• Nenhum resultado encontrado

Notícias autodestrutivas: conteúdo jornalístico em Stories do Instagram e no Snapchat

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Notícias autodestrutivas: conteúdo jornalístico em Stories do Instagram e no Snapchat"

Copied!
289
0
0

Texto

(1)

CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM JORNALISMO

Ingrid Pereira de Assis

Notícias autodestrutivas: conteúdo jornalístico em Stories do Instagram e no Snapchat

Florianópolis-SC 2020

(2)

Notícias autodestrutivas: conteúdo jornalístico em Stories do Instagram e no Snapchat

Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Jornalismo, da Universidade Federal de Santa Catarina, para a obtenção do título de doutora em Jornalismo.

Orientadora: Profª. Cárlida Emerim, Drª. Coorientador: Prof. Pedro Alexandre Ferreira dos Santos Almeida, Dr.

Florianópolis-SC 2020

(3)
(4)

Ingrid Pereira de Assis

Notícias autodestrutivas: conteúdo jornalístico em Stories do Instagram e no Snapchat

O presente trabalho em nível de doutorado foi avaliado e aprovado por banca examinadora composta pelos seguintes membros:

Prof. Denis Renó, Dr.

Instituição Universidade Estadual Paulista (Unesp)

Prof. José Ribamar Ferreira Júnior, Dr. Universidade Federal do Maranhão (UFMA)

Prof. Eduardo Meditsch, Dr.

Instituição Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Prof.(a) Raquel Ritter Longhi, Dr.(a)

Instituição Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Certificamos que esta é a versão original e final do trabalho de conclusão que foi julgado adequado para obtenção do título de doutor em Jornalismo.

____________________________ Prof. Rogério Christofoletti, Dr.

Coordenador(a) do Programa

____________________________ Prof.(a) Cárlida Emerim, Dr.(a)

Orientador(a)

(5)

Dedico esta tese à minha bisavó, Carmem Silva (in memorian). No meu coração, a senhora sempre estará sentada na rede e segurando a minha mão.

(6)

AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço ao povo brasileiro, que, por meio dos impostos pagos, sustenta uma rede pública de ensino superior, bem como agências de fomento à pesquisa e apoio à pós-graduação, como a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), que por três anos financiou esta pesquisa. É graças à existência de um ensino público, gratuito e de qualidade, que pude me tornar jornalista, pesquisadora e professora, devolvendo à sociedade os conhecimentos obtidos ao longo desta trajetória. Por isso, ressalto que devemos valorizar e fortalecer iniciativas públicas, mantendo sempre os olhos vigilantes perante aqueles que fazem mau uso do bem público ou ignoram a sua importância. É preciso, cada dia mais, fortalecer uma conduta ética perante o serviço público, uma ética que não esteja apenas no discurso, mas, sim, consubstancializada nas ações cotidianas, protegendo todos que dele necessitam.

Agradeço aos servidores públicos docentes que me acompanharam desde a primeira matrícula, na Universidade Federal do Maranhão, no curso de Comunicação Social – Habilitação Jornalismo; passando pelo mestrado em Ciências Sociais, também nesta instituição; até a finalização desta tese, no Programa de Pós-graduação em Jornalismo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Muitos de vocês serviram de inspiração para a pesquisadora e professora que sou e que ainda pretendo ser. Reservo agradecimento especial aos professores doutores, José Ribamar Ferreira Júnior, Igor Gastal Grill e Cárlida Emerim, que me acolheram como orientanda em cada uma dessas etapas. A Ferreira Júnior, devo todo o meu amor à pesquisa e ao ensino. A importância do rigor e da responsabilidade no fazer científico, aprendi com o professor Igor. Já Cárlida foi só gentileza, compreensão e acolhimento, ao longo de todo esse doutorado.

Também sou grata aos professores Denis Renó e Pedro Almeida. O primeiro, por acreditar na minha capacidade, colaborar para que esta pesquisa alçasse voos maiores e aceitar integrar a banca da defesa. O segundo por me acolher na Universidade de Aveiro, durante o doutorado sanduíche, e aceitar coorientar esta pesquisa. Suas orientações foram fundamentais para que a investigação atingisse esta qualidade. A leitura minuciosa e as ponderações metodológicas resgataram a minha fé, nos momentos mais difíceis de produção.

À minha mãe, Mônica Albino Pereira, fica o agradecimento pelos anos de sacrifício e investimento na minha educação de base, que nunca esquecerei. Espero que, no futuro, a senhora compreenda as minhas escolhas profissionais, e de vida, e se orgulhe de mim. À minha irmã, Gabriela Pereira de Araújo, deixo registrado o anseio de que, um dia, entenda a

(7)

importância deste trabalho e da vida acadêmica que abracei e construí. À minha vó, Delma Albino, agradeço as palavras de compreensão e conforto nas horas difíceis. Todo meu amor é de vocês, ainda que eu precise estar distante.

Meu agradecimento, também, à minha outra família, formada pelos meus tios, Celeste Lima e Mauro Albino Pereira, e meu amado primo/irmão, Renan Lima Pereira. Vocês sempre acreditaram em mim e estiveram ao meu lado. Essa tese é fruto desse apoio incondicional e inspirador de vocês.

Agradeço ao meu pai, José Otávio de Assis, à minha madrasta, Christiane Nobre, e aos meus irmãos, Matheus Nobre e Sofia Nobre. Mesmo distantes, vocês, também, fizeram parte dessa trajetória. Nunca duvidem disso. Aproveito para a agradecer à toda a gigante família Assis. Não vou me arriscar a nomear cada um porque, com certeza, esquecerei alguém, mas, deixo registrada a minha gratidão especial a minha vó, Maria Aparecida de Assis, que fez de todos nós o seu legado. Essa tese, também, é sua, vó!

Minha gratidão, admiração e carinho aos meus padrinhos, Benedito Buzar e Solange Buzar, que acreditaram e apostaram no meu empenho acadêmico. Saibam que este trabalho é resultado das condutas, profissional e de vida, inspiradoras de vocês.

Quero agradecer, também, à equipe do SobreOTatame, portal jornalístico alternativo maranhense, do qual me orgulho em fazer parte. Vocês me acolheram e abriram espaço para que eu não me afastasse do jornalismo, mesmo neste período de imersão acadêmica. A Gustavo Sampaio deixo um agradecimento especial. Tive a oportunidade de te ensinar e, hoje, você se tornou alguém com quem muito aprendo. Juntos fazemos um jornalismo mais que necessário, diria fundamental, em tristes tempos de distanciamento dos ideais de cidadania, solidariedade e democracia.

Não poderia deixar de agradecer aos meus amigos: Macelle Khoury, Edwin de Carvalho, Luiza Costa, Mar Santos, Kaki Farias, Marli Vitali, Carlos Marciano e Matheus Simões. Eu não conseguiria expressar em poucas linhas o carinho e os cuidados de vocês comigo. O que posso afirmar, com convicção e provas (importante!), é que vocês tornaram essa caminhada mais feliz e amorosa.

Sou grata, também, às minhas amigas maravilhosas, Karla Freire e Elizabeth Marques, que deixei em São Luís (MA), mas, que sempre estiveram no meu coração, sentadinhas na nossa janela preferida do Chico Discos. Foi difícil abandonar vocês duas e me aventurar nesse doutorado. Igualmente difícil foi me distanciar de Luanna Costa, amiga de infância que é o meu completo oposto, mas, que sempre soube conviver com as nossas diferenças e torcer por mim, nessa jornada imprevisível que foi o doutorado.

(8)

Ainda tratando de amizades especiais, agradeço à Juliana Gobbi Betti. Ju, qualquer palavra que eu escreva neste agradecimento não refletirá a contento a grandeza do sentimento que tenho por ti e da amizade que construímos. Somos tão diferentes e, ao mesmo tempo, complementares. Você é uma pessoa que me desafia intelectualmente, inspira eticamente e me faz querer ser uma mulher melhor. Muito obrigada pelos aprendizados diários, minha amiga! Para mim, o verdadeiro e real presente deste doutorado foi te ganhar como uma irmã.

Por último, mas, nem por isso menos importante, agradeço a todos os meus alunos. Eu não tenho palavras para descrever o quanto eu aprendi com vocês, diariamente, em sala de aula. Foi muito difícil abandoná-los e ir para o outro lado do país me dedicar, exclusivamente, aos estudos e à pesquisa. Pelas lindas festas de despedida e mensagens carinhosas recebidas ao longo de todos esses anos, sei que vocês estão torcendo por mim e não vou desapontá-los. A minha missão começou sendo cumprir o doutorado para ser uma professora melhor. Hoje, junto à esta, é honrar a tradição de uma região que, há séculos, entrega ao Brasil bons jornalistas, pesquisadores e intelectuais. As portas de todos os cantos do país devem estar sempre abertas para nós, nordestinos.

