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Sistema multiportas de justiça e a atuação do projeto de extensão conflitos sociais e direitos humanos

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

JAQUELINE BEATRIZ GRIEBLER

SISTEMA MULTIPORTAS DE JUSTIÇA E A ATUAÇÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO CONFLITOS SOCIAIS E DIREITOS HUMANOS

Santa Rosa (RS) 2019

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JAQUELINE BEATRIZ GRIEBLER

SISTEMA MULTIPORTAS DE JUSTIÇA E A ATUAÇÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO CONFLITOS SOCIAIS E DIREITOS HUMANOS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso - TC.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Fernanda Serrer

Santa Rosa (RS) 2019

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Este trabalho é dedicado à todas as pessoas que, de uma ou outra forma, auxiliaram em toda minha trajetória acadêmica, principalmente à minha família, pilares de toda essa caminhada, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados e por nunca desistiram, sempre me incentivando a persistir.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, aqui citando meu pai, minha mãe, meu irmão e meu namorado, que sempre estiveram presentes, me incentivando e dando suporte para que eu nunca desistisse, sonhando de forma conjunta esta história e construindo juntos a realização deste sonho.

À minha orientadora Fernanda Serrer, que nunca mediu esforços para me explicar, orientar e passar um pouco do seu grandioso conhecimento. Sou imensamente grata por todo tempo disponibilizado à mim e principalmente, por ter, além de professora, se tornado uma grande amiga, que levo como exemplo a ser seguido. Digo e repito inúmeras vezes o quão feliz sou, por tê-la conhecido e principalmente, por todos os momentos de aprendizagem e descontração, passados nesses cinco anos de graduação.

Aos meus amigos e colegas de curso, por toda paciência, escuta e conselhos, e principalmente pela colaboração sempre que solicitados, com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado. Cito de forma especial, aos meus grandes amigos Aline, Matheus, Patrícia, Adrieli, Roseli, Clóvis, Francieli, por todos os momentos e vivencias destes cinco anos e por me proporcionarem convivermos diariamente. Gostaria de agradecer ainda, à minha amiga/irmã Carline Daniela Taglieber, que sempre me auxiliou, me escutou, me deu ótimos conselhos, agradecendo-a de forma especial por ter a oportunidade de tê-la sempre presente, passando momentos incríveis juntas. Sou imensamente grata a Deus, por ter colocado pessoas tão especiais em minha vida e que levo para sempre em meu coração, conservando esta amizade não somente no tempo da graduação, mas com

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“Devemos promover a coragem onde há medo, promover o acordo onde existe conflito, e inspirar esperança, onde há desespero”. – Nelson Mandela.

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise do sistema multiportas de justiça e a atuação do Projeto de Extensão “Conflitos Sociais e Direitos Humanos” do Curso de Direito da UNIJUÍ, tendo como questão central quais são os limites e possibilidades de um sistema multiportas de justiça no contexto jurisdicional brasileiro, bem como se o projeto de extensão “Conflitos Sociais e Direitos Humanos” pode ser considerado uma experiência em busca de um sistema multiportas de justiça. O objetivo geral deste estudo é compreender as várias “portas” de resolução de conflitos, na qual o indivíduo pode optar pela mais adequada ao seu caso em questão. Inicialmente, estuda o conflito, como algo positivo ou negativo perante à sociedade e suas consequências ou benefícios. Após, passa a analisar a crise atual do Poder Judiciário e o sistema multiportas como uma consequente solução à este problema. Aborda ainda, as várias formas de resolução de conflitos, principalmente no que tange à sua aplicação e resolução. Por fim, expõe o trabalho realizado pelo Projeto de Extensão Universitária “Conflitos Sociais e Direitos Humanos: alternativas adequadas para resolução e tratamento” da UNIJUÍ, como uma forma de aplicação do sistema multiportas de Justiça. Finaliza concluindo que o Sistema multiportas de Justiça é uma ferramenta eficaz para satisfazer todos os interesses e resolver de forma eficaz todos os conflitos e o Projeto de Extensão, verifica-se como uma prática de um sistema multiportas, uma vez que oferece aos seus assistidos várias formas alternativas de resolução.

Palavras-Chave: Sistema Multiportas. Justiça. Conflitos. Extensão Universitária.

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ABSTRACT

The present conclusion of course work makes an analysis of the multi-door courthouse system and the performance of the UNIJUÍ's Law Course's Extension Project "Social Conflicts and Human Rights", having as central question what are the limits and possibilities of a multi-door courthouse system of justice in the Brazilian jurisdictional context, as well as whether the extension project "Social Conflicts and Human Rights" can be considered an experience in search of a multi-door courthouse system. The general objective of this study is to understand the various "doors" of conflict resolution, in which the person can choose the most appropriate to his case. Initially, it studies conflict, as something positive or negative towards society and its consequences or benefits. Afterwards, it analyzes the current crisis of the Judiciary and the multi-door courthouse system as a solution to this problem. It also approaches the various forms of conflict resolution, especially in regard to its application and resolution. Finally, it presents the work carried out by the UNIJUÍ's University Extension Project "Social Conflicts and Human Rights: suitable alternatives for resolution and treatment" as a way of applying the multi-door courthouse system. It concludes by concluding that the multi-door courthouse system is an effective tool to satisfy all interests and effectively resolve all conflicts, and that the Extension Project is seen as a practice of the multi-door courthouse system, since it offers to the assistants several alternative forms of resolution.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 8

1 CONFLITO, JURISDIÇÃO E O SISTEMA MULTIPORTAS DE JUSTIÇA ... 10

1.1 Crise do paradigma clássico de justiça ... 10

1.2 Teoria do conflito ... 13

1.3 Políticas públicas no âmbito do CNJ: da Resolução 125/10 a Lei nº 13.140/15 . 16 1.4 Sistema multiportas de justiça ... 18

1.4.1 Aspectos históricos e experiências no direito comparado ... 19

1.4.2 Conciliação e negociação ... 22

1.4.3 Mediação ... 25

1.4.4 Justiça restaurativa ... 27

2 A ATUAÇÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO “CONFLITOS SOCIAIS E DIREITOS HUMANOS” COMO EXPERIÊNCIA DE UM SISTEMA MULTIPORTAS DE JUSTIÇA... 31

2.1 Extensão Universitária como fazer Universitário ... 31

2.2 O projeto “conflitos sociais e direitos humanos”: objetivos, justificativas e atuação. ... 37

2.2.1 Balcão do consumidor ... 41

2.2.2 Mediação de conflitos escolares e familiares ... 46

2.3 O projeto de extensão como experiência de um sistema multiportas de justiça . 54 CONCLUSÃO ... 57

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta uma análise acerca do sistema multiportas de Justiça, suas primeiras considerações e os vários leques de oportunidades para resolução dos mais variados tipos de conflitos, cada qual podendo buscar a porta que considerar mais adequada. Esse estudo se vê necessário face à crise que o Poder Judiciário vem sofrendo atualmente, uma vez que além de, muitas vezes não satisfazer mais os interesses da coletividade, vem sendo realizado de forma muito lenta e ineficaz. Busca-se a partir de então, formas céleres, eficazes e que atendam aos interesses das partes envolvidas. Ainda, visa explanar o Projeto “Conflitos Sociais e Direitos Humanos: alternativas adequadas de tratamento e resolução”, com seus objetivos e formas de atuação, como uma possibilidade de um sistema multiportas de Justiça.

Indaga-se por meio deste trabalho, quais são os limites e possibilidades de um sistema multiportas de justiça no contexto jurisdicional brasileiro atual, uma vez que vem sofrendo uma crise de quantidade e qualidade, bem como se o projeto de extensão “Conflitos Sociais e Direitos Humanos” da UNIJUÍ, pode ser considerado uma experiência em busca de um sistema multiportas de justiça na sociedade atual.

