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Potencial de impacto da produção de etanol no desenvolvimento de Cândido Godói - RS

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM DESENVOLVIMENTO

CASSIANE WARMBIER

POTENCIAL DE IMPACTO DA PRODUÇÃO DE ETANOL NO DESENVOLVIMENTO DE CÂNDIDO GODÓI – RS

Ijuí (RS) 2014

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CASSIANE WARMBIER

POTENCIAL DE IMPACTO DA PRODUÇÃO DE ETANOL NO DESENVOLVIMENTO DE CÂNDIDO GODÓI – RS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, na Linha de Pesquisa Desenvolvimento Local e Gestão do Agronegócio, da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Orientadora: Profa. Dra. Sandra Beatriz Vicenci Fernandes

Ijuí (RS) 2014

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W277p Warmbier, Cassiane.

Potencial de impacto da produção de etanol no

desenvolvimento de Cândido Godoi - RS/ Cassiane Warmbier. – Ijuí, 2014. –

93 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientadora: Sandra Beatriz Vicenci Fernandes”.

1. Biocombustíveis. 2. Biomassa. 3. Etanol. 4. Desenvolvimento local. 5. Recursos renováveis. I. Fernandes, Sandra Beatriz Vicenci. II. Título. CDU: 510.67 633.85 Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/1879

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

P POOTTEENNCCIIAALLDDEEIIMMPPAACCTTOODDAAPPRROODDUUÇÇÃÃOODDEEEETTAANNOOLLNNOO D DEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOODDEECCÂÂNNDDIIDDOOGGOODDOOII--RRSS elaborada por CASSIANE WARMBIER

como requisito parcial para a obtenção do grau de

Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Profa. Dra. Sandra Beatriz Vicenci Fernandes (UNIJUÍ): _____________________________

Profa. Dra. Jana Koefender (UNICRUZ): _________________________________________

Prof. Dr. Dilson Trennepohl (UNIJUÍ): ___________________________________________

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A todos que, de uma forma ou outra, contribuíram com a realização deste trabalho.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus pela vida e por todas as oportunidades concedidas nesta caminhada.

Este trabalho só foi possível com o auxílio de muitas pessoas:

Agradeço aos meus pais, Luiz e Eli, por tudo que fizeram por mim até hoje.

Ao meu noivo Ricardo, pelo apoio, compreensão, carinho e dedicação quando precisei.

A minha irmã Vanessa, por compartilhar comigo essa existência.

As minhas amigas Renata Gonçalves, pela amizade, companheirismo e experiências trocadas neste período, e, em especial, Déborah Traesel (in memoriam), que hoje não pode estar aqui para vivenciar este momento comigo.

Aos colegas e amigos do Curso pelos momentos vividos e pela troca de conhecimento. Aos professores do Curso de Mestrado em Desenvolvimento da Unijuí, pelos ensinamentos durante as aulas e pelos agradáveis momentos que passamos juntos. Em especial, a dedicação da minha orientadora, professora Sandra Beatriz Vicenci Fernandes.

Por fim, agradeço aos cooperados da Cooperger pela licença concedida para que este estudo fosse realizado.

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“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim”. Chico Xavier “Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer” (Ghandi)

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RESUMO

O presente estudo pretende estabelecer uma discussão em torno de um projeto de inovação territorial coletiva e sua contribuição para o desencadeamento de processos de desenvolvimento local. Compreende-se que à medida que os atores locais desempenham essa coletividade, buscando uma relação com as demais escalas de gestão e poder, instituindo uma densidade institucional, seja possível gerar processos de desenvolvimento local de modo a atender as demandas e necessidades dos atores locais e do ambiente o qual se inserem. Da mesma forma, considera-se essencial a preocupação destes atores com inovação dos territórios de maneira coletiva, ou seja, a busca grupal por inovações quanto à gestão de cada local, tendo por base potencialidades de cada região, para o efetivo desenvolvimento da sociedade. Busca-se demonstrar tais pressupostos a partir de um projeto elaborado por um grupo de agricultores do município de Cândido Godói, com objetivo de implantar uma usina produtora de etanol, utilizando como matéria-prima os cerais produzidos no município. Além de ser uma experiência inovadora, percebe-se uma relativa harmonia e uma considerável interação entre atores locais. Essa variável tem proporcionado aos atores locais, um relativo protagonismo para o desencadeamento de ações que visem o desenvolvimento local, reforçando as relações de poder destes atores em seu território, otimizando recursos renováveis disponíveis no ambiente.

Palavras-chave: Biocombustíveis. Biomassa. Etanol. Desenvolvimento local. Recursos renováveis.

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ABSTRACT

This current study intends to establish a discussion regarding a collective territory innovation project and its contribution to start up local development processes. It is understood that as the local parties perform collective projects aiming to develop a relationship with other management and power spheres as well as contributing to an institutional density; it is possible to create local development processes. Such processes can satisfy the needs of and demands from the local parties as well as address environmental issues that surround them. Therefore, these parties concerns about territory innovations in a collective manner are considered essential. In other words, the group search for innovations regarding local management based on potentialities of each region promotes the effective development of a society. These principles can be seen from a project created by a farmers group in Cândido Godói city, with the goal of implementing a ethanol power plant that would consume locally-grown cereal as major inputs. Besides being innovative this experience created harmonious relationships and considerable interaction among local parties. This variable has allowed the local parties involved to actively participate and develop actions to promote local development, emphasizing their relationship with their land and contributing to empowerment; leading to optimization of the available renewable resources use in the environment.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Fontes primárias de energia no Brasil no ano de 2011 ... 27

Figura 2 - Fontes primárias de energia no mundo no ano de 2011 ... 27

Figura 3 - Participação por fonte de energia entre os anos de 1940 a 2010 ... 28

Figura 4 - Consumo de combustíveis no setor de transportes no Brasil ... 29

Figura 5 - Evolução da produção mundial de etanol entre os anos de 2000 a 2012 ... 33

Figura 6 - Concentração das usinas produtoras de etanol no Brasil ... 34

Figura 7 - Evolução da produção de produtos agrícolas de Cândido Godói, em toneladas no período de 2000 a 2011 ... 44

LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Classificação das fontes energéticas ... 24

Quadro 2 - Fontes energéticas produzidas no Rio Grande do Sul no período de 2005 a 2010 ... 30

Quadro 3 - Produção e consumo de etanol no período de 2005 a 2010 no Rio Grande do Sul ... 30

Quadro 4 - Cinco maiores produtores de etanol em 2012 ... 34

Quadro 5 - Rendimento de etanol de diversas matérias-primas ... 35

Quadro 6 - Processo de produção de etanol de cereais... 45

Quadro 7 - Comparativo entre o modelo prevalente e o proposto, para alimentação de gado leiteiro, incluindo o emprego de restilo da produção de álcool de cereais ... 46

Quadro 8 - Parâmetros técnicos de produção de etanol de cereais – Projeto Cooperger ... 47

Quadro 9 - Tipologia dos sistemas produtivos de Cândido Godói ... 55

Quadro 10 - Microprodutores de leite do município de Cândido Godói ... 67

Quadro 11 - Pequeno produtor e produtor profissional de leite do município de Cândido Godói, RS ... 67

Quadro 12 - Modelo de produção de grãos proposto para viabilizar a produção de etanol em Cândido Godói, RS ... 69

Quadro 13 - Produção de grãos desenvolvida em Cândido Godói, RS ... 73

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Investimentos para a implantação da usina ... 46 Tabela 2 - Preços estabelecidos para produtos gerados na usina – Projeto Cooperger ... 48

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social CGEE - Centro de Estudos Estratégicos

COOGÊMEOS - Cooperativa Godoiense de Emprendimento COOPERAE - Cooperativa Agroecológica de Cândido Godói COOPERGER - Cooperativa Godoiense de Energia Renovável EUA - Estados Unidos

FAO - Food and Agriculture Organization FEE - Fundação de Economia e Estatística HA - Hectare

IBGE - Instituto Brasileiro Geografia e Estatística

ICMS - Imposto sobre Circulção de Mercadorias e Serviços IEA - International Energy Agency