Nestes quatro anos, várias foram as batalhas. Deixei para trás o conforto do meu lar, dois empregos, família e amigos, para me dedicar, exclusivamente, à pesquisa, no outro extremo do país, em um contexto de falta de bolsas e crescente desvalorização da ciência e do Jornalismo. Encontrei uma Ilha tão bonita quanto à minha, mas, de pouquíssima receptividade. Senti, nela, preconceito pela minha origem, cores e sotaque. Mesmo assim, aos poucos, encontrei-me entre nordestinos, sudestinos, centro-oestinos e nortistas, desgarrados como eu, e entre sulistas de coração imenso (destaco quatro que foram mais que especiais: os professores Eduardo Meditsch, Valci Zuculoto e Melina de La Barrera Ayres; e a servidora administrativa Cíntia dos Santos). Junto a eles, encarei, ainda, um golpe político, a ascensão da extrema-direita no país e, por fim, uma pandemia. Mesmo com todos esses enfrentamentos, entrego um trabalho feito com comprometimento e responsabilidade. Isso só foi possível porque, como diagnosticou Euclides da Cunha, em “Os Sertões”, nós, nordestinos, somos, antes de tudo, uns fortes.

(9)
(10)

RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo principal conceituar a notícia autodestrutiva, partindo da compreensão de como se constituem e se relacionam seus planos de conteúdo (verbalização) e de expressão (visualidades), a partir do conteúdo jornalístico criado e disponibilizado para as plataformas de redes sociais Snapchat e Stories do Instagram. O objeto de estudo é a produção de conteúdo jornalístico na pós-modernidade, a partir da conceituação de notícia autodestrutiva, pois, a observação da sua relação com a efemeridade, a memória e a construção de conhecimento, exige um pensar inovador acerca dos formatos jornalísticos. A hipótese é de que a autodestruição da notícia adiciona especificidades em seus planos de expressão e de conteúdo, o que permite aferir a existência de uma delimitação do formato notícia pelo escopo teórico das pesquisas da área, até então. Para alcançar o objetivo principal, definiu-se como objetivos específicos: compreender a relação entre efemeridade e o contexto, histórico e social, que permite o surgimento dessas plataformas de redes sociais e seus públicos; analisar o plano de conteúdo das postagens para chegar ao conceito de notícia autodestrutiva; estabelecer as similaridades e diferenças entre o conceito de notícia autodestrutiva e o conceito de notícia, identificando as especificidades do primeiro; a partir da análise do plano de expressão, reconhecer os elementos visuais (design da informação) que compõem a notícia autodestrutiva, após conceituá-la, bem como os elementos que constituem a interação humano-interface-informação; identificar se estas narrativas jornalísticas são multimodais e apresentam um caminho transmidiático, a partir dos elementos verbo-visuais das postagens analisadas; compreender a interferência da efemeridade nesses textos-postagens produzidos para tais redes sociais, a partir das escolhas criativas realizadas pelos profissionais responsáveis; e, por fim, entender o porquê das notícias autodestrutivas terem essa configuração verbo-visual, tendo em vista que novas práticas jornalísticas cobram tais reflexões acerca dos formatos que surgem na pós-modernidade. Integram o corpus de análise: os textos-postagens dos perfis dos portais brasileiros Uol, no Snapchat, e G1, nas Stories do Instagram; bem como do portal português Público.pt; e do portal estadunidense da Cable News Network (CNN), ambos na plataforma de rede social Instagram. No Snapchat, coletou-se um mês de postagens do Uol e, nas Stories do Instagram, um mês de conteúdo do Público.pt e da CNN, e dois meses do G1. A coleta do corpus analisado foi realizada em quatro etapas, nos anos de 2017, 2018 e 2019. A pesquisa se sustenta metodologicamente na Semiótica Discursiva, tendo como procedimentos metodológicos: coleta dos textos postagens; a decupagem do material coletado, para mapear os elementos constituintes do objeto empírico; análise dos planos de conteúdo e de expressão do corpus a partir da revisão sistemática de literatura; e, por fim, entrevistas semiestruturadas, em profundidade, com profissionais envolvidos nas criações dos textos-postagens. Conclui-se que o conceito de notícia autodestrutiva se mostra pertinente, pois, ao mesmo tempo que conserva elementos que remetem à notícia, possui especificidades que permitem aferir que se trata de um subformato, vinculado ao tradicional formato notícia. Tais particularidades estão presentes tanto no plano de conteúdo quanto no plano de expressão.

(11)

ABSTRACT

This research had as main objective to conceptualize the self-destructive news, starting from the understanding of how its content (verbalization) and expression (visualities) plans are constituted and related, from the journalistic content created and made available for the social networking platforms Snapchat and Instagram Stories. The object of study is the production of journalistic content in postmodernity, based on the concept of self-destructive news, since the observation of its relationship with ephemerality, memory and the construction of knowledge, requires innovative thinking about journalistic formats. The hypothesis is that the news self-destruction adds specificities in its expression and content plans, therefor allowing to assess the existence of a news format delimitation by the theoretical scope of the research in the area until then. To achieve the main objective, specific objectives were defined: to understand the relationship between ephemerality and the historical and social context that allows the emergence of these social network platforms and their audiences; analyze the content plan of the posts to reach at the concept of self-destructive news; establish similarities and differences between the concept of self-destructive news and the concept of news, identifying the specificities of the first; as of the expression plan analysis, recognize the visual elements (information design) that make up the self-destructive news, after conceptualizing it, as well as the elements that constitute the human-interface-information interaction; identify if these journalistic narratives are multimodal and present a transmedia path, based on the verbal-visual elements of the analyzed posts; understand the interference of ephemerality in these post-texts produced for such social networks based on the creative choices made by the responsible professionals; and, finally, to understand why self-destructive news have this verb-visual configuration, considering that new journalistic practices demand such reflections about the formats that emerge in post-modernity. Integrating the analysis corpus, the post-texts of the Brazilian profile sites Uol, on Snapchat; G1, on Instagram Stories; as well as the Portuguese site Público.pt and the US portal of Cable News Network (CNN), both on the social network platform Instagram. On Snapchat, we collected a month of posts from Uol and, on Instagram Stories, a month of content from Público.pt and CNN, and two months from G1. The collection of the analyzed corpus was carried out in four stages, in the years 2017, 2018 and 2019. The research is methodologically supported by Discursive Semiotics, with the following methodological procedures: collection of post-texts; the collected material decoupage, to map the constituent elements of the empirical object; analysis of corpus content and expression plans from the systematic literature review; and, finally, semi-structured interviews, in-depth, with professionals involved in the creation of post-texts. It is concluded that the concept of self-destructive news proves to be pertinent, because, while conserving elements that refer to the news, it has specificities that allow us to verify that it is a sub-format, linked to the traditional news format. Such particularities are present both in the content plan and in the expression plan.

Keywords: Self-destructive news. Discursive Semiotics. Snapchat. Instagram. Stories.

(12)

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Quadrado semiótico ... 29

Figura 2: Print de tela ... 39

Figura 3: Busca por "self-destructive news” ... 39

Figura 4: QR Code do Snapchat ... 44

Figura 5: Linha do tempo das redes sociais ... 91

Figura 6: Chamada do dia 26 de maio de 2019 ... 141

Figura 7: Chamada do Uol criada para Instagram e Snapchat ... 142

Figura 8: Uso da interrogação pelos perfis ... 146

Figura 9: Texto-postagem da CNN ... 147

Figura 10: Notícia autodestrutiva do G1 sobre o Facebook ... 148

Figura 11: Uso de sticker de teste ... 155

Figura 12: Hashtags dentro do sticker de enquete ... 157

Figura 13: Primeiro layout da Folha Web, no ano de 1995, e o layout atual ... 166

Figura 14: Montagem tipografia Uol ... 191

Figura 15: Tipografias Público.pt ... 193

Figura 16: Post da CNN... 195

Figura 17: Tipos de contorno ... 196

Figura 18: Uso de cor do Uol ... 199

Figura 19: Uso de barras na cor vermelha pelo Público.pt ... 201

Figura 20: Comparativo entre o uso de cores e a logo do evento ... 203

Figura 21: Notícia autodestrutiva completa ... 204

Figura 22: Uso da cor vermelha pela CNN ... 204

Figura 23: Postagens que usam aplicativo e softwares externos ... 210

Figura 24: Proporção de uso de imagens por tipo ... 211

Figura 25: Contagem de planos das imagens dinâmicas ... 216

Figura 26: Zonas de visualização ... 222

Figura 27: Textos postagens do G1 ... 224

Figura 28: Textos postagens do G1 ... 225

Figura 29: Textos postagens inclinados do G1 ... 225

Figura 30: Erros de disposição dos elementos (G1) ... 226

Figura 31: Texto postagem do Uol ... 227

Figura 32: Reposts realizados pelo perfil da CNN ... 228

(13)

