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2 A ATUAÇÃO DO PROJETO DE EXTENSÃO “CONFLITOS SOCIAIS E

2.2 O projeto “conflitos sociais e direitos humanos”: objetivos, justificativas e

2.2.2 Mediação de conflitos escolares e familiares

A Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, campus de Santa Rosa, como mencionado anteriormente, conta com a prática de mediações de conflitos pré-processuais e mediações escolares, como prática de Extensão relacionada ao Projeto Conflitos Sociais e Direitos Humanos. A mediação familiar começou a ser realizada antes mesmo da formalização do Projeto supracitado, com a iniciativa da Professora Francieli Formentini, juntamente com alguns alunos voluntários do Curso de Direito junto ao Espaço do Núcleo de Prática Jurídica da UNIJUÍ – Campus de Santa Rosa (Escritório-Modelo), por volta do ano de 2012, tendo como principal intuito a implantação de formas alternativas de resolução de conflitos. O público alvo inicial, eram os assistidos do próprio Escritório Modelo, os quais eram encaminhados a uma mediação ou conciliação. Mais tarde, especificamente no ano de 2013, com a evolução das práticas alternativas de resolução de conflitos no Escritório Modelo, é que então, criou-se o Projeto, a fim de vinculá-lo à Extensão Universitária e consolidar todas as atividades que já vinham sendo desenvolvidas.

Atualmente, as práticas de mediação e conciliação, vêm sendo realizadas de modo constante no Núcleo de Prática Jurídica da UNIJUÍ – campus de Santa Rosa, com o auxílio das Professoras responsáveis, bem como das bolsistas. O atendimento ocorre por meio de várias etapas, que podem ser destacadas como: inicialmente, os indivíduos que estão enfrentando conflitos e precisam de auxílio profissional procuram o Núcleo de Prática Jurídica, que por intermédio da secretaria, ao constatar se tratar de um caso passível de mediação ou conciliação, encaminha para as bolsistas realizarem a triagem.

A triagem, consiste numa análise mais detalhada do caso, verificando se este realmente se encaixa nos critérios de renda para atendimento, se ainda não possui nenhum processo relacionado ao caso, uma vez que são realizadas mediações pré- processuais e por fim, se eles realmente possuem interesse em realizar a mediação e conversarem a respeito do caso, visto que um dos princípios básicos das formas alternativas de resolução de conflitos, é a voluntariedade das partes envolvidas. Ainda, neste momento, é explicado ao cliente, sobre o que é e como funciona a mediação, bem como alguns princípios que servem como base à mediação, para que este esteja realmente entendendo do que se trata e com a concordância e ciência do que irá possivelmente participar.

Após, analisadas todas estas questões, inicia-se o cadastro do cliente, com algumas informações pessoais e também dados da parte a ser convidada para a mediação. Então, feito o cadastro, é solicitado o número para contato com o outro mediando, e é procedida a ligação convidando à participar de uma mediação em horário e data designado ou, em caso de não ser capaz o contato telefônico, é enviado uma carta-convite por correio, aguardando então uma resposta. O mediando pode assim concordar e a mediação é realizada, mas há a possibilidade também de não haver a concordância na participação, momento no qual, é encerado o atendimento e solicitado ao assistido que recorreu ao Projeto, que busque outra forma de resolver o seu conflito, uma vez que, como mencionado anteriormente, a mediação somente pode ocorrer com a voluntariedade e autonomia de ambas as partes, jamais podendo-se impor sua realização.

No que tange à voluntariedade da mediação, é importante frisar o que diz Adolfo Braga Neto (2019, p. 151):

Dentre os elementos essenciais da mediação de conflitos, a autonomia das vontades possui um protagonismo muito relevante, senão o mais relevante, pois o caráter voluntário da mediação constitui-se a grande mola propulsora da atividade. Este elemento garante o poder das pessoas em optar pelo processo, ao conhece-lo. Em outras palavras, só existirá o processo se as pessoas efetivamente queiram dele fazer parte e, para tanto, é fundamental que conheçam seus objetivos, seu dinamismo, bem como seu alcance e limitações.

Outrossim, posteriormente à triagem e concordância de ambos em participar da mediação, é realizada a sessão no dia e horário marcado, com a participação de todas as partes envolvidas, das bolsistas do Projeto, da Professora Mediadora e de alguns alunos do curso que estão realizando o Estágio Supervisionado junto ao Núcleo de Prática Jurídica e ficam na condição de observadores, com o intuito de proporcioná-los o contato e conhecimento das formas alternativas de resolução e enfrentamento de conflitos.