IPI - Imposto sobre Produtos Industrializados L - Litro

ONU - Organização das Nações Unidas TEP - Tonelada Equivalente de Petróleo TON - Tonelada

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 15

1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO ... 17

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA, OBJETIVOS E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO ... 17

1.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS ... 19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ... 21

2.1 CONTEXTO DA BIOENERGIA NO PAÍS ... 21

2.1.1 Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel ... 23

2.1.2 Energia e biomassa ... 24

2.1.3 Contexto energético brasileiro ... 27

2.1.4 Trajetória da produção e o mercado de etanol ... 31

2.1.5 Divergências acerca do papel dos biocombustíveis ... 38

3 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO DE PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DE CEREAIS EM CÂNDIDO GODÓI ... 42

3.1 A PRODUÇÃO DE ETANOL: o projeto da Cooperativa Cooperger ... 42

3.2 ANÁLISE ECONÔMICA DO PROJETO DA COOPERGER ... 49

4 CÂNDIDO GODOI – O MUNICÍPIO ... 52

4.1 AGRICULTURA DO MUNICÍPIO DE CÂNDIDO GODOI ... 54

4.1.1 Microrregião 1: Região da antiga mata, relevo pouco ondulado, de agricultura mais capitalizada e intensiva ... 54

4.1.2 Microrregião 2: Região da antiga mata, relevo mais acidentado, de agricultura descapitalizada ... 55

4.2 TIPOLOGIA DOS SISTEMAS PRODUTIVOS AGROPECUÁRIOS ... 55

5 POTENCIALIDADES E LIMITES DA PRODUÇÃO DE ETANOL EM CÂNDIDO GODÓI NA VISÃO DO GESTOR DO PROJETO DA COOPERGER ... 58

5.1 OBSTÁCULOS ENFRENTADOS À CONCRETIZAÇÃO DO PROJETO - VISÃO DO GESTOR ... 58

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5.2 BENEFÍCIOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E AMBIENTAIS DA IMPLANTAÇÃO DO

PROJETO - VISÃO DO GESTOR ... 64

5.3 CARACTERIZAÇÃO DOS COOPERADOS ... 67

5.4 O PROJETO DA COOPERATIVA COOPERGER NA VISÃO DOS AGRICULTO-RES COOPERADOS ... 68

6 ASPECTOS DA VIABILIDADE DO PROJETO DA COOPERGER ... 72

CONCLUSÕES ... 80

REFERÊNCIAS ... 82

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INTRODUÇÃO

Ao longo do tempo, diferentes fontes de energia foram sendo usadas. Entre elas destacam-se a energia humana, animal, vapor, água, biomassa, vento, eletricidade e derivados de petróleo. Todas essas energias foram utilizadas como meio de produção para bens e serviços. A energia é um componente vital das sociedades, entretanto, seu uso apresenta desafios, questionamentos e limites na medida em que provoca impactos sobre os indivíduos e o meio ambiente. Neste contexto, ressalta-se a forte alta dos preços do petróleo, e a pressão para diminuição dos gases de efeito estufa. Assim, estimula-se a adoção de estratégias para o desenvolvimento local sustentável com fontes alternativas e renováveis de energia, entre os quais se destaca os biocombustíveis.

O petróleo, o gás natural e o carvão mineral permitiram que em menos de 100 anos o consumo de energia duplicasse (STEFFEN; CRUTZEN; MCNEILL, 2007), ocasionando impactos socioambientais e um acelerado crescimento econômico. Entretanto, o consumo exacerbado de combustíveis não renováveis colocou a sociedade frente a um impasse de múltiplas dimensões (BRASIL, 2013).

Sachs (2007a) e Munõz (2007) caracterizam este consumo exagerado como um problema em três perspectivas. Economicamente trata-se a questão da escassez do petróleo, principal recurso energético dos dias de hoje. Por outro lado, temos diversos conflitos nas regiões onde este recurso está presente em maior concentração. Já do ponto de vista ambiental, os combustíveis não renováveis são apontados como principais causadores pelo efeito estufa e consequentemente pelo aquecimento global.

Diante deste impasse, vem sendo discutidas mundialmente várias alternativas de fontes renováveis de energia (SACHS, 2005a; MUNÕZ, 2007). Trata-se de uma “revolução energética” (SACHS, 2007a), rumo à substituição do petróleo por combustíveis líquidos provenientes de biomassa, denominados biocombustíveis. O investimento em energias renováveis, que causem menos impacto ao meio ambiente e se tornem disponíveis a sociedade é um imperativo para garantia de um futuro sustentável.

Diante deste cenário, Munõz (2007) recomenda aos países tropicais o abastecimento de energia renovável através da biomassa. O Brasil é um país que se destaca pela quantidade de recursos naturais disponíveis, o que possibilita a expansão de produção de energia através de fontes renováveis. Assim, tratando-se do setor agrícola estimula-se o desenvolvimento da cadeia produtiva de biocombustíveis e, torna-se necessário eleger um sistema de produção que

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cause um efeito positivo nas comunidades locais, considerando os impactos sociais, econômicos e ambientais.

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

Em Cândido Godoi, no Rio Grande do Sul foi fundada em 2005 a Cooperger, cooperativa de agricultores familiares, com o objetivo de produção concomitante de alimento e energia como forma de aumentar a renda dos agricultores. Entre os princípios da cooperativa, destaca-se a participação do agricultor na cadeia produtiva, a geração de emprego e renda, a produção baseada na diversidade de cultivos, e o manejo racional de recursos naturais.

A população estimada em Cândido Godói em 2014 foi de 6.535 habitantes, sua área da unidade territorial de 246, 276 (Km²) a densidade demográfica de 26, 54 (hab/km²) (IBGE, 2012).

O projeto da Cooperativa, objetiva implantar uma usina produtora de etanol, que possa garantir o desenvolvimento local sustentável no município de Cândido Godói. A usina até então não passa de um projeto, ainda não concretizado, em razão de um conjunto de dificuldades de natureza diversa. Portanto, o presente trabalho traz uma abordagem preliminar acerca de um projeto de desenvolvimento local.

A proposta da Cooperger é contribuir com o desenvolvimento local do município do ponto de vista econômico, energético e socioambiental. Portanto, sugere-se a produção de biocombustíveis calcados na agricultura familiar, para atender demandas sociais e ao mesmo tempo ambientais.

1.1 PROBLEMA DA PESQUISA, OBJETIVOS E IMPORTÂNCIA DO ESTUDO

Frente a este cenário, a presente pesquisa tem como tema a produção de biocombustíveis pelo movimento de agricultores no Noroeste do Rio Grande do Sul, procurando atender a seguinte indagação: O modelo a ser implantado pode representar uma experiência de desenvolvimento local com sustentabilidade? Se atendida a dimensão ambiental da sustentabilidade, assegura-se também a dimensão econômica dos cooperados? Quais são os principais desafios do processo de transição de um modelo produtivo já consolidado para um novo modelo, considerando as inovações tecnológicas propostas aos cooperados? O objetivo geral do estudo consiste em analisar o contexto de implantação de uma destilaria produtora de etanol de cereais no interior do Estado do Rio Grande do Sul, no município de Cândido Godói, como estratégia de desenvolvimento local sustentável.

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- Caracterizar a produção agropecuária desenvolvida no território de Cândido Godói e seus gargalos;

- Identificar os desafios que as inovações tecnológicas propostas representam aos cooperados e seus possíveis impactos no sistema produtivo atual;

- Prognosticar os impactos econômicos, sociais e ambientais da implantação do projeto;

- Lançar um olhar acerca do atendimento aos pressupostos da sustentabilidade.

A necessidade de superação do problema energético mundial, e a importante função que cabe aos países tropicais na transição para uma matriz energética renovável, indicam um momento favorável para a realização de estudos que possam colaborar com o avanço desta questão (SACHS, 2005a; MUNÕZ, 2007). Neste sentido, o trabalho pretende fornecer subsídios para a melhor compreensão de uma proposta de desenvolvimento local, alicerçada na produção de energia de biomassa.

