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A competência para julgamento dos crimes militares e as espécies de prisões no âmbito da justiça militar estadual : considerações a partir da Constituição Brasileira de 1988

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

RIVELINO ADÃO UBIRAJARA NACONECHNY

A COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DOS CRIMES MILITARES E AS ESPÉCIES DE PRISÕES NO ÂMBITO DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL -CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988

Três Passos (RS) 2012

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RIVELINO ADÃO UBIRAJARA NACONECHNY

A COMPETÊNCIA PARA JULGAMENTO DOS CRIMES MILITARES E AS ESPÉCIES DE PRISÕES NO ÂMBITO DA JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL:

CONSIDERAÇÕES A PARTIR DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCSJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Ester Eliana Hauser

Três Passos (RS) 2012

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Dedico este trabalho a todos que de uma forma ou outra me auxiliaram e ampararam-me durante estes anos da minha caminhada acadêmica.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, acima de tudo, pela vida, força, honra, saúde e coragem.

A minha orientadora, Professora Ester, tal e tal pela sua dedicação, assistência, sabedoria e compreensão.

A minha querida esposa Carolina por ter partilhado os momentos mais difíceis, em que tive que conciliar a dura vida de estudante com a de policial militar ao mesmo tempo.

A todos aqueles colegas de serviço por terem cumprido minha escala de serviço quando precisei frequentar as aulas durante seis longos anos.

A todos que colaboraram de uma maneira ou outra durante a trajetória de construção deste trabalho, meu muito obrigado!

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“Treinamento duro, combate fácil.” Autor desconhecido.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise sobre a competência da Justiça Militar Estadual do Estado do Rio Grande do Sul frente aos crimes praticados por policiais militares e bombeiros militares. Discute brevemente a respeito da estrutura e organização desta justiça especializada, buscando distinguir os crimes militares próprios e impróprios. Nesse contexto, analisa os aspectos dominantes no tocante a investigação pré-processual e quanto ao processo penal militar na esfera estadual. Nessa perspectiva, tece algumas considerações acerca dos princípios penais e processuais penais oriundos da Constituição Federal de 1988, a partir da qual se traçou um novo paradigma em relação à interpretação do ordenamento jurídico penal castrense.

Palavras-Chave: Competência. Crimes Militares. Policial Militar. Justiça Militar Estadual. Prisões. Penas. Princípios Constitucionais.

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ABSTRACT

The present research monograph makes an analysis on the jurisdiction of military courts State of Rio Grande do Sul in the face of crimes committed by military police and military firefighters. Discusses briefly about the structure and organization of specialized justice, seeking to distinguish between proper and improper military crimes. In this context, analyzes the dominant aspects regarding the pre-trial investigation and the criminal proceedings military at the state level. From this perspective, presents some considerations about the criminal and criminal procedural principles from the Constitution of 1988, from which a new paradigm is outlined in relation to the interpretation of criminal law castrense.

Keywords: Competence. Military Crimes. Military Police. State Military Justice. Prisons. Feathers. Constitutional Principles.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 OS CRIMES MILITARES E A JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL ... 11

1.1 Estrutura e organização da justiça militar estadual ... 11

1.2 Crimes militares próprios e impróprios ... 15

1.3 A competência para julgamento dos crimes militares ... 19

1.3.1 Competência material ... 19

1.3.2 Competência funcional ... 27

2 O PROCEDIMENTO PARA APURAÇÃO DOS CRIMES MILITARES E AS PENAS APLICÁVEIS ... 29

2.1 A investigação e o processo penal militar ... 30

2.2 As penas aplicáveis aos crimes militares ... 39

2.3 As espécies de prisões processuais no âmbito da justiça militar estadual ... 47

3 A JUSTIÇA MILITAR E OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS PENAIS E PROCESSUAIS PENAIS ... 52

3.1 Princípios penais e processuais penais na Constituição Federal de 1988 ... 53

3.2 O impacto dos princípios constitucionais no âmbito da justiça militar estadual: considerações críticas ... 59

CONCLUSÃO ... 65

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INTRODUÇÃO

A presente pesquisa pretende abordar os aspectos legais quanto a competência da Justiça Militar Estadual do Estado do Rio Grande do Sul, para processamento e julgamento dos crimes praticados por policiais militares e bombeiros militares, pertencentes ao quadro de efetivo pessoal da Brigada Militar do referido Estado. Iniciará com o estudo da estrutura e organização desta justiça especializada, a qual é parte integrante do Poder Judiciário, passando então, ao estudo do que venha a ser crime militar próprio e impróprio e seus devidos procedimentos de cunho investigativo e processual criminal, culminando nas respectivas penalidades previstas em lei. A pesquisa também aborda os princípios penais e processuais penais expressos no texto da Constituição Brasileira de 1988, demonstrando que estes devem ser respeitados no âmbito da Justiça Penal Militar.

A partir de 1988, a Justiça Militar Estadual passou a ter sua competência de ordem material determinada pela Constituição Federal, sendo que, a partir dela, os crimes militares praticados contra civis passaram a ser julgados pelo juiz de direito do juízo militar, enquanto que os demais crimes continuaram a ser julgados pelos Conselhos de Justiça, uma espécie de colegiado formado por integrantes da própria força militar estadual.

Para melhor compreender a competência da Justiça Penal Militar faz-se necessário, preliminarmente, compreender o critério adotado para a definição do crime militar, qual seja, em razão da lei (ratione legis). Assim, somente será considerado ilícito de natureza militar aquele que estiver capitulado no Código Penal Militar, sendo propriamente militares àqueles delitos descritos exclusivamente naquele diploma legal e impropriamente militares aqueles que, além de descritos no Código Penal Militar, também estão capitulados na legislação penal comum, estando previstos, portanto, em duas legislações penais substantivas.

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10 Levando em consideração estas questões, a presente pesquisa tem como objetivo geral estudar o que dizem as fontes do direito a respeito da competência para apreciar os delitos cometidos pelos servidores militares estaduais e as possíveis prisões no âmbito da justiça militar estadual, tentando-se compreender em que medida o processo penal da caserna se adequa aos novos princípios constitucionais.

O trabalho ainda contempla objetivos mais específicos, tais como: a análise do procedimento de apuração dos crimes militares e suas penalidades sob o ponto de vista sancionatório e cautelar; a distinção entre as espécies de crimes militares; o impacto dos princípios penais e processuais penais consagrados no texto constitucional frente a legislação castrense, além, é claro, de discorrer sobre o funcionamento e a competência material e funcional dessa justiça especializada.

Para discutir a temática, no primeiro capítulo foram abordados os aspectos dominantes referente a estrutura e organização da justiça militar estadual e os crimes que lhe são atinentes, procurando se delimitar a competência para julgamento dos mesmos. Já no segundo capítulo, procurou-se tratar a amplitude do procedimento investigativo e processual com vistas às espécies de penalidades e de prisões na esfera militar estadual. Por fim, no terceiro capítulo buscou-se trazer a significância dos princípios penais e processuais penais presentes no texto constitucional a fim de integrá-los à legislação castrense com a conseqüente adequação legal deste ordenamento jurídico defasado e esquecido no tempo.

Para tanto, a pesquisa se utilizou da coleta de informações em fontes bibliográficas disponíveis em livros e na internet, explorando-se o objetivo proposto de modo a construir um referencial teórico a fim de ajudar na solução das hipóteses levantadas.