No que tange aos alunos do curso, estes preenchem um relatório de observação, relatando o que acharam da metodologia utilizada pela mediadora, destacando técnicas utilizadas e que foram possíveis de serem destacadas. Encerrada a sessão de mediação, os acadêmicos participam de um momento, junto a mediadora que conduziu os trabalhos, para destacar os pontos mais relevantes da sessão, bem como o que conseguiram observar e aprender com aquele momento, sempre buscando a qualificação das mediações desenvolvidas no seio do Projeto de Extensão.

Ao iniciar a sessão, a professora mediadora, explica o que é e como irá ser realizada a mediação, bem como qual o seu papel, quais os princípios norteadores e demais questões que servirão para uma boa condução da mediação. Posteriormente à toda explicação e não restando mais nenhuma dúvida aos mediandos, a sessão é iniciada com a fala da parte que buscou o Projeto e depois com o outro mediando, sempre respeitando um tempo de fala igual para ambos e preservando a escuta ativa. Desse modo, a sessão começa de modo conjunto, mas caso haja a necessidade, podem ser realizadas sessões individuais, quando o mediador verificar

que uma das partes não consiga se sentir à vontade o suficiente para expor tudo o que sente, sensação que é fundamental para encaminhar opções de administração do conflito. Após as sessões individuais, os mediandos voltam para sessão conjunta, a qual é dado continuidade, mas que na maioria das vezes obtém um encaminhamento melhor do que antes, sendo possível a partir de então, observar por parte dos mediandos, uma construção de diálogo positivo e sem violência.

A partir de então, o mediador irá continuar encaminhando a sessão de mediação, na qual quando ver ser necessário, poderá marcar uma nova sessão para outro momento, ou quando perceber que as questões estão resolvidas, por meio de técnicas próprias, irá encaminhando para um possível acordo, mas sem jamais dar opiniões ou trazer “modelos” de acordos. Assim, caso os mediandos componham um entendimento e desejam a redução à termo na forma de um acordo, o documento é elaborado, devidamente assinado e encaminhado para a homologação judicial, possuindo força de título executivo judicial. Por fim, os acordos realizados e já encaminhados ao Poder Judiciário, são acompanhados pelas bolsistas até o trânsito em julgado da decisão de homologação judicial e, posteriormente, é encaminhado toda documentação necessária ao registro competente, informando aos mediandos de qualquer movimentação ou homologação.

Nesse sentido é importante destacar que, o objetivo das Mediações Familiares realizadas no Escritório Modelo, Campus de Santa Rosa é principalmente devolver aos mediandos a capacidade de dialogar de forma não violenta e proporcionar a eles, espaços de fala e de escuta ativa. Sendo assim, o acordo é apenas uma consequência de uma boa sessão de mediação e do comprometimento dos mediandos em realmente se colocarem um no lugar do outro e se responsabilizar também pelo conflito ocorrido.

Já, no que tange às Mediações Escolares, estas vêm ocorrendo desde o ano de 2017, após várias demandas surgidas, na qual as escolas buscavam auxílio para lidar e trabalhar de forma positiva com os inúmeros conflitos que surgem em ambiente escolar. Assim, além de várias palestras realizadas em inúmeras escolas da Região de Santa Rosa/RS a respeito da possibilidade da mediação escolar e principalmente, da gestão e enfrentamento do conflito, têm-se trabalhado

continuamente com a Escola Estadual Timbaúva, que fica no bairro da própria Universidade. O Projeto, no decorrer de três anos de atuação, foi desenvolvido de várias formas, as quais foram sendo necessárias ser alteradas conforme a demanda e aceitação encontrada. De modo geral, em toda sua atuação, o Projeto é desenvolvido em duas etapas, que são elaboradas pelas professoras extensionistas, bem como pelas bolsistas do Projeto, contando também com o auxílio, em algumas atividades, de professores e alunos de outros cursos da Universidade, do Campus de Santa Rosa.

