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 A Língua dos Papagaios, a Diferença e o Ser

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Academic year: 2021

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A Língua dos Papagaios, a Diferença e o Ser

1 ALFONSO CORREA MOTTA

Departamento de Filosofia Universidade Nacional de Colômbia

Tradução: Marco Zingano

Abstract: In this paper I examine, in the first place, the Aristotelian developments about the "psittacism" or "language of the parrots” (Sophistici Elenchi). The results of these analyses will allow us to examine, next, some observations and rules concerning the relationships among genus and differentia (Topics VI). I consider, finally, an argument of Metaphysics B, in which Aristotle, arguing from this observations and rules, defends his famous dictum according to which being is a not a genus.

Key-words: Aristotle. Metaphysics.

“O ser não é um gênero”; “o ser se diz de muitos modos”. Duas teses, muito problemáticas, sobre as quais sempre se discute. A despeito disso (ou mesmo graças a isso), não por menos elas constituem o credo de todo aristotélico – ou pelo menos, se vocês me permitirem continuar nesta retórica acadêmica, de todo aristotélico que se quer demarcar dos platônicos radicais. Um livro recente de Christopher Shields lembra-nos, contudo, felizmente aliás, que a filosofia não é um credo. Mais concretamente, ele enfatiza, entre outros resultados muito interessantes, que as relações entre estas duas teses não sem nem um pouco evidentes, pois as provas que Aristóteles fornece para a primeira supõem a negação da segunda. Gostaria, no que segue, de revisitar estas duas teses e, deste

1 Agradeço a Marco Zingano pelo convite que está na origem deste texto, bem

como por sua tradução e correção. Todos os participantes do colóquio fizeram observações que me foram úteis; em especial, agradeço a David Charles, Christopher Shields e Walter Cavini por seus comentários.

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modo, a interpretação proposta por Shields. Para isso, proponho seguir um caminho um pouco tortuoso. Começarei pelas Refutações sofísticas (SE), para em seguida passar ao livro VI dos Tópicos (Top); o topos que analisarei nos levará finalmente ao livro B da Metafísica (Met).

1. A língua dos papagaios

§1 No capítulo 3 das SE, Aristóteles apresenta uma lista, aparentemente exaus-tiva, dos objetivos perseguidos pelos “amantes de disputas e amigos da vitória nos argumentos”. Estas metae sophistarum, segundo a fórmula consagrada, são, na ordem, a refutação, a falsidade, o paradoxo, o solecismo e a verborréia inútil. A verborréia inútil traduz o grego ¢dolescÁsai

.

O sentido corrente deste termo era “dizer qualquer coisa”, “discutir em vão”. Nas SE, ele tem um sentido bem mais preciso, que Aristóteles toma o cuidado de especificar de início. Com efeito, quan-do o amigo de disputas leva seu interlocutor a dizer qualquer coisa, ele o obriga, de fato, segundo o filósofo, “a dizer várias vezes a mesma coisa” (tÕ poll£kij taÙtÕ lšgein,165b16-17). Em um argumento que leve à verborréia inútil, o interlocutor será, por exemplo, obrigado a conceder, depois de ter aceito uma série de premissas, uma conclusão como “o dobro é o dobro da metade da metade da metade” ou “o ímpar é um número número número que tem um termo médio”.

Esta repetiçãomecânica dos termos parece ser um dos traços distintivos da verbosidade dos papagaios; de fato, o termo que a designa nas línguas modernas é psitacismo2. Gostaria de, em um primeiro momento, dedicar-me nesta comunicação às

análises aristotélicas deste fenômeno, desenvolvidas nos capítulos 13 e 31 das SE.

§2 A lista do capítulo 3 contém várias surpresasque não podemos examinar aqui. Uma delas diz respeito, porém, diretamente ao nosso assunto. Aristóteles dis-tingue, com efeito, dois tipos de psitacismo, dois modos de fazer com que o

2 No que segue, usarei indistintamente língua dos papagaios e psitacismo. Este último termo foi empregado por Dorion (1995) para traduzir ¢dolescÁsai de Aristóteles. Outros tradutores e comentadores falam antes de tautologia.

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adversário fale como um papagaio. O primeiro corresponde ao que o filósofo chama de “psitacismo aparente”; o segundo é sua contraparte positiva ou, se se quiser, respeitável: o psitacismo real. Os amigos da vitória praticam estas duas formas de psitacismo, mas eles preferem, sempre segundo o capítulo 3, o psitacismo real.

Pergunto-me – e estas são as questões que vão servir de fio condutor desta seção – em que medida pode-se afirmar que uma conclusão como “o dobro é o dobro da metade da metade” foi honestamente tirada de um dado argumento? O que uma fórmula como “atingir realmente a verborréia inútil” nos diz sobre a própria verbosidade? Supõe ela assumi-la de início como um fenômeno não problemático? Para responder a estas questões, é preciso antes apresentar alguns elementos.

2. Os relativos kaq' aØtkaq' aØtkaq' aØtkaq' aØt££££

§3 A lista do capítulo 3 das SE tem uma dimensão programática. O tratado está estruturado segundo os cinco membros distinguidos na seção. Os capítulos 4 a 11 ocupam-se assim das refutações aparentes. No capítulo 12, Aristóteles apresenta suas análises do segundo e terceiro objetivos: a falsidade e o paradoxo. Do psitacismo e do solecismo, em seguida, se tratará nos capítulos 13 e 14 respectivamente. Após uma seção que discute em termos gerais os papéis do questionador e do respondente (capítulos 15 a 18), Aristóteles retoma finalmente, com duas exceções, a análise de todos os membros da lista. As exceções são o paradoxo e a falsidade; as refutações aparentes (capítulos 19 a 30) o psitacismo (capítulo 31) e a incorreção (capítulo 32) são, por sua vez, expostos mais uma vez.

Esta dupla apresentação não é, porém, supérflua. De fato, ela não é senão a manifestação de uma dualidade própria ao exercício dialético. Uma coisa é descrever como se produz uma refutação aparente, por exemplo; quais são as questões e as astúcias que se deve fazer para obtê-las. É uma outra coisa mostrar como é possível defender-se destas astúcias e de que modo se deve responder a estas questões; em suma, pôr em evidência qual é a solução da refutação. No primeiro caso, o que está em questão é essencialmente o papel produtivo e de

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ataque do questionador; no segundo, são as tarefas essencialmente de avaliação e defesa de quem responde que serão consideradas. A dupla apresentação retoma esta dupla óptica. A primeira exposição se põe na perspectiva de quem questiona; a segunda assume o ponto de vista de quem responde.

Ora, para além destas considerações dialógicas, a análise da língua dos papagaios é idêntica nestas duas apresentações. No que segue, devo então traçar as linhas principais deste exame, buscando indiferentemente meus elementos dos capítulos 13 e 31.

