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ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA VIOLÊNCIA E DO CONTROLE SOCIAL DA VIOLÊNCIA EM BOA VISTA NO PERÍODO DE 2003 A 2005

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RORAIMA

DIEGO DE ANDRADE GOMES

ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA VIOLÊNCIA

E DO CONTROLE SOCIAL DA VIOLÊNCIA EM

BOA VISTA NO PERÍODO DE 2003 A 2005

BOA VISTA 2007

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DIEGO DE ANDRADE GOMES

ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA VIOLÊNCIA

E DO CONTROLE SOCIAL DA VIOLÊNCIA EM

BOA VISTA NO PERÍODO DE 2003 A 2005

Monografia apresentada à coordenação do Curso de Economia da Universidade Federal de Roraima – UFRR, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Economia.

Orientador: Prof. MSc. Haroldo Eurico Amoras dos Santos.

BOA VISTA 2007

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DIEGO DE ANDRADE GOMES

ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS DA VIOLÊNCIA E DO CONTROLE SOCIAL DA VIOLÊNCIA EM

BOA VISTA NO PERÍODO DE 2003 A 2005

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Economia da Universidade Federal de Roraima – UFRR, como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Bacharel em Economia.

BANCA EXAMINADORA ________________________________________ Prof. 1º Examinador ________________________________________ Prof. 2º Examinador ________________________________________ Prof. 3º Examinador

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A Deus pela companhia constante na

caminhada em busca deste ideal, dedico este trabalho.

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Aos meus familiares que sempre me apoiaram em

todos os momentos.

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“Deus me livre de que, na conta à minha

consciência, me pudesse eu argüir algum dia a mim

mesmo da covardia de emudecer.”

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RESUMO

O objetivo geral deste trabalho é analisar a situação da violência e do controle social da violência em Boa Vista no período de 2003 a 2005, a luz dos aspectos econômicos e sociais. Os objetivos específicos consistiram em identificar quais os fatores que levam à predisposição do indivíduo de se dedicar à carreira do crime: exclusão econômica e social e verificar se o comportamento dos índices e a situação do controle social da violência através da Polícia Civil nesta capital. As hipóteses examinadas foram as seguintes: os índices de criminalidade diminuíram em relação à média nacional; os recursos alocados para o aparelhamento da Polícia Civil em Roraima variaram 250% nos anos de 2003 a 2005, mesmo assim não foram suficientes para que ela fosse mais eficaz. Este estudo tem relevância quando percebe-se que a sociedade se apresenta cada dia mais violenta e as políticas públicas de segurança estão sujeitas, de algum modo, a todo este conteúdo do imaginário social, deixando surgir sentimentos ambíguos e até contraditórios. Em Boa Vista ficou constatado que no período de 2001 a 2002, os crimes contra a pessoa mantiveram taxas abaixo da média nacional, decrescendo até 35,6%, e, no período de 2003 a 2005 apresentaram taxas ainda abaixo da média nacional, crescendo, porém, até 100% no período. Nos crimes contra o patrimônio no período de 2001 a 2002 as taxas estiveram abaixo da média nacional, crescendo até 50%, e, no período de 2003 a 2005 apresentaram taxas também abaixo da média nacional, embora crescendo até 90% no período. Quanto aos delitos de trânsito no período de 2001 a 2002 observaram-se taxas acima da média nacional, decrescendo até 13%, e, no período de 2003 a 2005 apresentaram taxas ainda acima da média nacional, crescendo até insuportáveis 500% no período. Concluindo, pode-se constatar que os índices de violência no Estado de Roraima continuam crescendo, entretanto, em ritmo menos acelerado que ao observado na média nacional, exceto quanto aos acidentes de trânsito.

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RESUMEN

El objetivo general de este trabajo es analizar la situación de la violencia y del mando social de la violencia en la Vista Boa en el periodo de 2003 a 2005, la luz de los aspectos baratos y sociales. Los objetivos específicos consistieron en identificar qué los factores que toman el una predisposición del individual consagrándose a la carrera del crimen: la exclusión barata y social y para verificar la conducta de los índices y la situación del mando social de violencia a través de la Policía Civil en esta capital. Las hipótesis examinadas eran los siguientes: empezando de la nueva Policía Civil en la Vista Boa, los índices de criminalidad redujeron qué toma para creer que los policía de las ocurrencias se ayudaban con velocidad más grande que impide el logro de muchos crímenes; los recursos asignaron para el equipo de la policía civil en Vista Boa que ellos variaron 250% aun así por los años de 2003 a 2005, ellos no eran bastante para ella ser más eficaz. Este estudio tiene la relevancia cuando nosotros notamos que la sociedad viene cada día más violento y la política pública de seguridad está sujeta, de algún modo, el este volumen entero del imaginario social, permitiendo para aparecer los sentimientos ambiguo e incluso contradictorio. En la Vista Boa se verificó que en el periodo de 2001 a 2002, los crímenes contra la persona mantuvieron las proporciones debajo del promedio nacional, mientras disminuyendo a 35,6%, y, en el periodo de 2003 a 2005 ellos presentaron todavía las proporciones debajo del promedio nacional, mientras creciendo, sin embargo, a 100% en el periodo. En los crímenes contra el patrimonio en el periodo de 2001 a 2002 las proporciones estaban debajo del promedio nacional, mientras creciendo a 50%, y, en el periodo de 2003 a 2005 ellos presentaron también las proporciones debajo del promedio nacional, mientras creciendo a 90% en el periodo. Con la relación a los crímenes de tráfico en el periodo de 2001 a 2002 proporciones se observó sobre el promedio nacional, mientras disminuyendo a 13%, y, en el periodo de 2003 a 2005 ellos presentaron todavía las proporciones sobre el promedio nacional, creciendo insufrible incluso 500% en el periodo. Acabando, puede verificarse que el índice de la violencia en el Estado de Roraima continúa crecimiento, sin embargo, en el ritmo menos acelerado que a los observamos en el promedio nacional, exceptúe con la relación a los accidentes de tráfico.

Palabra-importante: violencia, el mando social de la violencia, la policía civil de Vista de la Boa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 1 CONCEITO DE VIOLÊNCIA... 1.1 Conceito de controle social... 2 TEORIA ECONÔMICA DA ESCOLHA RACIONAL... 2.1 Os teóricos brasileiros e a criminalidade... 2.2 Oportunidade e fator de risco... 2.2.1 Probabilidade de prisão (base matemática do modelo)... 2.2.2 Custo de oportunidade... 2.2.3 Relação entre a função de probabilidade de prisão... 2.2.4 Retorno financeiro marginal no enésimo delito... 2.3 A pressão social e o mercado de trabalho... 2.4 O caso de New York... 3 CONTROLE SOCIAL - E V O L U Ç Ã O H I S T Ó R I C A D A F U N Ç Ã O P O L Í C I A L . . . . 3.1 Modelo grego... 3.2 Modelo romano... 3.3 O período medieval... 3.4 A revolução industrial e o nascimento das polícias

modernas... 4 A VIOLENCIA NO BRASIL... 4.1 A violência em Boa Vista... 4.2 O orçamento destinado a Secretaria de Estado de Segurança Pública de Roraima... 4.3 O Efetivo da Polícia Civil no Estado de Roraima... CONSIDERAÇÕES FINAIS... REFERÊNCIAS... 11 13 16 18 20 21 22 23 24 24 25 27 30 30 31 32 33 37 50 52 53 55 58

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LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Comparativo do comportamento das taxas do total dos registros de ocorrências por 100 mil hab. nos Estados, em relação à media nacional (2001 e 2003)... Tabela 02 - Comparativo do comportamento das taxas dos registros por 100 mil hab. de crimes violentos letais e intencionais nos Estados, em relação à media da taxa nacional (2001 e 2003)... Tabela 03 - Comparativo do comportamento das taxas dos registros por 100 mil hab. de crimes violentos não letais contra a pessoa nos Estados, em relação à media da taxa nacional (2001 e 2003)... Tabela 04 - Comparativo do comportamento das taxas dos registros por 100 mil hab. de crimes violentos contra o patrimônio nos Estados, em relação à media da taxa nacional (2001 e 2003)... Tabela 05 - Comparativo do comportamento das taxas dos registros por 100 mil hab. de delitos de trânsito nos Estados, em relação à media da taxa nacional (2001 e 2003)... Tabela 06 - Comparativo do comportamento das taxas de ocorrências do total de ocorrências registradas pelas Polícias Civis entre 2001 e 2003, segundo as Regiões Geográficas do Brasil... Tabela 07 – Ocorrências registradas em Boa vista no período de 2003/2005... Tabela 08 - Evolução do Orçamento por Unidade Orçamentária 2003 – 2005.... Tabela 09 – O efetivo da Policia Civil em Boa Vista (2004 – 2006)...