A primeira etapa consiste no diagnóstico e identificação da turma a ser trabalhada, uma vez que, cada ano, é trabalho em uma turma específica que é indicada pelo grupo de professores da escola, bem como pela equipe diretiva. Nesse mesmo momento, são elaboradas e formatadas as oficinas gerais a serem trabalhadas durante o decorrer do ano, e uma posterior apresentação do planejamento ao conjunto de professores que ministram aulas para a turma e a toda equipe diretiva da escola. A segunda etapa, por sua vez, compreende a execução do Projeto propriamente dito, ou seja, são realizados os encontros, de modo quinzenal, com a turma a ser trabalhada. Na execução desta etapa, são realizados em torno de dez encontros durante o ano, com os alunos.

Outrossim, no ano de 2017, a execução do projeto se deu principalmente pela aplicação de círculos de diálogo com a turma, mas sem envolver muito a participação dos professores. Os encontros eram realizados na própria Universidade e os alunos eram levados até lá. O primeiro encontro foi denominado “Conversando a gente se entende”, pois teve como objetivo apresentar o Projeto aos alunos, conhecer a turma e dialogar acerca de temáticas que os interessavam, a partir de perguntas orientadoras. Salienta-se que esta atividade inicial foi desenvolvida em um círculo de diálogo, possibilitando que todos tivessem oportunidade de fala e também um espaço adequado para o exercício da escuta ativa, na medida que em círculo todos podem ver e ouvir uns aos outros de modo claro e fácil.

Após esse primeiro encontro foram realizados alguns Círculos Temáticos e Gincanas anteriormente planejadas, mas que foram orientados a partir das temáticas indicadas pelos alunos no primeiro encontro. Como exemplo, pode-se citar os

principais desafios e vantagens em ser adolescente e sobre o que gostariam que mudasse na sociedade. Salienta-se que embora cada grupo de alunos tenha identidade própria, delineada a partir de seus integrantes, há identificadores comuns quando os grupos de alunos são da mesma faixa etária, especialmente quanto as questões, interesses e sentimentos envolvidos. Nesse sentido, temáticas como o bullying, diferenças (quanto a aspectos físicos e comportamentais), reconhecimento e responsabilidade são temáticas que interessam alunos adolescentes e são constantemente trabalhadas no Projeto. Assim, nos círculos temáticos é oportunizado que todos os participantes possam expressar sua opinião, seus sentimentos e interesses acerca dos assuntos trabalhados. Nessa atividade, procura-se desenvolver o diálogo, o respeito à diferença, a escuta ativa, bem como a responsabilização pelas escolhas e atitudes.

Posteriormente foram realizadas oficinas que visaram estimular o protagonismo dos alunos e foram denominadas “Eu quero te explicar quê”. Nesse sentindo, os alunos foram estimulados a se expressar, seja por meio de vídeo, textos, teatro, dança, fotografias, música, desenho, dentre outros, explicando e relatando o que pensavam sobre as diferentes temáticas discutidas nos círculos e nas gincanas e como poderiam eles, por meio de suas ações, influenciar outras pessoas positivamente, difundindo o conhecimento. Assim, é dado a eles a oportunidade de tornarem-se protagonistas nos espaços em que circulam seja na escola, na família e em outros espaços de convivência. Por fim, o Projeto encerrou com a realização de um círculo de diálogo, intitulado “As experiências que vivi” para que os alunos pudessem relatar as experiências vivenciadas, por meio das atividades e oficinas realizadas e uma posterior confraternização de final de ano, realizada em conjunto com os alunos.

Ao final do ano de trabalho, percebeu-se uma evolução muito grande na turma trabalhada, mas visualizou-se que não ocorreu a integração esperada entre os alunos e professores. Sendo assim, para o ano de 2018, a atividade foi realizada de modo diferente do primeiro ano.

No ano de 2018, portanto, os encontros aconteceram por meio de oficinas e gincanas realizadas na própria escola, e que foram anteriormente elaboradas,

levando em consideração interesses do grupo de alunos, mas de forma criativa, com o intuito de explicar como funciona a mediação de conflitos e qual o propósito de levar esse Projeto ao âmbito escolar. Dentre as principais atividades realizadas, cabe destacar a dinâmica da teia da amizade, na qual os alunos puderam se integrar, fazendo com que se apresentassem, dizendo seu nome, a idade e a principal importância de um colega para o grupo todo. Ainda, foi realizada a dinâmica das imagens de duplo sentido, na qual foram entregues para cada aluno, imagens que possuíam mais de um sentido, solicitando assim que dissessem o que estavam vendo. Depois foi projetado no quadro, para em conjunto falar sobre os dois sentidos de cada imagem. Esta dinâmica teve como objetivo falar das diferenças existentes em toda a sociedade, nas famílias e principalmente nas escolas, da tolerância e intolerância que as pessoas apresentam diante de todas estas diferenças que existem e mostrar a eles, que nem tudo é absoluto, ou seja, que as pessoas não pensam de forma igual.

