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As transformações na cadeia produtiva do leite e seus reflexos no desenvolvimento da região Noroeste do Rio Grande do Sul

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento

Gestão de Organizações para o Desenvolvimento

AS TRANFORMAÇÕES NA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE E SEUS REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO NOROESTE DO RIO

GRANDE DO SUL

Stephan Sawitzki

Orientador: Drº. Dilson Trennepohl

(2)

UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO

DO RIO GRANDE DO SUL

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento

Gestão de Organizações para o Desenvolvimento

AS TRANFORMAÇÕES NA CADEIA PRODUTIVA DO LEITE E SEUS REFLEXOS NO DESENVOLVIMENTO DA REGIÃO NOROESTE DO RIO

GRANDE DO SUL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gestão de Organizações e Desenvolvimento da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento.

Stephan Sawitzki

Orientador: Profº. Drº. Dilson Trennepohl

Ijuí 2013

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S271t Sawitzki, Stephan.

As transformações na cadeia produtiva do leite e seus reflexos no desenvolvimento da Região Noroeste do Rio Grande do Sul / Stephan Sawitzki. – Ijuí, 2013. –

67 f. : il. ; 29 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (Campus Ijuí). Desenvolvimento.

“Orientador: Dílson Trennepohl”.

1. Cadeias produtivas. 2. Setor leiteiro. 3. Desenvolvimento regional. I. Trennepohl, Dílson. II. Título.

CDU: 338(816.5) 631.16:637.11 Catalogação na Publicação

Aline Morales dos Santos Theobald CRB10/1879

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UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação

A ASSTTRRAANNSSFFOORRMMAAÇÇÕÕEESSNNAACCAADDEEIIAAPPRROODDUUTTIIVVAADDOOLLEEIITTEEEESSEEUUSS R REEFFLLEEXXOOSSNNOODDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOODDAARREEGGIIÃÃOONNOORROOEESSTTEEDDOORRIIOO G GRRAANNDDEEDDOOSSUULL elaborada por STEPHAN SAWITZKI

como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento

Banca Examinadora:

Prof. Dr. Dilson Trennepohl (UNIJUÍ): Profa. Dra. Janete Stoffel (FAHOR): Prof. Dr. David Basso (UNIJUÍ):

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Há homens que lutam um dia, e são bons; Há outros que lutam muitos dias, e são muito bons; Há homens que lutam muitos anos, e são melhores; Mas há os que lutam toda a vida, esses são os imprescindíveis!

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RESUMO

O presente trabalho tratou da evolução da cadeia produtiva do leite no Rio Grande do Sul, com foco na região noroeste do estado. Procurou-se analisar o porquê dos elevados investimentos indústrias de laticínios na região Noroeste do RS e como tais investimentos afetaram e podem continuar contribuindo para o crescimento e desenvolvimento regional. Com o atual panorâma econômico do mercado de lácteos, pode-se perceber que as respectivas indústrias tem muito a crescer, contribuindo para o crescimento de toda a cadeia produtiva do leite, impulsionando o desenvolvimento.

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ABSTRACT

The following paper aimed to study the evolution of the productive chain from the State of Rio Grande do Sul, Brazil, in particular from the Northwest side of this State. It was also necessary to analyse the milk industry investments from this part of Brazil, which were increased. On accout of that, it was possible to infer about how these investments affected and contributed to the regional growth and development. Through the present economic situation from the milk market, it can be noticed that these companies still have a lot of field to grow, allowing the productive chain enlargement and, thus, the regional development.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

TABELAS

Tabela 01 - Produção de leite para o Brasil, RS e Mesorregiões em 2010 ... 15

Tabela 02 - Projeção de investimentos em indústria de laticínios no Noroeste Gaúcho .. 15

Tabela 03 - Produção, importação, exportação e consumo de leite no Brasil ... 23

Tabela 04 - Desempenho dos setores da atividade econômica do RS 1990-1998 ... 27

Tabela 05 - Quantidade de leite produzida entre 2007 e 2010 ... 53

Tabela 06 - Messoregiões mais produtoras de leite no Brasil, 2010/2011 ... 54

Tabela 07 - Produção de leite por estado ... 57

GRÁFICOS Gráfico 01 - Evolução da população do RS por condição de domicílio ... 22

Gráfico 02 - Grau de abertura da economia brasileira ... 24

Gráfico 03 - Preço pago e quantidade demandada de um comprador monopsonista ... 41

Gráfico 04 - Índice de captação de leite (Base 100 = junho/2004) ... 58

Gráfico 05 - Série de preços médios pagos ao produtor, deflacionada pelo IPCA, para os estados de RS, SC, PR, SP, MG, GO e BA ... 59

QUADRO Quadro 01 - Característica das unidades produtivas de leite ... 38

MAPA Mapa 01 - Mesoregiões geográficas do RS ... 14

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABDI - Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial BA - Estado da Bahia

CCGL - Cooperativa Central Gaúcha Ltda

CEPAL - Comissão Econômica para Países da América Latina CORLAC - Companhia Laticínios Correlatos

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária FEE - Fundação de Economia e Estatística

GO - Estado de Goiás

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IDH - Índice de Desenvolvimento Humano

IPCA - Índice de Preço ao Consumidor Amplo IPEA - Istituto de Pesquisa Econômica Aplicada MAA - Ministério da Agricultura e Agropecuária

MDIC - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio MG - Estado de Minas Gerais

P&D - Pesquisa e Desenvolvimento PIB - Produto Interno Bruto PR - Estado do Paraná RS - Rio Grande do Sul

SC - Estado de Santa Catarina

SIDRA - Sistema IBGE de Recuperação Automática SP - Estado São Paulo

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SUMÁRIO RESUMO ABSTRACT LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE ABREVIATURAS SUMÁRIO INTRODUÇÃO ... 09 1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO ... 11

1.1 Apresentação do Tema e do Problema ... 11

1.2 Objetivos ... 13

1.3 Justificativa ... 13

1.4 Metodologia ... 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 20

2.1 Contextualização Histórica ... 20

2.1.1 Trajetória do leite no Rio Grande do Sul... 20

2.1.2 Efeitos da abertura econômica sobre o setor agropecuário... 24

2.2 Cadeias Produtivas ... 28

2.2.1 Características da cadeia produtiva do leite ... 32

2.2.2 Desregulamentação da cadeia produtiva... 35

2.3 Estrutura de Mercado ... 39

3 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 43

3.1 O Papel da Indústria no Desenvolvimento Regional ... 43

3.2 Contribuições da Indústria Láctea para o Desenvolvimento do Noroeste do RS ... 49

3.3 Perspectivas Futuras para a Indústria e para a Produção Leiteira ... 55

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 61

(11)

INTRODUÇÃO

Não apenas do ponto de vista nutricional, mas também do ponto de vista econômico, o leite é considerado um importante e indispensável produto. É através do leite, como fonte de matéria prima, que inúmeros outros produtos são derivados, verificando-se sua importância para o dinamismo da economia de uma região.

Através de uma análise do setor leiteiro, tanto no Brasil como no Rio Grande do Sul (RS), percebe-se que o mesmo sofreu inúmeras transformações ao longo dos anos. Dentre essas transformações destaca-se a desregulamentação do setor e a abertura econômica. Fatores esses que contribuiram para um novo impulso ao setor, elevando sua competitividade e dinâmica para a economia como um todo, além de representar novas oportunidades de desenvolvimento regional.

Diante disso, o tema central do presente trabalho foi focado em uma análise das transformações ocorridas na cadeia produtiva do leite e seus reflexos sobre o desenvolvimento do Noroeste do Rio Grande do Sul. Esses aspectos justificam a realização do estudo devido sua importância tanto a nível econômico, como social. Ademais, a forte presença de grandes indústrias do setor na região Noroeste do RS, as quais vêm ampliando suas plantas industriais, promovem repercussões das mais diversas, as quais merecem ser estudadas.