Figura 34: Texto-postagem da CNN ... 229

Figura 35: Story do Público.pt ... 230

Figura 36: Comparativo entre infográficos do Público.pt e do G1 ... 231

(14)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Tabela de valores-notícia ... 104

Tabela 2: Tabela proposta por Gislene Silva ... 105

Tabela 3: Modelo de ficha de decupagem ... 137

Tabela 4: Textos-postagens do Uol ... 138

Tabela 5: Textos Postagens do G1 ... 138

Tabela 6: Textos-postagens do Público.pt ... 139

Tabela 7: Texto-postagem da CNN ... 140

Tabela 8: Número de Snaps ou Stories ... 143

Tabela 9: Tipos de lead ... 145

Tabela 10: Valores-notícia ... 149

Tabela 11: Dimensões de análise do plano de expressão ... 171

Tabela 12: Quadro de análise de mídia e tipo de mídia ... 174

Tabela 13: Tabela de fluxo, ação e relacionamento das notícias autodestrutivas ... 176

Tabela 14: Contexto e sua especificação ... 180

Tabela 15: Tabela dos recursos e aspectos visuais ... 183

Tabela 16: Tipografia CNN ... 194

Tabela 17: Tipografia G1 ... 195

(15)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

App Aplicativo.

Alcar Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia. BG Backgroud.

BBC British Broadcasting Corporation. CNN Cable News Network.

CEP Comitê de Ética em Pesquisa. CGI.br Comitê Gestor da Internet. CGI Computer Graphic Imagery.

Intercom Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. ARPA Agência de Pesquisa e Projetos Avançados.

DigiMedia Digital Media and Interaction. GUI Graphical User Interface.

HD High Definition.

HQ História em quadrinhos. JT Jornal da Tarde.

MIT Massachusetts Institute of Technology. PRSMs Plataformas de Redes Sociais Móveis.

PPGJOR Programa de Pós-Graduação em Jornalismo. SRS Sites de Redes Sociais.

WWW World Wide Web. UA Universidade de Aveiro.

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina. UFRGS Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

(16)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 POR QUE DEFINIR A NOTÍCIA AUTODESTRUTIVA? ... 38

2.1 SOBRE DEFINIÇÕES ... 41

2.2 AS RELAÇÕES HISTÓRICAS ... 45

3 QUANDO E ONDE NASCE A NOTÍCIA AUTODESTRUTIVA ... 51

3.1 MODERNIDADE VERSUS PÓS-MODERNIDADE ... 53

3.2 A PÓS-MODERNIDADE E A GLOBALIZAÇÃO ... 59

3.3 O SER HUMANO NA PÓS-MODERNIDADE ... 66

3.4 EFEMERIDADE E JORNALISMO ... 73

3.4.1 Conteúdo jornalístico: dos portais às plataformas de redes sociais ... 84

4 O QUE É NOTÍCIA AUTODESTRUTIVA? ... 99

4.1 ASPECTOS FORMAIS DA NOTÍCIA ... 118

4.2 O CONCEITO DE NOTÍCIA AUTODESTRUTIVA ... 122

4.3 POR QUE A AUTODESTRUIÇÃO IMPLICA EM UMA (DE)LIMITAÇÃO DE FORMATO? ... 128

4.4 A NOTÍCIA AUTODESTRUTIVA NA PRÁTICA JORNALÍSTICA ... 135

5 COMO SE CONFIGURA A NOTÍCIA AUTODESTRUTIVA ... 160

5.1 NOTÍCIA E VISUALIDADE ... 161

5.2 ANÁLISE DAS NOTÍCIAS AUTODESTRUTIVAS: ELEMENTOS DA NARRATIVA ... 169

5.2.1 Elementos visuais da narrativa ... 185

5.3 SÍNTESE DA ANÁLISE ... 232

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 235

(17)

1 INTRODUÇÃO1

“O doente sofre de deformação masoquista de sua memória”, diagnosticou Milan Kundera, ao falar de Josef, em A ignorância. Este não tinha motivos para lembrar do país no qual já não morava. Ele era mais uma vítima do que o autor chamou de “memória masoquista”, que dissolve no esquecimento o que o ser humano não gosta, tornando-o “mais leve, mais livre”. Com a criação do Snapchat, em setembro de 2011, Evan Spiegel levou às plataformas de redes sociais2 a lógica desta narrativa kunderiana. A ideia do aplicativo é permitir que os interagentes3 se comuniquem por fotos, vídeos, imagens e texto, dando ao criador do conteúdo a possibilidade de estabelecer por quanto tempo sua produção ficaria disponível para os seus seguidores, autodestruindo-se ao final deste prazo. O conteúdo criado para o Minha História4 dura 24 horas,

até o apagamento e o esquecimento. Em caso de fotografias, o administrador do perfil ainda pode definir o tempo que sua visualização vai durar, até no máximo 10 segundos. O conteúdo, chamado de snap, pode ser visto por quem segue dado perfil, mas não há ferramenta de compartilhamento por outrem. Os snaps podem ser copiados apenas com captura de tela (screenshots), no entanto, o criador do conteúdo é notificado da cópia. Este modelo inspirou outras plataformas de redes sociais, apontando, assim, para o estabelecimento de uma tendência de comunicações menos perenes. “Na era hipermoderna, a vida dos indivíduos é marcada pela instabilidade, pois está entregue à mudança perpétua, ao efêmero, ao ‘mudancismo’” (LIPOVETSKY, 2016, p. 22).

Com este funcionamento, o Snapchat se posicionou de determinada forma no mercado que o fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, chegou a oferecer US$ 3 bilhões (R$ 7 bilhões) pela criação. Entre os anos de 2014 e 2018, o Snapchat pulou de 46 para 191 milhões de

1 O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

- Brasil (Capes) – Código de Financiamento 001.

2 Este conceito será melhor explicado mais à frente.

3 Adota-se a proposta de Alex Primo (2005), que, ao pesquisar a interação mediada por computador, chega à

conclusão que este é o termo mais adequado considerando que: “O termo ‘usuário’, tão utilizado nos estudos da ‘interatividade’, deixa subentendido que tal figura está à mercê de alguém hierarquicamente superior, que coloca um pacote a sua disposição para uso (segundo as regras que determina). Isso posto, este trabalho defende o abandono desse problemático conceito e preferirá adotar o termo ‘interagente’ (uma tradução livre de interactant, não raro utilizado em pesquisas de comunicação interpessoal), que emana a própria idéia de interação” (PRIMO, 2005, p. 2).

4 Minha História é a tradução de My Story. Trata-se do equivalente aos murais ou timelines de outras plataformas

de redes sociais. Publicações (snaps) feitas lá, poderão ser vistas por seus seguidores uma quantidade ilimitada de vezes, durante 24 horas. Conforme você for criando snaps, eles serão compilados, formando assim uma história.

(18)

usuários5 ativos, segundo dados divulgados pela Statista6. No entanto, em 2018, o aplicativo registrou a queda no número de usuários ativos, passando a ter 186 milhões ao final do ano. Até o ano de 2016, o aplicativo registrava um crescimento contínuo e significativo, chegando a ultrapassar outras plataformas de redes sociais. Em junho desse mesmo ano, o portal da Bloomberg noticiou que o Snapchat atingiu a marca de 150 milhões de usuários ativos diários, conseguindo assim, ultrapassar o Twitter em número de pessoas que publicam ou visualizam conteúdo diariamente7. Destaca-se que o número total de pessoas cadastradas no Twitter ainda era maior, com 310 milhões de usuários ativos por mês. No entanto, apenas 44% delas utilizavam o microblog todos os dias, nos 20 maiores mercados. Deste modo, o número de usuários ativos alcançava cerca de 136 milhões.