§4 Segundo Aristóteles, todos os argumentos que levam ao psitacismo baseiam-se sobre as propriedades de dois tipos de termos diferentes. Comecemos pela primeira espécie de argumento “psitacista” e apresentemos inicialmente os dois exemplos que Aristóteles nos oferece para ilustrar suas análises:

Argumento [A]3

1. “Dobro” quer dizer a mesma coisa que “dobro da metade”; 2. O dobro1édobro2 da metade;

∴O dobro1é dobro3da metade | da metade

∴O dobro1é dobro4da metade | da metade | da metade ; ∴ …

Argumento [B]4

1. LO apetite1

(

™piqum…a

)

é apetite2do agradável; 2. O apetitte1é o desejo

(

Ôrexij) do agradável; ∴O apetite1é um desejodo agradável | do agradável.

3 SE 13, 173a34-38: “e„ mhd"n diafšrei tÕ Ônoma À tÕn lÒgon e„pe‹n, dipl£sion d¾ kaˆ dipl£sion ¹m…seoj taÙtÒ: e„ ¥ra ™stˆ dipl£sion ¹m…seoj dipl£sion, œstai ¹m…seoj ¹m…seoj dipl£sion. kaˆ p£lin ¨n ¢ntˆ toà dipl£sion dipl£sion ¹m…seoj teqÍ, trˆj œstai e„rhmšnon, ¹m…seoj ¹m…seoj ¹m…seoj dipl£sion”.

4 173a38-40: “«r£ ™stin ¹ ™piqum…a ¹dšoj; toàto d' ™stˆn Ôrexij ¹dšoj: œstin ¥ra ¹ ™piqum…a Ôrexij ¹dšoj ¹dšoj”.

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Estes dois argumentos supõem uma série importante de dessemelhanças. Enquanto o argumento [A] leva diretamente a um regresso ao infinito, o argu-mento [B] não o faz. No mesmo sentido, [A] comporta uma premissa digamos “semântica” [A.1], que não está presente em [B]. Este último serve-se de um terceiro termo (o desejo, (Ôrexij)), enquanto em [A] há somente dois termos (“dobro” e “metade”). Já que sabemos que o desejo é o gênero do apetite, podemos supor que a premissa [B.2] seja em algum sentido uma premissa definicional; é inútil, porém, procurar por um tal tipo de premissa em [A].

Estas dessemelhanças não podem nos esconder, contudo, certos traços comuns importantes. Primeiramente, nos dois casos há premissas não definicionais, mas, para propor desde agora um nome, “circunscriptivas”. Nem [A.2] nem [B.1] podem aspirar a serem definições, pois o termo definido não pode comparecer em uma fórmula deste tipo. Cada uma determina, porém, um sujeito; elas precisamente circunscrevem um outro termo com o qual têm ligação: não há dobro, se não houver uma dada metade; não há apetite, se não houver um objeto agradável ao qual tende.

Em segundo lugar, as conclusões dos dois argumentos supõem substituir, nas premissas circunscriptivas, a segunda ocorrência do termo circunscrito (“dobro2”e “apetite2”, respectivamente) por uma fórmula. Em [B], esta fórmula é

a pretensa definição do apetite (‘o desejo do agradável”) e é justamente este caráter definicional que parece autorizar esta substituição. Em [A], porém, é antes a premissa que denominamos de “semântica” que, em princípio, permitiria esta operação.

Em terceiro lugar, e finalmente, a substituição de “dobro2” e de “apetite2” só

é possível, nos dois casos, ao se isolar estes dois termos em seu contexto original. Dito de outro modo, nos dois casos se supõe que as fórmulas como “dobro da metade” e “apetite do agradável” não constituem sintagmas completos, mas admitem uma análise e que cada uma das partes resultantes tem um sentido independente.

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Se compreendo bem, o exame aristotélico destes argumentos o levará ini-cialmente a recusar a pertinência deste tipo de análise, para em seguida estabelecer, correlativamente, a impossibilidade de substituir o nome por uma fórmula.

§5 Para obter estes dois resultados, o primeiro passo de Aristóteles consiste em caracterizar os termos que admitem fórmulas circunscriptivas como as que intervêm nos dois exemplos acima. “Todos estes argumentos”, nos diz o filósofo, “resultam dos termos relativos (t¦ prÒj ti) dos quais não somente os gêneros, mas também eles próprios são ditos em relação a algo outro e dos quais se dá conta (¢pod…dotai) em relação a uma só e mesma coisa” (SE 13, 173b1-5). Esta caracterização é extremamente precisa. Se se a leva em conta, termos como “dobro” e “apetite” fazem parte de uma classe geral, a dos relativos, mas não constituem elementos quaisquer nesta classe. Seus gêneros, bem como eles próprios, devem, com efeito, satisfazer duas exigências para dar lugar ao psitacismo:

1. Devem ser relativos;

2. Devem caracterizar-se em relação a uma só coisa (isto é, não em relação a duas ou três coisas).

Destas duas exigências, a que inicialmente causa mais problemas é de longe a primeira. Ela deixa entender que haveria termos que poderiam ser qualificados de “relativos” sem que eles próprios o sejam. Esta aparente contradição, porém, é bem explicada em textos como os Tópicos e as Categorias. Limitando-se a este último tratado, o capítulo 8 oferece uma explicação lingüística que é bastante convincente.

Há, com efeito, segundo estas linhas, relativos que não são relativos propriamente, mas que pertencem a gêneros que são eles próprios relativos. O exemplo padrão (que se encontrará no capítulo 31 das SE) é o do conhecimento em geral, gênero de todas as espécies de conhecimento particulares. Enquanto para o primeiro o caráter relativo está garantido, de um ponto de vista lingüístico, pelo fato de ele admitir e exigir mesmo uma construção com genitivo, como “conhecimento de algo”, é, segundo Aristóteles, impossível dizer, a respeito da

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gramática, por exemplo, “gramática de algo”. Ora, se se deve definir este conhecimento particular que é a gramática, será porém preciso fazer apelo a uma fórmula que mencione seu gênero e que especifique ao mesmo tempo seu objeto próprio (“ciência das letras”por exemplo).

Ao afirmar que os relativos que causam o psitacismo são somente os que não somente pertencem a gêneros relativos, mas são também eles próprios relativos, Aristóteles está de fato descartando o que nas Categorias ele chama de t¦ kat¦ tÕ genÒj prÒj ti, como a gramática. Se “dobro” e “apetite” podem causar-nos falar como papagaios, é porque portanto eles admitem e exigem construções com genitivo como “dobro da metade” e “apetite do agradável”.

