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A (im)possibilidade de quitação de tributos mediante a compensação com precatórios

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GRANDE DO SUL

CARLOS EDUARDO FACCIN ZANCHI

A (IM)POSSIBILIDADE DE QUITAÇÃO DE TRIBUTOS MEDIANTE A COMPENSAÇÃO COM PRECATÓRIOS

Ijuí (RS) 2014

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CARLOS EDUARDO FACCIN ZANCHI

A (IM)POSSIBILIDADE DE QUITAÇÃO DE TRIBUTOS MEDIANTE A COMPENSAÇÃO COM PRECATÓRIOS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Maristela Gheller Heidemann

Ijuí (RS) 2014

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Dedico este trabalho aos meus pais, minhas fontes de força e equilíbrio, elementos essenciais para alcançar a vitória nessa árdua batalha.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, por todo o apoio, paciência, compreensão e pelas longas conversas de incentivo, jamais me deixando esmorecer ante as dificuldades e principalmente pelas inúmeras noites de sono perdidas juntos.

À minha orientadora Maristela Gheller Heidemann, pelo privilégio de realizar essa jornada ao seu lado, ganhando conhecimento, experiência e principalmente, uma amiga que lembrarei para sempre.

Aos meus colegas de trabalho pelas inúmeras conversas extremamente instrutivas, ao Dr. Egídio Dal Forno pela grande oportunidade e principalmente ao Dr. João Luciano Savian, meu mentor intelectual, por todo o auxílio e disponibilidade todas as inúmeras vezes que foi solicitado.

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“O poder de tributar não significa nem envolve o poder de destruir, pelo menos enquanto existir esta Corte Suprema” Oliver Wendell Holmes Jr.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso traz inicialmente a conceituação de execução e de Fazenda Pública, com o intuito de nortear o estudo do regime dos pagamentos efetuados pelo ente público. Após, é realizada abordagem no regime dos precatórios estabelecido na Constituição Federal, além de uma análise sobre as mudanças que recaíram sobre eles, oriundas das Emendas Constitucionais nºs 30 e 62. Por fim, é abordado o tema da possibilidade, ou não, de quitação de tributos através do instituto da compensação com precatórios, medida imposta pelo Estado face ao cidadão, porém que não tem o mesmo caráter quando a Fazenda Pública é devedora, além da conceituação da compensação e garantia em execução fiscal.

Palavras-Chave: Fazenda Pública. Precatório. Constituição Federal. Compensação. Tributos.

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The present conclusion essay brings initially the definition of execution and Public treasury, with the intention of leading the study of the system of payments made by the public entity. Then we proceed to an approach to the system of special judicial orders (precatórios) established in the Federal Constitution, besides an analysis of the changes that they suffered due to the Constitutional amendments n. 30 and 62. Finally we deal with the topic of the possibility of tax discharge according to the Compensation Institute with special judicial orders (precatórios), an action imposed by the state before the citizen even though it does not have the same nature when the public treasury is debtor, and the definitions of the compensation and assurance on the tax execution.

Key words: Public Treasury. Special judicial orders (precatórios). Federal Constitution. Compensation. Taxes.

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INTRODUÇÃO ... 8

1 EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA ... 10

1.1 Procedimento ... 11

1.2 O regime dos pagamentos efetuados pela Fazenda Pública ... 13

1.3 O regime dos precatórios e requisição de pagamentos ... 17

1.4 Classificação e preferência dos créditos ... 20

2 O REGIME DOS PRECATÓRIOS ... 23

2.1 Introdução ... 23

2.2 A disciplina dos precatórios na Emenda Constitucional nº 30/2000 e na Emenda Constitucional nº 62/2009 ... 32

2.3 O regime especial criado pelo artigo 97 do ADCT ... 43

2.4 Os precatórios no Direito Tributário: compensação e garantia em execução fiscal ... 46

CONCLUSÃO ... 52

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho de pesquisa visa o entendimento da execução em face da Fazenda Pública, demonstrando assim o nascimento do título chamado precatório, que nada mais é do que a promessa que o ente públicofaz ao particular, de pagar a indenização oriunda de condenação judicial. Após, será realizada abordagem no regime de pagamentos dos precatórios, o regime especial, as modificações trazidas pelas Emendas Constitucionaisnºs 30 e nº 62 e, por fim, a análise do problema estabelecido: a possibilidade, ou não, da quitação de tributos mediante a compensação com precatórios.

Para a realização deste trabalho serão realizadas pesquisas eletrônicas, bibliográficas e leitura de acórdãos proferidos pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. No intuito de enriquecer ainda mais a pesquisa e os dados nela contidos, foram buscadas informações com profissionais que atuam nesta área, além de leitura em jornais e periódicos disponíveis na rede mundial de computadores, tentando manter sempre as informações atualizadas, uma vez que o tema proposto provoca diversas manchetes jornalísticas.

No primeiro capítulo a intenção será demonstrar como é o nascimento das RPVs e dos precatórios, oriundos das execuções em face da Fazenda Pública, demonstrando suas diferenças principalmente no que se refere ao prazo para pagamentos. Após, uma especificação do regime dos pagamentos, tanto os realizados pelo ente público quanto ao relativodos precatórios.

No segundo capítulo, será abordado, de forma contundente, a busca pela resposta do problema proposto no presente trabalho. Serão evidenciadas as

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mudanças no regime de pagamentos dos precatórios, o regime especial, todos oriundos das Emendas Constitucionais nºs 30 e nº 62, presente também no artigo 97 do ADCT. Por fim, a abordagem mais específica, analisando os institutos da compensação e da garantia em execução fiscal, onde serão vistas as possibilidades e os requisitos para, enfim, desvendar a (im)possibilidade da quitação de tributos com a compensação com precatórios.

O presente estudo busca a resposta para a possibilidade da quitação de dívidas tributárias com a utilização de precatórios. Esta possibilidade não está facultada ao simples ―querer‖ do credor, uma vez que a lei é clara ao demonstrar que somente irá ser absorvida tal proposta quando lei específica assim a regular e permitir, nos termos do artigo 170 do Código Tributário Nacional, além dos entendimentos jurisprudenciais dos Tribunais de Justiça.

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1 EXECUÇÃO CONTRA A FAZENDA PÚBLICA

Na Execução contra a Fazenda Pública, se faz necessária a conceituação de dois elementos. Segundo Didier Jr. (2010, p.28) ―Executar é satisfazer uma prestação devida [...]‖, assim, a execução visa à satisfação de uma obrigação do executado para com o exequente, e pode ser ―[...] espontânea, quando o devedor cumpre voluntariamente a prestação, ou forçada, quando o cumprimento da prestação é obtido por meio da prática de atos executivos pelo Estado.‖.

O segundo elemento, a Fazenda Pública é o conjunto de ferramentas arrecadatórias que visam à manutenção do Estado. Dito de outra forma são os órgãos da administração pública que têm por objetivo arrecadar e fiscalizar os tributos, buscando a manutenção do aparato estatal. No ensinamento de Leonardo Carneiro Cunha (2011, p. 15) ―Fazenda Pública é a expressão que se relaciona com as finanças estatais, estando imbricada com o termo Erário, representando o aspecto financeiro do ente público.‖.

Sempre que figurar tanto no polo passivo quanto no polo ativo, um ente tão importante quanto a Fazenda Pública, se faz necessária a presença de certas prerrogativas, que visam auxiliá-lo na tramitação do processo. Tal ―auxílio‖ se faz necessário diante do excesso de demandas judiciais em que figura a Fazenda Pública, seja como autora, ou como ré.

