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"Parceiros de cativeiro " Parentesco espiritual e etnicidade entre escravos couranos na Mariana setecentista

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Academic year: 2021

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Moacir Rodrigo de Castro Maia*

"Parceiros de cativeiro "

Parentesco espiritual e etnicidade entre escravos couranos na Mariana setecentista

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo analisaras relações de parentesco espiritual estabelecidaspelos escravizados do grupo étnico courano em um importante núcleo urbano da Capitania de Minas Gerais no século XVIII. Após uma discussão sobre grupo étnico, centra-se o foco sobre os cativos da Costa da Mina, mais especificamente da "Terra de Coura", e seus laços étnicos reforçados no batismo cristão na Mariana setecentista.

Palavras-chave: escravidão; parentesco; etnia.

Abstract

The present work - "Partners of captivity": spiritual relationship and ethnic group among couranos slaves in the Mariana in the century XVIII - has as objective analyzes the relationships of spiritual relationship established by the enslaved of the group ethnic courano in an important urban nucleus of the Captaincy of Minas Gerais in the century XVIII. After a discussion on ethnic group, the focus is centered on the slaves of Costa of the Mine, more specifically of the "Earth of Coura", and your ethnic bows reinforced in the Christian baptism in the Mariana of the century XVIII.

Keywords: slavery; relationship; ethnic group.

Mestrando em História pela Universidade Federa! Fluminense.

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"Parceiros de cativeiro "

Parentesco espiritual e etnicidade entre escravos couranos na Mariana setecentista

Moacir Rodrigo de Castro Maia

. A . nossa análise busca entender as escolhas de padrinhos para escravizados adultos, fundamentalmente africanos que chegaram a um importante núcleo urbano da Capitania das Minas Gerais durante a primeira metade do século XVIII.

As relações de compadrio e apadrinhamento de cativos têm ganhando cada vez mais espaço na historiografia da escravidão brasileira1. Esses estudos tiveram início com a percepção que o parentesco

cativo ia além da família consangüínea e afim e se estendia, pelo batismo, ao parentesco fictício, que reunia a família nuclear a seus parentes espirituais.

Assim, os estudos sobre a família escrava e o parentesco espiritual celebrado no batismo reforçaram e consolidaram a idéia dos cativos enquanto sujeitos de sua própria história, que mesmo em situação de cativeiro ou já libertos lutaram para a constituição de laços familiares mais amplos que o núcleo básico.

No entanto, os estudos sobre o parentesco espiritual, advindo do batismo, estiveram focados fundamentalmente nos laços constituídos no batismo de escravos inocentes, que envolviam os seus pais e a própria criança aos escolhidos para padrinhos. Entretanto, as relações de apadrinhamento dos escravos adultos batizados podem, também, nos ajudar a compreender os cativos, em sua maioria africanos, e suas relações sociais2.

O imaginário construído de que o batismo de escravizados adultos seria meramente formal possivelmente tenha influenciado os poucos estudos sobre as relações entre o afilhado adulto e seus padrinhos. Os estudos sobre o parentesco espiritual entre escravos adultos podem colaborar também nas análises das relações de compadrio e apadrinhamento estabelecidas no batismo das crianças cativas, assim, há uma necessidade que os estudos da família cativa estabeleçam uma conexão entre os dois atos batismais.

Ao estudar os registros paroquias de batismo da matriz da Leal Vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo percebe-se que a grande maioria dos assentos é de indivíduos provenientes da África Ocidental3, e

foram identificados basicamente como vindos da Costa da Mina4.

Desse modo, os africanos conhecidos genericamente como minas foram aprisionados em Africa, na vasta região ocidental atlântica, e chegaram pelos três principais portos da colônia brasileira, Salvador, Pernambuco e Rio de Janeiro5 e logo foram remetidos para a região das Minas do Ouro. Chegaram a Vila

do Carmo e após receber alguns fundamentos da doutrina cristã foram batizados em sua igreja matriz. No processo de migração forçada estes cativos trouxeram recordações de suas terras natais e ao chegarem em seus novos destinos encontraram com outros nacionais6 e com muitos outros escravizados de

outras partes do seu continente. E é na celebração do batismo cristão do grupo étnico courano, originário da Costa da Mina, que veremos a importância da solidariedade étnica e das recordações da terra natal para os cativos desse grupo.

O batismo e a relações de apadrinhamento e de compadrio

Os ritos de iniciação e purificação são comuns em várias religiões. No Cristianismo essa prática tornou-se conhecida pela passagem bíblica da imersão de Jesus Cristo nas águas do rio Jordão, embora já se tenham referências anteriores dessa prática nos manuscritos de Qumrã. Nos primeiros tempos da nova religião, o batismo foi o principal sacramento, ligado à conversão do adulto. Significava, a partir do século III, a libertação do pecado original, a aceitação da fé católica e o ingresso na vida cristã.

Nesses dois mil anos, o significado teológico do batismo foi elaborado e transformado. Os termos padrinho e madrinha já aparecem a partir do terceiro século, sugerindo que essas personagens já existiam antes do período. No entanto, foi apenas no século IX que a Igreja Católica definiu a função dos parentes espirituais do batizando e proibiu a prática dos pais se tornarem padrinhos do próprio filho7. O

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como instrumento socializador entre a família do afilhado e os padrinhos, ou mais diretamente do afilhado com os padrinhos.

Com o movimento da Contra-Reforma, a Igreja seiscentista promove novas diretrizes para o antigo sacramento: os padrinhos teriam a responsabilidade na formação moral e religiosa do afilhado e, por serem parentes espirituais, estaria impedido casamento e relação sexual entre os participantes desse rito8. Além das

diretrizes específicas desse sacramento, o Concilio de Trento determinava que as paróquias mantivessem os registros de batismos, casamentos e óbitos.

O batismo do escravo adulto deveria ocorrer após ele ser instruído e catequizado na doutrina cristã, como rezava as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia publicadas em 17199. Após a compra de

um mancípio com mais de dez anos o senhor teria até seis meses para que ele fosse levado a pia batismal.10

Aos escravos brutos, e boçais, e de língua não sabida, como são os que vem da Mina, e muitos também de Angola as Constituições primeiras recomendavam que após terem alguma instrução da língua portuguesa ou tendo interpretes os párocos fizessem as perguntas seguintes:

Queres lavar tua alma com água santa? Queres comer o sal de Deus?

Botas fora de tua alma todos os teus pecados? Não queres ser filho de Deus?

Botas fora da tua alma o demônio?"

Após responder afirmativamente as perguntas do pároco o cativo era batizado na pia batismal e recebia a unção com os santos óleos.

Entretanto, o rito de passagem ultrapassava o seu caráter religioso e envolvia aqueles que estavam ligados pelo parentesco espiritual em novas relações sociais. Ao contrário do parentesco consanguíneo, o 'espiritual' é fruto de uma escolha,n Podia-se então, eleger com quem gostaria de estreitar relações,

fortalecer o convívio, e possivelmente buscar solidariedades ao escolher indivíduos de extratos superiores ou que tivessem acesso a eles.

Para os escravos, o compadrio e/ ou apadrinhamento possibilitavam alianças no mundo do cativeiro, tecendo laços com seus irmãos de destino, laços que poderiam significar maior representação nas negociações cotidianas com seus senhores e mesmo a solidariedade entre cativos. Mas, tinham também a possibilidade de escolherem seus parentes espirituais no universo dos livres e libertos, buscando fundamentalmente padrinhos que pudessem interceder em conflitos entre eles e seus senhores ou que pudessem ajudá-los com o apoio material, que poderia significar a compra da liberdade.

Segundo o dicionário Morais e Silva, estar compadre de alguém além de significar o que serve de padrinho a um menino também significa estar em boa amizade13. Além disso, o termo padrinho tinha o

sentindo de protetor, aquele que se responsabilizava pelo protegido. No dicionário Bluteau encontramos o mesmo sentido, reforçando as idéias do padrinho enquanto defensor, patrocinador e protetor. Então, o apadrinhamento era um ato com pluralidade de sentidos e significados. Revela a existência de círculo relacional, no qual pretende-se reforçar e estreitar os laços, ou num círculo que se pretende fazer parte. Nestas duas opções se colocam tanto o desejo dos afilhados quanto os desejos dos padrinhos, escolher e aceitar ser escolhido. O compadrio é assim, a relação na qual as duas partes fazem uma aliança e se tornam parentes espirituais.