A justificativa de eleger a implantação do programa de produção de etanol como objeto de estudo emerge da justificativa elaborada no próprio projeto da Cooperger. Deve-se considerar que um projeto faz uma descrição da realidade, um recorte, com uma visão externa, que pode estar desconsiderando um conjunto de elementos não apreensíveis de imediato. Um projeto de certa forma se vale de um conjunto de elementos da realidade para projetar um resultado. Entretanto, um projeto, como qualquer modelo, não é a realidade em si, e sim uma descrição modelizada da realidade, a partir de uma visão tecnocrática. Há um conjunto de elementos projetados que suscitam uma melhor análise para avaliar se efetivamente o projeto pode melhorar as condições de vida da população local e contribuir para o desenvolvimento local de forma sustentável.

O desafio reside em analisar essa nova realidade como uma concepção de desenvolvimento local sustentável, pois do projeto de implantação de uma usina produtora de etanol emergem novas singularidades. Portanto, torna-se oportuna a discussão do tema, considerando a dimensão produtiva redimensionada, na expectativa de uma dinâmica produtiva que possa privilegiar o local do município, considerando a realidade de seus partícipes, com promoção de renda local, e as implicações socioambientais. Neste contexto, apresenta-se como hipótese: A produção de etanol, a partir de cereais, é uma estratégia de desenvolvimento local sustentável no município de Cândido Godói, interior do Rio Grande do Sul.

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1.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS

O presente estudo opta pela Teoria Crítica seguindo o paradigma do Humanismo Radical. O paradigma humanista radical determina-se pela sua preocupação em dilatar uma sociologia de mudança radical por uma abordagem subjetivista (BURRELL; MORGAN, 1979). O paradigma humanista como garante Vergara e Caldas (2005) se relaciona com o paradigma interpretativista através de uma visão antipositivista do mundo social. Desta forma, o interpretativismo é constituído por uma preocupação em compreender o mundo e a natureza fundamental do mundo social por um patamar subjetivista guiado por contribuições sucedidas da sociologia da regulação (BURRELL; MORGAN, 1979).

Quanto à natureza, a pesquisa tem caráter aplicado, pois busca melhor conhecer uma realidade para produzir conhecimento, e aplicar seus resultados, com o objetivo de “contribuir para fins práticos, visando à solução mais ou menos imediata do problema encontrado na realidade”(BARROS; LEHFELD, 2000, p. 78).

O estudo também se vale à pesquisa descritiva, com caráter explicativo. As pesquisas descritivas permitem identificar as diferentes configurações dos fenômenos, sua classificação, ordenação, explicaçãodas relações de causa e efeito dos mesmos, levando ao alcance de uma melhor concepção do comportamento de fatores diversos e elementos que influenciam um fenômeno determinado (OLIVEIRA, 1997).

Quanto ao caráter explicativo, Gil (2002) destaca que a finalidade da pesquisa explicativa é identificar e esclarecer quais os fenômenos determinantes ou que contribuem para a ocorrência dos fatos. Quanto à abordagem, trata-se de uma pesquisa quali-quantitativa.

A pesquisa qualitativa corresponde a questões particulares em um contexto, e focaliza um grau de realidade que não pode ser quantificado. Nesse sentido, trabalha com um universo de múltiplas, aspirações, significados, motivos, crenças, atitudes e valores (MINAYO, 2012). A autora também explica que qualquer investigação social precisaria considerar uma característica básica de seu objeto, que seria o aspecto qualitativo.

O presente estudo propõe que a pesquisa aproxima-se da análise de discurso crítica, abordagem esta que também busca por padrões, mas dentro de contextos mais vastos coligados a questões da sociedade ou da cultura (ALVES-MAZZOTTI, 1998). Assim, a dimensão metodológica, respectiva ao processo de construção do conhecimento, a teoria crítica segue uma metodologia transformadora, dialógica, coesiva com a finalidade de

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aumentar o grau da consciência dos sujeitos com vistas à transformação social (ALVES-MAZZOTTI, 1998).

Tendo presente que o objeto de estudo do presente trabalho é um projeto de implantação uma usina produtora de etanol que se pretende implantar em Cândido Godói, interior do Rio Grande do Sul, a primeira etapa da pesquisa consistiu em eleger os cooperados que seriam entrevistados. Para tanto, foi necessário conhecer o número de cooperados e os sistemas produtivos prevalecentes, ou seja, quais as produções, tamanho da propriedade, localização geográfica entre outros. Esses dados foram obtidos a partir de entrevista com dirigentes da cooperativa e também da extensão rural local.

A partir dos dados preliminares foi adotada uma tipologia, desenvolvida em trabalho anterior. Por ex, agricultores familiares, patronais, etc. O enquadramento na tipologia foi estabelecido após os contatos formais e informais, que possibilitam ter uma visão ampla dos sistemas produtivos agropecuários do município.

Não se trata aqui de um recenseamento preciso, tampouco de uma abordagem estatística e sim, um conhecimento preliminar da realidade para estabelecer a amostra de forma a considerar a diversidade de sistemas produtivos agropecuários e, provavelmente, a diversidade de visões acerca do projeto de desenvolvimento local em questão.

Posteriormente, uma vez definida a tipologia, foram contatados os representantes de cada categoria delineada para, a partir das entrevistas, apreender a opinião dos representantes das categorias previamente delineadas.

O trabalho apresenta relatos de um agricultor, cuja função é a gestão do projeto e 11 cooperados sócios da Cooperativa Cooperger. Os dados foram obtidos por meio de um questionário (APÊNDICE A e APÊNDICE B), sendo que todos os cooperadoseram do sexo masculino.

Parte-se de uma contextualização, em que a primeira etapa descreve o município de Cândido Godói, para, em sequência, analisa o cenário de produção de etanol. A terceira etapa apresenta a percepção o gestor do projeto da Cooperger - cooperativa responsável por implantar a usina produtora de etanol -, e dos cooperados.

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2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Neste primeiro capítulo do estudo são apresentadas a base referencial utilizada, objetivando mostrar respectivamente estudos já realizados sobre os conceitos relevantes para análise do tema proposto.

2.1 CONTEXTO DA BIOENERGIA NO PAÍS

As mudanças climáticas e as consequentes ameaças aos ecossistemas estão no centro dos debates mundiais, ganhando notoriedade nas agendas dos governos, nas empresas e nos mais diversos segmentos da sociedade.

Grande parte das mudanças climáticas ocorre devido ao uso contínuo do petróleo como fonte energética. A queima deste combustível fóssil e seus derivados liberam no ar os chamados gases de efeito estufa, como o CO2, o dióxido de enxofre e o metano. Também é emitido um material particulado, composto por cinzas em suspensão na atmosfera, cujos efeitos são dinamizados durante a estação do inverno, em que o ar quente fica preso dificultando a disseminação dos poluentes. Desta forma, este processo colabora para o aumento da temperatura do planeta, agravante do aquecimento global (ANEEL, 2005).

O Brasil, preocupado com as questões ambientais desenvolveu instrumentos e ações designados ao enfrentamento da mudança climática, tanto no combate ao desmatamento, que até o ano de 2005 era o principal causador das emissões de gases poluentes, quanto na constituição de uma matriz energética limpa, baseada em fontes de recursos renováveis. No quesito desmatamento é notável alguns resultados, pois segundo dados do INPE, no período entre agosto de 2008 e julho de 2009, ocorreu uma queda de 46% das taxas de desmatamento na Amazônia. Assim, o país vem agindo de forma decisiva a fim de viabilizar a adoção de um regime sobre mudança de clima que seja justo, e que evite prejudicar as populações mais vulneráveis (BRASIL, 2007).

Na maioria dos países, a principal fonte das emissões de dióxido de carbono, principal gás causador do efeito estufa é o setor de energia. No entanto, o Brasil diferencia-se por eliminar gases a partir do manejo dos solos e desmatamento das florestas, enquanto que sua matriz energética através de recursos naturais renováveis representa 46% (BRASIL, 2007).

