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Consejo Nacional de Ciencia. y Tecnología (CONACYT) de. Autónoma de San Luis Potosí. Derecho por la Universidad. de Investigación del

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1 G ilm a r A n to n io B ed in , G ra ci el a B ea tr iz R o d rí g u ez e A le ja n d ro R o si llo M a rt ín ez G ilm a r A n to n io B ed in G ra ci el a B ea tr iz R o d rí g u ez A le ja n d ro R o sil lo M a rt ín ez (o rg a n iz a d o res )

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O s d ir e it o s h u m a n o s p o d e m se r d e b a tid o s d e d iv e rs o s p o n to s d e vi st a . A p re se n te o b ra re fl e te so b re o te m a a p a rt ir d e ci nc o re fe -rê nci a s f u n da m e n ta is : a ) D ir e it o s h u m a n o s, a lt e rida d e e j u st iç a; b ) D e m o cr aci a , d ir e it o s h u m a n o s e p o lí ti ca s so ci a is ; c) D ir e it o s H u m a n o s, M e m ó ri a e ve rda d e; d ) Ed u caç ã o , m e io d e co m u n ic a -çã o e d ir e it o s da s m u lh e re s; e) D e se nv o lv im e n to , d ir e it o s h u m a -n o s e vida n a cida d e . E st a s re fe rê nci a s a rt ic u la m a co mp o si çã o n u m a u n ida d e d e se n tid o e p e rm it e m o d e b a te so b re o a lc a n -ce e o s li m it e s da te o ri a cl á ss ic a d o s d ir e it o h u m a n o s. A p a r-ti r d e st e lu ga r, e n tr e laç a re fl ex õ e s so b re q u e st õ e s co m o m u l-ti cu lt u ra li sm o , co lo n ia li sm o , co n st it u ci o n a li sm o , g lo b a li za çã o , g e n o cí d io , e d u caç ã o , re laç õ e s d e g ê n e ro , d ig n ida d e h u m a n a e d e se nv o lv im e n to n u m co n tex to d e g ra n d e s tr a n sf o rm aç õ e s e d e a n g ú st ia s ex is tê nci a s ex tr a o rd in á ri a s. A ss im , a o b ra p e rm it e o a p ro fu n da m e n to d o te m a d o s d ir e it o s h u m a n o s à lu z da s n o va s d in â m ic a s e m cu rs o n a a tua lida d e , q u e n o s e nv o lv e m d e fo rm a in d e p e n d e n te d e n o ss a s lí n g ua s, re lig iõ e s, id e o lo g ia s, g ru p o s é tn ic o s e d if e re n te s l u ga re s g e o g rá fi co s q u e h a b it a m o s. Alejandro Rosillo Martínez . Es pr ofesor vestigador en la Universi-dad Autónoma de San Luis Potosí. Coor dinador de Maestría en Der echos manos, y Jefe del Instituto de Investigaciones Jurídi cas. Es máster y doctor Der echos Humanos por Universidad Carlos III Madrid, y Licenciado Der echo por la Universidad Autónoma de San Luis Poto sí. Miembr o del Sistema cional de Investigación Consejo Nacional de Ciencia y T ecnología (CONACYT)

México, nivel II.

Gilmar Antonio din. É graduado em Dir to pela Universidade Santa Cruz do Sul e Mestr e Doutor em Dir eito pela Universidade Federal Santa Catarina. Atualmen te, está fazendo Estágio Pós-Doutorado na Universi dade de Santiago do Chile. É pr ofessor permanente Curso de Mestrado em reitos Humanos Universida de Regional do Nor oeste Estado do Rio Grande do e dos Cursos de Mestrado e de Doutorado em Dir eito da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai Missões. Beatriz Ro -en la Univer -de Rosario Master of por el In -for the Law . Oñati. Diploma -Pr o -en Dr et España. investigadora Investiga -Pr ofesora en Der echos Hu -T itular opología de Nacio -Dir eit os H um an os, Ju sti ça e M ult icu ltu ra lis mo Gilm ar A nto nio Be din , G ra cie la Be atr iz R od ríg ue z e A lej an dro Ro sill o M art ín ez