Segundo Cunha,

Apadrinhar alguém supunha a criação de um conjunto de obrigações morais recíprocas. As que eram cometidas aos padrinhos eram sacralizadas e fixadas pelos próprios rituais religiosos. O laço assim criado era perene e

indissolúvel, o que justifica a existência de um leque razoavelmente aberto de expectativas sobre os benefícios,

presentes ou futuros, a obter do vínculo parafamiliar que assim se gerava. Nesse sentido, pode, e deve, ser tomado como um importante acto de investimento interpessoal.14 (Grifo nosso)

E esse laço perene e indissolúvel, celebrado no batismo dos escravos adultos, assustava a mais importante autoridade da Coroa portuguesa na Capitania de São Paulo e Minas de Ouro, o Conde Pedro de Almeida e Portugal. Como governador da Capitania, residiu em Vila do Carmo entre os anos de 1717-1721, enfrentou situações de muitas instabilidades no governo, questões como negros fugidos e quilombos e até a conhecida revolta de Vila Rica de 1720. Em correspondência aos vigários das Minas, ele ordenou que os padrinhos de escravos, tanto de batismo quanto de casamento, não fossem outros cativos e sim homens brancos para evitar o enfraquecimento do poder dos senhores sobre os escravos. Encontramos a segunda ondência do Conde de Assumar15, o bando de 26 de novembro de 1719, três dias após o envio da

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anterior. Ela foi enviada ao Vigário da Vara da Vila Real de Sabará e remetida cópia a todos os vigários das Minas. No referido bando, o Conde cita sua preocupação por uma situação ocorrida possivelmente na Vila Real16. O Conde determinava:

[...] que entre negros não haja subordinação alguma de uns para outros, como até agora houve, porque a maior parte dos negros que se batizaram tomavam por seus padrinhos os mesmos que depois reverenciavam e aquém obedeciam cegamente chegando aqui desprezando o castigo de seus senhores, lhe entregavam muitas vezes os seus jornais e como se achassem não só por estas razões, mas pela de seus senhores, porém não sendo este ainda o mais prejudicial, se reconhece nesta parte outro de gravíssimas conseqüências, pois achando se tão grande quantidade de negros subordinados a outros que são seus padrinhos e ordinariamente entre eles de maior respeito, e sucedendo o que Deus Nosso Senhor não permita que intentem segunda vez conspirar contra os homens brancos em benefício da sua liberdade como já pretenderam fazer no tempo do meu Governo, [...] Entre várias disposições que ordenei declaradas no meu bando de 23 do corrente mês foi uma que me parece não pouco essencial que foi a de encomendar geralmente a todos os Reverendos Vigários da Vara e das freguesias destas minas procurassem evitar com todo o cuidado não aceitar para padrinhos dos negros que se batizarem e casarem mais que homens brancos para que desta sorte se vá desvanecendo a subordinação considerada e adquirida por este parentesco espiritual [...]." (Grifo nosso)

Para o Governador terem os cativos padrinhos homens brancos

com maior razão [...] serão mais bem instruídos e doutrinados por homens brancos que desde seus tenros anos mamaram o Leite da Igreja do que por negros que acendem serem a maior parte quase bárbaros, tanto pela sua feroz natureza, como por entrarem já adultos no grêmio da Igreja não cuidaram em doutrinar seus afilhados com o mesmo zelo e ciência que farão os homens brancos, junta a esta razão a do sossego público [...].18

Os possíveis perigos advindos das alianças entre escravizados contra os homens livres afligiram o Conde de Assumar que em outras correspondências citou a sua ordem anterior e pediu cuidado aos párocos no assunto. Chegou a proibir novas alforrias ou que elas só acontecessem com sua permissão, proibiu também os libertos serem donos de vendas e tornou as punições para os negros fugidos mais severas. Entretanto, suas proibições sobre os padrinhos negros parecem que não foram aceitas e acatadas pelos párocos nas Minas. Em correspondência ao vigário da vara de Sabará, assim escreveu o Conde de Assumar:

[...] No que toca a representação que vossa mercê me faz sobre os padrinhos dos negros serem da sua mesma

nação pela conveniência dos Vigários deixo a consideração de vossa mercê o ponderar se um pequeno proveito

particular, deve prevalecer a um bem público e deixar por esta causa de evitar-se os danos que podem suceder a este país pela subordinação que os negros tiverem a outros, porque é de advertir que os senhores eclesiásticos se bem se lhe deve guardar toda a atenção, seus negros por se lhe não cortarem as raízes das suas revoluções intentarem alguma coisa neste país não hão de ficar isentos da sua barbaridade e como partes igualmente interessadas como os seculares no sossego público, devem por da sua parte algum pequeno 'descomodo' para que este se consiga [...].19 (Grifo nosso)

Mariana colonial

(...) pois se estabeleceu a maior Vila que há nas Minas, o que pela sua grandeza assiste nela o Governador (...)1<>

A história de Mariana ou da antiga Leal Vila do Ribeirão de Nossa Senhora do Carmo encontra-se com a história das bandeiras paulista pelos sertões em busca de ouro e pedras preciosas no final do século XVII. As descobertas do precioso metal pelos bandeirantes na região do Tripuí tornou a região das Minas de Ouro o centro das atenções da Coroa portuguesa e de seus vassalos. A qualidade e quantidade desse metal despertou migração nunca vista na história portuguesa. Milhares de reinóis e colonos nascidos no Brasil acorriam para a região que em pouco tempo tornou-se uma das mais importantes em população e riqueza de todo o Império Português21.

A coroa buscando pacificar os antigos conflitos entre portugueses e paulista e também controlar a região criou a Capitania de São Paulo e Minas de Ouro em 1709. O governador Antônio de Albuquerque instalou-se no mais antigo arraial das Minas, o arraial de Nossa Senhora do Carmo, e seguindo as ordens da Coroa instituiu em 1711 as primeiras Vilas, sendo o arraial do Carmo elevado a Leal Vila de Nossa

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Senhora do Carmo22. No mesmo ano foram instituídas também Vila Rica e Vila Real de Sabará e assim suas

Câmaras. Com a necessidade de implantação do Primeiro Bispado da Capitania de Minas Gerais (separada de São Paulo em 172123), a Leal Vila do Carmo é elevada a cidade, em 1745, e batizada pelo Rei, D. João

V, com a designação de Mariana, nome da sua consorte.

Durante todo o século XVIII, Mariana recebeu um grande número de portugueses do reino e de outras capitanias da própria colônia. No processo de extração mineral, faz-se necessária a mão-de-obra para se trabalharem as lavras, com isso chegaram a Mariana, grandes levas de escravos, principalmente do continente africano. O descobrimento de ouro em Minas e, mais tarde, do diamante no Serro do Frio, impulsionou o tráfico negreiro entre regiões da África e os principais portos da colônia portuguesa. Bahia e Rio de Janeiro foram os dois principais portos que abasteceram de mão-de-obra escrava a capitania mineira. "Na segunda metade do século, Minas Gerais tinha uma dúzia de cidades com população entre 10 mil e 20 mil pessoas que levavam um estilo de vida urbana altamente desenvolvido, fortemente baseado em trabalho escravo qualificado e não-qualificado".24

O braço escravo foi a base sob a qual se assentou a economia mineira durante todo o período colonial. Mariana, composta pelo seu espaço urbano e áreas rurais, foi o maior distrito escravista de Minas Gerais25.

Sendo o número de escravos superior ao da população livre.

Uma das poucas fontes sobre a população de Mariana, antes de sua elevação a cidade, são as listas de escravos e vendas para o pagamento dos quintos reais. A cobrança era realizada por cada escravo pertencente ao minerador, fixando-se um valor a ser cobrando por cada um, tendo o indivíduo forro também a necessidade de pagar o imposto pela sua pessoa.

