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HISTÓRIA LOCAL: USOS, DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES PARA O APRENDIZADO DOCENTE EM EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS NO ESTÁGIO SUPERVISIONADO E NO PIBID.

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Academic year: 2021

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HISTÓRIA LOCAL: USOS, DESAFIOS E CONTRIBUIÇÕES PARA O APRENDIZADO DOCENTE EM EXPERIÊNCIAS FORMATIVAS NO ESTÁGIO

SUPERVISIONADO E NO PIBID. Adriana Silva Teles Boudoux1

Este trabalho tem por objetivo refletir sobre os usos da história local no ensino de história e suas contribuições à formação docente, a partir dos trabalhos realizados por licenciandos do curso de História do Campus XIV, da Universidade do Estado da Bahia. São estudadas as atividades produzidas por meio do componente curricular Estágio Supervisionado e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, PIBID. Trata-se de uma análiTrata-se que resulta da minha experiência como professora da referida disciplina e como coordenadora de área do subprojeto do PIBID vinculado ao colegiado de História na instituição citada. Em ambos percursos formativos, pude notar que tanto os estagiários, quanto os bolsistas do Programa, costumam recorrer à utilização dos Trabalhos de Conclusão de Curso, TCCs, que abordam temas diversos sobre a história de Conceição do Coité e demais municípios da Região Sisaleira, onde se localiza o Campus XIV da UNEB. Assim, questiono qual o tratamento que esses licenciandos, em processo de iniciação à docência, têm dado à história local? Quais sentidos e significados atribuem ao local e de que modo o relacionam a outras perspectivas como as da história nacional e/ou global? Quais os desafios vivenciados e as contribuições destas experiências à formação da consciência histórica e ao aprendizado docente? Para responder a estas questões, analiso algumas propostas de aulas elaboradas no Estágio e no PIBID, dialogando com autoras como Márcia de Almeida Gonçalves (2007), Maria Auxiliadora Schmidt (2007), Helenice Ciampi (2007) e Helenice Rocha (S/D).

Apesar de não ser uma preocupação nova, estando presente nas propostas curriculares do Brasil desde a década de 1930, na atualidade, é lugar comum que o ensino da história local contribui para um aprendizado histórico significativo para os estudantes da educação básica. Se, na primeira metade do século passado, o estudo da localidade em que os estudantes estavam inseridos, figurava como recurso pedagógico e, a partir de 1971, como forma de

1 Professora de Estágio Supervisionado da Universidade do Estado da Bahia. Foi coordenadora de área do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência, entre Março de 2014 e Fevereiro de 2018, atuando no subprojeto do curso de História do Campus XIV da UNEB. É especialista em Teoria e Metodologia da História e mestra em Literatura e Diversidade Cultural pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Atualmente é doutoranda em História pela Universidade do Estado de Santana Catarina. E-mail: asteles@uneb.br.

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integração social, nos anos de 1990, novos caminhos foram propostos com a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (SCHMIDT, 2007). Nestes, passou a figurar como conteúdo, como perspectiva metodológica e como recurso didático:

O objetivo era que a adoção destas perspectivas pudesse contribuir para a noção de pertencimento do aluno a um determinado grupo social e cultural, na medida em que conduziria aos estudos de “diferentes modos de viver no presente e em outros tempos, que existem ou existiram no espaço”. A história local foi valorizada também como estudo do meio, ou seja “como recurso pedagógico privilegiado (...) que possibilita aos estudantes adquirirem progressivamente, o olhar investigador sobre o mundo de que fazem parte” [...] (SCHMIDT, 2007, p. 189).

Neste contexto em que a história local é colocada no debate sobre o aprender e ensinar história, Schmidt questiona para que e por que ensinar a história local. Seguindo os princípios da didática da Histórica e da compreensão da História como experiência humana no tempo, a autora destaca que, frente ao processo de globalização, é fundamental que a formação da consciência histórica seja construída a partir referenciais identitários. No entanto, para ela, é preciso que estes sejam situados de modo relacional com as identidades locais, nacionais, regionais e mundiais. Afirma ainda que a história local pode ser considerada como uma estratégia de ensino:

Trata-se de uma forma de abordar a aprendizagem, a construção e a compreensão do conhecimento histórico, a partir de proposições que tenham a ver com os interesses dos alunos, suas aproximações cognitivas e afetivas, suas vivências culturais; com as possibilidades de desenvolver atividades vinculadas diretamente com a vida cotidiana, entendida como expressão concreta de problemas mais amplos. (2007, p. 190)

Possibilita, portanto, a produção de atividades e atitudes investigativas, por meio da utilização de documentos, explorando os arquivos locais, bem como permitem fazer análises multidimensionais (econômica, social, política, cultural), identificando durações e ritmos temporais diferenciados.