Esta interpretação confirma-se ao voltar-se aos exemplos. Afirmei faz pouco que, nestas duas ilustrações, a conclusão resultava de uma operação de substituição que era solidária de uma análise. Estes dois procedimentos ocorriam no interior de um enunciado que, para distingui-lo das definições, chamei de “circunscriptivo”. É possível agora precisar um pouco mais a natureza de um tal enunciado. Trata-se, com efeito, de uma frase que torna explícito o correlato de um dado relativo, de uma frase cujo predicado consiste precisamente na construção com genitivo, que termos como “dobro” ou “apetite” não somente admitem como exigem. Se se tratasse de termos que, como “gramática”, não admitem esta construção, não haveria então enunciado circunscriptivo; mas, sem ele, não teríamos onde realizar a análise e a substituição que ocasionaram a verbosidade dos papagaios

§6 O que se passa com a segunda exigência? Por que deve-se tratar de termos relativos “cujos [gêneros não somente, mas também eles próprios] são caracte-rizados em relação a uma e mesma coisa”? De um ponto de vista argumentativo, esta exigência parece justificar-se sem nenhum problema. Seria impossível, com efeito, produzir conclusões como “o dobro é o dobro da metade da metade” ou como “o apetite é o desejo do agradável do agradável” se os enunciados circunscriptivos, no interior dos quais a análise e a substituição ocorrem, já não comportassem as expressões “da metade” e “do agradável”.

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Vimos, no entanto, que, no tocante à substituição, estes dois exemplos supõem uma diferença importante. Enquanto, no primeiro caso, o termo “do-bro” é substituído pela fórmula com genitivo “dobro da metade”, no segundo, é a fórmula definicional “desejo do agradável” que toma o lugar de “apetite”. Se esta exigência, portanto, estabelece (como penso) que não é somente o termo relativo, mas também seu gênero que deve ser relacionado a uma e mesma coisa, imagino que Aristóteles estava pensando, em particular, a este tipo de caso. Se o gênero “desejo” e sua espécie “apetite” não supusessem uma fórmula com geni-tivo que comporta o mesmo complemento, “do agradável”, eles não poderiam ocasionar neste caso o psitacismo.

§7 O primeiro passo no estudo aristotélico da gritaria dos papagaios consiste portanto em situar, no interior dos relativos, uma classe que, por suas características próprias e após a análise e substituição solidária, posa provocar o fenômeno. O segundo passo irá supor negar toda pertinência, no caso dos relativos kaq' aØt£(como são denominados nos Tópicos e na Metafísica)5, à análise

da fórmula com genitivo que, por definição, admitem e exigem. É pelo menos assim que compreendo a regra prática, o conselho dado a quem responde, que abre o capítulo 31 das SE :

No que concerne <aos argumentos> que fazem dizer várias vezes a mesma coisa, é claro que não se deve conceder que as atribuições (t¦j kathgor…aj) dos relativos isolados signifiquem algo por elas próprias, por exemplo que “dobro” <signifique> algo independentemente de “dobro da metade” – porque comparece <nesta for-mula> (Óti ™mfa…netai) [181b25-28].

O conselho prático supõe afirmar que uma premissa como “A é B” não deve em princípio ser concedida se o predicado “B” for na verdade um relativo kaq' aØtÒ, isto é, se a forma completa deste predicado for uma fórmula com genitivo do tipo “B de C”. O conselho, além do mais, oferece uma justificação para esta recusa. Se a forma completa du predicado for “B de C”, “B” por ele

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próprio, isolado de seu contexto, não significa nada. O conselho, finalmente, apresenta uma má razão que tentaria invalidar, inutilmente, esta justificação. Argumentar que “B” significa algo por si próprio , simplesmente porque aparece na fórmula “B de C”, é inútil.

Se a apresentação que acabo de propor está correta, penso que a regra prática está de fato fundada em uma consideração geral que estabelece a impossibilidade de análise de fórmulas como “B de C”. Sustentar que “dobro” não possui nenhuma significação por si próprio consiste de fato a afirmar isso. As linhas seguintes vão igualmente insistir em tal impossibilidade. O Estagirita desenvolve um tipo de analogia entre os predicados do tipo “B de C” e outros predicados, também compostos, mas que não são fórmulas com genitivo. Se se tira, por exemplo, de uma proposição como “9 = 10 – 1” algo como “9 = 10”, cometer-se-ia um erro evidente. E seria um erro, mesmo se “10” faz parte do predicado “10 – 1”. De modo semelhante, não é porque “toda afirmação está incluída na negação” que se pode supor que “se alguém diz que isto não é branco, ele afirma que é branco”. A lição que Aristóteles quer evidentemente que tiremos desta analogia é que as condições materiais (a simples justaposição de duas palavras) estão longe de estabelecer as condições de análise.

§8 Penso que podemos concordar com Aristóteles sobre este ponto. O problema é que, para estabelecê-lo no momento em que dá o conselho prático a quem responde, ele se apóia em uma premissa extremamente forte, senão falsa. Se um predicado do tipo “B de C” era inanalisável, era porque “B” não significava nada em si mesmo. “Dobro” não significava estritamente nada fora de “dobro da metade”. A seção final do estudo dos relativos kaq' aØt£ irá, porém, matizar convenientemente esta premissa. Cito-a:

Sem dúvida “dobro” não significa nada, assim como “metade”; mas se tiver também uma significação, não será a mesma que tem quando está em combinação – o conhecimento específico (a medicina, por exemplo) também não é de mesma natureza que o conhecimento geral, pois este último é o conhecimento do cognos-cível [181b32-25].

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A premissa forte, e certamente falsa, pode assim tornar-se uma disjunção, com mais conteúdo de verdade: um predicado como “B de C” é inanalisável seja porque “B”não possui por si próprio nenhuma significação, seja porque tem uma, mas se trata de uma significação diferente da que ocorre na construção completa “B de C”. Dito de outro modo, se “dobro” não admite nem exige o complemento no genitivo “da metade”, não se trata do múltiplo que nos fez falar tanto; é talvez a terceira pessoa do indicativo do verbo “dobrar”, mas, em todo caso, não é o relativo kaq' aØtÒque provoca o psitacismo. O exemplo proposto por Aristóteles sugere, todavia, algo ainda mais preciso: se tiver um significação por si próprio, o relativo kaq' aØtÒ pode então tornar-se um relativo kat¦ tÕ gšnoj; o conhecimento, como vimos, não tem a mesma natureza que um conhe-cimento. Esta sugestãotalvez seja útil, mas, em todo caso, não parece impor-se. §9 No que concerne aos relativos kaq' aØt£ (o primeiro tipo dos termos que, segundo o filósofo, provocam o psitacismo), o exame de Aristóteles busca, me parece, invalidar a possibilidade de análise das fórmulas que servem a circuns-crevê-los. Ora, se tal análise não é viável, se o isolamento de um dos termos da fórmula com genitivo não é exeqüível, a substituição, que lhe é solidária, tampouco o será. E, sem esta substituição, não teremos mais a possibilidade de fazer nossos adversários falarem como papagaios.

§10 Antes de abordar o segundo tipo de termos que provocam o psitacismo, gostaria de começar a responder às questões que ficaram abertas no início. Perguntei-me, com efeito, como era necessário compreender esta fórmula autêntica de psitacismo que, segundo o filósofo, era praticado pelos amigos da vitória; perguntei-me, em seguida, sobre as conseqüências da posição desta forma autêntica: implicava ela que o psitacismo, como tal, fosse considerado como um fenômeno não problemático? Até aqui, a única resposta a esta última questão foi negativa. Se Aristóteles busca mostrar que o fenômeno ocorre por uma análise e uma substituição incorretas, já se pode pelo menos dizer que o resultado destas duas operações é ele também incorreto. Veremos, contudo, mais adiante, que o

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filósofo não considera que o caráter problemático do psitacismo provenha somente do fato que supõe repetição de palavras. Será preciso distinguir entre psitacismo e o que, para resumir, chamarei de “repetição”, isto é, formas benignas e não redundantes de iteração das palavras de um enunciado.