Sobreviveu desse período a Relação dos escravos e vendas que se acham nesta Leal Vila de Nossa Senhora do Carmo e seus arredores26 de 1723. A listagem da Vila e dos 19 povoados27 a ela pertencentes

somam 15.828 escravos ultrapassando o Termo de Vila Rica que possuía em 1721 um total 10.741 cativos listados28. Interessante que o Termo de Mariana se mostrou desde os primeiros tempos e durante o século

dezoito, como assegura Bergad e comprovado pela citada lista dos quintos, o território com a maior população cativa da Capitania.

A listagem trás a relação com o nome do senhor e seus escravos constando nome, etnia29, e também

aqueles que estavam fúgidos, doentes, comprados recentemente e também se eram moleques pois, assim o senhor não pagaria o tributo sobre esses cativos. Além desses dados, raramente foi citado o estado civil dos cativos, quando casados, e a atividade desempenhada.

Para a sede da Vila do Carmo, em 1723, foram tributados 1193 escravos sendo responsabilidade dos 238 senhores proprietários30 o pagamento do imposto.

Proprietários de escravos

Vila do Carmo 17233'

N° de N°de % N° de % Total %

cativos senhores senhores

Livres Forros 1 a 4 152 67,85 % 013 92,85 % 165 69,32 % 5 a 9 043 19,19% 001 07,14% 044 18,48 % 10 a 19 019 08,48 % 000 00,00 % 019 07,98 % 20 a 49 009 04,01 % 000 00,00 % 009 03,78 % 50 + 001 00,44 % 000 00,00 % 001 00,42 % Total 224 100,00% 014 100,00% 238 100,00 % Fonte: Reais quintos e lista dos escravos de 1723, Arquivo Histórico da Câmara de Mariana,

códice 166, [fl. 1 a 14],

Além dos 1193 mancípios relacionados, que os senhores pagaram o quinto, outros cativos foram listados: 18 fúgidos, 11 moleques (outros 23 moleques constaram como pagantes, possivelmente por já trabalharem), 16 por estarem doentes e/ ou velhos e 12 por serem comprados recentemente.

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O contato: grupos étnicos em Vila do Carmo

Como vimos a Relação dos escravos e vendas que se acham nesta Leal Vila de Nossa Senhora do Carmo totalizou 1250 escravizados. Após o prenome do cativo foram listadas 42 designações relacionadas ao grupo de procedência ou mesmo ao grupo étnico, sendo o maior grupo encontrado, na Vila do Carmo, designado como mina possuindo 52632 cativos, entre homens e mulheres33. Os minas foram seguidos pelas

designações: benguelas (129), angolas (99), crioulos (69), congo (55) e os 37 grupos restantes somam 194 escravizados (dentre eles cabo verde, cobu, courano, massagano, moçambique, xamba)34.

Os dados apresentados servem como indicadores da complexidade étnica existente, já nas primeiras décadas, na Mariana setecentista, 4235 designativos relacionados a procedência, porto de embarque na África,

de reinos ou mesmo de escravizados nascidos em regiões brasileiras ou da própria metrópole. Evidenciam o caldeirão étnico que se transformou as minas do ouro e ao mesmo tempo nos contam como algumas designações como mina, surgiram no processo da diáspora africana. Para estudar os povos africanos no continente americano temos que levar em conta não apenas o seu passado em África mas, também como eles se reorganizaram no processo de migração forçada. O tráfico negreiro deu nova configuração, tanto para os reinos e / ou povos africanos quanto para as áreas envolvidas.

Salienta Soares que o historiador da escravidão nas Américas está lidando com indivíduos e segmentos de grupos africanos que encontram na reorganização étnica uma alternativa para enfrentar o cativeiro36. A

autora nos fala sobre essas reconfigurações dos grupos étnicos em grupos maiores:

A primeira é o uso recorrente das chamadas "nações" (mina, angola, moçambique, benguela) como mecanismo de identificação e organização dos africanos em toda extensão das Américas. Mesmo tendo um comportamento étnico e também cultural, as nações - aqui entendidas como um sistema classificatório que emerge do universo do tráfico atlântico redefinem as fronteiras entre os grupos étnicos através da formação de unidades mais inclusivas, por mim denominadas "grupos de procedência".37

Quando chegavam a colônia, os escravos se reorganizavam em grandes agrupamentos, chamados de nações. Designações construída na diáspora, inicialmente atribuída aos cativos que desembarcavam, elas se tornavam muitas vezes assimiladas por eles segundo as suas necessidades.

O termo cunhando por Soares, de grupo de procedência, é inspirando na obra do antropólogo norueguês Barth38 que aponta a existência de sistemas sociais abrangentes onde interagem indivíduos de diferentes

grupos étnicos39. Na vinda de grande contingente de diferentes grupos para a colônia e principalmente para

as Minas do ouro é que acontecia, pelo contato, a inclusão desse ou daquele grupo étnico em torno das ditas nações ("mina", "angola", "benguela", "congo" e outras). É de fundamental importância entender que a realidade local e/ ou regional é que molda os grupos étnicos, que se identificam com determinada nação. Por exemplo, o grupo de procedência chamado de angola na Bahia não tem necessariamente a mesma composição étnica encontrada no Rio de Janeiro ou em Pernambuco. Interessante notar também é que o termo Angola usado em Salvador no século XVIII pode ser diferente no século XIX. Tais diferenças decorrem das populações traficadas e dos arranjos no interior de cada nação, em cada cidade, época e situação.40 Nos designativos nações41, são valorizados critérios como portos de embarque, juntamente com

alguns traços culturais como a língua. Porém, Soares ressalta que os componentes culturais adotados não são, necessariamente, étnicos.

Para pensar o identidade étnica, Barth estudou as relações dos grupos étnicos com diferentes grupos dentro de uma mesma sociedade, ou no interior do próprio grupo. Para o autor, a sociedade não é conceituada como um sistema harmônico, fechado e integrado42 e sim, como um sistema desordenado,

aberto e heterogêneo. O conceito de cultura deixa de ser usado como definidor de etnicidade, pois o grupo em interação com outro grupo pode se apropriar de formas culturais do outro e ainda criar novas e distintas formas. Assim, o conceito de cultura perde seu lugar no momento da definição de etnicidade. Os grupos étnicos, em dada situação histórica, criam diferentes respostas às novas condições a que são submetidos.

É no contato que os grupos definem seus valores e suas posições. Segundo Barth, influenciado por Weber43, dois elementos são essenciais na definição de grupo étnico: a ação política em comum e o

sentimento subjetivo de pertencimento ao grupo. Uma característica importante da etnicidade e relacionada ao sentimento de pertencimento é a auto-atribuição e a atribuição por outros44.

Retomamos aqui, a listagem dos escravos de 1723, nela percebemos variedade étnica interessante, 42 designações num universo de 1250 escravos. Uma análise inicial da fonte revela senhores tendo escravos de distintas etnias em suas escravarias, embora houvesse a predominância dos termos mina, angola e benguela.

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A origem dos cativos de Domingos Pinto Machado é um bom exemplo da diversidade étnica em Mariana. Na lista apresentada pelo senhor, para as autoridades responsáveis pela cobrança dos quintos, constam 30 mancípios, representando um dos nove senhores que possuiam entre 20 a 49 escravos.

Domingos Pinto Machado apresentou, ao provedor dos quintos da Vila do Carmo, os seguintes nomes: Manuel e Serafina Benguela; Francisco, Catarina e Joana Cobu; João, Francisco e Martinho Coira; Manuel Xara; João, Manuel, Francisco, José, Lourenço, João, Bernardo e Joana Mina; João Ardra; Gonçalo Tibu; Domingos e Pedro Monjolo; Vicente Crioulo; Paulo Moçambique; Antônio Loango; Manuel Barbá; Pedro, Lourenço, José e Pedro Mina; João Cabo Verde45.

Também na escravaria de Domingos Pinto Machado os escravizados designados como mina são a maioria, e mesmo somando os grupos por regiões os cativos vindos da África Ocidental predominam. E é sobre um dos grupos étnicos da Costa da Mina, a etnia courana, que o nosso trabalho se centrará.