O crescimento do Snapchat foi tamanho nos primeiros anos de criação que, observando a oportunidade que se configurava no mercado, o Instagram, plataforma de rede social de fotos e vídeos do Facebook, lançou o Instagram Stories, em agosto de 2016. Trata-se de um recurso dentro do aplicativo que possibilita a criação de posts disponíveis por no máximo 24 horas, assim como no Snapchat. O Instagram Stories é muito semelhante ao Minha História, do Snapchat, sendo possível até personalizar os posts com desenhos, textos, adesivos e filtros em realidade aumentada8, como no concorrente. Estas novas histórias criadas no Instagram ficam disponíveis na barra superior do feed, também, por até 24 horas9. Lá, aparecem as imagens e gravações de cada interagente em forma de slideshow, seguindo a mesma lógica de disponibilização do Snapchat. Para passar, pular ou conversar com um interagente a partir dos posts, os comandos, também, são parecidos: clicar para avançar ou retroceder e deslizar para ver as postagens de outra pessoa.

5 Termo utilizado pelas pesquisas nas quais se baseiam os dados.

6 É uma empresa que disponibiliza estatísticas on-line, pesquisa de mercado e é um portal de inteligência de

negócios. Frequentemente, divulga os desempenhos das diversas plataformas de redes sociais em relatórios. Dados disponíveis em: https://www.statista.com/statistics/545967/snapchat-app-dau/. Extraídos no dia 12 de fevereiro de 2019.

7 A empresa não liberou estes números oficiais.

8 Para Azuma (1997), a Realidade Aumentada é um sistema que complementa o mundo real por meio de elementos

virtuais, fazendo com que ambos coexistam no mesmo espaço. Para isso, deve respeitar três regras: combinar, em um ambiente virtual, objetos reais e virtuais; isso deve ocorrer de forma interativa e em tempo real; e, por fim, os objetos reais e virtuais devem estar alinhados entre si. Segundo Montez (2012, p. 1-2): “A Realidade Aumentada foi apresentada pela primeira vez por Ivan Sutherland em 1968. No entanto esta área só viria a ser explorada mais aprofundadamente já nos anos 90, uma vez que só aí a tecnologia evoluiu a ponto de permitir sistemas de Realidade Aumentada de maior desempenho. A primeira aplicação de realidade aumentada móvel exterior foi a ‘The Touring Machine’, que foi usada no campus da universidade de Columbia em Nova Iorque”.

9 Atualmente, o Instagram liberou que as Stories ficassem disponíveis por mais de 24 horas.

(19)

Em compensação, pouco depois, o Snapchat lançou um recurso semelhante à ideia do Instagram, o Snapchat Memories, que passou a permitir o armazenamento do conteúdo produzido, possibilitando, como o próprio nome antecipa, um colecionamento de memórias. Mesmo assim, tais memórias só permanecem disponíveis para o próprio interagente, seus seguidores só terão acesso em caso de postagem e pelo tempo previamente definido10.

A criação das Stories no Instagram impactou negativamente sobre o Snapchat. O Instagram Stories, em outubro de 2017, alcançou 300 milhões de usuários diários, mais que o Snapchat na época, segundo dados da Statista11. O Instagram em si atingiu a marca de 1 bilhão de usuários ativos, em junho de 2018, ou seja, ainda há uma margem grande de crescimento para as Stories. Tanto que de 2017 para janeiro de 2019, o número de usuários ativos do Instagram Stories saltou para 500 milhões12. Enquanto isso a margem de crescimento do Snapchat não tem apresentado os bons resultados dos primeiros anos.

O Instagram não foi o único a seguir a tendência de distribuição de conteúdo autodestrutivo. Em fevereiro de 2017, o aplicativo de trocas de mensagens WhatsApp (que, na época, já pertencia ao Facebook) passou a disponibilizar um novo recurso, o Status, que possibilita a emissão de fotos e vídeos curtos para os contatos pelo período de 24h, assim como no Snapchat. O Status aparece em uma nova aba na tela do aplicativo, ao lado das chamadas, conversas e contatos. Ao tocar no ícone, acessa-se uma tela na qual é possível visualizar tanto o Status do interagente quanto de seus contatos. O envio é automático para toda a sua rede, a menos que seja feita a opção por restringir a visualização. Como já explicado, as histórias desaparecem 24 horas depois de serem enviadas e o receptor pode fazer um screenshot13, de

modo semelhante ao Snapchat.

Em março de 2017, o Facebook realizou mais duas atualizações, com o propósito de possibilitar para os interagentes recursos de criação de imagens e vídeos autodestrutivos. O primeiro foi o Messenger Day, para o aplicativo de mensagens da rede social. Em seguida, adicionou ao próprio Facebook a função, no dia 28 de março de 2017. A ferramenta é intitulada de Stories, assim como no Instagram. Do mesmo modo, aparece no topo da linha do tempo da rede social. Nela, é possível carregar vídeos e imagens que ficam no ar por até 24 horas e os

10 As principais modificações no Snapchat podem ser vistas na linha do tempo construída, disponível no Anexo 1. 11 Dados disponíveis em: https://www.statista.com/topics/2882/snapchat/. Acesso no dia 25 de junho de 2018.

12 Dados disponíveis em: https://www.statista.com/statistics/730315/instagram-stories-dau/ e

https://www.statista.com/statistics/253577/number-of-monthly-active-instagram-users/

(20)

recursos da câmera foram ampliados, permitindo aplicar os filtros de realidade aumentada, de forma similar ao Snapchat.

Ao ser entrevistado pelo portal G1, o gerente de produto do Facebook, Sachin Monga, exaltou uma modificação com relação à percepção do aplicativo. Se antes ele era muito voltado para fotos e textos, agora, passaria a valorizar mais a produção audiovisual. “Os vídeos são o centro dos nossos apps14 (...) Você vê que a câmera é o novo centro de todos os apps sociais”, resumiu o porta-voz15.

Mais recentemente, no mês de março de 2020, o Twitter, que ao longo de seus mais de 14 anos realizou poucas mudanças na lógica de funcionamento da plataforma, lançou o Fleets, que, também, tem como base o apagamento após as 24h. O Brasil foi o primeiro país no qual a plataforma testou o recurso.

A popularização das plataformas de redes sociais, por meio de aplicativos em dispositivos móveis, fez com que as grandes empresas de media vissem a necessidade de estarem presentes nesses ambientes para aumentar ou manter a audiência, estabelecendo um contato ainda maior com o público, que cada vez mais se acostuma ao fato de que, hoje, também, pode ser um produtor de conteúdo. Como demarca Pierre Levy (1998, p. 44), o ciberespaço como um todo: “…permite, ao mesmo tempo, a reciprocidade na comunicação e a partilha de um contexto”. Além disso, tais plataformas se estabelecem como novos espaços de divulgação da informação jornalística. Algumas vezes, o tráfego nos sites de notícia parte, inclusive, mais das redes sociais populares que da página inicial dos veículos jornalísticos. Portanto, faz-se necessário compreender a adaptação das redações jornalísticas a essas novas plataformas de redes sociais, que modificam, de modo substancial, o modelo vigente até então. A ideia desta pesquisa surgiu, justamente, a partir da experiência profissional enquanto coordenadora do maior portal jornalístico do Maranhão, no qual, a pesquisadora iniciou o projeto de produção audiovisual, capacitando a redação para atuar de forma integrada com os demais veículos de comunicação da empresa e a tornando habilitada para a produção de vídeos voltados aos mais diferentes ambientes digitais. Neste trabalho, pôde perceber a importância das plataformas de redes sociais para a disseminação de conteúdo produzido em portais jornalísticos e, a partir dessa experiência, desenvolveu o então projeto de pesquisa desta tese, visando a compreensão do contexto digital que estava se desenhando naquele momento

14 Sigla para aplicativos.

15 Conteúdo disponível em

(21)

histórico, principalmente, com relação ao uso jornalístico das mais atuais plataformas de redes sociais, que, como poderá ser visto mais à frente, estavam subvertendo algumas características do ciberjornalismo16.

