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A PRODUÇÃO DE ETANOL: o projeto da Cooperativa Cooperger

3 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO DE PRODUÇÃO DE ETANOL A PARTIR DE

3.1 A PRODUÇÃO DE ETANOL: o projeto da Cooperativa Cooperger

Um grupo de agricultores do município de Cândido Godói buscando alternativas para aumentar sua renda local e motivados pelo contexto de mercado para biocombustíveis, decidiu elaborar um projeto para implantação de uma destilaria de álcool de cereais. Em seguida organizaram-se em uma cooperativa (Cooperger), mas sem condições financeiras, decidiram buscar uma parceira com a empresa Alsol e acordaram em procurar a empresa MSW Capital localizada no Rio de Janeiro, para que pudesse elaborar um projeto que evidenciasse a viabilidade técnico-econômica da referida destilaria, levando em consideração alguns fatores.

O primeiro fator levado em consideração no projeto foi que a região de Cândido Godói tradicionalmente cultiva cereais, tanto em culturas de verão, como em culturas de inverno. Segundo, possuium conjunto significativo de produtores de leite. Terceiro, é umaregião com vantagem logística em relação ao etanol ofertado pelo modelo sucro-alcooeiro. Por fim, por possuir um conjunto de agricultores e pecuaristas organizados através da cooperativa Cooperger e dispostos a agregar valor a sua produção, obtendo a renda que passaria a circular localmente (MSW CAPITAL, 2011).

Deste projeto resultou a Cooperger, a mesma congrega agricultores que tem por objetivo constituir uma sociedade para a construção e operação de uma destilaria, que objetiva produzir 20.000 litros/dia a partir de milho ou sorgo como matéria prima e, paralelamente, 280.000 litros de ração líquida diária, como efluente, que serão consumidos pelo rebanho leiteiro dos produtores da região. A matéria prima será produzida localmente, sendo necessários 3.125 hectares para o cultivo do sorgo, o que representa 17,4% da área agriculturável do município (MSW CAPITAL, 2011).

A atividade agropecuária do município de Cândido Godói é distribuída entre os seguintes produtos: soja com 9.000 hectares, sorgo e milho com 3.500 hectares, e o restante está associada com as atividades de pecuária de leite, pecuária de corte, e silvicultura. Sua estrutura fundiária baseia-se praticamente no pequeno e médio empresário rural, de posse de propriedades enquadráveis no âmbito da agricultura familiar. Neste novo projeto, os agricultores assumiriam o compromisso de produzir e destinar parte do seu volume de grãosà futura usina (IBGE, 2012).

Em Cândido Godói, boa parte das propriedades não se utiliza da rotação de culturas, lançando mão somente do plantio da soja. Estima-se que dos 4.200 hectares anuais em que a soja deveria ser substituída, apenas 3.200 de fato praticam a rotação de culturas. Isto ocorre porque em Cândido Godói somente a soja e o leite possuem liquidez na região, os demais produtos carecem de um mercado bem estabelecido de compradores (MSW CAPITAL, 2011). Dentre os argumentos empregados pelo grupo elaborador do projeto destaca-se a adoção da monocultura da soja, apresentada com esgotadora do solo e, consequentemente responsável pela diminuição da produtividade, do outro o reconhecimento que o plantio desta cultura significa escoamento fácil da produção. Atualmente o que se verifica é a opção de muitos produtores pela liquidez em detrimento da produtividade. Neste contexto, a demanda por sorgo, gerada pela usina, permitiria a adoção de rotação de culturas e eliminaria a monocultura existente (MSW CAPITAL, 2011).

A Cooperger nasceu com o intuito de agregar valor à matéria-prima e fazer parte de um novo modelo regional de autossuficiência energética e de oferta de insumos para a principal cadeia produtiva do município, a leiteira. Assim, com o atual projeto, a Cooperger pretende disponibilizar energia, alimentos e insumos a partir da biomassa com a estratégia de aumentar a oferta de trabalho, introdução de novos sistemas tecnológicos e logísticos. Seu principio básico é buscar um balanço energético, ambiental, social, e econômico com maior grau de sustentabilidade, pois tais sistemas capturam recursos, os quais são, em parte, gratuitos e renováveis (MSW CAPITAL, 2011). Desta forma, a introdução da usina no contexto de Candido Godói é apresentada como possibilidade de uma relação sistêmica entre produtores rurais e a usina, viabilizando maior extração de valor das propriedades locais. Ou seja, os produtos vendidos sairiam do município com maior valor agregado havendo maior retenção de renda local oriunda da melhoria dos termos de troca entre os insumos que entram e os que produtos que saem desse espaço social. A destilaria seria uma atração para o desenvolvimento de novas atividades a ela direta ou indiretamente relacionadas. Além da