As ações de execução visam a satisfação do credor em face do devedor e, dependendo do caso, a execução pode dar início a uma privação da propriedade dos bens do devedor. Entretanto, tal medida não se torna possível quando figura no polo passivo da execução a Fazenda Pública, uma vez que não há a possibilidade de realizar penhora e alienação em bens públicos.

Deste modo, define Franco (2002, p. 55), sobre o entendimento acerca da inalienabilidade dos bens públicos:

Isto, porque o fato de um bem particular ser utilizado para uma finalidade pública não o torna um bem público, e porque não se

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pode desconsiderar a personalidade jurídica dessas empresas, de modo a responsabilizar diretamente a controladora (ente de direito público, claro), sem que estejam presentes os pressupostos para esta excepcional medida.

Por conseguinte, inalienáveis os bens públicos; quando vencida a Fazenda Pública na execução, a mesma realizará os pagamentos de outras formas, as quais serão abordadas mais adiante.

1.1 Procedimento

Instruída por normas próprias, a Execução contra a Fazenda Pública segue os termos do art.100 da Constituição Federal (com regras definidas pelo ADCT) e os arts. 730, 731 e 741 do Código de Processo Civil. Referidos dispositivos devem ser observados, de modo que, quando figurar no polo passivo da execução a Fazenda Pública, não serão seguidas as regras tradicionais da execução.

Em uma execução que não tenha no polo passivo a Fazenda Pública, tem-se a distinção dos procedimentos no que tange aos títulos judiciais ou extrajudiciais. O art. 730 do Código de Processo Civil dita o rumo da execução contra a Fazenda Pública. Tal dispositivo assim se apresenta:

Art. 730. Na execução por quantia certa contra a Fazenda Pública, citar-se-á a devedora para opor embargos em 10 (dez) dias; se esta não os opuser, no prazo legal, observar-se-ão as seguintes regras: I – o juiz requisitará o pagamento por intermédio do presidente do tribunal competente;

II – far-se-á o pagamento na ordem de apresentação do precatório e à conta do respectivo crédito.

Nota-se aqui que, após citada, a Fazenda Pública pode opor embargos dentro do prazo de 10 (dez) dias e, assim, se faz necessário aguardar o julgamento da execução uma vez que tal medida suspende o andamento do feito. Caso oposta execução contra devedor diferente da Fazenda Pública, a oposição de embargos não acarretaria na suspensão do processo.

A questão da suspensão automática do processo de execução quando da interposição de embargos pela Fazenda Pública, é ressaltada por uma das

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mudanças trazidas pela Lei nº 11.382/2006 que introduziu o art. 739-A no Código de Processo Civil. Referido dispositivo impõe a não incidência de suspensão quando da apresentação dos embargos pelo executado, apresentando em seus extensos parágrafos o rol de momentos específicos para tanto.

Entretanto, conforme os parágrafos do art. 739- A, poderá ser suspensa a execução se o Juiz da causa acolher o requerimento dos embargantes, que deverá trazer fundamentos relevantes de que o prosseguimento da execução poderá causar dano de difícil ou grave reparação às partes, e, desde que já esteja garantida a execução por penhora, depósito ou caução de forma suficiente.

Esta decisão, que dá provimento a suspensão da execução, poderá ser revista a qualquer tempo, tanto que poderá ser modificada ou revogada mediante decisão devidamente fundamentada. Se a suspensão for específica sobre determinada parte da execução, da parte que não recaiu a suspensão, prosseguirão os atos expropriatórios.

Quando houver mais de um executado, o requerimento de suspensão realizado por uma parte, não se estende às outras, devendo cada parte, por seus próprios motivos e fundamentos, alegar a necessidade da suspensão da execução.

Importante também ressaltar, que mesmo quando concedido o efeito suspensivo à execução, os atos relativos à penhora e a das avaliações que recaírem sobre os bens, terão continuidade para fins de celeridade processual.

Ainda no âmbito procedimental da execução em face da Fazenda Pública, mais precisamente nos casos onde o credor não possuir título executivo extrajudicial, capaz de legitimar sua ―vontade‖ processual executiva, tem-se uma fase de conhecimento, voltada exclusivamente para a legitimação da existência de algo ―executável‖, algo que comprove a passividade executiva da Fazenda Pública.

Logo após, reconhecido o direito do exequente, passa-se então a uma nova fase chamada de ―etapa executiva‖. Da mesma forma, busca assim a satisfação, o

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adimplemento concreto daquilo que foi plenamente garantido na etapa anterior, em suma, busca-se fazer a Fazenda Pública pagar aquilo que deve.

1.2 O Regime dos pagamentos efetuados pela Fazenda Pública

Ao provocarmos o Estado pela via judicial, após a procedência da demanda, quando esta implicar no pagamento, indenização ou ressarcimento em favor da parte autora, o Estado terá duas modalidades de pagamento: A Requisição de Pequeno Valor, conhecida também pela sigla RPV, ou através da emissão de precatório, dependendo unicamente do valor do crédito a ser recebido.

As RPVs serão emitidas quando o valor da causa não ultrapassar aos montantes de 60 (sessenta) salários mínimos nacionais, para a União, 40 (quarenta) salários mínimos para os Estados e 30 (trinta) salários mínimos para os Municípios, podendo a lei local estabelecer outros limites, nos temos em que dispõe o artigo 100, §4º da CF/88.

Quando o valor da condenação de ação judicial extrapolar este valor, então terá nascimento o precatório, ordem de pagamento feita pelo Judiciário ao Executivo, que, se enviada até a data de 30 (trinta) de junho de um ano, deverá incorporar o orçamento público do exercício financeiro seguinte, o que não significa e nem garante que será pago no ano seguinte.

O regime dos pagamentos dos precatórios mostra que, na realidade não há o pagamento no ano seguinte, uma vez que a ordem de pagamentos e o evidente excesso de precatórios faz com que sua legitimação demore anos para ocorrer, sendo o beneficiário do precatório um mero detentor de um título, sem poder efetivamente utilizar o poder financeiro conferido nele.

Ainda, há que ressaltar alguns dos privilégios processuais que goza a Fazenda Pública, tais como a dispensa do pagamento das custas processuais e pagamento equitativo dos honorários advocatícios de acordo com o art. 20 do CPC. Também goza de prazo diferenciado, conforme se vê no art. 188 do CPC: ―Art. 188.

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Computar-se-á em quádruplo o prazo para contestar e em dobro para recorrer quando a parte vencida for a Fazenda Pública ou o Ministério Público.‖.

Nenhum pagamento será feito pela Fazenda Pública, senão pelo regime estabelecido no art.100 da Constituição Federal. Assim preconiza o caput do referido artigo:

Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.

A ordem cronológica, quer seja simplesmente a ordem decrescente do tempo da expedição do precatório, será apreciada quando dos pagamentos. Entretanto, existem casos específicos que têm preferência no pagamento, ou seja, terão prioridade no momento do pagamento, podendo se antecipar a precatórios mais antigos.

Terão preferência no pagamento dos precatórios àqueles credores que tiverem 60 (sessenta) anos ou mais na data da expedição do precatório. Quando não for este o caso, o credor que completar os 60 anos de idade após a expedição do precatório e for credor originário de precatórios alimentares, somente poderá pleitear a preferência do pagamento do crédito, apresentando requerimento de preferência decorrente de idade.

O § 1º do art. 100 da Constituição Federal, apresenta a conceituação dos débitos de natureza alimentícia:

Art. 100.