Neste contexto, a produção de biocombustíveis e a melhoria da eficiência energética passam a ser importantes estratégias para diminuir as emissões de gases efeito estufa. Desta

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forma, destacam-se os sete objetivos propostos no Plano Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC).

 Fomentar aumentos de eficiência no desempenho dos setores da economia na busca constante do alcance das melhores práticas;

 Manter a elevada participação de energia renovável na matriz elétrica;  Incentivar a expansão sustentável da participação de biocombustíveis na matriz de transportes nacional;

 Buscar a redução sustentada das taxas de desmatamento em todos os biomas brasileiros, até que se atinja o desmatamento ilegal zero;

 Eliminar a perda líquida da área de cobertura florestal no Brasil até 2015;  Fortalecer ações intersetoriais voltadas para redução das vulnerabilidades;  Identificar os impactos ambientais decorrentes da mudança do clima e fomentar o desenvolvimento de pesquisas científicas visando estratégias de adaptação (BRASIL, 2007).

O Brasil ao longo dos últimos anos tenta conciliar a premissa do crescimento econômico com o uso sustentável de recursos naturais, principalmente ampliando ações sustentáveis que possam garantir um desenvolvimento sustentável. Portanto, hoje o país é um dos principais atores ligado às questões ambientais, tanto no que se refere à água, a biodiversidade, as florestas e a matriz energética. Desta forma, o Brasil destaca-se como produtor global de etanol, apresentando garantias sociais e ambientais (BRASIL, 2007).

Sachs (2007a, p. 31)defende que as bioenergias podem “ser uma tentativa de conter os impactos negativos da mudança climática”. Entretanto, para o autor é necessário desenvolver modelos de produção que proporcionem impactos sociais positivos, como a qualidade de vida, a fixação do homem no campo e a ampliação de oferta de empregos.

Assim, diversos autores como Ortega, Watanabe, Cavalett (2006), Leal et al (2008), Assis e Zucarelli (2007), lembram que é possível alcançar um balanço energético mais eficiente, além de satisfatórios resultados econômicos, sociais e ambientais, por meio da produção de biocombustíveis, baseado nas pequenas propriedades rurais, tendo como principal protagonista a agricultura familiar estabelecida em redes de cooperação.

Wegner, Santos e Padula (2010) são de opinião que a produção de biocombustíveis em pequena escala, traz inúmeros benefícios para o desenvolvimento local, por meio da mobilização de atores locais. Assim, Munõz (2007) recomenda que a variedade da matriz energética deva ser aliada ao desenvolvimento autônomo que considere aspectos endógenos de cada território. A questão energética é a base essencial para produção de bens e serviços. Portanto, o projeto da Cooperger, segundo análise de Munõz (2007), pretende proporcionar autonomia energética, assegurar a população no campo, produzir alimento e garantir a sustentabilidade ambiental nos processos de produção.

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2.1.1 Programa Nacional de Produção e uso do Biodiesel

A apreensão diante das questões ambientais e econômicas tem incitado a busca por um desenvolvimento sustentável, social, ambientalmente correto e economicamente viável. Baseando-se nessas apreensões, interligadas à forte preocupação com o aquecimento global, diversos países intensificaram a busca por medidas mitigadoras dos danos já ocasionados ao meio ambiente. Perante a necessidade de diversificação de matérias-primas a fim de diminuir a dependência energética do petróleo, as fontes renováveis de energia assumem uma importante função, e o Brasil, devido a sua capacidade natural para a expansão do agronegócio, se destaca no uso de energias limpas e renováveis. Nesse cenário, o biodiesel e o etanol se sobressaem como combustíveis renováveis e menos poluentes.

O biodiesel é considerado um combustível biodegradável, proveniente de biomassa renovável, de procedência animal ou vegetal, que pode ser utilizado em motores à combustão interna com ignição por compressão, sem necessidade de alterações nos motores do ciclo diesel (BIODIESEL, 2011). Observa-se que, o uso desse biocombustível é uma alternativa que se demonstra vantajosa, com benefícios ambientais e econômicos. Desta forma, em 1977 ocorreu a primeira proposta para aplicação de óleos vegetais como combustível do ciclo diesel no país, segundo Parente (2003), mas somente a partir do ano de 2004 o país deu destaque aos projetos destinados ao desenvolvimento do biodiesel, com a criação do Programa Nacional de Uso e Produção do Biodiesel (PNPB). Nesse período, criou-se o Selo Combustível Social, com a intenção de instigar a inclusão social na agricultura por meio de um regime tributário federal diferenciado, do qual desfrutariam os produtores de biodiesel que adquirissem um percentual mínimo de matérias-primas oriundas da agricultura familiar. Assim, surge o Selo Combustível Social para incentivar a introdução da agricultura familiar nessa importante cadeia produtiva do biodiesel (BRASIL, 2005a).

O Selo Combustível Social é um certificado de identificação outorgado pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA) às empresas fabricantes de biodiesel, juridicamente constituídas sob as leis brasileiras, que promovam a geração de emprego e renda para os agricultores familiares (BRASIL, 2011a). A Lei nº 11.116/2005 determina o modelo tributário aplicável ao biodiesel com uma série de incentivos fiscais e diminuição das alíquotas do PIS/PASEP, COFINS e CIDE, sendo que esses tributos devem ser cobrados uma única vez e que o contribuinte seria o fabricante industrial de biodiesel (BRASIL, 2005b).

Com o marco regulatório que estipula um percentual mínimo de adição de biodiesel, juntamente com incentivos fiscais, objetiva-se estimular a produção de biodiesel. Entretanto,

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as diferenças no teor de óleo, produtividade e custos de produção das diversas oleaginosas podem gerar uma série de assimetrias quanto aos preços praticados. Para solucionar esse problema, a Lei 11.097/2005 institui que todo o biodiesel necessário para atendimento ao percentual mínimo obrigatório será contratado mediante leilões públicos. Conduzidos pela ANP, os leilões públicos têm como finalidade básica estimular a concepção do mercado interno ainda nascente (RODRIGUES, 2006). Prado e Vieira (2010) salientam que não há periodicidade definida na execução dos leilões, sendo que para que os mesmos ocorram é necessária à demanda por biodiesel.

Além dos benefícios ao meio ambiente, o PNPB em seu discurso político adota um caráter social, ao incitar agricultores familiares rurais a integrar-se à cadeia produtiva do biodiesel através do Selo Combustível Social. Para comercializar o biodiesel via leilões e serem privilegiadas por meio de tributação diferenciada, as empresas, além de adquirir matérias-primas de agricultores familiares, necessitam exaltar contratos com os agricultores familiares, constituindo prazos e condições de entrega da matéria-prima e oferecer assistência técnica aos agricultores o que garante de certa forma a inserção destes na cadeia produtiva do biodiesel (BRASIL, 2005b).

A partir disso, a produção de biodiesel pelo Brasil é vista como uma nova cadeia produtiva que vem se consolidando, ao mesmo tempo em que provoca e multiplica emprego e renda, tanto na área agrícola e nos mercados de serviços e insumos, como também nas atividades de transporte, armazenamento, mistura e negociação do biodiesel. Ainda, vem acrescentando valor na produção de matérias-primas oleaginosas no país.

2.1.2 Energia e biomassa

A energia é capaz de produzir e realizar um trabalho, sendo a manifestação proveniente do uso de uma força externa capaz de desarticular algo (GOLDEMBERG; LUCON, 2008). Segundo o International Energy Agency (IEA), o termo energia deve ser denominado para a captação de calor e eletricidade e os combustíveis tem a capacidade de produzi-los (IEA, 2005). O uso apropriado do termo energia é importante para o levantamento de dados e informações referentes às questões energéticas.

Goldemberg e Lucon (2008) classificam as fontes energéticas quanto à sua origem (primária e secundária) e sua capacidade de se recompor no meio ambiente (não renováveis e renováveis). As fontes primárias são encontradas no meio ambiente, como o carvão, a luz solar, o petróleo e o urânio. Essas fontes ainda podem ser comerciais e não comerciais.

