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O ANTIGO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO DOS CARMELITANOS DA CIDADE DE SÃO PAULO

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Academic year: 2021

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O ANTIGO PATRIMÔNIO ARTÍSTICO DOS CARMELITANOS DA CIDADE DE SÃO PAULO

Carlos Gutierrez Cerqueira - IPHAN /SP Eu me propus a um trabalho que se revelou difícil. Escrever sobre o antigo patrimônio cultural dos carmelitanos de São Paulo dos primeiros séculos de colonização. Pois o que permaneceu daqueles recuados tempos em matéria de

Arquitetura e de Arte é quase nada. Há, porém, uma alternativa muito

promissora e que o IPHAN decidiu utilizar: perscrutar alguns bens móveis que restaram dos monumentos históricos que não existem mais na esperança de, ao neles penetrar, através de técnicas modernas de investigação e restauro, encontrar

indícios que possam nos conduzir a descobrir criações artísticas mais

antigas que por ventura lá subsistam, e tratar de reavê-las.1 É o que o IPHAN

conseguiu fazer com a colaboração da Química Restauradora Márcia Rizzo que por uma pequena quantia iniciou em 2017 os trabalhos e neste ano de 2018 deu impulso considerável para o desvelamento de uma antiga pintura da igreja das Irmãs Carmelitas de São Paulo, sobre a qual dará notícias logo mais.

Mas não tem sido fácil convencer e obter apoio para realizar essa importante tarefa (e, hoje, tenho grandes dúvidas se o IPHAN terá condições de prossegui-la nos próximos anos), embora tenha se revelado a maneira mais eficaz que temos para descobrir e resgatar obras artísticas de recuados períodos históricos. Entendo que não podemos desistir desse propósito, investigar esse e outros remanescentes, sem o que não será possível localizar e restaurar antigas criações artísticas que ficarão desconhecidas de vocês, historiadores de Arte, impedindo que desenvolvam um conhecimento mais amplo e profundo acerca de nosso antigo Patrimônio. Na impossibilidade dos órgãos de preservação encetarem ações de restauro devido aos parcos recursos disponíveis penso que uma alternativa a ser considerada seria vocês pesquisadores, ao pleitearem recursos a FAPESP ou a CAPES, embutirem o restauro como etapa prévia e primordial para a realização de seus estudos sobre bens móveis antigos.

Porém, para pleitear patrocínio é necessário apresentar argumentos fundamentados em informações confiáveis que, todavia, não são fáceis de obter devido à escassez de documentos que refiram às criações artísticas daqueles tempos. Pouco se preservou, como vocês sabem, também em matéria de documentação.

Bem, meu intento agora é expor algumas ideias sobre o antigo patrimônio dos carmelitanos da Vila de São Paulo. Entretanto quero adverti-los que tive que

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Baseio meus trabalhos no IPHAN/SP em premissas já muito antigas e amplamente discutidas e reavaliadas, as quais orientaram os trabalhos de restauro arquitetônico do Serviço do PHAN em todo o Brasil, e que partiam da experiência francesa sob a orientação de Viollet-le-Duc, para quem a restauração devia se realizar com espírito de

crítica e de análise que, antes de tudo, fez penetrar a luz na história de nossos antigos monumentos; premissas que

devem abarcar o restauro dos ornamentos artísticos dos monumentos que, por razões de alteração de estilo, gosto ou moda, ou por motivações ideológicas, políticas e outras, foram adulterados, desaparecendo de nossas vistas. A esse respeito advertia o arquiteto francês: se observarem com atenção, descobrirão bem rapidamente alguns trapos

de sua velha roupagem: em todos os lugares onde a caiação escama, encontrarão a pintura primitiva.

VIOLLET-LE-DUC, Eugène Emmanuel – RESTAURAÇÃO. Artes &Ofícios. 2000 (Copyright Beatriz Mugayar Küll). (Grifos nossos). Hoje em dia é possível ir além, valendo-se da tecnologia e de métodos científicos de investigação que já estão ao alcance dos restauradores de obras de arte.

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me valer de digressões narrativas para formar um quadro histórico minimamente consistente e capaz de sustentar os argumentos que desenvolvi. De modo que vou lhes propor um exercício de imaginação. Peço pois desculpas por apresentar apenas o relato de uma história possível.

Se ela, ao final, lhes parecer plausível, já me darei por satisfeito. E se ela de alguma forma provocar em vocês o interesse em realizar novas investigações acerca desse ou de outros antigos acervos artísticos sacros, me sentirei recompensado por lhes ter estimulado a tais empreitadas.