§ 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, provimentos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo.

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A ressalva que consta no § 1º do art. 100 da Constituição Federal, em indicação ao § 2º do mesmo dispositivo, se refere aos débitos de natureza alimentícia para aqueles que tenham 60 anos de idade ou mais na data da expedição do precatório, ou ainda sejam portadores de doença grave. Nestes casos terão preferência de pagamento sobre todos os demais débitos até o valor equivalente ao triplo estabelecido em lei, admitindo assim o fracionamento do pagamento, mantendo o restante a ser pago pelo critério da ordem cronológica.

No orçamento das entidades de direito público, é obrigatória a apresentação das verbas necessárias para pagamento dos precatórios, oriundos de sentenças já transitadas em julgado, devendo constar no orçamento os precatórios apresentados até o dia 1º de julho e o pagamento deverá ser feito até o final do exercício seguinte, ainda com atualização monetária referente ao período de ―espera‖.

Como mencionado, o disposto no parágrafo anterior, encontrado no texto do § 5º do art. 100 da Constituição Federal não é cumprido comumente no prazo estabelecido, haja vista o excesso de demandas em face da Fazenda Pública, gerando incontáveis expedições de precatórios e, assim, fazendo com que o ente público demore alguns anos para conseguir efetivamente quitar seus débitos para com seus credores, não cumprindo o disposto no citado parágrafo.

Importante também ressaltar que, no momento da expedição do precatório, seu valor total será abatido de eventual dívida que o credor tenha com a Fazenda Pública, inclusive parcelas que ainda não estão vencidas no momento da expedição do título, de forma que, compensados o ativo e o passivo, o resultado será o valor atribuído ao precatório.

Antes deste procedimento, o Tribunal irá solicitar à Fazenda devedora, informações sobre tais descontos (dívidas do credor) para que sejam respondidas em até 30 dias, sob pena de perda do direito de abatimento.

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Referente a esta compensação feita pela Fazenda Pública, diante de eventual dívida tributária do exequente, Machado (2010, p. 282), nos ensina que:

―Não é razoável que, para compelir os que eventualmente lhe devem ao pagamento correspondente, imponha a todos os seus credores a obrigação de provar que nada devem. Entretanto, é certo que a Fazenda Pública tem o direito de compensar, ao fazer o pagamento de uma dívida, o crédito que tenha contra aquele a quem vai fazer o pagamento‖.

Nesta hipótese, a Fazenda Pública exerce direito ao qual praticamente não permite que o contribuinte tenha também, quer seja a quitação de algum tributo mediante a compensação com valor devido por ela ao cidadão. Esta abordagem se tornará mais específica no segundo capítulo do presente trabalho.

O credor da Fazenda Pública poderá também ceder, no total ou em parte, seu crédito de precatório. Tal medida independe da anuência do devedor, devendo apenas após a cessão, ser protocolada no Tribunal, petição informativa da cessão, constando o beneficiário e a porcentagem ou valores que foram cedidos.

No que se refere à cessão de parte do precatório, esta comumente é utilizada para fins de pedidos administrativos de quitação de tributos mediante a compensação do precatório.

Tal medida se faz necessária mediante a necessidade de o valor do tributo a ser quitado ser exatamente o mesmo do valor do precatório em que o devedor é credor, assim valores equivalentes geram a proposta administrativa de quitação mediante a compensação, tema que terá maior abordagem em item específico.

No que tange à realização de acordos judiciais, também existe diferenciação procedimental quanto à presença, ou não, da Fazenda Pública no processo. Quando não há a figura do ente público, o acordo entabulado entre as partes gera maior celeridade quanto ao pagamento da dívida pelo executado, onde comumente é estabelecido prazo para que seja cumprido o acordo.

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Já quando a executada é a Fazenda Pública, a realização de acordo judicial não gera nenhum tipo de ―bônus‖ quanto ao pagamento. Da mesma forma como ocorre com a ordem de pagamento estabelecida processualmente, o acordo também irá para a fila da expedição dos precatórios (ou RPVs) e terá seu procedimento realizado na mesma ordem e requisitos dos processos em que não foi entabulado acordo. Assim, realizar acordo com a Fazenda Pública não gera nenhum privilégio.

Importante também ressaltar, mesmo que de forma sintética, pois será abordado adiante, o regime especial de pagamento para a Fazenda Pública. Tal regime, estabelecido pelo artigo 97 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, permite o pagamento em regime especial como uma vinculação do título em uma conta especial do valor do estoque dos precatórios, que gera uma atualização dos valores, dividido pelo número de 15 (quinze) anos, que é o período temporal do regime especial.

A outra possibilidade estabelecida pelo regime especial é a destinação de porcentuais da receita corrente líquida, para o pagamento dos precatórios, anualmente. Dos valores auferidos com as porcentagens estabelecidas, a ideia é o pagamento de, no mínimo, metade dos precatórios que mesmo sendo em regime especial, terão sua ordem de pagamento obedecida no sistema de preferências, idade, doença, alimentares e por fim a ordem cronológica de apresentação.

1.3 O regime dos Precatórios e requisição para pagamentos

Diante das conceituações já realizadas, tanto entendendo o procedimento da execução quanto definindo o que é a Fazenda Pública, passa-se agora a análise mais específica sobre os precatórios. Como já visto, o precatório é uma ordem de pagamento feita à Fazenda Pública devedora, referente à execução contra ela promovida.

Em busca de um conceito básico doutrinário, encontramos a definição de precatório feita por Elali (2011, p. 271), de forma objetiva:

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―Precatório é uma ordem de pagar quantia certa decorrente de decisão judicial transitada em julgado contra a Fazenda Pública. O montante de precatórios se constitui em dívida consolidada do Poder Público correspondente‖.

O regime dos precatórios é estabelecido pela Constituição Federal Brasileira, sendo ele o sistema de pagamento das sentenças judiciais julgadas em processos nos quais a Fazenda Pública figure no polo passivo e, reste vencida. Esse sistema de pagamento com a consequente expedição do precatório sempre se dará após o trânsito em julgado do referido dispositivo.

Como visto, os pagamentos dos precatórios devem ocorrer de forma cronológica, quer seja na ordem de sua apresentação e expedição, dos mais antigos aos mais novos. A apresentação deve ser feita até o dia 30 de junho de cada ano e o precatório deve ser pago até o final do exercício financeiro seguinte.

Quanto às garantias dos pagamentos dos precatórios, Elali (2011, p. 273), ensina da seguinte forma,

[...] O orçamento público é o grande garantidor do pagamento dos valores envolvidos. A requisição do dinheiro (daí o nome de

precatório requisitório) é feita pelo Presidente do Tribunal onde o

processo transitou em julgado e o pagamento também é determinado pela mesma Corte. Se a ordem de preferência no pagamento dos precatórios foi violada, o Presidente do Tribunal, a requerimento do credor, pode determinar o seqüestro da quantia necessária à satisfação do débito. (sic)

Se de alguma forma o credor do precatório descobrir que sua preferência cronológica foi violada, tendo seu momento de pagamento sido ―pulado‖, poderá, mediante requerimento escrito protocolado junto ao Tribunal, requerer o sequestro do valor constante em seu precatório diretamente das contas do Estado.

Frise-se que, neste caso, a Fazenda Pública não pagará ao credor o valor do precatório, mas sim terá o montante da satisfação do crédito removido de suas contas, assim como ocorre, por exemplo, em ações de fornecimento de medicamentos.