Outrossim, como objetivo central do trabalho, pode-se destacar a necessidade em estudar o sistema multiportas de justiça a partir da crise do paradigma clássico de justiça e da teoria do conflito, em especial ponderando conceitos históricos e experiências relacionadas aos métodos de conciliação, negociação, mediação e justiça restaurativa, analisando as políticas públicas no âmbito do Conselho Nacional de Justiça, bem como a evolução ocorrida entre a Resolução nº 125/2010 até a lei nº 13.140/2015 (lei da Mediação). Busca por fim,

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examinar a atuação do projeto de extensão “Conflitos Sociais e Direitos Humanos” da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, em paralelo com as práticas de judicialização de conflitos desenvolvidas no Núcleo de Práticas Jurídicas da mesma Universidade, como experiência de um sistema multiportas de Justiça.

Para o desenvolvimento deste trabalho foram realizadas uma seleção de bibliografia e documentos afins à temática, em meios físicos e na Internet, capazes e suficientes para construir um referencial teórico coerente sobre o tema em estudo, respondendo o problema proposto, que corrobore ou refute as hipóteses levantadas e atinja os objetivos propostos na pesquisa, bem como a leitura e fichamento do material que foi selecionado e uma posterior reflexão crítica sobre este mesmo material.

O primeiro capítulo busca estudar e compreender a crise atual do Poder Judiciário, trazendo suas principais causas e características, bem como estudar a Teoria do Conflito, expondo como o conflito pode ser encarado como uma oportunidade de mudança social e cultural para seus envolvidos. Ainda, visa demonstrar o sistema multiportas como um leque de possibilidades e alternativas para resolução de conflitos, elencando quais as ferramentas possíveis a serem adotadas neste sistema, para que cada envolvido escolha a opção mais adequada conforme sua questão conflitiva.

Por fim, no segundo capítulo é analisado a base da Extensão Universitária, sobretudo no que tange ao curso de Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, sua evolução histórica e principalmente, observar suas atividades e formas de atuação, como uma possível ferramenta de um sistema multiportas de Justiça, uma vez que pode oferecer à população em geral várias formas de resolução de seus conflitos. Ainda, verifica-se que o curso acima mencionado possui mais de um Projeto de Extensão, os quais serão especificados e diferenciados, mas a análise mais detalhada será realizada no Projeto “Conflitos Sociais e Direitos Humanos: alternativas adequadas de resolução e tratamento”, uma vez que é o objetivo central do trabalho.

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1 CONFLITO, JURISDIÇÃO E O SISTEMA MULTIPORTAS DE JUSTIÇA

O Poder Judiciário encontra-se atualmente em crise, perdendo sua legitimidade perante a sociedade. Por sua vez, a resposta tradicional ao conflito tem sido uma das causas permanentes, da atual crise, reverberando-se em práticas violentas e desprovidas de diálogo e empatia.

O sistema multiportas de Justiça, não tão novo, mas pouco difundido no meio jurídico, vêm ganhando gradativamente seu espaço na relações sociais, pois oferece ferramentas de resolução de conflitos muito eficazes e céleres, trazendo satisfação aos envolvidos, não só por resolver a questão, mas principalmente por criar uma cultura de diálogo não agressiva e uma escuta ativa e respeitosa perante às opiniões discrepantes, as quais são inerentes a uma interação conflitiva.

A partir desta contextualização, o presente capítulo, busca estudar e compreender a crise atual do Poder Judiciário, trazendo suas principais causas e características, bem como estudar a Teoria do Conflito, expondo como o conflito pode ser encarado como uma oportunidade de mudança social e cultural para seus envolvidos.

Ainda, visa demonstrar o sistema multiportas como um leque de possibilidades e alternativas para resolução de conflitos, elencando quais as ferramentas possíveis a serem adotadas neste sistema, para que cada envolvido escolha a melhor opção conforme sua questão conflitiva.

1.1 Crise do paradigma clássico de justiça

O Poder Judiciário encontra-se em ampla crise, tanto quantitativa como qualitativa. As principais causas desta crise situam-se na demora para resolução dos processos, bem como na cultura da dependência da decisão, aguardando as partes em conflito por uma resposta advinda de um terceiro, o juiz. Sendo assim, pode-se observar que a crise clássica do Poder Judiciário, está diretamente interligada com a situação conflitiva existente na sociedade, pois, em geral, as pessoas não conseguem dialogar a respeito de seus problemas e tentar resolvê-los de uma forma

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pacífica, criando consequentemente uma sociedade mais violenta e um Judiciário cada vez mais superlotado de conflitos a serem resolvidos.

Frente a todas estas situações, Ana Carolina Ghisleni (2018, p. 14) acentua que:

As deficiências que o Estado enfrenta provocam inicialmente uma crise de identidade, que consiste na perda ou diminuição de seu poder decisório, aliada à crise de eficiência, que se traduz na dificuldade de oferecer retorno eficiente à conflituosidade social e aos litígios processuais.

Esta crise de eficiência relatada por Ghisleni (2018), pode ser observada claramente por meio da análise de dados que descrevem a situação de litigiosidade e congestionamento do Poder Judiciário atualmente. Conforme dados extraídos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em seu relatório Justiça em Números 2018, a quantidade de casos novos na Justiça Estadual chegou a 20.207.585 (vinte milhões duzentos e sete mil e quinhentos e oitenta e cinco), o que representa um percentual de 1,9% de aumento do ano anterior. Já na Justiça Federal, os casos novos chegaram a somar o total de 3.865.182 (três milhões oitocentos e sessenta e cinco e cento e oitenta e dois), o qual caracteriza um aumento de 1,7% baseado nos índices do ano anterior. Pode-se analisar ainda que a taxa de congestionamento na Justiça Estadual está em 75% e na Justiça Federal, encontra-se em 73% (CNJ, 2018).

Sendo assim, é possível observar ainda que a crise do Judiciário está além dos números. O processo judicial (que é o meio tradicional pelo qual ele se manifesta) não consegue mais satisfazer a população por meio de suas sentenças, perdendo assim, confiança, legitimidade e não asseverando garantia aos seus assistidos. “O maior problema da magistratura é que ela decide litígios que lhe são alheios, não levando em consideração, salvo raras exceções, o que as partes sentem e suas expectativas.” (GHISLENI, 2018, p. 26).

Diz-se que tal crise encontra sua origem, principalmente na litigiosidade desenfreada existente na sociedade, ou seja, os conflitos estão sendo consideravelmente uma marca muito presente no viver em sociedade e as pessoas

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não estão mais conseguindo administrá-los de forma responsável, necessitando assim, que um terceiro (juiz) decida qual o melhor caminho a tomar.

Ainda, pode-se destacar a influência dos operadores do Direito, uma vez que caberia a estes o papel de incentivar o uso de métodos alternativos de resolução de conflitos para assim, amenizar a crise quantitativa e consequentemente, a qualitativa, pela qual vem passando o Poder Judiciário. Nesse sentido, menciona Miguel Marzinetti (2018, p. 69) que

A mudança precisa se dar, inicialmente, pela redução do demandismo, o que se vincula em grande medida com o modo de atuação profissional dos advogados. O amplo acesso à informação que é próprio do mundo atual, somado a políticas públicas de informação acerca de direitos, juntamente à constante ampliação estrutural do Poder Judiciário, tornou mais comum e mais fácil que os jurisdicionados demandassem seus direitos judicialmente. Há, porém, que se constatar que em muitas das circunstâncias ocorre uso indevido e descomedido do processo judicial.

Sendo assim, e aliado à utilização do benefício da gratuidade da Justiça por parcela significativa da população, estes acabam por utilizar de modo desenfreado o Poder Judiciário com o intuito de resolver todas as questões conflitivas pelos quais passam, sem a necessidade de arcar com todos os ônus e custas que envolvem ao demandar na seara Judicial. (MARZINETTI, 2018). É nesse sentido, que vale afirmar que o Poder Judiciário Brasileiro não suporta as demandas que lhe são trazidas, tornando-se um meio caro, por muitas vezes ineficiente e com pouca segurança aos seus assistidos.