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Padrão de encaminhamento de ocorrências... 40 42 44 46 48 49 50 53 54 37

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LISTA DE MAPAS

Mapa 01 – Comparativo do comportamento das taxas do total dos registros de ocorrências por 100 mil há. Nos Estados, em relação à media nacional (2001 e 2003)... Mapa 02 – Comparativo do comportamento das taxas do total dos registros de ocorrências por 100 mil há. Nos Estados, em relação à media nacional (2001 e 2003)... Mapa 03 – Comparativo do comportamento das taxas do total dos registros de ocorrências por 100 mil há. Nos Estados, em relação à media nacional (2001 e 2003)... Mapa 04 – Comparativo do comportamento das taxas do total dos registros de ocorrências por 100 mil há. Nos Estados, em relação à media nacional (2001 e 2003)... Mapa 05 – Comparativo do comportamento das taxas do total dos registros de ocorrências por 100 mil há. Nos Estados, em relação à media nacional (2001 e 2003)... Mapa 06 – Comparativo do comportamento das taxas do total dos registros de ocorrências por 100 mil há. Nos Estados, em relação à media nacional (2001 e 2003)... 39 41 43 45 47 49

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INTRODUÇÃO

O objetivo geral deste trabalho consiste na análise da situação da violência e do controle social da violência em Boa Vista (RR) no período de 2001 a 2005, à luz dos aspectos econômicos e sociais.

Os objetivos específicos consistem em identificar quais os fatores que levam a uma predisposição do indivíduo a se dedicar à carreira do crime: exclusão econômica e social; e verificar o comportamento dos índices de violência e a situação do controle da violência.

Este estudo tem relevância quando se observa que a sociedade, inclusive a de Roraima, se apresenta cada dia mais violenta e as políticas públicas de segurança estão sujeitas, de algum modo, a todo este conteúdo do imaginário social, deixando surgir sentimentos ambíguos e até contraditórios, pois por um lado, a exigência, quase obsessiva, de que a impunidade seja enfrentada e combatida pelos poderes competentes “aponta na direção de uma recusa da violência como forma de resolução de conflitos propiciando a inserção no processo civilizatório”. Por outro lado, o agravamento da violência em determinados segmentos sociais forma ilhas de violência apresentando outra problemática que é a de des-civilização, que caracteriza a reversão desse processo civilizatório, configurando contextos de retrocesso. É a respeito dessa segunda representação que emergem as demandas por aumento de controle social e repressão.

Em quase todo o mundo os conflitos raciais e étnicos, os progressos da violência nas relações individuais, a delinqüência, através de assaltos, roubos e vandalismo, inspiram preocupações. Nos Estados Unidos da América do Norte o espectro do terrorismo, deixa a população cada vez mais inquieta e assustada. E, no Brasil, como em muitos outros países do mundo, o aumento alarmante da violência, constitui numa situação temerosa e avassaladora.

Nessas condições, não é de surpreender que as estruturas e o funcionamento da polícia suscitem cada vez mais interesse e que a maneira de "fazer o policiamento" provoque debates em todo o mundo.

Quando tudo corre bem, pouco se fala da polícia. Mas, em período conturbado, é para ela que se voltam os cidadãos. Infelizmente, os tempos são difíceis para a polícia, e não só por causa dos avanços da criminalidade e das perturbações da ordem pública, como também, a preocupação crescente com os direitos humanos e as liberdades, a demanda geral de responsabilidade pesam também sobre a atividade policial.

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Por muitas razões, tanto práticas como teóricas, faz-se sentir a necessidade de um estudo comparativo preciso sobre as condições políticas, econômicas e sociais em que a ação policial se exerce e sobre as modalidades que ela reveste: não é mais possível, atualmente, fazer policiamento ignorando pura e simplesmente os problemas e as práticas em que ela está envolvida.

Por outro lado, o senso comum, a mídia e também análises de cunho acadêmico têm revelado grande consenso ao insistir no caráter violento da atuação policial, além de enfatizar que essa violência é o estopim para outros tipos de violência protagonizados pelo cidadão comum, numa resposta em cadeia, que se converte em uma espécie de círculo vicioso.

Essa violência, contida estruturalmente na cultura organizacional dos modelos de polícia em vigor no Brasil e em outros países também, poderia, em certo sentido, ser pensada como expressão, ou parte, da violência que, enquanto representação social, estrutura e regulamenta relações sociais (Machado, 2003).

Em Boa Vista constatou-se que no período de 2001 a 2002, os crimes contra a pessoa mantiveram taxas abaixo da média nacional, decrescendo até 35,6%, e, no período de 2003 a 2005 apresentaram taxas ainda abaixo da média nacional, crescendo, porém, até 100% no período. Nos crimes contra o patrimônio as taxas estiveram abaixo da média nacional, crescendo até 50%, e, no período de 2003 a 2005 apresentaram taxas também abaixo da média nacional, crescendo, entretanto, até 90% no período. Quanto aos delitos de trânsito observaram-se taxas acima da media nacional, decrescendo até 13%, e, no período de 2003 a 2005 apresentaram taxas ainda acima da média nacional, crescendo até insuportáveis 500% no período.

É relevante ressaltar que o estudo não faz a verificação empírica das causas do aumento da violência em Boa Vista, trabalhando com as hipóteses gerais levantadas na maioria dos estudos sobre o problema da violência, normalmente associadas à exclusão social e econômica, o que obviamente não exclui os componentes psicológicos e biológicos de um modo geral.

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1 CONCEITO DE VIOLÊNCIA

Etimologicamente, reconhece-se que a raiz da palavra violência é “vis”, que significa força, energia, potência, valor, força vital. Distingue-se no comportamento violento dois aspectos básicos: o caráter de intensidade irresistível e brutal de sua força, de um lado, e, de outro lado, seu caráter de lesividade, pelo qual se causa de alguma forma dano a alguma coisa ou alguém (MICHAUD, 1989).

Objetivando englobar as mais variadas situações, (as que supõem atos de violência e as que supõem estados de violência, as que supõem atos de violência com contornos e efeitos definidos e as que supõem estados de violência mais insidiosos), Michaud propõe o seguinte conceito:

Há violência quando, numa situação de interação, um ou vários atores agem de maneira direta ou indireta, maciça ou esparsa, causando danos a uma ou várias pessoas em graus variáveis, seja em sua integridade física, seja em sua integridade moral, em suas posses, ou em suas participações simbólicas e culturais (MICHAUD, 1989).

Pode-se ainda analisar no fenômeno violento a intensidade, as características da ação violenta, bem como suas causas e efeitos. A ação será mais violenta ou menos violenta, em função da intensidade de sua força, bem como da natureza dos danos por ela causados. A violência pode também ser entendida como algo que implica em idéia de privação (FACHINI 1992 e ODÁLIA, 1983).Para este autor ato violentador supõe a idéia de privar, isto é, de destituir, despojar, desapossar alguém de suas coisas, de seus direitos fundamentais, inclusive de se realizar como homem.

Ao aproximar o conceito de violência com a idéia de privação, com a idéia de privar alguém de seus direitos fundamentais, até mesmo do direito de se realizar como homem e cidadão, vale lembrar a “clássica versão aristotélica”, da noção de violência “como qualidade do movimento que impede as coisas de seguirem seu movimento natural” (COSTA, 1986).

Desse modo, algumas definições de violência serão sempre provisórias e inferidas de casos particulares, tornado-se inviável isolar a essência da mesma. (COSTA, 1986).