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Destacam-se como comerciais o petróleo e o carvão, por outro lado, como não comerciais a luz solar. Como fontes secundárias, temos a eletricidade, os derivados de petróleo, a biomassa dentre outros.

O quadro 1 apresenta a classificação das fontes energéticas. As fontes não renováveis têm origem fóssil enquanto, as fontes renováveis apresentam sua composição em biomassa, isto é, matéria viva.

Quadro 1 - Classificação das fontes energéticas

Fontes de energia

Energia Primária Energia Secundária

Não-Renováveis Fósseis Nuclear carvão mineral petróleo e derivados gás natural materiais fósseis termoeletricidade, calor, combustível para transporte

termoeletricidade, calor Renováveis “tradicionais” biomassa primitiva lenha de

desmatamento

Calor “convencionais” potenciais hidráulicos de médio

e grande porte. Hidroeletricidade “modernas” (ou “novas”) potenciais hidráulicos de pequeno porte.

biomassa “moderna”: lenha replantada, culturas energéticas (cana-de-açúcar, óleos vegetais).

biocombustíveis (etanol, biodiesel), termeletricidade, calor.

Outros energia solar. geotermal. eólica. maremotriz e das ondas calor, eletricidade. fotovoltaica. calor e eletricidade. eletricidade. Fonte: Goldemberg e Lucon (2008, p. 69).

As fontes renováveis são subdivididas em três grupos: tradicionais, convencionais e modernas. As fontes tradicionais estão associadas à produção de calor, a partir da queima de material orgânico como o carvão vegetal, a madeira e os resíduos orgânicos em geral. Já as fontes convencionais associam-se às hidrelétricas, produtoras de energia elétrica. Por outro lado, a biomassa refere-se aos processos avançados, como a produção de biocombustíveis. Nesta categoria moderna é que se localiza o etanol, um biocombustível procedente das mais diversas biomassas, o qual é utilizado em várias atividades.

As fontes de energia provenientes de biomassa ganham importância no cenário internacional devido às seguintes razões:

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 Crescimento da economia mundial, que resulta na demanda por mais energia;  Esgotamento das reservas de petróleo;

 Instabilidade política e conflitos bélicos em regiões produtoras de petróleo;  Elevação dos custos de extração de petróleo, tendo em vista que as jazidas se encontram em lugar de cada vez mais difícil acesso;

 Aumentos expressivos do preço de petróleo;

 Aquecimento global, resultante, em grande parte, das atividades humanas e do uso intensivo de combustíveis fósseis (REDE BRASILEIRA PELA INTEGRAÇÃO DOS POVOS, 2008, p. 117).

A biomassa resulta do material que tem origem viva, orgânica, podendo ser animal, vegetal e micro-organismos, e que pode ser utilizada para a produção de energia. Em sua especificidade a biomassa está associada com uma variedade de matéria orgânica como a madeira, a palha, o lixo de papel entre outros. Assim, do ponto de vista energético, o conceito de biomassa seria o recurso renovável proveniente de matéria orgânica (de origem vegetal ou animal), que pode ser usado para a produção de energia (CENBIO, 2012).

Em escala mundial como nacional, o potencial energético a partir da biomassa é enorme (LORA; ANDRADE, 2004). Assim, os biocombustíveis poderiam ser uma das soluções para o problema do fornecimento de energia elétrica em comunidades isoladas, o que respectivamente pode estabelecer um estímulo para o desenvolvimento de atividades extrativistas sustentáveis que cooperem para o desenvolvimento local destas comunidades.

A culminância da valorização da biomassa no contexto energético é enfatizada por Sachs (2007a), ao propor que a saída da civilização do petróleo é possível, num período de 20, 30 anos, para a construção de uma civilização moderna de biomassa, a qual possibilitaria atacar os problemas do século, destacando-se o problema da fome, do trabalho digno para todos, do emprego, e um futuro melhor para as famílias e os pequenos agricultores. Esta civilização tem a função de não somente produzir agrocombustíveis, mas também alimentos, adubos verdes, cosméticos, forragem para animais e outros.

A biomassa apresenta-se como fonte dominante na matriz energética de muitos países, e pode ser utilizada como fonte de energia diretamente, pois tem a capacidade de produzir calor como produto energético imediato, por meio da sua combustão. Por outro lado, a biomassa também pode ser utilizada indiretamente, pois a combustão passa por um procedimento podendo ser físico, termodinâmico (pirolise, gaseificação e liquefação) ou biológico (digestão anaeróbica e fermentação), resultando outra fonte energética podendo ser sólido, líquido ou gasoso. Os biocombustíveis, a lenha, o gás e o carvão vegetal são exemplos destas fontes energéticas (EPE, 2011).

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As biomassas mais utilizadas como recursos energéticos no Brasil são os produtos de cana-de-açúcar e lenha. A cana de açúcar utilizada como matéria-prima para produção de biomassa origina produtos primários como o melaço, o caldo da cana, as folhas e as pontas. Já como produtos secundários tem-se o álcool anidro e hidrato (EPE, 2011). Portanto, destaca-se que o Brasil é consumidor da energia produzida através da biomassa, e sua ação tem forte influencia no setor energético brasileiro. Assim, é importante explorar a matriz energética no mundo e no Brasil com ênfase na produção de etanol.

2.1.3 Contexto energético brasileiro

Ao longo da história, a oferta e a demanda de energia sofreram inúmeras transformações. Estas transformações ocorreram devido aos fatores de desenvolvimento voltados para a evolução da produção de bens e serviços, da transmissão e distribuição de energia, da descoberta de novas fontes de energia, do crescimento populacional e econômico. Assim, essas modificações justificam as substituições de fontes energéticas, seja para atender o crescimento econômico e as necessidades humanas da sociedade, bem como atender o desenvolvimento (REIS et al, 2012).

Em razão da presença de fontes renováveis de energia, a matriz energética do Brasil é considerada uma das mais limpas do mundo, graças à geração de energia a partir de produtos de cana, lenha, fontes hidráulicas e outras fontes renováveis. Portanto, pode-se afirmar que o Brasil é um país preocupado em utilizar fontes renováveis para produzir eletricidade (BRASIL, 2012).

No ano de 2011 no Brasil, para cada mil dólares produzidos, foram consumidas cerca de 11,78% de toda energia interna. A oferta interna de energia foi de 272,4 milhões de tep (tonelada equivalente de petróleo) para produzir um Produto Interno Bruto na ordem de US$ 2.312 bilhões. Ressalta-se que, a energia consumida foi de 257,8 milhões de tep. Assim, no ano de 2001, cada brasileiro consumiu 1,3 tep, enquanto que no ano de 2011 foi consumido em média 1,41 por habitante (BRASIL, 2012).

Diante do exposto, a figura 1 faz uma comparação com a figura 2 das fontes primárias de energia entre o Brasil e o mundo em 2011.

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Figura 1 - Fontes primárias de energia no Brasil no ano de 2011

Fonte: BP (2012)

Figura 2 -Fontes primárias de energia no mundo no ano de 2011

Fonte: BP (2012)

A energia primária renovável no Brasil em 2011 representou 40% do consumo total, contra 8% no mundo. Apesar disso, o consumo de petróleo no país é 12 pontos percentuais maiores que a média do consumo mundial, representando 45% das fontes primárias consumidas no mesmo ano. Quanto às fontes de energia não renováveis (petróleo, gás natural, energia nuclear e carvão), o Brasil somou 60% do total de energia primária. Esse cenário demonstra um forte empenho do país para a utilização de fontes renováveis de energia.

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A matriz energética brasileira sofreu muitas transformações ao longo dos anos. No ano de 1940 o carvão vegetal e a lenha representaram 83,34% das fontes energéticas, entretanto no ano de 2011 não chegou a 10%. Destaca-se que os produtos da cana de açúcar em 2011 representaram quase 16%, contra 2,37% no ano de 1940. Já, o petróleo e seus derivados passaram de 6,41% em 1940, para 48,76% em 2011 (BRASIL, 2012).

