Christopher
Bochmann
C
oncerto
M
onográfico
Palácio Nacional da Ajuda
8 Nov 2010 | 2ª F | 19.00 H
G
rupo de Música Contemporânea de Lisboa
60º Aniversário
Ficha Artística e Técnica
Maestro:
Christopher Bochmann
Músicos:
Susana Teixeira, Mezzo-Soprano João Pereira Coutinho, Flauta Luís Gomes, Clarinete
José Machado, Violino Ricardo Mateus, Violeta
Jorge Sá Machado, Violoncelo Cândido Fernandes, Piano
Programa:
Musette (1995)#
Voz, pf, fl, cl, vno e vc
Chiaroscuro (2008)+
Cl Bxo solo
Canzona III (2010)*+
Sop, pf, harpa, perc, fl, cl, vno, vla e vc
Cantilena (2006)
Fl Alto solo
Letter II, to Amílcar Vasques Dias (2010)+
Pf solo
Leituras de Liberdade (2003)*
Sop, pf, harpa, fl, cl, vno, vla e vc
* Obras encomendadas pelo GMCL
+ Estreia
# Primeira audição em Portugal
Ana Telles, Piano (Letter II) Fátima Pinto, Percussão Ana Castanhito, Harpa
Direcção Artística:
José Machado
Produção:
Alexandra Ávila Trindade
Técnico de Palco:
Notas de programa
MUSETTE (1995)
Musette é uma peça curta escrita em homenagem dos 70 anos de Luciano Berio. O título Musette deriva da utilização das cordas soltas do violino em forma de bordão. A uma primeira parte instrumental com um certo protagonismo do piano, segue-se uma melisma da voz. Não há texto mas há uma referência de passagem ao facto de a ordem alfabética dos vogais corresponder em grande parte aos vogais do nome de LUCIANO BERIO.
CHIAROSCURO (2008)
Chiaroscuro para Clarinete Baixo baseia-se em dois materiais musicais: um rápido e anguloso (escuro na página) que começa no grave, e outro mais lento e suave (claro na página) que começa no agudo. A aproximação dos dois materiais origina um momento de maior desenvolvimento que também introduz elementos novos. A peça termina com uma certa inversão das funções iniciais.
CANZONA III (2010)
Canzona III foi encomendado pelo Grupo de Música Contemporânea de Lisboa e insere-se numa série de peças com nome de Canzona que têm várias características em comum, nomeadamente no que diz respeito à sua forma global, e especialmente no uso de técnicas de rotação.
Canzona III baseia-se num poema de Sextus Aurelius Propertius. Endereçado à Cynthia de toda a sua obra, o poema basicamente exorta-nos a permitir que outros escrevam de nós, pois doutra forma o nosso talento morre connosco e, ao pisar a terra que esconde os nossos ossos, ninguém se lembrará de nós - ninguém dirá, «estas cinzas eram de uma rapariga educada».
De maneira recorrente, a cantora apresenta-nos a palavra «scribant» funcionando esta palavra como uma espécie de refrão. Há duas secções instrumentais: a primeira é mais rápida e principalmente apoiada nas cordas; a segunda é mais lenta e melódica, utilizando antes os instrumentos de sopro e a voz em vocalise. Só na terceira secção é que o texto do poema aparece mesmo, dando um certo relevo respectivamente à harpa, à marimba e ao piano - onde com a voz apenas, se realiza uma pequena canzonetta sobre a frase, «Cinis hic docta puella fuit» .
Uma curta coda de uma harmonia estática deixa o poema esculpido em pedra. SCRIBANT de te alii vel sis ignota licebit:
laudet, qui sterili semina ponit humo. omnia, crede mihi, tecum uno munera lecto auferet extremi funeris atra dies;
et tua transibit contemnens ossa viator, nec dicet ‘Cinis hic docta puella fuit.’
CANTILENA (2006)
Cantilena para Flauta em Sol procura identificar-se com o carácter algo velado, talvez triste, deste instrumento (Mesto cantabile), com a alternância entre duas notas no seu registo grave tão típico. No entanto, a peça também explora uma gama larga de outras características percorrendo a totalidade dos registos do instrumento, terminando por reencontrar o carácter inicial.
LETTER II (2010) to Amílcar Vasques Dias
Letter II é a segunda numa série de peças para piano que tomam, como ponto de partida, desenhos directamente citados de obras de outros compositores. Estes desenhos passam a ser desenvolvidos de acordo com o meu estilo musical, por mais diferente que seja do estilo que lhes
deu origem. Neste caso, trata-se de um desenho que Amílcar Vasques Dias utiliza em várias composições suas: é um desenho de 4 notas repetidas. Letter II foi escrita na ocasião da aposentação de Amílcar Vasques Dias do Departamento de Música da Universidade de Évora.