Pretendeu-se responder o seguinte problema: como essas transformações, de cunho tanto econômico, como estrutural, técnico e regulatório, ocorridas na cadeia produtiva do leite, refletiram sobre o desenvolvimento da região noroeste do estado gaúcho?

Para isso, teve-se como objetivo principal a análise das contribuições de tais mudanças sobre o setor, particularmente sobre a esfera industrial, e, consequentemente, sobre o desenvolvimento da região em estudo. Dentre os objetivos específicos, destaca-se a contextualização da cadeia produtiva do leite no RS; a averiguação das transformações ocorridas nas últimas décadas, principalmente de 1990 até os dias atuais, sobre essa cadeia; e a identificação dos reflexos das mesmas sobre o desenvolvimento regional e futuras perspectivas que o setor leiteiro encontra.

(12)

10 Como norteador do estudo proposto, o método empregado foi o fenomenológico, admitindo-se que o objeto em estudo pode adquirir múltiplas realidades, dependendo da interpretação dada por cada pesquisador num determinado tempo. O propósito da pesquisa foi compreender a realidade da cadeia leiteira da região noroeste do RS e apresentar perspectivas futuras para a região supracitada do ponto de vista das contribuições que indústria de leite pode trazer para a mesma.

A pesquisa é definida como de natureza aplicada básica, com uma abordagem de investigação tanto qualitativa como quantitativa. Os procedimentos técnicos utilizados foram pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e observação direta do pesquisador (tentativa frustrada de contato com participantes da cadeia, elo industrial) sobre o objeto de estudo – cadeia produtiva do leite do Noroeste do RS. Em relação aos sujeitos da pesquisa encontram-se os atores participantes da cadeia analisada, principalmente os relacionados à indústria processadora de leite.

Além dessa introdução, o presente trabalho inicia contextualizando o estudo em questão de forma detalhada, versando sobre a apresentação do tema e do problema, os objetivos geral e específicos, a justificativa para a escolha do mesmo e a metodologia empregada, valendo-se da concepção de que todo o trabalho para ser considerado científico deve estar baseado e fundamentado numa metodologia científica.

Após, o referencial teórico inicia-se com uma breve contextualização histórica e teórica do tema, dando ênfase aos efeitos da desregulamentação e da abertura econômica sobre o setor agropecuário, ao funcionamento de uma cadeia produtiva, em especial a do setor leiteiro, e o papel das estruturas de mercado, arranjos estruturais, sobre o desenvolvimento do setor analisado.

Por fim, na apresentação e análise dos resultados, são destacadas o papel da indústria de forma geral no desenvolvimento de uma região; as contribuições da indústria láctea para o desenvolvimento do Noroeste do RS; e as perspectivas futuras para a indústria e para a produção leiteira; seguido das considerações finais e das referências utilizadas.

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1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO

1.1 Apresentação do Tema e do Problema

O setor leiteiro, tanto do Brasil como do Rio Grande do Sul, sofreu inúmeras transformações ao longo dos anos. Essas transformações se deram, em muitos aspectos, envolvendo a cadeia produtiva como um todo, sendo elas de caráter regulatório, tecnológico, logístico, entre muitos outros.

Embora exista uma transformação e evolução natural da cadeia do leite no decorrer de sua existência, pode-se dizer que as transformações de maior significância ocorreram a partir da década de 1990. O fim dos anos de 1980 e início dos anos de 1990 trouxeram dois fatores primordiais para o avanço do leite como um produto importante economicamente. Houveram duas situações que ocorreram quase que simultaneamente e geraram esse grande impacto na cadeia: a desregulamentação do leite e a abertura comercial.

Com o fim da intervenção estatal ocorrida no setor e com a abertura comercial, novas e maiores indústrias passaram a fazer parte da cadeia, gerando mudanças importantes. Dentre essas mudanças destaca-se a substituição de um modelo de monopsônio existente até então por um modelo de oligopsônio, passando esse a ser mais comum no Rio Grande do Sul. Tambem pode-se ciatar que apartir de meados da década de 1990 outros fatores foram cruciais para o crescimento da indústria leiteira tais como: melhores tecnologias no beneficiamento de leite; melhora na logística; e produção de novos derivados entre outros.

Com base no exposto acima, o presente estudo tem como tema central as transformações ocorridas na cadeia produtiva do leite, pós regulamentação estatal e abertura comercial (década de 1990), e suas contribuições para o desenvolvimento do Noroeste do Rio Grande do Sul. Para tanto, buscou-se definir como essas alterações repercutiram no setor, bem como quais foram as principais contribuições das mesmas para os agentes envolvidos na cadeia produtiva e quais mais impactaram a indústria processadora.

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12 Diante dessas explanações, tem-se o seguinte problema: como as transformações ocorridas na cadeia do leite, sejam elas de cunho econômico, estrutural, técnico e /ou regulatório, afetaram o desenvolvimento da inústria processadora de leite e por consequência o desenvolvimento do Noroeste Gaúcho?

(15)

1.2 Objetivos

GERAL

O objetivo principal desse trabalho é analisar as contribuições que as mudanças ocorridas a partir da década de 1990, com o fim da regulamentação da cadeia produtiva do leite, trouxeram para o setor como um todo e como as mudanças na esfera industrial afetaram o desenvolvimento da região Noroeste do Rio Grande do Sul.

ESPECÍFICOS

Para que o objetivo principal fosse atingido, os objetivos específicos visaram:

a) contextualizar, histórica e teoricamente, a cadeia do leite no Rio Grande do Sul, atentando para as principais consequências do fim da regulamentação do setor leiteiro;

b) averiguar as principais transformações de cunho econômico, estrutural e/ou técnico ocorridas na cadeia produtiva em estudo; e

c) identificar quais transformações impactaram ou podem vir a impactar positivamente a dinâmica do desenvolvimento do setor leiteiro do Noroeste do Rio Grande do Sul.

1.3 Justificativa

O Rio Grande do Sul é historicamente conhecido pela sua contribuição para o Brasil no que tange a produção de produtos primários. Essa contribuição sofreu e vem sofrendo algumas alterações no decorrer do tempo. Ao longo dos anos, o Estado perdeu espaço em algumas culturas tradicionais e ganhou espaço em outras. O setor leiteiro é um exemplo disso. Hoje, o Estado é o segundo maior produtor de leite do país segundo dados do IBGE (2010).

O leite vem ganhando espaço e vem se firmando como um produto de grande valor econômico. Não só a produção vem aumentando de maneira significativa, mas também

(16)

14 Mais especificamente, a Mesorregião Noroeste do RS, que pode ser visualizada no Mapa 1 abaixo, vem se beneficiando bastante com a expansão do leite. Além de compreender um grande número de municípios que tem o leite como atividade de suma importância, a região vem recebendo um significativo investimento na indústria desse setor.

Mapa 1 – Mesorregiões geográficas do RS Fonte: FEE (2013a).

Conforme já citado anteriormente, o Noroeste Gaúcho tem o leite como atividade econômica vital. Para se ter uma idéia da importância do leite para a região e para o Estado, o leite in natura representou, em 2010, um valor de produção de, aproximadamente, R$1,5 bilhões no Noroeste do RS, como pode-se visualizar na Tabela 1 abaixo. Esse valor representa, aproximadamente, 67% (sessenta e sete por cento) do valor da produção de leite no Rio Grande do Sul corroborando a imposrância do leite para a região e da região para o Estado nesse segmento.