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11 1 OS CRIMES MILITARES E A JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

A Justiça Militar Estadual (JME) é um órgão do Poder Judiciário dos Estados da federação cuja competência é processar e julgar os integrantes das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros (competência ratione persone), forças auxiliares e reservas do Exército Brasileiro, nos crimes militares definidos em lei (competência ratione legis). Assim, a competência da JME assenta-se em requisito de ordem subjetiva, militar estadual, e requisito de índole objetiva, crime militar definido em lei, atendidos, em qualquer caso, as circunstâncias do art. 9° do CPM (Código Penal Militar).

Essa interpretação coaduna-se com o texto constitucional e demais legislações infraconstitucionais, sendo ponto chave para a distinção entre um crime de natureza militar e um crime de ordem comum com as suas respectivas responsabilidades e soluções frente ao caso concreto.

Em face da peculiaridade da Justiça Militar Estadual (JME), a mesma difere da justiça comum em certos aspectos, principalmente quanto à estrutura e organização, uma vez que é dividida em três circunscrições judiciárias no Estado do RS, onde o trâmite processual tem início nas auditorias podendo chegar até ao Egrégio Tribunal de Justiça Militar.

1.1 Estrutura e organização da justiça militar estadual

A justiça militar é um segmento do Poder Judiciário especial, com diferentes características e estrutura organizacional diversa da justiça comum. Apesar de ser muito criticada por alguns profissionais do direito, os quais, na grande maioria, jamais atuaram nesse ramo, a justiça militar baseia-se nos mesmos princípios constitucionais inerentes a qualquer outro órgão da justiça brasileira.

Ressalta-se que a justiça castrense possui como fundamentos básicos a legalidade e a imparcialidade, não abrindo margem à impunidade e para decisões corporativistas, pois o seu maior objetivo é processar e julgar os crimes militares denunciados pelo titular da ação penal, qual seja, o Ministério Público Estadual (art. 271 do Código de Organização Judiciária do Estado do Rio Grande do Sul), vez que o Ministério Público Militar atuará somente no âmbito da Justiça Militar da União.

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12 A Justiça Militar encontra-se prevista no art. 92, inciso VI, da Constituição Brasileira de 1988, segundo o qual: “São órgãos do Poder Judiciário, VI – Os Tribunais e juízes militares”, sendo dividida em Justiça Militar Estadual (JME), competente para o julgamento dos crimes previstos no Código Penal Militar, praticados por policiais militares estaduais e bombeiros militares; e Justiça Militar Federal (JMF) competente para julgar os crimes praticados por militares das Forças Armadas e por civis em determinadas ocasiões.

A Constituição prevê a possibilidade da criação da JME na seguinte hipótese:

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição.

§ 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.

Atualmente a JME existe nos Estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, nos quais o efetivo supera os vinte mil homens. No Estado gaúcho a Constituição Estadual organizou a sua justiça especializada da seguinte forma:

Art. 104 - A Justiça Militar, organizada com observância dos preceitos da Constituição Federal, terá como órgãos de primeiro grau os Conselhos de Justiça e como órgão de segundo grau o Tribunal Militar do Estado.

§ 1º - O Tribunal Militar do Estado compor-se-á de sete Juízes, sendo quatro militares e três civis, todos de investidura vitalícia.

§ 2º - A escolha dos Juízes militares será feita dentre coronéis da ativa, pertencentes ao Quadro de Oficiais de Polícia Militar, da Brigada Militar. § 4º - A estrutura dos órgãos da Justiça Militar, as atribuições de seus membros e a carreira de Juiz-Auditor serão estabelecidas na Lei de Organização Judiciária, de iniciativa do Tribunal de Justiça.

§ 5º - Os Juízes do Tribunal Militar do Estado terão vencimento, vantagens, direitos, garantias, prerrogativas e impedimentos iguais aos Desembargadores do Tribunal de Justiça.

Art. 105 - Compete à Justiça Militar Estadual processar e julgar os servidores militares estaduais nos crimes militares definidos em lei.

Dessa forma, em primeiro grau de jurisdição há os Conselhos de Justiça e o próprio juiz de direito atuando de forma monocrática (singular), e em segundo grau o Tribunal Militar do Estado. O Tribunal Militar do Estado também possui sua competência prevista na Constituição Estadual nos seguintes termos:

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13 Art. 106 - Compete ao Tribunal Militar do Estado, além das matérias definidas nesta Constituição, julgar os recursos dos Conselhos de Justiça Militar e ainda:

I - prover, na forma da lei, por ato do Presidente, os cargos de Juiz-Auditor e os dos servidores vinculados à Justiça Militar;

II - decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças, na forma da lei;

III - exercer outras atribuições definidas em lei.

O Código de Organização Judiciária do Rio Grande do Sul, estabelecido pela Lei Nº 7.356/80, dispõe, para fins de administração da Justiça Militar, que o território do RS dividir-se-á em três circunscrições judiciárias, localizadas em Porto Alegre (1ª e 2ª Auditorias), Passo Fundo e Santa Maria. Assim, em correspondência com a justiça comum, as Auditorias seriam as Varas distribuídas nas três circunscrições, estas, que poderiam ser equiparadas com as Comarcas.

Apesar de Porto Alegre possuir duas Auditorias, cada uma delas estrutura-se por um Conselho Permanente de Justiça, destinado a processar e julgar as praças da Brigada Militar (do Soldado ao 1º Sargento). O Conselho é composto por cinco membros: um Juiz de Direito (bacharel em direito e concursado), presidente do Conselho, um oficial superior e três oficiais, capitães ou tenentes, funcionando por três meses consecutivos. Importante salientar que os juízes militares são juízes de fato, não possuindo as prerrogativas inerentes ao magistrado togado de forma permanente.

Já em relação ao processo e julgamento dos oficiais (do 1º Tenente ao Coronel), haverá o Conselho Especial de Justiça, o qual forma-se para instruir cada processo, constituído por um Juiz de Direito, bacharel em direito nomeado após concurso público pelo Tribunal de Justiça Militar do Estado, e quatro oficiais superiores mais antigos que o acusado, sob a presidência daquele, sendo dissolvido após o término dos trabalhos.

Tal estrutura justifica-se pelo fato da carreira do oficial ser vitalícia, podendo este perder seu posto apenas por decisão do Tribunal Militar Estadual, ao contrário das praças, que possuem estabilidade somente ao completar cinco anos de efetivo serviço, podendo perder sua graduação, a depender do caso, por um procedimento administrativo assegurada a ampla defesa e o contraditório ou por julgamento perante a JME, como pena acessória do crime que a ela compete decidir. Parte da doutrina entende que a perda da graduação das praças

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14 restringe-se as condenações proferidas pela Justiça Militar em virtude da prática de crimes militares, não se aplicando na condenação aos crimes comuns. Aliás, sobre isso, já consolidou-se, no âmbito do Supremo Tribunal Federal o entendimento de que o art. 125, § 4º, da Constituição Federal não impede a perda do posto militar por meio de procedimento administrativo. Este é o teor da Súmula 673 do STF que determina que “O art. 125, § 4°, da CF, não impede a perda da graduação de militar mediante procedimento administrativo”.