própria receita da usina outras rendaspoderiam ser internalizadas na comunidade, através do fornecimento de insumos e mão de obra (MSW CAPITAL, 2011).

A perspectiva do grupo com o empreendimento é a construção e constituição de um modelo de oferta de biocombustíveis localmente, que possa se replicar e facilmente se expandir, configurando-se como solução para a questão da produção do etanol em conjunto com as comunidades na qual se insere (MSW CAPITAL, 2011).

A Cooperativa Cooperger é composta por 114 cooperados, podendo chegar a 120. Estes agricultores participaram de palestras, seminários de capacitação e visitas técnicas em empreendimentos de produção de etanol a partir de cereais (MSW CAPITAL, 2011). A proposta inicial dos cooperados baseava-se na produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, e contava com apenas 47 cooperados, no processo de concretização da cooperativa.

Foram realizados diversos experimentos com a cultura cana-de-açúcar como matéria- prima, para avaliar sua viabilidade na produção de etanol em Cândido Godói. Por meio desses experimentos, testados nas propriedades dos agricultores, os mesmos decidiram que a produção de cana-de-açúcar não é a matéria-prima mais adequada para a obtenção de etanol (MSW CAPITAL, 2011).

A decisão de não optar pela cultura cana-de-açúcar para produção de etanol baseia-se nos seguintes argumentos: o solo das áreas dos agricultores não é adequado, há escassez de mão-de-obra no município de Cândido Godói, a colheita de cana sé dá num período chuvoso e não há máquinas para realizar a colheita. Além destes argumentos, destaca-se que a cana-de- açúcar, enquanto matéria-prima para a produção de etanol apresenta forte tendência à monocultura e ineficiência na extração da sacarose para pequena escala (MSW CAPITAL, 2011).

Pelo exposto, a Cooperger decide não adotar a cana-de-açúcar como matéria-prima. Passa então a considerar o cultivo de grãos do município e, a partir de visitas técnicas realizadas na usina localizada em São Pedro do Turvo em São Paulo, no ano de 2011, opta por adotar grãos como matéria-prima, como milho e sorgo granífero. Um fator importante levado em consideração pela adoção dos cereais, é que os mesmos podem ser armazenados, diferentemente da cultura da cana (MSW CAPITAL, 2011).

A produção de cereais para etanol é defendida em argumentação constante no projeto, pois representaria vantagens para o município de Cândido Godói, uma vez que, a existência de máquinas diminui os custos e a familiaridade com cultivo decerais está presente na cultura do município. Desta forma, adota-se o sorgo granífero como matéria prima para produção de etanol (MSW CAPITAL, 2011).

Dentre as vantagens elencadas pela MSW Capital (2011), destaca-se a multifuncionalidade dosorgo que pode ser utilizado na alimentação animal nas propriedades rurais dos agricultores, na produção de amido, farinha para panificação e álcool. A cultura do sorgo, diferentemente da cana-de-açúcar, é mais resistente à secas, bem como as doenças. Assim, defende-se queao utilizar aproximadamente 30% da área agricultável do município, é possível obter uma quantia de grãos suficiente para atender o projeto. Neste contexto, os agricultores poderão intercalar a produção de soja já consolidada, com a produção de milho e sorgo.

Figura 7 - Evolução da produção de produtos agrícolas de Cândido Godói, em toneladas no período de 2000 a 2011

Fonte: IBGE (2012).

Na figura 7 evidenciam-se as culturas de milho, cana-de-açúcar, sorgo e trigo, visto como uma possibilidade para a obtenção de etanol. O milho se sobressai sobre as culturas do sorgo e do trigo, revelando que a preferência em produzir grãos para obtenção de etanol é reflexo da economia local do município. Portanto, além do estudo experimental com a cana de açúcar, os responsáveis pelo projeto buscaram informações que pudessem dar alicerces para a tomada de decisões. Desta forma, foi realizado um estudo de viabilidade pela empresa MSW Capital no ano de 2011.