Etnicidade eparentesco espiritual

Na lista que apresentamos, de 1723, aparecem 13 cativos com a designação courano, desse total a maioria era masculina (11) e apenas duas couranas são encontradas, sendo que na escravaria de Domingos Pinto Machado aparecem três couranos. Esses poucos mancípios encontrados na listagem da Vila do Carmo, segundo Mott, eram sudaneses, vizinhos dos Minas e pertenciam possivelmente ao grupo lingüístico iorubá. O autor refere-se, em um artigo, sobre uns negros que cantavam na língua courá e que a entidade cultuada por eles, representada por um boneco no meio da casa, vinha da terra de Coura e informa que Courá seria o mesmo que courano, curá, curano e mais algumas formas encontradas nas Minas setecentista46. "Não

temos a menor dúvida em localizar na costa ocidental da África o lugar de origem dos Courá de Minas Gerais - mais precisamente do território hoje ocupado pelo distrito de Lagos, na Nigéria. Portanto, os Courá do Brasil são sudaneses tanto quanto seus vizinhos Mina Gêge, Fula, Nagô Galinhas, Lanu, Mande (...)".47

Apoiado em antigos mapas da África e em descrições de viajantes, Mott, descreve a região de Coura e sua Vila cercada por paliçada dupla. Os couranos em sua terra tinham como principal atividade a confecção de belos tecidos que alcançavam altos valores na Costa do Ouro.

Do outro lado do Atlântico encontramos alguns registros de batismo de couranos adultos que chegaram a Vila do Carmo e foram batizados em sua matriz. Embora a primeira citação do termo courano, na Vila, faz-se na listagem que apresentamos de 1723, o primeiro registro de batismo de um courá ocorre apenas em 1728. Na matrícula dos escravos aparece os termos coirano, coira, e em outra listagem os termos coira mina e mina coura48 após o prenome dos cativos, como os de Domingos Pinto Machado: João coira,

Francisco coira e Martinho coira. Estes termos nos levam a duas considerações sobre a distância entre a lista de 1723 e o primeiro registro de batismo de courano adulto em 1728. O grupo étnico coura ou courano estaria encoberto nos registros pelo termo mina, grande guarda chuva étnico. Assim, há possibilidade dos primeiros couranos estarem em Vila do Carmo antes de 1723, pois, a maioria dos registros produzidos - sejam do cartório civil ou eclesiástico - informam genericamente os grandes grupos de procedência: mina, angola, congo.

O primeiro registro de courano é o de Quitéria49 batizada em janeiro de 1728. Ela cativa de João Pinto

Alves, morador na freguesia da Vila, teve como padrinho o padre celebrante5" do seu batismo, o rev. Manuel

Vieira Guimarães, e como madrinha uma escrava chamada Antônia de Oliveira escrava do mesmo senhor de Quitéria.

Em abril de 1729, Antônio51 mina courano escravo de Antônio Brandão, morador na rua Direta da Vila

do Carmo, é batizado tendo como padrinho outro escravizado, seu conterrâneo, Miguel courano, escravo de Manuel da Costa Muniz morador também na rua Direita. O mesmo acontece, em maio do ano seguinte, quando outro cativo também chamado Antônio52 courano escravo de Antônio Gonçalves da Gama é levado

a pia batismal pelo padrinho José courano, escravo do mesmo senhor. Interessante não haver sido nomeado madrinha para os dois batizandos. Se pesarmos nas responsabilidades que os padrinhos de escravos adultos teriam, uma das principais seria a socialização do afilhado naquele mundo colonial em que acabava de chegar. Escolhido um nacional para padrinho, será que necessitaria ainda de uma madrinha?53

Em outros dois batizados, que aconteceram no mesmo ano, de couranos adultos, que receberam os nomes de Manoel54 e Sebastião55 pertencentes a senhores diferentes, as madrinhas se fizeram presentes, uma

delas designada Josefa ladana e a outra Ângela Pereira de Souza preta forra. Como esta última madrinha, uma forra, não trás sua etnia, apenas trazendo o designativo de preta, que poderia nos sugerir que era africana e

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quem sabe fosse uma companheira da mesma terra do seu afilhado. Tanto Manoel quanto Sebastião tiveram como padrinhos outros couranos, Ventura e Félix.

Em outros registros paroquiais de batismo de couranos adultos os seus nacionais, da Terra de Courá, continuavam a receber os seus companheiros de cativeiro. Pascoa courana serviu como madrinha de José56

courano e Agostinho também do mesmo grupo étnico levou o seu afilhado, outro José57, a pia batismal da

matriz da Vila.

Embora em outros registros aparecem couras sendo batizados por escravos de outras etnias, ao todo os couranos continuaram predominando como padrinhos. Acreditamos também, que o número tão pequeno de couranos, que as fontes trazem, não seja o número verdadeiro. Aqui a designação que mais aparece nos registros, mina, poderia encobrir os couras, como já foi dito. Mott, que estudou esse grupo étnico, afirma que são vizinhos dos minas e que seria um grupo vinda da Costa da Mina, assim podemos pensar, que mais uma vez, o grande guarda chuva étnico mina era usado para designar também os mina-coura.

Estes assentos de batismo nos informam que a etnicidade era um fator importante na escolha dos padrinhos. A necessidade de se ter outro cativo que ajudasse na socialização do companheiro que chegava poderia influenciar nas escolhas de cativos da mesma etnia, que conheciam principalmente a língua e outros signos de sua terra. Quem sabe os próprios senhores procurassem cativos com a mesma etnicidade, pertencente a outra escravaria, para acompanhar o negro estrangeiro, ou que os próprios escravos ao chegar, pelas marcas em suas faces e corpos, cortes de cabelos, tipo físico, identificavam o companheiro da mesma procedência, ou mesmo chegavam na mesma carregação.

E uma tarefa difícil, neste caso, determinar a autonomia escrava nas escolhas de seus padrinhos. No desejo de controle dos seus cativos os senhores usaram de estratégias nas negociações, possivelmente incentivar os laços parentais entre cativos do mesmo grupo étnico, ao mesmo tempo em que isso contribuiria para as relações de solidariedade entre os escravizados do mesmo grupo, poderia tanto gerar conflitos entre outros escravos de etnias distintas como também colaborar numa rápida socialização do novo cativo no mundo do trabalho58.

No dia três de julho de 1729, três couranos adultos se apresentaram acompanhados pelos seus padrinhos e madrinhas para serem batizados na matriz da Vila do Carmo. Eles pertenciam ao mesmo senhor, doutor Diogo Leite Rebelo, morador na própria Vila. Manuel courá teve como padrinho Pedro courano e madrinha Ana Maria mina pertencentes a senhores distintos. O segundo batizado foi o de Pedro Courá cujos padrinhos foram André courano e novamente Ana Maria mina. O terceiro a ser levado a pia batismal foi Agostinho que teve como padrinhos dois cativos minas, José e Luísa, também pertencentes a senhores diferentes.

Ao mesmo tempo em que a etnicidade parece ser um importante fator nas escolhas dos parentes espirituais dos couranos, o apadrinhamento se revela um instrumento importante na sociabilidade entre cativos e ex-cativos em uma nova terra.' A construção de alianças ajudaria no cotidiano de trabalho, de lazer e quem sabe na luta pela alforria.

O batismo que dava a oportunidade de construção de alianças sempre foi visto como um processo de construção de novos cristãos, poderia ser ao contrário e/ ou também, um espaço para a recriação e recordações de valores africanos. ... o que serve para escravizar é apropriado pelos próprios escravos e passa a servir também para organizar.59

A falta do registro de batismo de Helena Pereira Dutra preta forra faz com que possamos conhecer um pouco de sua história, do tempo de cativeiro e dos laços construídos pelo batismo. Aos 6 de maio de 1748, ao fazer o pedido para casar-se60 com o outro preto forro, Caetano João Pereira, era necessário apresentar,

como também o noivo, uma certidão contendo o teor do assento do seu batismo. Ela tinha sido batizada há mais de vinte anos, para sermos mais precisos há 24 anos.