Partindo dessas perspectivas apontadas pela didática da História, os licenciandos em História do Campus XIV da UNEB, tanto no Estágio Supervisionado quanto no PIBID, têm construído aulas incorporando a história local como conteúdo e como estratégia de ensino,

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como pode ser visto por meio das sequências didáticas e projetos de intervenção elaborados em ambos percursos formativos:

Sequência Didática 1

TEMA Nas tramas do Coronelismo: entre passado e presente

PROBLEMA O que é Coronelismo?

Podemos dizer que o Coronelismo permanece nos dias atuais? Existiu Coronelismo em Coité?

METODOLOGIA Conceitualizar o termo Coronelismo em slide;

Questionar se os alunos sabem se houve Coronelismo em Coité ou em regiões próximas;

Apresentar em slide alguns trechos do TCC de Felipe Coutinho que pesquisou o Coronelismo em Coité, produzido no Campus XIV, o discurso do próprio livro didático e de outros textos historiográficos;

Para estabelecer uma relação entre passado/presente e perceber a apreensão dos alunos diante da temática, solicitaremos uma pesquisa em grupo sobre o Coronelismo em Coité. A sugestão é que os alunos perguntem nos seus bairros, entre os seus familiares, o que sabem sobre o Coronelismo na cidade.

Sequência Didática 2

TEMA O Coronelismo entre o discurso oficial e a história local

PROBLEMA De que maneira o Coronelismo se apresenta/apresentou em Conceição do Coité?

Quais as diferenças entre o discurso oficial e as nossas vivências cotidianas?

METODOLOGIA Apresentação dos resultados das pesquisas solicitadas na aula anterior.

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Considerações sobre as apresentações e avaliação dos alunos sobre o tema e a pesquisa;

A partir das discussões lançadas pelos estudantes, elaborar um quadro comparativo e possibilitar que os alunos se vejam como sujeitos da história e que esta não está tão distante do aluno.

As sequências didáticas acima foram elaboradas por licenciandas durante o Estágio Supervisionado. Para o planejamento das aulas, seguiu-se a proposta da professora Helenice Rocha (S/D) de construção de Sequências Didáticas Problematizadoras (SDPs). As aulas foram elaboradas a partir de uma pergunta/problema acerca do tema proposto para estudo. Aliando-se a isso, os estagiários/as foram orientado/as a incorporarem a história local e a fazerem uso de fontes históricas, levando os alunos/as à investigação. Deste modo, é possível observar que a história local aparece, nas SDPs citadas, não apenas como tema, mas como problema a ser investigado e, portanto, como estratégia de ensino para que os estudantes se constituam como sujeitos da investigação e da própria história. Ao questionarem de que maneira o coronelismo se apresenta e/ou se apresentou em Conceição do Coité, os/as licenciandos/as relacionam passado e presente, assim como local e nacional, ressaltando rupturas e permanências. Expressam uma concepção relacional, sem reduzir o local a um reflexo do geral. Como afirma Helenice Ciampi (2007)

[...] a história local não é necessariamente um espelho de um país ou de uma sociedade, pois se fosse negaria a mediação em que se constitui a particularidade dos processos locais imediatos, que não se repetem nos processos mais amplos, mas com eles se relacionam. (p.211)

Outro ponto a ser destacado nas SDPs é a abordagem historiográfica, na qual se destaca, além do livro didático, a utilização de outros textos, incluindo-se aí um trabalho de conclusão de curso produzido por um egresso do curso de História do Campus que pesquisou o coronelismo em Conceição do Coité. Esta opção, assim como a atividade de pesquisa, entrevista com familiares (Sequência didática 1), demonstram que os/as estagiários/as buscam aproximar a história ao cotidiano dos/as estudantes, concebendidos/as como sujeitos da história e da pesquisa histórica.