(17)

Tabela 1 – Produção de leite para o Brasil, RS e Mesorregiões em 2010

Brasil, Rio Grande do Sul e Mesorregiões

Produção de leite no período de 01.01 a 31.12

Vacas ordenhadas (cabeças) Quantidade (1 000 litros) Valor (1 000 R$) Produtividade (litros/vaca/ano) Vacas ordenhadas / efetivo de bovinos (1) % Brasil 22 924 914 30 715 460 21 210 252 1 340 11

Rio Grande do Sul 1 495 518 3 633 834 2 291 325 2 430 10

Noroeste RS 873 487 2 399 874 1 532 335 2 747 30 Nordeste RS 160 587 396 444 240 040 2 469 18 Centro Ocidental RS 72 481 88 466 48 740 1 221 4 Centro Oriental RS 136 207 309 130 197 876 2 270 17 Metropolitana de Porto Alegre 76 372 148 308 96 730 1 942 7 Sudoeste RS 75 076 138 864 81 103 1 850 2 Sudeste RS 101 308 152 749 94 502 1 508 4 Fonte: IBGE (2010).

(1) Relação entre o número de vacas ordenhadas e o efetivo de bovinos

Destaca-se que não é apenas para o setor agropecuário que o leite é importante na região Noroeste, mas também para a área industrial. Nos últimos anos, os investimentos na indústria processadora de leite, sejam eles em ampliação de plantas ou construção de novas unidades, vem sendo grandiosos como visualiza-se na Tabela 2 abaixo.

Tabela 2 – Projeção de investimentos em indústria de laticínios no Noroeste Gaúcho

Municípios Investimento Empresa

Três de Maio R$ 65 milhões Perdigão

Carazinho R$ 36 milhões Parmalat

Tapejara R$ 35 milhões Bom Gosto

Passo Fundo R$ 62 milhões Italac

Sarandi R$ 237 milhões Embaré

Erechim n.d. Bom Gosto

Cruz Alta R$ 120 milhões CCGL

Palmeira das Missões R$ 70 milhões Nestlé

Capão do Leão R$ 20 milhões Cosulati

Total Noroeste RS R$ 700 milhões

(18)

16 Com base no exposto acima, o tema apresentado mostra-se de extrema relevância a nível nacional, estadual e regional, sendo escolhido devido a forte e crescente presença do leite como alternativa de renda e desenvolvimento para agricultores do Noroeste do Rio Grande do Sul, principalmente os proprietários de pequenas propriedades rurais. Assim, justifica-se a busca por possíveis contribuições geradas pelo novo modelo do setor, presente a partir da década de 1990, bem como a avaliação de possíveis iniciativas que poderiam contribuir para o desenvolvimento dos produtores de leite da região.

1.4 Metodologia

Quando se fala em ciências e, fundamentalmente, em estudos e pesquisas científicas, é preciso ponderar sobre o método a ser utilizado. Qual método científico orientará o estudo proposto? Segundo Cruz e Ribeiro (2003, p. 32), “[...] o método científico é o caminho trilhado pelos cientistas quando em busca de ‘verdades’ científicas. Como a essência da ciência é a validação através da observação, o método científico assume importância fundamental dentro da ciência.”

É através do método utilizado que o pesquisador analisará e chegará a conclusões sobre as perguntas e hipóteses por ele levantadas. Para isso, utilizam-se de quatro práticas operacionais: desenvolvimento do problema, formulação de uma hipótese, tomada de dados e análise e interpretação de resultados (CRUZ; RIBEIRO, 2003).

Dentre os métodos mais conhecidos, pode-se citar três que são amplamente difundidos e, a partir dos quais, derivam os demais: positivismo, materialismo científico (marxismo) e fenomenologia (TRIVIÑOS, 1987). No entanto, no decorrer da história, surgiram novas ou revisitadas abordagens metodológicas, como o realismo crítico. Embora essas novas metodologias muitas vezes se aproximem das metodologias clássicas mencionadas anteriormente, elas vêm acrescentando novos elementos na pesquisa científica.

O positivismo tem como fundador a figura de Augusto Comte e o predomínio da objetividade em detrimento da subjetividade, o culto à ciência e à razão. Foi com as teorias comtianas e a posterior criação da Sociologia, ciência destinada a estudar os fatos sociais, que os historiadores encontraram meios científicos para explicar os acontecimentos. Os fatos seriam explicados e comprovados com base na experimentação e na observação e não mais

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através da filosofia ou da religião. Haveria, como afirmava Comte, a passagem do estágio teológico e metafísico para o positivo, no qual os fatos seriam explicados puramente pela ciência.

Em relação ao materialismo dialético, seu precurssor foi Karl Marx. Esse método considera que a explicação de uma dada realidade encontra-se no sujeito, no indivíduo em si. A análise dessa realidade parte de dados disponíveis e do uso da ciência através de tentativas de explicar a realidade e não apenas descrevê-la. Esse método aceita a existência da realidade independentemente da observação que os homens fazem dela. Porém, os sujeitos são capazes de reproduzi-la e transformá-la. Por isso, para Resende (2009), a realidade a ser estudada pode ser diferente de como é concebida, pois é flexível, mutável e complexa.

Por sua vez, o método fenomenológico teve sua origem como método de investigação científica com o filósofo Edmund Husserl no final do século XIX e início do século XX. Entre outros pensadores renomados na área, pode-se citar Sartre, Merleau-Ponty e Ricoeur, na França; Heidegger e Scheler, na Alemanha (TRIVIÑOS, 1987).

Esse método, empregado no presente estudo, visa estudar os acontecimentos e fenômenos da forma como se apresentam, levando em conta a percepção de mundo do pesquisador. Sendo assim, o objeto em estudo pode adquirir múltiplas realidades, dependendo da interpretação do pesquisador num determinado período de tempo. Conforme destacado por Gil (2010), em virtude dessa caracterítica, uma dada realidade nunca é conhecida plenamente, tratando-se de um processo dinâmico e em constante construção.

O método trata do estudo descritivo dos fenômenos, sendo “[...] um método que busca a volta ‘às coisas mesmas’, numa tentativa de reencontrar a verdade nos dados originários da experiência, entendida esta como a intuição das essências” (FERREIRA, 2009, p. 87). Portanto, destaca-se a importância do sujeito nessa tentativa de construção da realidade, influenciada pela intenção do pesquisador em estudá-la.

Para Triviños (1987, p. 43), “[...] não existe objeto sem sujeito”. Sendo assim, a construção do conhecimento através desse método dar-se-á pela interação do sujeito com o

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18 objeto de estudo. De acordo com Bicudo (2000, p. 18), “[...] o conhecimento não é inato, e sim edificado ao longo da vida, [...] é construído pelo sujeito em uma relação sujeito-objeto”.

Apesar dessa subjetividade inerente ao método, para que o mesmo seja considerado científico procura-se evitar a interferência das experiências individuais do pesquisador e dos fatores externos sobre o objeto de estudo. Dessa forma, o foco apenas no fenômeno a ser estudado é preservado, buscando, assim, a sua essência (ALVES-MAZZOTTI; GEWANDSZNAJDER, 1998).

Após a definição do método, salienta-se que o propósito da presente pesquisa constitui-se em entender uma certa realidade e apresentar perspectivas futuras. Procura-se entender a natureza das transformações na cadeia do leite, através de um levantamento histórico longitudinal e de referencial teórico, para apresentar suas contribuições ao desenvolvimento regional. Sendo assim, a pesquisa é definida como de natureza aplicada.

A metodologia utilizada neste trabalho foi dividida em três pontos principais que foram desenvolvidos de maneira quantitativa e qualitativa e analisados no decorrer do trabalho. Primeiramente, foi realizada a fundamentação teórica via leitura de livros e artigos relacionados diretamente com a evolução da atividade leiteira no Rio Grande do Sul.

Depois de concluído esse embasamento literário, partiu-se para uma análise gráfica e de tabelas com base nas mais diversas fontes de dados tais como: IBGE, FEE, Embrapa, CEPEA entre outras. Esses elementos gráficos foram analisados e comparados a fim de determinar os movimentos do setor nos últimos anos.