Em 2011 as fontes não renováveis representaram 56% da oferta de energia, destacando o petróleo, que foi responsável por 38,63% do total da oferta, e 69% das fontes não renováveis. A oferta interna das energias renováveis representou 44%, sendo que incluindo a energia elétrica e hidráulica, representaram 30% na oferta global, e foram responsáveis por 98% da oferta de energias renováveis (BRASIL, 2012).

A evolução da oferta interna de energia é representada na figura 3, que demonstra a matriz energética entre os anos de 1940 a 2010.

Figura 3 - Participação por fonte de energia entre os anos de 1940 a 2010

Fonte: Brasil (2012)

Evidencia-se a transição do uso do carvão vegetal e da lenha para o uso do petróleo e a inserção de produtos de cana a partir da década de 70, devido ao programa Proálcool no Brasil, implementado a partir de 1974 em resposta a crise do petróleo. Destaca-se também a crescente participaçãoda energia hidráulica e eletricidade.

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A partir do ano de 1970, com a implantação do Programa Pró-Álcool no Brasil em resposta a crise do petróleo, percebe-se claramente a inserção de produtos de cana, e a transição do carvão vegetal e lenha, ou seja, é notável a introdução de novos produtos para geração de energia. Assim, com a implantação do Programa Pró-Álcool, o consumo e a oferta de energia passam a ser relacionado ao consumo de etanol (álcool etílico).

A figura 4 ilustra oconsumo de combustíveis no setor de transportes:

Figura 4 - Consumo de combustíveis no setor de transportes no Brasil

Fonte: Brasil (2012)

No setor de transportes, os combustíveis fósseis representam o maior consumo, sendo 82,3% do total. O consumo total de etanol foi de 14,46%, e o óleo diesel foi o mais utilizado representando 48,79% no ano de 2011.

Alinhando-se ao objetivo do estudo, de analisar o potencial de impacto de uma usina produtora de etanol no ambiente de Cândido Godói, apresentam-se informações da matriz energética do Rio Grande do Sul, e contextualiza-se a produção de energia, elucidando a produção de etanol. Neste sentido, faz-se um resumo das fontes energéticas produzidas no estado:

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Quadro 2 - Fontes energéticas produzidas no Rio Grande do Sul no período de 2005 a 2010

Fonte Energética 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Bagaço cana de açúcar (mil t) 17 28 38 33 48 81

Lixivia (mil t) 575 640 671 679 626 685

Casca de arroz (mil t) 490 1.085 1.028 1.186 1.1279 1.398 Energia Eólica 145.095 408.749 430.137 384.333 358.140 Carvão Mineral (mil t) 3.194 3.133 3.100 3.572 3.050 5.240 Gás natural veicular-GNV¹

(milhões m³)² 1.008 901 659 715 538 588

Nota 1: O Rio Grande do Sul não possui reservas GNV, recebe o gás para comercializar. Fonte: EPE (2011).

O Rio Grande do Sul não tem em seu território reservas de petróleo, no entanto conforme a tabela percebe-se a crescente produção das fontes energéticas com exceção do ano de 2008 em relação ao ano de 2007. Em relação ao etanol, o estado produz apenas etanol hidratado, entretanto sua produção não é suficiente para demanda local, pois existe apenas uma destilaria no estado. No quadro 3 revela-se a crescente demanda, exceto os anos de 2006 e 2010 evidenciando que a demanda do etanol é bastante aquém da produção interna (RS, 2011).

Quadro 3 - Produção e consumo de etanol no período de 2005 a 2010 no Rio Grande do Sul

Fonte Energética 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Produção de etanol hidratado (m³) 3.338 5.686 6.818 6.318 2.458 5.800 Consumo de etanol hidratado (m³) 189.898 158.759 219.335 324.890 403.028 240.893 Fonte: EPE (2011)

A partir do quadro 3, nota-se que a demanda por etanol é crescente, com exceção do ano de 2006 e 2010 que tiveram decréscimo. Esta seção buscou elucidar a matriz energética nacional. Além disso, compreender a questão das fontes renováveis e a possibilidade de novas fontes energéticas foi indispensável para a realização desta pesquisa.

2.1.4 Trajetória da produção e o mercado de etanol

O marco da produção de etanol no Brasil vincula-se o contexto da Guerra de Yom Kippur, em outubro de 1973, quando o panorama mundial do petróleo muda de maneira drástica. Trata-se de um conflito entre israelenses e árabes, que buscavam recuperar territórios perdidos por Israel durante a Guerra dos Seis Dias em 1967, e ao mesmo tempo chamar a

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atenção do Ocidente para a situação dos povos árabes. Entre suas implicações, decorreu ao primeiro embate do petróleo, devido à desafronta dos países árabes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) frente à ajuda e apoio norte-americano a Israel (ROEHR, 2001).

Com o término da guerra o mundo necessitava adaptar-se, pois o barril de petróleo aumentara 300 %. Este episódio teve função central para a detonação de uma crise econômica mundial e foi um marco na historia do século XX. A partir desse período, a reflexão do mundo sobre a questão energética foi decisiva e medidas foram adotadas por vários países para conter a dependência da importação do petróleo.

Com a significativa mudança, o interesse mundial por outras fontes de energia ressurgiu e levou diversos países a buscarem soluções mais adequadas, às peculiaridades nacionais (BERTELLI, 2007).Assim, o mercado de etanol combustível se tornou mais forte e resistente.

Posteriormente ao Primeiro Choque do Petróleo, veio à discussão a questão energética, consolidada nas inquietações com segurança de suprimento de combustíveis e seguida dos desdobramentos macroeconômicos, como impacto inflacionário e déficits no balanço de pagamentos (YERGIN, 1992). Nesse cenário, criou-se o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), no ano de 1975, que primeiramente concretizou a política de incentivos ao etanol e elevou progressivamente o teor de mistura na gasolina (LEITE, 1997).

Na segunda etapa do programa Proálcool, entre os anos de 1979 e 1985, posteriormente o Segundo do Choque do Petróleo, com a ampliação de motores movidos excepcionalmente a etanol hidratado (graduação alcoólica de aproximadamente 95%) e a concepção de mecanismos causadores de incitação à compra de veículos providos desta tecnologia, bem como à produção e ao consumo de etanol, ocorreu um amplo crescimento do consumo de etanol (SHIKIDA; BACHA, 1999). A partir desse período, destaca-se o etanol sob a ótica econômica da demanda, não como um bem complementar à gasolina, mas sim um bem substituto.

Um conjunto de condições adversas, como a diminuição da base governamental ao Programa, na segunda metade da década de 1980 e o progresso da produção nacional de petróleo, minou a confiança dos agentes econômicos e desencadeou uma crise de desabastecimento de etanol entre os anos de 1989 e 1990. Em resposta, a adição compulsiva de anidro sofreu seguidas reduções, chegando até mesmo a ser completada por etanol importados e mistura com metanol durante aquela época (PARRO, 1996). Destaca-se que nos

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anos seguintes, as vendas de veículos movimentados pelo etanol caíram sensivelmente, implicando numa diminuição gradual do consumo de hidratado (SHIKIDA; BACHA, 1999).

No ano de 2003 foi implantada a tecnologia bicombustível, chamada flex, na frota brasileira, que permite o abastecimento com etanol hidratado ou gasolina C ou qualquer mistura de ambos. A produção desses veículos foi incentivada pelo enquadramento do motor flex no grupo de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) reduzido, um ano antes (TEIXEIRA, 2005). Também é importante destacar a redução da alíquota de Impostos sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pelo Estado de São Paulo incidente sobre o etanol hidratado, de 25% para 12%, em 2003 (COSTA; GUILHOTO, 2011).

Os veículos “flexíveis” tiveram grande aceitação e as vendas desses modelos impulsionaram a alteração gradativa do perfil da frota. A partir do ano de 2007, aproximadamente 90% dos veículos leves novos vendidos possuem a nova tecnologia (ANFAVEA, 2011).