Primitiva Igreja e residência dos frades carmelitas

Começo supondo que a instalação da Província Carmelita na Vila de São Paulo do Piratininga, em 1594, fez com que aqueles colonos que na Metrópole eram devotos da Senhora do Carmo e aqui formavam um pequeno grupo de Irmãos desvalidos, acolheram com entusiasmo os Frades Carmelitas ajudando-os a construir a primeira igreja e um pequeno convento para assim ter o desfrute de seu convívio e assistência espiritual proporcionada pelos ofícios religiosos, atos e cerimônias pela vida afora e que se desdobravam após a morte, sepultando os seus corpos, como era o costume, no sagrado espaço da igreja, acompanhado por cânticos e rezas fúnebres declamadas pelos Frades que também celebravam missas pela salvação de suas almas, subscritas em seus testamentos e com bens doados ao patrimônio de Nª Srª do Carmo.

Altar da Ordem Terceira

Com o passar dos anos, os devotos da Senhora do Carmo são autorizados a ter um altar, só deles, na igreja conventual. Esse altar (que não sabemos quando foi erigido) é importante pois delimita um espaço à comunidade carmelitana para a celebração de seus ofícios e celebrações, bem como assegura lugar privilegiado para o sepultamento dos falecidos. Por meio de doações arrecadam recursos para a ornamentação desse altar que se inicia com a montagem de um retábulo, peça de elaborada confecção plástica onde são expostos o Crucifixo e a Bíblia – símbolos do Catolicismo Tridentino – e representações de figuras importantes da Ordem do Carmo, quer sejam imagens e pinturas da Senhora do Monte Carmelo, dos Santos Elias e Eliseu, de Santo Alberto, de São João da Cruz, de Santa Teresa D’Avila, e demais personalidades da história carmelita desde a sua fundação na Palestina (meados do século XII).

Fundação da Ordem Terceira

Desse altar lateral até terem uma capela propriamente dita decorreram vários anos. Antes, os devotos carmelitanos tiveram que se

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organizar conforme as prescrições estabelecidas pela Ordem Primeira, ou seja, elaborar estatuto para constituição da corporação, submetê-lo à aprovação dos Frades e assim fundam a V. O. Terceira de Nossa Senhora do Carmo da Vila de São Paulo. Isso terá ocorrido por volta de 1620.2 Capela primitiva

Somente 50 anos depois, já no último quartel do século XVII, os Terceiros Carmelitanos terão autorização para transformar o altar lateral numa capela, a qual se fez por meio de um edifício construído em sentido perpendicular ao corpo da igreja conventual e que nos manuais de Arquitetura Religiosa é conhecido por “capela funda”. A data provável do início da construção é 1676, quando o Prior da Ordem fez entrega das contribuições enviadas pelos confrades do Rio de Janeiro

para as obras da Capela paulistana.3

Ainda em 1690 estão captando esmolas, doadas pelos Irmãos

Noviços, destinadas para alguma obra que se realizava na Sacristia da

capela. No ano seguinte, o Carpinteiro Domingos da Costa é admitido na Ordem mediante o compromisso de

fazer todas as obras de Carpintaria q’ se fizecem nesta Capella da Veneravel orden treiceira por menos PreSso q’ as obras se fizesse e fossem avaliadas4.

O edifício, construído em taipa de pilão, parece estar próximo de se concluir, pois as Atas já fazem referência à capela de Nossa Sancta Madre

Tereza de Jezus. E deduzo, num esforço de imaginação, que a capela

dispunha-se por um espaço retangular, compreendendo nave e capela mor e, como vimos, uma pequena sacristia. A entrada se faria por um pórtico de madeira aberto no corpo da igreja, com batentes e porta ornamentados, onde antes ficava o altar lateral da Ordem Terceira.

Erguida a capela, restaria ainda provê-la internamente com obras artísticas propriamente ditas que demandavam o trabalho de entalhadores, marceneiros, escultores, pintores e douradores. Infelizmente ainda não foram localizados, afora o citado carpinteiro, os

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Conf. MONTEIRO, Raul Leme – Carmo – Patrimônio da História, Arte e Fé. S. Paulo 1978).

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Livro de Termos da VOT de N. Sra. do Carmo de São Paulo, volume 1 (1674-1737). Termos de 17.04.1691 e de 10.07.1691.

3 Este dado comprova estudos de que as Ordens Terceiras, formavam uma só e grandiosa organização,

proporcionando assistência material a cada uma das corporações irmãs criadas na Colônia e fora dela, na Metrópole inclusive, com funções variadas, que iam desde aqueles de caráter beneficente, garantindo assistência aos doentes e amparo aos familiares, e por vezes prestando serviços semelhantes aos exercidos por rede bancária moderna.