Quanto à isso,

Já se coloca como mais um grande indicativo de que a efetivação de acesso à justiça implica tornar o Poder Judiciário como apenas mais uma das vias para solução dos conflitos sociais e que as demais vias, ainda que formalmente vinculadas à sua organização administrativa, não estejam sujeitas às ingerências da lógica que é prevalecente na função jurisdicional inerente ao processo judicial. (MARZINETTI, 2018, p. 74)

Outrossim, é imprescindível que, o Poder Judiciário, ao integrar mais uma forma de resolução de conflitos – o que é atualmente indispensável – se modernize,

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tanto estruturalmente para atuar de maneira mais efetiva aos conflitos que serão judicializados e principalmente apresentando uma maior eficiência diante destes, mas também ideologicamente, aceitando de modo pacífico e integrador as demais formas. (MARZINETTI, 2018) E por fim, é necessária uma evolução societária referente ao modo de recepcionar e aderir às formas alternativas de solução de conflitos, uma vez que, como mencionado anteriormente, a principal crise do poder Judiciário advém da conflitualidade social existente atualmente.

1.2 Teoria do conflito

O conflito, como já relatado anteriormente, tem se tornado cada vez mais complexo e multifacetado devido às relações humanas existentes atualmente e que se encontram muito frágeis principalmente, no que diz respeito ao diálogo e entendimento eficaz entre as pessoas. Ainda, relata nesse sentido Marco Antônio Garcia Lopes Lorencini (2019, p. 44) que,

[...] em sociedade, inúmeros conflitos surgem e são resolvidos todo dia, sem que sejam levados ao conhecimento do Poder Judiciário. Uma parte pode desistir daquilo que inicialmente pretendeu, aceitar o pretendido pela outra parte ou as partes podem simplesmente transacionar sobre aquilo que é objeto da controvérsia. Isso pode acontecer apenas entre as partes ou com a interferência de um terceiro, estranho ao conflito.

O conflito, sob esse viés, pode ser visualizado de forma positiva ou negativa no que diz respeito à sociedade e às relações interpessoais. Como um possível conceito da palavra conflito, vale destacar o adotado por Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino (1998, p. 225) que diz que “Existe um acordo sobre o fato de que o Conflito é uma forma de interação entre indivíduos, grupos, organizações e coletividades que implica choques para o acesso e a distribuição de recursos escassos.” Ou seja, o conflito é uma forma de interação humana e social e é inerente à sociedade.

Outrossim, o conflito visualizado de forma negativa pode ser entendido como um confronto de ideias e pensamentos e que no final instiga à violência (seja ela de qualquer forma) visto que a sociedade contemporânea vem se individualizando a

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cada dia mais, perdendo assim o exercício de conviver em sociedade e de ouvir e entender posicionamentos contrários. Por tanto, ao retornar à convivência coletiva, é que os conflitos negativos e as oposições de ideias começam a surgir. Esse conflito, porém, por mais simples que possa ser, não consegue ser administrado e logo vai ser encaminhado ao Poder Judiciário, para que um terceiro decida qual o caminho a tomar e quem é o vencedor e o perdedor daquele confronto de ideias, para que assim, o outro seja penalizado por pensar/entender diferente do que está padronizado como correto. Bobbio, Matteucci e Pasquino (1998, p. 226), desse modo, consideram o conflito negativo como sendo

[...] uma perturbação; mas não é somente isso; já que o equilíbrio e uma relação harmônica entre os vários componentes da sociedade constituem o estado normal, as causas do Conflito são meta-sociais, isto é, devem ser encontradas fora da própria sociedade, e o Conflito é um mal que deve ser reprimido e eliminado. O Conflito é uma patologia social.

Trata-se este, do modo de ver o conflito que é mais predominante na sociedade e nas relações interpessoais atuais, pois estas tem se tornado cada dia mais frágeis e com carência de diálogo e responsabilização, levando em consideração apenas a violência, a individualidade e a padronização de ideias, opiniões e pensamentos.

A esse respeito ainda, leciona Carlos Eduardo Vasconcelos (2017, p. 22):

O que geralmente ocorre no conflito processado com enfoque adversarial é a hipertrofia do argumento unilateral, quase não importando o que o outro fala ou escreve. Por isso mesmo, enquanto um se expressa, o outro já prepara uma nova argumentação. Ao identificarem que não estão sendo entendidas, escutadas, lidas, as partes se exaltam e dramatizam, polarizando ainda mais as posições.

O conflito de forma positiva, por sua vez, consiste no pensamento de que este faz parte do “ser sociedade” e “viver conjuntamente”, possibilitando as evoluções do indivíduo enquanto parte de um coletivo e como um ser pensante e racional. Pode-se dizer assim, que o conflito ao gerar o confronto de ideias e opiniões, constitui-Pode-se como um ato de reconhecimento e transformação das relações que se originarão daquele momento, influenciando e qualificando assim, o movimento das interações

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humanas (SPENGLER, 2008). Desse modo, o conflito, pode ser considerado uma característica incorporada e pertencente às relações interpessoais, buscando a evolução subjetiva de cada indivíduo e não necessitando ser reputado como traço de instabilidade ou rompimento de vínculos sociais, mas sim como a possibilidade de uma integração social (SPENGLER, 2008).

Ainda assim, é possível verificar que ao analisar o conflito como algo positivo na sociedade e nas relações intersubjetivas, ele pode ser processado de uma forma muito mais pacífica e com a construção de um diálogo consideravelmente menos agressivo, ou seja,

A “dinâmica conflitiva” torna-se, então, o meio de manter a vida social, de determinar seu futuro, facilitar a mobilidade e valorizar certas configurações ou formas sociais em detrimento de outras. Essa dinâmica conflitiva permite verificar que o conflito pode ser tão positivo quanto negativo e que a valoração de suas consequências se dará, justamente, pela legitimidade das causas que pretende defender. (SPENGLER, 2008, p. 31)

Então, o conflito pode ser visualizado de forma positiva ou negativa, a depender do ponto de vista em que está sendo analisado e da reação de cada indivíduo perante as situações conflitivas que irão surgir, pois “O conflito transforma os indivíduos, seja em sua relação um com o outro, ou na relação consigo mesmo, demonstrando que traz consequências desfiguradoras e purificadoras, enfraquecedoras ou fortalecedoras.” (SPENGLER, 2008, p. 33). É importante mencionar que, como em geral o conflito é idealizado no imaginário social como negativo, deve-se buscar opções de tratamento capazes de mudar a concepção e ideia conflitiva existente, uma vez que, por meio do conflito é que “[...] surgem as mudanças e se realizam os melhoramentos. Conflito é vitalidade. Naturalmente, uma clara dicotomia.” (BOBBIO; MATTEUCCI; PASQUINO, 1998, p. 226) E é nesse sentido então que o sistema multiportas de justiça vem, para trazer várias possibilidades de resolução de conflitos surgidos nas relações interpessoais cotidianas e proporcionar o fomento de uma cultura de diálogo e responsabilização sob os atos e os conflitos surgidos a partir da interação de pessoas e do conviver em sociedade.

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Assim esclarecida a crise do Poder Judiciário e definido o conflito, passa-se a verificar as previsões legislativas a respeito de possível aplicação de um Sistema Multiportas de Justiça.