Dessas inquietações gestadas no ambiente da redação jornalística, surgiu a ideia desta tese cujo objetivo é conceituar notícia autodestrutiva17, compreendendo como ela se constitui (plano de conteúdo) e de que forma ela se apresenta (plano de expressão – visualidades), a partir do conteúdo jornalístico criado para as plataformas de redes sociais Snapchat e Stories do Instagram. O objeto de estudo desta pesquisa é a produção de conteúdo jornalístico na pós-modernidade, a partir da conceituação de notícia autodestrutiva, pois, a observação da sua relação com a efemeridade18, a memória e a construção de conhecimento, exige um pensar inovador acerca dos formatos jornalísticos. Para alcançar o objetivo principal, fez-se necessário atingir alguns objetivos específicos, dentre os quais: compreender a relação entre efemeridade e o contexto, histórico e social, que permite o surgimento dessas plataformas de redes sociais e seus públicos; analisar o plano de conteúdo das postagens, para chegar ao conceito de notícia autodestrutiva; estabelecer as similaridades e diferenças entre o conceito de notícia e o conceito de notícia autodestrutiva, identificando as especificidades do primeiro; a partir da análise do plano de expressão, reconhecer os elementos visuais (design da informação) que compõe a notícia autodestrutiva, após conceituá-la, bem como os elementos que constituem a interação humano-interface-informação; identificar se estas narrativas jornalísticas são multimodais e

16 Entende-se como ciberjornalismo aquele que abarca toda e qualquer tecnologia presente no ciberespaço.

Trata-se de uma esfera maior que contém, ainda, o webjornalismo que é o jornalismo feito na web. Vale destacar que os dois são distintos do jornalismo on-line, conforme explica João Canavilhas (s/d, p.2), o jornalismo on-line “trata-se de uma simples transposição do modelo existente no seu ambiente tradicional para um novo suporte. Na fase a que chamamos webjornalismo/ciberjornalismo, as notícias passam a ser produzidas com recurso a uma linguagem constituída por palavras, sons, vídeos, infografias e hiperligações” (Texto disponível em: http://www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-jornalismo-online-webjornalismo.pdf. Acesso no dia 6 de junho de 2017). Isto será detalhado nos próximos capítulos.

17 Apreende-se, aqui, conceito como um modo de conhecer e reconhecer o mundo exterior, como será melhor

explicitado mais à frente. Portanto, é passível de modificações e nunca algo fechado, imutável e definitivo. Desse modo, é importante frisar que se reconhece que o conceito elaborado nessa pesquisa é um esboço sempre sujeito à adaptação, pois, como demarca Dahlberg (1978, p. 107): “as definições dependem do conhecimento que se tem dos respectivos assuntos”. E estes podem ser ampliados, modificando assim a percepção que se tem de dado conceito.

18 Inspira-se no trabalho de Bauman (2001) ao se referir à atual configuração da modernidade, que, para o autor,

deixa de ser “pesada”, com forte concentração no capital e no controle do trabalho e da mão-de-obra, para ser leve, ou seja, desengajada. Para Bauman, com a passagem da modernidade hardware para software as funções de longa duração já não são bem-vindas. Os prazos ficaram mais curtos e o momento presente é sempre o objetivo último. Não há mais perenidade, solidez ou imutabilidade, ao contrário, a transitoriedade e a velocidade das mudanças são incontroláveis. Tal movimento instiga e assusta. Nem mesmo os modos de comunicação estão livres dessas alterações de paradigmas.

(22)

apresentam um caminho transmidiático, a partir dos elementos verbo-visuais das postagens analisadas; compreender a interferência da efemeridade nesses textos-postagens produzidos para tais redes sociais tendo em vista as escolhas criativas realizadas pelos profissionais responsáveis; e, por fim, entender o porquê das notícias autodestrutivas terem essa configuração verbo-visual, considerando que novas práticas jornalísticas cobram reflexões acerca dos formatos que surgem na pós-modernidade. Em suma, pretendeu-se, com estes objetivos, conceituar notícia autodestrutiva, compreendendo como ela se constitui (plano de conteúdo) e seu modo de apresentação (plano de expressão).

Finalizados todos esses passos, corroborou-se a hipótese de que a autodestruição da notícia adiciona especificidades em seus planos de expressão e de conteúdo, o que permitiu aferir a existência de uma delimitação do formato notícia.

Para realizar esta pesquisa, selecionou-se como corpus um mês de postagens do Uol, no Snapchat, e nas Stories do Instagram, um mês de conteúdo do Público.pt e da CNN, e dois meses do G1. Esta variação entre perfis no Snapchat e Stories do Instagram se deu pelo próprio desenvolvimento histórico das plataformas e modificações. Quando esta pesquisa iniciou, contemplava apenas o Snapchat, mas, considerando a influência deste formato pioneiro nas demais plataformas existentes, avaliou-se que seria necessário expandir e analisar conteúdo produzidos por perfis jornalísticos para as Stories do Instagram. Dado o caráter recente do fenômeno analisado, suas constantes alterações e a própria dinâmica do contexto de surgimentos dessas plataformas e do andamento de uma pesquisa científica, a coleta do corpus foi realizada em quatro etapas, nos anos de 2017, 2018 e 2019. Nesse período, outros perfis jornalísticos foram reunidos e analisados, como os portugueses @diariodenoticias.pt e @jornaldenotícias, e os estadunidenses @nytimes e @usatoday. No entanto, foram selecionados apenas os perfis do Uol, G1, Público.pt e CNN, alternando entre Snapchat e Instagram, pois estes trabalhavam uma pluralidade de formatos nas atualizações de tais plataformas, o que permitiria não apenas identificar se há um modelo específico de notícia, como também, observar a diferença deste perante os demais formatos utilizados.

A escolha entre perfis jornalísticos brasileiros, portugueses e estadunidenses também foi paulatina. Inicialmente, a pesquisa contemplava apenas perfis brasileiros, mas, percebeu-se que aferir o surgimento de um formato, avaliando apenas a criação realizada em um país seria limitador e fragilizaria as considerações da análise. Decidiu-se, então, incluir perfis de outro país de língua portuguesa, cujo jornalismo apresentasse similaridades com o modelo brasileiro. Escolheu-se Portugal e o perfil do Público,pt, pelos motivos anteriormente listados. Já durante o estágio de doutorado sanduíche e início da coorientação do professor doutor Pedro Almeida,

(23)

da Universidade de Aveiro, avaliou-se que, por focar especificamente no produto, seria interessante inserir perfis jornalísticos estadunidenses, tendo em vista a influência do jornalismo norte-americano tanto no Brasil quanto em Portugal e o potencial do país enquanto propagador de tendências na área de tecnologias da comunicação e, mais especificamente, no jornalismo da atualidade. Incluiu-se, então, o perfil da CNN, no Instagram, por último.

Segue-se para uma breve contextualização acerca dos perfis selecionados. O primeiro é o Uol, que, de acordo com a Omniture19, possui, atualmente, mais de 7,4 bilhões de páginas vistas todos os meses. São mais de 50 milhões de visitantes únicos por mês na homepage. O portal foi fundado no dia 28 de abril de 1996, pelo Grupo Folha. Com relação ao conteúdo, ele tem mais de 1.000 canais de jornalismo. Hoje, possui uma produção própria de conteúdo e conta com mais de 200 profissionais de imprensa. Além disso, concentra cerca de 400 parceiros, entre eles: a Folha de São Paulo, Band, Discovery, ESPN, RedeTV e Jovem Pan20.

Em agosto de 2015, o portal criou um perfil no Snapchat, nomeado de uoloficial. Além de trabalhar aspectos informativos, ele traz os bastidores da notícia, comentários dos jornalistas e a participação dos entrevistados. Tudo isso em texto, fotos, emojis21 e vídeos. O perfil na rede social Instagram já existia quando o aplicativo passou a permitir a produção de conteúdo autodestrutivo, ele foi criado em 19 de fevereiro de 2013. Em maio de 2018, tinha mais de 1 milhão de seguidores. Atualmente, o perfil no Instagram traz quase 10 mil postagens fixas22, além das autodestrutivas, produzidas de segunda a sexta. As postagens no Snapchat foram finalizadas com a queda de audiência da plataforma.

Já o G1 é um portal de notícias brasileiro, pertencente à Globo.com, e vinculado à Central Globo de Jornalismo. Ele foi lançado no dia 18 de setembro de 2006, com a função de disponibilizar conteúdo jornalístico das empresas que compõem o Grupo Globo, dentre as

19 Trata-se de uma empresa norte-americana, localizada no Estado de Utah, que trabalha ofertando ferramentas de

análise de websites.

20 Dados disponíveis em http://sobreuol.noticias.uol.com.br/index.jhtm.

21 Se considerar a tradução literal, emoji significa imagem de um personagem em japonês e a sua criação visava

facilitar a comunicação. “Emojis surgiram no Japão no final do século 20 para facilitar a comunicação digital. Um número de transportadoras japonesas (Softbank, KDDI, DoCoMo) forneceram suas próprias implementações, com codificação incompatível. Os Emojis foram primeiro padronizados no Unicode 6.0 - o conjunto de emoji do núcleo consistiu em 722 personagens. No entanto, o suporte da Apple para emojis no iPhone, em 2010, levou à popularidade global” (NOVAK; SMAILOVIĆ; SLUBAN; MOZETIČ, 2015, p. 2). Tradução de: “Emojis emerged in Japan at the end of the 20th century to facilitate digital communication. A number of Japanese carriers (Softbank, KDDI, DoCoMo) provided their own implementations, with incompatible encoding schemes. Emojis were first standardized in Unicode 6.0 [13]—the core emoji set consisted of 722 characters. However, Apple’s support for emojis on the iPhone, in 2010, led to global popularity” ” (NOVAK; SMAILOVIĆ; SLUBAN; MOZETIČ, 2015, p. 2).