No que concerne à primeira questão, o fim do capítulo 13 nos traz, por contraste, elementos suficientes para dar uma resposta pelo menos parcial. Se digo “por contraste”, é porque Aristóteles busca, nestas linhas, caracterizar não o psitacismo real, mas o psitacismo aparente. Se digo “resposta parcial”, é porque esta caracterização concerne exclusivamente a argumentos baseados em relativos kaq' aØt£, e porque será preciso fazer ainda a mesma questão ao examinar o outro tipo de termos que provocam o fenômeno. Segundo o Estagirita (173b12-16), “os que parecem produzir <a verborréia inútil>, sem realmente o fazer”, esquecem de fazer duas questões suplementares:

1. Se “dobro” significa algo por si próprio ou se não significa nada; 2. E se significa algo por si próprio, se se trata da mesma significação ou de

uma significação diferente da que tem em combinação.

Esquecem-se, portanto, de fazer estas questões e, sem se preocuparem, tiram diretamente a conclusão. Reconhecemos sem dificuldade nestas duas questões suplementares a disjuntiva, com um certo conteúdo de verdade, de que nos ocupávamos faz pouco. Seu fim consiste em validar dialeticamente a análise da fórmula circunscriptiva: se quem responde concedeu que “dobro” significa por si próprio algo (mesmo se objetivamente isto está errado) e se concedeu, ainda, que esta significação é idêntica à que tem na fórmula “dobro da metade” (mesmo se não é o caso), quem questiona tem então direito de tirar a conclusão que o fará falar como um papagaio.

São, portanto, razões puramente dialógicas que nos permitem caracterizar, pelo menos em um caso, o psitacismo aparente e sua contraparte respeitável. A dialética em Aristóteles, lembremos, não tem em vista a verdade. Não menos constitui, porém, uma disciplina, um jogo, se se quiser, bem constituído, que supõe portanto regras bem precisas. Entre estas regras, poder-se-ia exprimir uma das mais gerais e fundamentais do modo seguinte: “conte somente como

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premissa de um argumento a resposta positiva a uma questão dada”. Enquanto regra geral, vale para quem questiona e para quem responde. O primeiro deve construir seu argumento respeitando-a; o segundo deve aceitar, se fair-play, que a conclusão inevitável ocorra se não prestou atenção suficiente às premissas que ele próprio previamente validou.

3. Os acidentes per se

§11 Os relativos kaq' aØt£não são o único tipo de termo que provoca o psita-cismo. Servindo-se de uma frase particularmente difícil, o Estagirita caracteriza, com efeito, no capítulo 13 das SE, um segundo conjunto de termos. Permitam-me apresentar mais que uma tradução, uma decomposição desta frase (173b5-8)6. Os argumentos que fazem falar como papagaios servem-se também:

− De predicados que não são relativos em absoluto (Óswn…oÙk Ôntwn prÒj ti Ólwj... kathgoroumšnwn ™pˆ toÚtoij);

− Cuja substância (aquilo de que são disposições, afecções ou algo deste tipo), porém, está igualmente expressa em suas definições (…¹ oÙs…a… ïn e„sin ›xeij À p£qh ½ ti toioàton ™n tù lÒgJ aÙtîn prosdhloàtai…). No capítulo 31, a caracterização é bem mais sucinta, mas não supõe nenhum problema sintático ou gramatical. Aristóteles afirma simplesmente que estes termos são “predicados <de coisas> graças às quais eles próprios são exibidos (™n d" to‹j <toÚtwn> di' ïn dhloàtai kathgoroumšnoij, 181b35-7). Se compreendo bem, trata-se de um certo tipo de predicados, denotando propriedades que devem ser definidas fazendo necessariamente menção dos sujeitos aos quais eles pertencem. Não sou o primeiro a assinalar, penso que com razão, que os predicados que Aristóteles está caracterizando nestas linhas podem identificar-se a uma das espécies dos predicados per se, que ele define alhures. Acidentes per se, como são freqüentemente denominados, são examinados

6Enquanto Ross põe esta frase entre cruzes, Balme (1987:307) afirma: its a careful formulation which agrees with a similar statement at Met Z”. A verdade a respeito desta frase encontra-se certamente a meio caminho entre estas duas posições contraditórias e foi claramente expressa por Waitz (1844-46 : II 55).

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principalmente nos APost 73a37 e em uma passagem do livro Z da Metafísica (5, 1030b23 sqq.). Neste último texto, ainda, estes acidentes per se são expressamente postos em relação com o psitacismo. Alem do mais, esta passagem oferece, curiosamente (haja vista à obscuridade que domina em todo este tratado sobre a substância) a mais clara definição que conheço destes acidentes:

As coisas às quais pertencem o nome ou a definição daquilo de que são afecções e que não é possível exprimir separadamente.

Como, porém, provocam eles o psitacismo?

§12 A difícil frase das SE 13 é exemplificada por estes dois casos: Argumento [C]7

1. O ímpar é um número que possui um termo médio; 2. Existe um número ímpar;

∴ Existe portanto um número número que possui um termo médio. Argumento [D]8

1. O achatado é a concavidade do nariz; 2. Existe um nariz achatado;

∴ Existe portanto um nariz nariz côncavo.

Assim como nos exemplos precedentes, é possível encontrar aqui semelhanças e diferenças. Comecemos pelas primeiras:

(a) Todos os dois comportam premissas definicionais ([C.1] e [D.1]) ; (b) O que estas premissas buscam definir, nos dois casos, são propriedades

abstratas. Com efeito, não se trata de delimitar o que, na Metafísica, Aristóteles chamará de “compostos”, “nariz achatado” e “número ímpar”, mas o achatado e a imparidade;

7 173b8-9: “oŒon tÕ perittÕn ¢riqmÕj mšson œcwn: œsti d' ¢riqmÕj perittÒj: œstin ¥ra ¢riqmÕj ¢riqmÕj mšson œcwn”.

8 173b9-10: “kaˆ e„ tÕ simÕn koilÒthj ·inÒj ™stin, œsti d" ·ˆj sim», œstin ¥ra ·ˆj ·ˆj ko…lh”.

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(c) Nos dois argumentos, estas premissas definicionais são seguidas de uma outra premissa, que constata a existência de um item afetado pela propriedade definida ([C.2] e [D.2]) ;

(d) Nos dois casos, finalmente, a conclusão resulta da substituição, no interior desta premissa ‘constativa’, do nome da propriedade por sua definição.