1.3 Políticas públicas no âmbito do CNJ: da Resolução 125/10 a Lei nº 13.140/15

O CNJ teve grande relevância para a implementação das formas consensuais e alternativas de resolução de conflitos, visto que por meio da publicação da Resolução nº 125 de 29 de novembro de 2010, dispôs e regulamentou, pela primeira vez, a mediação e conciliação em âmbito Brasileiro, instituindo a Política Judiciária Nacional de Tratamento adequado dos Conflitos de Interesses no âmbito do Judiciário. Nesse sentido, destaca Daniela Monteiro Gabbay (2011, p. 11) que:

No Brasil a recente “Política Judiciária Nacional de Tratamento adequado dos Conflitos de Interesses no âmbito do Judiciário”, instituída em novembro de 2010 pela resolução nº 125 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), como forma de assegurar a conciliação e mediação de conflitos em todo o país, determinando que os órgãos judiciários ofereçam, além da solução adjudicada mediante sentenças do juízes, mecanismos de resolução consensual de controvérsias entre as partes, bem como a prestação de atendimento e orientação aos cidadãos, incentivando a autocomposição de litígios e a pacificação social por meio da conciliação e mediação.

Por meio desta resolução, o CNJ assumiu a competência para organizar programas que promovam e incentivam a autocomposição de conflitos, bem como compeliu a criação de Núcleos Permanentes de Métodos Consensuais de Solução de conflitos (NUPEMEC) e o fomento dos Centros Judiciários de Solução de Conflitos e Cidadania (CEJUSC). Ainda assim

Um dos focos dessa resolução é criar uma disciplina mínima e uniforme para a prática dos meios consensuais de solução de conflitos no Judiciário, que funcionam como um importante filtro da litigiosidade, além de estimular em nível nacional a cultura da pacificação social, estabelecendo diretrizes para implantação de políticas públicas que tracem caminhos para um tratamento adequado de conflitos. (GABBAY, 2011, p. 172)

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Mais tarde, especificamente no ano de 2015, os meios alternativos de resolução de conflitos ganharam ainda mais força e aplicabilidade legal, visto que entraram em vigor duas novas leis que dispunham principalmente da mediação e da conciliação de conflitos, ou seja, a Lei nº 13.105/2015, denominada de Novo Código de Processo Civil e a Lei nº 13.140/2015, intitulada de Lei de Mediação.

O Novo Código de Processo Civil (Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015), trouxe inúmeras menções referentes à implantação e aplicação da conciliação e mediação no processo Judicial. Entre as principais disposições elencadas especialmente entre os artigos 165 à 175 e 334 da referida lei, pode-se destacar a disposição sobre protagonismo das partes e normas fundamentais do processo, incentivos econômicos para mediação e conciliação, o novo papel do juiz, impedimento e suspeição referentes à mediação e conciliação, diferenças entre conciliador e mediador, referência aos centros judiciários de solução consensual de conflitos, princípios básicos da conciliação e mediação, cadastro de mediadores e conciliadores, a petição inicial, audiência, tutela e defesa, mediação e conciliação em litígios coletivos, familiares, entre outros.1

1Dentre as principais previsões trazidas pela Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015 (Código de

Processo Civil) que relatam a possibilidade de novas formas de solução de conflitos, pode-se destacar os seguintes artigos:

Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito. § 1º É permitida a arbitragem, na forma da lei. § 2º O Estado promoverá, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos. § 3º A conciliação, a mediação e outros métodos de solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial.

Art. 165. Os tribunais criarão centros judiciários de solução consensual de conflitos, responsáveis pela realização de sessões e audiências de conciliação e mediação e pelo desenvolvimento de programas destinados a auxiliar, orientar e estimular a autocomposição. § 2º O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem. § 3º O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.

Art. 166. A conciliação e a mediação são informadas pelos princípios da independência, da imparcialidade, da autonomia da vontade, da confidencialidade, da oralidade, da informalidade e da decisão informada.

Art. 175. As disposições desta Seção não excluem outras formas de conciliação e mediação extrajudiciais vinculadas a órgãos institucionais ou realizadas por intermédio de profissionais independentes, que poderão ser regulamentadas por lei específica. Parágrafo único. Os dispositivos desta Seção aplicam-se, no que couber, às câmaras privadas de conciliação e mediação.

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência.

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Por fim, em 26 de junho de 2015, foi promulgada a Lei nº 13.140, denominada Lei de Mediação, a qual dispõe sobre a mediação entre particulares (conflitos já levados ao Poder Judiciário ou de forma extrajudicial) e autocomposição no âmbito da administração pública. Esta lei é considerada um marco muito importante e um grande avanço na legislação brasileira, visto que a muito se tentava chegar a essa evolução referente aos métodos consensuais de tratamento de conflitos.

Dentre as características mais marcantes desta Lei pode-se destacar que nesta não é feita distinção entre mediação e conciliação, uma vez que a mediação passa a ter a possibilidade de ser aplicada para resolver qualquer caso em que haja conflito e que existe o desejo em reestabelecer o diálogo entre as partes envolvidas, bem como os mediadores não precisam ter nenhuma graduação em específico, mas sim ser capacitados em cursos próprios de mediadores/conciliadores e por fim, que a mediação tem sua data inicial no momento do firmamento do termo inicial da sessão. Esta lei pode ser aplicada e regular outros meios de autocomposição de conflitos e traz como possibilidade a mediação a distância, principalmente no que diz respeito à mediação via internet. (VASCONCELOS, 2017)

1.4 Sistema multiportas de justiça

É possível extrair de toda evolução Judicial e conflitiva anteriormente mencionada, um novo pensamento em relação à resolução dos conflitos interpessoais, ou seja, o sistema multiportas de Justiça, que passa a proporcionar várias opções aos indivíduos para a solução de seus conflitos de forma amigável e/ou consensual. Este sistema multiportas surge com o escopo de desafogar o Poder Judiciário e tornar o processo mais célere e eficaz, permitindo à grande maioria o efetivo acesso às formas de resolução de seus conflitos. Nas palavras de Luis Fernando Guerrero (2012, p. 13, grifo do autor) o sistema multiportas

É uma tendência, não necessariamente nova, de se buscar formas de solução de conflitos que possam coexistir ou até mesmo fazer as vezes do tradicional sistema judicial de solução de conflitos. Essas formas podem ser realizadas a partir de uma postura amigável ou adversarial das partes.

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A expressão “Sistema Multiportas de Justiça” (multidoor courthouse system) foi criada pelo Professor Frank Sander, da Escola de Direito da Universidade de Harvard, no ano de 1976, com o argumento de que com o conflito sendo tratado de forma adequada, será possível a utilização eficiente dos recursos pelo tribunais, reduzindo custos e tempo de um processo normal e consequentemente, diminuindo a ocorrência de conflitos subsequentes, visto que o objetivo precípuo do sistema multiportas é a solução real da discordância causada pelo conflito. (GIMENEZ, 2017)

Destarte, pode-se elencar como possibilidades de um sistema multiportas de Justiça, além da heterocomposição (um terceiro que decide), as formas de autocomposição do conflito, sejam elas a conciliação, negociação, mediação e justiça restaurativa, possibilitando aos conflitantes várias alternativas de resolução de seus conflitos, optando por qual será a melhor e mais eficaz em resolver o seu problema em questão e principalmente, qual lhe garantirá uma maior satisfação, porém jamais o privando de alguma das portas, mas sim lhes oportunizar todas da mesma forma.

1.4.1 Aspectos históricos e experiências no direito comparado

Como mencionado anteriormente, o sistema multiportas de Justiça teve sua origem nos Estados Unidos, no ano de 1976, na Conferência Pound, que foi criada para debater temas acerca da insatisfação Judiciária norte-americana. Neste evento, participou o Professor da Escola de Direito da Universidade de Harvard, Frank Sander, o qual criou o termo multidoor courthouse system (Sistema Multiportas de Justiça), para sustentar sua tese de que o tratamento adequado ao conflito, iria solucionar todas as carências judiciais enfrentadas, ou seja, seria mais eficaz, menos moroso e diminuiria os conflitos que surgem subsequentemente ao problema inicial.