4

Livro de Termos da VOT de N. Sra. do Carmo de São Paulo, volume 1 (1674-1737). Termos de 17.04.1691 e de 10.07.1691.

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artistas que nela trabalharam nem as suas obras. O certo é que a capela foi inaugurada em 1697, por provisão do Frei Manuel Ferreira da Natividade, vigário provincial, reformador e visitador dos frades carmelitas do Brasil.

De qualquer forma – e essa é a boa notícia –, restaram umas poucas coisas dessa primitiva capela, como veremos mais adiante.

Eram passados cerca de cem anos; a comunidade carmelitana tinha aumentado e, por reunir uma fração importante da elite colona paulistana, chegara o momento para a realização de tão importante obra.

Vale observar também que a sua construção corresponde ao tempo em que se intensificaram as expedições de pesquisa em busca de pedras preciosas e a sua finalização poucos anos depois das primeiras notícias da descoberta do ouro pelos paulistas nas serras mineiras, podendo assim ser considerada entre as primeiras expressões, em solo paulista, dos anseios da riqueza por fim conquistada.

É de se supor que a própria congregação carmelita tenha sido beneficiada, com os Irmãos Terceiros provendo-a de maiores recursos que possibilitassem efetuar melhorias na primitiva igreja e residência dos frades, motivando uma redefinição do conjunto das edificações e quem sabe a reformulação de seu acervo artístico interno.

Vuturuna meados sec. XVII Santo Antonio 1681 (Fotos: JULIO MORAES)

Se assim ocorreu, assinalou um primeiro momento de renovação que pode ter provocado o desprezamento de parte dos ornatos antigos – talhas, móveis, imagens, tocheiros – tanto os da igreja conventual como os do primitivo altar lateral da Ordem Terceira. Elementos artísticos

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novos então foram confeccionados. Esses, por sua vez, obedeceriam a que tendências estilísticas naquele quadrante final dos seiscentos:

maneiristas ainda ou já barrocas?

A balizar um pouco nossas indagações, temos os retábulos, os tocheiros e uma só imagem das seiscentistas capelas de Vuturuna e de Santo Antonio,5 que porém são anteriores ao momento considerado.

Assim o intervalo de tempo que vai de 1676 a 1697, período da construção e ornamentação dessa capela-funda dos Irmãos Terceiros paulistanos terá assinalado um momento em que terá ocorrido uma primeira alteração na Arquitetura e na Arte carmelitana na ainda acanhada Vila de São Paulo, e sobre as quais, encontramos indícios nos documentos da Ordem Terceira e nos remanescentes dessa capela, recolhidos pelo IPHAN em 1959 antes de ser destruída.

Pintura da primitiva capela dos Terceiros

E, dentre esses remanescentes, o mais significativo é o forro da primitiva capela, conservado parcialmente, que deve conter uma pintura daquela época, por debaixo de outra mais recente.

Forro da “Capela esquecida” com a pintura atual (1922); Prospecções pintura antiga. Fotos: Julio Moraes

Há anos propus o restauro dessa pintura6. Infelizmente, apesar do

empenho do IPHAN/SP, e recentemente também do Restaurador Julio Moraes que, com o Museu de Arte Sacra de São Paulo encaminhou ao PRONAC projeto que poderia resultar na sua restauração, montagem e exposição permanente, não logrou obter o patrocínio pretendido.

Todavia, essa pintura constitui para nós elemento de enorme expectativa pelas razões que acabamos de apontar, às quais devemos acrescentar uma informação assaz interessante, colhida de um documento escrito em meados do século seguinte, XVIII, quando a

5 As três imagens que compunham o acervo da capela de Santo Antonio, foram roubadas no início dos anos 1980;

recuperada apenas a de Nossa Senhora do Rosário, pela Polícia Federal, em 2015.

6 Esse forro foi confiado pela Ordem Terceira do Carmo paulistana ao Doutor Luís Saia em 1959 quando da

destruição do que restara da capela a qual, por desconhecimento que havia então sobre sua origem, passou a ser denominada “Capela Esquecida”. Atualmente esse forro está sob a guarda da empresa de restauração Julio Moraes Conservação e Restauro, atendendo solicitação do IPHAN.