Vê-se aí uma tomada de posição bastante clara sobre o problema da conceituação de violência, reconhecendo o referido autor que o uso do termo pode ser até confuso, impreciso.

Entretanto, o mesmo autor reconhece, com muita propriedade, dois riscos: o de se sacralizar a violência, tornando-a impensável, intocável, identificado-a com a “anti-razão”, com a “desrazão”, com o “demoníaco”, ou o de se banalizá-la, dando-se-lhe um “caráter de

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impulsão primeira e permanente no psiquismo”, reconhecendo-a como algo natural e onipresente e, mais que isso, como fato inaugural da vida psíquica.

O termo violência é usado nos mais diferentes contextos e, conseqüentemente, com os mais diferentes significados, inclusive em função das diferentes linhas ideológicas e teóricas de pensamento.

Assim, fala-se em violência: dos criminosos, da ação policial, da ação política, das leis, do modelo econômico, da fome, da miséria, do analfabetismo, da ação pedagógica, da educação dos pais, dos fenômenos da natureza, das doenças, das intervenções cirúrgicas, entre muitos outros contextos e situações.

Mesmo assim, toda essa pluralidade de situações e significados, implica em se fazer algumas aproximações quanto a um núcleo central do que seja violência, de se buscar delimitar seus contornos.

Afinal é de se perguntar: “Quem exerce esta violência?” Ela se torna um ingrediente da história natural da humanidade, racionalizada e justificada, presente nos sistemas políticos e econômicos, nas instituições, nos grupos e nas famílias. Presente inclusive nas pessoas “normais”, honestas, encontrando-se “mascarada na habitualidade das relações sociais e interpessoais aceitáveis e respeitáveis, mas simultaneamente opressivas e danosas a muitos de seus semelhantes, violentas na sua essência” (AMORETTI, 1992).

Este impulso emanará de “alguém”, alguém identificável diretamente, identificável indiretamente ou não identificável (pessoas, grupos, instituições, sistemas, normas explícitas ou implícitas, culturas, nações). Seu objetivo, seu resultado final será o de causar danos a outros: a pessoas, grupos, instituições, segmentos sociais ou nações. Estes danos giram em torno de um núcleo central, que pode ser compreendido por uma idéia básica: privação. Compreendida nestes termos, a violência será mais grave ou menos grave dependendo, não só da intensidade e “irresistibilidade” de sua força, mas também de seu caráter de “lesividade”, isto é, da natureza dos danos causados, noutros termos, da natureza das privações impostas, as quais poderão variar desde bens materiais de menor monta, até a própria identidade do indivíduo, até seu direito de se realizar como homem e cidadão ou até mesmo sua própria vida (FERNANDES, 2002).

Como dizia Aristóteles em sua clássica versão:

(...) violência rouba à sua vítima a direção, o sentido que ela escolheu ou teria direito de escolher para seu modo de agir, de ser, de pensar, de amar, de querer, de viver e conviver, inclusive através até do próprio “não saber” sobre que direção tomar, ou sobre que direções tem direito de tomar (FERNANDES, 2002).

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A violência tem uma face explícita, manifesta, por todos reconhecida por seu caráter de estarrecedora dramaticidade. A este caráter de dramaticidade, porém, não corresponde necessariamente um equivalente grau de importância e profundidade, se quisermos pensar em termos de causas e raízes dos problemas. Por outro, ela tem uma face oculta, que penetra sub-repticiamente as relações humanas e pode estar presente às vezes até nas nossas relações com as pessoas que nos são mais próximas.

Aqui vale lembrar o risco da banalização da violência (COSTA, 1986). Considerando-se os seguintes os elementos essenciais – uma força minimamente intensa, que provoca danos em outras pessoas, danos esses compreendidos nuclearmente como privações das mais diferentes ordens – ter-se-á uma infinitude de comportamentos indevidamente definidos como violentos, com o conceito de violência atingindo uma abrangência tal que ele se tornaria praticamente inútil para pesquisar o fenômeno.

Entre muitas e muitas outras, pode-se classificar como violentas as seguintes condutas: um pai que abruptamente segura seu pequeno filho pelo braço, impedindo-o de atravessar a rua, quando ele estava para fazê-lo justamente num momento de perigo e lhe faz uma severa advertência; uma mãe que não cede ao desejo e pedido do filho para ir ao cinema no horário de aula, mas leva-o à escola; policiais que prendem baderneiros durante partida de futebol; policiais que prendem e algemam assaltantes, conduzindo-os à Delegacia.

É bom lembrar, que a natureza humana, da mesma forma que espera não ser vitimada por fenômenos naturais como enchentes, furacões, maremotos, entre outras tantas manifestações adversas da natureza, definitivamente almeja a paz e não a guerra. Entretanto, da mesma forma que é obrigada a conviver com a violência da natureza sem que possa impedi-la, a humanidade é obrigada a conviver com as mais diversas manifestações de violência humana, no mínimo como vítima. É este o ponto central da questão, sermos contra a violência não vai impedir que ela ocorra, pois enquanto houver um governo ou um grande número de indivíduos dispostos a praticá-la, ela ocorrerá com a mesma certeza de que ocorrerão enchentes ou terremotos.

No terreno das relações humanas esta proteção é feita historicamente através do aperfeiçoamento das ciências humanas, das leis e aparatos policiais do estado democrático, da diplomacia, e quando tudo o mais falha, dos instrumentos de proteção individual, seja um veículo blindado ou uma arma. Homem e arma sempre caminharam junto ao longo da história, e isto é parte da natureza humana, por instinto queremos estar protegidos. A violência

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não pode ser encarada emocionalmente, há que se estudá-la em seus detalhes, analisá-la com método e ver suas diferenças.

No fundo, ao não diferenciar eticamente a violência criminosa e agressora, da violência legítima, praticada com o objetivo de se enfrentar a barbárie, estas campanhas funcionam como mais um elemento de inibição da vítima em relação ao agressor. É a negação da prática histórica do homem, prática esta que foi instrumento do progresso, pois se ao contrário, a humanidade houvesse se rendido aos agressores criminosos, a ciência e a democracia teriam sucumbido e estaríamos vivendo nas trevas.

O conceito de violência adotado no presente trabalho incorpora a visão dominante no tema jurídico nacional, que define violência da seguinte forma: “Violência pode ser definida como o ato de violentar, determinar dano físico, moral ou psicológico através da força ou da coação, exercer pressão ou tirania contra a vontade e a liberdade do outro” (AMORETTI, 1992). Conforme lembra este autor, o fato encerra em si um sujeito ou sujeitos violentadores, uma pessoa ou pessoas que sofrem a ação violenta e um ato ou ação violentadora.

Nesse sentido, a violência pode se apresentar desde a forma de ato como a agressão verbal até o ato extremo de se tirar a vida de outra pessoa ou se manifestar como ato contra o patrimônio material, ambiental e outros.

Do ponto de vista da economia, interessa particularmente conhecer quais são os impactos da violência, nas relações econômicas em termos de custos e benefícios.

Por exemplo, a violência no trânsito produz no Brasil mortalidade anual superior à guerra do Iraque e muito mais mutilados do que todas as guerras que acontecem atualmente no mundo. Esse fenômeno tem custo altíssimo que se reflete na oferta de trabalho, na previdência, no sistema de saúde, além dos prejuízos materiais.

1.1 Conceito de controle social

Do ponto de vista sociológico o controle social diz respeito ao conjunto de normas e de mecanismos que visam balizar o comportamento e a ação de indivíduos na sociedade.

De acordo com Abramovay (2001):

O controle social só é efetivo se os atores interiorizarem os elementos morais pressupostos na colaboração entre eles. Existem sanções pela conduta 'desviante', mas elas só funcionam pela presença de recursos morais que têm a virtude de

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aumentar conforme seu uso e dos quais a confiança é o mais importantes. Desta forma, presume-se que o controle social não é obtido baseado apenas em aspectos normativo-legais, mas depende de colaboração ou cooperação, e de um aprendizado contínuo.