Assim, entre as décadas de 70 a 90, nos Estados Unidos, iniciou-se uma forte movimentação para o reconhecimento e implantação de técnicas consensuais e complementares de resolução e tratamento de conflitos, objetivando tornar mais eficiente a administração da resposta processual. Nesse sentido, afirma Charlise Paula Colet Gimenez (2017, p. 88-89) que o primeiro movimento realizado foi:

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A Conferência Pound de 1976, que reuniu juristas e advogados preocupados com os custos e o tempo do acesso ao Judiciário, é considerada o marco do debate, da qual decorreram investimentos públicos em projetos piloto de mediação e arbitragem, apoiado pela Associação dos Advogados ao sistema multiportas.

Posteriormente, em 1980, observa-se a advocacia aproximando-se dos métodos de tratamento de conflitos, bem como a indústria de seguros realizando pesquisas para reduzir os custos de litigância para as partes, influenciando na institucionalização de práticas complementares aos litígios na área dos negócios. Ao final de 1990, a experimentação e os projetos piloto deram espaço para a efetiva institucionalização das práticas de ADR, em especial, no Poder Judiciário. As cortes estaduais também sofreram a influência, oferecendo o serviço, e as próprias pessoas passaram a solicitar a seus advogados as práticas complementares para o seu litígio.

Além disso, no ano de 1998, criou-se um movimento americano chamado

Alternative Dispute Resolution Act (ADR), o qual estabeleceu a adoção de meios

alternativos de resolução de conflitos para os tribunais federais em todos os processos cíveis, devendo todo tribunal então, de forma obrigatória, disponibilizar às partes, à sua escolha, uma forma alternativa de resolução. Determinou ainda, que cada tribunal devesse ter um servidor responsável pela propagação e divulgação da possibilidade destes métodos, bem como, realizar o treinamento e qualificação das pessoas responsáveis em aplicar estas medidas. (GIMENEZ, 2017)

Por fim, em agosto de 2001, foi editado nos Estados Unidos, uma lei denominada de Uniform Mediation Act (UMA), para que, de modo uniforme, constasse neste documento, todas as leis que existiam referentes às práticas alternativas de tratamento de conflitos, em especial a mediação, substituindo assim todas as normas que estavam vigentes sobre o tema em todo território. (GIMENEZ, 2017)

Atualmente, a partir de todas essas evoluções ocorridas em âmbito norte-americano, no que diz respeito às formas alternativas de resolução de disputas, o Judiciário dos Estados Unidos, encontra-se como referência e vêm apresentando inúmeros resultados de forma positiva. Nesse sentido, leciona Gimenez (2017, p. 90):

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A justiça formal caracteriza-se pela transparência e pela publicidade do processo, baseada em argumentos a partir de precedentes legais e provas, incluindo apresentação de documentos e oitiva de testemunhas, a partir dos quais é tomada uma decisão por um terceiro juiz (ou júri), podendo ela ser revista em uma instância superior. A seu turno, a justiça informal foca em métodos consensuais, confidenciais e mais responsivos, constituindo-se em formas privadas de tratamento de conflitos como negociação, mediação e outros.

Desse modo, com o sucesso dos métodos consensuais em âmbito americano, estes passaram a se tornar uma etapa obrigatória nos processos, como uma forma de condição para acessar o Poder Judiciário. Assim, com toda essa propagação, os Tribunais passaram a oferecer programas voltados às formas consensuais de resolução de conflitos, de forma voluntária e mais tarde obrigatória a quem lhes fosse procurar, principalmente no que tange à mediação e arbitragem. Mais tarde passaram a ser desenvolvidas e ampliadas outras formas alternativas. (GIMENEZ, 2017)

Assim, praticamente todos os tribunais norte-americanos atualmente, possuem uma forma de tratamento alternativo de conflitos, bem como programas formais de mediação, com funcionários dedicados integralmente para atender os casos. Dessa forma, pode-se dizer que o modelo brasileiro de resolução alternativa de conflitos, foi inspirado no modelo norte-americano, por dispor de duas portas possíveis, a mediação e a conciliação, bem como exigir dos tribunais estaduais a instalação de núcleos para solução de conflitos judicializados. (GIMENEZ, 2017)

Ainda, cabe ressaltar a evolução das formas alternativas de resolução de conflitos em outros países, que não os Estados Unidos. Na Inglaterra por exemplo, conforme menciona Sarah Merçon-Vargas (2012, p. 25) “não há, propriamente, previsão de mediação obrigatória, mas possibilidade de imposição de pagamento de custas à parte que, de forma injustificada, se recusar a submeter-se à mediação.” Assim, pode-se perceber que o país, centra-se numa preocupação em ampliar e aplicar formas alternativas de resolução de conflitos, principalmente com a propagação da mediação. Ademais, existe uma preocupação internacional relacionada à aplicação de formas que contemplem um possível sistema multiportas

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de Justiça, na qual, nas palavras de Tânia Lobo Muniz e Marcos Claro da Silva (2018, p. 294) pode ser citada a

Corte Internacional da Arbitragem da Câmara de Comércio Internacional de Paris (CCI/ICC), junto com o círculo de especialistas que se agregaram ao seu redor a partir de sua criação, sendo que o sistema de solução de conflitos, baseado nos meios alternativos, adotado por essa câmara é fundamentado nos princípios da universalidade e flexibilidade, com vistas a facilitar o gerenciamento de processos constituídos sob a sua égide.

Do mesmo modo, também pode-se citar os incentivos propostos pela Comissão das Nações Unidas para o Direito Comercial Internacional, a UNCITRAL, que visa promover uma certa uniformização de regras internacionais que dizem respeito ao comércio e que se apliquem em relação de particulares que sejam submetidos à legislações diferentes, visando uma aplicabilidade de meios alternativos que resolvam os conflitos aqui encontrados. (MUNIZ; SILVA, 2018)

Nesse sentido, após toda análise da evolução do Sistema Multiportas em âmbito nacional e internacional, cabe destacar a importância de todas os métodos de resolução de conflitos, sejam eles heterocompositivo ou autocompositivos. Desse modo, a partir de agora será abordado as formas consensuais (autocompositiva) de resolução, para que se possa identificar quais existem, bem como suas peculiaridades e diferenças de uma para com as outras.

1.4.2 Conciliação e negociação

A conciliação trata-se de uma forma autocompositiva voluntária, pois os envolvidos no conflito juntamente com o conciliador, buscam chegar à um acordo favorável para ambos. Tem como objetivo principal o acordo, ou seja, o conciliador tem o poder de se manifestar, relatando e incentivando qual a melhor opção aos conflitantes.

Portanto, a conciliação é uma atividade mediadora direcionada ao acordo, qual seja, tem por objetivo central a obtenção de um acordo, com a particularidade de que o conciliador exerce leve ascendência hierárquica, pois toma iniciativas e apresenta sugestões, com vistas à conciliação. (VASCONCELOS, 2017, p. 65)

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Vale ressaltar que a conciliação ocorre preferencialmente nos casos em que os envolvidos não possuem vínculo social e afetivo anterior ou posterior ao conflito, pois seu maior escopo é o acordo entre ambos e não a recomposição de relações interpessoais. Assim, para muitos, a conciliação pode ser confundida com a mediação, pois ambas tem a atuação de um terceiro facilitador e na maioria das vezes tem como resultado um acordo, mas de forma objetiva a concilição

[..] é prevalentemente focada no acordo. É apropriada para lidar com relações eventuais de consumo e outras relações casuais – pessoas sem vínculos anteriores – em que não prevalece o interesse comum de manter um relacionamento, mas, fundamentalmente, o objetivo de

equacionar interesses materiais ou questões jurídicas.