A segunda instância da JME será o Tribunal Militar, existente apenas nos Estados em que o efetivo policial supera os vinte mil servidores, sendo que nos demais Estados a segunda instância será as Câmaras Especializadas junto aos Tribunais de Justiça de cada ente federado, ressaltando-se que nesses Estados somente há uma auditoria. Nos julgamentos do Tribunal funcionam um Procurador de Justiça, e os advogados indicados pelas partes, ou, no lugar destes, o Defensor Público, quando as partes não tiverem um advogado constituído. O Tribunal Militar com sede em Porto Alegre possui jurisdição em todo o território estadual, sendo constituído da seguinte maneira:

O Tribunal de Justiça Militar do Estado do Rio Grande do Sul é o órgão recursal da Justiça Militar estadual, sendo constituído por sete Juízes: quatro militares, oficiais combatentes do mais alto posto da Brigada Militar (coronéis), nomeados pelo Governador; três Juízes civis, todos bacharéis em direito, sendo um magistrado de carreira, promovido pelo Tribunal de Justiça Militar, um representante do Ministério Público e um representante da OAB, ambos nomeados pelo Governador, conforme art. 104, § 1º, 2º e 3º da CE/89. (JUSTIÇA..., [S.d.], p. 2).

Apesar do Superior Tribunal Militar (STM) possuir jurisdição em todo o país, o mesmo não possui competência para apreciar os delitos cometidos pelos servidores militares estaduais, uma vez que eles respondem perante o juízo castrense da unidade federativa à qual pertencem, atendidos os pressupostos do art. 9°, I e II do CPM.

Assim, as decisões deste tribunal superior são válidas às forças federais, pois o duplo grau de jurisdição da justiça militar estadual cinge-se ao TJM ou TJ, conforme o Estado, sendo que no RS os julgamentos em 2º grau são realizados em plenário, incumbido de:

Julgar originariamente os habeas corpus; julgar, em instância única, os processos oriundos de Conselhos de Justificação a que foram submetidos oficiais, desde que enviados pelo Poder Executivo; julgar os recursos interpostos das decisões e das sentenças proferidas pelo 1º grau, bem como

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15 os embargos opostos das decisões do próprio Tribunal; julgar as representações oferecidas pelo órgão do Ministério Público, nos casos de condenação acima de dois anos, decretando ou não a indignidade ou a incompatibilidade para oficialato, com a conseqüente perda do posto e da patente, ou a perda da graduação das praças, com a conseqüente decretação da exclusão das fileiras da Brigada Militar; julgar representações oferecidas pelo Corregedor-Geral da Justiça Militar do Estado, na hipótese de arquivamento de inquérito policial militar ou sindicância, sempre que aquele entender que há hipótese de deflagração da ação penal militar. (JUSTIÇA..., [S.d.], p. 3).

Em síntese, são órgãos da justiça militar de 1ª instância: o juiz de direito do juízo militar e os Conselhos Especial e Permanente de Justiça, sendo que a 2ª instância é exercida pelo TJM nos três Estados retro mencionados (SP, RS e MG) e nas demais unidades federativas, a 2ª instância é exercida pelo TJ, ambos, com a competência para julgar os recursos interpostos das decisões proferidas pelo juiz de direito do juízo militar, nos processos de sua competência singular, e pelos Conselhos de Justiça. Importante salientar que nos Estados onde o TJ é órgão de 2ª instância, a função de juiz de direito do juízo militar é exercida por um magistrado de carreira da Capital que exerce a titularidade da Auditoria Militar, como nos Estados do Maranhão e no Distrito Federal.

1.2 Crimes militares próprios e impróprios

Primeiramente, cabe definir crime como a lesão, ameaça ou perigo a um bem juridicamente protegido, em que certa conduta é descrita na lei como típica, antijurídica e culpável. E, para que seja enquadrada como crime militar deve se amoldar numa das situações descritas no art. 9º do CPM.

O Código Penal Militar, nos dois livros de sua Parte Especial, descreve os crimes militares, dividindo-os em crimes militares em tempo de paz e crimes militares em tempo de guerra. No Livro I encontram-se catalogados os crimes militares em tempo de paz, estando divididos em: crimes contra a segurança externa do país; crimes contra a autoridade ou disciplina militar; crimes contra o serviço militar e o dever militar; crimes contra a pessoa; crimes contra o patrimônio; crimes contra a administração militar e crimes contra a administração da justiça militar. No Livro II são descritos os crimes militares em tempo de guerra, que abrangem o favorecimento ao inimigo, os crimes de hostilidade e de ordem

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16 arbitrária, crimes contra a pessoa, crimes contra o patrimônio e os crimes de rapto e violência carnal.

O CPM dispõe que: “Art. 22. É considerado militar, para efeito da aplicação deste Código, qualquer pessoa que, em tempo de paz ou de guerra, seja incorporada às forças armadas, para nelas servir em posto, graduação, ou sujeição à disciplina militar”. É evidente que os integrantes das Forças Armadas sejam considerados militares federais, restando a CF/88 estender o termo militar aos policiais e bombeiros militares dos Estados. Assim, pode-se obpode-servar no pode-seu art. 42 que:

Os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituições organizadas com base na hierarquia e disciplina, são militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

§ 1º Aplicam-se aos militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios, além do que vier a ser fixado em lei, as disposições do art. 14, § 8º; do art. 40, § 9º; e do art. 142, §§ 2º e 3º, cabendo a lei estadual específica dispor sobre as matérias do art. 142, § 3º, inciso X, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos governadores.

De acordo com a definição legal e a previsão estatutária dos militares, sejam federais ou estaduais, não se considera militar para efeitos da lei penal castrense, os militares inativos, salvo os integrantes da reserva quando convocados para o serviço ativo nas hipóteses elencadas na lei, equiparando o inativo ao civil na conceituação do crime militar. Também, os servidores da Brigada Militar não são considerados militares para efeito de aplicação da lei penal castrense pela JMF, assim, respondem da mesma forma que o civil e o militar federal na inatividade, exceto, se estiverem incorporados às Forças Armadas.

A CF, em seu art. 124, dispõe que: “A Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.” Desse modo, o legislador optou pelo critério ratione legis, considerando crime militar todo aquele que a própria lei o define como tal. Assim:

Na classificação do crime militar sobressai o critério ratione legis, isto é, crime militar é o que a lei obviamente considera como tal. Não define, enumera. Não quer dizer que não haja cogitado dos critérios doutrinários ratione materiae, loci, persone ou ratione numeris. O fato ilícito deve encontrar-se definido na Parte Especial do CPM, caso contrário, o delito não será militar. Por exemplo, abuso de autoridade e tortura cometidos por militar em qualquer circunstância são crimes comuns, pela ausência de previsão na lei penal castrense. O legislador ordinário entendeu que os delitos citados, mesmo cometidos por militar em serviço, não atentam contra

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17 as instituições militares federais ou estaduais, segundo o caso. (LOBÃO, 2011, p. 28, grifo nosso).

Dessa forma, mesmo um crime de aborto cometido por um médico militar dentro de um hospital militar será processado e julgado perante a justiça comum, in casu, pelo Tribunal do Júri, justamente pelo fato desse crime não estar capitulado na lei penal castrense. Nesse sentido:

Em face do direito positivo brasileiro, definimos: crime militar é a infração penal prevista na lei penal militar que lesiona bens ou interesses vinculados à destinação constitucional das instituições militares, às suas atribuições legais, ao seu funcionamento, à sua própria existência, no aspecto particular da disciplina, da hierarquia, da proteção à autoridade militar, e ao serviço militar. (LOBÃO, 2011, p. 31).

Não há no Código Penal Militar uma classificação dos crimes em propriamente ou impropriamente militares, o que exigiu da doutrina a necessidade de construir essa diferenciação, uma vez que em outros textos legais, inclusive na Constituição Federal de 1988, menciona-se a figura do crime propriamente militar. Pode-se dizer, deste modo, que o art. 5º da CF trouxe em seu inciso LXI uma espécie de divisão implícita dos crimes militares, prevendo o tipo propriamente militar.

