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Gmail - (Narrativas como estratégia) para a primeira supervisão após o campo. Por favor, repassem aos colegas

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Mestrado Profissional 2013 <mestradoprofissional2013@gmail.com>

(Narrativas como estratégia) para a primeira supervisão após o campo. Por

favor, repassem aos colegas.

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Alexandre henz <alexandrehenz2000@yahoo.com.br> 12 de junho de 2013 20:05 Responder a: Alexandre henz <alexandrehenz2000@yahoo.com.br>

Para: Lygia Spinelli <lygiaspinelli@hotmail.com>, "tati_dax103@hotmail.com" <tati_dax103@hotmail.com>, "carolplm@hotmail.com" <carolplm@hotmail.com>, "hanna.s.melo@gmail.com" <hanna.s.melo@gmail.com>, "paulinhaa_vieira@hotmail.com" <paulinhaa_vieira@hotmail.com>, "isadora.vieiradecamargo@facebook.com" <isadora.vieiradecamargo@facebook.com>

HENAlexandre de Oliveira. Mesa redonda: Experiências, história oral e narrativas. Encontro Internacional de História Oral e narrativas em saúde/ II Seminário do Grupo do Estudo de História Oral em Saúde. UNIFESP, 28 de maio de 2012.

Tratarei de uma experiência com narrativas, em que a ênfase está na produção de imagens, o que é diferente de pensar a narrativa centrada no indivíduo, no sentido moderno, liberal, romântico. No eu. Pode parecer estranho dizer isso, quando no campo da saúde produzimos narrativas e elas também são um modo de aproximação, de escuta, acolhimento e sabemos que os pacientes em geral não são ouvidos. O caso é que nesta experiência o foco está na produção de uma imagem narrativa. Para ser produzida esta imagem pede uma imersão no campo e uma multiplicidade de experiências. A produção desta imagem é um dos recursos para engendrar um campo de singularidades, um campo comum de singularidades. É importante ressaltar que aquilo que consideramos ser o trabalho com as singulariades se distancia daquele que opera com a lógica do indivíduo. Pois, por melhores que sejam as nossas intenções, ao associar as singularidades à noção de indivíduo ou pessoa ficam reforçadas, naturalizadas as identidades fixas, reitera-se o indivíduo no sentido liberal. O fragmento narrativo a seguir foi escrito buscando esta distância, deslocando-se das marcas de uma percepção pessoal rumo a uma sensibilidade impessoal, coletiva e singular. Ele foi feito por um estudante - André Rodrigues agora já formado psicólogo -, a partir de uma proposta realizada no momento de inauguração de um dos lugares de experimentação do Campus Baixada Santista: O Laboratório de Sensibilidades da UNIFESP. “No local, os presentes se ajuntam e se apertam: estudantes dos cinco cursos de graduação, técnicos, alguns professores e vários outros personagens que, por diversas motivações agruparam-se ali. Após a apresentação de um clown, que permaneceu ali, irrompe pela porta um homem de calça jeans, bolsa e camisa brancas. Passa entre os presentes com um peixe numa das mãos e um copo d'água na outra. Direciona-se pra um dos lados do