(VASCONCELOS, 2017, p. 64)

A conciliação pode ser pré-processual (realizada antes do processo) e/ou processual (durante o processo), ou ainda em alguns casos, ser realizada mesmo depois de já proferida uma sentença.

A conciliação processual, ocorre durante o andamento do processo, podendo ser a qualquer tempo solicitada, mas cabe frisar que terá uma audiência específica para ser realizada e os magistrados devem a todo momento instigar e incitar para que as partes no processo tentem conciliar e chegar a um acordo favorável à ambos. Esta concilição Judicial pode ser conduzida por um conciliador em um Centro Judicial Específico, denominado CEJUSC (concilição Extrajudicial) ou pelo próprio juiz (conciliação Judicial), conforme estabelecido pelo artigo 334, caput do Código de Processo Civil de 2015:

Art. 334. Se a petição inicial preencher os requisitos essenciais e não for o caso de improcedência liminar do pedido, o juiz designará audiência de conciliação ou de mediação com antecedência mínima de 30 (trinta) dias, devendo ser citado o réu com pelo menos 20 (vinte) dias de antecedência. (BRASIL, 2015)

Já a conciliação pré-processual, ocorre com a formulação do acordo pelos envolvidos no conflito, anterior à postulação de um processo Judicial e este acordo é levado ao magistrado para sua homologação. Ainda, caso os envolvidos assim preferirem, pode ser assinado por duas testemunhas. Este acordo terá igual eficácia

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e validade de um acordo produzido em sessão de conciliação Judicial, pois o que prevalece é a vontade e liberdade dos envolvidos.

Assim, vale ressaltar a análise referente ao tema, trazida por Gabbay (2011, p. 49):

A respeito da postura do terceiro imparcial frente à autonomia das partes, o conciliador pode assumir um lugar de poder, pois embora ele não tenha autoridade para impor uma decisão às partes, as técnicas de que se utiliza buscam conduzir as partes à realização do acordo. Essa situação é especialmente comum nas conciliações institucionais, como as que ocorrem no Judiciário, tanto nas sessões de conciliação dos juizados especiais quanto nas audiências de conciliação e julgamento presididas pelo juiz.

A negociação por sua vez, consiste na prática de autocomposição, mas sem a presença de um terceiro facilitador, sendo conduzida diretamente pelos próprios conflitantes, ou seja, representa a autocomposição direta, justamente pelo fato de não possuir interferência de um terceiro imparcial. Assim, como as demais formas, esta também basea-se na voluntariedade e na consensualidade dos envolvidos, caso contrário, não surtirá efeitos. Os negociantes, é que irão conduzir e controlar o desenvolvimento e a forma de como irão chegar à um acordo, buscando sempre uma comunicação não violenta e a não imposição de interesses de um para o outro. “Qualquer solução dependerá única e exclusivamente da vontade e da atuação das partes por meio de uma solução consensuada, que de nenhum modo será influenciada ou facilitada por terceiro.” (GUERRERO, 2012, p. 31-32)

Este método alternativo de resolução de conflitos, pode ser considerado como sendo “o planejamento, a execução e o monitoramento, sem a interferência de terceiros, envolvendo pessoas, problemas e processos, na transformação ou restauração de relações, na solução de disputas ou trocas de interesses.” (VASCONCELOS, 2017, p. 60). Ela sempre deve ser cooperativa e buscar um acordo que contemple todos os interesses envolvidos, com ganhos de forma mútua, uma vez que não tem por escopo eliminar ou derrotar o outro negociante.

Ainda, vale ressaltar que a negociação pode ocorrer por meio do modelo integrativo, que é utilizado quando os negociantes possuem relações continuadas e

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buscam ampliar os pontos comuns ou pelo modelo distributivo, que pode ser aplicado no caso de relações eventuais e que tem por escopo a divisão de bens imateriais e materiais, o qual pode ocorrer por meio de uma negociação. Nesse sentido, ela deve sempre ser baseada em princípios, principalmente no da Cooperação, visto que seu objetivo é integrar as pessoas envolvidas,mas jamais eliminar, derrotar ou excluir a outra parte.(VASCONCELOS, 2017)

Nem sempre será possível a resolução do conflito com a negociação, visto que necessita um comprometimento muito grande das partes envolvidas, e portanto, uma das críticas a esta forma de solução de conflitos, é uma possível disparidade e desigualdade no acordo estabelecido, pelo fato de não existir a presença de terceiro estranho e imparcial ao problema, fazendo com que possa existir uma relação de poder maior por parte de um dos envolvidos em relação ao outro. (GUERRERO, 2012)

1.4.3 Mediação

A mediação, trata-se de um método consensual de resolução de conflitos, no qual um terceiro facilitador auxilia os mediandos a reestabelecer o diálogo e a criar uma nova cultura de paz, tendo como uma possível consequência o acordo. O mediador não pode, em momento algum interferir no conflito, sugerindo acordos a serem possívelmente tomados, ele apenas conduz o diálogo, se valendo de técnicas e meios para que os envolvidos consigam conversar de uma forma não violenta e pensando no bem comum. É muito importante e eficaz o mediador encontrar os pontos comuns que os mediandos possuem, trabalhando assim, sobre esses critérios e desenvolvendo o pensamento não conflitivo em ambos, conseguindo na maioria das vezes, fazer com que um se coloque no lugar do outro e veja também o problema, de outros pontos de vista. “Cabe, portanto, ao mediador, com ou sem a ajuda do comediador, colaborar com os mediandos para que eles pratiquem uma comunicação construtiva e identifiquem seus interesses e necessidades comuns.” (VASCONCELOS, 2017, p. 61)

Vale ressaltar, que o objetivo da mediação não é chegar ao acordo, mas sim reestabelecer o diálogo entre os envolvidos no conflito e recompor os laços afetivos

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e sociais existentes entre ambos. O acordo é considerado apenas uma consequência da qualificação comunicativa entre os envolvidos no processo de identificação mediada de interesses.

Nesse sentido é importante destacar o posicionamento de José Luis Bolzan de Morais e Fabiana Marion Spengler (2008, p.134):

Com o auxílio do mediador, os envolvidos buscarão compreender as fraquezas e fortalezas de seu problema, a fim de tratar o conflito de forma satisfatória. Na mediação, por constituir um mecanismo consensual, as partes apropriam-se do poder de gerir seus conflitos, diferentemente da Jurisdição estatal tradicional na qual este poder é delegado aos profissionais do direito, com preponderância àqueles investidos das funções jurisdicionais.

Ainda, é possível identificar na mediação, características que a diferenciam das demais práticas alternativas de resolução de conflitos, dentre as quais pode-se citar: a) a privacidade, visto que ela ocorre de modo sigiloso e somente haverá divulgação do que foi dito, se assim os mediandos quiserem; b) a economia financeira e de tempo, pois os litígios levados à mediação normalmente são resolvidos em um tempo consideravelmente menor pelo fato de prevalecer a vontade dos envolvidos, o que consequentemente acarretará na sua diminuição de custo; c) a oralidade, uma vez que esta não possui uma forma de acontecer, ela apenas vai sendo conduzida pelo mediador, que vai ter de encontrar o melhor meio a ser seguido, diante da situação que ele estiver, pois cada caso e cada conflito podem ser solucionados de diferentes formas; d) a reaproximação das partes, considerada a maior característica da mediação, visto que ela é justamente utilizada para reestabelecer o diálogo rompido e fortalecer os laços que foram destruídos com o conflito em questão; e) a autonomia das decisões, dado que os mediandos é que decidirão qual o futuro daquela mediação e do conflito, o qual uma vez autocomposto, pode ou não ser levado à homologação judicial; f) o equilíbrio das relações entre as partes, porquanto os mediandos devem ser ouvidos e ter momentos de fala de forma igualitária, jamais um sendo favorecido perante o outro, ou seja, o mediador deve ser totalmente imparcial. (MORAIS; SPENGLER, 2008)

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Por fim, cabe frisar que a mediação tem como objetivo central não somente resolver o conflito em questão, mas proporcionar as partes a construção de um diálogo não violento que pode ser utilizado nas relações e conflitos futuros, visto que os casos mais aplicados na mediação, são aqueles no qual os laços afetivos e sociais são constantes e que os mediandos tenham relações normalmente, de forma contínua, ou seja, a partir da técnica da mediação, busca-se também a prevenção de conflitos futuros, criando uma cultura que visualize o conflito como algo positivo e pertencente às relações sociais e pessoais, objetivando a promoção da paz social.