A doutrina e a jurisprudência são pacíficas no sentido de reconhecer a divisão dos crimes em propriamente militares e impropriamente militares, aqueles praticados unicamente por quem detém a qualidade militar, estes podendo ser praticados tanto por militar como por civil. Assim, os primeiros terão previsão tão somente no CPM sem correspondência na lei penal comum, específica do ocupante do cargo militar, e os segundos com disposição tanto no CPM quanto na legislação penal comum, os quais poderiam ser cometidos por qualquer pessoa. Referindo-se a tal distinção Fernandez (2010, p. 144) observa que:

Crime propriamente militar [...] é aquele ‘que só por militar poderia ser praticado, pois consiste na violação de deveres restritos, que lhe são próprios’, sendo identificado por dois elementos: a qualidade do agente (militar) e a natureza da conduta (prática funcional). São os crimes considerados impropriamente militares quando, apesar de ‘comuns em sua natureza, cuja prática é possível a qualquer cidadão (civil ou militar)’, passam a ser considerados militares porque praticados ‘por militar em certas condições. Enquadram-se, aí, também, os crimes militares praticados por civis.

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18 Uma exceção surge com o delito de insubmissão (art.183 CPM), uma vez que está previsto apenas no diploma castrense e só pode ser praticado por um civil quando vem a ausentar-se da incorporação às Forças Armadas, divergindo a doutrina na sua capitulação como sendo crime militar próprio ou impróprio, apesar desta última ser a posição predominante. Tal classificação dá a entender que:

Diante da dificuldade em definir o crime impropriamente militar, considerando suas múltiplas facetas, tentaremos defini-lo, em apertada síntese, em conformidade com a legislação penal castrense brasileira: crime impropriamente militar é a infração penal prevista no CPM que, não sendo “especifica e funcional da profissão de soldado”, lesiona bens e interesses militares relacionados com a destinação constitucional e legal das instituições castrenses, tendo como sujeito ativo o militar ou o civil. (LOBÃO, 2011, p.44).

Enfim, apesar de parecer irrelevante tal distinção, a mesma se faz necessária, pois, embora o civil possa praticar uma infração propriamente militar, a justiça militar não poderá apreciá-lo, tendo em vista o impedimento constitucional do art. 5º, LXI, só podendo responder na justiça castrense federal se o crime estiver transcrito em outra norma do CPM classificada como impropriamente militar ou em outra norma da lei penal comum:

Sinteticamente, pode-se conceituar os crimes propriamente militares ou crimes militares próprios como aqueles previstos somente no CPM e que exigem do agente a condição de militar. Nas palavras de Sílvio Teixeira Martins, são "aqueles cuja prática não seria possível senão por militar, porque essa qualidade do agente é essencial para que o fato delituoso se verifique". É o caso, por exemplo, dos crimes de deserção, motim, de violência contra superior, de violência contra inferior, de recusa de obediência, de abandono de posto, de conservação ilegal do comando etc. Vale lembrar que o crime de insubmissão, que só pode ser praticado por civil, mesmo que só previsto no código castrense, é uma exceção à regra. Os crimes impropriamente militares são aqueles previstos tanto no CPM quanto no Código Penal comum, que, comuns em sua natureza, podem ser praticados por qualquer cidadão, civil ou militar, mas que, quando praticados em certas condições, a lei os considera militares. Jorge César de Assis conceitua os crimes militares impróprios como aqueles que são definidos no CPM e no CP e que, por um artifício legal, tornam-se militares por se enquadrarem em uma das várias hipóteses do inc. II do art. 9º do diploma militar repressivo. (FORUM SEGURANÇA 2012).

Diante da significância dos termos, conclui-se que os crimes militares próprios somente serão praticados por aqueles que detêm a qualidade de militar, estando previstos apenas no CPM ou definidos de modo diverso da lei penal comum, como é o caso do

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19 desacato, deserção, embriaguez em serviço, abandono de posto, motim e revolta, entre outros. Já os crimes impropriamente militares serão as infrações cometidas tanto por civil como por militar, elencadas no CPM bem como no CP e legislação esparsa, como por exemplo, o roubo, homicídio, furto, lesão corporal, etc., necessitando que lhe sejam agregados uma nova circunstância, que passará a constituir verdadeira elementar do tipo.

1.3 A competência para julgamento dos crimes militares

Basicamente, a competência pode ser dividida em competência material e funcional, sendo que a primeira diz respeito à natureza do litígio, ou seja, à natureza da infração que constitui o objeto do processo, enquanto que a segunda, refere-se às atribuições dos órgãos judiciários que atuam no processo, isto é, trata das atribuições dos juízes para a prática de atos no mesmo processo.

1.3.1 Competência material

No que se refere a competência material é pacífico o entendimento de que o crime para ser considerado militar deva estar tipificado na parte especial do CPM e ao mesmo tempo adequado a uma das hipóteses circunstanciais do art. 9° da mesma lei. Neste caso a análise da competência torna-se mais simples diante do caso concreto, pois até mesmo a prática de contravenção penal pelo militar, mesmo que dentro de um quartel e contra outro militar, será considerado delito comum; da mesma forma acontece com a lesão corporal praticada por um militar, fora do ambiente do quartel e fora da situação de serviço, contra um civil.

O § 4° do art. 125 da CF/88 dispõe que:

§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.

§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.

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20 Portanto, cabe a JME julgar os crimes militares definidos em lei e as ações judiciais envolvendo atos disciplinares, não podendo julgar os crimes dolosos contra a vida quando a vítima for civil. Não obstante, caberá tão somente ao juiz de direito (antigo juiz auditor) julgar os crimes militares praticados contra civis, independente de posto ou graduação, e as ações judiciais de atos de natureza disciplinar, sendo que os demais crimes militares serão julgados pelo próprio Conselho de Justiça sob a presidência do juiz de direito.

À luz do art. 125, § 4º, da CF, é importante salientar que à Justiça Militar Estadual cabe apenas julgar os policiais militares e bombeiros militares, excluídos os civis, que somente poderão responder na esfera militar federal caso venham a incorrer numa das hipóteses elencadas no art. 9º do CPM. Portanto, o civil e o militar estadual da reserva não responderão mediante a JME, e caso venham a cometer crimes contra os militares da ativa ou contra os bens das instituições militares estaduais, os mesmos serão julgados pela justiça comum. Exceção muito particular ocorre no Estado do RS, onde a lei 10.297/94, dispõe que o militar da reserva ao fazer parte do Corpo Voluntário de Militares Inativos da BM (CVMI), reassume a condição de militar da ativa, logo, podendo responder pelos seus atos perante a JME. Assim:

Infere-se da anterior referência às regras constitucionais que, para a fixação da competência da Justiça Militar federal, basta o critério ratione matéria, ou seja, a ocorrência de crime militar. Mas, para a definição da competência da Justiça Militar estadual, além desse critério, é necessário outro, o critério ratione personae, a qualidade do agente, ou seja, militar (FERNANDES, 2010, p. 146).