Por fim, fazendo uso do resultado dessa pesquisa de caráter qualitativo, visou-se observar os efeitos das transformações industriais até o momento e analisar como as indústrias vislumbram o futuro da cadeia com novas transformações que tendem a surgir. Os dados obtidos nos momentos anteriores foram confrontados a fim de estabelecer os pontos chave dentro da cadeia produtiva do leite para impulsionar o desenvolvimento regional.

A abordagem da investigação dos fenômenos de dada realidade constituiu-se em uma abordagem do tipo tanto qualitativo como quantitativo. Quantitativa pelo fato de que foram

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coletados dados numéricos para expressar os fenômenos verificados na realidade do setor leiteiro. Ademais, tais dados foram trabalhados e compilados em gráficos e tabelas para uma melhor análise numérica. Qualitativa na medida que fez-se uso de interpretação de trabalhos científicos e da realidade analisada, considerando-se que nem tudo pode ser computado em números.

Se optar-se por classificar a presente pesquisa em relação aos seus objetivos fins, qualificar-se-á como descritiva e explicativa. Buscou-se descrever as transformações do setor leiteiro para, posteriormente, identificar e explicar a cerca dos fatores presentes na cadeia produtiva do leite que contribuíram e contribuem para o desenvolvimento do Noroeste do RS.

Para que tais objetivos fossem alcançados, os procedimentos técnicos utilizados foram: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, e observação direta. O trabalho em questão fez uso de livros, artigos científicos, matérias em jornais e revistas, dissertações e teses, e documentos oficiais, além da observação direta. Portanto, a coleta de dados baseia-se em dados primários – observação direta das indústrias processadores de leite do Noroeste do Rio Grande do Sul pelo pesquisador – e dados secundários – sites oficiais como IBGE, IPEA, EMBRAPA e FEE, e referências bibliográficas.

Ademais, considerou-se como objeto do presente estudo, de maneira ampla, a cadeia produtiva do leite do Noroeste do Rio Grande do Sul. De maneira mais específica, o objeto é o setor industrial de processamento de leite. Em relação aos sujeitos de pesquisa tem-se os atores participantes da cadeia produtiva com foco naqueles provenientes das indústrias processadoras de leite.

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20 2 REFERENCIAL TEÓRICO

Para que os objetivos levantados fossem atingidos, o presente tralhado iniciou-se com a fundamentação teórica do objeto em estudo – cadeias produtivas do leite do Noroeste do RS. Inicialmente, foi exposta a trajetória do leite no Estado, atentando para as questões referentes a desregulamentação e os efeitos da abertura comercial sobre o setor agropecuário. Após, realizou-se um estudo sobre cadeias produtivas, com foco na cadeia produtiva leiteira, levantando as suas características de cunho econômico, estrutural e técnico, e os efeitos da desregulamentação e abertura comercial sobre a mesma. Além disso, a análise das estruturas de mercado apresentou-se oportuna para melhor compreensão dos efeitos levantados sobre o setor analisado.

2.1 Contextualização Histórica

Uma breve contextualização histórica se faze necessária para que se possa compreender melhor a trajetória do setor leiteiro no Rio Grande do Sul. Para tanto, os tópicos abaixo, fazem um breve apanhado de como evoluiu o leite no Estado.

2.1.1 Trajetória do leite no Rio Grande do Sul

Como é de conhecimento geral, o leite é um produto de suma importância. Esse produto, além de ser um alimento extremamente rico em termos nutricionais e, portanto, importante para a dieta dos seres humanos, também é fonte de riqueza. Através do leite, pode-se extrair inúmeros outros derivados com grande valor de mercado. Sendo assim, não é pretensão dizer que além de importante fonte alimentar, o leite é um importante produto do ponto de vista econômico.

Ao longo dos anos, a trajetória do leite no Rio Grande do Sul sofreu fortes modificações e foi adquirindo importância econômica. O que antes era uma atividade artesanal e sem grande ou nenhuma importância, mudou e tornou-se uma atividade chave e vital, principalmente para o Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

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A utilização do leite existe desde o início da ocupação do território do Estado gaúcho. No entanto, ela se estruturava de maneira diferente e sem a importância econômica que existe hoje. O leite, nos primórdios do Estado, era visto como um subproduto, não tinha valor comercial e, consequentemente, era produzido exclusivamente para a subsistência dentro das propriedades (TRENNEPOHL, 2011).

Essa característica de subproduto e pouca importância, tanto na dinâmica econômica como nutricional, começa a ser alterada a partir da intensificação da imigração europeia para o Rio Grande do Sul no século XIX, conforme mostra a citação subseqüente.

Com a chegada dos imigrantes (alemães, italianos, poloneses, austríacos, etc.) e o povoamento mais denso do Estado, o leite tornou-se um importante componente do consumo das populações. Nas regiões coloniais, a criação de animais visava a obter força de tração (animais de trabalho) e alimentos (leite e carne) de forma conjugada em um mesmo rebanho. O leite passou a ser consumido em maior quantidade, tanto “in natura” quanto em forma de derivados (nata, queijo, manteiga, cremes, etc.) de fabricação caseira, mas ainda com característica de atividade pouco especializada, conjugada a uma dinâmica de produção de subsistência e consumo local (TRENNEPOHL, 2011, p.175).

Com a migração campo cidade, e o adensamento da pupulação urbana em detrimento a população rural, o leite passa a ter um papel mais comercial e não apenas de subsitência. Conorme observa-se no gráfico 1 a pupulação urbana atinge em 2010 um percentual de 85% da população do Rio Grande do Sul enquanto esse número era um pouco superior a 30% em 1940.

Acompanhando o crescimento populacional, o aumento da população urbana, como pode-se visualizar no Gráfico 1 abaixo, e a formação de grandes centros urbanos no Rio Grande do Sul, o leite passa a ser produzido de maneira mais intensiva. A produção e a distribuição do mesmo passa a ser de forma mais organizada e com maior abrangência, principalmente nos arredores de grandes cidades.

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22 Gráfico 1 - Evolução da população do RS por condição de domicílio

Fonte: IBGE (2013a).

O leite in natura, ou mesmo seus derivados, passa a integrar de maneira mais constante a dieta das pessoas em geral. Esse aumento no consumo e a possibilidade de explorar o leite de maneira comercial fazem com que o setor comece a se organizar em cima dessa atividade. Então, em 1936, segundo Trennepohl (2011, p. 175), tem-se “Os primeiros indícios de organização da atividade [...], com a fundação da Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul, seguida pela construção do chamado ‘Entreposto Leite’”.

No ano de 1947, novos postos de coleta e resfriamento de leite foram instalados com o objetivo expandir o consumo e a produção por todo Estado. Esse fato foi de suma relevância para alavancar o leite como produto de grande importância econômica (TRENNEPOHL, 2011).

A partir da década de 1960, ocorre a primeira evolução significativa na indústria do leite. As plantas industriais já existentes passam por melhorias e novos atores passam a fazer parte do mercado motivados pelos bons preços do produto e pela demanda crescente pelo mesmo (TRENNEPOHL, 2011).

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Esse fato em si foi bastante significativo, pois foi a partir desse momento (anos de 1960) que ações voltadas a melhorar a produção e a escala da matéria prima foram adotadas. Buscava-se maior escala e melhor qualidade e, assim, os produtores ganharam incentivos e apoio por parte das indústrias processadoras do leite.

Na década de 1970, outros fatores de grande importância ocorreram. Em 1970, o governo do Rio Grande do Sul criou a Companhia Laticínios Correlatos (Corlac) e, em 1976, também foi criada a Cooperativa Central Gaúcha Ltda (CCGL). Esses dois acontecimentos foram responsáveis por grande concentração na coleta e processamento do leite no Estado. No caso mais específico da CCGL, no início dos anos 1990, mais precisamente em 1991, ela era responsável pela coleta de quase 60% do leite produzido no Rio Grande do Sul (LAUSCHNER apud BREITENBACH; SOUZA, 2011).