(24)

quais: Rede Globo; Globo News; Rádios Globo e CBN; jornais O Globo, Extra, Expresso, Valor Econômico e Diário de São Paulo; revistas Época e Globo Rural. Mesmo assim, o portal, também, produz conteúdo próprio e multimídia. No ano de 2010, o G1 passou a integrar as redes afiliadas ao site. Dessa forma, cada afiliada teve um espaço para atualização das notícias regionais (Ex: G1 Maranhão), que podem, ou não, serem utilizadas na capa principal do Globo.com. O portal e suas ramificações, também, estão presentes nas redes sociais. O G1 possui perfis no Twitter, Instagram e Facebook, mas não no Snapchat. Apesar disso, faz uso do Instagram Stories, que, como já foi dito, é um recurso muito semelhante ao Minhas Histórias, do Snapchat. No Instagram, o perfil existe desde 15 de outubro de 2012. Atualmente, o perfil o G1 nesta rede conta com quase 8 mil postagens fixas e mais de 3,3 milhões de seguidores23.

O Público é um jornal diário português, que foi fundado no ano de 1990, e passou a ter um portal a partir de 1995, intitulado Público Online na época. Hoje, chama-se Público.pt. Foi criada, também, uma empresa, a Público.pt Serviços Digitais Multimédia, SA. O perfil da empresa no Instagram foi criado no dia 23 de setembro de 2015, tem mais de duas mil postagens fixas e já ultrapassou os 160 mil seguidores24.

A Cable News Network (CNN) começou como um canal, como o próprio nome antecipa, a cabo, voltado exclusivamente para notícias. Foi o primeiro exclusivamente jornalístico nos Estados Unidos. Em 2019, a rede chegou ao Brasil, com sede em São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. A CNN possui um portal o https://www.cnn.com e ampla presença nas plataformas de redes sociais. A versão estadunidense da rede possui uma conta no Instagram desde 4 de setembro de 2012. O perfil possui 6.760 postagens fixas e mais de 8,7 milhões de seguidores25.

A escolha dos perfis desses portais para a pesquisa se deu por dois motivos. O primeiro é a relevância deles em quantidade de visitantes únicos no mês, considerando os portais de notícias brasileiros, o Uol aparece em primeiro lugar, com 35.801 milhões e o Globo.com, em segundo com 30.529 milhões, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Ibope/Nielsen26. Em novembro de 2018, o Público.pt alcançou o segundo lugar do ranking netAudience,

23 Dados extraídos no dia 22 de outubro de 2017. 24 Dados extraído em julho de 2019.

25 Dados extraídos no dia 5 de novembro de 2019.

26 Última pesquisa divulgada, com dados referentes ao ano de 2013.

(25)

também da Marktest, somando acessos através do computador, de telemóveis e de tablets, perdendo apenas para o Correio da Manhã. Todas as plataformas digitais do jornal se aproximaram da marca de 2,09 milhões de utilizadores27. Já o site da CNN é o portal de notícias mais acessado nos Estados Unidos, segundo dados da Alexa28. Além disso, considerou-se, também, a presença e relevância de perfis desses sites nas redes sociais. O Público.pt foi escolhido em detrimento do Correio da Manhã, também de Portugal, por apresentar um número bem mais significativo de seguidores em comparação com o portal que é líder de audiência no país. É importante frisar que, no caso do Globo.com, por exemplo, não há um perfil específico do site, mas sim, das ramificações dele (G1, GE, GShow etc.). Escolheu-se o G1, por ser o que se aproxima em termos editoriais ao principal do Uol, que também apresenta ramificações. Focou-se, então, nos perfis principais desses veículos. Já a CNN apresenta um perfil principal (@cnn) e, também, algumas ramificações que estão linkadas ao perfil principal (@CNNClimate, @cnnpolitics, @CNNBusiness etc). No Instagram, é o perfil jornalístico estadunidense com o maior número de seguidores, superando com boa margem de diferença, por exemplo, o perfil do The New York Times e do The Guardian, outros dois sites entre os de maior acesso nos Estados Unidos, segundo a Alexa.

Ao ter como objeto empírico as postagens no Snapchat e Instagram, esta pesquisa aborda um tema atual, visto que a criação do Snapchat data do ano de 2011, como já foi dito, popularizando-se nos últimos quatro anos e influenciando em mudanças no Instagram, ainda mais recentes. A criação de perfis de grandes veículos de comunicação nos aplicativos, também, é algo contemporâneo. Por sua vez, a adoção do modelo de produção de conteúdo autodestrutivo por outras plataformas de redes sociais, como o Instagram, demonstra o surgimento de uma tendência. Sendo assim, uma pesquisa científica sobre este fenômeno se mostra necessária e relevante, considerando que se trata de algo novo que está sendo gradativamente absorvido pela área de Jornalismo.

Esta pesquisa se justifica, então, pela necessidade de analisar tais fenômenos para que se possa entender o possível impacto que eles promoverão no modo de fazer jornalismo. Na pós-modernidade, a efemeridade impõe uma nova forma de jornalismo? Seria o modelo autodestrutivo um novo tipo de notícia mais congruente com a atual configuração social? Qual o impacto disto para a sociedade? Neste trabalho, pretende-se delinear respostas para estas

27 Dados disponíveis em:

https://www.publico.pt/2018/12/21/sociedade/noticia/publico-cresce-online-edicao-impressa-1855619.

(26)

indagações. Acredita-se, então, que a escolha por desenvolver esta pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Jornalismo, da Universidade Federal de Santa Catarina, seja adequada, primeiro, por ser um curso voltado, especificamente, ao Jornalismo e aos debates que dizem respeito à área. Segundo, porque o curso possui a linha “Tecnologias, Linguagens e Inovação no Jornalismo”, que absorve pesquisas voltadas às inovações em formatos e linguagens, propiciadas pelas transformações das tecnologias da informação e comunicação, como é o caso desta.

Além disso, durante a pesquisa, pôde-se participar do doutorado sanduíche, realizado na Universidade de Aveiro (UA). A instituição foi escolhida pela infraestrutura que oferece para pesquisas que discutam inovação e novas tecnologias. Esta universidade apresenta um doutorado em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais, o que foi favorável para o desenvolvimento desta pesquisa, que foca em plataformas digitais de redes sociais. Além disso, o curso de doutorado possui um centro de pesquisa interdisciplinar, chamado Digital Media and Interaction (DigiMedia). Este centro concentra quase 30 pesquisadores seniores das áreas de Ciências e Tecnologias da Comunicação, Sociologia, Filosofia e Ciência da Computação. Todos atuam em equipes transversais que analisam aspectos da Cibercultura e Convergência de Mídia, Novas Mídias e Entretenimento Digital e Mídias de Conhecimento em Comunidades Conectadas. Os estudos realizados por meio do centro abordam a interação em plataformas digitais centradas no ser humano. Assim, ao realizar o doutorado sanduíche nesta instituição pude acessar discussões desenvolvidas por investigadores com ampla experiência na temática. Na instituição portuguesa, a pesquisa foi supervisionada pelo professor doutor Pedro Almeida, que é licenciado em Novas Tecnologias de Comunicação, pela Universidade de Aveiro, e doutor pela mesma universidade, em Ciências e Tecnologias de Comunicação.

A realização desta etapa em uma instituição portuguesa facilitou a inserção do perfil um veículo jornalístico português no corpus analisado, o que permitiu a ampliação do contexto de produção das notícias, bem como possibilitou perceber similaridades e diferenças entre os conteúdos produzidos pelos diferentes países, sendo enriquecedor para a investigação.

Parte-se, então, para a metodologia. Visando alcançar os objetivos desta pesquisa e responder aos questionamentos supracitados, foi utilizada enquanto metodologia a semiótica discursiva, articulada com outros procedimentos metodológicos, como entrevista em profundidade e revisão bibliográfica sistemática. A semiótica discursiva foi escolhida porque se preocupa em compreender o todo significativo do discurso, seja ele verbal ou visual. A semiótica, como um todo, “tem por objeto o texto, ou melhor, procura descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz” (BARROS, 2005, p. 11, grifos da autora).

(27)

Entretanto, isso não é uma tarefa fácil e se torna ainda mais complexa porque os caminhos semióticos para realizá-la podem ser diversos, visto que são múltiplas as vertentes dela que vêm sendo desenvolvidas e aprimoradas, desde os gregos. O próprio conceito de texto se modificou ao longo dos anos. Se antes era restrito à linguagem escrita e falada, hoje, já apreende as mais diversas linguagens (visual, sonora, tátil, gestual etc).