Algumas situações peculiares merecem destaque, pois, na maioria das vezes, fundamentam-se em argumentos esparsos e jurisprudenciais carentes de raciocínio lógico. Dentre elas, a fuga do preso de um estabelecimento prisional civil tende a configurar crime comum, seja na modalidade dolosa ou culposa, pois além da Súmula 233 do TRF, afirmar que “compete à justiça comum estadual processar e julgar o PM por crime de promover ou facilitar fuga de preso de cadeia publica”, esse delito enquadra-se no art. 351 do CP, o qual é praticado contra a Administração Pública. Embora o tipo também esteja previsto no art.179 do CPM, é preciso que ocorra uma das hipóteses do art. 9º do mesmo diploma legal, sem o que não há crime militar. Agora, se o preso estiver sob a custódia ou sob a guarda do PM, a fuga de pessoa legalmente presa possivelmente poderá configurar crime militar. No entanto, o STF tem entendido de modo diverso, pois, ainda seria preciso que o lugar estivesse sujeito a

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21 administração policial militar. Desse modo, nem se discute a natureza militar da facilitação de fuga de uma cadeia típica da caserna.

O art. 9º do CPM trata dos crimes militares praticados em tempo de paz previstos no Livro I da Parte Especial do código, já os crimes militares em tempo de guerra constam do Livro II da Parte Especial. O art. 9º e seus incisos não conceituam o que sejam crimes militares, apenas especificam os critérios para sua classificação, isto é, prevê determinadas situações para que o sujeito ativo possa incorrer num delito dessa natureza. O referido diploma assim determina:

Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:

I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial;

II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:

a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado;

b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil; d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil;

e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar.

O inciso I abrange os crimes propriamente militares e refere-se aos delitos definidos exclusivamente no Código Penal Militar ou aqueles que, embora definidos na legislação penal comum, o são de forma diversa. Exemplo disso é o crime de desacato que tem definições distintas no Código Penal e no Código Penal Militar1. A expressão “qualquer que seja o agente”, constante neste inciso deve ser interpretada de forma restritiva, pois somente o militar pode ser autor desse dispositivo em face da vedação constitucional do art. 5º, LXI, excluindo o civil e o militar da reserva da condição de sujeito ativo desse tipo de crime,

1

O crime de desacato, previsto no artigo 331 do CP está redigido nos seguintes termos: “Desacatar funcionário público no exercício de sua função ou em razão dela”.

No CPM o delito de desacato está definido nos artigos 298, 299 e 300. O art. 298 define como desacato a conduta de quem “Desacatar superior, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, ou procurando deprimir-lhe a autoridade”. O artigo 299 do CPM descreve a conduta de “Desacatar militar no exercício de função de natureza militar ou em razão dela”; e o art. 300 “Desacatar assemelhado, ou funcionário civil no exercício da função ou em razão dela, em lugar sujeito a administração militar”.

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22 impossibilitando a autoridade da polícia judiciária militar de efetuar a prisão sem ordem judicial e sem o flagrante delito, hipóteses cabíveis apenas nos crimes próprios cometidos por militares da ativa.

O inciso II trata dos crimes impropriamente militares, podendo ser praticados tanto por integrantes da força militar, como por civil, neste último caso, tratando-se tão somente de crime de competência da Justiça Militar Federal. São exemplos o estupro (art. 213 do CP e 232 do CPM), o furto simples (art. 155 do CP e artigo 240 do CPM).

Cabe salientar, em relação ao inciso II, que a figura do assemelhado foi excluída da legislação castrense, o qual não era considerado militar, mas subordinado a disciplina da caserna. Hoje, se ainda houver esse tipo de servidor, ele estará sujeito às normas constantes na legislação própria dos servidores públicos civis no âmbito federal.

Enquadram-se, na previsão do inciso II, várias hipóteses. Um militar em atividade que cometer um crime contra outro militar da mesma situação, mais conhecida como um caso inter milites, incorrerá na prática de um ilícito de ordem militar, desde que sejam servidores pertencentes ao serviço ativo, não importando se estão de folga, de serviço, de férias, etc., o que importa é que ambos os sujeitos não estejam na inatividade, apesar de haver decisões em sentido contrário. Isso porque, levar ao pé da letra o que diz a lei poderia gerar erros e equívocos significativos, uma vez que a lesão ou ameaça, por exemplo, entre um casal de policiais possivelmente ensejaria nítido procedimento penal apurável pela Lei Maria da Penha, pois o interesse não tende a violar preceitos das instituições militares, mas pela proteção de gênero, inerente a qualquer mulher.

Situação bastante comum e controvertida é o caso de um militar federal praticar um crime contra um miliciano estadual. O Superior Tribunal Militar2 tem decidido ser crime militar, já o STJ3 diz ser crime comum, enquanto que o STF4(5) encontra-se dividido.

2 Rec. Crim. 007204-2/2004. “Conceito de militar constante do art. 22 do CPM, derrogado pela EC 18/1998,

integrante da Carta Política promulgada em 5 de outubro de 1988, concluindo-se que os membros das Polícias Militares e Corpos de Bombeiros são considerados militares para todos os efeitos e, por força do art. 6° do CPPM, submetem-se aos princípios da hierarquia e da disciplina consolidados na lei subjetiva castrense”.

3 CC 45804/RJ. STJ. Conflito de competência. Desacato, desobediência e resistência supostamente cometidos

por soldado do Exército Brasileiro fora de serviço contra policiais militares em serviço de patrulhamento ostensivo. Caracterizada a função de policial civil. Competência da Justiça Comum. RJ 2004/0110614-6. Julgado em 13/10/2004.

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23 Majoritariamente, considera-se crime comum, pois não afeta de modo direto a ordem e hierarquia militar, na maioria das vezes, trata-se do crime de desacato praticado por militar do Exército contra policiais militares em serviço, o que pouco tem haver com as instituições de cunho castrense, sendo plenamente admitida a lavratura de um termo circunstanciado para futura responsabilização pela esfera da justiça estadual comum.

Por outro lado, o policial militar é considerado civil em face da Justiça Militar Federal, podendo responder por crime militar em detrimento das Forças Armadas, não como militar, mas como qualquer paisano que venha a incorrer numa das hipóteses do art. 9º do CPM.

Será da competência da JME o crime praticado por PM da ativa, mesmo estando de folga, mas em lugar sob a administração militar contra outra pessoa que não seja militar da ativa, pois o sendo, será enquadrado no art. 9º, II, a, do CPM. Por exemplo, será crime militar o ilícito praticado pelo brigadiano dentro de seu quartel ou em qualquer outro lugar sujeito a jurisdição militar contra um civil ou servidor militar aposentado.

Independentemente de estar em lugar sob a jurisdição militar, o policial de serviço geralmente cometerá crime militar em face de outro cidadão, respondendo pela conduta delituosa que guarde relação com a sua função, mesmo estando de folga. Portanto, o PM que interfira em ocorrência policial cumprindo deveres profissionais, a exemplo de um flagrante, terá sua conduta enquadrada como crime de natureza militar, mesmo estando de folga, a paisana e usando arma particular. O entendimento é que o policial é policial 24h por dia. Ocorre que o PM possui o dever legal de prender quem quer que seja encontrado em flagrante 4

CC 7013/PE. STF. CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. Superior Tribunal Militar e Justiça Militar estadual de primeiro grau. Policiais militares, em serviço de policiamento, e membro das forças armadas que se envolveu em conflito de bar. Concurso de jurisdições especiais de mesma categoria. Cisão processual determinada pelo STM, que declinou, de oficio, em favor da Justiça Comum Estadual, da competência para julgar o militar do Exercito. Conflito suscitado para definição da competência para o processo e julgamento de soldado da Policia Militar. Cabe ao Supremo Tribunal Federal dirimir conflito de competência entre o Superior Tribunal Militar e Juiz Militar estadual de primeiro grau. Compete a Justiça Militar estadual processar e julgar policiais militares e bombeiros militares nos crimes militares definidos em lei. Aplicação do artigo 125, par. 4, CF. Precedentes do STF. Conflito negativo conhecido. Declarada competente a Justiça Militar do Estado de Pernambuco para processar e julgar os policiais militares. Julgado em 27/03/1994.