Concedidas estas semelhanças, serão aceitos também os matizes seguintes (a) A definição do argumento [C] tem o ar de ser uma má definição da

imparidade. A imparidade não é, nem pode ser, um tipo de número; ela é a propriedade de certos números. A definição de [D], ao contrário, apresenta o achatado como uma propriedade de narizes. Parece assim ser uma boa definição de um acidente per se: faz menção do sujeito que a recebe, mas trata a propriedade definida como propriedade;

(b) Independentemente da correção da definição proposta em [C], a substituição que leva à conclusão não supõe nenhum problema. O ímpar, na premissa constativa, é, com efeito, substituído exatamente pela definição que quem responde aceitou (erradamente, mas isso não interessa agora), a saber, “número que tem um termo médio”. Em [D], ao contrário, esta substituição é muito problemática. Uma coisa é dizer “concavidade do nariz”; outra, “nariz côncavo”. Para tirar a conclusão, quem questiona deve, no entanto, apagar estas diferenças.

§13 Ao molde dos relativos kaq' aØt£, o exame de Aristóteles dos acidentes per se o levará a recusar a pertinência da substituição da qual resulta a conclusão “psitácista”. Para tanto, no entanto, ele desenvolverá duas estratégias diferentes das quais nenhuma supõe negar a possibilidade de análise de fórmulas como “nariz achatado” ou “número ímpar”. Destas duas estratégias, a mais simples para compreender e a que o filósofo apresenta por último. Começarei por ela. §14 O capítulo 31 das SE (182a3-5) termina com um conselho prático que visa a evitar, se compreendo bem, os problemas argumentativos dos pontos (e) e (f).

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“Não se deve conceder”, diz Aristóteles, “a expressão direta (t¾n lšxin kat' eÙqÚ), pois é um erro. O achatado, com efeito, não é um nariz côncavo, mas algo, por exemplo uma afecção do nariz, de modo que não há nenhum absurdo <em dizer> que o nariz achatado é um nariz com uma concavidade do nariz”. O que traduzo aqui por “expressão direta” é traduzido por outros, servindo-se de um vocabulário que não é aristotélico, por “expressão no nominativo”. Ora, abs-traindo este detalhe, estas versões visam a exprimir a mesma idéia: um acidente per se como o achatado deve ser definido, dadas suas características próprias, fazendo menção do sujeito do qual é uma propriedade, mas isso não quer dizer que este sujeito deva ou possa ser mencionado do modo como se exprime, em outros casos, o gênero. A dependência entre o acidente e seu sujeito se exprime de fato por uma fórmula com genitivo, fórmula que, porém, não é idêntica àquela que circunscrevia os kaq' aØt£(ela não aceita, por exemplo, a inversão).

O erro que Aristóteles põe aqui em evidência é, portanto, o mesmo que fazia com que a definição proposta no exemplo [C] fosse uma má definição. Ora, se nos perguntarmos agora por que é importante realçar este erro, por que se trata de um conselho útil a quem responde que quer evitar este tipo de conclusões, será preciso necessariamente apelar às razões que, no exemplo [D], tornavam difícil,a substituição do qual dependem. Se se concede, no lugar da fórmula com genitivo, a fórmula com nominativo aqui recusada, quem questiona pode livremente tirar a conclusão ‘psitácita’: a passagem de “nariz achatado” a “nariz nariz achatado” ocorre, com efeito, imediatamente, se o achatado for o nariz côncavo. Se o achatado, ao contrário, for definido como a concavidade do nariz, a substituição do acidente per se por sua definição dará lugar a uma fórmula em que o termo “nariz” ocorrerá inevitavelmente duas vezes, mas que não será em nada absurda: “nariz com uma concavidade do nariz”.

Este último ponto, expressamente assinalado por Aristóteles, traz à luz um fato que convém desde agora realçar, mesmo se voltarmos a ele mais tarde: não é a dupla menção de um termo no interior de uma fórmula ou de um enunciado que provoca a língua dos papagaios. Há, como aqui, duplas menções inevitáveis se, por conseguinte, inofensivas.

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§15 A outra estratégia, a difícil, encontra-se igualmente no capítulo 31, algumas linhas antes da que acabamos de examinar. Ela parece endereçada a quem caiu no erro denunciado acima – endereçada, portanto, a alguém que, respondendo, concedeu como definição do achatado algo como “nariz côncavo”. De modo geral, é claro que esta estratégia busca pôr em evidência que, mesmo neste caso, a substituição que leva, como no exemplo [D], de “existe um nariz achatado” a “existe um nariz nariz côncavo“ não é viável. É também claro que as razões sobre as quais Aristóteles funda esta impossibilidade consistem em afirmar que uma fórmula como “nariz achatado” não equivale a “nariz nariz côncavo”. O que é problemático, todavia, é o modo como o Estagirita logra negar esta equivalência.

O ponto de partida é novamente um conselho prático, que nos leva a pensar (erradamente, como veremos) na estratégia desenvolvida para impedir a análise das fórmulas circunscriptivas dos relativos. “No que concerne aos predicados <das coisas> graças às quais eles próprios são exibidos, é preciso dizer que o que é exibido (tÕ dhloÚmenon) não é o mesmo tomado isoladamente ou na fórmula” (181b35-7). A primeira questão que se deve fazer diante deste conselho é a de saber a que se refere a cláusula “o que é exibido”. Segundo o que segue, o que é exibido não é o próprio acidente per se (não é, portanto, o achatado), mas um dos termos através dos quais se pretendia defini-lo (no caso, “côncavo”, na pseudo definição “nariz côncavo”). O significado de “côncavo”, segundo o conselho, é sensível ao contexto: significa uma coisa quando está isolado e outra quando faz parte de uma fórmula. “Estar isolado” aqui parece querer dizer “ser atribuído a um dado sujeito”, “gerar proposições da forma ‘X é côncavo’”. Neste caso, segundo Aristóteles, a significação de “côncavo” é basicamente a mesma (191b37-9). Em particular, ao dizer “o nariz é côncavo” ou “a perna é côncava“, enuncia-se uma única propriedade do nariz e da perna, respectivamente. Ora, se no lugar desta apresentação atributiva e ‘separada’, “côncavo” aparece em fórmulas como “nariz côncavo” ou “perna côncava”, “nada impede”, nos diz Aristóteles, “que signifique coisas diferentes ... ora “achatado”, ora ‘torto’” (181b39-182a2). Dado isto, uma fórmula como “nariz côncavo” já significa, de início, “nariz achatado” – e, por conseguinte (e é a isso

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que, penso, Aristóteles quer chegar), “nariz achatado”, tomado como um todo, não pode ser substituído por algo como “nariz nariz côncavo”.

Não estou seguro que quem questiona, buscando fazer seu adversário falar como um papagaio, aceitaria facilmente estas razões como uma objeção. Não estou seguro, pois me parece que o cerne do argumento (o fato que “côncavo” como atributo possua uma significação diferente da que tem quando faz parte de uma fórmula) é falso. Convém insistir, contudo, que o interesse desta estratégia e ncon-tra-se no fato que, contrariamente ao que a maioria dos intérpretes pensou, não é uma simples variante da estratégia apresentada para evitar o psitacismo no caso dos relativos. Em nenhum momento Aristóteles trata a fórmula “nariz côncavo” como se fosse inanalisável; ele não pretende, por conseguinte, que “côncavo” exija uma construção qualquer; ele tampouco adota opiniões extremas (e evidentemente falsas) segundo as quais “côncavo”, em si mesmo, não significa nada.

