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USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOTRÓPICAS POR JOVENS
Elizange Maria Fachin Ossovski1 Alcy Aparecida Leite Souza2 Patrícia Rodrigues Mateus3 Giovanna Carolina Guedes4
Janaina Ultado Dutra4 Jolana Cristina Cavalheiri4
INTRODUÇÃO Os seres humanos se entristecem ou se alegram com
facilidade, em decorrência de acontecimentos da vida. No entanto, quando isto não acontece naturalmente muitas vezes se manipulam os sentimentos por meio de variadas substâncias a fim de alcançar um estado desejado ou imposto pela sociedade. Os distúrbios do humor ou do afeto, dentre estes a depressão, são muito prevalentes e afetam diversos percentuais da população em algum momento. Incluem geralmente uma desorganização do funcionamento autônomo ( ritmos de atividade, sono e apetite alterados) e do comportamento, bem como anormalidades persistentes do humor. Estão associados a um risco aumentado de autoflagelo ou suicídio, e mesmo a um aumento de mortalidade por condições clínicas generalizadas relacionadas com estresse, complicações clínicas de abuso geralmente co-mórbido de álcool, drogas ou acidentes (GOODMAN; GILMAN, 2003). O etanol difere da maioria dos outros depressores pelo fato de ser amplamente disponível e de seu uso ser legal, aceito e estimulado em muitas sociedades. No entanto, a essa grande disponibilidade do etanol estão associados enormes custos sociais e pessoais decorrentes do seu uso abusivo, levando inúmeros
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Enfermeira, Especializanda do Curso de Assistência na Urgência e Emergência, Cascavel/PR.
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Professora, mestre do Curso de Enfermagem da Unioeste Cascavel/PR.
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Enfermeira Assistencial em Saúde Pública
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Apresentadora, Aluna da 3ª serie do Curso de Enfermagem Unioeste Cascavel/PR, Tel: 4591053288, email: janaina.ultado@bol.com.br.
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2 indivíduos a tornarem-se usuários costumazes. O álcool regula a ansiedade, tem efeito sedativo, provoca prazer temporário. Os motivos apresentados para justificar o consumo do álcool são inúmeros, sendo o mais comum por hábito, em que o individuo está acostumado periodicamente a ingerí-lo. “São tantas as sensações que tudo serve de argumento para beber: antes da refeição é para abrir o apetite; após a refeição é para melhorar a digestão. Se está triste, é para animar; se está alegre, é para festejar” (TIBA, 2003, p. 57). Os agentes sedativo-hipnóticos são depressores não-seletivos ou gerais de SNC utilizados para reduzir a inquietação e a tensão emocional, para induzir sedação ou sono, dentre eles os barbitúricos e os benzodiazepínicos.Os barbitúricos em baixos níveis, resultam em relaxamento, cabeça leve, e uma perda de coordenação motora. Doses mais altas provocam fala enrolada, maior redução no controle motor, euforia leve, relaxamento e sono. São rapidamente absorvidos no fluxo sanguíneo, a partir do sistema digestivo e então chegam ao cérebro, onde exercem seus efeitos (HOLMES, 1997). Os benzodiazepínicos, segundo Gooldman e Gilman (2003, p. 309), são “agente hipnótico, para ser útil, deve ter um rápido início de ação quando ingerido ao deitar, uma ação prolongada o suficiente para facilitar o sono durante toda a noite e nenhuma ação residual na manhã seguinte”. Para Oga (2003), as anfetaminas e seus derivados, são empregados como antidepressivos, moderadores de apetite e no tratamento de patologias, como a narcolepsia (sono incontrolável), e hiperatividade infantil.A cafeína destaca-se como um dos estimulantes legalizados mais consumidos no mundo em um grupo de drogas denominadas metilxantinas. Associada a princípios ativos específicos, é indicada nos casos de apnéia, alívio da cefaléia, enxaqueca, estado gripal, entre outros e empregada como adjuvante no tratamento da obesidade, como diurético e antialérgico (OGA, 2003). Os indivíduos “usam nicotina quando estão preguiçosas e desejam aumentar sua estimulação [...], depois de uma refeição ou durante uma pausa, e também quando estão tensos e desejam reduzir a estimulação” como por exemplos durante os períodos de estresse (HOLMES, 1997, p. 393). Os anorexígenos, segundo Korolkoras (1997), são fármacos que provocam anorexia, ou seja, são
3 capazes de desencadear redução ou perda do apetite, sendo por isso usado como supressores do apetite. OBJETIVO Pesquisar o uso de substâncias psicotrópicas por acadêmicos do curso de enfermagem de uma instituição pública na cidade de Cascavel/PR. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO Trata-se de uma pesquisa descritiva e exploratória. Para este fim, foi utilizado um questionário semi-estruturado para coleta dos dados. A população foi constituída de 116 acadêmicos matriculados no curso de enfermagem englobando o 1°, 2º, 3° e 4º ano da graduação. Os dados foram agrupados em quatro grupos: grupo A (30), B (31), C (26) e D (29), cada qual correspondendo a uma série do curso, não necessariamente em ordem crescente de valor numérico. A análise buscou envolver os temas partilhados pelos sujeitos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO A fim de facilitar a análise e destacar