1.4.4 Justiça restaurativa

No que diz respeito à Justiça Restaurativa, esta possui natureza de caráter interdisciplinar na prevenção e no tratamento de assuntos com base criminal e no âmbito brasileiro sua prática é muito recente. Seu conceito também é considerado muito amplo e de difícil definição, mas atualmente entende-se como um instrumento/técnica em que a vítima, o ofensor e possivelmente pessoas da comunidade atingidas pelo cometimento do crime, buscam por meio do diálogo encontrar uma solução para todas as questões surgidas com tal delito, cada uma expondo seus sentimentos e razões para tal acontecimento. A partir disso, é de suma importância saber que a

Justiça Restaurativa (JR) é uma nova forma de lidar com a questão dos conflitos e dos crimes, centrada mais nas pessoas e nos relacionamentos do que nas questões jurídicas. Antes que discutir questões legais, culpados e punições, a JR promove intervenções focadas na reparação dos danos, no atendimento das necessidades da vítima, na corresponsabilização do ofensor, sua família e pessoas do seu relacionamento, tudo visando à recomposição do tecido social rompido pela infração e o fortalecimento das comunidades. (A PAZ..., 2018)

Dessarte a Justiça Restaurativa é normalmente conduzida por um terceiro facilitador (mediador) e tem por escopo lidar com o ato infracional de uma maneira diferente das formas atuais. Assim, este método alternativo de resolução de conflitos tem um modo de acontecer, ou seja, ela será baseada em valores e possui procedimentos que devem ser seguidos, tendo como principal caraterística a voluntariedade, ou seja, “a prática restaurativa só acontecerá se for do

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consentimento de ambas as partes, e o mesmo não podem surgir a partir de uma tentativa de vantagem no processo penal.” (GOLART; MAIER, 2018) Ou seja, este método busca integrar o processo penal, como uma forma também de ressocializar o autor de um fato delituoso, para que este possa retornar à sociedade, após ser responsabilizado pelo que fez, de uma forma melhor e mais aceito pelos demais.

Cabe neste momento salientar, o conceito de Resultados Restaurativos trazido por Vasconcelos (2017, p 263):

Resultados restaurativos por sua vez, são os acordos decorrentes dos processos restaurativos, que podem incluir a reparação do dano, a restituição de algum bem e a prestação de serviços à comunidade, sempre com o fim de atender as necessidades individuais e coletivas de todas as partes, bem como de demarcar as suas responsabilidades, visando à reintegração da vítima e do ofensor.

Por fim, cabe ressaltar que esta opção de tratamento de conflitos de natureza penal, não substitui as demais formas tradicionais de enfrentamento e repressão da criminalidade. Apenas traz um novo olhar sobre o conflito e os conflitantes, com o escopo de entender e reavaliar as questões que envolvem este tipo de conflito como um todo. Nesse sentido, já afirmava Howard Zehr (2008, p. 168) que

A escolha da lente afeta aquilo que aparece no enquadramento da foto. Determina também o relacionamento e proporção relativa dos elementos escolhidos. Da mesma forma, a lente que usamos ao examinar o crime e a justiça afeta aquilo que escolhemos como variáveis relevantes, nossa avaliação de sua importância relativa e nosso entendimento do que seja um resultado adequado.

Ou seja, ao analisar o crime com as lentes retributivas, que é o mais tradicional atualmente, faz com que não se consiga atender todas as necessidades da vítima e do ofensor. O processo acaba por se tornar negligente, uma vez que se preocupa apenas em responsabilizar os ofensores e coibir o crime, mas não se preocupando em atender às vítimas. (ZEHR, 2008)

Assim, pode-se dizer que o motivo de toda esta incapacidade judiciária está na escolha das lentes utilizadas. Para Zehr (2008) existem duas lentes distintas, que podem, ao ser escolhidas de forma correta, proporcionar novos rumos ao Processo

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Penal Brasileiro, ou seja, nas lentes da Justiça Retributiva, o crime é visto sob a ótica de “uma violação contra o estado, definida pela desobediência à lei e pela culpa. A justiça determina a culpa e inflige dor no contexto de uma disputa entre ofensor e estado, regida por regras sistemáticas.” (ZEHR, 2008, p. 170) Já, no que tange às lentes da Justiça Restaurativa, esta considera o crime como uma forma de violar “pessoas e relacionamentos. Ele cria a obrigação de corrigir os erros. A justiça envolve a vítima, o ofensor e a comunidade na busca de soluções que promovam reparação, reconciliação e segurança.” (ZEHR, 2008, p. 170-171)

Outrossim, a justiça Retributiva e tradicional, não se preocupa com o relacionamento entre a vítima e o ofensor, definindo o Estado como a vítima do dano causado, já a Justiça Restaurativa entende que as vítimas são as pessoas atingidas e que em cada ato cometido, existem relações interpessoais muito relevantes. Desse modo, entende-se que a Justiça Restaurativa vêm para restaurar e reparar a lesão, com o intuito de promover a cura. (ZEHR, 2008) A cura nesse sentido,

[...] não significa esquecer ou minimizar a violação. Implica num senso de recuperação, numa forma de fechar o ciclo. A vítima deveria voltar a sentir que a vida faz sentido e que ela está segura e no controle. O ofensor deveria ser incentivado a mudar. Ele ou ela deveriam receber a liberdade de começar a vida de novo. A cura abarca um senso de recuperação e esperança em relação ao futuro. (ZEHR, 2008, p. 176)

Dessarte, a Justiça Restaurativa, busca curar as partes envolvidas, seja os ofensores (que além de serem responsabilizados pelo crime cometido, vão ser conduzidos à um caminho de mudança), as vítimas que também precisam ser ouvidas e que neste caso, o maior atingido com certeza não é o Estado e por fim, a própria comunidade, que também é atingida com os reflexos desta relação afetada. (ZEHR, 2008)

Destarte, encerra-se este capítulo, enfatizando a importância de um Sistema Multiportas de Justiça em relação aos conflitos existentes na atualidade, bem como à crise qualitativa enfrentada pela resposta encontrada no Poder Judiciário, para que a partir de então, possa-se ofertar à sociedade em geral vários métodos e formas de resolver os seus conflitos e, por conseguinte, passará a ser analisado a possível

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aplicabilidade imediata de um Sistema Multiportas a partir da análise das atividades do Projeto de Extensão Universitária “Conflitos Sociais e Direitos Humanos” da UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

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2 A ATUAÇÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO “CONFLITOS SOCIAIS E DIREITOS HUMANOS” COMO EXPERIÊNCIA DE UM SISTEMA MULTIPORTAS DE JUSTIÇA

A Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, possui como prática de Extensão vários Projetos, com o intuito de prestar serviços gratuitos a comunidade. No que tange especificamente ao curso do Direito (tanto no Campus de Ijuí, quanto no de Santa Rosa e Três Passos) existe ativamente três Projetos: Cidadania para Todos, Conflitos Sociais e Direitos Humanos: Alternativas Adequadas de Tratamento e Resolução e Regularização Fundiária Urbana: Direito Social à Moradia Digna. Os dois primeiros citados, já possuem vários anos de atuação e de prestação de serviços à comunidade e serão abordados a seguir. O terceiro, iniciou suas atividades no ano de 2019 e busca garantir seu espaço perante à sociedade, como mais um serviço disponibilizado pela Universidade.