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A incorporação da história local também tem sido uma prática nas atividades do PIBID, como pode ser visto na citação abaixo, extraída de um projeto de intervenção intitulado Escravidão ontem e hoje, elaborado por bolsistas de iniciação à docência do Campus XIV da UNEB:

O trabalho ora proposto será voltado ao estudo da liberdade no que diz respeito às cartas de alforrias. Nosso objetivo é trazer para sala de aula as cartas de alforrias encontradas no CEDOC (campus XIV) para que os alunos tenham contado direto com fonte histórica, fazendo os mesmos conhecer a realidade dos escravos da região de Conceição de Coité e seus meios de resistência. Como também proporcionar aos alunos meios de conhecerem os tipos das cartas, o perfil dos cativos e senhores envolvidos neste processo. E analisar junto com os alunos quais circunstancias levavam a conquista da liberdade.

Diante disso, pretendemos deixar evidente o papel do cativo na sua busca por sua liberdade, estando presente como sujeito ativo, que negociava e tinha as suas próprias estratégias de sobreviver e conseguir seus interesses [...]. É importante também considerar que trabalhar com tais documentos possibilita trazer para a história sujeitos que estiveram silenciados durante séculos na historiografia da escravidão brasileira. Mostrados tais aspectos relacionados a escravos que moraram na cidade em que os alunos hoje residem lhes possibilitam uma aproximação com a história local, despertando o interesse pela temática tão próxima da do seu habitat e uma melhor reflexão sobre a utilização da mão de obra escrava no Brasil. Favorece ainda o estabelecimento de relações entre passado e presente possibilitando o debate sobre a condição da população negra na atualidade.

Assim como nas SDPs produzidas para o Estágio Supervisionado, os/as bolsistas do PIBID também articulam o local ao geral de modo relacional. Para tanto, propõem o uso de documentos, tais como as cartas de alforria, que se encontram no Centro de Documentação, localizado no Campus XIV da UNEB. A incorporação da história local, nesta perspectiva, busca contribuir para a formação da consciência histórica na medida em que inserem os/as estudantes na temporalidade para que percebam o lugar em que vivem e a si mesmos dentro da historicidade, através de uma atividade investigativa na qual a história da localidade e a do seu país se relacionam mutuamente. Neste sentido, as propostas estão em consonância com o que defende Schmidt (2007) a qual afirma “que uma realidade local não contém, em si mesma, as chaves de sua própria explicação” (p. 190), necessitando ser analisada em sua relação com o regional, o nacional e/ou o global. Estão também em sintonia com o que diz Gonçalves (2007):

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O desafio maior da história local hoje é o de produzir outra pedagogia da história, em especial uma historiografia didática que incorpore o local, parta dele e valorize um caminho de sensibilização que configure a consciência histórica, na sua materialidade historiográfica, como possibilidade de “reconhecer a identidade pelo caminho da insignificância”. Crianças, jovens e adultos, sensibilizados, por intermédio de uma reflexão sobre o local, unidade próxima e contígua, historicizando e problematizando o sentido de suas identidades, relacionando-as com o mundo de forma crítica, mudando, ou não, como sujeitos, a própria vida. (p. 182-183)

A partir das propostas de aulas elaboradas tanto no Estágio quanto no PIBID, é possível afirmar que os/as licenciandos/as em História do Campus XIV tem se lançado a este desafio. Ainda que os resultados das atividades realizadas não sejam apresentados neste trabalho, as sequências didáticas e os projetos de intervenção elaborados apontam para a construção de percursos formativos nos quais o fazer docente se constitui como uma atividade que coloca em diálogo: os saberes escolares e os acadêmicos, o local e o geral, o passado e o presente, professores/as e alunos/as. Assim, a história deixa de ser algo distante e morto e passa se constituir como algo vivo e presente, cujo conhecimento é fundamental para ampliar o horizonte de expectativas futuras.

Referências:

CIAMPI, Helenice. Os desafios da história local. In.: MONTEIRO, Ana Maria e outros(Org.).

Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: MauadX/FAPERJ, 2007.

GONÇALVES. Márcia de Almeida. O reconhecimento da identidade pelo caminho da insignificância. In.: MONTEIRO, Ana Maria e outros(Org.). Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: MauadX/FAPERJ, 2007.

ROCHA, Helenice. Problematizando a organização do ensino de história. Disponível em:

http://www.ufrrj.br/graduacao/prodocencia/publicacoes/pesquisa-pratica-educacional/artigos/artigo2.pdf.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora. O ensino de história local e os desafios da consciência histórica. In.: MONTEIRO, Ana Maria e outros(Org.). Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas. Rio de Janeiro: MauadX/FAPERJ, 2007.

Referências

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