Neste trabalho, o conceito de controle social diz respeito ao mecanismo estatal representado pelo corpo policial, isto é, o controle do estado através das polícias militar com o controle do policiamento ostensivo e a polícia civil com o controle do policiamento judiciário.

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2 TEORIA ECONÔMICA DA ESCOLHA RACIONAL

Gary S. Becker (1968) desenvolveu um importante conceito de medição dos custos da violência, é o do capital humano. De acordo com este conceito, os gastos em educação constituem investimentos para manter ou aumentar o capital representado pela capacidade produtiva do indivíduo. Deste ponto de vista, a base da valoração dos custos indiretos é a contribuição de cada indivíduo à riqueza nacional: quando uma pessoa morre ou torna-se incapacitada, a sociedade perde a riqueza que ela deixa de produzir, que é genericamente diferenciada de acordo com a idade, o sexo, o grau de instrução e a ocupação. Com base nestes critérios, convencionou-se calcular, para efeitos dos custos indiretos das mortes prematuras, os anos potenciais de vida perdidos (APVPs).

Na verdade o que se observa é um marco à abordagem sobre os determinantes da criminalidade ao desenvolver um modelo formal em que o ato criminoso decorreria de uma avaliação racional em torno dos benefícios e custos esperados aí envolvidos, comparados aos resultados da alocação do seu tempo no mercado de trabalho legal.

Basicamente, a decisão de cometer ou não o crime resultaria, segundo o autor, de um processo de maximização de utilidade esperada, em que o indivíduo confrontaria, de um lado, os potenciais ganhos resultantes da ação criminosa, o valor da punição e as probabilidades de detenção e aprisionamento associadas e, de outro, o custo de oportunidade de cometer crime, traduzido pelo salário alternativo no mercado de trabalho.

Outros estudiosos como Ehrlich (1973), Block e Heinecke (1975) e Leung (1995) apud Mendonça (2001) uniram-se ao pensamento de Becker nesta abordagem da escolha racional, e basicamente, trabalharam com inovações em torno da idéia já estabelecida por Becker, em que dois vetores de variáveis estariam condicionando o comportamento do potencial delinqüente. De um lado, os fatores positivos que levariam o indivíduo a escolher o mercado legal, como o salário, a dotação de recursos do indivíduo etc.; de outro, os fatores negativos, ou dissuasórios, como a eficiência do aparelho policial e a punição.

Um ponto interessante a observar é que, a despeito deste modelo ser de natureza microeconômica, cujo foco recai sobre os determinantes individuais da criminalidade, quase todas as pesquisas empíricas foram construídas a partir de uma estrutura de dados agregados regionalmente. Certamente, isso deve ser resultado da indisponibilidade de dados individualizados necessários para a aferição do modelo de escolha racional. O custo dessa estratégia é a introdução da hipótese de que o criminoso atua na mesma região em que reside.

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Nesse ponto, surge um dilema: quanto menor for essa unidade geográfica, mais inverossímil tende a ser a hipótese; quanto maior for essa unidade geográfica, mais informações se perdem nas médias agregadas.

Ehrlich (1973) apud Araújo (2001) estendeu a análise de Becker para considerar qual deveria ser a alocação ótima do tempo em torno do mercado criminoso ou legal. Ainda, o autor investigou os efeitos decorrentes da distribuição de renda sobre o crime. Mais especificamente com relação aos crimes contra a propriedade, ele assinalou que um elemento determinante seria a oportunidade oferecida pelas vítimas potenciais. Este autor adotou como medidas dessa oportunidade oferecida: a) a renda mediana das famílias de determinada comunidade; e b) o percentual de famílias que recebem até o primeiro quartil da renda da comunidade. Assim, o autor estabelece uma relação positiva significativa entre as medidas de desigualdade enunciadas e vários tipos de crime.

Block e Heinecke (1975) apud Araújo (2001) observaram que uma vez que existem diferenças éticas e psicológicas envolvidas no processo de decisão do indivíduo entre os setores legal e ilegal, o problema da oferta de crimes deveria ser formulado em termos de uma estrutura de preferências multifatorial, que levasse em conta outros aspectos que não apenas a renda. Eles mostraram que os resultados de Becker e Ehrlich, acerca das oportunidades de ganho no mercado legal, são válidos apenas se existirem equivalentes monetários das atividades legal e ilegal e se estes forem independentes do nível de riqueza.

Os autores supramencionados utilizando dados dos estados procuraram explicar os crimes contra a propriedade valendo-se de três outros conjuntos de variáveis, entre as quais as de natureza econômica, as relacionadas à existência de programas sociais e as de "repressão judicial", controlados por outras características da população. As variáveis utilizadas foram: desigualdade; desemprego; probabilidade de detenção; prisão e condenação; tamanho da sentença; os pagamentos sociais per capita do estado; número de beneficiários dos programas dividido pela população do estado; e razão entre os benefícios máximos de famílias com crianças dependentes e a ajuda-padrão para uma família com três membros. Os resultados mostraram que as três últimas variáveis, que estariam condicionando um nível mínimo de bem-estar à população local, são negativas e significativas para várias especificações das equações.

Vários autores procuraram ainda incorporar a idéia do histórico criminal, condicionando as decisões ótimas do indivíduo a favor do crime, o que explicaria um

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processo de "inércia criminal", à medida que o indivíduo opta pela carreira criminal, menores são as probabilidades de ele sair do crime e ajustar-se ao mercado de trabalho legal.

Segundo Leung (1995) apud Mendonça (2001), os antecedentes criminais diminuiriam os retornos futuros esperados no mercado legal em decorrência de dois elementos: o estigma que o indivíduo passa a sofrer da sociedade, ainda mais se é ex-apenado; e a depreciação do capital humano condicionada pela perda natural das habilidades anteriores e pela ausência de investimento em educação e treinamento profissional durante o período em que o mesmo se encontrava alocando seu tempo a atividades criminosas ou encarcerado.

Mais recentemente, os estudos de orientação "econômica" têm procurado incorporar outros ingredientes para explicar o processo de decisão do indivíduo quanto a ingressar no crime ou não, além das inúmeras medidas tradicionais de benefícios e custos esperados do ofensor, tangenciando questões que, até então, eram discutidas eminentemente pelos sociólogos, como a das interações sociais e a do aprendizado social. As interações sistêmicas foram introduzidas nos modelos econômicos por Cano (2001) e Posada (1994). A idéia básica era que índices de criminalidade maiores, em determinada região, para um determinado dispêndio em segurança pública, levariam à percepção, por parte do ofensor, de haver uma probabilidade menor de aprisionamento. Nesse caso, o aumento exógeno nos índices de criminalidade de determinada região só seria revertido por meio de um maior dispêndio de recursos com segurança.

Vários outros estudos empíricos sob orientação da escolha racional foram feitos, em que se investigou a relação do crime com o mercado de trabalho, a renda, a desigualdade, a dissuasão policial, a demografia e a urbanização, entre outras variáveis. Alguns trabalhos que poderiam ser destacados nesse meio são os de Wolpin (1978), Freeman (1994), Fajnzylber et al (1998), Gould et al (2000) e Entorf e Spengler (2000) apud Cano (2001).

Freeman (1994) apud Cano e Soares (2002), através de outro exaustivo trabalho empírico envolvendo mercado de trabalho e crime, basicamente, no que diz respeito aos estudos de séries temporais, constatou não haver consenso sobre a questão. Já os estudos que utilizaram técnicas de análises longitudinais com dados agregados regionalmente, em geral, conseguiram captar a relação positiva entre crime e desemprego.

2.1 Os Teóricos Brasileiros e a Criminalidade

Os estudos empíricos relacionados aos determinantes da criminalidade no Brasil sofrem de extrema limitação derivada da inexistência quase que absoluta de obras e de dados

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pouco confiáveis, com cobertura nacional e reproduzidos temporalmente. Tais estudos começaram a ganhar ênfase com os trabalhos de Coelho (1988) e de Paixão (1988), em Minas Gerais, que criticavam a importância de fatores socioeconômicos na determinação da criminalidade, em detrimento de variáveis mais relacionadas à eficácia do sistema de justiça criminal, principalmente no que diz respeito à polícia.