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Bibliotecária responsável: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406

Catalogação: Fabiana Lorenzon Prates - CRB 10/1406

Correção ortográfica: Aila Graça Corrent

Revisão metodológica: Helena Pacheco Wrasse

Projeto gráfico e diagramação: Daiana Stockey Carpes

Essere nel Mondo

Rua Borges de Medeiros, 76 Cep: 96810-034 - Santa Cruz do Sul Fones: (51) 3711.3958 e 9994. 7269 www.esserenelmondo.com.br www.facebook.com/esserenelmondo

Todos os direitos são reservados. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida por qualquer meio impresso, eletrônico ou que venha a ser criado, sem o prévio e expresso consentimento da Editora. A utilização de citações do texto deverá obedeceras regras editadas pela ABNT. As ideias, conceitos e/ou comentários expressos na presente obra são criação e elaboração exclusiva do(s) autor(es), não cabendo nenhuma responsabili-dade à Editora.

D598 Direitos humanos, justiça e multiculturalismo / organizadores: Gilmar Antonio Bedin, Graciela Beatriz Rodríguez, Alejandro Rosillo Martínez / Santa Cruz do Sul: Essere nel Mondo, 2016.

456 p.

1. Direitos humanos. 2. Justiça. 3. Multiculturalismo. 4. Direitos Fundamentais. I. Bedin, Gilmar Antonio. II. Rodriguez, Graciela Beatriz. III. Martínez, Alejandro Rosilla.

CDD-Dir: 341.12191 E-book Prefixo Editorial: 67722 Número ISBN: 978-85-67722-69-6 Impresso Prefixo Editorial: 67722 Número ISBN: 978-85-67722-70-2

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SUMÁRIO

PRESENTACIÓN

PARTE I – DIREITOS HUMANOS, ALTERIDADE E JUSTIÇA 1. DERECHOS HUMANOS, INTERCULTURALIDAD Y

PENSA-MIENTO DECOLONIAL Alejandro Rosillo Martínez

2. DIREITOS HUMANOS E MULTICULTURALISMO: CAMINHOS

MAIS BREVES ATÉ O IDEAL DE JUSTIÇA

João Batista Monteiro Camargo e Jo Ellen Silva da Luz

3. CULTURA, DIREITOS HUMANOS E JUSTIÇA SOCIAL

Angelita Maria Maders e Rosangela Angelin

PARTE II – DEMOCRACIA, DIREITOS HUMANOS E POLÍ-TICAS SOCIAIS

1. QUALIFICAÇÃO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO

PELO MODELO JURÍDICO GARANTISTA Janaína Soares Schorr e Alfredo Copetti Neto

2. A DEMOCRACIA COMO AMBIENTE NECESSÁRIO PARA

DE-SENVOLVIMENTO HARMONIOSO DOS DIREITOS HUMANOS NA COMPLEXA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA Antonio Isi-doro Piacentin

3. IDENTIDADE DEMOCRÁTICA DA TRAJETÓRIA DOS

DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

Gilmar Antonio Bedin, Fernando Camara Rieger, Tamires de Lima de Oliveira 9 13 14 36 50 74 75 88 114

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Luís Gustavo Gomes Flores

5. EFETIVAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS A PESSOAS IDOSAS:

DESIGUALDADES E O PAPEL DAS POLÍTICAS SOCIAIS Janaína Machado Sturza e Juliana Bedin Grando

PARTE III – EDUCAÇÃO, MÍDIA E DIREITO DAS MULHERES 1. ATUALIDADE DA EDUCAÇÃO REPUBLICANA NO BRASIL

Tiago Anderson Brutti

2. DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ ÀS DIRETRIZES NACIONAIS:

OFERTA DE EDUCAÇÃO PARA JOVENS E ADULTOS EM PRIVA-ÇÃO DE LIBERDADE – UMA QUESTÃO DE DIREITOS HUMANOS Lia Scholze e Iolanda Bezerra dos Santos Brandão