Ressalta-se que este trabalho não é puramente semiótico, mas, norteado pela semiótica em termos metodológicos para alcançar seu objetivo com relação ao objeto empírico selecionado, em dois planos: o do conteúdo e da expressão, como dito anteriormente. Por isso, optou-se por não ter um capítulo dedicado exclusivamente à semiótica discursiva, mas, sim, trazer uma discussão sobre ela nesta introdução, frisando que tudo realizado, nos capítulos que seguem, está atrelado às concepções destacadas nesta introdução.

O pensamento semiótico da vertente discursiva é, também, conhecido como Greimasiano, por causa de seu fundador, o lituano Algirdas Julius Greimas (1917-1992). Para este semioticista, o sentido “não significa apenas o que as palavras querem nos dizer, ele é também uma direção, ou seja, na linguagem dos filósofos, uma intencionalidade e uma finalidade” (GREIMAS, 1975, p. 15).

Em 1916, o linguista estruturalista Ferdinand de Saussure (2006, p. 24), como traz o livro Curso de lingüística geral, definiu a semiologia como “uma ciência que estude a vida dos signos no seio da vida social”, articulada com as Psicologias Social e Geral. Ou seja, ela seria a ciência que estudaria os signos e, sobretudo, as regras que os regem. A apreensão de Saussure é diádica, o signo é a união de duas facetas, o significante e o significado, sendo estes entidades mentais independentes de objetos externos (SOUSA, 2006). Ele não foi o primeiro a pensar em um modelo assim. No século XVII, Port-Royal elaborou um modelo racionalista e diádico de signo. Para ele, o significante era a imagem acústica, ou mesmo visual, do que era falado ou escrito. Nöth (1995, p. 42) aponta que: “Port-Royal estava longe de um construtivismo tão radical, mas é oportuno ressaltar que sua concepção de signo também não estabelece vínculos com uma mente exterior, limitando-se a uma conexão entre duas ideias numa mesma mente”. O signo consiste na união entre um conceito e uma imagem acústica, como os dois lados de uma folha (sem um, não há o outro), e não a mera união entre a coisa em si e uma palavra. A partir daí, surgem novos estudos e perspectivas com relação à semiologia, mas que estarão sempre ligados ao objetivo geral, que é de entender o sentido do que é comunicado. Nos anos

(28)

1940 e 1950, destacam-se os estudos de Buyssens e Hjelmslev. E, já na década de 1960, principalmente na Europa, os escritos de Prieto, Barthes, Mounin e Greimas (NÖTH, 2006)29.

Paralelamente ao desenvolvimento da semiologia saussureana, em outros países a semiótica continuava o seu desenvolvimento de maneiras independentes sob outras influências, tal como a semiótica de Peirce (Alemanha e Brasil), de Charles Morris (EUA) ou da informática e da cibernética (Moscou e Tartu). Nessas tradições, o nome do campo de pesquisa dos processos sígnicos não era semiologia, mas semiótica de maneira que surgiram dúvidas entre os semioticistas do mundo sobre a questão se a semiótica e a semiologia eram dois campos de pesquisa diferentes ou um e o mesmo com duas designações diferentes, dependente da tradição de pesquisa (NÖTH, 2006)30.

Segundo Nöth (2006), Roman Jakobson sugeriu, durante o comitê fundador da Associação Internacional de Estudos Semióticos, no ano de 1969, que o conceito de semiótica seria empregado para se referir ao campo geral, evitando assim a divergência de nomenclaturas entre semiologia e semiótica. A decisão contou com o apoio de Roland Barthes, Emile Benveniste, A. J. Greimas, Claude Lévi-Strauss e Thomas A. Sebeok. Com isso, o termo semiótica passou a ser aplicado para se mencionar o campo de pesquisa dos signos, sistemas e processos sígnicos.

Ressalta-se que, mesmo após tal decisão, não é incomum perceber quem, ainda, defenda a clara diferenciação entre semiótica e semiologia, sobretudo, para especificar a filiação com relação à corrente teórica seguida. Normalmente, quem reforça o termo semiótica está enquadrado na tradição da teoria geral dos signos, de Charles Sanders Peirce.

Para Peirce a semiótica e uma disciplina lógica. A tese fundamental de Peirce nos primeiros escritos, Questions Concerning Certain Faculties Claimed for Man e Some Consequences of Four Incapacities, é de que todo o pensamento está nos signos e, portanto, de que a semiótica tem uma aplicação universal. Tudo pode ser um signo, bastando para isso que entre num processo de semiose, no processo de que algo está por algo para alguém (FIDALGO, 1999, p. 24-25).

Já quem adota o conceito de semiologia, o faz por se aproximar da tradição semio-lingüística, de Ferdinand de Saussure. Entretanto, é válido destacar que para Hjelmslev (1899-1965), fundador da Escola de Copenhague, uma escola de viés estruturalista conhecido como Glossemática, a semiologia é, na verdade, uma metassemiótica, que congrega uma teoria dos mais diversos sistemas de signos. Para ele, a semiótica é um sistema de signos estruturados hierarquicamente de forma semelhante à linguagem, já a semiologia consiste em um sistema

29 Disponível em: http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=11&id=82. Acessado no

dia 29 de maio de 2017.

(29)

mais geral, intitulado metasemiótica, que abarca todos os “aspectos semióticos comuns a todos os sistemas semióticos” (NÖTH, 1995, p. 24). Esta apreensão irá influenciar Greimas,

Temos aqui o eixo fundamental da proposta hjelmsleviana de uma ciência da linguagem; em suas palavras, “verificar a tese da existência de um sistema subjacente ao processo, e a tese de uma constância que subentende as flutuações” (Hjelmslev, 1985, p. 9). Com vistas a esses objetivos, ele postula que a todo processo corresponde um sistema que permite a análise e a descrição desse processo a partir de um número restrito de premissas. Referindo-se ao caráter gerativo e criativo da semiose, ele julga possível considerar todo processo como um fenômeno constituído por um número limitado de elementos que se fazem frequentemente presentes em novas combinações, essas sim ilimitadas (HJELMSLEV apud SOBRAL, 2009, p. 66-67).

De acordo com Hjelmslev, este sistema é mais importante que a apreensão teórica, partindo dos signos. Tal aspecto será fundamental para Greimas, que relaciona a atribuição de sentido ao contexto social vivenciado. O sentido é, portanto, socialmente constituído, aceito e reproduzido. Seu enraizamento é tão forte que se passa por natural ao ser humano. Greimas explica que a formação do discurso acontece em duas fases: a primeira é o significar, na qual há a geração de sentido; e a segunda é a significação, que ajuda a constituir o sentido. Segundo Adail Sobral (2009, p. 68):

Greimas considera o sentido uma presença concreta e ao mesmo tempo fantasmática, um espectro fugidio que, não obstante, nos faz sentir seus efeitos. O sentido é um fenômeno cuja ausência é impossível, porque deixa toda atividade humana, que sempre o tem por horizonte, prenhe de marcas indeléveis de sua passagem, ou melhor, de sua permanência dinâmica, mas que ao mesmo tempo nunca se faz presente por inteiro à apreensão, sensível ou inteligível.

Observa-se, então, que Greimas não nega a importância dos signos, mas acredita que o objeto da semiótica enquanto ciência é a significação, ou, mais profundamente, o sentido obtido com o processo de significação. “Greimas inscreve-se expressamente na tradição de Louis Hjelmslev para sustentar uma concepção de semiótica não como teoria geral dos signos, mas como teoria dos processos universais de significação” (FIDALGO, 1999, p. 177). Pontua-se, também, que ele parte de uma semiótica que é oriunda da semiologia, sendo, portanto, uma semiótica de proveniência linguística, baseada na perspectiva saussureana, que atrela o signo à vida social, ou seja, ao contexto de produção e reprodução, bem como evidencia a necessidade de entender as leis que regem os signos e não apenas eles, como mencionado antes.

Em um artigo publicado em 1967, Greimas aponta a semiótica como uma teoria pertencente à linguística e não o contrário. Posteriormente, ele destaca que o termo “semiótica” é empregado em múltiplos sentidos, por vezes, como objeto, teoria ou sistema. Isto alteraria a posição desta com relação à linguística (GREIMAS; COURTÉS, 2008).