5

HC 83003/RS. STF. "HABEAS CORPUS" – Crime militar em sentido impróprio – Infração penal praticada por militar fora de serviço contra policial militar em situação de atividade – Incompetência da Justiça Militar – Pedido deferido. Os crimes de resistência, lesões corporais leves e desacato qualificam-se como delitos militares em sentido impróprio. Julgado em 15/08/2005.

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24 delito de acordo com o art. 301 CPP, corroborado pelo fato da segurança pública ser obrigação do Estado, exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio através das Polícias Militares, segundo dispõe o art. 144, § 5º da CF.

Já o militar federal como qualquer cidadão, pode prender quem estiver praticando um crime de natureza comum (art. 301 CPP). Por sua vez, o art. 243 CPPM atribui aos militares em geral, o dever de prisão exclusivamente em relação ao crime militar, especialmente a insubmissão e a deserção.

Também o militar da ativa incorrerá em crime de competência da justiça castrense caso atente contra o patrimônio da administração militar ou sob a ordem administrativa militar, por exemplo, o dano contra uma viatura ou produzido nas dependências do quartel; o furto de armamento e munição, até mesmo o furto cometido em caixa eletrônico localizado no interior do quartel, embora seja patrimônio de instituição financeira particular, constitui crime militar por violar a ordem administrativa militar (LOBÃO, 2011).

O terceiro inciso do art. 9º cuida dos crimes praticados contra as instituições militares, abrangendo, aí, os delitos dos inciso I (crimes propriamente militares) e do inciso II (crimes impropriamente militares.

Quanto aos militares inativos, o inciso III do art. 9° do CPM prevê que:

III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos: a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar;

b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo;

c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras;

d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior.

Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303

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25 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica.

Atendidos os requisitos do inc. III do art. 9° estão sujeitos apenas ao foro militar federal nos crimes contra as instituições militares definidos no CPM o civil e o militar da reserva, este último, evidentemente, quando não estiver convocado para o serviço ativo.

Tratando-se de justiça militar estadual, jamais o civil será processado e julgado por esse ramo especializado, nem mesmo o crime praticado por militar aposentado, seja da reserva ou reformado, poderá ser apreciado pela mesma, salvo se for convocado para o serviço ativo por ato da autoridade competente ou por disposição legal, sendo um dos poucos casos de o inativo ser julgado pela JME quando pertencer ao quadro de CVMI (Corpo Voluntário de Militares Inativos) previsto na lei 10.297/94, ou, for convocado para prestar serviço na ativa, como ser chamado para compor um Conselho de Justiça. Salienta-se que o militar reformado nunca será convocado para esse fim em virtude de determinada condição, geralmente devido à idade ou algum tipo de incapacidade física ou mental (LOBÃO, 2011).

Importante destacar que as normas relativas ao regramento institucional das transgressões disciplinares não atingem os militares inativos, não podendo ser responsabilizados por condutas consideradas infrações de cunho administrativo, salvo quanto a divulgação de segredos militares, de que trata a lei federal 7.524/86, tanto quanto a manifestação pública, pela imprensa ou por outro meio de divulgação, de críticas a assuntos que afetem a previsão estatutária relativa ao valor e a ética policial militar, naquilo que lhes for aplicável, conforme art. 2º, § 1º, do Dec. 43.245/04 (Regimento Disciplinar da Brigada Militar).

Portanto, as hipóteses do art. 9º, III, do CPM, aplicam-se somente no âmbito da JMF. Assim, o furto de um fuzil, a lesão contra um militar do Exército em prontidão, poderão ser considerados crimes militares. No caso de crimes culposos a jurisprudência dos Tribunais Superiores tem entendido que a maioria deles, a depender do caso, por exemplo, o atropelamento de um balizador do Exército em via pública, não atenta contra as instituições militares, sendo competência da justiça comum.

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26 Abrangendo o tema dos ilícitos praticados em veículos militares, a Súmula 6 do STJ prevê que compete a justiça comum estadual processar e julgar delito decorrente de acidente de trânsito envolvendo viatura de Polícia Militar, salvo se autor e vítima forem policiais militares em situação de atividade. Para Fernandes (2010, p. 150) tal solução é totalmente inadequada e é mais um exemplo em que a competência é fixada tendo como base a mera causalidade, pois “se dentro da viatura estão, além do policial condutor, um civil e um militar, a competência será da Justiça comum se apenas o civil se feriu, mas será da Justiça militar se que saiu lesionado foi o militar”.

Questão de suma importância é a relativa a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida praticados por policiais militares. A lei 9.299/96, em seu art. 1º acrescentou um parágrafo único ao art. 9º do CPM, determinando que “os crimes de que trata esse artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, serão da competência da Justiça comum”. Referindo-se, de forma crítica, a esta alteração Fernandes (2010, p. 150) acentua que:

O legislador não conseguiu expressar, de forma clara, sua intenção. O intuito, como se sabe, era transferir para a Justiça comum o processamento e julgamento dos crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil. Conforme visto, isso só poderia ser feito com a exclusão desses crimes do rol dos crimes militares. Com essa alteração, tais delitos passariam automaticamente a ser julgados pela justiça comum, tendo-se em vista que, segundo o art. 124, caput, e 125, parágrafo 4º, as Justiças Militares federal e estadual têm competência para processar e julgar crimes militares definidos em lei.

Ao atribuir, por meio de uma lei ordinária, a competência para julgamento dos crimes dolosos contra a vida de civil à Justiça comum, o legislador criou significativa discussão sobre a constitucionalidade do novo preceito, uma vez que este não poderia atribuir à Justiça Estadual comum competência para o julgamento dos crimes militares, pois a Constituição previa de modo diverso. Esta questão acabou resolvida com a Emenda Constitucional 45/2004 a partir da qual ficou expressamente fora da competência da Justiça Militar o julgamento de crimes dolosos contra a vida praticados contra civis.

É certo que os crimes dolosos contra a vida praticados por policiais militares serão da competência do Tribunal do Júri, assim como os praticados por militares das forças armadas. Duas exceções surgem quanto a estes últimos, a do art. 303 da lei 7565/86 (Código da

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27 Aeronáutica), quando o próprio diploma legal autoriza a destruição de aeronave considerada hostil no espaço aéreo brasileiro; também, o art. 15, § 7º da LC 97/99 com redação da LC 136/10, atribui a JMF a competência para julgamento dos crimes cometidos por militares da Marinha, Exército e Aeronáutica quando no exercício de atividades consideradas militares pelos referidos dispositivos, inclusive o homicídio doloso contra civil.

1.3.2 Competência funcional

Em relação à competência funcional, às auditorias compete processar e julgar o militar da corporação castrense do Estado (Súmula 78 do STJ), nos crimes militares praticados no território dos municípios sob sua respectiva jurisdição, competência ratione persone e ratione loci, esta última, restringe-se ao delito cometido no município sob a jurisdição do juízo militar. Sobre esta questão Lobão (2011, p. 165) ensina que:

O lugar da infração é o foro ordinário ou comum. Sendo desconhecido o lugar da infração, determina-se a competência pelo foro subsidiário: domicilio ou residência e prevenção. Como afirmamos acima, o domicilio ou a residência é o foro subsidiário somente do civil e do militar na inatividade. A lei instituiu a sede do lugar de serviço, como foro especial exclusivo do militar, indicando que é o lugar da infração, se este não for conhecido, o que é criticável, pois o lugar da infração vem definido nos arts. 88 a 92 do CPPM, sendo incabível considerar como tal o estabelecimento castrense, onde o agente exerce as funções do cargo militar, que pode não ter qualquer ligação com o local do crime. Portanto, a sede do lugar do serviço é foro subsidiário exclusivo do militar, se o lugar da infração não for conhecido (arts. 85, I, a, b e c, do CPPM).