Uma vez definido que a usina produtora de etanol a ser implantada no ambiente de Cândido Godói utilizará como matéria-prima cereais, deve-se considerar que a produção de

etanol a partir de cereais diferencia-se das culturas de cana-de-açúcar e beterraba. O caldo da cana vai direto para a fase de fermentação, dada à presença de açúcares. No entanto, no caso dos cereais é necessária uma etapa anterior para remover os açúcares do amido, a qual é realizada antes do processo de fermentação. O processo de produção de etanol de cereais para o projeto da Cooperger no município de Cândido Godóié apresentado simplificadamente no quadro 6 (MSW CAPITAL, 2011).

Quadro 6 - Processo de produção de etanol de cereais

1) Recepção da Matéria-Prima

A matéria-prima é recebida, podendo ser processada imediatamente ou estocada no silo de armazenagem

2) Moagem O sorgo é encaminhado para moinhos, onde é triturado e

preparado para o cozimento

3) Cozimento Nesta etapa o sorgo triturado recebe água, cal para correção do

Ph

4) Hidrólise Essa etapa consiste em transformar o amido em glicose e

maltose, a enzima alfa-amilase

5) Sacarificação A adição de ácido sulfúrico busca manter pH exigido e então

adiciona-se a enzima amiloglucosidase para finalizar o processo de transformação do amido em glicose e maltose

6) Fermentação Adiciona-se as leveduras para iniciar a fermentação e os

nutrientes e biocida

7) Destilação Após a fermentação, o vinho formado é enviado às colunas de

destilação, onde se separa o álcool etílico contido dos demais elementos

8) Produtos finais e resíduos

Esta é a etapa final onde o álcool etílico é coletado, bem como os resíduos e coprodutos (óleo fúsel, restilo e álcool de segunda) Fonte: Elaboração própria, a partir da MSW Capital (2011); BNDES (2008)

Através da produção de etanol serão obtidos outros coprodutos, que poderão ser comercializados gerando receitas. O restilo, ou ração líquida é um coproduto, que merece destaque. O modelo adotado pela Cooperativa Cooperger originará o restilo procedente do processo de produção de etanol, o qualé passível de comercialização e poderá serutilizado na alimentação animal, diminuindo custos aos cooperados (MSW CAPITAL, 2011). No quadro 7 é exposta uma comparação entre os custos do atual modelo de produção de leite e o novo modelo, incluindo o emprego do restilo.

Quadro 7 - Comparativo entre o modelo prevalente e o proposto, para alimentação de gado leiteiro, incluindo o emprego de restilo da produção de álcool de cereais

Custo por vaca em lactação no atual

modelo

Custo por vaca em lactação no novo

modelo

Componentes Custo/ kg Componentes Custo

Ração 4,32 Ração líquida

Ração energética

1,80 0,51

Volumoso Silagem 3,32 Volumoso Silagem 3,32

Volumoso Pasto 1,20 Volumoso Pasto 1,00

Luz 0,25 Luz 0,25 Mão-de-Obra 1,56 Mão-de-Obra 1,56 Assistência técnica/medicamentos 0,46 Assistência técnica/medicamentos 0,46 Total 11,11 Total 9,40

Média com 23 litros dia: Receita

18,40 Média com 23 litros dia: Receita

18,40

Margem líquida 7,29 Margem líquida 9,30

Fonte: MSW Capital (2011)

Com a introdução da ração líquida a diferença entre os modelos gera uma margem de R$ 2,01 por vaca/dia. Isso significa um aumento mensal de R$ 60, 30, na renda do agricultor, sem mexer na produtividade e nos custos com a mão-de-obra (MSW CAPITAL, 2011). Entretanto, não são tratados os aspectos de eficiência da substituição da ração pelo emprego do restilo.

Uma vez considerados os aspectos técnicos da produção e destino dos efluentes da produção de etanol, uma importante etapa a considerar para a implantação da usina é a obtenção de recursos para financiamento da obra física. Dessa forma, na Tabela 1 ilustram-se valores dos investimentos a serem realizados para a implantação de produção de etanol a partir do sorgo granífero.