No Rio de Janeiro, Zaluar (1985), com seu trabalho pioneiro baseado em pesquisas etnográficas em favelas e comunidades, verificou uma série de elementos que associariam o contexto social nessas comunidades aos fenômenos da violência e criminalidade, lançando luzes sobre a questão.

Cerqueira e Lobão (2003) desenvolveram um modelo de produção de crimes que considera a existência de virtuais criminosos que objetivam a maximização de lucro e se defrontam com uma tecnologia de produção que sofre a externalidade da ação da justiça criminal e das condições ambientais da localidade onde o crime seria perpetrado. Neste estudo, cada indivíduo é diferenciado dos demais pelo custo de oportunidade da sua mão-de-obra no mercado legal e pelo prêmio esperado da ação criminosa (o preço do crime). A principal equação do modelo define que o número de crimes da localidade é determinado pelas variáveis: desigualdade de renda; renda esperada no mercado de trabalho legal (que depende da taxa de ocupação); densidade demográfica; poder de polícia; e valor da punição. Os autores implementaram empiricamente esse modelo para analisar duas décadas (anos 70 e 80) de homicídios nos Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Finalmente, chegaram a duas conclusões: não há como equacionar o grave problema da segurança pública deixando de enfrentar a questão da exclusão econômica e social; e a mera alocação de recursos nos setores de segurança pública a fim de replicar o atual modelo de polícia, sem que se discuta a sua eficácia e eficiência, está fadada a obter desprezíveis resultados para a paz social.

2.2 Oportunidade e Fator Risco

No plano econômico, os criminosos sempre esperam benefícios financeiros de suas ações. Os criminosos decidem se irão cometer ou não o crime, baseados nas oportunidades, custos e lucros de suas ações. Este princípio norteou o desenvolvimento de um modelo de análise que contempla o estudo: crime versus risco (Freeman et al, 1999 apud Dantas, 2004).

O conceito de natureza territorial do crime fundamenta-se no fato de que o comportamento das pessoas, principalmente quando empreendem atividades intencionais, é

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baseado em certas rotinas e hábitos ajustados às características do ambiente onde vão atuar (Freeman et al, 1999 apud Dantas, 2004).

Lagos, apud Dantas, (2004), cita que a criminalidade estaria condicionada por uma gama de variáveis independentes que contribuem para o entendimento do comportamento criminal dos indivíduos, tais como faixa etária, gênero, escolaridade, características do núcleo familiar e pertinência dos indivíduos a determinados estratos sociais e econômicos considerados como posições de risco.

Sobre este assunto, cita Freeman et al, 1999 apud Dantas, (2004) que diversos estudos sociais estabeleceram uma importante relação entre os baixos níveis de salários oferecidos no mercado e o aumento do nível de criminalidade. Esta relação sugere o custo de oportunidade entre o trabalho e o delito praticado pelo potencial criminoso.

Pesquisadores da economia do crime provam com equações, índices e indicadores referentes à série histórica de 20 anos de dados econômicos nos EUA, que oportunidades de emprego e efetividade do sistema de justiça criminal realmente são fatores decisivos na maior ou menor expressão do fenômeno da criminalidade. Quando o número de crimes é elevado o volume de criminosos no mercado é grande, sendo que apenas um pequeno volume de criminoso, em potencial, com acesso a rendimentos maiores que o custo de oportunidade estão ausentes (DANTAS, 2002).

Quando o número de criminosos é alto, o número de trabalhadores é pequeno, aumentando-se as ofertas de salários. Desta forma o nível salarial é uma função decrescente do volume de trabalhadores e crescente do volume de criminosos (DANTAS, 2002).

Grogger apud Dantas, (2004) documentou a relação entre níveis de salário e índices de criminalidade, concluindo que o comportamento criminal entre jovens é altamente dependente de seus potenciais ganhos salariais em atividades legítimas. Um incremento de 10% nos salários produz uma redução de 6 a 9% da criminalidade entre jovens.

Um estudo voltado para o mercado de entorpecentes revelou que o risco do traficante é proporcional ao total do esforço policial efetivamente despendido para captura de cada traficante (DANTAS, 2002).

2.2.1 Probabilidade de prisão (base matemática do modelo)

PA (E/N) = (1 – exp( - a (E/N)) Onde:

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E = esforço policial aplicado em determinado crime e área (horas ou valor dos recursos aplicados);

N = número de determinado crime praticado em uma área específica;

a = Uma constante positiva, que representa a efetividade do esforço policial dedicado a cada delito (E/N) para realizar a prisão do autor de cada crime.

Áreas abertas, planas e claras apresentam o fator a maior que áreas escuras ou com maior volume de acidentes geográficos como favelas e morros ou aclives em estradas, que forçam a marcha reduzida do caminhão e favorecem o acesso de marginais para o roubo de cargas (DANTAS, 2002).

De modo similar, o fator a tende a aumentar em comunidades de maior poder econômico, onde o crime tem maior repercussão, contrariamente ao apresentado em comunidades mais pobres (DANTAS, 2002).

Os delinqüentes atuam de acordo com princípios de racionalidade: oportunidade, benefício e risco. Se uma área oferece oportunidades, inclusive pela deficiente ação de vigilância, privada ou policial, há a propensão de relativa fixação dos delinqüentes no local, inclusive por conhecer pessoal de apoio, vias de fuga, esconderijos e a concorrência de outros criminosos (DANTAS, 2002).

Um exame detalhado da ocorrência de determinados tipos de crime, como os furtos de autos ou roubos de pedestres, mostra que eles ocorrem nos mesmos lugares, quase sempre nos mesmos horários e com o mesmo tipo de vítima. Um levantamento do modo de operação pode mostrar que, quase sempre, são os mesmos criminosos que estão agindo no local (DANTAS, 2002).

2.2.2 Custo de oportunidade

O modelo matemático define expectativas de retorno sobre a ação criminosa, incorporando variáveis sócio-econômicas importantes, tais como: nível de criminalidade concorrente, valor considerado na ação criminosa, esforço policial envolvido e probabilidade do criminoso não ser preso após praticar a ação (DANTAS, 2004).

Quanto maior o esforço policial dedicado à investigação de determinado delito criminal, maiores serão as chances de identificação do autor do delito. Por outro lado, diante de determinado nível de esforço policial aplicado de forma preventiva ou reativa, as chances

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de identificação dos delitos reduzem, na medida em que a ação crimina aumenta (DANTAS, 2004).

Para Lagos apud Dantas, (2004) O "custo de oportunidade" do engajamento em atividades criminais seria estimado através do índice de retorno em relação ao cometimento do ilícito. Isso dependeria do salário pago em atividade lícita, e na qual o indivíduo pudesse encontrar emprego; da disponibilidade de tal emprego na sociedade.

W(n) = d(m) exp (pn)

Onde:

W(n) = custo de oportunidade no enésimo crime praticado na área considerada d(m) = função crescente do volume de riqueza ou valor do universo-alvo

p = constante positiva que define a sensibilidade ou atração do criminoso para a riqueza (valor) correspondente ao universo-alvo (DANTAS, 2004).

2.2.3 Relação entre a Função de probabilidade de prisão

O retorno total do crime em um universo determinado é limitado ao valor total (riqueza) referente ao universo geográfico considerado.

2.2.4 Retorno financeiro marginal no enésimo delito

R(n) = c(m) exp ( - qn)

Onde:

R(n) = Retorno financeiro marginal no enésimo delito cometido.

q = Constante positiva, dependente do tipo do crime cometido. Quanto maior o volume de criminosos concorrentes para o tipo específico de crime, maior será o valor de q.

c(m) = função que determina um valor associado à riqueza ou valor médio do universo-alvo. Quando o crime exige um maior nível de habilidade por parte do criminoso, o valor de c(m) tende a apresentar-se alto.

O criminoso espera o maior valor associado a c(m) quando o não existe vigilância policial ou outros marginais competindo naquele universo-alvo (DANTAS, 2004).

Por exemplo, o mercado de drogas é loteado em territórios, facilitando a exploração do consumidor potencial e aumentando a expectativa de retorno financeiro pelos traficantes.