3. JORNALISMO COMO CAMPO MEDIADOR NA DISCUSSÃO

DOS DIREITOS HUMANOS

Vera Lucia Spacil Raddatz e Lara Nasi

4. REFERENCIAIS FEMINISTAS FRENTE AO PATRIARCADO, À

DESIGUALDADE E AOS DIREITOS HUMANOS DAS MULHERES Rosângela Angelin e Nadja Carolina Hendges

5. MULTICULTURALISMO: A EMANCIPAÇÃO DAS MULHERES

DA CONDIÇÃO DE “INVISIBILIDADE” SOCIAL

Ana Paula Schimidt Favarin, Danielli Regina Scaranttie

Maí-ra Fronza

PARTE IV – DIREITOS HUMANOS, MEMÓRIA E VERDADE 1. UM ANIVERSÁRIO MACABRO: CEM ANOS DOS

GENOCÍ-DIOS ARMÊNIO, GREGO E ASSÍRIO

Rui Decio Martins e Clara Magalhães Martins

2. A EXPERIÊNCIA DA ÁFRICA DO SUL PARA A RESOLUÇÃO

DE CONFLITOS NAS SOCIEDADES CONTEMPORÂNEAS

162 186 187 211 239 260 281 298 299 320

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Cristiane Mare da Silva

3. A MEMÓRIA EM EVIDÊNCIA NO RELATÓRIO DA COMISSÃO

NACIONAL DA VERDADE NO BRASIL Ivo dos Santos Canabarro

4. CENTRO DE MEMÓRIA E HISTÓRIA DAS POPULAÇÕES DE

ORIGEM AFRICANA EM SANTA CATARINA

Paulino de Jesus Francisco Cardoso, Franciéle Carneiro Gar-cês da Silva e Julia Silva

PARTE V – DESENVOLVIMENTO, DIREITOS HUMANOS E VIDA NA CIDADE

1. DESENVOLVIMENTO HUMANO E PARADIGMA

ECONÔMI-CO CAPITALISTA: BUSCA DE ALTERNATIVAS PARA EFETIVA-ÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS EM MATÉRIA ECONÔMICA, SOCIAL E CULTURAL

Elenise Felzke Schonardie e Juliane Strada

2. A CONCRETIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS: UM OLHAR

PARA AS LOCALIDADES

Thyeles Moratti Precilio Borcarte Strelhow

3. EXERCÍCIO DA CIDADANIA NA GESTÃO DEMOCRÁTICA

DA CIDADE: INSTRUMENTO PARA A EFETIVAÇÃO DAS FUN-ÇÕES DA CIDADE

Renata Maciel

4. ENVELHECER NA CIDADE: UMA REFLEXÃO SOBRE A

ACESSIBILIDADE

Karim K. de O. Bordignon e Josieli Piovesan

342 363 372 373 397 422 442

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QUALIFICAÇÃO DO ESTADO

DEMOCRÁTICO DE DIREITO PELO

MODELO JURÍDICO GARANTISTA

Janaína Soares Schorr8 Alfredo Copetti Neto9

“Pelo bem ou pelo mal, o Estado moderno, in-clusive aquele sistema complexo de garantias,

que com todos os seus limites é o estado de-mocrático de direito, tem sido também o pro-duto da filosofia política e da cultura jurídica.