Tabela 1 - Investimentos para a implantação da usina

Item Valor (R$) Obras de Engenharia 1.115.591,26 Equipamentos e máquinas 3.605.211,91 Montagens e Instalações 836.693,44 Unidade de Secagem 2.459.469,53 Consultorias 559.949,28 Total de investimento 8.576.915,42 Fonte: Elaboração própria a partir de MSW Capital, 2011.

Os investimentos em equipamentos e máquinas representam o maior investimento, conjuntamente com a unidade de secagem, perfazendo 42% e 29% do total do investimento, ou seja, 71% do total do capital necessário para a implantação da usina de etanol. As obras civis, as montagens, instalações e consultorias representam os outros 29%. É importante destacar que essa estimativa foi realizada a fim de implantar uma destilaria com capacidade para produzir 20 mil litros de etanol diariamente (MSW CAPITAL, 2011).

O quadro 8 representa os parâmetros técnicos de produção expressos em quantidades anuais, necessárias para o funcionamento da usina em 330 dias.

Quadro 8 - Parâmetros técnicos de produção de etanol de cereais – Projeto Cooperger

Item Descrição

1-Etanol Capacidade produtiva de 20 mil

litros/dia.

Capacidade anual: 6,6 milhões por ano.

2-Cooprodutos Restilo (Cereais) Capacidade Produtiva anual: 92,4 milhões de litros

1l etanol-14l restilo

Óleo Fúsel Capacidade Produtiva anual: 13 mil litros.

1000l etanol-2l óleo fúsel Álcool de segunda Capacidade Produtiva anual: 50

litros

1000letanol-30l álcool de segunda 3-Matéria-prima Sorgo granífero 18.857 toneladas por ano.

Rendimento médio etanol sorgo: 350 l-t

4-Insumos produtivos Enzima alfa-amilase 7,5 toneladas Enzima amiloglucosidade 15 toneladas

Cal 22,5 toneladas

Ácido Sulfúrico 11,3 toneladas Soda Caústica (50%) 6,8 toneladas

Ureia 13,5 toneladas

Superfosfato 9.7 toneladas

Sulfato de Magnésio 0,4 toneladas

Adubo Foliar 0,2 toneladas

Aditivo para Destilaria 0,2 toneladas

Bactericida 0,9 toneladas

5-Insumos Operacionais Energia elétrica 2.599 MW

Água 339.426 m³

Combustível para vapor (lenha)

11.550 m³ Fonte: Elaboração própria a partir de dados da pesquisa.

No que se refere às relações de trabalho da futura usina, oscooperados da cooperativa Cooperger serão divididos em três categorias: administração, secagem e operação. O número de pessoal ainda deve ser estipulado, caso a usina produtora de etanol seja implantada (MSW CAPITAL, 2011).

A usina de etanol pretende operar 330 dias no ano, produzindo anualmente 20.000 litros. Diante do exposto, os preços estabelecidos estão expressos na tabela 2.

Tabela 2 - Preços estabelecidos para produtos gerados na usina –Projeto Cooperger

Descrição Preço Unitário R$

Unidade de Medida

Quantidade Anual

Etanol 1,105 Litro 6,6 milhões de litros

Cooprodutos

Restilo 0,043 Litro 92,4 milhões de litros

Óleo fúsel 1,00 Litro 13 mil litros

Fonte: MSW Capital (2011)

Conforme destacado, o preço do etanol foi estabelecido em R$ 1,105. Desta forma, a receita bruta para o período do ano 1 ao 19 foi estimada em R$ 11,398 milhões, resultado da venda do etanol e dos coprodutos. Assim a receita do etanol representa 64% da receita bruta, resultando em R$ 7,293 milhões. Os coprodutos representam 36% do total, enfatizando o valor pela comercialização da ração líquida ou restilo que é responsável por 35% do total da receita (MSW CAPITAL, 2011).

Atualmente, o projeto da Copeerger enfrenta obstáculos para sua efetiva materialização, no entanto os cooperados buscam uma nova parceria financeira com americanos, para que projeto se concretize e ocorra a implantação da usina produtora de etanol.