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A ordem de pagamento dos precatórios se dá de forma cronológica, conforme já exposto. Entretanto, existem credores que terão preferência no momento do adimplemento do precatório em virtude de requisitos que devem ser observados para tanto. Essa ordem de preferência será abordada de forma mais ampla em item específico posteriormente.

No que se refere à requisição de pagamento dos precatórios, Bueno (2010, p. 437) leciona à luz do art. 730, inciso I do Código de Processo Civil,

[...] a requisição do pagamento será feita pelo Presidente do Tribunal competente. Em se tratando de Fazenda Pública Federal, competente é o Presidente do Tribunal Regional Federal da região respectiva; em se tratando de Fazenda Pública Estadual, Municipal ou Distrital, do respectivo Tribunal de Justiça.

Esta requisição é o Precatório, que se resume em uma ordem de pagamento requisitada ao ente público, para que pague determinada quantia a alguém. O precatório, então, tem sua origem, passando a integrar extensa fila que aguarda pagamento, pelo simples fato de existirem inúmeras demandas contra a Fazenda Pública e se os pagamentos fossem realizados conforme estabelecido, provavelmente acarretaria um rombo nas finanças públicas.

Se seguissem exatamente o que determina a lei, os precatórios deveriam ser pagos conforme o seguinte exemplo: um pagamento requisitado até a data de 1º de julho de 2014, o precatório deveria ser adimplido totalmente até a data de 31 de dezembro de 2015. Se a requisição de pagamento do exemplo acima fosse requerida somente em 2 de julho de 2014, o adimplemento se arrastaria até no mínimo no dia 31 de dezembro de 2016.

Existindo alguma situação que leve o credor a necessidade de se manifestar quanto a alguma irregularidade quer seja do momento do pagamento do precatório ou até mesmo referente aos valores que estão sendo disponibilizados, deverá se dirigir diretamente ao juiz da execução que originou o precatório.

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O Presidente do Tribunal que realizou o requerimento do precatório não tem competência para tanto, mas sim apenas para realizar a atualização monetária do valor do precatório até o momento de seu pagamento, tudo conforme o texto do art.100, § 5º da Constituição Federal.

Bueno (2010, p. 438) comenta o art. 1º-E da Lei nº 9.494/1997, introduzido pela Medida Provisória nº 2.180-35/2001, dizendo ―que o Presidente do Tribunal, de ofício ou a requerimento das partes, pode rever as contas elaboradas para aferir a exatidão dos valores requisitados antes do seu pagamento ao credor.‖.

Deste modo, não há o que se falar em requerimentos ao Presidente do Tribunal que originou o precatório senão para a atualização ou avaliação dos valores nele contidos. Quaisquer que sejam as dúvidas, diferentes deste tema, deverão ser direcionadas mediante petição e protocoladas diretamente nos autos do processo de execução que originou a contenda Contribuinte x Fazenda Pública, que gerou o precatório.

1.4 Classificação e Preferência dos Créditos

Como já mencionado anteriormente, os créditos oriundos dos precatórios têm seu pagamento realizado através da ordem cronológica de apresentação. Entretanto, existem tipos de crédito que por sua classificação terão preferência no momento do pagamento, devendo ser antecipados e passando na frente de outros precatórios, mesmo que apresentados cronologicamente antes destes.

Essa classificação, que visa a preferência, se divide em dois tipos de créditos: os de natureza alimentar e os créditos de natureza não alimentar. Os créditos de natureza não alimentar são aqueles que não visam a satisfação pessoal intrínseca à subsistência da pessoa, como, por exemplo, em ações oriundas de desapropriações e também as de natureza tributária.

De outra banda, os créditos de natureza alimentar são aqueles especificamente oriundos de ações de pensões, salários, aposentadoria ou ainda ações que pleiteiem alguma indenização por invalidez ou por morte. Referidos

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créditos, por sua natureza primordial, terão preferência na fila dos pagamentos dos precatórios, tudo conforme o texto do artigo 100, § 1º da Constituição Federal.

A Emenda Constitucional nº 62, promulgada em dezembro do ano de 2009, acrescentou ainda mais dois tipos de classificação alimentar dos precatórios que terão preferência no pagamento. Os requerimentos enviados em nome de pessoa portadora de doença grave e também os pagamentos em favor de pessoa que tiver acima de 60 (sessenta) anos no momento da expedição dos precatórios.

As normas instituídas para estes dois tipos de créditos preferenciais, encontram-se no texto do artigo 100, paragrafo 2º da Constituição Federal que cita,

Art.100. [...]

§ 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para o fim do disposto no §3º deste artigo, admitindo o fracionamento para esta finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório Presidente do Tribunal.

Com base e à luz do dispositivo constitucional citado, perfectibilizado ficou que os portadores de doença grave e os maiores de 60 (sessenta) anos, terão preferência no pagamento dos precatórios, inclusive perante os créditos classificados como alimentares.

Tal situação, estabelecida pelo legislador, visa tratamento prioritário justo, uma vez que os credores que fazem jus aos dois tipos de preferência, realmente devem ter trato prioritário, inclusive em respeito ao Estatuto do Idoso.

Existe, ainda, porém não pacificado pela jurisprudência e doutrina, os casos em que os titulares do crédito, não tinham a idade base de 60 (sessenta) anos no momento da expedição do precatório, e a completarem após a expedição do referido título e o entendimento seria de que por chegarem a tal idade seriam merecedores da preferência do pagamento dos valores.

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Nesta hipótese, a iniciativa será de apresentar requerimento diretamente ao Tribunal que realizou o pedido que originou o precatório. Referido requerimento a ser protocolado, deve ser completo com nome, numero de CPF entre outros dados, além de ser necessário anexar cópias de certidão de nascimento, cadastro de pessoas físicas e se for o caso a comprovação da doença grave. Tal requerimento encontra-se disponível no endereço eletrônico do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (www.tjrs.jus.br) na aba ―processos‖ após precatórios e por fim formulário para pedidos de preferência.

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2 O REGIME DOS PRECATÓRIOS

O presente capítulo será norteado pelo tema do regime dos precatórios; mesmo que a temática já tenha sido estudada no capítulo anterior, ocorreu de forma mais genérica. Agora, a abordagem será baseada desde sua origem até o seu efetivo pagamento, sendo uma análise mais específica, incluindo temas como as mudanças ocorridas no artigo 100 e parágrafos da Constituição Federal, oriundas das Emendas Constitucionais nºs 30 e 62, o regime especial de adimplementos originário do artigo 97 do ADCT, e finalmente os institutos da compensação e garantia fiscal dos precatórios no âmbito do Direito Tributário.

2.1 Introdução

Diante do extenso texto do artigo 100 da Constituição Federal Brasileira encontramos o regime dos precatórios no âmbito jurídico pátrio. Entende-se por regime, a maneira pela qual o Estado irá realizar os pagamentos oriundos de decisões judiciais em favor dos cidadãos.

O regime dos precatórios, previsto no texto Constitucional, estabelece todo o procedimento e a funcionalidade, desde a criação até o efetivo pagamento dos valores constantes neste título. Entretanto, em 9 de dezembro do ano de 2009, foi promulgada a Emenda Constitucional nº 62 que acabou por constituir o regime especial de pagamento dos precatórios pelos Estados, Distrito Federal e Municípios. Tal dispositivo incorporou significativas alterações no que antes dispunha o art. 100 e parágrafos da Constituição Federal.