Portanto, o ‘como é’ e ‘como será’ o direito – até mesmo o direito internacional – dependem em parte também de nós, enquanto pessoas e enquanto filósofos ou juristas.” (Luigi Ferrajoli, 2002, p. 58-59)

1. Introdução

O modelo jurídico garantista, formulado pelo juris-ta ijuris-taliano Luigi Ferrajoli, tem por fulcro maior a constru-8 Mestra em Direitos Humanos pela Universidade do Noroeste do Estado do Rio Gran-de do Sul (UNIJUÍ). Professora Substituta do Departamento Gran-de Direito da UniversidaGran-de Federal de Santa Maria (UFSM). Professora de Direito da Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA). Advogada. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Direitos Humanos, Relações Internacionais e Equidade, registrado no CNPq e certificado pela UNIJUÍ. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa Propriedade Intelectual na Contemporaneidade, registrado no CNPq e certificado pela UFSM. E-mail: janinhaschorr@gmail.com. 9 Estágio Pós-Doutoral na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/PD-J-CNPQ). Doutor em Teoria do Direito e da Democracia pela Università degli Studi Roma Tre (UNIROMATRE, 2010 Revalidado UFPR). Mestrado em Direito Público (Filo-sofia do Direito) pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Professor Permanente no Mestrado em Direitos Humanos na Universidade do Noroeste do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Professor Adjunto de Teoria do Direito da Universidade Esta-dual do Paraná (UNIOESTE). Advogado OAB-RS. E-mail: alfredocopetti@yahoo.com.

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ção da paz, por meio do Direito e da democracia. Tem por principal objetivo o questionamento dos exercícios arbitrários do poder, a partir de dispositivos nos ordena-mentos que realmente garantam que a norma possa ser efetivamente cumprida. Busca, com isso, a manutenção do Estado Democrático de Direito, defendendo e prote-gendo os direitos fundamentais e as garantias constantes nas normas constitucionais.

O Estado Democrático de Direito é o Estado dos cida-dãos, aquele no qual se constitucionalizam os direitos fun-damentais e institucionaliza-se o respeito à dignidade huma-na como um de seus valores fundamentais. Nele, há vedação quanto a leis arbitrárias, cruéis e desumanas, nem mesmo radical injustiça na formulação e aplicação do direito ou de-sigualdade nas relações da vida material (BEDIN, 2009).

Assim, a Constituição assume papel fundamental, pois, a partir do seu caráter normativo e de sua especial re-levância, ela permitirá que se concretizem os direitos funda-mentais e as garantias, alcançando-se aos cidadãos todos os seus direitos e exigindo-se o cumprimento dos seus deveres em todo texto constitucional.

Ferrajoli propõe, para tanto, o constitucionalismo ga-rantista, alicerçado na complementação do positivismo ju-rídico, a partir da ordenação jurídica não mais apenas do

ser do direito, mas também do dever ser, com um

constitu-cionalismo forte, que, com base nos direitos fundamentais, aspira à vinculação e à limitação dos poderes públicos e pri-vados (COPETTI NETO; FISCHER, 2013).

Este ensaio, tendo como objetivos estudar e ana-lisar a teoria garantista, e, acima dela, o modo como o garantismo pode auxiliar na concretude e efetivação do Estado Democrático de Direito, apresenta-se como um acessório na luta contra a crise presente no mundo demo-crático atual.

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2. O Estado Democrático de Direito

O Estado de Direito ou Estado dos cidadãos, como defendido por Bobbio (2004), tem como característica o in-divíduo possuir não só direitos privados em face do Estado, mas também direitos públicos. É nele que ocorrem a cons-titucionalização dos direitos fundamentais, além da institu-cionalização do respeito à dignidade humana como um dos valores fundamentais da sociedade.

Nos dizeres de Bobbio,

O individualismo é a base filosófica da democra-cia: uma cabeça, um voto. Como tal, sempre se contrapôs (e sempre se contraporá) às con-cepções holísticas da sociedade e da história, qualquer que seja a procedência das mesmas, concepções que têm em comum o desprezo pela democracia, entendida como aquela for-ma de governo na qual todos são livres para tomar as decisões sobre o que lhes diz respeito, e têm o poder de fazê-lo. Liberdade e poder que derivam do reconhecimento de alguns direitos fundamentais, inalienáveis e invioláveis, como é o caso dos direitos do homem (2004, p. 31).