Entre os anos de 2003 a 2009, devido a condições favoráveis de oferta e preço de etanol, o consumo de etanol hidratado quintuplicou. Entretanto, nos três anos que se seguiram as condições de mercado transformaram-se radicalmente e a liberdade dada ao consumidor pela nova tecnologia, desta vez provocou compressão de 40% no consumo de etanol hidratado. Em resposta, entre os anos de 2009 e 2012 as vendas de gasolina C cresceram acentuadamente. Outro fato digno de nota é o progresso do consumo total dos dois combustíveis: entre o período de 2003 e 2013, a soma mais que duplicou o que representa um crescimento de mais de 7% médio anual (ANP, 2007). Na figura 5 observa-se a evolução da produção mundial de etanol entre os anos de 2000 a 2012.

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Figura 5 - Evolução da produção mundial de etanol entre os anos de 2000 a 2012

Fonte: ÚNICA (2012a).

O etanol originário a partir de biomassas agrícolas, também pode ser obtido por meio de materiais celulósicos, resíduos agrícolas e do primeiro ciclo de aquisição do etanol. O etanol resultante do material celulósico é chamado de etanol de segunda geração, o qual pode ser produzido por um processo enzimático ou de hidrólise ácida, semelhante ao usado com matérias amiláceas. Entretanto, para obter o etanol de segunda geração são utilizadas enzimas do milho, por exemplo. Assim estudos são realizados para diminuir os custos das enzimas, e tornar viável a produção de etanol (BENSUSSAN, 2008).

No Brasil existem 441 unidades de produção de cana-de-açúcar, onde 153 produzem exclusivamente etanol, outras 268 produzem misto de etanol e açúcar, as demais fabricam apenas açúcar. No Centro-Sul do país é que está centralizada a produção de etanol, que conta com 354 da totalidade das usinas instaladas no Brasil. O maior número de usinas em operação está localizado no estado de São Paulo, sendo 190 unidades (CNI, 2012). A figura 6 demonstra a concentração das usinas produtoras de etanol no Brasil.

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Figura 6 - Concentração das usinas produtoras de etanol no Brasil

Fonte: ANP (2014)

O quadro 4 ilustra a produção e exportações de etanol dos cinco maiores produtores mundiais e totais mundiais exportado, em 2012, em mil m³.

Quadro 4 - Cinco maiores produtores de etanol em 2012

Produção (mil m³) % do total Exportações (mil m³)

Estados Unidos 50.346 61,1% 2.807 Brasil 21.111 25,6% 3.055 Europa 4.312 5,2% Nada Ásia 3.604 4,4% Nada Canadá 1.750 2,1% Nada Total mundial 82.416

Fonte: RFA (2014), EIA (2014) e MDIC (2014).

Apesar do etanol se constituir de um produto relativamente homogêneo quanto à qualidade, existem diferenças a serem notadas nos processos produtivos dos dois países. O etanol no Brasil é produzido especialmente com base na cana-de-açúcar, já nos EUA o etanol é produzido a partir do milho. Essa distinção acaba afetando a produção, a rentabilidade

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energética e as reduções de emissões de gases de efeito estufa (GEE) durante o ciclo de vida, diante da substituição dos combustíveis fósseis (WANG et al, 2012).

No Brasil a produção de etanol em sua maioria é obtida por meio do processamento da cana-de-açúcar. Para aquisição de etanol é preciso ajustar a matéria-prima orgânica com os processos de conversão de energia. Assim, a partir da produção agrícola o etanol pode ser produzido, bem como o uso de vários resíduos. As matérias primas devem conter o insumo básico para a produção e pode ser dividida em três categorias: açúcares, amidos e lignocelulósico.

Osaçúcaressão localizados na cana de açúcar, na beterraba, no sorgo, no melaço entre outros, e podem ser transformados em etanol após procedimento de fermentação e de destilação. Já os amidos são encontrados nos grãos tais como: milho, cevada, trigo e arroz. Os amidos ainda podem estar presentes em tubérculos como batata, mandioca e batata-doce. Portanto, os materiais de origem lignocelulósico são geralmente resíduos florestais, resíduos da cana-de-açúcar, como o bagaço resultado do processo de produção do etanol. Assim, destaca-se que cada cultura agrícola apresenta certo rendimento de etanol por tonelada produzida (SCHUTZ, 2013). Desta forma, a partir de várias fontes foi possível obter subsídios acerca do rendimento do etanol por tonelada produzida de uma série de culturas agrícolas.

Quadro 5 - Rendimento de etanol de diversas matérias-primas

Cultura Rendimento etanol litros

tonelada-1

Referência Localidade

Cana-de-Açúcar 63 Leal et al. (2008) NI

Cana-de-Açúcar 90 Sobrinho (2012) Mato Grosso

Cana-de-Açúcar 80 Magalhães (2007) Tocantins

Cana-de-Açúcar 72 Rosado Júnior, Coelho, Feil (2008) RS

Milho 348 Leal et al. (2008) NI

Milho 345-395 Sobrinho (2012) Mato Grosso

Milho 350 MSW Capital (2011) Média

Nacional

Milho 400 MSW Capital (2011) EUA

Batata-doce 129 Leal et al. (2008) NI

Batata-doce 170 Magalhães (2007) Tocantins

Batata-doce 165 Rosado Júnior, Coelho, Feil (2008) RS

Sorgo Sacarino 58,6 Lima, Santos, Garcia (2011) Goiás

Sorgo Sacarino 62 Rosado Júnior, Coelho, Feil (2008) RS

Beterraba 92 Leal et al. (2008) NI

Trigo 356 Leal et al. (2008) NI

Batata 94 Leal et al. (2008) NI

Tupinambur 82 Leal et al. (2008) NI

Nota: NI (Não Informado)

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O quadro 5 demonstra informações de oito plantas, das quais pode se obter etanol, evidenciando que o rendimento varia entre as culturas e entre as localidades. Para a cana de açúcar, o rendimento varia de 63l a 90l t ha-1. O milho também apresenta rendimentos variados. Nos EUA o rendimento do etanol por tonelada de milho é, em média de 400 L t-1, já no Brasil este rendimento fica em torno de 350 L t-1. A variedade de culturas para a aquisição de etanol atribui uma série de possibilidades que podem ser consideradas do ponto de vista da disponibilidade de matéria-prima localizada em cada região (MACHADO, 2010).

Percebe-se que, existe uma ampla multiplicidade de matérias-primas para serem transformadas em etanol. Entretanto, algumas se sobressaem no mercado, como a cana-de-açúcar e a beterraba. O milho e o trigo são os amidos que se destacam na comercialização. Para insumos lignoceulósicos, estudos estão sendo realizados para tornar sua produção viável (MACHADO, 2010).

Pesquisas da Food and Agriculture Organization (FAO), revelam que no ano de 2010 o mundo produziu 1,7 bilhões de toneladas de cana-de-açúcar, e a cultura do milho vem ocupando o segundo lugar com uma produção aproximada de 840 milhões de toneladas, menos da metade da cana-de-açúcar. A cultura da soja surge na sexta posição com uma produção de quase 265 milhões de toneladas. Já o sorgo destaca-se entre as 25 maiores culturas mundiais com uma produção aproximada de 56 milhões de toneladas. O Brasil é o país que mais produz cana-de-açúcar. Estimativas demonstram que, em 2010 o país produziu 717 milhões de toneladas, correspondendo por quase 42% da produção mundial desta cultura. A produção dos outros nove maiores produtores mundiais não excede a produção do Brasil, aproximando-se com somente 701 milhões de toneladas produzidas na mesma época (FAO, 2012).

O interesse mundial pelos biocombustíveis, especialmente pelo etanol, tem provocado inúmeras discussões em vários países em relação ao uso da terra e de energia. Essa discussão no Brasil se estende por anos, desde a implantação do Programa Proálcool na década de 70, pois dizia-se que a produção de cana-de-açúcar poderia destruir o meio ambiente e agravar o problema da fome no país. Passaram-se anos e esse debate se mostrou insustentável, pois a região Centro-Sul do Brasil uma das mais produtoras de cana, tornou-se um importante produtor de grãos, carne e açúcar (SZWARC, 2014).