Conforme já exposto, o caput do referido dispositivo legal estabelece a definição para os pagamentos. As Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, irão proceder nos pagamentos das decisões judiciais de forma exclusivamente cronológica, quer seja, pela ordem de apresentação dos precatórios, tendo prioridade o mais antigo ante o mais novo, e assim sucessivamente.

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O texto do caput do referido artigo, contém a expressão ―exclusivamente‖ ao mencionar a ordem cronológica. Entretanto, tal expressão encontra-se ―solta‖ na sentença, uma vez que a ordem dos pagamentos dos precatórios não será baseada apenas na ordem cronológica, mas também atenderá alguns requisitos especiais adiante exemplificados.

O primeiro e o segundo parágrafos do artigo 100 da Constituição Federal, exemplificam as exceções quanto à obediência da ordem cronológica para pagamento dos precatórios. O § 1º, cita de forma precisa que terão preferência de crédito os pagamentos oriundos das decisões judiciais que sejam proferidas de ações de natureza alimentícia, decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complentações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou invalidez, com fundamentação em responsabilidade civil. Estas espécies de créditos irão tomar a frente em relação à ordem cronológica, porém, permanecerão atrás na questão preferencial da qual trata o § 2º.

O segundo parágrafo trata especificamente da total prioridade de pagamento dos precatórios de natureza alimentícia, quando seus titulares tiverem 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data da expedição do precatório. Ainda preconiza a preferência para aqueles portadores de doença grave definidos na forma da lei. Frisa-se que a idade supracitada é requisito preferencial quando do momento da expedição do precatório e não para aqueles que vieram a completar os sessenta anos de idade no decorrer do processamento do referido título.

Cabe aqui ressaltar que o artigo 100 da Constituição Federal apenas regulamenta o regime de pagamento dos precatórios e conforme o texto do § 3º, tais disposições não se aplicam aos pagamentos dos denominados de pequeno valor, ou mais conhecidas como RPVs.

O regime de pagamento das Requisições de Pequeno Valor poderão ser estabelecidos por leis próprias para tal, tendo liberdade de fixação de valores diferentes para cada ente público, levando em consideração suas capacidades econômicas e outros fatores que façam ser necessária tal diferenciação, tudo conforme o texto do § 4º de tal dispositivo.

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O §o 5º versa sobre a inclusão dos valores dos precatórios no orçamento das entidades de direito público. Assim preconiza o referido dispositivo:

§ 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte, quando terão seus valores atualizados monetariamente.

Quando do trânsito em julgado das sentenças que dão origem aos precatórios, o valor constante na condenação deve ser incluído no orçamento da respectiva entidade originado de precatórios apresentados até o dia 1º de julho. Em continuidade, o pagamento do referido título se dará até o final do exercício seguinte e com o montante atualizado monetariamente. Porém, na prática, o determinado pelo parágrafo quinto não é aplicável, eis que tal procedimento dificilmente é praticado, já que os precatórios são arrastados no tempo até que ocorra o seu efetivo adimplemento.

Já o parágrafo sexto do artigo 100, estabelece que as dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados diante do Pode Judiciário. Ao Presidente do Tribunal que proferiu a decisão exequenda incumbe determinar o pagamento integral do precatório, proceder no sequestro de valores daquele beneficiário que porventura tenha sido preterido na ordem dos pagamentos, mediante requerimento do mesmo, dos valores necessário para a satisfação do seu crédito.

Esta hipótese de sequestro mencionada no parágrafo anterior cristaliza ainda mais o mencionado anteriormente de que o disposto do parágrafo quinto, na parte que tange ao prazo para pagamento do precatório, dificilmente é cumprida. Já no texto do parágrafo sexto encontramos a prova de que a Fazenda Pública poderá não pagar o precatório apresentado até o dia 1º de julho no exercício seguinte, daí, a possibilidade de sequestro de valores, mediante requerimento direcionado ao Presidente do Tribunal. O não cumprimento do prazo para pagamento é tolerável,

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contudo é obrigatória a inclusão dos valores requisitados no orçamento da respectiva entidade.

Neste contexto, a autoridade que deixar de lançar no orçamento os valores oriundos dos precatórios, praticaria sonegação de inclusão orçamentária e estaria vulnerável às sanções impostas pela Lei nº 8.429/92, que versa sobre as penas aplicáveis aos agentes públicos que praticarem atos contra a administração. Porém, não há casos de agentes afastados ou punidos pela referida sonegação, o que acarreta numa necessidade de melhor aplicação ou ampliação da referida lei.

Importante também salientar quanto a possibilidade de se invocar o princípio da moralidade na administração pública. Tal princípio é norteador da manutenção da ordem administrativa com bases sólidas na boa fé, confiabilidade, honra e na probidade com que o agente utiliza na administração pública, que, por exemplo, deve seguir estritamente o estabelecido nos artigos norteadores dos precatórios da Constituição Federal e, conforme já citado, devem lançar no orçamento do ente público, os valores necessáriospara o pagamento dos precatórios.

Os pagamentos dos precatórios conforme já visto, obedecem sequência cronológica, ou, quando presentes certos requisitos, uma ordem preferencial, a qual deve ser obedecida. Se, por alguma atitude, quer seja ativa, quer seja omissiva, o Presidente do Tribunal competente influenciar no andamento dos pagamentos dos precatórios, retardando, favorecendo ou influenciando de qualquer maneira que modifique o regular processamento, incorrerá em crime de responsabilidade, respondendo também diante do Conselho Nacional de Justiça.

O regime dos precatórios tem extrema diferença do regime existente no pagamento das RPVs, quer seja pelo teto máximo, quer seja pelo tempo de pagamento. Neste sentido, cabe ressaltar que não é permitido o fracionamento do precatório, repartição ou outra modalidade que diminua seu valor a fim de que este se enquadre nos termos das RPVs e assim promova celeridade no pagamento. Assim, entende-se que o precatório ―nasce precatório e morre precatório‖, não sendo possível sua transformação em RPV. Também é vedada a expedição de precatórios complementares com a mesma intenção do exposto anteriormente.

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De extrema importância para os rumos deste trabalho, o § 9º do art. 100 da CF/88 assim dispõe:

§9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de regulamentação, deles deverá ser abatido, a titulo de compensação, valor correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial.

O problema encontrado, e motivo deste trabalho, é exatamente o inverso do apresentado e muito bem detalhado no parágrafo nono do artigo 100 da Constituição Federal. De forma sintética, pode-se definir seu teor como sendo obrigatória a quitação de eventual dívida do credor do precatório para com a Fazenda Pública. Assim, antes do ente pagar o que deve, tem o direito de compensar eventual valor que tenha crédito para com o contribuinte.

Exemplificando: se um credor de precatório deixou de efetuar o pagamento de um determinado tributo, e em consequência foi executado pela Fazenda Pública para efetuar o pagamento de determinado valor, no momento em que for receber o valor do seu precatório, pode a Fazenda Pública descontar o montante oriundo da execução dos tributos e repassar apenas o saldo final, após realizado o balanço de crédito e débito.

Interessante a riqueza de detalhes e observações feitas pelo legislador no referido dispositivo, principalmente quando se trata dos interesses da Fazenda Pública. O inverso (e também justo) do disposto no referido parágrafo não encontra amparo legal, ademais, este tema será abordado com maior abrangência em item específico.

Para poder realizar a compensação estabelecida no texto constitucional, o Tribunal competente irá solicitar à Fazenda Pública devedora que apresente, em até 30 (trinta) dias, informações sobre os débitos que o credor do precatório tenha para

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com ela, a fim de realizar os referidos descontos. Não apresentadas as informações em tempo hábil, a Fazenda Pública perderá o direito de realizar tal compensação.