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espaço. Burburinho e risadas de estranhamento vão se dando enquanto o homem de branco, silenciosamente, se prepara para o que quer que seja. Sabemos apenas que envolve um peixe e um copo d’água. Ele para e fica de joelho, sentando em seguida nos calcanhares, sobre um craft lançado no chão. Deposita o peixe ao centro, bem em sua frente. Coloca o copo d’água ao seu lado. Tenta tirar algo da bolsa. Parece ter problemas na tarefa. Um dos presentes grita: Precisa de ajuda? Ajuda ele vai..Ele não reponde. Parece indiferente às falas e risos, que aumentam e diminuem a cada segundo. Um braço aproxima-se e se estende em direção à bolsa para auxiliá-lo, sem que ele solicite ajuda. Antes do auxílio tocar a bolsa, ele retira dela uma faca. O braço se recolhe rapidamente.Após a faca, ele retira um pequeno rolo de faixa para gesso e posiciona ao lado do copo. Com a coluna ereta, respira fundo, olha pra frente por um instante. Desce o olhar para o peixe. Pega-o pelo rabo e o acaricia. Passa as mãos lentamente num dos lados do peixe. Neste instante, alguém grita em forma de gemido: Ahhiiiiiihhh....ShshshshhshDe súbito pega a faca e começa a esfregá-la rapidamente e com força, no peixe. Escamas voam por todo lado, acompanhadas pelo grito e risos de muitos.Falatório. Impossível entender as falas que se atravessam e se sobrepõem neste instante. No calor santista, o cheiro de peixe passeia pelo local. Hummm que cheiro.. Noossaa.Lentamente, ele vira o peixe para o outro lado. Respira fundo novamente, olha por um instante para frente. Repete o ritual. Neste instante alguém grita: Chama as moça da limpeza!Entre falas e risos que não cessam, ele continua limpando cuidadosamente todas as escamas do animal, agora mais lentamente. Um dos presentes questiona: Que que você está fazendo aí? Que você tá fazendo? O artista responde, calmamente: Que que eu tô fazendo? Eu tô limpando o peixe...E outra: Pra quê? Resposta: Para que o trabalho seja feito Continua a pergunta: Alguém vai comer? Performer: Depende de que alimento você tá falando. Que tipo de alimento você tá falando?Expectadora: Espiritual Performer: Aí eu não sei E mais uma: Ahhh, se temperar legal eu como (risos) Em meio a risos, ora baixos, ora mais altos, ele pega a faixa de gesso e merguha na água que está no copo. É gesso? Performer: Isso. Você tá enterrando o bichinho (risos). O performer continua engessando o peixe. Eu não como mais (riso dos presentes)Você bateu tanto no coitado que o “esfraturou”. Com bastante seriedade, o homem de branco engessa, da cauda ao "pescoço", o animal. “Não vai engessar a cabeça?” Levantando-o até a altura do peito responde: "Geralmente a cabeça é um lugar que a gente... nunca engessa... geralmente..." Pega os materiais, que nesse momento estão espalhados, arruma, e, leva o copo com água que serviu para mergulhar a faixa de gesso até a boca e bebe: Ahhhhrghhhh (risos) Gemem em coro os presentes. Ele retira o papel craft para o lado, tendo logo abaixo um outro. No craft ao lado se encontra o peixe, agora secando o gesso. Ainda de joelhos e sentado nos calcanhares o performer limpa as mãos na calça e se dirige aos presentes: Enquanto eu espero que o trabalho seque, pra gente nomear ele. Porque a gente geralmente só nomeia as coisas quando elas estão prontas. Eu vou colocar aqui cinco alternativas, pra quem eu escolher nomear. Ele vai escrevendo no craft. Neste

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momento os presentes ficam quietos, poucos falam algo com quem está ao lado, ou esboçam algum sorriso. No craft são escritos os nomes: Sensibilidade Acadêmica, Sistemática sensível, Sub-missão artística..e... Alguém na plateia pergunta qual a formação do artista... Ele é TO, Terapeuta Ocupacional Como você foi psicóloga. Você sabe como é TO né..(...) Uma das presentes nomeia o trabalho: Sensibilidade Acadêmica. No corredor, o artista conversa com um professor: Sei quando funciona: ninguém aplaude.”

Na UNIFESP baixada santista – que reúne cursos de graduação com ênfase na saúde -outras experiências com narrativas ocorrem no eixo de formação trabalho em saúde (TS), que é um dos eixos que transversaliza o segundo ano de todos os cursos. Ali, estudantes em duplas, sempre de distintas áreas profissionais, vão ao território acompanhar a população em visitas a algumas casas previamente selecionadas com a ajuda de referências de cada uma das comunidades. Durante o semestre ocorrem cerca de 5 encontros em cada casa. Os estudantes são supervisionados e produzem diários de campo a partir destes encontros. Ao final do semestre eles produzem narrativas que são lidas entre eles e em cada uma das casas acompanhadas. É a primeira experiência com narrativas.