A democracia, em sua origem, julga da mesma manei-ra a vontade política de cada indivíduo, respeitando todos os credos e as opiniões, concedendo a cada um a possibilidade de se exprimir e de expor suas ideias e crenças. Por outro lado, ao permitir o domínio da maioria sobre a minoria, deve proteger os direitos e as liberdades fundamentais de todos.

Com a transição do Estado absoluto para o Estado de Direito – representado pelo papel desempenhado pela Constitui-ção, com sua estrutura escrita, rígida, formal e impositiva, loca-lizada em ponto superior do ordenamento –, são instituídos os direitos e as garantias do homem, limitando o poder do Estado, tripartite e organizado a partir de então, e, com isso, retirando o poder absoluto existente na figura do rei, que, inclusive, detinha todas as funções estatais (COPETTI NETO; FISCHER, 2013).

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Ademais, surge o interesse jurídico e sociológico, aliado ao já existente interesse político, com a finalidade de se alcançarem os objetivos de um Estado plural e embasado nos direitos e nas garantias de todos, e não de parcela míni-ma da população.

A característica essencial do Constitucionalismo é a normatividade superior à legislação ordinária, com a supre-macia da Constituição sobre todas as demais normativas, e como principal meio de proteção, defesa e concretização das garantias dos cidadãos.

Ferrajoli complementa,

O velho e recorrente contraste entre razão e von-tade, entre lei da razão e lei da vonvon-tade, entre direito natural e direito positivo, entre Antígona e Creonte, que, desde a antiguidade atravessa toda a filosofia jurídica e política e corresponde ao velho e recorrente dilema entre governo das leis e o governo dos homens, foi em grande parte resolvido pelas modernas Constituições rígidas com a positivação da ‘lei da razão’, ainda que contingente e historicamente determinada, na forma dos princípios e dos direitos fundamen-tais nelas estipulados como limites e vínculos à ‘lei da vontade’, que, em uma democracia, é a lei do número expressa pelo princípio da maioria. É nisso que consiste a complementação do positi-vismo jurídico produzido pelo constitucionalis-mo: na positivação não mais apenas do ser, mas também do dever ser do direito; não mais ape-nas das duas formas de produção, mas também das escolhas que a sua produção deve respeitar e implementar (2015, p. 36).

Um Estado de Direito, assim, é aquele que constitu-cionaliza direitos fundamentais, instituconstitu-cionalizando o res-peito ao princípio da dignidade humana como um de seus valores fundamentais. Nele, não se permitem leis que sejam arbitrárias, cruéis ou desumanas, as razões de Estado não

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Nele, todos se subordinam ao império do Direito na busca pela justiça, garantindo-se o acesso à justiça a todos os indivíduos, a fim de gerar segurança jurídica e confiança às pessoas. É estruturado a partir da divisão tripartite dos poderes, tendo cada um deles suas obrigações e vinculações determinadas, gerando-se responsabilidades e impedindo-se o uso arbitrário do poder.

3. O modelo jurídico garantista: modelo norma-tivo, teoria do Direito e filosofia política

O garantismo, nas palavras de Luigi Ferrajoli, é um “modelo de direito baseado na rígida subordinação à lei de todos os poderes e nos vínculos a eles impostos para a ga-rantia dos direitos, primeiramente, dentre todos, os direi-tos fundamentais estabelecidos pela Constituição” (2015, p. 30). A seu respeito, consta no Dicionário de Política:

A teoria das garantias, que tem seu principal teó-rico em Benjamin Constant, acentua sobremanei-ra, em polêmica com Rousseau e com a interpre-tação jacobina da vontade geral, a necessidade de tutelar, no plano constitucional, os direitos fundamentais do indivíduo, ou seja, a liberdade pessoal, a liberdade de imprensa, a liberdade religiosa, e, finalmente, a inviolabilidade da pro-priedade privada. Deste modo, o problema da or-ganização do Estado se subordina à necessidade de garantir a todos os indivíduos a liberdade do poder político, entendida aqui, seja a instauração de uma via legal no exercício do poder, seja a afir-mação de uma esfera de autonomia do indivíduo que o Estado não poderá legalmente violar (BOB-BIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 250).