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2.3 A pressão social e o mercado de trabalho

Aqui é interessante salientar a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais divulgada em abril pelo IBGE revela que, de 1980 a 2000, cerca de 600 mil brasileiros foram assassinados.

A pressão social gerada pela deterioração do mercado de trabalho pode ser apontada como uma das causas do crescimento assustador da violência nas últimas décadas. Os dados da violência em nosso País mostram a falta de perspectiva principalmente da população jovem, que não encontra emprego, tornando-se presa fácil dos traficantes de drogas. Não é por acaso que, na mesma faixa etária em que se verificou crescimento assustador da violência, concentram-se 45% dos desempregados da Nação, de acordo com o Ministério do Trabalho. Esses dados apontam, mais uma vez, para uma possível correlação entre desemprego e violência no Brasil.

Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em versão preliminar, utilizou um modelo teórico para explicar a taxa de homicídios em determinada localidade. Para tanto, analisou fatores socioeconômicos que afetam os riscos de incidências de homicídios dolosos em 5.507 municípios brasileiros.

A aludida pesquisa parte da hipótese de que a exclusão social leva o indivíduo a menosprezar o valor da própria vida e da vida alheia. Sendo assim, quanto maior a vulnerabilidade socioeconômica, maior deve ser a probabilidade de vitimização local.

Para testar essa hipótese, foram estimadas regressões, em que a variável dependente foi a taxa de homicídios em cada município e as variáveis independentes ou explicativas, extraídas da Base de Informações Municipais (BIM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foram as seguintes: taxa de ocupação, salário médio, proporção de domicílios sem banheiro (como aproximação para desorganização social), proporção de jovens, proporção da população em áreas urbanas, proporção de crianças pobres, proporção de crianças fora da escola, proporção de adolescentes com filho, proporção de crianças analfabetas, proporção de pessoas com renda abaixo da linha de pobreza, ou seja, que sobrevivem com menos de 1 dólar/dia, conforme dados da ONU.

O estudo concluiu, entre outros resultados, que quanto maior o grau de desestruturação social, menor o valor atribuído à vida, o que resulta em uma taxa de homicídios maior para uma certa região.

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Dentre as variáveis analisadas, observa-se que uma maior proporção de jovens na população tem impacto sobre a taxa de homicídios. Verificou-se que um aumento de 10% no número de jovens em determinado municípios elevaria a taxa de homicídio em 7,6%.

Essa taxa é influenciada também pela proporção de crianças pobres. Uma elevação de 10% neste número provocaria um aumento do risco de homicídios de 2%.

A variável taxa de ocupação tem menos impacto sobre a violência medida pela taxa de homicídios: um aumento de 10% na ocupação reduziria o risco de homicídios em 0,4%. O salário médio, por sua vez, está diretamente correlacionado ao homicídio.

Esse fato poderia ser explicado pelo aumento da riqueza acessível, resultante do aumento salarial, que estaria sujeito a algum tipo de extorsão, o que, por sua vez, levaria ao aumento do latrocínio.

O estudo também mostrou que existe uma dependência espacial entre os riscos de homicídios nos vários municípios da amostra estudada. Isso significa que localidades vizinhas a municípios violentos tem maior risco de homicídios. Também foi verificada uma associação entre risco de homicídios e regiões metropolitanas.

Por outro lado, é importante salientar que o diário britânico Financial Times trouxe em 15 de novembro de 2006, na coluna de Ricardo Motta, uma reportagem sobre os problemas enfrentados pelo Brasil como conseqüência da impunidade criminal. Para o jornal inglês, a estrutura dos serviços de segurança impede uma mudança. Acrescentou que existe uma rivalidade entre as polícias civil e militar (fato constatado em Ponte Nova, em diversas ocasiões), os baixos salários e a falta de treinamento.

Um dos maiores entraves, que também foi definido na reportagem, é a corrupção, ligada principalmente à violência policial. Os fatores citados pelo jornal impedem investigações e complicam os julgamentos, que acabam favorecendo aos criminosos. Em sua criteriosa análise, o Financial Times deixa transparecer que a impunidade é o maior fator da violência no Brasil. Comparou o índice de prisões entre o Rio de Janeiro (5%) e o do Reino Unido (92%). O citado artigo continua enfatizando que o mais revoltante é perceber que a sociedade se acomodou e se acovardou com a situação existente no Brasil. Os crimes do "Colarinho Branco” raramente são punidos, deixando uma sensação de impotência. As pessoas estão se acostumando com o que estão vendo. Ouve-se sempre por parte de policiais: “Nós prendemos, mas não adianta porque que a Justiça solta”. O principal motivo para a soltura são os argumentos baseados nas leis brasileiras, que são arcaicas. As leis não mudam

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justamente porque quem faz as leis são os deputados. O brasileiro comum não tem o menor entendimento e fica revoltado. Os legisladores estão imunes em seus gestos e palavras, mesmo que você saiba que eles são corruptos.

Ricardo Motta ainda argumenta que:

A violência está no cerne da questão: educação. Sem educação o ser humano não consegue oportunidade de trabalho digno. Será sempre manobrado para eleger corruptos, que os compram com cestas básicas e sacos de cimento. Não é apenas a pobreza pela pobreza... Pois há muitos pobres que vivem honestamente.

A Igreja Católica, antes um bastião de moral, chafurdou-se num mar de lama e podridão, com padres pedófilos e adoentados. A Igreja Católica não evoluiu, permitindo a violência sexual contra criança e adolescente, seja de qualquer sexo. Os padres, em parte, não têm mais moral para convencer ninguém. Aí, os fiéis correm para as igrejas evangélicas, que usam seu poder de persuasão para atraí-los e muitas, da mesma forma, para se encherem de dinheiro e se corromperem.

Vamos juntando os pedaços e aí teremos o diagnóstico da violência, com exatidão. Não precisa ser especialista em criminologia para se chegar à conclusão de que a violência está intimamente relacionada com a IMPUNIDADE (Financial Times).

2.4 O caso de New York

Luiz Eduardo Soares ex-coordenador de Segurança e Cidadania do Estado do Rio de Janeiro, afirma que:

New York é um caso raro de sucesso na luta contra o crime. Os números são impressionantes. A nova política de segurança adotada em 1994, pelo Prefeito da cidade, o republicano Rudolf Giuliani, reduziu todos os tipos de crimes aos níveis de 30 anos atrás. Mas é também um caso paradoxal: de um lado, o êxito foi reconhecido pela população, rendeu, ao Prefeito, a reeleição e lhe deu fôlego político para concorrer ao Senado; por outro lado, o sucesso passou a ser questionado por boa parte da população, revoltada com os episódios de violência policial, e já estava se voltando contra Giuliani, sob a forma de um bumerangue político, ampliando a faixa de rejeição a seu nome, antes que o câncer o fizesse desistir da disputa com Hillary Clinton.

Ao mesmo autor questiona nesse sentido o seguinte: uma vez que New York combina controle da criminalidade com vários episódios de violência policial, deveríamos concluir que é necessário recorrer à brutalidade da polícia para reduzir a criminalidade? Ou, pelo menos, deveríamos tolerar a brutalidade policial em benefício dos resultados? É possível compatibilizar respeito aos direitos humanos com eficiência policial?

Em primeiro lugar, é preciso recuar um passo e retomar a própria formulação do problema, que se apoiou em uma suposição controvertida: a política de segurança aplicada na cidade de New York controlou e reduziu a criminalidade. Mas muitos estudiosos questionam a relação de causalidade entre a política implementada e o fato observado.

Sabe-se que há uma correlação entre criminalidade e juventude, sobretudo masculina. O fato de que haja menos rapazes, adolescentes e adultos jovens, deveria

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corresponder a menos crimes e menos violência, se a tendência amplamente observada não fosse subvertida. Sobretudo nesse contexto, em que há também menos pobreza, mais emprego, mais perspectivas de integração, melhores condições de vida, de um modo geral, desenhando um horizonte social promissor. (SOARES, 2004).