De forma resumida, pode-se dizer que a semiótica discursiva entende o texto enquanto um objeto de significação, sendo assim, volta-se para estudar os mecanismos que fazem parte

(30)

dele e possibilitam o todo significativo. “Em outras palavras: procura descrever e explicar o que o texto diz e como ele faz para dizer o que diz, examinando, em primeiro lugar, o seu plano de conteúdo, concebido sob a forma de um percurso global que simula a ‘geração’ do sentido” (MATTE; LARA, 2009, p. 340). Lembra-se que, para a semiótica, o conceito de texto é mais amplo, bem como o de contexto. O texto é o resultado da união entre um plano de conteúdo e um de expressão31 e o contexto diz respeito às questões histórico-sociais que incidem sobre o texto e aparecem em formato de outros textos. Estes conceitos são importantes, pois estarão sustentando a conceituação de notícia autodestrutiva, por meio do aprofundamento em seus dois planos, de conteúdo e expressão, sem deixar de abordar o contexto histórico e social em que esse fenômeno se dá.

Greimas elabora um modelo de quadrado semiótico, que auxilia no entendimento da produção do objeto semiótico, pois possibilita sair das estruturas profundas e atingir as da superfície. Ou seja, analisar o mais abstrato para chegar ao mais concreto. O quadrado semiótico representa visualmente o cruzamento lógico das categorias semânticas. A partir da noção saussureana de que o significado é, inicialmente, obtido por oposição ao menos entre dois termos, constituindo uma estrutura binária (Jakobson), chega-se ao quadrado semiótico pela combinação das relações de contradição e asserção. Consiste em um procedimento estruturalista tendo em vista que um termo não é definido substancialmente, mas, pelas relações que acaba contraindo.

O poder operatório do quadrado semiótico é tão grande, quanto fundamental, aplicando-se a toda e qualquer instância significativa. Nele assentam todas as textualidades. Por um lado, o quadrado semiótico representa uma articulação das relações fundamentais estáveis de todo o processo generativo. As relações de identidade encontram-se à partida estabelecidas nas estruturas de profundidade. Por outro lado, possui uma dinâmica relacional que induz ao próprio processo generativo. A aplicação do quadrado semiótico é universal a todos os objetos (FIDALGO; GRADIM, 2005, p. 48).

O quadrado semiótico de Greimas permite que se encontrem as relações de contradição, contrariedade e complementariedade por meio de um sema, que é a menor unidade de significação semântica. Dele partem os lexemas, que são a combinação de semas para criar uma unidade mínima de comunicação (SOUSA, 2006). Isto se estrutura da seguinte forma:

31 Para Greimas, um texto pode ser visual, por exemplo. Por isso, ele vê a necessidade de uma semiótica visual,

que dê conta de analisar “os diferentes tipos de escrita, as linguagens de representação gráfica” (GREIMAS, 1984, p. 20).

(31)

Figura 1: Quadrado semiótico

Fonte: SOUSA, Jorge Pedro. Elementos de Teoria e Pesquisa da Comunicação e dos Media. Porto: Bocc, 2006.

É a partir desta lógica de extração das relações de contradição, complementaridade e contradição, que se fundamenta a existência de uma notícia autodestrutiva, chegando ao seu conceito. Isto foi feito articulando tal pensamento metodológico com contribuições epistemológicas de diferentes áreas do conhecimento, dentre elas: Jornalismo, Filosofia e Sociologia, principalmente.

Por sustentar análises dos mais distintos objetos, a semiótica discursiva tem sido constantemente aplicada em trabalhos que requerem análises interdisciplinares. Sendo, ao mesmo tempo, uma teoria e um método de análise. A semiótica pode surgir articulada aos diversos saberes, incluindo o Jornalismo, como poderá ser visto. Esta maleabilidade ocorre porque ela “tem uma dupla relação com as ciências: ela é simultaneamente uma ciência entre as ciências e um instrumento das ciências” (MORRIS, 1976, p. 5). Neste estudo, ressalta-se essa segunda apreensão, tendo em vista que a semiótica aparece enquanto um modelo de análise e atrelada aos conhecimentos de Jornalismo, mais detalhadamente, o ciberjornalismo. Segundo Luiz Carlos Assis Iasbeck (2006, p. 198):

O método semiótico, portanto, tem muita utilidade para promover o diálogo entre paradigmas distantes e até mesmo estranhos. Assim, com fundamentação semiótica, o pesquisador pode (desde que entenda necessário) ir buscar na Antropologia, na Sociologia, na Física ou na Psicanálise conceitos familiares a essas ciências e associá-los (de maneira organizada e sistemática) na articulação argumental em torno de peculiaridades de seu objeto de estudo.

Acredita-se, portanto, que a semiótica discursiva permite não apenas a formulação do conceito de notícia autodestrutiva, mas, também, por meio da descrição desse conceito, compreender esse “pedaço de mundo a que se refere” (GREIMAS, 1975, p. 23), pensando a sua relação com dada comunidade cultural, de forma interdisciplinar, recorrendo, sobretudo, à Filosofia, Sociologia, História e, principalmente, ao Jornalismo.

(32)

De acordo com Greimas (1984), nenhum ato comunicativo é inocente, sempre intenciona “com-vencer” o outro, ou seja, vencê-lo na argumentação, promovendo a crença na proposta discursiva apresentada. Nas diferentes mídias, isso fica ainda mais evidente, pois, a intenção é sempre o consumo, por isso, o processo persuasivo e interpelativo é mais forte. Existem algumas peculiaridades do texto midiático que necessitam de ponderações, quando se objetiva efetuar uma análise semiótica de material desse tipo.

Tratam-se de textos para cuja produção/realização são convocados diferentes sujeitos enunciadores; tratam-se de textos que se destinam a um número bastante significativo de receptores; tratam-se de textos que, por comportarem uma natureza dialógica, acolhem a atitude responsiva e avaliativa desse público (DUARTE; CASTRO, 2014, p. 73).

Nesta pesquisa, compreende-se os produtos midiáticos enquanto textos, sendo que a semiótica aparece como metodologia, que vai auxiliar no entendimento da significação e dos sentidos desta produção. Iniciativas desse tipo já vêm sendo realizadas na área de jornalismo. Cárlida Emerim (2014), por exemplo, assume a Semiótica Discursiva para analisar objetos do telejornalismo. Segundo a pesquisadora: “O núcleo central da proposição de Greimas é o estudo do discurso com base na ideia de que uma estrutura narrativa se manifesta em qualquer tipo de texto” (EMERIM, 2014, p. 101). Assim como ela entende o programa telejornalístico como texto-programa, para seguir a nomenclatura semiótica, nesta pesquisa, opta-se por nomear o objeto de análise como texto-postagem.

Para a autora, Algirdas Julien Greimas defende que a significação é o conceito chave para a semiótica, portanto, esta não seria uma teoria dos signos, mas, sim, da significação. O objetivo final desta teoria/metodologia é explicar a geração de discursos por qualquer sistema semiótico, compreendendo que a narratividade é o nível de análise para compreender o processo de geração de sentido. “Estudar um objeto da comunicação a partir do olhar semiótico é considerar seu modo de produção de sentido, a maneira como provoca significações e interpretações” (EMERIM; CAVENAGHI, 2015, p. 3). Ou seja, é encontrar, no processo de produção de sentido, a intencionalidade, uma direção a ser percorrida e uma finalidade (GREIMAS, 1975).

Greimas frisa que o estudo da estrutura narrativa pode ser feito em qualquer texto (entendendo texto de forma ampla) e, para Cárlida Emerim é justamente, por isso, que a semiótica discursiva tem um forte viés interdisciplinar. Dessa forma, tal teoria/metodologia vai permitir entender como o telejornalismo realiza a produção de sentido a partir dos elementos que o constituem.

Referências

Documentos relacionados

(grifos nossos). b) Em observância ao princípio da impessoalidade, a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, vez que é

Segundos os dados analisados, os artigos sobre Contabilidade e Mercado de Capital, Educação e Pesquisa Contábil, Contabilidade Gerencial e Contabilidade Socioambiental

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

Foi apresentada, pelo Ademar, a documentação encaminhada pelo APL ao INMETRO, o qual argumentar sobre a PORTARIA Nº 398, DE 31 DE JULHO DE 2012 E SEU REGULAMENTO TÉCNICO

Neste trabalho avaliamos as respostas de duas espécies de aranhas errantes do gênero Ctenus às pistas químicas de presas e predadores e ao tipo de solo (arenoso ou

devidamente assinadas, não sendo aceito, em hipótese alguma, inscrições após o Congresso Técnico; b) os atestados médicos dos alunos participantes; c) uma lista geral

A prova do ENADE/2011, aplicada aos estudantes da Área de Tecnologia em Redes de Computadores, com duração total de 4 horas, apresentou questões discursivas e de múltipla

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política