Diz Helena Pereira Dutra preta forra e natural da Costa da Mina que ela por mercê de Deus foi batizada nesta Santa Sé há mais de 20 anos pouco mais ou menos e foi escrava de Acensa Pereira Dutra e sempre moradora desta cidade e assim no tempo da escravidão como depois de liberta até o ano próximo passado de 1747 e sempre foi desobrigada nesta freguesia e para haver de casar com Caetano João Pereira também preto forro carece de que o Reverendo Vigário lhe passe certidão o teor do assento que se havia de fazer no livro dos batizados, como também em como foi desobrigada em todas as quaresmas (até o ano próximo passado).61

O vigário, em 1748, não encontrou o assento de batismo de Helena e assim era necessário o auto de justificação de batismo, por falta do assento. Por depoimentos e testemunhos do padre que celebrou o batismo

(9)

muito tempo não residia na localidade foram apresentadas pela justificante Helena três testemunhas. Assim, apareceu na casa de morada do Vigário Geral e Juiz das Justificações três testemunhas. O primeiro Manuel Coelho Varela, homem solteiro, nascido em Mariana que vivia de sua agência e de idade de 52 anos, testemunhou que

[...] sabe pelo ouvir dizer a Madrinha da Justificante (Helena) que era sua escrava neste tempo e pelo vir ir para

a Igreja que a tal é batizada cujo sacramento lhe administrara o Cónego João Vaz Ferreira Vigário que era desta

Matriz e que fora seu padrinho um negro chamado Manuel e madrinha Leonor preta forra escrava que foi dele testemunha o que haverá vinte e tantos anos que a tal foi batizada [...].42 (grifo nosso)

O senhor da madrinha lembrou da saída dela para a igreja e até mesmo do nome do celebrante e do padrinho. Um fato ocorrido há mais de 24 anos! Além do seu antigo senhor, a própria madrinha apareceu a frente do Juiz das justificações a pedido de sua afilhada. Leonor Alves Tinoca, a madrinha, naquele tempo também se achava forra e residindo em um distrito da cidade de Mariana, provavelmente a mesma localidade que Helena assistia. De cativa ela passou a liberta e tornou-se ainda proprietária de uma venda. Como a sua parente, ela era natural da Costa da Mina em África, mais especificamente de Courá. Assim, Leonor Alves Tinoca era courana63 que vivia na Capitania das Minas Gerais há mais de 24 anos. Colocando

a sua mão direita sobre os santos evangelhos ela respondeu que era

[...] preta forra natural de Courá e de presente moradora na freguesia de Antônio Pereira desta Comarca que vive de sua venda [...] de idade de quarenta anos pouco mais ou menos e do Costume disse ser madrinha da Justificante [...] Disse que sabe pelo ver e ser sua madrinha do batismo que a tal é batizada [...] quem fora padrinho um negro chamado Manuel que foi para o Reino com o seu senhore ela testemunha [...] e por não saber ler nem escrever assinou só o reverendo ministro [...].64

A madrinha Leonor courana tinha 16 anos, pouco mais ou menos, quando batizou sua afilhada, e com a exigência de ser batizada para poder ser madrinha, possivelmente tinha chegado ainda moleca na Vila do Carmo. Assim, com 16 anos se apresentou para batizar Helena, que também deveria ser bem jovem naquele tempo. Portanto, essa relação de parentesco foi estabelecida, tendo tanto um forte fator de identidade étnica quanto uma provável amizade, por serem cativas e de idades próximas. Buscou-se assim suas raízes étnicas, recordações de sua terra de origem e também a experiência do cativeiro nas Minas Gerais.

Mesmo sem o registro paroquial do batismo, as relações entre madrinha e afilhada perduraram por mais de 20 anos e as recordações sobre a celebração estavam vivas, mesmo com a ausência do vigário celebrante.

Além da madrinha e do seu antigo senhor uma terceira pessoa apresentou seu testemunho: Inácia Dias; também courana; solteira; moradora na cidade de Mariana; que vivia de sua agência e tinha 45 anos. Ela confirmou o batismo de Helena dizendo que "[...] que sabe por ser parceira65 da mesma e ter acompanhado

a mesma ao batismo que ela é e que fora seus padrinhos um negro por nome Manuel e Leonor Alves Tinoca e que lhe administrara o sacramento do batismo um cónego do Rio de Janeiro que era vigário neste tempo [...]".66 (grifo nosso)

A também courana Inácia fora companheira de cativeiro de Helena Pereira Dutra preta forra. A senhora Acensa67 Pereira Dutra residia a Rua do Piolho68, próximo ao ribeirão do Carmo. Da casa de Acensa saíram

Inácia acompanhando Helena a matriz da Vila do Carmo, onde os padrinhos, Leonor e Manuel, esperavam a afilhada para a batizar.

O auto de justificação de batismo de Helena nos revela não apenas a trajetória e as recordações de Helena mas, também, as lembranças da madrinha courana, do senhor da madrinha, e da sua parceira de cativeiro também courana.

Assim, podemos perceber que as relações sacramentadas pelo batismo entre os cativos, principalmente dos couranos, aqui analisados, reforçaram as identidades de origem, lembranças e recordações da terra natal. E que o batismo cristão em vez de apagar e fazer esquecer o passado em África serviu para unir os couranos que puderam se reconhecer como parentes, além de naturais de Courá se tornaram novamente parentes do outro lado do atlântico.

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Notas

' S o b r e c o m p a d r i o entre escravos conferir: G U D E M A N , Stephen; S C H W A R T Z , Stuart B. P u r g a n d o o p e c a d o original: c o m p a d r i o e b a t i s m o d e escravo na Bahia do século XVIII. In: REIS, J o ã o J o s é (Org.). Escravidão e invenção da liberdade. São Paulo: Brasiliense, 1988. pp. 33-59; N E V E S , M a r i a d e Fátima R. A m p l i a n d o a família escrava: c o m p a d r i o d e escravos e m São Paulo do século X I X . H I S T Ó R I A E P O P U L A Ç Ã O : estudos sobre a A m é r i c a Latina. Belo Horizonte: S E A D E / A B E P / IUSPP, 1990; B O T E L H O , Tarcísio Rodrigues. Famílias e escravarias: d e m o g r a f i a e família escrava n o norte d e M i n a s Gerais no século XIX. Dissertação ( M e s t r a d o e m História Social) - F a c u l d a d e d e Filosofia, Letras e Ciências H u m a n a s , Universidade de São Paulo, 1994; S L E N E S , Robert W. Senhores e sulbalternos no Oeste Paulista. In: NOVAIS, F e r n a n d o A. ( C o o r d . Geral); A L E N C A S T R O , Luiz Felipe d e (Org. do Volume). História da vida privada no Brasil: cotidiano e vida privada na A m é r i c a portuguesa. São Paulo: C o m p a n h i a d a s Letras, v. 2, 1997. pp. 233-290; V E N Â N C I O , Renato Pinto. C o m p a d r i o e liberdade: a escolha de p a d r i n h o s entre ex-escravos de O u r o Preto colonial. C o m u n i c a ç ã o publicada online nos A N A I S D A V J O R N A D A S E T E C E N T I S T A , Curitiba, 26 a 28 de n o v e m b r o de 2003.

2 M a n o l o Florentino e José Roberto G ó e s analisando u m a área de g r a n d e e x p a n s ã o e c o n ô m i c a e intenso tráfico negreiro do final do século

XVIII e primeira m e t a d e do século XIX, na qual p r e d o m i n a v a escravarias c o m g r a n d e n ú m e r o de escravizados, p e r c e b e r a m q u e o c o m p a d r i o d e s e m p e n h a v a u m importante papel politico. Por ocasião da chegada de a f r i c a n o s - vistos c o m o a m e a ç a ou m e s m o c o m o efetivos inimigos, os plantéis f o r m a d o s por crioulos, ou por escravos c o m longa vivência no Brasil, tendiam a reforçar as alianças internas, s e n d o o c o m p a d r i o u m a das fornias a s s u m i d a s por essas a p r o x i m a ç õ e s . F L O R E N T I N O , M a n o l o ; G O E S , J o s é Roberto. A paz das senzalas : famílias escravas e tráfico atlântico, Rio de Janeiro, c. 1790-1850. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

3 N a s regiões da Á f r i c a , q u e estavam sob o d o m í n i o português, os escravos adultos, g e r a l m e n t e antes de e m b a r c a r e m , r e c e b i a m o sacramento

batismal. Vindos da costa centro-ocidental, principalmente de A n g o l a , os cativos recebiam o sacramento e n q u a n t o a g u a r d a v a m nos b a r r a c õ e s o e m b a r q u e nos navios. S O A R E S , Mariza de Carvalho. Devotos da Cor. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 2 0 0 0 . pp. 2 5 6 - 2 5 7 . Cativos vindos de outras regiões da Á f r i c a , c o m o os das áreas litorâneas n ã o c o n t r o l a d a s p o r Portugal chegavam, quase sempre, s e m o b a t i s m o .