Apesar da aparência solícita deste parágrafo, onde estipula prazo para requerimento da Fazenda Pública, inclusive mencionando ―sob pena de perda do direito de abatimento‖, tal procedimento acaba por atrasar ainda mais o pagamento do precatório, uma vez que além do tempo normal já ser longo. E ainda adicionando o procedimento previsto no § 10 do art. 100 da CF, acaba por existindo uma prorrogação de prazo.

Outra opção para o credor do precatório, estabelecida no § 11 do art. 100 da CF, que se refere a expedição de precatórios específicos para a compra de imóveis públicos pertencentes à entidade devedora. Entretanto, tal modalidade já nasceu fadada ao insucesso, uma vez que para tanto, é necessário que tal procedimento esteja estabelecido em lei da própria fazenda devedora, o que dificilmente irá ocorrer. Assim, para o melhor aproveitamento do disposto do referido parágrafo, seria de extrema importância que tal obrigação não dependesse da vontade do pólo passivo do precatório, mas sim que tal medida fosse facultada ao credor.

Outro acréscimo proveniente da Emenda Constitucional nº 62/2009 é o constante no § 12 do art. 100 da Constituição Federal, que assim versa:

§ 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios.

Consciente do extenso lapso temporal entre a expedição do precatório até o seu efetivo pagamento, o legislador, através da supracitada Emenda Constitucional, estabeleceu a atualização dos valores dos precatórios, ressaltando que esta somente incidirá a partir do momento da expedição do precatório.

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Entretanto, o índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança é a chamada TR – Taxa Referencial, que foi criada ainda pelo Plano Collor II, através da Lei nº 8.177 de 1º de Março de 1991, em seu art. 1º define a maneira de cálculo da TR:

Art. 1º O Banco Central do Brasil divulgará Taxa Referencial (TR), calculada a partir da remuneração mensal média líquida de impostos, dos depósitos a prazo fixo captados nos bancos comerciais, bancos de investimentos, bancos múltiplos com carteira comercial ou de investimentos, caixas econômicas, ou dos títulos públicos federais, estaduais e municipais, de acordo com a metodologia a ser aprovada pelo Conselho Monetário Nacional, no prazo de sessenta dias, e enviada ao conhecimento do Senado Federal.

No endereço eletrônico do Conselho Nacional de Justiça1, encontra-se disponível um programa chamado ―Calculadora do Cidadão‖, a qual permite que sejam realizados os cálculos de atualização monetária dos precatórios, utilizando os índices estabelecidos no parágrafo doze (§12) do art. 100 da Constituição Federal. No texto da referida página, encontra-se a exemplificação do método de cálculo:

O cálculo de mora é feito pela multiplicação: valor inicial informado x número de dias corridos do período especificado x índice correspondente à taxa diária de juros simples aplicada à caderneta de poupança (atualmente 6% ao ano. Índice = 0,06/360).

Ocorre que a Taxa Referencial utilizada para a atualização do valor a ser pago pelos precatórios, não é e nem pode ser considerada um instrumento para realização de correções monetárias. O referido meio utilizado atualmente para correção dos valores, se trata de uma simples modalidade de taxa de juros (0,5% ao mês), não sofrendo influências ante a inflação e, ainda, a Taxa Referencial pode ser manipulada pelo Poder Público, assim gerando certa incoerência na implantação desta modalidade, uma vez que o ente público pode organizar e modificar a atualização monetária daquilo em que ele próprio é devedor.

Já o parágrafo treze (§13) do art. 100 da CF/88 faculta ao credor do precatório ceder, total ou parcialmente, os valores de seu crédito a terceiros. Tal

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medida independe de aceitação da Fazenda devedora e ao cessionário dos precatórios não se aplica a questão da prioridade dos pagamentos nem ao regime das RPVs, dispostas respectivamente nos parágrafos 2º e 3º do artigo 100 da CF/88.

Essa modalidade de cessão dos créditos dos precatórios, conceituada no parágrafo treze, geralmente é buscada por aqueles que vislumbram futura quitação de algum tributo mediante o instituto da compensação. O ato de ceder parte do precatório, se dá na intenção de o cedente, entregar ao cessionário parte do seu precatório que corresponda ao valor de seu débito tributário para com a Fazenda Pública, na tentativa de compensá-lo.

Importante ressaltar a vedação aos cessionários dos precatórios aos benefícios da preferência no momento do recebimento e também no que se refere ao regime das RPVs, uma vez que ao se tratar de cessão de direitos, deve-se aplicar o disposto no art. 41 e seguintes do CPC, o qual estabelece que o cessionário poderá intervir no processo assistindo ao cedente e, que também, os efeitos da sentença prolatada ao cedente, se estendem ao cessionário, (art. 42 § 2º e § 3º do CPC), existindo assim confronto entre o parágrafo treze do artigo 100 da Constituição (onde se refere às vedações dos parágrafos 2º e 3º do art. 100) e o disposto nos já mencionados dispositivos do CPC.

Há que se acrescentar ainda que para a validação do disposto nos atos de cessão de precatórios, sejam totais ou parciais, o cedente deverá protocolizar petição informando os termos, porcentagens, valores e o beneficiário da cessão, diretamente ao Tribunal que originou o precatório, bem como, deverá tomar a mesma providência para informar a entidade devedora, tudo para o fim de evitar problemas futuros.

Já o parágrafo quinze (§15) do art. 100 da CF dispõe:

§15º. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar a esta Constituição Federal poderá estabelecer regime especial para pagamento de crédito de precatórios de Estados, Distrito Federal e

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Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente líquida e forma e prazo de liquidação.

Referido parágrafo estipula a possibilidade de lei complementar estabelecer um regime especial para os pagamentos dos precatórios. Essa denominação ―regime especial‖ deve ter uma interpretação restrita, já que é extremamente moroso o pagamento dos precatórios e certamente um regime especial somente atrasaria ainda mais a quitação.

Outrossim, o art. 97 dos ADCT, já delimita uma espécie de regime excepcional de forma permanente, o qual, quando invocado, atrasa ainda mais os pagamentos dos direitos creditícios que os cidadãos têm para com a Fazenda Pública.

Na parte final do texto do parágrafo quinze (§15), encontram-se informações sobre vinculações das receitas que devem ser interpretadas como meios assecuratórios para a quitação das dívidas da Fazenda Pública.

Vinculação aqui, se trata de assegurar fontes certas e constantes para garantir os pagamentos efetuados pela Fazenda Pública, porém há que se ressaltar quanto à vedação constitucional de vinculação de receitas de impostos para pagamento de despesas certas, dentre as quais se incluem os precatórios, conforme preconiza o art. 167, IV da Constituição Federal.

E por fim, o último parágrafo do artigo constitucional que estabelece a introdução ao regime dos precatórios, é facultada à União, assumir as dívidas oriundas dos precatórios devidos pela Fazenda Pública dos Estados, Distrito Federal e Municípios, para de modo direto, promover novo financiamento dos referidos valores.

Assim, o regime dos precatórios encontra-se estabelecido no extenso art. 100 da Constituição Federal, o qual foi severamente modificado pela Emenda Constitucional nº 62 de 2009, que acabou por acrescentar mudanças principalmente

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no que tange aos meios de pagamentos dos precatórios, favorecendo os interesses do ente público em detrimento do cidadão credor daquele.