Tendo em vista que, no Estado do Rio Grande do Sul, as quatro Auditorias exercem sua jurisdição nos municípios enumerados no art. 230 do Código de Organização Judiciária do Estado, caso ocorram delitos conexos ou continentes em cidades sob a jurisdição de diferentes juízos militares, a competência de um deles será determinada de acordo com o art. 101, II, a a c, do CPPM, assim: será pelo lugar da infração para a qual é cominada a pena mais grave; pelo lugar onde ocorreu o maior número de infrações, se as respectivas penas forem de igual gravidade; ou, pela prevenção se não for possível determinar pelos dois critérios anteriores.

Assim, o foro geral é o do local onde foi praticado o crime, pois nele há maior facilidade em obter os elementos necessários para tornar mais efetiva a apuração do delito,

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28 sendo que o foro subsidiário exclusivo do militar da ativa é a sede do lugar do serviço, é a unidade, navio, órgão onde estiver servindo, quando não se puder determinar o lugar da infração. Já o domicílio ou a residência é foro exclusivo do civil (somente JMF) e do militar na inatividade (arts. 85, I, b, e 93 do CPPM).

Pode-se dizer que os juízos militares conhecem do ilícito perpetrado pelo miliciano estadual no município sob sua respectiva jurisdição, prevalecendo o locus delicti commissi. E, sendo desconhecido o lugar da infração, a competência será pela sede do lugar de serviço do acusado ou pela prevenção, sendo que, se o militar do RS praticar um delito militar em outra unidade federativa, também será competente a auditoria da sede do lugar do serviço do acusado. Algo que demanda maior atenção é quando o crime for praticado em município sob a jurisdição da 1ª circunscrição de Porto Alegre, onde a competência fixar-se-á por uma das duas auditorias pelo critério da distribuição ou prevenção.

Portanto, a justiça militar pode ser dividida em estadual e federal, sendo que a primeira é competente apenas para o julgamento dos policiais e bombeiros militares do Estado a qual pertence, enquanto que a segunda pode julgar tanto o militar das Forças Armadas como o civil em determinadas situações, sendo que em ambas haverá os respectivos Conselhos de Justiça, porém, a CF/88 inovou em dizer que os crimes praticados pelos militares estaduais contra civis serão julgados pelo juiz de direito do juízo militar de forma singular, restando aos Conselhos a competência residual nos demais ilícitos, ressalvado os crimes afetos ao Tribunal do Júri. No próximo capítulo se buscará trazer os pontos principais pertinentes ao inquérito policial militar, ao processo estadual da caserna e as penalidades de cunho cautelar e condenatório existentes nesse universo jurídico especializado.

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29 2. O PROCEDIMENTO PARA APURAÇÃO DOS CRIMES MILITARES E AS PENAS APLICÁVEIS

A fase investigatória do direito penal militar basicamente segue as mesmas regras do inquérito policial apurado pela Polícia Civil, com apenas algumas alterações, pois ambos os procedimentos devem obedecer aos padrões genéricos estipulados pela Constituição Federal.

Em virtude da Constituição Estadual de 1989 dispor em seu art. 129 que a polícia judiciária militar será da competência da Brigada Militar, os crimes desta natureza serão investigados pela própria corporação, através de um oficial superior que terá os mesmos poderes de um delegado de polícia, mas dentro dos limites de suas atribuições previstas nas Constituições Federal, Estadual e no Código de Processo Penal Militar.

O processo penal militar estadual possui grandes diferenças referentes ao processo comum do CPP, uma vez que o processo militar não acompanhou as inúmeras alterações daquele, sendo esquecido pelo legislador ao longo do tempo. Assim, o processo castrense divide-se em ordinário e especial. O procedimento ordinário é aplicável na maioria dos crimes e, dependendo do ilícito penal, ele poderá ser desenvolvido unicamente pelo juiz de direito do juízo militar quando o delito for praticado contra civil, ou, pelo Conselho de Justiça nos demais casos. Já o procedimento especial é aplicado unicamente no crime de deserção (APONTAMENTOS..., 2012).

As prisões existentes no âmbito da Justiça Militar são classificadas em: prisão-pena e prisão provisória. A primeira diz respeito a uma sentença condenatória, sendo aplicada depois do devido processo legal em 1° grau de jurisdição, ainda sendo dividida em penas principais e acessórias. A prisão provisória, por sua vez, ocorrida antes de uma condenação definitiva, tem a natureza jurídica de medida cautelar, cujo objetivo precípuo é a tutela do processo penal, abrangendo três hipóteses de segregação da liberdade individual, quais sejam: a prisão em flagrante delito, a prisão preventiva e a detenção do indiciado durante o inquérito policial militar.

No presente capítulo pretende-se apresentar, de forma sintética, os principais aspectos da persecução penal no âmbito militar estadual, bem como pretende-se discorrer acerca das distintas formas de penas previstas e aplicáveis aos crimes militares.

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30 2.1 A investigação e o processo penal militar

O art. 9º do CPPM conceitua o inquérito policial militar como instrumento de instrução preliminar cujo objetivo central é identificar elementos que possam dar margem a propositura de uma ação penal:

Art.9°. O Inquérito Policial Militar é a apuração sumaria de fato, que, nos termos legais, configure crime militar, e de sua autoria. Tem o caráter de instrução provisória, cuja finalidade precípua é a de ministrar elementos necessários à propositura da ação penal.

O Inquérito Policial Militar (IPM) pode ser definido como um conjunto de diligências necessárias a averiguar um possível fato delituoso de caráter militar, a fim de fornecer elementos suficientes à instauração da ação penal. É um procedimento administrativo e persecutório, através do qual serão elaborados todos os fundamentos para o futuro oferecimento da denúncia, observando-se as devidas formalidades legais, pois do contrário, poderá o indiciado valer-se do Habeas Corpus para o trancamento do inquérito, uma vez que esta ação autônoma de impugnação seria o meio mais adequado de defesa nesta etapa procedimental.

Embora não seja algo de valor absoluto, o IPM é uma peça de suma importância, iniciado mediante portaria (art.10 do CPPM), o qual deve ser presidido por um oficial de maior hierarquia ou pelo menos mais antigo que o indiciado. Mas, caso for elaborado por um oficial mais moderno, para o Ministério Público (MP) pouco importará, pois esse tipo de vício não anulará a ação penal, podendo haver, no máximo, uma responsabilidade administrativa em virtude dessa irregularidade nascida na fase pré-processual.