4 Para Pierre Vierger na Bahia o t e r m o costa da M i n a significava a costa a sotavento da M i n a (a leste do C a s t e l o da M i n a ) . Cf. V E R G E R , Pierre. Fluxo e refluxo do tráfico de escravos entre o golfo do Benin e a Bahia de Todos os Santos dos século XVII a XIX. São Paulo: Editora Corrupio, 1987.

5 V E R G E R .

6 N o dicionário Bluteau o t e r m o nacional se refere " a q u e l e q u e é da m e s m a nação", pátria, terra. B L U T E A U , D. R a f a e l d e . Vocabulário

Portuguez Latino. C o i m b r a : C o l é g i o d a s A r t e s d a C o m p a n h i a de Jesus, 1712. p. 664. vol. V.

7 G U D E M A N ; S C H W A R T Z .

8 A t r a n s g r e s s ã o dessa proibição era considerada um crime d e incesto. E x e m p l o desse interdito é u m edital lido pelos sacerdotes da C o m a r c a do R i o das M o r t e s , Capitania de M i n a s Gerais: " O D o u t o r D o m i n g o s Luis da Sylva [...] Vigário Colado da Igreja Matriz d e N. S. C o n c e i ç ã o das Catas Altas, e vizitador nestas minas [...] m a n d o a todas as pessoas, assim eclesiásticas, c o m o seculares, q u e s o u b e r e m d e p e c a d o s públicos, e s c a n d a l o s o s , v e n h a m perante m i m denunciar. [...] cada um dos reverendos lerá a seus fregueses na estação da missa conventual os interrogatórios seguintes. [...] 16. Se a l g u m a pessoa c o m e t e u o crime de incesto, tendo a j u n t a m e n t o c o m alguma parenta por c o n s a n g ü i n i d a d e , o u afinidade e m grau proibido, o u c o m a d r e c o m c o m p a d r e , ou p a d r i n h o c o m afilhada, ou m a d r i n h a c o m afilhado, e disso h a j a f a m a p ú b l i c a " . Fonte: Arquivo

Eclesiástico da A r q u i d i o c e s e d e Mariana, Livro de Devassa, 1733, [fl. 2 a 7],

9 Constituções Primeiras do Arcebispado da Bahia, feitas e o r d e n a d a s pelo Ilustríssimo e R e v e r e n d í s s i m o S e n h o r D. Sebastião M o n t e i r o da

Vide, e m 12 de j u n h o d e 1707. Livro I, Título XIV. O escravo adulto poderia recusar o batismo mas, deveria fazê-lo j u n t o ao pároco.

10 Ordenações do Reino de Portugual, V, tit. X C I X . " Constituições Primeiras, livro I, Titulo XIV, p. 20.

12 V E N Â N C I O , p. 1.

1 3 SILVA apud F A R I A , Sheila de Castro Faria. C o m p a d r i o . In: VA1NFAS, Ronaldo (Org.). Dicionário do Brasil Colonial ( 1 5 0 0 - 1 8 0 8 ) . RJ: Objetiva, 2 0 0 0 . p p . 126-127. O c o m p a d r i o seguindo SILVA sugere a i n d a " i n t i m i d a d e , familiaridade, proteção e x a g e r a d a o u contrária à justiça, f a v o r i t i s m o " . C o n f e r i r t a m b é m B L U T E A U , p. 413.

1 4 C U N H A , M a f a l d a Soares da. A casa de Bragança 1560-1640: práticas senhoriais e redes clientelares. Lisboa: Editorial E s t a m p a , 2000. pp. 4 3 1 - 4 3 2 .

1 5 P o s s i v e l m e n t e a primeira correspondência escrita pelo C o n d e , o b a n d o de 23 de n o v e m b r o de 1719, n ã o t e n h a sido registrada nos livros

d o seu g o v e r n o por isso, ele a cita n o segundo b a n d o enviado e m 2 6 do m e s m o m ê s e ano. Fonte: B a n d o d e 2 6 d e n o v e m b r o de 1719, Registro de cartas do g o v e r n a d o r a diversas autoridades, ordens, instruções e b a n d o s , Arquivo Público Mineiro, códice n° 11, 1717-1721, [fl. 2 8 2 v a 284], Todos os textos das f o n t e s primárias manuscritas utilizadas neste trabalho foram vertidos para o p o r t u g u ê s atual.

16 E m c o r r e s p o n d ê n c i a ao O u v i d o r do Rio das M o r t e s o C o n d e cita o provável motivo que o levou a proibir os cativos terem outros c o m o

padrinhos: "[...] D a n d o - m e conta o O u v i d o r Geral da C o m a r c a do Rio das Velhas de que se tinha a c h a d o m o r t o s três h o m e n s e m parte o n d e se suspeitou os m a t a r a m alguns negros, mandava fazer diligências por várias partes para averiguar e que soubera q u e nas Serras do Caraça havia u m g r a n d e q u i l o m b o de o n d e saião os negros e m bandeiras a infestar os c a m i n h o s e tinham já feito bastantes insultos c o m o que se acerara d e m o d o o povo de Vjla Real que estivera quase resoluto a fazer a l g u m a s d e s o r d e n s [...]". Fonte: Carta ao O u v i d o r do rio das M o r t e s , Registro de cartas do g o v e r n a d o r a diversas autoridades, ordens, instruções e bandos, A r q u i v o Público Mineiro, Códice n° 11, 1717-1721, [fl. 169v e 170],

17 Fonte: B a n d o de 2 6 de n o v e m b r o de 1719. Registro de cartas do governador a diversas autoridades, ordens, instruções e b a n d o s , Arquivo Público Mineiro, c ó d i c e n° 11, 1717-1721, [fl. 2 8 2 v a 284],

1 8 Fonte: B a n d o de 2 6 de n o v e m b r o de 1719. Registro de cartas do governador a diversas autoridades, ordens, instruções e bandos, A r q u i v o Público Mineiro, códice n° 11, 1717-1721, [fl. 2 8 2 v a 284].

19 Fonte: C o r r e s p o n d ê n c i a de 26 de d e z e m b r o de 1719. Registro de cartas do g o v e r n a d o r a diversas autoridades, ordens, instruções e b a n d o s , A r q u i v o Público Mineiro, códice n° 11, 1717-1721, [fl. 184],

2 0 C o r r e s p o n d ê n c i a de 1721 do monarca D. João V para o então G o v e r n a d o r das Minas, C o n d e de A s s u m a r . Citada p o r V A S C O N C E L O S , D i o g o de. História antiga das Minas Gerais. 4" ed. Belo Horizonte, [s.n.], 1974. pp. 247-248.

2 1 Cf. B O X E R , C h a r l e s R. A idade de ouro do Brasil. S ã o P a u l o : C o m p a n h i a E d i t o r a Nacional, 1963.

2 2 R e s i d i r a m na Leal Vila de N o s s a Senhora do C a m i o os governadores da Capitania de São Paulo e M i n a s do Ouro: Antônio de A l b u q u e r q u e C o e l h o , D. Brás Baltazar da Silveira e D. Pedro de Almeida, o C o n d e de Assumar.

2 3 C U N H A M A T O S , R a i m u n d o José da. Corografia Histórica da Província de Minas Gerais (1837). Belo Horizonte; São Paulo: Itatiaia; E D U S P , 1981.

