças sobre a atitude do lobo; - No domínio da linguagem a educadora podem explorar as rimas.

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A BORBOLETA BRANCA

A primavera tinha chegado finalmente. A Natureza reencontrara as suas belas cores.

As flores abriam as pétalas para melhor se colorirem. Os animais cantavam e brincavam.

Estavam todos felizes. Todos, à excepção de uma borboleta branca. Só ela se lamentava. Estava desesperada. As suas grandes asas eram completamente brancas. Gostaria de ser uma borboleta multicolor. A Natureza tinha-lhe pregado uma partida.

Então, chorando de tristeza, procurou incansavelmente um meio de se colorir, esfregando-se com o pólen das flores ou rebolando-se na erva molhada.

Uma bela manhã, banhou-se na lama. Uma rã, que habitava perto, não acreditou no que os seus olhos viam: “Ter prazer em se sujar deste modo, é deveras repugnante!”

Mas, ao secar, a lama quebrou-se e transformou-se em pó que voou ao sabor do vento. As sãs da nossa borboleta, de novo, imaculadas de brancura. Que decepção!

A borboleta branca pensava que, se comesse cenouras, podia ficar cor-de-laranja. Por isso, foi visitar o seu amigo coelho. Infelizmente, não conseguia trincar tão grande legume. Teve de renunciar ao seu projecto.

Um dia esfregou-se num enorme morango. O sumo fez-lhe muitas manchas vermelhas nas asas. A borboleta branca ficou muito contente. Mas uma joaninha que descansava numa folha disse-lhe intrigada:

- Que te aconteceu? Feriste-te?

A joaninha tinha confundido o sumo vermelho do morango com sangue! Muito humilhada, a borboleta branca lavou as asas numas gotas de orvalho. Chegara o Verão. As borboletas resplandeciam ao sol como papagaios multicolores. Para elas, era uma festa. Mas não para a nossa borboleta branca. A sua vergonha era tão grande que, amuada, pousava numa margarida para se esconder. Esta

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