Ainda que estejamos atentos às políticas públicas, ao território e a isto que estou chamando campo de singularidades - acompanhamos dores, alegrias, percursos, ultrapassamentos, o fluxo da vida em ato - prevalece uma cisão. Para nós mesmos, professores, é difícil operar fora da dicotomia indivíduo e sociedade, e isso se acentua por estarmos trabalhando com alunos no período inicial da graduação. Até esse momento da experiência, o que temos acompanhado é o predominio nas narrativas de um funcionamento bipartido: de um lado aspectos individuais e de outro, elementos do que é tomado como contexto social.

No decorrer da formação é possível acompanhar deslocamentos interessantes dos alunos quando se utilizam da estratégia da produção de narrativas em outros eixos do curso. Exemplo disso são aquelas produzidas por alguns estudantes do quarto e quinto anos do curso de psicologia durante um dos estágios, das quais pretendo apresentar dois fragmentos a seguir. André Rodrigues, Aurélio Miyaura, Elis Alquezar, Kátia Moreira, Larissa Finocchiaro e Rodrigo Sajoma – é importante lhes dar os créditos -fizeram um exercício distanciado do viés biográfico e individual dando a ver imagens impessoais e singularidades nas quais as dicotomias se dissolvem e deixam emergir a multiplicidade das experiências. Uma escrita dessubjetivada que pedia uma inteligência, leveza e até certo desconhecimento, paradoxalmente. As imagens constituídas nestes pequenos escritos verossímeis, plausíveis, não tiveram a pretensão de dizer a verdade, representar o território ou o equipamento, as pessoas, coisas ou fatos, tão-somente, o que elas almejavam era arrastar os lugares e a vida experimentada naqueles encontros. Neste trecho que selecionei podemos acompanhar uma imagem da busca ativa na favela do pantanal ocorrida no estágio em 2011.

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“Pastas nas mãos. Endereços conferidos. Datas de recadastro confirmadas. Distribue-se o efetivo. É dia da busca ativa. A Perua precisa ser compartilhada. Confirmam-se as distâncias. Pronto. Será possível realizar todas as visitas. O Cras perambula pelo território. Palmas, chamamentos, perguntas: “Você conhece o número 134? Sabe onde fica a rua ... Você conhece a Cristina mãe do Jonatam?”. Muitas respostas: “Ela voltou pro nordeste, faz tempo... Eles foram morar no Morro... É aquele beco ali moço!”Corpos curiosos, defendidos, desconfiados, receptivos... Olhares que pedem: “o que vocês estão dando aí?”. Corpos amigos e conhecidos: “Bom dia!... Tô precisando ir lá falar com você.” Mãos que agradecem: “Deu tudo certo aquilo lá. Tá caminhando. Muito obrigado seu Carlos.” Braços e bocas que perguntam: “Menino, como eu faço pra me cadastrar neste programa? Tem algum outro programa que eu posso participar? Como funciona aquele programa lá?... esqueci o nome é...”.

Instruções, agendamentos, acolhimento. Corpos que cobram: “Menino tô precisando muito falar contigo. Você disse que viria aqui em casa. Aquele negócio lá piorô rapaz. Tô desesperada, sem saber o que fazê...” Sofrimento e instatisfação do técnico: seu corpo não tem tido pernas para acompanhar o caso da forma que gostaria. Poucas pernas, muitos casos. É preciso tentar encaminhar algo naquele instante. Na favela do pantanal os meninos estão agitados, a PM acabou de entrar, sai rapidinho. Os meninos continuam, rádios na mão, imponentes. Soldados. Alguns conhecidos, referenciados no programa Ação Jovem. Ajudam a localizar os endereços e escoltam os profissionais. O movimento é intenso: Muitos clientes. Um técnico descansa a mão no ombro do jovem soldado atento e pergunta: “Como está sua mãe?” O corpo firme se desmonta, por segundos, e sorri timidamente: “Tá bem, seu Carlos!”E continua no posto. Quase ao final uma cena intriga: um técnico e três meninos, entre cinco e sete anos de idade, conversam sentados na mesinha de cimento. Um dos meninos parece fora da conversa, está com o olhar fixo, quase paralisado, no jovem com rádio na mão que está sentado no meio fio, atrás das costas do profissional. Hora de retornar. A busca ativa foi realizada.