O garantismo é a face ativa do constitucionalismo, configurando-se em um sistema que, refundando o paradig-ma clássico do Estado liberal, amplia-o para todos os três poderes: Judiciário, Executivo e Legislativo; alcança não

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ape-nas os poderes públicos, mas também os privados; e é rela-tivo a todos os direitos, ou seja, não se direciona apenas aos direitos de liberdade, mas abarca também os direitos sociais (FERRAJOLI, 2015).

Para tanto, defende a valorização do conteúdo presen-te na Constituição, colocando nela a principal base e garantia de uma sociedade organizada e que desfrute de bem-estar social, a partir de direitos fundamentais e irredutíveis, que auxiliam na estruturação da sociedade e que definem e deli-neiam as ações do Estado e os limites a que ele está obrigado. Isso se faz por meio das garantias constitucionais, que envolvem a rigidez constitucional e a imodificabilidade dos seus princípios. Nessa rigidez, há uma

garantia essencial à soberania popular das futuras gerações e dos próprios poderes das futuras maio-rias. [...] Salvaguardar futuramente a soberania po-pular e os poderes da maioria: o método democrá-tico, os direitos políticos e o sufrágio universal, os próprios direitos de liberdade e os direitos sociais, que formam o pressuposto elementar do consciente exercício dos direitos políticos. Em outras palavras, a rigidez ata as mãos das gerações presentes para impedir que sejam por estas amputadas as mãos das gerações futuras (FERRAJOLI, 2015, p. 69-70). Copetti Neto, ao discorrer sobre o tema, comenta que

Se democracia somente é democracia – contem-poraneamente falando – na medida em que é constitucional e que, portanto, não existe de-mocracia fora da constituição, imprescindível dizer que a democracia se assume constitu-cional porque encontra seu âmago na rigidez das cartas constitucionais que formaram – e formam – o pensamento jurídico-político do se-gundo pós-guerra, as quais determinaram direi-tos que não pertencem somente à maioria, mas inderrogavelmente a todos e a qualquer um, os quais compõem também o “poder do povo” e

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O constitucionalismo rígido, sendo um “complemen-to tan“complemen-to do positivismo jurídico como do Estado de Direi“complemen-to” busca, integrando o positivismo, positivar o dever ser do direito, não permanecendo apenas na esfera do ser do di-reito. Ademais, quanto ao Estado de Direito, ele submete a este a atividade legislativa, o próprio direito e o controle de constitucionalidade (FERRAJOLI, 2012, p. 23).

No modelo garantista, a Constituição é um contrato; em outras palavras, um pacto, que envolve sujeitos que são, por si só, potencialmente antagonistas, e que promovem a demo-cracia a partir do direito a ter direitos, da igualdade em direitos sendo concedida e promovida a todos (COPETTI NETO, 2012).

A teoria possui três significados, a saber: o primeiro, como modelo ou tipo de sistema jurídico; o segundo, como teoria do direito; e o terceiro, como filosofia política.

Em relação ao primeiro dos seus significados, como modelo jurídico, é necessário que se diga que “o constitu-cionalismo garantista se caracteriza, em relação ao modelo paleo-juspositivista, pela positivação também dos princípios que devem subjazer toda a produção normativa” (FERRAJOLI, 2012, p. 24). Assim, a partir de uma constituição rígida, im-põe-se um sistema de limites para garantir a efetivação dos direitos de igualdade e de liberdade, que, quando violados por ações realizadas, geram, no ordenamento, antinomias (leis que não são válidas e que devem ser anuladas mediante a jurisdição constitucional). Além dos limites, também são impostos vínculos que objetivam, essencialmente, a garan-tia dos direitos sociais, os quais, quando não garantidos – a partir da omissão estatal –, geram lacunas que demandam imediata intervenção legislativa (FERRAJOLI, 2012).