2.2 A disciplina dos precatórios na Emenda Constitucional nº 30/2000 e na Emenda Constitucional nº 62/2009.

Após a demonstração da influência da Emenda Constitucional nº 62/2009 no artigo 100 da Constituição Federal, gerando diversas ―novidades‖ e modificando totalmente a estrutura do referido dispositivo constitucional, passa-se a analisar o teor das Emendas nºs 30/00 e 62/09.

Ambos dispositivos geraram enorme repercussão e diversas polêmicas quanto ao seu teor modificativo, uma vez que sua criação aparentemente teve o intuito exclusivo de protelar os pagamentos efetuados pela Fazenda Pública, ampliando ainda mais a morosidade do adimplemento dos precatórios. As duas emendas citadas foram alvo de Ação Direta de Inconstitucionalidade, fundada em diversas posições constantes das mudanças que nelas continham, serem de cunho totalmente inconstitucional afrontando os direitos dos cidadãos credores da Fazenda Pública.

Antes de adentrar na disciplina das Emendas Constitucionais nºs 30/00 e 62/09, relevante lembrar que estes não foram os únicos dispositivos modificadores do regime de pagamento dos precatórios dispostos no texto constitucional.

O artigo 100 da Constituição Federal, até dezembro de 1998, continha apenas dois parágrafos que delimitavam o regime de pagamento de forma simples e objetiva.

A primeira Emenda Constitucional que modificou o regime de pagamentos dos precatórios, foi a EC nº 20/1998, que inseriu um terceiro parágrafo no citado dispositivo, o qual permaneceu fixo, versando sobre a não incidência do regime dos precatórios às RPVs, devendo estas terem regime próprio a ser estabelecido em lei.

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Pela sua simplicidade, a referida emenda não gerou nenhum tipo de repercussão, uma vez que sua promulgação mal ―tocou‖ no regime de pagamentos à época.

Entretanto, dois anos após a primeira modificação no regime dos pagamentos dos precatórios, foi promulgada a Emenda Constitucional nº 30/00, a qual teve vigência e eficácia a partir de 14 de setembro do referido ano. Tal emenda gerou muita polêmica, principalmente por trazer extrema morosidade nos pagamentos dos precatórios por parte da Fazenda Pública. Muitos juristas mencionaram que a mesma foi promulgada com total imoralidade uma vez que seu conteúdo evidenciava total favorecimento à Fazenda Pública em detrimento ao cidadão, parte vulnerável, ferindo inclusive princípios constitucionais básicos.

O estabelecido no referido dispositivo tornou obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades públicas, de verba necessária para pagamento de quaisquer de seus débitos judiciais, somente a contar do trânsito em julgado das sentenças condenatórias. O trânsito em julgado tem origem a partir do momento em que, esgotados todos os meios recursais pelo decurso de prazo ou pela simples inércia, a decisão se torna intangível, tornando o decisório processual definitivo.

Esta modificação acabou gerando enorme repercussão, uma vez que comumente o caminho do início do processo até o trânsito em julgado é longo, moroso e pode ser facilmente protelado por meio de ardis processuais com o intuito exclusivo de arrastar ainda mais a duração da lide.

Somado a esta modificação, vem a conhecida demora no adimplemento dos precatórios, que assim já era antes da promulgação da referida emenda, tornando a mesma, conforme mencionaram muitos juristas, totalmente munida de imoralidade, dando à Fazenda Pública status de intocável e de amplamente soberana em face aos direitos dos cidadãos, seus credores.

Aqui, o temor se caracterizava pela banalização da busca pelos precatórios, uma vez que, sabida a sua extensa demora para pagamento, poderia ser criada uma frenética máquina de negociações, levando credores da Fazenda Pública a ceder seus direitos por valores ínfimos, garantindo o pagamento antecipado, porém não

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jamais recebendo o total do valor de seu crédito. Esta prática poderia desenfrear o locupletamento ilícito de centenas de ―hienas monetárias‖, que apenas ficariam na espreita aguardando as próximas vítimas desesperadas e desiludidas com os pagamentos de seus precatórios.

Além do mais, a modificação referente aos pagamentos somente a partir do trânsito em julgado das decisões judiciais, é oriunda da EC nº 30. Também foi acrescentado no artigo 78 Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, que os precatórios pendentes na data da promulgação da referida emenda, quer seja em 14 de setembro de 2009 além dos precatórios oriundos de ações executivas ajuizadas até a data de 31 de dezembro de 1999 seriam liquidados em seu valor real em moeda corrente nacional, com a inserção de juros legais, sendo adimplidos em prestações anuais, iguais ou sucessivas, com o prazo máximo de 10 anos, permitindo a cessão de crédito.

Esse regime anexado ao artigo 78 das ADCT fadou-se a beira da incoerência, além de uma explícita ordenação de vantagem à Fazenda Pública, aumentando ainda mais o seu poder de protelar o cumprimento das condenações oriundas do Judiciário. É notório que grande número dessas ações ajuizadas até 31 de dezembro de 1999, já foram julgadas, já geraram a chamada coisa julgada e ainda podem estar em fase de execução. Não há melhor entendimento para que a emenda promulgada retalhe ainda mais esses credores, que como já é notório o tamanho atraso nos pagamentos, ainda sofrem com a promulgação de emenda que adia ainda mais o pagamento de seus créditos, possibilitando o parcelamento em mais dez anos.

Esta manobra fere diretamente a garantia individual constitucional, denominada de irretroatividade da lei, presente no artigo 5º, XXXVI da CF, que assim menciona: ―a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada‖. Assim, a referida Emenda Constitucional foi alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade- ADIn, uma vez que feriu, de forma acintosa, um direito básico expresso na Constituição.

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Também possível afirmar que referida disposição fere o princípio da irretroatividade tributária, previsto no artigo 150, III, ―a‖ da Lei Maior, que assim dispõe:

Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos municípios: (...)

III – Cobrar tributos:

a) Em relação a fatos geradores ocorridos antes do inicio da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado.

Enquanto tratado de forma genérica no art. 5º, XXXVI, o princípio da irretroatividade ganha contornos mais específicos no art. 150, evidenciando a ilegalidade cometida pela Emenda Constitucional nº 30/00, uma vez que retroage, toca na intangível coisa julgada, prejudicando o cidadão e atacando seus direitos, tornando ainda mais onerosa a quitação de seus precatórios.

Neste sentido, Sabbag (2011, p. 188.), descreve:

É dado inafastável que as leis, como regra, devem dispor para o futuro, orientando-se de modo prospectivo. Desse modo, aplica-se a irretroatividade à lei tributaria em grau ―genérico‖, ressalvadas as exceções [...]

O raciocínio do doutrinador citado (Sabbag, 2011, p. 189) continua com o seguinte ensinamento:

A regra, assim, é que, quanto às leis em geral, não lhes é dado abranger o passado, alcançando situações pretéritas. Se há atos a elas anteriores, devem ser eles regidos pela lei do tempo em que foram realizados, à luz do aforismo tempus regit actum, ou seja, o tempo rege o ato. Trata-se de regra geral oriunda do direito intertemporal, que sinaliza no sentido de que a lei tributaria há de ser irretroativa. Sendo assim, frise-se que, quando houver situações em que a lei puder reportar-se a fatos pretéritos, modificando-lhe os efeitos jurídicos e elidindo a incidência da lei anterior, estar-se-á diante de casos de plena retroatividade da lei.