Como observa-se na tabela 3 abaixo, o Brsil de maneira geral obteve um acentuado acréscimo na produção de leite. Entre nos anos de 1980 à 2005 ou seja, num intervalo de 25 anos, a produção leiteira do Brasil cresceu aproximadamente 124%. Também pode-se salientar o crescimento do consumo per capita nesse mesmo período que foi de aproximadamente 37%.

Tabela 3 – Produção, importação, exportação e consumo de leite no Brasil

Ano Produção (milhões de litros) Importação (milhões de litros) Exportação (milhões de litros)

Consumo Per Capita Aparente (litros/hab.) 1980 11.162 774 - 100,7 1990 14.484 906 - 106,3 2000 19.767 1.800 42,08 126,8 2005 25.004 450 600 137,1 Fonte: SIDRA (2013)

É de suma importância frisar que, entre os anos de 1945 e 1990, o leite ficou sobre intervenção estatal. Cabia ao governo federal regulamentar o mercado e tabelar os preços pagos aos produtores. Esse modelo de regulamentação por parte do Estado encontrou seu fim entre o fim dos anos 1980 e o início dos anos de 1990, juntamente com inúmeras transformações econômicas ocorridas na economia brasileira como um todo. Além do fim da

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24 desregulamentação estatal sobre o setor leiteiro, outras transformações merecem destaque, como os efeitos da abertura econômica, o que será analisado a seguir.

2.1.2 Efeitos da abertura econômica sobre o setor agropecuário

O final da década de 1980 e o início da década de 1990 representaram uma nova fase da economia brasileira. A abertura comercial iniciada nesse período teve um grande impacto em praticamente todos os setores da economia nacional. Essa abertura foi gradativa, como verifica-se no Gráfico 2 abaixo, iniciando-se no governo de Fernando Collor de Mello, intensificando-se no governo de Fernando Henrique Cardoso(FHC) e tendo um pequeno recuo no governo Luis Inácio Lula da Silva(Lula). Observa-se no gráfico 2, como deu-se essa evolução no decorrer do plano real ou mais precisamente nos dois mandatos do FHC e nos dois mandatos do Lula.

Gráfico 2 – Grau de abertura da economia brasileira

Fonte: IBGE (2013b).

(*) Resultados preliminares obtidos a partir das Contas Nacionais Trimestrais.

Com efeito da abertura comercial, não só a agropecuária, como os demais setores da economia, passaram por uma intensa reestruturação. Até o final da década de 1980, a agricultura, assim como os demais ramos da atividade econômica, viviam em um contexto de grande proteção e intervenção do Estado. Observa-se que, na década de 1990, este quadro se reverteu bruscamente, deixando o setor praticamente à mercê da competição internacional.

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Ademais, os efeitos da abertura econômica e comercial não foram homogêneos. Ao mesmo tempo em que foi benéfica para alguns produtos, não o foi para outros. Neste sentido deve-se dizer que alguns produtos primários foram muito afetados pela concorrência internacional mais intensa, mas de maneira geral, o setor foi beneficiado (REGO; MARQUES, 2003).

Dentre alguns benefícios gerados pela maior abertura comercial, é sabido que essa possibilitou maior acesso, por parte dos produtores agrícolas, a insumos como máquinas e equipamentos mais modernos adquiridos do exterior. Destaca-se ainda que a abertura comercial gerou uma melhor qualidade dos insumos produzidos internamente em virtude do aumento da concorrência. Evidencia-se que isto só se tornou possível após a liberalização econômica ocorrida.

Com a liberalização econômica brasileira o setor agropecuário passou a ter a sua disposição insumos que até então não eram comercializados internamente. Essa nova possibilidade de adquirir insumos mais modernos deu um novo impulso ao setor a fim de ganhar competitividade para concorrer no mercado internacional.

Segundo Helfand e Rezende (2001, p. 250)

A liberalização alterou preços relativos dos insumos, aumentou o acesso a insumos importados de alta qualidade e levou a produção doméstica a maior competitividade. Esses fatores fomentaram ganhos na produtividade e redução de custos.

Com a abertura econômica e o fato do setor produtor de insumos agropecuários estar exposto à concorrência internacional, acreditava-se que o preço dos insumos tenderia a cair, fazendo com que seu consumo aumentasse. Isso refletiria, por conseguinte, em uma maior competitividade ao setor agropecuário, aumentando, por sua vez, sua rentabilidade (MELLO, s.d.).

Desta forma, convém ressaltar que com o fim ou a redução da proteção dos produtos agropecuários, principalmente os importáveis, mostrou-se necessária uma readequação da

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26 auferir ganhos de produtividade a fim de equalizar os custos com os preços internos e os preços internacionais.

Com a abertura, difundiu-se a empresa capitalista no meio rural, sendo constituída tanto por empresas bem gerenciadas e com metas definidas, como por empresas de outros setores. Investimentos nesse seguimento se mostraram de grande importância, pois melhoraram a relação de produção na agropecuária. Essas técnicas mais modernas de gerenciamento corroboraram para o desenvolvimento do setor no Brasil e sua melhor inserção internacional.

Além disso, no que tange à pesquisa e desenvolvimento (P&D), destaca-se a importância de órgãos como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), os quais foram vitais para o desenvolvimento do setor primário na década de 1990. Com novas e melhores técnicas de manejo, melhoramento genético, entre outros, o setor agropecuário teve um salto de qualidade muito significante.

Como as novas tecnologias se difundiram rapidamente ao longo da década de 1990, se tornou fundamental o investimento em obra qualificada. A utilização dessa mão-de-obra especializada transformou-se em um insumo de grande relevância para manter a produção a níveis elevados nas empresas agrícolas e garantir sua competitividade diante desse novo cenário.

Não menos importante que as demais alterações ocorridas após a abertura, pode-se destacar a entrada de novas empresas, desnacionalização de algumas e fusões entre outras empresas produtoras de insumos para o setor agrícola. A inserção dessas novas empresas deu uma nova dinâmica à produção de insumos dentro do país. Essas empresas estrangeiras se instalaram em terreno brasileiro e trouxeram consigo o que havia de mais moderno na agricultura mundial (BENETTI, 2000).

A abertura comercial desencadeou uma série de transformações na agricultura brasileira conforme apontado anteriormente. Grande parte está ligada ao ganho de produtividade que se observou como resultado das mudanças ocorridas após a abertura econômica. Entre os principais fatores que podem ser citados como de expressiva importância

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para os ganhos de produtividade conseguidos ao longo da década de 1990 destacam-se: P&D; incremento na mecanização; mudanças no gerenciamento e na organização; e acesso a novos e melhores insumos.

A utilização mais intensiva de melhores insumos, um melhor gerenciamento da propriedade, melhores e modernas técnicas de manejo, entre outros, ocasionaram uma alteração na relação emprego/produto. Nesse período, o emprego do setor agropecuário reduziu-se a taxas consideráveis. Apesar disso, a produção do setor manteve o crescimento, apresentando, portanto, uma melhora na produtividade da mão-de-obra, conforme ilustra a Tabela 4. “De sua força de trabalho em 1990 foram retirados 370 mil empregados, ou seja, 22%. Para que seu produto crescesse 31%, foi necessário aumentar em 68% a produtividade dos que ficaram. Daí sua altíssima taxa de 6,6% ao ano” (ACCURSO, 2002, p. 343).

Tabela 4 - Desempenho dos setores da atividade econômica do RS 1990-1998

(%)

Discriminação Estrutura do PIB Emprego

Produtividade em relação a média 1990 1998 1990 1998 1990 1998 Agricultura 10,00 10,40 33,30 26,00 0,30 0,40 Indústria 38,30 40,20 22,40 22,00 1,71 1,83 Serviços 51,70 49,40 44,30 52,00 1,17 0,95 Total 100,00 100,00 100,00 100,00 1,00 1,00 Discriminação Taxas anuais de crescimento 1990-1998

PIB Emprego Produtividade

Agricultura 3,40 -3,40 6,60

Indústria 3,50 -0,30 3,80

Serviços 2,30 2,00 0,30

Total 2,90 0,00 2,90

Fonte: ACCURSO (2002, p. 343).