§16 Concedida esta diferença entre os desenvolvimentos a respeito destes aci-dentes per se os dos relativos, deve-se igualmente conceder que a caracterização do psitacismo aparente e de sua contraparte positiva não podem ser idênticos nos dois casos. Se são novamente razões argumentativas que nos permitiriam precisá-los, seria preciso dizer, então, que, para que um argumento leve corretamente à língua dos papagaios, servindo-se de um acidente per se, quem responde deve ter concedido, antes de tudo, uma pseudo-definição do acidente em questão, uma fórmula na qual o sujeito afetado por ele compareceria como seu gênero. Se quem responde foi tão desprecavido para conceder uma tal premissa, ele poderia talvez procurar razões (como as que Aristóteles apresenta) para impedir a substituição desta definição pela ocorrência do acidente per se em uma premissa como “existe um nariz achatado”. Poderia, mas o pior em todo caso já ocorreu. Quem questiona, sendo fair-play, nem precisará fazer uma questão suplementar.

O tratamento do psitacismo que resulta dos acidentes per se mostra-nos novamente que se trata de um fenômeno problemático aos olhos de Aristóteles. Afinal, ele depende de uma má substituição na qual intervém uma definição in-correta. Ora, se quem responde comete uma falta ao conceder pseudo-definições

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como “o achatado é um nariz côncavo”, deveria, porém, conceder em princípio proposições como “o achatado é uma concavidade do nariz”. Se não o faz, porém, será obrigado a aceitar premissas como “o nariz achatado é um nariz com uma concavidade do nariz” – isto é, premissas que comportam a repetição de um dado termo, mas nas quais esta repetição não pode ser tida por problemática. A repetição, neste caso, é um fenômeno inevitável (pois resulta da natureza mesma de um termo como achatado) e, portanto, anódino. Quais são, porém, as regras que nos permitem distinguir entre estes dois casos?

§17 A regra mais explícita encontra-se em uma passagem do livro VI dos Tópico. Estas linhas apresentam uma série de problemas que não posso discutir aqui. Digamos somente que elas contradizem quase inteiramente o exame proposto pro Aristóteles, nas SE, para os relativos kaq' aØt£. Com efeito, fórmulas como “desejo do agradável” são tratadas como se fosse analisáveis. Diante desta contra-dição, é preciso tomar partido, e o meu consiste em dizer que os desenvolvi-mentos apresentados nos Tópicos, no que concerne ao tipo de termos, estão de fato errados. Aristóteles, com efeito, parece ter perdido de vista o caráter relativo de termos como “desejo” ou “agradável”, visto que os trata como predicados comparáveis a “bípede” ou a “animal”. Ora, feita abstração deste erro, Aristó-teles tira uma lição geral de toda esta passagem que não tem este mesmo caráter. Em 141a4-6, com efeito, Aristóteles sustenta que “não é o fato de emitir duas vezes o mesmo nome que é absurdo, mas predicar várias vezes a mesma coisa de um sujeito”.

Nesta lição opõem-se, de início, dois modos de conceber o material lin-güístico. O primeiro não supõe nenhuma consideração sobre as funções cumpri-das por estes materiais. O segundo, ao contrário, está dominado por uma consi-deração funcional, supõe estar pronto a identificar predicados e circunscrever, portanto, sujeitos. Nesta lição, em seguida, um mesmo fenômeno, a iteração, é considerada por meio destas duas perspectivas. A primeira não nos permite dizer nada a seu respeito. Não se pode julgar de sua pertinência nem de seu alcance. A perspectiva funcional, ao contrário, fornece-nos todos os elementos necessários

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para fazer um juízo. É ela, efetivamente, que nos permite distinguir entre a língua dos papagaios e a simples repetição. É ela, finalmente, que Aristóteles sem dúvida adotou em seus desenvolvimentos das SE.

4. A diferença e o ser

§18 Tinha prometido de falar sobre o ser. Porém, tinha anunciado que o caminho que tomaria seria, assim como o objetivo final, tortuoso e difícil. Antes de passar dos papagaios à metafísica, gostaria de dizer algumas palavras sobre uma noção que se encontra justamente a meio caminho entre a lógica e a ontologia: a noção de diferença.

§19 Todos sabemos que a diferença é uma das noções centrais do aparelho taxonômico aristotélico. Todos sabemos também que se trata de um dos elementos constitutivos de uma outra noção, bem mais complexa e discutida: a definição. Para obter uma definição, é necessário, com efeito, construir (segundo a doutrina clássica que se encontra formulada passim pelo corpus aristotélico) um predicado composto, integrando em princípio ao menos dois elementos diferentes, mas naturalmente complementares: o gênero e algo que em alguns textos o Estagirita chama de “e„dopoiÒj diafor£”. Ora, se a diferença me interessa aqui, mesmo que não fale diretamente da definição, é precisamente pelas relações que ela tem com o gênero. E estas relações me interessam, por sua vez, porque assemelham-se em muito aos que têm o sujeito recebedor e seu acidente per se9.

Esta semelhança deriva inicialmente do fato quer Aristóteles ilustra com freqüência as diferenças servindo-se de noções que ele expressamente qualificou de acidentes per se10. Assim, o par e o ímpar são exemplos padrão que ilustram

estas duas noções simultaneamente. A semelhança deriva também, contudo, de

9A relação entre os acidentes per se e as diferenças foi tematizada e defendida por Granger (1981). Ver, contra, Barnes (1994 : 114). No que segue, adotarei a posição de Granger, sem, contudo, adotar a perspectiva “evolucionista” que ele defende (1992).

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dois teses a respeito das relações entre a diferença e o gênero, teses que, no que segue, gostaria de enunciar e explicar sumariamente.

§20A primeira tese é explicitamente apresentada no livro VI dos Tópicos, no qual ela justifica um topos que reencontramos também, sob a forma de teste de homonímia, em Top. I 15 e, sob a forma de regra, em uma passagem das Categorias. Para ser sucinto, chamarei [a]esta primeira tese, que consiste em dizer:

[

a] Toda diferença introduz (™pifšrei) seu próprio gênero (Top. VI 6, 144b16-17)11.

O verbo, não muito freqüente nos contextos lógicos, através do qual Aristóteles formula esta tese estabelece uma relação de dependência entre o gene-ro e a espécie. Esta dependência manifesta-se também no fato que o Estagirita fala explicitamente do gênero próprio de uma dada espécie. A dependência supõe, por exemplo, que não se possa pôr como diferença dos gêneros “ciência” e “animal”algo como “bípede”, pois, ao fazê-lo, se deveria então aceitar seja que existe uma relação de subordinação entre estes dois gêneros (Top. VI 6, 144b12-16 ; Cat. 4, 1b144b12-16-24), seja que existe um terceiro gênero superior que possa subsumi-los (Top. VI 6, 144b20-30), seja, finalmente, que “bípede” é, de fato, um termo homônimo (Top. I 15, 107b19-20).