Na Brigada Militar o IPM será da competência de, no mínimo, um Capitão, pertencente ao quadro de oficiais, conforme Portaria n° 63/EMBM/99 combinado com a alteração da Portaria 98/EMBM/2001 e art.7° e 8°, §1º, do CPPM, em que a solução do mesmo deverá ser homologada pela autoridade delegante (comandante), o qual se ainda o entender insuficiente, mandará realizar novas diligências ao encarregado, respeitando-se o prazo de término de 20 dias para réu preso e 40 dias, prorrogáveis por mais 20, em caso de réu solto. Entretanto, caso chegue-se ao entendimento de não ser o caso de crime militar, a autoridade militar não poderá arquivar o IPM. Nessa hipótese, o Ministério Público poderá

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31 requisitar novas e imprescindíveis diligências ou requerer o arquivamento e, neste último caso, se o juiz indeferir o pedido, remeterá os autos ao Procurador Geral de Justiça para que se manifeste a respeito, arquivando o inquérito ou designando outro promotor para oferecer a denúncia. Mas, se juiz e promotor concordarem com o arquivamento, tal decisão ainda será remetida ao corregedor geral do TJM que poderá concordar com essa providência, ou, se discordar, representará ao tribunal, a fim de que o Procurador Geral se manifeste sobre o assunto (APONTAMENTOS..., 2012).

Importante dizer que não cabe ao juiz requisitar a instauração de IPM, mas ao TJM e ao MP, sendo que o procedimento inquisitivo não se faz indispensável em toda e qualquer situação, podendo haver ação penal com base em apenas uma forte e concreta sindicância ou em uma notitia criminis feita diretamente ao MP com elementos suficientes a ensejar a denúncia. O mesmo acontece quando o auto de prisão em flagrante contiver elementos suficientes para propositura da ação penal.

O oficial encarregado pelo IPM faz às vezes de um delegado de polícia no que tange a investigação policial militar, uma vez que possui amplo poder para buscar a elucidação do crime e sua autoria, podendo requisitar perícias, exames, documentos em repartições públicas e privadas, representar pela prisão preventiva, arrolar e ouvir testemunhas, entre outras providências descritas no art. 13 do CPPM, sendo que, caso haja óbice no cumprimento de certas diligências, poderá buscar a imposição da via judicial através do juiz de direito do juízo militar. Todavia, se não houver indícios de crime de natureza militar, apurando-se que exista tão somente ilícito comum, encaminha-se os autos a Polícia Civil ou à auditoria competente para remessa ao juízo criminal comum a depender do estágio da investigação, restando à esfera castrense apenas um procedimento de cunho administrativo e disciplinar, pois a justiça militar não possui competência para julgamento de crime comum, sendo que a recíproca é também verdadeira.

Concluída as investigações, o encarregado encerrará o IPM com minucioso relatório, opinando se houve transgressão disciplinar ou infração penal e indicando o possível autor. Caso o inquérito tenha sido instaurado por delegação de superior hierárquico, o encarregado o encaminhará à autoridade delegante para homologar a solução ou dar uma solução diferente, caso dela discorde. Uma vez concluído, o IPM é encaminhado ao juízo militar competente.

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32 A ação penal nada mais é do que o direito de pedir ao Estado-Juiz a aplicação do direito penal militar a determinado caso concreto, regendo-se pelos princípios da oficialidade, indisponibilidade, indivisibilidade, legalidade e da obrigatoriedade, sendo que a justiça castrense, via de regra, adota a ação penal pública incondicionada conforme art. 29 do CPPM, admitindo a ação penal privada subsidiária da pública pela previsão constitucional do art. 5°, LXI, da CF, quando o órgão ministerial deixar de oferecer denúncia nos prazos de cinco dias estando o réu preso e quinze dias estando solto (art. 79 do CPPM), momento em que o ofendido/vítima terá que constituir um advogado por lhe faltar capacidade postulatória.

O prazo para oferecimento da queixa é de seis meses a partir do dia seguinte em que se esgotou o prazo para oferecimento da denúncia, transcorrido esse prazo, opera-se o fenômeno da preclusão, uma vez que não há ação penal pública condicionada a representação do ofendido e nem ação penal propriamente privada para que se opere o instituto da decadência, e sim, o prazo preclusivo que acarretará a retomada do MP na ação penal militar como parte principal, no caso de negligência do querelante. Nesse meio tempo, poderá transcorrer o prazo prescricional como causa de extinção da punibilidade (APONTAMENTOS..., 2012).

Havendo coautoria entre oficial e uma praça num mesmo processo, o Conselho Especial de Justiça é quem irá processar e julgar o fato, pois não haverá cisão processual a fim de dividir e julgar a praça pelo Conselho Permanente de Justiça por determinação do art. 258, § 1° do COJE/RS. Por outro lado, quando um acusado for civil, há cisão e seu julgamento ocorrerá perante a justiça comum conforme Súmula 90 do STJ. Situação bastante peculiar é o caso de uma praça estar sendo processada pelo Conselho Permanente e durante a instrução, a mesma for promovido a oficial Tenente, devendo a partir de então, o Conselho Especial ser competente para apreciar o crime, sob pena de todos os atos desde a promoção serem refeitos em respeito ao princípio do juízo hierárquico e por analogia do artigo acima disposto, mesmo porque ninguém será processado e julgado senão pela autoridade competente.

Apesar da JME tomar somente conhecimento do crimes praticados por militares estaduais, aquele que for expulso, aposentar-se ou pedir para sair das fileiras da carreira policial militar, ainda terá de ficar respondendo naquela esfera, sendo que o oficial respondendo a processo criminal não poderá ir para a reserva, salvo se já tiver atingido a idade limite para permanecer na ativa. Assim dispõe art. 393 do CPPM que: “O oficial

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33 processado, ou sujeito a inquérito policial militar, não poderá ser transferido para a reserva, salvo se atingir a idade limite de permanência no serviço ativo.”

Em virtude do texto constitucional prever que os crimes dolosos contra a vida serão da competência do Tribunal do Júri, caso o conselho de sentença desclassifique o crime, por exemplo, de uma tentativa de homicídio para uma lesão corporal, o processo deverá ser remetido a JME onde será julgado pelo juiz de direito do juízo militar. Nesse caso, a lei processual castrense afirma que o IPM deverá ser elaborado pela autoridade judiciária militar, embora seja plenamente possível haver dois inquéritos em curso, um pela Brigada Militar, e, o outro, pela Polícia Civil, a fim de investigar os fatos, que serão apreciados pelo Júri popular por determinação constitucional.

O processo militar em tempo de paz divide-se em ordinário e especial, o primeiro é aplicado na grande maioria dos crimes, o segundo apenas aos crimes de deserção, em que o procedimento possui maior celeridade.

Em linhas gerais, o trâmite processual do rito ordinário inicia-se com o recebimento da denuncia pelo juiz de direito com o posterior sorteio do Conselho Especial de Justiça (oficiais) ou a convocação do Conselho Permanente de Justiça (praças). Efetiva-se com a citação válida do acusado, sendo qualificado e interrogado num só ato, sendo que, ao final, as partes poderão levantar exceções ou questões de ordem, não havendo oportunidade para resposta a acusação. Num segundo momento, serão ouvidas as testemunhas arroladas na denúncia em numero seis por fato, posteriormente, a oitiva das testemunhas em número seis por réu, indicadas pela defesa até cinco dias após a última oitiva da testemunha de acusação. Importante frisar que as perguntas de quem quer que seja serão realizadas por intermédio do juiz de direito, tendo em vista a vigência do sistema presidencialista, diferente do sistema cross examinetion do processo penal comum. (APONTAMENTOS..., 2012).

Em seguida, os autos irão conclusos ao juiz que determinará vista em cartório às partes em cinco dias para que possam requerer novas diligências. Passada essa fase, haverá o prazo de oito dias para que as partes apresentem alegações escritas, obrigatórias ao MP em respeito ao princípio do contraditório e, facultativas à defesa como estratégia defensiva, pois toda ela poderá ser apresentada na sustentação oral. Findo este prazo, os autos novamente irão

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