LEITURAS DE LIBERDADE (2003)
Leituras de Liberdade baseia-se num poema do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade.
O poema «Liberdade» aparece quatro vezes na obra: a parte vocal é sempre a mesma, com uns tropos inseridos; o contexto que rodeia voz é sempre diferente. Daí as quatro leituras diferentes do mesmo texto.
À volta destas quatro versões de «Liberdade» elabora-se uma teia de secções instrumentais e vocais. Estas últimas citam dois pequenos excertos de outros poemas do mesmo autor, ambos contendo a palavra «liberdade».
As várias secções utilizam combinações diferentes dos instrumentos do grupo, algumas das quais fazem lembrar conjuntos já consagrados no repertório, por exemplo: flauta, viola, e harpa (Debussy) ou clarinete, violoncelo, piano (Beethoven), por não falar da terceira versão de «Liberdade» escrita para voz e piano - o contexto de todo a repertório de Lied etc.. Esta peça também funciona, em certa medida, como a secção fulcral da obra.
Liberdade
O pássaro é livre Na prisão do ar O espírito é livre Na prisão do corpo Mas livre, bem livre
É mesmo estar morto
Christopher Bochmann
CHRISTOPHER BOCHMANN (n.1950) é doutorado em composição pela Universidade de
Oxford. Estudou também com Nadia Boulanger em Paris e com Richard Rodney Bennett em Londres.
Trabalha em Portugal desde 1980. Foi professor do Instituto Gregoriano de Lisboa e do Conservatório Nacional. Leccionou durante 22 anos na Escola Superior de Música de Lisboa, da qual foi Director de 1995 a 2001. Desde 2006 é Professor Catedrático Convidado da Universidade de Évora, onde também é Director da Escola de Artes.
É maestro titular da Orquestra Sinfónica Juvenil desde 1984.
Em 2004 foi-lhe atribuído uma Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura. E em 2005 foi agraciado pela rainha Isabel II com a condecoração O.B.E.
As suas composições abrangem quase todos os géneros musicais, desde da música para solistas à música orquestral, da música de câmara à ópera, para além de inúmeras orquestrações e arranjos.
GMCL
Fundado em 1970 por Jorge Peixinho, com a colaboração de Clotilde Rosa, Carlos Franco e António Oliveira e Silva, o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa (GMCL) é o primeiro grupo português de música contemporânea, desempenhando um papel histórico de vanguarda na abertura da sociedade portuguesa à estética musical do nosso tempo.
A sua primeira apresentação pública aconteceu no Festival de Sintra 1970, mantendo, desde então, uma constante regularidade nas suas apresentações no país, incluindo gravações para a rádio e televisão. Em 1972, teve a sua primeira deslocação ao estrangeiro, ao Festival de Arte Contemporânea de Royan.
Ao longo dos seus 40 anos de existência, O GMCL apresentou-se em vários Festivais de Música Contemporânea, nomeadamente em Amsterdão, Bamberg, Bayreuth, Belo Horizonte, Bruxelas, Madrid, Nice, Roterdão, Santos, São Paulo, Sevilha, Siena, Turim, Valência, Varsóvia e Zagreb. Em Portugal, destaca-se a sua participação regular nos Encontros Gulbenkian de Música Contemporânea e ainda nos Festivais do Estoril, Coimbra, Europália 91 e T.N. S. Carlos, entre outros.
A discografia do GMCL compreende predominantemente obras de Jorge Peixinho, com várias interpretações dirigidas pelo próprio compositor, para além de numerosas criações de outros compositores portugueses. Tem recebido sempre o aplauso da crítica especializada portuguesa e internacional. O Grupo gravou também obras de compositores portugueses para a Tribuna Internacional de Compositores e participou em várias obras originais para teatro, cinema e multimédia.
O GMCL foi distinguido com a medalha de Mérito Cultural atribuída pela Secretaria de Estado da Cultura, como reconhecimento da sua actividade de divulgação da cultura musical contemporânea nacional e estrangeira.
Divulgar obras de autores portugueses contemporâneos, com incidência na obra de Jorge Peixinho, é o cerne da missão do GMCL. Apoiado pelo Ministério da Cultura, desenvolve desde 2000 um projecto de encomendas de obras a compositores com a sua respectiva apresentação pública e divulgação. Paralelamente, o GMCL desenvolve uma acção pedagógica de divulgação, de criação de públicos e de formação de novos maestros e intérpretes.
Em 2010, o GMCL apresentou-se em França, Espanha e, em Portugal, no Centro Cultural de Belém, Casa da Música e Culturgest.