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2 4 K L E I N apud PAIVA, E d u a r d o França. Escravos e libertos nas Minas Gerais do século XVIII: estratégias d e resistência através d e t e s t a m e n t o s . São Paulo: A n n a b l u m e , 1995. p. 68. Paiva destaca: "Vila Rica e M a r i a n a s e m p r e f o r a m rivais na p o m p a e na importância política e c o n t a v a m , para tanto, c o m as atividades m i n e r a d o r a s , a i n d a produtivas na segunda m e t a d e do século, c o m u m ativo c o m é r c i o praticado p e l o s m o r a d o r e s e c o m os privilégios p r o v e n i e n t e s do fato d e serem respectivamente, sedes do governos civil e eclesiástico de M i n a s Gerais". PAIVA, p. 69.

2 5 B E R G A D , Laird W. D e p o i s d o b o o m : a s p e c t o s d e m o g r á f i c o s e e c o n ô m i c o s da escravidão e m Mariana, 1750-1808. E S T U D O S

E C O N Ô M I C O S , 2 4 (3), dez. 1994, p. 497.

2 6 Reais quintos e lista dos escravos de 1723, A r q u i v o Histórico da C â m a r a d e Mariana, C ó d i c e 166. A lista é datada de 08 de fevereiro d e 1723.

2 7 Os p o v o a d o s pertencentes ao T e r m o da Vila do C a r m o (Mariana) listados f o r a m : C a t a s Altas, Passagem, Inficionado, B a c a l h a o , G u a r a p i r a n g a , São Sebastião, B r a m a d o , G u a l a c h o s d o Sul, Bento Rodrigues, C a m a r g o s , G a m a , A n t ô n i o Pereira, M o n s ú s (encontra-se separado da Vila m a s , pelos relatos de outras fontes fica localizado b e m p r ó x i m o da sede da Vila, nos seus arrabaldes), S u m i d o u r o , Pinheiro Rocha, F u r q u i m , S ã o Caetano, São C a e t a n o do R i o A b a i x o e Itacolomi.

2 8 Cf. B O T E L H O , Tarcísio Rodrigues. A escravidão nas M i n a s Gerais, c. 1720. In: B O T E L H O , Tarcísio Rodrigues et al. Historia quantitativa

e serial no Brasil: u m balanço. Goiânia: A N P U H - M G , 2001. pp. 4 5 - 6 5 .

2 9 Etnia e/ ou g r u p o d e p r o c e d ê n c i a ou cor, estas são as i n f o r m a ç õ e s fornecidas após o p r e ñ ó m e do cativo.

3 0 U t i l i z a m o s aqui, a listagem d o s escravos de 1723, c o m o u m a estimativa da p o p u l a ç ã o cativa, pois, s a b e m o s das possíveis o m i s s õ e s dos s e n h o r e s a fim de não p a g a r e m os quintos integralmente.

3 1 N o total de 224 senhores livres proprietários d e escravos, 212 são h o m e n s e 12 mulheres. N o total d e 14 senhores forros proprietários de escravos, 11 são m u l h e r e s e a p e n a s 3 h o m e n s f o r r o s a p a r e c e m c o m o senhores.

3 2 A s o m a totaliza 5 2 6 cativos c o m a d e s i g n a ç ã o m i n a , incluídos aqueles q u e e r a m d e s i g n a d o s c o m o m i n a fon (1 caso) e m i n a g r a n d e (I caso)

e t a m b é m f o r a m c o n t a d o s os escravos f u g i d o s q u e a p a r e c e m na lista ( m e s m o n ã o sendo c o n t a d o s para o fim do p a g a m e n t o dos quintos e assim, n ã o e s t a n d o n o total de 1193, a c h a m o s m e l h o r incluí-los).

3 3 Se p e n s a r m o s na razão de m a s c u l i n i d a d e , t e r í a m o s 3 h o m e n s para cada m u l h e r m i n a , s e n d o 381 h o m e n s e 124 m u l h e r e s declaradas c o m o mina.

3 4 A listagem n ã o apresenta os g r u p o s étnicos e/ ou d e p r o c e d ê n c i a de 178 cativos.

3 5 F o r a m c o n t a d o s e listados aqui os t e r m o q u e a p a r e c e m após os n o m e s dos escravos, p o d e n d o alguns n ã o serem relacionados a etnicidade

m a s , f o r a m listados. São eles: Ardra, A n g o l a , Gola, A m b a q u a , B a m b a , Bandarra, B a q u a [?], B a r b â [?], Benguela, Branu [?], C a b o Verde, C o n g o , Crioulo, Bahia (crioulo da Bahia), China, Clava, Carabari, Cobu, Courano, G a n g u e l a , Garinga [?], M i n a , M i n a Fon, Fon, Fula, M i n a Grande, M o ç a m b i q u e , M o n j o l o , M o r a n g u e [?], M a s s a n g a n o , L o a n g o , N a g o , A n a g o , N a g o n , N a g ô a , Rebolo, São Tomé, Timbu, Tibu, Q u i s s a m â , X a m b a , X a r a . A l g u n s casos p o d e m ser s i n ô n i m o s o u variações c o m o B a q u a ser A m b a q u a , A n a g o , N a g o n e N a g ô a variantes da palavra N a g o . Vemos aquí, q u e os cativos m o r a d o r e s da M a r i a n a e m 1723 p e r t e n c e m as três g r a n d e s regiões africanas: Á f r i c a Ocidental, Á f r i c a Central Atlântica e Á f r i c a Oriental.

3 6 S O A R E S , M a t i z a d e Carvalho. O i m p é r i o d e Santo Elesbão na cidade do Rio de Janeiro, no século X V I I I . T O P O I , Rio de Janeiro, mar.

2 0 0 2 , p. 59.

3 7 S O A R E S , p. 60.

3 8 Cf. B A R T H , Fredrik. Os g r u p o s étnicos e suas fronteiras. In: O guru e o iniciador e outras variações antropológicas. Rio de Janeiro: C o n t r a Capa, 2000. pp. 25-67.

3 9 S O A R E S , p. 60.

4 0 S O A R E S , p. 60.

4 1 Sobre a discussão do t e r m o n a ç ã o conferir: O L I V E I R A , M a r i a Inês Cortes de. Q u e m e r a m os ' n e g r o s da G u i n é ' ? A o r i g e m dos a f r i c a n o s na Bahia. A F R O - A S I A , n. 19/20, 1997. pp. 37-73; K A R A S C H , Mary. ' M i n h a n a ç ã o ' : identidades escravas no fim do Brasil colonial. In: SILVA, M a r i a Beatriz N i z z a da (Org.). Brasil: c o l o n i z a ç ã o e escravidão. Rio de Janeiro: N o v a Fronteira. 2000. pp. 127-139; S O A R E S , Mariza de Carvalho. D e s c o b r i n d o a G u i n é n o Brasil colonial. R E V I S T A D O I N S T I T U T O H I S T Ó R I C O E G E O G R Á F I C O B R A S I L E I R O . 161, n. 407. a b r / j u n . 2000. p p . 7 1 - 9 4 .

4 2 B A R T H .

4 3 W E B E R , M a x . Relações c o m u n i t á r i a s étnicas. In: Economia e sociedade. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, 1944. pp. 2 6 7

-277.

4 4 Fredrik Barth nas suas p r o p o s i ç õ e s sobre o e s t u d o dos c o m p o r t a m e n t o s h u m a n o s vê no conflito u m m o m e n t o importante para análise, na qual os indivíduos estariam p o s i c i o n a d o s a p r e s e n t a n d o seus valores. U m importante trabalho sobre conflitos étnicos entre negros, s e g u i n d o os p r e s s u p o s t o s de Barth, é o d e Mariza Soares. Cf. S O A R E S .

4 5 Fonte: Reais quintos e lista d o s escravos d e 1723, Arquivo Histórico da C â m a r a d e Mariana, códice 166, [fl. 5 v].

4 6 M O T T , Luiz. A c o t u n d á : raízes setecentistas do sincretismo religioso afro-brasileiro. R E V I S T A D O M U S E U PAULISTA, São Paulo, USP,

31: 131-2, 1986. Cf. u m importante trabalho, do m e s m o autor, sobre u m a c o u r a n a q u e viveu na Capitania do Rio de Janeiro e t a m b é m na Capitania de M i n a s no século X V I I I e a c a b o u p r o c e s s a d a p e l o Santo Oficio: M O T T , Luiz. Rosa Egipcíaca: u m a santa africana no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Bertrand do Brasil, 1993.