Aristóteles não diz em nenhum lugar que o acidente per se introduz seu su-jeito, mas penso que o uso de exemplos comuns nos permite pensar que a relação de dependência que existe também nestes casos é similar, ainda que não idêntica, à que acabamos de examinar. Dizer que o ímpar e o par são inseparáveis dos nu-meros, que podem instanciar-sesomente nos números, equivale, penso, a susten-tar que o gênero próprio das diferenças “ímpar” e “par” é o gênero “número”. §21 A segunda tese é negativa. Ela constitui de fato uma interdição predicativa que consiste em afirmar que:

[

b] O gênero não se predica <essencialmente> de sua diferença.

(21)

Não há nada nesta tese que, à primeira vista, possa dar apoio ao que quero defender aqui. Porém, se minha interpretação da tese [a] é concedida, será preciso também conceder-me que esta última interdição predicativa deve ser matizada. Se a dependência entre o gênero e a diferençapode ser interpretada como supus ao apresentar [a], esta interdição não pode implicar que o gênero introduzido por uma dada diferença não possa ser mencionado em sua definição. Se o par, por exemplo, introduz os números (e isso quer dizer que não há par se não houver número), uma definiçãocorreta de par deveria então mencionar o termo “núme-ro”. Esta menção, contudo, não faria do par um tipo de número; ela não poderia ser interpretada como se a propriedade abstrata, a paridade, fosse ela própria um dos elementos do conjunto dos números.

Se me é concedida esta interpretação de [a], a interdição posta em [b] poderia então ser formulada copiando um dos conselhos práticos dados a quem responde em SE 31 : “se se propõe uma definição de uma diferença, jamais aceite que o gênero que ela introduz seja mencionado segundo a ‘expressão direta’, pois isto é um erro”. Nas SE, o fato de não seguir este conselho era pago de modo caro por quem responde, pois podia então ser levado a falar como um papagaio. Nos Tópicos VI 6, e era aqui que queria chegar, são as mesmas razões que vão justificar parcialmente a interdição posta em [b].

§22 O topos em questão (como todos os do capítulo 6 do livro VI) visa a pôr em evidência um erro que pode invalidar o conteúdo de uma proposição, suposta ser umadefinição. O topos busca portanto destruir (segundo o vocabulário dialético) uma proposição da forma:

(i) E é GD1

em que “E” representaa espécie definida, “G” seugênero e “D” a diferença. O modo proposto para fazer isso (nossa tese [b]) consiste em dizer que se, em uma tal proposição, ocorre que:

(ii) D1é GD2

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Para justificar sua proposta, Aristóteles invoca duas razões diferentes, que ilustra servindo-se de um exemplo padrão. Suponhamos que o gênero “animal” se predique essencialmente da diferença “bípede”, na definição “o homem é um animal bípede”. Neste caso (e aqui está a segunda razão, a respeito da qual não nos deteremos), o bípede seria ou uma espécie ou um indivíduo do gênero animal – o que naturalmente é absurdo (144b1-3). Ora, além disso (e aqui está a primeira razão, a que nos interessa), “si animal se predica de cada uma das diferenças, vários animais seriam predicados da espécie, pois as diferenças se predicam da espécie” (144a36-b1).

Contrariamente à segunda razão, esta justificação faz com as conseqüên-cias caiam não sobre a própria diferença, mas sobre a espécie. Ela concerne portanto diretamente à definição proposta, a definiçãoque se quer destruir, pois aí o definiendum era justamente a espécie. Estas conseqüências absurdas, por outro lado, são apresentadas através da fórmula “poll¦ zùa toà e„douj kathgoro‹to” que Waitz, em seu comentário da passagem (1844-46 : II, 500), assimila corretamente a “poll£kij tÕ zùon toà e„douj kathgoro‹to”12. Ora, como e por que Aristóteles

chega a este diagnóstico? Imagino que ele está pensando em uma substituição similar àquelas que, nas SE, levavam as psitacismo. Se, com efeito, na proposição “E é GD1”, se substitui “D1por suadefinição (ii) “D1é GD2”, se obterá :

(iii) E é GGD2 ;

ter-se-á então predicado ao menos duas vezes o gênero da espécie. Nas SE, todavia, tratava-se de pseudo-definições dos acidentes per se; aqui, ao contrário, Aristóteles não precisa insistir sobre isso: nossa proposição (ii) pode ser uma definição correta do termo “D1”; o problema é que, se este é o caso, “D1não

poderá jamais ser umadiferença dogênero “G”.

§23 Christopher Shields propôs recentemente uma interpretação diferente desta passagem. Segundo ele, quando Aristóteles apresenta a primeira razão para justificar a interdição posta em [b] (quando, portanto, ele afirma que “poll¦ zùa

12A leitura de Waitz foi adotada por quase todos os comentadores. A única voz que se elevou explicitamente contra ela foi a de Berti (2002).

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toà e„douj kathgoro‹to”), ele está na verdade sustentando que “animal” seria então um termo homônimo (1999 : 252). Com efeito, se fosse preciso aceitar uma proposição como “o bípede é um animal”, não se poderia então sustentar, em todo caso, que o termo “animal” possui neste caso o mesmo sentido que em uma proposição como “Callias é um animal”. E ainda, aceitando-se “o bípede é um animal”, se estaria “criando sentidos não padrão” do termo “animal” – se estaria, portanto, tornando ambíguo o termo, mesmo se ele de fato não o é.

Pode-se concordar com Shields sobre este diagnóstico, sem por isso aceitar que se trata do ponto que Aristóteles quer tornar evidente nesta passagem. O topos, se o compreendo bem, não quer mostrar quais conseqüências absurdas que se seguiriam para o gênero, se fosse predicado da diferença. Ele quer antes mostrar, ao menos no que concerne à justificação de 144a36, quais seriam as conseqüências absurdas que se seguiriam para as espécies (e, portanto, para a definiçãoque se está testando). Mais geralmente, o texto sugere claramente que as conseqüências absurdas provêm do psitacismo, sugestão que a paráfrase de Waitz (citada por Shields) torna ainda mais evidente. A questão que é então preciso fazer é se este fenômeno pode, neste contexto, ser assimilado à homonímia.

Havíamos encontrado, nas SE, pelo menos duas passagens nas quais Aristóteles põe em relação estas duas noções. A primeira dizia respeito aos relativos kaq' aØt£

– e, portanto, em princípio, não nos interessa aqui. De todo modo, penso

que não autorizaria uma tal assimilação, pois a ambigüidade (a ambigüidade imaginada, talvez) de termos como “dobro” era aí apresentada como uma condição do psitacismo e não como seu equivalente. A segunda passagem dizia respeito aos acidentes per se – e, portanto, se fui convincente até aqui, nos interessa. Nestas linhas, Aristóteles defendia, todavia, posições totalmente insustentáveis. Ele sustentava, lembremos, que “côncavo” tinha uma significação em uma construção como “o nariz é côncavo” e uma outra na fórmula “nariz côncavo”. Minha leitura geral da passagem era que se tratava de um esforço desesperado para salvar quem respondia, que, de todo modo, já estava derrotado. Esta passagem também não dá apoio à assimilação da homonímia e do psitacismo, e se pode mesmo questionar se ela apóia uma relação qualquer entre estas duas noções.