Para compreender melhor essas repercussões históricas sobre a cadeia leiteira, um estudo mais aprofundado sobre a dinâmica de funcionamento de uma cadeia produtiva foi realizado. A seguir, trata-se dos aspectos de uma cadeia produtiva em si e, posteriormente, foca-se no setor de leite.

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28 2.2 Cadeias Produtivas

As relações entre as empresas dentro da mesma cadeia produtiva são fundamentais para a formulação de políticas estratégias e garantia de sobrevivência perante a concorrência que se instaura numa economia globalizada. Isso ocorre devido não apenas as alterações no cenário macroeconômico nacional e internacional, mas também devido a características inerentes ao mercado e à empresa, tais como o aumento da complexidade da produção e a implantação de novas técnicas de produção e de gestão. Além desses exemplos citados, existem outras mudanças que demandam maior eficiência e exigem mais eficácia de uma organização e, por seguinte, a sua organização em uma cadeia de valor.

Esses fatores refletem a tendência das empresas em se especializarem naqueles itens para os quais possuem vantagem comparativa, ou seja, naquele negócio que é de fato o foco, o negócio principal da empresa, deixando as demais atividades vinculadas para terceiros. Além do aumento da terceirização, há também uma maior necessidade de cadeias produtivas eficientes e engajadas. Ademais, há um aumento da concorrência entre as próprias cadeias produtivas e não apenas a concorrência entre empresas pertencentes a uma mesma cadeia (HANSEN, 2004).

Como a produção vertical muitas vezes não é a melhor estratégia para uma empresa se inserir e competir no mercado, um bom relacionamento com a cadeia de produção como um todo e políticas em conjunto mostra-se oportuna e necessária. Além disso, é sabido que as decisões que dizem respeito a um setor tomadas à nível de uma cadeia produtiva tornam-se mais proeminentes e decisivas do que se tomadas de forma individual por uma empresa.

Segundo Gomes-Casseres (apud HANSEN, 2004 p.26), “as empresas, de uma forma geral, estão criando redes de alianças na busca de vantagens competitivas, que as empresas de forma individual não conseguem obter”.

Estando expressa a importância de uma cadeia produtiva, torna-se crucial conceituar o termo em uso. Também, é pertinente saber como a mesma pode ser analisada e o seu desempenho medido; quais são os elos fracos e fortes de uma cadeia; e como se dá o seu funcionamento.

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Uma cadeia produtiva, palavra derivada do francês Filière – fileira –, pode ser conceituada como sendo

[...] uma sucessão de operações de transformações dissociáveis, capazes de ser separadas e ligadas entre si por um encadeamento técnico; um conjunto de relações comerciais e financeiras que estabelecem, entre todos os estados de transformação, um fluxo de troca, situado de montante a jusante, entre fornecedores e clientes; um conjunto de ações econômicas que presidem a valoração dos meios de produção e asseguram a articulação das operações (MORVAN apud HANSEN, 2004, p. 28).

Dentro de uma cadeia de produção, por exemplo, verifica-se desde a extração, processamento e venda da matéria-prima até a sua utilização para a produção do bem, distribuído ao consumidor final. Como a atividade primeira até a última envolve muitos processos distintos e, muitas vezes, o emprego de tecnologias diferentes, a execução de todas essas atividades por uma mesma empresa pode ser inviável ou improdutiva, apesar de alguns benefícios de executar todas as atividades verticais envolvidas na produção de uma mercadoria (BRUM, 2011).

Para que uma cadeia produtiva seja eficiente é necessário, primeiramente, que o fluxo de informações dentro da cadeia seja apropriado, evitando-se assimetrias de informação. Também, é necessário que as relações entre as empresas envolvidas na mesma cadeia sejam ágeis e eficazes. Para tanto, os processos de burocratização, que inviabilizam tais práticas, devem ser reduzidos (HANSEN, 2004).

Numa cadeia produtiva, para que as empresas garantem sua sobrevivência no mercado e, também, o próprio sucesso da cadeia em si, as empresas devem adotar uma estratégia de cooperação, garantindo, assim, uma maior competitividade. A relação dentro de uma cadeia de produção segue a lógica de uma combinação entre competição e cooperação. Esse tipo de estratégia híbrida mostra-se necessária perante a necessidade de estruturas de interesses e objetivos convergentes (HANSEN, 2004).

Em meio aos aspectos competitivos inerentes a qualquer atividade, verifica-se, então, aspectos cooperativos interligados. Normalmente, as atividades concentradas no elo inicial da cadeia apresentam maior cooperação, já aquelas no elo final da cadeia, apresentam uma maior

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30 Segundo Bonelli e Fonseca

No que toca a noção de cadeia produtiva, parte-se do suposto que sua competitividade está refletida no elo final. Isso não implica desconhecer que os elos anteriores são determinantes da competitividade da cadeia. Apenas que é possível identificar os elos críticos para os ganhos de competitividade [...] (BONELLI; FONSECA, 2001, p. 3).

Em relação à governança de uma cadeia de valor, essa é exercida pela empresa que detém a atividade com maior valor agregado. Devido a importância do produto ou serviço em questão, tal empresa exerce influência sobre as atividades das demais, estabelecendo uma relação quase hierárquica. Nesse tipo de governança, a comunicação se dá por meio de regras e procedimentos pré-estabelecidos, de maneira formal e burocrática.

Não menos relevante é incluir uma análise sobre os fatores externos à cadeia que exercem influencia sobre a mesma, tais como fatores políticos, econômicos e financeiros, legais, entre outros. Portanto, uma análise deveria contemplar as relações entre as empresas integrantes de uma cadeia; as relações dessas empresas com instituições de apoio ou governamental; as relações com o mercado consumidor; e as relações de concorrência de uma cadeia de valor com outras cadeias.

Além disso, dependendo do setor em questão , as análises deveriam ser feitas partindo-se do elo final da cadeia ou partindo-seja, do mercado consumidor, em direção ao primeiro elo da cadeia. Isso torna-se relevante quando o mercado consumidor é um elemento-chave para determinar padrões e parâmetros adotados ao longo de uma cadeia de valor, ou quando o elo final da cadeia impõe certos condicionantes para o andamento da cadeia como um todo, ou quando admite-se que o elo final é responsável direto pela competitividade.

É preciso atentar para os fatores de competitividade dentro de uma cadeia de valor. Esses podem ser de ordem interna, estrutural ou sistêmica. Os primeiros dependem inteiramente de decisões tomadas dentro da empresa, sendo as estratégias individuais o determinante do nível de competitividade da empresa em relação as demais. Já os fatores estruturais são aqueles que não dependem inteiramente de uma organização, mas podem sofrer sua influência, tais como as questões de cunho tributário. Por fim, os fatores de competitividade considerados sistêmicos são representados pelas externalidades macroeconômicas, os quais independem de ações da empresa, sendo eles de ordem

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político-institucional, regulatórios, infra-estrutura, entre outros (HANSEN, 2004). Como esses fatores interferem de forma diversa nos diferentes elos de uma cadeia, as estratégias coletivas mostram-se mais necessárias para conciliar as políticas internas das empresas com as da cadeia como um todo em face aos condicionantes de competitividade.

Lembra-se que além de indicadores de ordem microeconômica (preço, custo, lucro, barreiras a entrada, externalidades entre outros) existem aqueles relacionados ao ambiente externo, ou seja, indicadores macroeconômicos, que interferem no funcionamento das empresas e de uma cadeia como um todo: taxa de câmbio, taxa de juros, entre outros de ordem nacional e internacional. Como já destacado, é importante analisar tipos diversos de indicadores, para uma análise mais eficiente do desempenho de uma cadeia produtiva. Variáveis que dizem respeito ao ambiente em que a cadeia esta inserida, ou seja, as interferências de questões de caráter político, mundial, nacional, legal, entre outros, não contemplados numa análise estritamente micro e de cunho institucional, devem ser contempladas (HANSEN, 2004).