Diante disso, muitos especialistas entendem que o problema da fome está ligado ao desemprego, a dificuldades de comprar alimentos devido aos baixos salários, e não com a produção de etanol utilizando como matéria-prima alguns alimentos. As críticas à expansão do etanol no Brasil, geralmente baseiam-se em condições de outros países e sem

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conhecimento da realidade nacional. Dentre os aspectos positivos, relativos à dimensão ambiental, destaca-se o fato de que a cana-de-açúcar, matéria-prima utilizada na produção de etanol, dispensa irrigação e não afeta biomas e florestas protegidos, mesmo porque nenhuma legislação o permitiria (SZWARC, 2014).

Szwarc (2014) defende que o Brasil é um país que apresenta uma significativa área de terras agricultáveis que pode sustentar a produção de alimentos e a de etanol, preservando o meio ambiente. Além disso, ressalta-se a importância da inserção do etanol como fonte na matriz energética, pois o mesmo possibilita a diminuição da emissão de CO2 proveniente de combustíveis fósseise gera benefícios ambientais.

A cana-de-açúcar no Brasil é a matéria-prima mais utilizada para a produção de etanol. Contudo, o país vem fazendo experiências para produzir etanol a partir de outras culturas, como cereais (milho, sorgo granífero). Assim, o sorgo sacarino também vem sendo testado para produção de etanol, sendo este plantado na entressafra da cana-de-açúcar, procurando abastecer o mercado no ano inteiro (FAO, 2012).

2.1.5 Divergências acerca do papel dos biocombustíveis

A produção de biocombustíveis como alternativa energética, não é suscetível de uma só interpretação, existindo divergências acerca de suas reais consequências em relação ao modelo de produção.

Diversas críticas são feitas quanto à possibilidade de diversificação da matriz energética por meio de combustíveis de origem vegetal (ABRAMOVAY; MAGALHÃES, 2007). Trata-se de conectar a produção de biocombustíveis com a insegurança alimentar, a intensificação do efeito estufa e a concentração de renda ao colonialismo energético (BARBOSA; SANTOS, 2011).

Silva (2007) afirma que a suposta insegurança alimentar originada pela produção de biocombustíveis pode ou não ocorrer, depende do sistema de cultivo adotado. O mesmo autor crítica os EUA por produzirem etanol a partir do milho, mostrando suas consequências nos preços. Assim, Silva (2007) ainda enfatiza que os biocombustíveis poderão gerar impactos positivos se países pobres participarem do mercado de agroenergia, produzindo para o consumo interno e exportando a outros países.

Levantaram-se inúmeras críticas sobre os rendimentos líquidos de energia e a diminuição de gases efeito estufa dos processos convencionais de produção do etanol de milho. Entretanto, os processos de produção de etanol que utiliza a cana-de-açúcar como

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matéria-prima são considerados de fato sustentáveis e renováveis, uma vez que o bagaço da cana consegue suprir toda a energia necessária para o processo de industrialização da produção do etanol, embora hajam várias questões relacionadas às queimadas exercidas no canavial durante o ciclo de colheita (FARRELL et al; 2006).

As principais críticas ao modelo de produção de etanol no Brasil referem-se ao sistema de produção prevalente, que tem como característica o uso intensivo de energiafóssil, elevada exploração de mão de obra, uso de fertilizantes químicos e mecanização, baseando-se no monocultivo da cana-de-açúcar a serem processadas nas usinas de grande porte (CAVALETT; LEAL; RYDBERG, 2010).

Do ponto de vista global, a bioenergia pode apresentar tanto oportunidades, quanto riscos para a segurança alimentar. Ao longo do tempo, suas repercussões vão mudar dependendo dos avanços tecnológicos e da evolução das forças de mercado, por isso receberão forte influencia das decisões sobre políticas adotadas no plano nacional e internacionais relacionadas à energia, comércio, agricultura e meio ambiente. Desta forma, é necessário levar em conta a diversidade de situações de cada país (REDE BRASILEIRA PELA INTEGRAÇÃO DOS POVOS, 2008).

Dentre as críticas citadas anteriormente, o monocultivo extensivo, está relacionado com a degradação ambiental, contaminação da água, erosão dos solos e comprometimento da agrobiodiversidade (ALTIERI, 2009; FONSECA; BRAGA, 2010; GRAZIANO NETO, 1986; BERMANN, 2008; ASSIS; ZUCARELLI, 2007). San Martin (1985) afirma que a implantação de usinas de grande porte nas comunidades acaba desorganizando as economias locais, alinhando-se com a visão de Ortega, Watanabe e Cavalett (2006), os quais ressaltam que os custos ambientais acabam por serem repassados indevidamente para as comunidades locais.

No que se refere às relações de trabalho, estudos apontam aspectos negativos quanto à produção de biocombustíveis, pois são relatados problemas como trabalho escravo, exclusão social, exploração da mão de obra infantil e baixa expectativa de vida dos trabalhadores (FONSECA; BRAGA, 2010; THOMAZ JUNIOR, 2002). Locatel e Azevedo (2008) argumentam que:

[...] na medida em que ocorrem transformações espaciais com a substituição de culturas de alimentos pela lavoura canavieira, e de oleaginosas para a produção de álcool e biodiesel, há a territorialização do capital monopolista na agricultura e a precarização das relações de trabalho, proporcionando, assim, maior exploração dos trabalhadores, que passam a engrossar a massa de pessoas que vivem na periferia das cidades, ou mesmo permanecem no campo dependendo de programas

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assistenciais, tendo geralmente que enfrentar todos os problemas ligados a falta de infra-estrutura e de serviço.

Desconsiderando as peculiaridades das relações de trabalho, a produção de biocombustíveis deseja incentivar a participação da agricultura familiar por meio da diversificação de cultivos. Há que considerar que, na produção de biodiesel, as críticas tiveram por alvo a cultura da soja, cujo sistema predominante do cultivo assemelha-se ao de cana-de-açúcar devido ao forte uso de insumos químicos e o monocultivo extensivo. Assim, quanto às questões ambientais e as oportunidades para agricultores, estudiosos apontam que o cultivo da soja continua predominando, e o novo sistema de produção aparentemente não apresenta avanços (ABRAMOVAY; MAGALHÃES, 2007).

Entretanto, Bermann (2008) defende que a produção de biocombustíveis proporciona uma oportunidade de geração de empregos para os cooperados e impactos ambientais positivos. Porém, o autor destaca o importante papel de estruturas de governança para alternativas às dominantes, de maneira que os agricultores possam participar de toda cadeia produtiva, e não apenas na produção de matérias-primas.

No âmbito do noroeste gaúcho a produção de cana tem contribuído de forma significativa para o desenvolvimento da região, como matéria-prima para a produção de álcool etílico hidratado em uma usina que congrega aproximadamente três centenas de agricultores familiares em sistema cooperativo, autogestionário, sendo a única organização do gênero no estado. Essa produção envolve em sua maioria pequenos produtores, num sistema produtivo distinto das demais regiões produtoras brasileiras, em que a cana está associada a outros cultivos como soja, gado de corte, sendo os aspectos mais relevantes à forma de inserção da cultura nos sistemas produtivos da região e a coordenação da cadeia por uma cooperativa (UHDE; FERNANDES, 2008).

Sendo assim, é essencial o desenvolvimento de sistemas integrados de produção de alimentos e energia, nos quais a utilização de insumos, mão-de-obra e máquinas permaneçam harmonicamente integrados em um padrão tecnológico consonante com os impactos sociais, energéticos e ambientais positivos que se deseja causar (ABRAMOVAY; MAGALHÃES, 2007).

Sacks (2005b), um dos grandes defensores da biomassa como fonte energética, aponta um cenário positivo para os biocombustíveis. Primeiramente, destaca as reservas e os preços do petróleo, enfatizando que após a exaustão das reservas de petróleo de maior acessibilidade, não compensaria sua extração. Para o autor também importa a alta dos preços gerada devido à

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