Mesmo levando em conta a complexidade da matéria e sem negar a importância de outras variáveis, ousaria dizer, reiterando o que vários estudiosos têm reconhecido, que a política de segurança implementada em New York foi o fator decisivo para o declínio da criminalidade, verificado na cidade, sobretudo ao longo da segunda metade dos anos 90.

Em 1994, o Departamento de Polícia da cidade de New York começou a sofrer mudanças profundas, que marcariam o futuro da cidade e o futuro do debate sobre segurança pública, nos Estados Unidos e nas grandes metrópoles de todo o mundo, em que os problemas da violência e da criminalidade se tornaram graves e ameaçadores.

Nesse sentido Soares (2004) destaca quatro pontos, que constituem no seu entendimento, os principais eixos das transformações implantadas:

1. Foi da maior importância a reforma institucional da polícia, sobretudo as mudanças estruturais na corregedoria e a fusão, com o Departamento de Polícia da cidade de New York, dos Departamentos de Trânsito e do Departamento responsável pelo policiamento das Áreas de Moradia Popular –Transit e Housing Police Departments--, uma fusão sonhada há 25 anos, finalmente realizada em 1995. 2. A reforma gerencial foi a mais importante de todas. O primeiro passo dessa “reengenharia”, logo no início de 1994, foi a contratação de doze equipes de consultores, que levantaram informações durante um ano, examinando todos os aspectos envolvidos com a vida do Departamento.

3. A introdução da cultura do planejamento, da avaliação corretiva e da troca sistemática de experiências, alimentada pela análise diária das dinâmicas criminais, veio acoplada à modernização tecnológica, através da adoção da metodologia conhecida como CompStat (Computorized Statistics): a combinação entre a aplicação de um software georreferenciado --que representa visualmente as ocorrências criminais (consideram-se apenas sete tipos de delito), dispondo-as no mapa da cidade e lhes acrescentando as informações pertinentes - e a realização de duas reuniões semanais, entre os responsáveis por algumas das 76 Delegacias e a cúpula da polícia, em regime de rodízio, semialeatório, ante uma platéia vasta, que inclui representantes de todos as agências policiais da cidade.

4. O último ponto foi a aplicação de nova concepção estratégica, que focaliza os “crimes da qualidade de vida”, tradicionalmente desprezados, por seu menor potencial ofensivo. Essa concepção ficou conhecida como “tolerância zero” e se fundamentava nas conclusões do estudo de James Wilson, George Kelling e Catherine M. Colles, publicado sob o título Fixing broken windows (Consertando janelas quebradas), que demonstra a importância criminogênica dos pequenos delitos e dos cenários sujos, abandonados, metonimicamente vinculados à desordem, à impureza e ao perigo.

A vantagem de New York está no fato de que a revolução gerencial, na medida em que supõe o acompanhamento crítico e o controle sobre as ações na ponta, facilita a introdução de mudanças, através da redefinição de prioridades e critérios de avaliação. Creio que o reforço dos investimentos na requalificação, o ajuste na hierarquia de prioridades e no

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processo de avaliação, e a ampliação da participação comunitária, podem trazer resultados expressivos com mais rapidez do que em contextos nos quais não haja planejamento e controle sobre as ações policiais, em graus comparáveis aos observados em New York, e nos quais a corrupção ainda seja uma praga perigosamente disseminada.

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3 E V O L U Ç Ã O H I S T Ó R I C A D A F U N Ç Ã O P O L Í C I A L

Nos primórdios, a presença de uma função policial só foi constatada a partir do momento em que a divisão do trabalho se acentuou e as estruturas diferenciadas de dominação política, religiosa e militar apareceram. Assim, os crimes mais graves, como o assassinato, a caça e a pesca clandestinas, dependiam de um conselho judiciário que podia aplicar as mais severas penas, como por exemplo, o banimento (MONET, 2001).

A execução das decisões era atribuída às sociedades de guerreiros, grupos de homens organizados para a guerra, mas encarregados, em tempos de paz, de manter a ordem nas cerimônias rituais e de fazer respeitar, pela aplicação de uma sanção imediata, as decisões do conselho tribal em matéria de caça aos animais.

3.1 O Modelo Grego

A emergência do Estado, mesmo que embrionário e circunscrito ao quadro estreito da cidade antiga, é o elemento decisivo que conduz a função policial a se distinguir de outras funções sociais, militares ou judiciárias. Com o Estado, constrói-se um espaço público organizado em torno de valores e de interesses que não se deixam nem absorver pela soma dos interesses particulares, nem confundir com o patrimônio dos governantes (MONET, 2001).

É, portanto, na Grécia antiga, na época em que, no resto do mundo, os indivíduos só podiam contar consigo mesmos para preservar sua segurança, que aparecem, pela primeira vez na Europa, e talvez na história da humanidade, agentes especializados, encarregados de fazer respeitar as leis da cidade utilizando a coação física e a ameaça de ações penais. Essas polícias helênicas da Antiguidade são múltiplas, pouco profissionalizadas, provavelmente pouco coordenadas entre si. Uma polícia dos mercados convive, em Atenas, com uma polícia das águas, uma polícia dos reservatórios de cereais, com uma polícia dos portos... Algumas dessas funções cabem a personagens cujos nomes serão - por outros motivos - retidos pela história: Temístocles tem responsabilidades na polícia das águas, Demóstenes na dos cereais. Esses exemplos sugerem que o exercício de tarefas policiais constituía, à época do século V a.C., se não uma função prestigiosa, pelo menos uma etapa necessária para quem empreende uma carreira administrativa e política (MONET, 2001).

A polícia de Atenas é a mais conhecida, graças aos escritos dos poetas e dos filósofos, assim como aos trabalhos dos arqueólogos contemporâneos. Mas estruturas semelhantes encontram-se em outras cidades gregas.

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É preciso que não se exagere ao falar na modernidade da organização policial no mundo grego. Se existem muitos órgãos de polícia públicos, estavam à disposição dos governantes, e não dos particulares. No século VI a.C, em Atenas, o poder político dispunha de órgãos de polícia especializados na ação contra as raras infrações consideradas subversivas. Em compensação, a defesa de seus interesses privados é permitida aos simples cidadãos. Apenas eles têm capacidade de abrir um processo criminal, procedendo à prisão das pessoas que acusam de tê-los lesado (MONET, 2001).

3.2 O Modelo Romano

A mesma distinção entre as modalidades de defesa dos interesses públicos e dos interesses privados se observa em Roma, entre a publicação da Lei das Doze Tábuas, que foi a primeira legislação escrita dos romanos, gravada por volta de 450 a.C. em doze tábuas de bronze e meados do século III a.C. Ali também, são os simples cidadãos, ajudados por seus parentes e amigos, que devem trazer as pessoas acusadas de crimes para citá-las diante do magistrado público. Este último pronuncia a condenação, mas esta, inclusive a morte ou sujeição à escravidão, é executada pelas vítimas (MONET, 2001).

Independentemente do fato de que imprimirá sua marca nos modelos de polícia que emergirão muito mais tarde na Europa continental, o exemplo romano mostra que o desenvolvimento de uma força policial organizada não depende diretamente do nível da violência social, mas supõe mudança nas representações que as camadas dominantes fazem de si mesmas e nas condições do equilíbrio social. Assim, a violência política e as desordens de todo tipo são quase cotidianas em Roma, a partir do fim do século II a.C. A segurança é atribuição da iniciativa privada.

É apenas com o imperador Augusto, que aparece uma verdadeira administração policial pública, profissional e especializada. Augusto retira do Senado suas responsabilidades administrativas tradicionais em relação a Roma e cria o posto de "prefeito da cidade" ou o praefectus urbi, a quem cabe manter a ordem na rua, tomar as disposições necessárias, intentar ações penais contra os contraventores. O prefeito estará encarregado de comandar os vigiles, que patrulham as ruas a serviço da polícia noturna e da luta contra os incêndios, e os stationarii, que permaneciam em posto fixo, numa espécie de departamento de polícia de bairro (MONET, 2001).