Uma análise contempla, portanto, indicadores tanto quantitativos como qualitativos; tanto de ordem financeira como outros não financeiros; tanto aspectos internos como externos à organização, entre outros. Enfim, os indicadores de análise de desempenho são amplos, mas todos devem ser alinhados às estratégias da empresa e da cadeia como um todo, permitindo analisar o desempenho das empresas de forma individual e coletiva – analisando a cadeia como um todo.

Após uma análise detalhada desses fatores acima abordados, é possível identificar com maior exatidão os elos fracos de uma cadeia de valor, ou seja, aqueles pontos de estrangulamento e as fraquezas apresentadas por uma cadeia de produção, os quais podem comprometer a cadeia como um todo e não apenas uma empresa específica. Esse efeito em cadeia ocorre, pois admite-se que todos os elos de uma cadeia de valor estão interligados e são interdependentes.

Um ponto fraco dentro de uma cadeia de valor é a falta de conexão entre as estratégias adotadas pelas empresas partes da cadeia de produção e os conflitos entre as estratégias

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32 individuais são incompatíveis com as demais empresas do grupo, podendo acarretar um baixo desempenho da cadeia. Ademais, superposição de regulamentações legais e mercadológicas são fatores que podem gerar pontos de estrangulamento. Os fatores de ordem externa ou sistêmicos, como aspectos legais e regulatórios, impedimentos políticos, entre outros, também não podem ser esquecidos. Fraquezas provenientes de fatores estruturais derivam, por exemplo, da falta de elos do processo produtivo ou carência nos canais de distribuição, falta de tecnologia e falta de acesso a fonte de matéria-prima. Já problemas internos de ordem operacional derivam de estratégias inadequadas, assim como da deficiência no fluxo de informações e de materiais.

Apesar desses pontos fracos e de estrangulamento que podem existir dentro de uma cadeia de valor, os mesmos podem ser sanados se analisados corretamente e corrigidos os desalinhamentos estratégicos através de uma boa governança colaborativa e da compatibilização ou redução de conflitos através da adoção de uma estratégia de competição e cooperação juntas. O sabido é que o desempenho eficiente de uma cadeia de valor é bastante vantajoso para as empresas envolvidas, pois leva a um aumento na eficiência, a implementação de melhorias nos processos internos, a introdução de novos produtos, entre outras melhorias da mais variada ordem.

2.2.1 Características da cadeia produtiva do leite

Conforme visto anteriormente, inúmeras transformações ocorreram ao longo dos anos na cadeia produtiva do leite, fazendo com que aumentasse sua importância e dinamicidade. Hoje, o leite é de grande importância não só para o Rio Grande do Sul como um todo, mas principalmente para a Região Noroeste do estado gaúcho, onde está fortemente presente.

Basicamente, a cadeia produtiva do leite segue a seguinte estrutura: insumos, produtor, indústria, representante, distribuidor, varejista e, por fim, consumidor. Como é possível perceber, os elementos apresentados correspondem aos aspectos básicos da cadeia do leite. No entanto, é preciso ponderar que além desses fatores que formam o cerne da cadeia, muitos outros são de grande importância e também fazem parte da mesma. Entre eles, pode-se citar o transporte – fator preponderante para o processo como um todo e em praticamente todos os elos da cadeia principal.

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As cadeias produtivas como um todo apresentam interação entre seus elos e sempre existem um ou alguns poucos elos que são os dominantes da cadeia. Essa dominância se dá pela força do elo e por seu poder de mercado, principalmente no que tange direcionar a cadeia para o seu foco principal, como referenciado acima.

Na cadeia do leite, especificamente, o elo mais forte é a indústria processadora, tanto pelo seu tamanho em relação aos outros elos, como pelo domínio da informação. A indústria traça as estratégias da cadeia e os demais players tendem a segui-la sob pena de não mais fazerem parte dessa cadeia de maneira geral.

Atualmente, a indústria estrutura-se da forma que segue em relação ao mercado, utilizando a análise das cinco forças que afetam a estrutura da indústria Poter (1991):

a) rivalidade entre os concorrentes; b) ameaça de entrada;

c) pressão dos produtos substitutos; d) poder de negociação dos compradores; e) poder de negociação dos fornecedores.

Em relação a rivalidade entre os concorrentes, no caso do Rio Grande do Sul, como viu-se anteriormente, existem duas estruturas a serem analisadas. Em primeiro lugar, o monopsônio, estrutura a qual predominou historicamente no RS e que hoje encontra-se praticamente extinta; em segundo lugar, o oligopsônio (concorrencial), que imprimiu uma nova dinâmica ao ambiente. Nesse caso, a rivalidade entre os concorrentes é alta, gerando disputas cerradas pelos fornecedores, especialmente a partir da guerra de preços tanto na compra do produto in natura quanto na venda do leite e seus derivados para o consumidor final (BREITENBACH; SOUZA, 2011).

No aspecto concernente a ameaça de entrada, as empresas que ameaçam entrar no mercado são de grande porte, dada a estrutura e os participantes que hoje atuam no mercado. São, portanto, entrantes potenciais com forte poder de mercado. Já os pequenos laticínios acabaram sendo incorporados por outras grandes empresas e não mais representam ameaças.

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34 com o ingresso de empresas de fora do Estado, que buscam leite no RS (BREITENBACH; SOUZA, 2011).

Sobre a pressão dos produtos substitutos destaca-se que, embora não exista um substituto direto ao leite, in natura, novos produtos, principalmente de origem vegetal, vêm surgindo no mercado, inclusive com propriedades nutritivas semelhantes. Fora isso, outros produtos chamados produtos inferiores também roubam uma fatia do mercado, sobretudo nas famílias de baixa renda. Embora seja difícil substituir o leite na dieta, principalmente de crianças, por produtos ricos nutricionalmente, os produtos inferiores tais como refrigerantes tem o feito.

Quanto ao poder de negociação dos compradores (indústria), o mesmo é considerado, em grande parte, elevado devido ao poder de barganha e à concentração e maior acesso às informações por parte dos compradores. Além disso, as empresas compõem o elo que coordena a cadeia produtiva do leite e, estrategicamente, trabalham para que, mesmo num ambiente de concorrência, mantenham seu poder superior ao dos fornecedores (BREITENBACH; SOUZA, 2011).

Por sua vez, os fornecedores, com a transição para uma estrutura de oligopsônio concorrencial, possuem poder de negociação maior que em ambientes de monopsônio. Mas esse poder é menor que o das empresas, pois os fornecedores são em grande número e pouco concentrados. Por outro lado, como não necessitam disputar com outros produtos substitutos para venda nas empresas, têm várias opções de comercialização; seu insumo é importante para o negócio da mesma (BREITENBACH; SOUZA, 2011).

No que tange outros aspectos importantes dentro da cadeia, pode-se citar fatores como: incerteza, racionalidade, especificidade dos ativos e oportunismo. Todos esses fatores se encontram presentes dentro da cadeia e tem importante relação com os custos de transação dentro da mesma. Principalmente após a alteração na esfera industrial, partindo para um modelo de oligopsônio, alguns desses fatores se enfraqueceram, mas continuam presentes.

Certos fatores se manifestam de maneira mais intensa em um dos participantes da cadeia, seja produtor ou indústria. Já outros estão presentes com intensidade semelhante em

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ambos. As incertezas em um modelo de oligopsônio se manifestam em ambos os agentes, visto que na cadeia existe racionalidade limitada – mais por parte do produtor – e oportunismo, tanto da indústria quanto do produtor. Com um maior número de compradores, a especificidade do ativo leite caiu, pois há concorrência e, deste modo, outras formas de escoar a produção. Existe muita assimetria de informação dentro da cadeia, sendo a racionalidade limitada, principalmente, para o agricultor de pequeno porte e pouco especializado. Por fim, mas não menos importante, o oportunismo, presente em ambos os elos da cadeia, é fator vital para intensificar as incertezas.