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Destarte, segundo o entendimento de Eduardo Sabbag, pode-se concluir que a injusta disposição inserida no artigo 78 das ADCT, além de ser explicitamente desfavorável para aqueles que ajuizaram ações executivas em face da Fazenda Pública até a data de 31 de dezembro de 1999, também demonstra que o disposto também fere a Constituição, indo na contramão do princípio da irretroatividade da lei e da irretroatividade tributária, tendo como únicos efeitos o favorecimento da Fazenda Pública devedora e a protelação aumentada para seus pagamentos.

A Emenda Constitucional nº 30/00, atualmente não se encontra inserida no texto da Constituição Federal, eis que, conforme já exposto, a mesma foi alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, a ADIn nº 2362 que teve como foco de ataque o seu art. 2º, o qual havia acrescentado dados ao artigo 78 das ADCT.

Ocorre que o Supremo Tribunal Federal deferiu medida cautelar na referida ADIn, suspendendo a eficácia do artigo 2º da Emenda Constitucional nº 30/00, cuja ementa do referido julgado teve o seguinte teor:

MEDIDA CAUTELAR EM AÇÃO DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 2º DA EMENDA

CONSTITUCIONAL Nº 30, DE 13 DE SETEMBRO DE 2000, QUE ACRESCENTOU O ART. 78 AO ATO DAS DISPOSIÇÕES

CONSTITUCIONAIS TRANSITÓRIAS. PARCELAMENTO DA

LIQUIDAÇÃO DE PRECATÓRIOS PELA FAZENDA PÚBLICA. 1. O precatório de que trata o artigo 100 da Constituição consiste em prerrogativa processual do Poder Público. Possibilidade de pagar os seus débitos não à vista, mas num prazo que se estende até dezoito meses. Prerrogativa compensada, no entanto, pelo rigor dispensado aos responsáveis pelo cumprimento das ordens judiciais, cujo desrespeito constitui, primeiro, pressuposto de intervenção federal (inciso VI do art. 34 e inciso V do art. 35, da CF) e, segundo, crime de responsabilidade (inciso VII do art. 85 da CF).

2. O sistema de precatórios é garantia constitucional do cumprimento de decisão judicial contra a Fazenda Pública, que se define em regras de natureza processual conducentes à efetividade da sentença condenatória trânsita em julgado por quantia certa contra entidades de direito público. Além de homenagear o direito de propriedade (inciso XXII do art. 5º da CF), prestigia o acesso à jurisdição e a coisa julgada (incisos XXXV e XXXVI do art. 5º da CF).

3. A eficácia das regras jurídicas produzidas pelo poder constituinte (redundantemente chamado de "originário") não está sujeita a nenhuma limitação normativa, seja de ordem material, seja formal, porque provém do exercício de um poder de fato ou suprapositivo. Já as normas produzidas pelo poder reformador, essas têm sua

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validez e eficácia condicionadas à legitimação que recebam da ordem constitucional. Daí a necessária obediência das emendas constitucionais às chamadas cláusulas pétreas.

4. O art. 78 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, acrescentado pelo art. 2º da Emenda Constitucional nº 30/2000, ao admitir a liquidação "em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez anos" dos "precatórios pendentes na data de promulgação" da emenda, violou o direito adquirido do beneficiário do precatório, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada. Atentou ainda contra a independência do Poder Judiciário, cuja autoridade é insuscetível de ser negada, máxime no concernente ao exercício do poder de julgar os litígios que lhe são submetidos e fazer cumpridas as suas decisões, inclusive contra a Fazenda Pública, na forma prevista na Constituição e na lei. Pelo que a alteração constitucional pretendida encontra óbice nos incisos III e IV do § 4º do art. 60 da Constituição, pois afronta "a separação dos Poderes" e "os direitos e garantias individuais".

5. Quanto aos precatórios "que decorram de ações iniciais ajuizadas até 31 de dezembro de 1999", sua liquidação parcelada não se compatibiliza com o caput do art. 5º da Constituição Federal. Não respeita o princípio da igualdade a admissão de que um certo número de precatórios, oriundos de ações ajuizadas até 31.12.1999, fique sujeito ao regime especial do art. 78 do ADCT, com o pagamento a ser efetuado em prestações anuais, iguais e sucessivas, no prazo máximo de dez anos, enquanto os demais créditos sejam beneficiados com o tratamento mais favorável do § 1º do art. 100 da Constituição.

6. Medida cautelar deferida para suspender a eficácia do art. 2º da Emenda Constitucional nº 30/2000, que introduziu o art. 78 no ADCT da Constituição de 1988.

O fragmento do voto de desempate, quer seja o voto-vista, do Senhor Ministro Celso de Mello, partiu de fundamentação que deve ser reproduzida:

Essa, também, Senhor Presidente, é a minha compreensão em torno do tema ora em exame, pois entendo, que o Congresso Nacional, ao impor o parcelamento ora questionado aos precatórios pendentes de liquidação na data da promulgação da referida EC 30/2000, incidiu em múltiplas transgressões à Constituição da República, eis que desrespeitou a integridade de situações jurídicas definitivamente consolidadas, prejudicando, assim, o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada, além de haver violado o princípio da separação de poderes e ofendido o postulado da segurança jurídica.

Nesse sentido, e com as devidas conclusões tanto doutrinárias quanto jurisprudenciais, evidente a inconstitucionalidade da emenda em questão, tamanha a certeza ao passo de que a mesma não tem mais seu teor modificativo inserido no

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texto da carta maior. Assim, passa-se agora a analisar o conteúdo, os efeitos e demais temas acerca da outra emenda, não menos polêmica: a Emenda Constitucional nº 62/09.

Conforme abordado no item 2.1 do presente trabalho, no qual se analisou o conteúdo inserido no artigo 100 da Constituição da República pela Emenda Constitucional nº 62/09, a mesma trouxe mudanças significativas e também polêmicas, assim como no caso da Emenda Constitucional nº 30, ao regime de pagamentos dos precatórios feito pela Fazenda Pública.

Conhecida em 2009, ano de sua promulgação, como a ―Emenda do Calote‖, por seu teor protelatório oriundo das modificações que trouxe ao regime dos pagamentos por parte da Fazenda Pública, a Emenda Constitucional nº 62/09, foi originária da PEC nº 395/2009, a qual também recebeu o adjetivo de ―calote‖.

A repercussão acerca do teor modificativo gerou intensas discussões, fazendo com que a Emenda nº 62, também fosse alvo de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADIn.

Uma das mais comentadas modificações se deu no parágrafo segundo, onde restou estabelecida nova ordem cronológica para o pagamento dos precatórios, sendo retirada a total prioridade das verbas de natureza alimentícia e dando prioridade para os credores que tivessem sessenta (60) anos, ou mais, no momento da expedição do precatório, ou ainda, fossem portadores de doença grave.

A definição do que se caracterizava por doença grave sobreveio da Resolução nº 115 do CNJ, que em 2010 precisou ser reformada em alguns aspectos para se adequar e organizar a melhor compreensão da Emenda Constitucional nº 62, promulgada um ano antes. O artigo 13 da referida resolução assim dispõe:

Art. 13. Serão considerados portadores de doenças graves os credores acometidos das seguintes moléstias, indicadas no inciso XIV do art. 6º da Lei nº 7.713, de 22 de dezembro de 1988, com a redação dada pela Lei nº 11.052/2004: a) tuberculose ativa; b) alienação mental; c) neoplasia maligna; d) cegueira; e) esclerose múltipla; f) hanseníase; g) paralisia irreversível e incapacitante; h)

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