Essas inovações correspondem a mudanças sociais, econômicas e políticas profundas. Roma vê sua população crescer até chegar a mais de um milhão de habitantes. Com isso, muitos

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sem raízes se inserem numa cidade que tem tradição de agitação popular e de violência. A pobreza clama ao governo por alimento, e todo o mês ocorre uma distribuição maciça de trigo para aproximadamente 200 mil deserdados. Roma passou a ser o centro da opulência e da miséria.

O modelo de organização policial adotado por Augusto desenvolve-se com seus sucessores até a queda do império romano, quando os órgãos especializados de polícia desaparecem da Europa por vários séculos.

3.3 O Período Medieval

Nesse período o homem vive numa completa insegurança. E, como salienta Monet (2001):

A riqueza é rara, o direito, impotente para garantir-lhe a fruição. A guerra e seu cortejo de pilhagem são uma causa imediata dela. Menos, todavia, que a pilhagem dos senhores entrincheirados em seus ninhos de águia ou que a dos bandos de mercenários "de folga". Certamente, na França, na Grã-Bretanha ou Alemanha, o rei (ou o imperador) permanece teoricamente a instância sagrada de onde emana toda a justiça. Mas, por falta de meios adequados, essa pretensão é bombardeada por uma multidão de pequenos senhores, mais amiúde pilhantes que justiceiros. A confiabilidade dos agentes reais itinerantes é tão fraca que os monarcas preferem apoiar-se nos laços frágeis da vassalidade que num pessoal corrompido.

Na prática, a fragmentação do poder político e a subdivisão das funções policiais e judiciárias assumem um grau então desconhecido na França ou na Inglaterra. Cada senhor em suas terras se torna o verdadeiro detentor dos poderes judiciários e dos meios de coação necessários para tornar quase efetivas as sentenças pronunciadas. A justiça criminal é garantida em nome do rei, pelo senhor local, mas a efetividade dessa justiça é fraca principalmente pela prevalência do direito reconhecido à “vingança privada”. (MONET, 2001).

Assim, ante tanta insegurança, e na ausência de poder político capaz de impor a paz pública, muitas iniciativas foram tomadas, na Idade Média, buscando fazer recuar a violência.

Todas fazem da ordem e da segurança um negócio particular, à imagem da situação que prevalecia nas sociedades antigas. Elas não fazem surgir diretamente órgãos de polícia especializados, pois os europeus da época não podiam sequer conceber novamente esta situação. Mas algumas merecem uma atenção particular, como a organização da segurança em bases locais e comunitárias no mundo anglo-saxônico, o papel da Igreja na Europa continental, e o sistema das Fraternidades adotado por numerosas cidades medievais.

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3.4 A Revolução Industrial e o nascimento das Polícias Modernas

A Revolução Industrial deu início, na segunda metade do século XVIII, por volta de 1760, ao processo de mecanização das fábricas, que continua ininterruptamente até nossos dias. A industrialização consolidou o modo de produção capitalista, pelo qual o empresário burguês concentrava em suas mãos os bens de produção, enquanto o trabalhador vendia sua força de trabalho por um mísero salário.

A introdução das máquinas deteriorou as condições de trabalho e de vida dos operários, gerando a chamada "questão social".

Na Inglaterra, onde o emprego da máquina era mais generalizado, surgiu o Ludismo, movimento que recebeu o nome de seu líder, Ned Ludd. O sentimento de insegurança e os terrores da miséria convenceram Ludd e seus seguidores da maledicência da máquina, considerada a inimiga principal. Iniciavam-se então as primeiras revoltas trabalhistas.

O crescimento do operariado, a sua concentração nos centros urbanos, as constantes revoltas por melhores condições de vida e de trabalho fizeram com que a classe operária aos poucos aprendesse a se organizar, dando origem aos primeiros movimentos e associações de operários.

Inicialmente, a Revolução Industrial restringe-se à Inglaterra, entretanto, nas primeiras décadas do século XIX, expande-se chegando também à França, Bélgica e até na Suíça, e trabalhadores destruíram equipamentos, aos gritos de "Quebrai as máquinas!" Instintivamente, o homem que para viver só contava com seu trabalho pessoal, transferia a culpa de seus males para a máquina, que ele denunciava como uma competidora, responsável pelo desemprego e pelos baixos salários.

Assim, iniciam-se as revoltas e para interferir e dar segurança aos empresários e controlar a ira dos trabalhadores foi necessário a presença efetiva da chamada nova polícia moderna.

Como salienta Monet (2001):

Os efetivos dessas primeiras formas de polícia moderna aumentam primeiro lentamente. A polícia de Christiania, em 1815, conta 35 homens, 23 dos quais são agentes de uniforme que patrulham as ruas. Em Copenhague, em 1800, os policiais são nitidamente mais numerosos: 284. Em 1850, Estocolmo alinha 390 policiais, mas, na prática, mais da metade dentre eles só trabalha na polícia em tempo parcial, à noite, e exerce um outro emprego durante o dia; em 1924, eles são quase mil. Em Berlim, durante as primeiras décadas do século XIX, o diretor de polícia tem sob suas ordens apenas cem agentes, aproximadamente. Em Londres, ao contrário, eles são 3 mil desde 1829, cerca de 13 mil

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para toda a Inglaterra após a reforma de 1856, e 120 mil, atualmente. (MONET, 2001).

O mesmo autor continua relatando que:

Em geral, duas categorias de corporações crescem rapidamente: as polícias das capitais e as polícias militares. Em Paris, os primeiros guardas-civis são uma centena em 1829,7 mil em 1870,14 mil nos anos de 1920, cerca de 20 mil, hoje. Em Berlim, após os movimentos de 1848, é instituída uma espécie de milícia burguesa, com um efetivo de 20 mil homens. No século XVIII, a Maréchaussée francesa nunca ultrapassa 3.500 homens. Esse número dobrou em 1815, e os gendarmes de hoje são 90 milARoyallrish Constabulary passa de 4.800 homens em 1824, a 11.200 em 1851. Na Itália, os 800 carabineiros de origem vêem suas tropas estufar até 3.500, em 1848, 25 mil em 1893, 60 mil em 1919, 75 mil em 1922, e quase 100 mil, atualmente. Os guardas-civis espanhóis, em número de 500 em 1844, são 20 mil na virada do século e 80 mil, no início dos anos 80.

Entretanto, nas cidades de província, em compensação, os efetivos permanecem muito mais modestos e só aumentam em ligação com os processos de estatização. Na França, na segunda metade do século XIX, a taxa de enquadramento policial é de l agente para 940 habitantes em Estrasburgo, de l para l mil, em Lille, de l para 1.800, em Marselha, que conta já mais de 200 mil habitantes. Se, no século XIX, os corpos de polícia são reduzidos nas cidades, é porque seu número não acompanha a progressão registrada pelo tamanho das cidades. Além disso, muitas tarefas hoje consideradas como policiais são, na época, garantidas por múltiplas agências não policiais. A começar pelo exército que, na França ou na Alemanha, até o fim do século, patrulha regularmente as cidades com guarnição (MONET, 2001).

Em todos os países da Europa, as funções policiais têm sido asseguradas, durante vários séculos, por voluntários ou por habitantes sorteados na forma de rodízio. Em todos os casos, por agentes para quem essa atividade constituía um cargo, mas não um ofício. As primeiras formas de polícia profissional aparecem desde cedo na França, com a Maréchaussée. O cavaleiro que quer servir nas fileiras no século XVIII deve primeiro saber ler e escrever. Ele recebe um saldo, pequeno mas regular, o que é apreciável na época. Enfim, após algum tempo de serviço, ele recebe uma pensão.

Na Inglaterra, é preciso esperar a metade do século XVIII para que Londres acolha a primeira organização de agentes, encarregados de tarefas policiais, recrutados por critérios rígidos e remunerados de modo regular.

Entretanto, desde o século XVIII, um processo de racionalização se inicia no seio de todas as administrações européias nas quais as diferentes categorias de funções começam a se distinguir umas das outras. Essa especialização atinge a polícia. Na França, como na Dinamarca, a polícia desempenha um papel crescente no domínio da criminalidade. Cargos de inspetores destinados a assistir os comissários nas investigações aparecem na Dinamarca, em 1684, e em

Referências

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