4 7 M O T T , Luís. A c o t u n d á : Raízes setecentistas do sincretismo religioso afro-brasileiro. In: Escravidão, Homossexualidade e Demonologia.

São Paulo: ícone, 1988, p. 102-103. Mott assim localiza a terra dos couranos: "se nos d e b r u ç a m o s sobre os antigos m a p a s da Á f r i c a , p o d e m o s d e s c o b r i r b e m p r ó x i m o à costa, ao sul do porto de Judá e ao norte do rio Benin, três acidentes geográficos c o m o n o m e Kuramo: u m rio, um lago e u m a ilha m a r í t i m a . Na " C a r t e d e G u i n é " de S a n s ó n d ' A b e v i l l e (1656) e na de B o n n e (1730) p o d e m o s vislumbrar a vila d e C u r a m o que, na descrição do reino d e Benin encontrada na Histoire G é n é r a l e dês Voyages (1748) é descrita c o m o situando-se a 10 léguas do rio Formoso, vila q u e tinha todo seu e s p a ç o c i r c u n d a d o por paliçada dupla, distante 13 léguas da vila de J a b u m ... S e g u n d o ensina P. Verger, os c o u r a n o s e r a m inimigos do rei D a o m é e h a b i t a v a m a lagoa de C u r a m o , nos a r r e d o r e s de Lagos. U m a das testemunhas o u v i d a s n o S u m á r i o e m Paracatu dizia q u e a C o u r á J o s e f a Maria tirava satisfações ' d o s q u e não q u e r i a m ir à sua casa ver o Deus da Costa de C o u r a ' , portanto, outro r e f o r ç o a c o n f i r m a r q u e os c o u r a n o s vieram m e s m o dos arredores do lago C u r a m o , situado entre L a g o s ao sul e o porto de Judá ao norte".

4 8 Fonte: Reais quintos e lista dos escravos de 1725, Arquivo Histórico da C â m a r a de Mariana, c ó d i c e 150, [fl. 106v e 107],

4 9 Registro de Batismo, Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, Livro: 0 - 2 , [fl. 41v],

50 As Constituições Primeira dos Arcebispado da Bahia, no termo referente ao batismo, proibia a prática popular de se nomearem clérigos

para padrinhos. Cf. Constituições Primeiras, Livro I, Título XVIII.

(12)

5 1 Registro d e Batismo, Arquivo Eclesiástico da A r q u i d i o c e s e d e M a r i a n a , Livro: 0 - 4 , [fl. 23].

5 2 Registro de Batismo, Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, Livro: 0-4, [fl. 41 v],

5 3 T o d o s os 21 registros de c o u r a n o s batizados na M a t r i z da Vila do C a r m o no período d e 1728 a 1745 tiveram p a d r i n h o s , s e n d o 17 escravos e a p e n a s 3 livres corno parentes espirituais. N o caso da p a r t i c i p a ç ã o d a s m a d r i n h a s t e m o s elas presentes e m 16 batizados, s e n d o q u e d e s s e total 12 e r a m escravas e 4 e r a m forras. Importante destacar q u e a ausência d e m a d r i n h a s e m b a t i s m o s é c o m u m e m registros de inocentes tanto cativos q u a n t o livres. N ã o se deve t o m a r a ausência de m a d r i n h a s e m a l g u n s registros de c o u r a n o s adultos c o m o certa d e s v a l o r i z a ç ã o da m u l h e r e sim, valorizar a p r e s e n ç a significativa delas n o s batizados (todas as sete c o u r a n a s b a t i z a d a s tiveram madrinhas). L e m b r a m o s t a m b é m q u e consta na listagem de 1723 o n z e h o m e n s c o u r a n o s e apenas 2 m u l h e r e s .

5 4 Registro d e B a t i s m o , Arquivo Eclesiástico da A r q u i d i o c e s e de M a r i a n a , Livro: 0 - 4 , [fl.. 65], 5 5 Registro d e Batismo, A r q u i v o Eclesiástico da A r q u i d i o c e s e de Mariana, Livro: 0 - 4 , [fl. 11 lv], 5 6 Registro d e B a t i s m o , Arquivo Eclesiástico da A r q u i d i o c e s e d e Mariana, Livro: 0 - 4 , [fl. 48v], 5 7 Registro d e B a t i s m o , Arquivo Eclesiástico da A r q u i d i o c e s e de Mariana, Livro: 0 - 4 , [fl. 49],

5 8 Slenes e m seu t r a b a l h o sobre a família escrava n o sudeste escravista do século XIX, destaca q u e os s e n h o r e s d e escravos "... tiveram que

abrir m ã o do d e s e j o d e cultivar a ' e s t r a n h e z a ' entre os cativos - de torná-los ' p e r d i d o s , uns para os o u t r o s ' -, para investir e m outras estratégias d e controle. A o fazer isso, no entanto, abriram o c a m i n h o para os escravos ' s e e n c o n t r a r e m ' ... N e s s e sentido, a família minava c o n s t a n t e m e n t e a h e g e m o n i a dos senhores, criando c o n d i ç õ e s para a subversão e a rebelião, por m a i s q u e p a r e c e s s e r e f o r ç a r seu d o m í n i o na rotina cotidiana". S L E N E S , p. 48.

5 9 S O A R E S , p. 231.

6 0 S o b r e p r o c e s s o s m a t r i m o n i a i s c o n f e r i r G O L D S C H M I D T , Eliana Rea. Casamentos mistos: liberdade e e s c r a v i d ã o e m São Paulo colonial. São Paulo: A n n a b l u m e ; Fapesp, 2004.

" Fonte: P r o c e s s o matrimonial, Arquivo Eclesiástico da A r q u i d i o c e s e de Mariana, a r m á r i o 04, pasta 397, registro 3 9 7 0 , [fl. 2],

6 2 Processo m a t r i m o n i a l , Arquivo Eclesiástico da A r q u i d i o c e s e d e M a r i a n a , a r m á r i o 04, pasta 397, registro 3 9 7 0 , [fl. 3v],

6 3 O p á r o c o da M a t r i z d e Nossa S e n h o r a da C o n c e i ç ã o d e A n t ô n i o D i a s e m Vila Rica ao batizar Vitória c o u r a n a , e m 1743, registrou q u e ela tinha o rosto " c o r t a d o à m o d a de sua terra, era baixa e refeita d e c o r p o " . B a n c o d e D a d o s da Freguesia do Pilar ID 3 3 4 0 citado p o r O L I V E I R A , Patrícia P. de. B a t i s m o d e escravos adultos e o parentesco espiritual nas M i n a s setecentistas. C o m u n i c a ç ã o p u b l i c a d a o n l i n e nos A N A I S D A V J O R N A D A S E T E C E N T I S T A , Curitiba, 2 6 a 28 d e n o v e m b r o d e 2003. p. 11.

6 4 Processo m a t r i m o n i a l , Arquivo Eclesiástico da A r q u i d i o c e s e de Mariana, a r m á r i o 04, pasta 397, registro 3 9 7 0 , [fl. 3v e 4],

6 5 Parceiro é o m e s m o q u e c o m p a n h e i r o , sócio ou colega no Vocabulário Português Latino de Rafael Bluteau. B L U T E A U , p. 276. v. 8.

6 6 P r o c e s s o m a t r i m o n i a l , Arquivo Eclesiástico da A r q u i d i o c e s e de Mariana, a r m á r i o 04, pasta 397, registro 3 9 7 0 , [fl. 4],

6 7 N a lista dos escravos d e 1723, Acensa Pereira Dutra lista 3 cativas: Ana mina, A n t o n i c a m i n a e Inácia m i n a . Inácia m i n a possivelmente é

Inácia Dias courana. Fonte: Reais quintos e lista dos escravos de 1723, A r q u i v o Histórico da C â m a r a d e M a r i a n a , C ó d i c e 166, [fl. 7],

Referências

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