Há um tanto de todo mundo neste fragmento. Uma experiência que é de todos e não é propriedade de um indivíduo em particular. Uma narrativa que interpela muitos e não se dirige especificamente a nenhum eu. Uma certa política de narratividade que, como em toda política, tem desdobramentos imprevistos. Em outro fragmento narrativo os estagiários acompanham um menino.

“Um menino estava a frente de sua casa. Descalço, disse, quando perguntado se queria ‘passear por uma exposição’, que não pegou a perua para ir à escola porque não havia tomado banho. Iria andar conosco. No passeio, falou de uma avó que queria dá-lo para o juiz. Continuamos andando. Os olhares se entrecruzaram. Enquanto víamos a exposição, o menino pediu que voltássemos com ele para a sua casa, queria que o ajudássemos a procurar um papel. O papel era um documento que seria para uma viagem. Andamos novamente até a casa. Ficamos do lado de fora, esperando... Vendo o movimento... Um cachorro latindo e sacudindo o rabo...O dono do aninal, que saia para

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o trabalho, disse que o cachorro do vizinho morrera de carrapato.. O menino apareceu e nos convidou a entrar. Havia derrubado toda uma gaveta no chão. “Eita nóis!” Recolhemos com ele o que caíra da gaveta. ‘Brigado amigo. Pega esse livrinho para você!’. Deu-nos uma Bíblia. ‘Olha, essa é minha mãe e esse é o cara que bate nela’. Silêncio.Voltamos juntos para a exposição, os olhares da comunidade estavam atentos ao menino, sempre observando, inquietos, desconfiados, dispostos a cuidar? Gritou para avó: ‘Vó! Têm umas fotos minhas lá na CECOM! Vem lá vê!’ Passamos pela casa de uma senhora que nos contou várias situações envolvendo o menino. “Esse menino tá abandonado desde sábado. Eu vi ele andando de madrugada ontem.” Enquanto andávamos, o menino gritou na direção de outra casa: ‘Carmem!’. Aparece outro menino. ‘Viu, sua mãe tá aí?’ ‘Oi Carmem!’. ‘Que quê você quer menino? Não tomou banho? Não foi para a escola? E nos disse: “Aí, depois de toda essa bagunça do sábado com aquela que saiu e largou ele, ele foi gritar na casa da avó, à noite. Fui eu mesma conversar, fiquei tranquila com ele, e ele se acalmou. Onde já se viu largar o menino assim. Ele fica andando por aí a noite, não come direito. Tá todo sujo e magro. Ele sai correndo quando o ônibus chega. Um dia desses ele pode ser atropelado. Mas quando ele vem aqui a madrinha dá bolo para ele, né menino?’. (...) Chega a madrugada. Tudo escuro. Pessoas sussurando coisas que não querem que os outros ouçam, mas que também querem brilhar na noite. Atravessou a passarela. Viu uma luz forte vindo daquela direção... Que será? Promessas de um mundo que se enxerga. Lugar que se pode falar sem ser chamado de burro ou idiota. “Vou trabalhar aqui!” Em meio aos containers, carregar sacos pesados, madeiras e caixotes. “Que forte estivador sou!’. Luzes apagadas. ‘Que é isso?’ E o sol já está aparecendo. ‘Preciso pegar a perua para ir para escola!’. Chega ao Piratininga gritando por sua van. ‘Menino, sua perua só passa às 11h e é na sua casa. ’ ‘Ele passa qui! Vou para a escola!’. Perambula mais algumas horas. O grande estivador vai ficando cansado. Anda, anda, anda. Abre-se o local da exposição. Deita no banco e dorme. ‘Acorda, come isso aqui!’ Que peras gostosas! (...)Acorda atrasado de novo para ir a escola. “Escola, não quero não, não tomei banho ontem’. ’Não era dia de ir para a escola. ‘Vou para a igreja hoje’. Olha o 101 se aproximando. ‘Eeei motorissta! Vou para a igreja’ Entra correndo no ônibus com sua pequena Bíblia na mão. O motorista já conhece, nem pede a carteirinha. As pessoas olham para ele, veem nele a diferença de um menino. ‘Senta aqui’. Ele não quer sentar: Segura a fivela do ônibus com força. ‘Ouu motoristaa! Vou desceer!’. Chegou à igreja. Sobe as escadas a passos largos e sorriso longo. ‘Fala Wilson, que bom que você veio de novo. Aquele seu violão tá bom ainda? Se quiser damos outro para você’. Canta sobre Jesus. Ora, chora. Vai para a casa. Ele quer comer um bolo da madrinha. (...)