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§24 Se o topos que acabamos de examinar interessa a Shields (e se, ao menos parcialmente, interessa também a mim), é porque se trata da única passagem na qual Aristóteles explica a interdição posta em [g]. E esta interdição nos interessa a nós dois porque reaparece em um contexto mais importante. Ela constitui, com efeito, um dos pilares de um argumento que visa a provar uma das teses que mencionei no início, uma destas teses que se toma habitualmente como a mais pura ortodoxia do aristotelismo. Refiro-me ao famoso dictum “o ser não é um gênero” e à prova que Aristóteles oferece dele em Met. B 3.

§25 Vou concentrar minha atenção na prova, deixando de lado seu contexto mais amplo. Segundo Aristóteles:

nem o ser nem o um podem constituir um gênero único de seres, pois é necessário que cada diferença de cada gênero exista e seja uma, mas é impossível (1) que as espécies do gênero se prediquem de suas próprias diferenças e (2) que ogênero se predique <de suas diferenças> na ausência de suas espécies. Por conseguinte, se o um ou o sersão gêneros, não haverá nenhuma diferença nem do ser nem do um.13

O argumento, formalmente, é uma dupla redução ao absurdo. Nossa interdição [g] constitui de fato uma das duas conseqüências inaceitáveis, a que distingui na tradução com o número (2). Existe, todavia, uma diferença entre a formulação original de [g] e a que encontramos aqui, a saber, a presença da for-mula “¥neu tîn aÙtoà e„dîn”, traduzida aqui por “na ausência de suas espécies”. Considero, todavia (assim como Shields e muitos outros comentadores, aliás), que se trata aqui de um detalhe que não deve inquietar-nos.

A fórmula serve em primeiro lugar a matizar a interdição. Este matiz parece consistir no seguinte: enquanto uma proposição como “o bípede é um animal” é incorreta, uma outra proposição como “o homem-bípede é um animal” em princípio não tem problemas. Por que? Se, aos moldes de Top. VI 6, se toma

13 998b22-27: “oÙc oŒÒn te d" tîn Ôntwn ›n eCnai gšnoj oÜte tÕ ›n oÜte tÕ Ôn: ¢n£gkh m"n g¦r t¦j diafor¦j ˜k£stou gšnouj kaˆ eCnai kaˆ m…an eCnai ˜k£sthn, ¢dÚnaton d" kathgore‹sqai À t¦ e‡dh toà gšnouj ™pˆ tîn o„ke…wn diaforîn À tÕ gšnoj ¥neu tîn aÙtoà e„dîn, ést' e‡per tÕ ›n gšnoj À tÕ Ôn, oÙdem…a diafor¦ oÜte ×n oÜte ›n œstai”.

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o “kathgore‹sqai” (através do qual também é formulada aqui a interdição) no sentido preciso de “predicar-se essencialmente”, de “fazer parte da definição”, penso que se pode compreender melhor o que Aristóteles quer pôr em realce. Em uma proposição como “o homem-bípede é um animal” (mesmo se o termo que tem aí a função de sujeito parece ter sido artificialmente criado), o predicado “animal” não se aplica diretamente a “bípede”; ele determina o ‘composto’ “animal-bípede” e, portanto, de início, o termo “homem” – e afirmar do homem-bípede, assim como do homem-branco ou negro, que ele pertence ao gênero “animal” é, na verdade, uma obviedade. Ao contrário, em uma proposição como “o bípede é um animal”, este predicado estaria afirmado, sem mediação, de “bípede”, que designa aqui evidentemente a propriedade abstrata – e aqui, de obviedades se cai nos mesmos problemas que, em Top. VI 6, ocasionaram a interdição.

A fórmula “¥neu tîn aÙtoà e„dîn” serve, portanto, se a compreendo bem, para assegurar que o contexto no qual vale a interdição é um contexto definicional. Ao contrário de provocar problemas, ela assegura a pertinência da remissão a Top. VI 6.

§26 As duas reduções que constituem esta prova foram bem apresentadas por Shields (1999 : 249). Contento-me, remetendo-me a este estudo, a apresentar um outline simplificado e calcado no seu trabalho a respeito da segunda redução (a que faz apelo à nossa [b]).

[1] Suponhamos que o ser é um gênero;

[2] Ora, necessariamente toda diferença de um gênero existe;

[3] Necessariamente, portanto, as diferenças do gênero “ser” existem; [4] Se [3] é verdadeira, então o gênero “ser” será predicado, enquanto

gênero, de suas diferenças.

[5] = [b] Mas não é possível que um gênero se predique de suas diferenças na ausência de suas espécies;

[6] Por conseguinte, nem [3] nem [4] serão verdadeiras; [7] Por conseguinte, ou [1] ou [2] serão falsas;

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[8] [2] não é falsa ; [9] [1] é, portanto, falsa.

Como acabamos de ver, discordo da opinião de Shields quanto à justifi-cação de [b]. Para ele, a interdição baseia-se em um apelo à homonímia: se o gênero “ser” se predica de suas diferenças, então se tornará necessariamente ambíguo o termo “ser”. Para mim, ao contrário, a posição de Aristóteles consiste em dizer que, se se aceita que o ser seja um gênero, toda tentativa de definição de uma de suas espécies nos levará, de direito ou de fato, a falar como papagaios.

A importância desta diferença de leitura ficará manifesta ao se relacionar a tese que Aristóteles busca defender aqui com uma outra tese que também faz parte da ortodoxia aristotélica, a saber: “o ser se diz de muitos modos”. Ao aceitar a interpretação de Shields, é claro que Aristóteles não poderá sustentar simultaneamente estas duas teses. Afinal, a reductio que acabamos de examinar funcionaria somente se fosse assumido de início que é falso afirmar que o ser é homônimo. Em minha versão, ao contrário, e se me são concedidos os resultados de toda a primeira parte, estas duas teses não seriam de modo algum incompatíveis.

§27 Se eu segui um caminho tortuoso, é porque, naturalmente, creio que minha versão é boa. Devo, contudo, conceder ainda um ponto muito importante da argumentação geral de Shields, a saber, que as relações exatas entre estas duas teses ainda estão por serem precisadas. Penso, todavia, para voltar à retórica acadêmica com a qual comecei, que, se um platônico concedesse a tese de Met. B, ele teria boas razões para pensar que o ser não é uma propriedade unificada e homogênea. Creio também, finalmente, que, se ele tem boas razões para pensar isso, ele deveria ao menos suspeitar que o ser se diz de muitos modos.

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Referências

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