Desse modo, é importante destacar que a Universidade, por ter essa característica, possui três bases obrigatórias, que são o Ensino, a Pesquisa e a Extensão e de tal modo, busca-se entender por meio deste trabalho, a base da Extensão, sobretudo no que tange ao curso de Direito da UNIJUÍ, sua evolução histórica e principalmente, como mais uma porta a integrar o sistema multiportas de Justiça, uma vez que oferece à população em geral várias formas de resolução de seus conflitos.

2.1 Extensão Universitária como fazer Universitário

A Extensão Universitária, é uma das três bases de uma Universidade, juntamente com o Ensino e a Pesquisa. Esta, por sua vez, foi a última e ser implantada, uma vez que exige um maior envolvimento de pessoas e principalmente da aceitação da sociedade. As primeiras formas de Extensão Universitária surgiram na Inglaterra, em meados da metade do século XIX, consolidando-se posteriormente na Bélgica, na Alemanha e logo estendendo-se para toda Europa, chegando por fim, aos Estados Unidos. Ao chegar nos EUA, a Extensão se difundiu de forma significativa pois foi criada

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[...] a American Society for the Extension of University Teaching, que impulsionou as atividades de extensão, pioneiramente, na Universidade de Chicago, em 1892, culminando na experiência desenvolvida pela Universidade de Wisconsin, em 1903, que colocou “seus professores como technical experts do governo do estado”. Muito bem sucedida, a iniciativa conferiu prestígio e visibilidade nacional ao que seria chamado de “Wisconsin Idea”, levando o próprio presidente americano, Theodore Roosevelt, a sinalizar para o país aquele exemplo. (PAULA, 2013, p. 07)

Sendo assim, desde o início, a universidade esteve muito próxima da comunidade que estava ao seu arredor. A Extensão Universitária Brasileira, por sua vez, começou a ser difundida mais tarde, na primeira metade do século XX, e “é originária da união de escolas superiores isoladas, criadas por necessidades práticas do governo, por carências sentidas pela sociedade ou como resultado de avaliação sobre um potencial existente em uma ou outra área.” (POLÍTICA E DIRETRIZES..., 2013, p. 07)

Foi nessa época também, concomitantemente ao surgimento da Extensão no Brasil, “que as conferências tidas como ‘lições públicas’ começaram a ser oferecidas pela Universidade de São Paulo, caracterizando a tomada de consciência da instituição para essa necessidade de difundir o conhecimento ali acumulado.” (POLÍTICA E DIRETRIZES..., 2013, p.07) fazendo com que a Extensão no Brasil, ganhasse ainda mais força e se percebesse a necessidade de compartilhar com a comunidade os conhecimentos, frutos e resultados obtidos por meio da Universidade.

Nesse sentido, Rossana Maria Souto Maior Serrano (2019, s/p), destaca que

No Brasil, ao final da década de 30 e início da seguinte, houve um período de grande efervescência, em termos de experiências de práticas educativas em extensão. Tendo como foco a cultura, são criadas salas de leituras, experiências de rádio difusão, difusão cultural, além dos cursos e conferências abertas objetivando a discussão e soluções dos problemas sociais.

Desse modo, a Extensão encontra-se como meio importantíssimo de interação entre sociedade e universidade, uma vez que é o meio pelo qual, de forma permanente e sistemática, “convoca a universidade para o aprofundamento de seu

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papel como instituição comprometida com a transformação social, que aproxima a produção e a transmissão de conhecimento de seus efetivos destinatários” (PAULA, 2013, p. 06), fazendo com que todos, mesmo os que não possuem acesso ao ensino superior, possam alcançar o conhecimento que ali é produzido.

A Extensão na UNIJUÍ, por sua vez, data seu surgimento no ano de 1956, conjuntamente com a criação da Fafi – Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, com o auxílio de articulação regional e da participação da comunidade regional, que mais tarde, criariam o Projeto Universitário. A Extensão na Unijuí, surge como um pilar de sustentação para a comunidade que estava ao seu entorno e com a criação da Fafi, essa preocupação social apenas se intensificou, uma vez que era considerada espaço de realização solidária e coletiva. (POLÍTICA E DIRETRIZES..., 2013, p.07)

Mais tarde, iniciou-se um forte movimento e discussões para expandir o Ensino Superior na região, objetivando criar uma entidade regional, que fosse aberta e descentralizada, para assim conduzir esse ensino. Assim,

A presença marcante da Fafi na região, aguçada pelo Movimento Comunitário de Base, influenciou nas discussões para a criação de uma entidade regional, aberta e descentralizada, a fim de conduzir e respaldar a expansão do ensino superior na região. Em 1969 a Fafi reestrutura-se e passa a ser mantida pela Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Fidene), com o propósito de encaminhar o projeto de universidade regional, dando o suporte legal, patrimonial e econômico-financeiro ao desenvolvimento do ensino superior no Noroeste do Estado. Com expansão da Instituição, as atividades de Extensão universitária foram assumindo a forma de programas e projetos específicos. (POLÍTICA E DIRETRIZES..., 2013, p. 08) Por fim, em meados de 1981, foram criados Centros Integrados de Ensino Superior de Ijuí, e que em 1985, passou a ser reconhecido como Universidade de Ijuí, tento a estrutura que permanece até os dias atuais. A Universidade de Ijuí, mais tarde, em 1994, renovou sua denominação, passando a chamar-se hoje, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ. Acontece que, durante toda essa evolução, a Extensão sempre se fazia presente para a comunidade de Ijuí e arredores, de forma a ser aplicada conforme as

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necessidades comunitárias que iam surgindo e à medida que os cursos iriam sendo implementados na Universidade. “As ações voltadas para a comunidade propiciaram à universidade, entendida como agente de mudanças, o desenvolvimento de conhecimentos, métodos e técnicas que permitiram enriquecer a formação acadêmica.” (POLÍTICA E DIRETRIZES..., 2013, p. 08)

De primeiro momento, à Extensão dava-se por meio dos cursos, principalmente na área agropecuária e de processo produtivo, objetivando uma metodologia participativa da comunidade. Porém, mais tarde, as atividades de cursos foram ampliadas com ações educativas, juntos à certos grupos sociais já constituídos, como por exemplo, agricultores, moradores de bairros, organizações populares, diversos sindicatos, entre outros. Por fim, a partir de programas institucionais, essas ações foram ampliadas e passaram a possuir temáticas mais abrangentes, envolvendo por exemplo, saúde, economia e administração rural, pequenas empresas, entre outros. (POLÍTICA E DIRETRIZES..., 2013, p. 08)

Tudo isso foi possível, uma vez que “a comunidade em que a Unijuí está inserida sempre apresentou um vasto laboratório, oportunizando contato com a realidade dos fatos, a vivência e a solução de problemas.” (POLÍTICA E DIRETRIZES..., 2013, p. 08) A Extensão nesta Universidade, sempre buscou refletir e captar o conhecimento e a cultura da população e da comunidade em que estão inserida, para assim e com base nisto, realimentar e conduzir o processo de ensino.

A partir de todos esses programas e evoluções é que a história de Extensão da UNIJUÍ se constituiu, visando sempre, além de todo aprofundamento e conhecimento científico, bem como conteúdo de ensino e laboratório, possuir a base social comunitária, uma vez que faz parte de sua origem. Além disso, cabe mencionar que, a Extensão na UNIJUÍ, é definida e tem por base cinco diretrizes, que foram aprovadas pelo Conselho Universitário da UNIJUÍ e que compreendem a Extensão como:

a) espaço de interação acadêmica e dialógica com a sociedade que busca compreender e inserir-se no desenvolvimento regional, apontando problemas e potencialidades, e desenvolvendo-se de forma articulada com o Ensino e a Pesquisa;

Referências

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