São passagens, imagens e volta e meia os cacoetes humanistas predominam, no entanto, nessa experiência, e em algumas outras que realizamos com imagens desubjetivadas, o eu, o indivíduo, não está no centro do cuidado. Aliás, o indivíduo - no

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sentido moderno, disciplinar, romântico - já não é mais a medida e o centro das coisas, no campo da saúde, mas não só.

Nesta direção, quero propor aqui uma última problematização. Ela está relacionada à uma tendência no campo da saúde, contemporâneamente, com ecos na discussão acerca da produção de imagens narrativas e singularidades: diz respeito à diferenciação do que chamarei monismo reducionista e monismo complexo.

Monismo porque se trata de um, de mono, de uma substância e não de duas. Sem dualismos e bipartições. Evidentemente, os movimentos dicotômicos persistem, eles coexistem neste momento, com isto que estou apontando como o que vem: a tendência à univocidade, o monismo. Com a dissolução de determinados dualismos produzidos marcadamente no final do séc. XVIII, tais como natural versus artificial, normal versus patológico, dentro versus fora, público versus privado, o monismo avança e se instala furtivamente. E, uma vez instalado, o monismo se move sob dois vetores: o monismo reducionista - que opera com generalidades, e o monismo complexo - que opera com singularidades. Em ambos, o centro não é o indivíduo ou a pessoa.

O monismo reducionista trabalha com fatores, traços, taxas, médias epidemiológicas, e, a atenção é a uma população de risco. Então, nesse monismo reducionista fala-se muito em cérebro, por exemplo, não em mente. É um só, o cérebro e não mais dois, mente e cérebro. Uma noção recobre a outra e só há cérebro no discurso mais hegemônico da saúde. Isso coincide, por exemplo, com a tendência a transformar qualquer correlação cerebral em causa ou origem cerebral. O cérebro é a base explicativa, a priori, mono, há apenas uma causa, não correlatos. Daí monismo reducionista. Ele opera com o discurso mais hegemônico no campo da saúde, em que não há um pluralismo descritivo. Você pensa, descreve e age no mundo como uma única substância, por exemplo: refere-se muito à depressão não à tristeza ou à melancolia. Encontra-se somente o TDA-Hiperatividade, não um travesso ou bagunceiro. Utiliza-se exclusivamente o termo stress (um termo mais físico, dos estudos biológicos dos anos 50) e não mal-estar ou conflito ou desassossego.

Entre o monismo reducionista e o complexo as discriminações se embaralham. Diria que todos nós estamos expostos e formamos juntos os dois monismos que tendem a se instalar, especialmente nas profissões mais tradicionais no campo da saúde. Há nisso um certo cansaço, um descanso, talvez ontológico-histórico. Em ambos, a separação público versus privado se reconfigura. O privado vira público quase compulsoriamente. Todo o privado tende a ser publicado nas redes sociais. Essa demarcação se embaralha e vira uma (não duas! Monismo!). Claro, na perspectiva reducionista o monismo faz um estrago com suas descrições simplificadoras e fisicalistas. Daí podermos pensar num monismo reducionista à frio - o coletivo das generalidades epidemiológicas, das origens e localizacionismos, e, num monismo complexo à quente - também coletivo mas, das singularidades, dos fluxos, diferenças

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que encontram nas imagens narrativas uma de suas possibilidades de enunciação.