informações relevantes estes sujeitos foram agrupados em quatro grupos: A, B, C e D. No que se refere a faixa etária, verificamos que a idade predominante está entre os 20 e 22 anos (42 %), 14 % são do sexo masculino, e 86% do sexo feminino, com predominância de solteiros, perfazendo um total de 91% (o grupo A apresentou o maior numero de indivíduos casados, 17%). Observa-se que mais de 55% dos indivíduos de todos os grupos afirmaram ter utilizado ou fazer uso de medicamentos ou substâncias com o intuito de emagrecer, ficar acordado ou para dormir. No grupo A, o uso destas substâncias ocorreu durante o 2° e 3° ano da graduação com 13%, seguido do 2° ano com 10%. No grupo B a maior parte utilizou substâncias no 2° ano da graduação por 17%, seguido do 1°, 2°, e 3° ano com 16%. O grupo C, 46% de uso no 1° e 2° ano, seguido pelo 2° ano com 15%, e o grupo D apresentou um índice altíssimo de uso das substâncias citadas no 1° ano com 66%. Sobre quais medicamentos/ substâncias foram utilizados durante a graduação, 100% consomem mais de uma destas substâncias ao mesmo tempo, 98 (84%) utilizam algum tipo de substância, enquanto que 16% não usam. Ao analisarmos o grupo A, 84% usam ou utilizaram algum tipo de substância durante a graduação, sendo o uso de cafeína por 76%, seguida do álcool com 52%; pó de guaraná com 52%, nicotina e sedativos/ansiolíticos com 20% e antidepressivos por 16 %. No
4 grupo B, 88% usam substâncias, uso de cafeína por 81%, seguida do álcool por 54%, pó de guaraná 50 %, nicotina 27% e antidepressivos 4 casos (15 %). O grupo C, 88% usam substâncias, uso de cafeína por 65 %, seguida de álcool por 39%, pó de guaraná por 39%, sedativos/ ansiolíticos por 13% e anfetaminas e nicotina por 9% dos casos. No grupo D, 83% consomem substâncias, o consumo de cafeína 83%, seguida de álcool por 42%, pó de guaraná por 33%, antidepressivos por 25%, nicotina usada por 17% e anfetaminas por 8%.O consumo de antidepressivos, o grupo D, 25% usaram ou usam. No que se refere ao uso de sedativos/ansiolíticos estes são consumido em maior quantidade pelos sujeitos do grupo A, com 20%. O uso de anfetaminas prevaleceu no grupo C e D. O pó de guaraná é mais consumido nos grupos A e B. A prevalência do uso de nicotina foi para o grupo B, com 27%. Observou-se que dos 116 acadêmicos, 75% utilizam estimulantes, enquanto 50% fazem uso de depressores do SNC e 8% fazem uso de outras substâncias. O álcool ocupou a segunda posição em termos de uso. A substância que ocupou o terceiro lugar foi o pó de guaraná, seguido da nicotina em quarta colocação. Observou-se uma predominância geral dos indivíduos que utilizam duas substâncias concomitantemente, 33%. Embora o percentil dos indivíduos que usam três, quatro ou cinco substâncias seja menor, é preocupante para esta instituição devido às inúmeras interações que ocorrem entre estas substâncias podendo desencadear reações adversas prejudiciais à saúde, que muitas vezes são desconhecidas. Sobe a utilização de antidepressivos, sedativos e anorexígenos podemos afirmar com base na evidência dos dados que 71% dos entrevistados do grupo A, fazem uso destes medicamentos, sem conhecimento médico. Ao contrário, o grupo B e o grupo C, afirmam em sua maioria, utilizá-los com prescrição médica, sendo 50% e 72%. No grupo D, 83% afirmaram fazer uso sob orientação médica, e obtê-los somente com a prescrição. CONSIDERAÇÕES FINAIS As substâncias que tiveram o maior índice de consumo foram a cafeína, o álcool, pó de guaraná, antidepressivos, nicotina, anfetaminas e sedativos. Quanto aos fatores que levaram a fazer uso de substâncias, destacou-se sobremaneira a necessidade
5 de permanecer acordado para socializar-se no grupo, estresse, ansiedade e depressão e uma série de sintomas físicos relacionados, entre outros. Conclui-se que existe um vazio de conhecimento sobre os efeitos da maioria das substâncias pelos acadêmicos. Alertam desta forma, para a necessidade de se ampliar o conhecimento sobre os riscos do uso de substâncias psicotrópicas no meio acadêmico e sugerem a necessidade de se estabelecer uma política de prevenção que vise minimizar os determinantes e sensibilizar para os riscos decorrentes do uso indevido.
Referências Bibliográficas
GOOLDMAN; GILMAN. As bases farmacológicas da terapêutica. Editores responsáveis: Joel G. Hardman; Lee E. Lembird; Editor consultor: Alfred Gooldman Gilman. Rio de Janeiro: MC Graw-Hill, 2003.
HOLMES, D. S. Psicologia dos transtornos mentais. 2. ed. Porto Alegre, Artes Médicas, 1997.
KOROLKORAS, A. Dicionário terapêutico Guanabara. ed. 1997/1998. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1997.
OGA, S. Fundamentos de toxicologia. 2. ed. São Paulo: Atheneu Editora, 2003.
TIBA, I. Anjos caídos: como prevenir e eliminar as drogas na vida do adolescente. 22. ed. revista e atualizada. São Paulo: Editora Gente, 2003.