Do mesmo modo, um encontro foi realizado no Campus da Unijuí, no qual os alunos do 6º ao 9º ano da Escola Timbaúva foram até o Auditório da UNIJUÍ, para assistirem ao filme “Escritores da Liberdade”. Cada aluno e professor, recebeu no início um pacote de pipoca doce e no término do filme, foi realizada uma socialização de ideias, onde os alunos e professores tiveram a oportunidade de relatar o que sentiram e acharam do filme. O objetivo desta atividade, além da integração das turmas, foi fazê-los refletir acerca do preconceito existente na sociedade, principalmente à que convivem, além do respeito que deve-se ter com o próximo, independentemente de suas diferenças, não os julgando numa primeira aparência ou impressão. Por fim, outra atividade realizada em 2018 e que mostrou resultados muito satisfatórios, foi a Biblioteca Humana, que consistiu em ouvir histórias de vida de pessoas que já passaram por inúmeras dificuldades e teve como objetivo principal a empatia e a escuta ativa sem julgar. Foi trabalhado com os alunos, para que estes aprendam cada dia mais a se colocar no lugar do outro e escutem de forma atenta, para não ocorrer julgamentos antecipados. Sendo assim, teve a participação de cinco pessoas convidadas, dentre elas, um Haitiano residente no Brasil, uma mulher vítima de violência doméstica, uma pessoa com deficiência física, uma professora aposentada e uma mulher negra que participa do movimento negro e sofreu racismo.

Da mesma maneira, a aplicação de todas as atividades, tiveram como escopo, criar mecanismos para mostrar aos alunos o quão capazes são de exercer a sua cidadania, promover a educação para os direitos e deveres e o estabelecimento e/ou reestabelecimento do diálogo entre os estudantes e os professores, visando uma comunicação capaz de fomentar a geração de ações, práticas e projetos comuns voltados a concretização dos direitos e principalmente, realizar a gestão dos conflitos (não só escolares, mas em todas as situações de sua vida) por meio do diálogo. É importante mencionar que, em todas as atividades realizadas com os alunos no ano de 2018, os professores participaram, também como forma de interação entre o grupo escolar e para verificarem o que está sendo trabalhado. Ao final do ano de 2018, foi realizada a atividade de círculo de diálogo, como no ano anterior, buscando oferecer aos alunos, mais um momento de relato das experiências vividas durante o ano, com o objetivo de relatarem o que acharam bom e o que teria que melhorar.

Ainda, como mencionado, o Projeto prevê a integração com outras áreas do conhecimento e outros professores e alunos de vários cursos da UNIJUÍ, no qual durante os dois anos de atividade, foram realizadas as oficinas de “Robótica Educacional”, coordenada pelos cursos de Engenharias, e de “Jogos Cooperativos”, sob orientação do Curso de Educação Física. Essas atividades realizadas durante os dois anos de aplicação do Projeto, bem como nesta última etapa, são divulgadas a toda comunidade escolar, aos pais, colegas, professores e demais pessoas envolvidas, como forma de apresentar a evolução da turma e o trabalho realizado pela Universidade, disseminando a necessidade do diálogo e de atitudes que incentivem a não utilização da violência.

Além do mais, no ano de 2019, o Projeto está sendo realizado de uma forma um pouco variada, no sentido de proporcionar à própria escola, professores e alunos, o protagonismo e autonomia em desenvolver atividades de propagação do diálogo e de formas alternativas de resolver os conflitos escolares. Ou seja, as professoras extensionistas e as alunas bolsistas, fornecem todo aparato técnico para o desenvolvimento das atividades, mas a aplicação ficará a cargo da escola e dos professores, proporcionando assim que todas as turmas e todos os professores

sejam envolvidos nas atividades. Mais tarde, ao final do ano, será realizada uma atividade de Círculo de Diálogo, onde os professores e direção escolar, poderão relatar como foi a experiência vivida e se esta pode continuar sendo desta forma ou quais as sugestões de melhoramento.

2.3 O projeto de extensão como experiência de um sistema multiportas de

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