Na chave do monismo complexo, a produção de narrativas é apenas uma das estratégias - de tateamento das singularidades, distintas das generalidades do monismo reducionista. As singularidades do monismo complexo estão dispostas ao modo do monismo em Espinosa, que não opõe o homem e o mundo, e que, os fragmentos narrativos que referi aqui tentam operar. Em Espinosa, tudo que existe é uma modificação da substância única que é a natureza. Trata-se de um naturalismo não fisicalista, com uma inseparabilidade do mental e do corporal, do psíquico e do somático. Uma univocidade complexa que subsume indivíduo e ambiente num mesmo todo aberto, uma substância aberta. E as imagens narrativas, como disse, podem ser uma das possibilidades de acompanhar estas complexidades, trabalhando com uma multiplicidade descritiva. Elas podem seguir uma via interessante, acompanhando e produzindo um monismo complexo ao instalarem-se no trabalho de encontrar sob as “aparentes pessoas” (eus, tus, nós) a potência de algo comum, um impessoal interessante, um movimento de “todo mundo”, que de modo algum é uma generalidade, mas uma precisão e singularidades, no mais alto grau. Na narrativa do primeiro dia do Laboratório de Sensibilidades elas aparecem em enunciados curtos: um homem de branco, uma mulher que nomeou, um peixe, um braço. São experiências sutis.

Enfim, um trecho do escritor inglês D.H. Lawrence para concluir. Ele diz: ”Mais que qualquer outra coisa, o mundo teme novas experiências. Porque uma nova experiência desloca experiências antigas. E é como tentar usar músculos que talvez nunca tenham sido usados, ou que foram se enrijecendo ao longo do tempo. A dor é terrível. O mundo não teme uma ideia nova. Ele é capaz de classificar toda e qualquer ideia. É incapaz, porém, de classificar uma experiência realmente nova. Só consegue esquivar-ser. (...)”

Alexandre Henz. Mesa redonda: Experiências, história oral e narrativas. Encontro Internacional de História Oral e narrativas em saúde/ II Seminário do Grupo do Estudo de História Oral em Saúde. UNIFESP, 28 de maio de 2012.

Narrativas e imagens desubjetivadas no âmbito do monismo reducionista e complexo.

De: Lygia Spinelli <lygiaspinelli@hotmail.com>

Para: "tati_dax103@hotmail.com" <tati_dax103@hotmail.com>; "carolplm@hotmail.com" <carolplm@hotmail.com>; "hanna.s.melo@gmail.com" <hanna.s.melo@gmail.com>;

"paulinhaa_vieira@hotmail.com" <paulinhaa_vieira@hotmail.com>; "isadora.vieiradecamargo@facebook.com" <isadora.vieiradecamargo@facebook.com>

Cc: "alexandrehenz2000@yahoo.com.br" <alexandrehenz2000@yahoo.com.br> Enviadas: Terça-feira, 28 de Maio de 2013 9:04

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Assunto: FW: Para TS (Narrativa, cuidados nos encontros com o "sujeito/família, contrato,diário de campo e etc)

Date: Mon, 27 May 2013 06:48:37 -0700 From: alexandrehenz2000@yahoo.com.br

Subject: Para TS (Narrativa, cuidados nos encontros com o "sujeito/família, contrato,diário de campo e etc)

To: lygiaspinelli@hotmail.com; psico.turma7@gmail.com; juarezpfurtado@hotmail.com

Olá Lygia: Conforme combinamos na última quinta, peço que você repasse o texto em anexo para o nosso grupo da TS? São (11 páginas) ferramentas importantes e orientações acerca da narrativa na clínica comum, cuidados nos encontros com o "sujeito/família", contrato,diário de campo e etc. Aguardo sua confirmação (repasso com cópia para os interessados da turma).

Um abraço, Alexandre.

Experiências com narrativas - congresso de narrativas e história oral - Alexandre Henz.doc 110K

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