Como teoria do direito, segundo significado do cons-titucionalismo garantista, citam-se a relação e a divergência entre o dever ser e o ser do direito. Nas palavras de Ferra-joli, caracteriza-se pela distinção e virtual divergência “en-tre validade e vigência, uma vez que admite a existência de normas vigentes porque em conformidade com as normas

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procedimentais sobre a sua formação e, todavia, inválidas porque incompatíveis com as normas substanciais sobre a sua produção” (2012, p. 24).

O dever ser está relacionado às questões constitucio-nais, enquanto o ser é vinculado às legislativas. Quando se tem uma antinomia ou uma lacuna, por normas inválidas ou omissões na sua produção, há, por consequência, o direito constitucionalmente ilegítimo.

O último significado, como filosofia e teoria política, envolve a teoria da democracia, em suas acepções subs-tancial e formal. Disso resulta, de acordo com o seu autor, uma teoria como “sistema jurídico e político articulado sobre quatro dimensões correspondentes às garantias de diversas classes de direitos constitucionalmente estabelecidos”. São eles: direitos políticos, direitos civis, direitos de liberdade e direitos sociais (FERRAJOLI, 2012, p. 25).

O constitucionalismo garantista, por assim dizer, é um projeto normativo criado e consolidado mediante políti-cas, leis de atuação e garantias consolidadas. Contudo, ele não admite conexão entre direito e moral, exigindo-se que se separem as duas esferas, seja no sentido assertivo (teoria do direito), seja no sentido axiológico (filosofia do direito) (FERRAJOLI, 2012).

4. A qualificação do Estado Democrático de Di-reito pelo modelo jurídico garantista

Com a crise presente no Estado de Direito, em espe-cial na democracia política e civil, agravada, no pensar de Ferrajoli, pela globalização, é necessário que cada vez mais se trabalhe pela implantação real e concreta da democracia, com normas internas que reconheçam e garantam os direi-tos fundamentais de todos os indivíduos.

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Esta é uma crise anterior à crise da democracia, é uma crise do Estado moderno, entendido o Estado como esfera pública destinada à defesa dos interesses públicos, separada da economia e em relação a esta heterônoma e supraordena-da. E se manifesta na total impotência da política e na sua subalternidade à economia, aos assim chamados “mercados”, quer dizer, aos poderes desregulados do capital financeiro especulativo, que depois de terem provocado a crise econômi-ca e de serem salvos pelos Estados, ameaçam o falimento dos próprios Estados que os haviam salvo e impõem a eles a destruição do Welfare, a redução da esfera pública, o desmantelamento do direito do trabalho, o crescimento das desi-gualdades e da pobreza e a devastação dos bens comuns (2013, p. 387).

A democracia política que, no conceito clássico de Es-tado de Direito, caracterizada pela supremacia da lei, com todos os poderes a ela submetidos, com a participação de todos os interessados nas decisões e o sufrágio universal, acaba – ao contrário de promover a inclusão social, como seria a sua lógica – aumentando a desigualdade social, com minorias cada vez mais marginalizadas, excluídas e deixa-das à mercê deixa-das sociedades em pleno século XXI.

Nos dias atuais, faltam ou são muito pequenas não só as garantias dos direitos, mas também a previsão das obri-gações e das proibições que lhe correspondem, além de ins-tituições nacionais e internacionais que sejam destinadas a cumprir essas funções de garantia, quais sejam: a paz, a me-diação de conflitos, a regulação de mercados e a tutela dos direitos e bens fundamentais de todos (FERRAJOLI, 2011).

Ademais, em termos de democracia civil, a lei de mer-cado é a real responsável pela ordem nacional e internacio-nal, resultando na inversão da relação existente entre Estado e mercado, com a economia governando e controlando a política, e não o contrário. Isso acaba gerando cinco gran-des efeitos que atingem o mundo como um todo: confusão e concentração de poderes, com a primazia dos poderes e

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interesses privados sobre os públicos; progressiva redução do direito à mercadoria; formação de um mercado que exige a abertura dos mercados dos países pobres, mas que priva-tiza seus serviços e bens públicos, e, por outro lado, cada vez mais pratica um protecionismo em relação aos seus pro-dutos; exploração ilimitada do trabalho; e a destruição, em grande parte irreversível, do ambiente natural.