2.2.2 Desregulamentação da cadeia produtiva do leite

A grande transformação estrutural na cadeia produtiva do leite se dá justamente na década de 1990, como consta na citação a seguir.

O ponto de partida dessas mudanças e uma das mais significativas que afetou essa indústria foi a suspensão do controle e tabelamento dos preços, que vigorou de 1945 a 1991. O término dessa prática por parte do governo agiu como um incentivo a entrada de novas empresas que passaram a atuar com maiores graus de liberdade, pois o tabelamento dos preços do leite, e de seus derivados, agia como um desestímulo à criação de novos produtos, com maior valor agregado, visto que o teto já havia sido determinado pelo governo. Assim, com a liberalização dos preços, pela ótica da produção de matéria-prima, fez-se presente a possibilidade das empresas adotarem pagamentos diferenciados, de acordo com as características do produto (CARVALHO, 2002, p. 3).

Após ficar sobre rígido controle e tabelamento de preços por mais de 40 anos, os anos de 1990 trazem uma nova perspectiva para o mercado. Juntamente com o fim da regulação Estatal sobre o leite, o Brasil passa por uma reestruturação econômica e a contar com afluxo de capital externo, o que se mostrou de suma importância para uma nova etapa na cadeia produtiva do leite.

A desregulamentação ocorrida na década de 1990 muda a estrutura produtiva como um todo. O fim dos tabelamentos, bem como o fim da proibição à importação de produtos lácteos, abre novas perspectivas tanto para os produtores como para as indústrias. Novos produtos são inseridos, bem como novos players, o que afeta diretamente a produção, fazendo com que a mesma aumente significativamente após a década de 1990.

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36 Outro fator de grande importância para a cadeia produtiva do leite foi o aumento no poder de compra das classes mais baixas, principalmente após a implantação do Plano Real em 1994. Juntamente com a entrada de novos produtos, o aumento no consumo impulsiona o setor a fazer novos investimentos a fim de atender ao mercado novo e crescente.

O acréscimo na renda das famílias no pós Plano Real, se tornou um incentivo importante por parte das indústrias. Famílias com rendas mais altas, incrementam seu cunsumo não só em auntidade mas também em qualidade. Esse fator mostra-se de grande importância para a indústria a fim de oferecer produtos de maior valor agregado e mais diferenciados.

Com todas as transformações em curso nesse período, um novo horizonte se desenhou, e novas oportunidades se projetavam nesse mercado com grande potencial. Novas empresas processadoras de leite, tais como: Parmalat e Nestle, entram com grande força no Brasil e mudam a estrutura produtiva existente até então.

O mercado que até o momento era composto por um número limitado de empresas e cooperativas que beneficiavam o leite e abasteciam o mercado interno passa por uma ampliação na esfera industrial. Agora, um grupo maior de empresas, muitas delas grandes multinacionais, passam a competir entre si, tanto pelo mercado consumidor como pelos produtores de leite. Nesse período de transição, lucros industriais altos eram auferidos por essas empresas, o que incentivava novos entrantes a se instalarem no Brasil.

Esses novos entrantes, por sua vez, colaboraram com a transição de um modelo industrial de monopsônio (não puro) – onde existe apenas um grande comprador, com poder de mercado, da matéria prima de vários fornecedores –, que era o praticado até os anos de 1990, para um modelo industrial de oligopsônio – onde alguns compradores disputam a compra da matéria prima de uma vasta gama de produtores –, adotado atualmente. Esse novo arranjo entre os atores do mercado veio a beneficiar os produtores visto que esses tinham maior capacidade de escoar sua produção.

Outro fator preponderante no novo arranjo da cadeia do leite é de origem tecnológica e não econômica como visto até agora. Novos processos na fabricação, processamento,

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transporte e principalmente armazenamento do produto foram fatores causadores de uma realocação da indústria processadora do leite.

A indústria processadora de leite não mais precisava se alocar perto de grandes centros urbanos e consumidores. Com as novas técnicas de armazenagem, transporte e beneficiamento do leite, o crescente consumo do leite longa vida e outros derivados com prazos de validade cada vez maiores geraram um deslocamento das plantas industriais para perto da fonte de matéria prima, tirando-a de perto do mercado consumidor como ocorria anteriormente, alavancando o crescimento e o desenvolvimento de outras áreas geográficas. Outro aspecto importante no que tange a esfera tecnológica é o aperfeiçoamento do melhoramento genético, o que conferiu significativos ganhos de produtividade e, por consequência, ganhos de escala.

Com tais transformações na cadeia produtiva e sua nova dinâmica, um novo horizonte surge tanto no que se refere a indústria, como no que se refere aos produtores. Novos arranjos vêm se formando, a competição tem se acirrado, o tamanho das empresas tem crescido, assim o setor como um todo.

No que se refere especificamente ao Noroeste gaúcho, o setor leiteiro passou a ser de grande significância econômica. Novas grandes indústrias vêm se instalando nessa região e outras têm ampliado suas plantas como observou-se na tabela 2. Em cima dessa conjuntura que se desenha, os produtores vêm buscando acompanhar essa escalada industrial a fim de alavancar o leite como fonte de receita e de desenvolvimento.

Empresas processadoras maiores necessitam mais matéria prima e as mesmas concorrem por esse insumo com outras grandes empresas. Em virtude disso, os participantes da indústria vêm buscando produtores capazes de gerar economias de escala, fator esse que beneficia muito a negociação empresa/produtor.

No Quadro 1 abaixo, pode-se identificar e analisar a diferença existente nas unidades de produção. Fica claro a grande vantagem competitiva que os produtores maiores e mais especializados tem em relação aos menores e menos especializados. Os produtores mais

(40)

38 elevada e uma qualidade superior em se tratando de produto final. Essa vantagem, em linhas bem simples, geralmente se manifesta em forma de poder de negociação e, consequentemente, melhor preço por seus produtos. Como além de preços mais competitivos os grandes são capazes de gerar escala, a diferença entre a rentabilidade do grande e do pequeno se amplia.

Características Produtores maiores e mais

especializados

Produtores menores e menos especializados

Qualidade de matéria-prima Alta Média

Nível tecnológico adotado Alto Médio

Prioridade dada à atividade leiteira Alta Alta

Administração Empresarial Tradicional

Busca de informações acerca da atividade leiteira

Alta Baixa

Escala produtiva Alta Média

Grau de profissionalização Alto Médio-baixo

Relação com a empresa Estritamente comercial, com forte cobrança por parte do produtor acerca do preço

Relação menos rígida, com menor cobrança por parte do produtor acerca do preço

Quadro 1 – Característica das unidades produtivas de leite Fonte: BREITENBACH; SOUZA (2011).

Percebe-se que muito mudou ao longo das décadas na cadeia produtiva do leite no Rio Grande do Sul e ainda vai mudar. Novas exigências sanitárias, aspectos ecológicos, qualidade do leite, entre outros, são discussões e mudanças que já estão na pauta. Esses fatores tendem a reorganizar o mercado no que se refere a produtores e, certamente, irão especializar ainda mais os mesmos. O que é importante salientar e que fica claro é que o mercado do leite atingiu uma importância elevada no Estado e, sobretudo, na Região Noroeste, aonde vem crescendo. Novas indústrias entrantes, ou ampliação das já existentes, são notórias. Investimentos em produtividade e qualidade da matéria prima vem ocorrendo e a capacidade de negociação dos produtores vem melhorando com a concorrência.

Com a manutenção e maturação dos investimentos; com a especialização dos produtores; com a troca de informação a fim de evitar assimetrias; com o cumprimento das exigências sanitárias e ambientais; dentro outras, o produtor, juntamente com as indústrias,

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