O modelo jurídico garantista, ao estabelecer limites e vínculos tanto em relação à atuação pública quanto à pri-vada, busca alcançar ao indivíduo não apenas o direito à liberdade, mas também a garantia dos direitos sociais – di-reitos vitais mínimos a uma sobrevivência considerada dig-na –, oferecendo saúde, educação e alimentação, bem como todos os demais direitos fundamentais, auxiliando assim no sentimento de pertença em uma comunidade.

Somente a partir da imposição desses limites, com normas constitucionais às quais os indivíduos estejam vin-culados e protegidos, se poderá conferir fundamento à di-mensão substancial da democracia e, mais do que isso, a colocar a salvo (de si mesma), pois que, ao se defender um viver democrático, se tem hodiernamente excesso de pode-res ilimitados e que se tornam selvagens (FERRAJOLI, 2015).

Além disso, como já auferido, e como consequência direta do mundo globalizado, há que se pensar na concreti-zação de uma esfera mundial de direito, conforme defende Ferrajoli, porque o planeta está cada vez mais conectado; as-sim, uma nova forma de direito, pensada em nível de todos, poderá auxiliar a solucionar os problemas de forma macro e micro, alcançando maior número de pessoas. Não há mais, na atual conjuntura planetária, como se pensar em soluções apenas dentro dos limites territoriais.

Por último, adiante do limite do poder político, deve-se ponderar a respeito de uma limitação do poder privado, em sede econômica, pois só se conseguirá diminuir as de-sigualdades sociais, cada vez em maior número, gravidade

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elas estão, de forma direta e imediata, vinculadas ao cres-cente poder econômico privado restrito a um pequeno nú-mero de cidadãos.

5. Considerações finais

O modelo proposto por Luigi Ferrajoli busca refor-çar as conquistas alcançadas pela modernidade, ordenando não apenas o ser do direito, mas igualmente e, sobretudo, o

dever ser do direito, mediante três sentidos: como modelo

normativo, como teoria do direito e como filosofia política, a fim de que, por intermédio do direito e da democracia, sejam protegidos e efetivados os direitos fundamentais e as garantias constitucionais.

Que ocorra, ademais, a limitação aos poderes, me-diante um controle efetivo de constitucionalidade, servindo a extinção de poderes absolutos e selvagens que ainda per-meiam a realidade jurídica e fática da sociedade.

O garantismo, agindo para o bem do direito e da democracia, propõe novas soluções que, não resolvendo a crise existente no Estado Democrático de Direito de forma imediata, concede alternativas para minimizá-la e possa ser combatê-la de forma mediata. Contudo, é necessário que todos assumam sua corresponsabilidade no processo, vez que, nas palavras do professor italiano, “em relação ao futuro do Estado de Direito e da democracia consti-tucional somos todos, em várias medidas, responsáveis” (2013, p. 399).

Dessa forma, é cada vez maior a necessidade de es-tudos e debates contínuos, a fim de construir o mundo que se almeja, com a efetiva paz social, a presença dos direitos e garantias fundamentais de forma consolidada, o respeito à diferença, e uma vida compartilhada por todos.

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Referências

BEDIN, Gilmar Antonio. Estado de direito, jurisdição

uni-versal e terrorismo: levando o direito internacional a

sé-rio. Ijuí: Unijuí, 2009.

BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Tradução Carlos Nel-son Coutinho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

BOBBIO, N.; MATTEUCCI, N.; PASQUINO, G. Dicionário de

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João Ferreira, Luís Guerreiro Pinto Cacais e Renzo Dini. Brasí-lia: Universidade de Brasília, 1998.

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Referências

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