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Ordem Terceira finalizava então a construção da sua “capela nova” em 1758, esta em que nos encontramos, já com o corpo do edifício separado na igreja conventual. O documento refere-se à contratação do Pintor João Pereira da Silva, autor do grandioso painel “Ressurreição de Lázaro” que hoje está localizado na Sala de Reuniões e Biblioteca, e que se responsabilizava por executar também o que deverá ter sido a primeira pintura do teto da capela mor. Interessa-nos, para um melhor entendimento do que estamos a dissertar, os termos utilizados para descrever essa pintura. Diziam então que ela deveria ser

da mesma Sorte q~ estava o Antigo Só com a diferença de q’ no meyo haverá hua tarja e dentro della a Sra. Sta. Tereza.

Uma primeira impressão que me causa o documento é a de que havia muito apego dos Terceiros ao painel Antigo – razão porque João Pereira devia reproduzi-lo, introduzindo porém a figura de Santa Teresa no interior de uma tarja que não existia no anterior. A tarja pretendida não representava uma novidade, pois era um ornato pictórico já bastante utilizado no século XVII, e sua configuração nada mais é do que uma moldura ou medalhão, confeccionado para destacar algum símbolo ou personalidade da história cristã, no caso, Santa Teresa.

Mas faria toda a diferença para os Irmãos, elemento distintivo do novo painel, a tarja emoldurando Santa Teresa tornava-o mais representativo da Ordem e artisticamente mais refinado do que o da primitiva capela.

Tanto um quanto o outro painel atraem nosso interesse. Mas do segundo acreditamos que pouco ou nada mais exista, visto que o forro será reformado e receberá duas outras pinturas, uma de José Patrício da Silva Manso (1784), e outra, a definitiva, de Jesuíno (1798). Assim, o que temos ainda para ser investigado é o primitivo forro da capela funda, mais antigo, do final do séc. XVII, que ainda apresenta uma pintura de 1922, mas que as prospecções evidenciam pintura antiga.7

Apoiado nesse conjunto de informações, fico tentado a imaginar que em 1697, quando a primitiva capela dos Terceiros foi inaugurada pelo Provincial Frei Manuel Ferreira da Natividade, ela já estaria completa, ostentando em seu forro o aludido painel, sem tarja e, por essa

7 Ver RESGATE HISTÓRIA E ARTE II, projeto de nossa autoria sobre Restauração de Pintura Antiga do forro da

CAPELA ESQUECIDA:

https://docs.google.com/viewer?a=v&pid=sites&srcid=ZGVmYXVsdGRvbWFpbnxyZXNnYXRlaGlzdG9yaWFlYX J0ZXxneDo2YTg2ZWIzNTM3M2U1ZGM4

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razão, sem figura. Talvez apenas uma composição geométrica, ricamente ornada com figuras de aves, animais, plantas e flores (?).

Mas é este painel que nos interessa. Ele é raro; poucos exemplares restaram daquele período. Quem sabe seja próximo aos que conhecemos, como a pintura da Capela de Santo Antonio (1681), ou das pinturas da Capela jesuítica do Embu, (início do XVIII?), estas feitas em caixotões.

Pinturas: Teto da Capela Sto. Antonio e de Na. Sra. do Rosário (Fotos: Julio Moraes e Arq. Eneida Ferraz

Acostumamos a nos consolar desde 1937 com ruínas e tosquidões e a pautar nossos trabalhos quase exclusivamente pelo ângulo histórico, obedientes à orientação de Mário de Andrade.8 Mas, seja lá o que for, um

dia espero resgatar esse antigo painel carmelitano, mesmo que não venha a representar grande coisa como valor artístico tradicional. Quem sabe, nessa ou em outras buscas, acabamos deparando algo diferente, que nos surpreenda, como surpresos ficamos com a revelação do painel central da nave desta igreja da Ordem Terceira do Carmo onde agora estamos!?

Configuração do conjunto arquitetônico carmelitano do final do século XVII

Gostaria de divagar um pouco mais sobre a capela funda dos Terceiros de 1697. E perguntar: qual terá sido a configuração do conjunto arquitetônico que se formou com a antiga igreja carmelita?

“Capela esquecida”. Aspectos exterior e interior (forro antes de ser removido) Fotos: H. Graeser/IPHAN/SP (1959)

8 ANDRADE, Mário de – A CAPELA DE SANTO ANTÔNIO in Revista do Patrimônio Histórico

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É por certo abusivo fazer uso da imaginação que me induz a pensar na possibilidade da primitiva igreja conventual ter-se mantido, por cerca de cem anos, sem alteração significativa. Gosto de iludir-me todavia. E excursiono uma vez mais no imaginário para supor que guardaria ainda no final do séc. XVII muito da aparência inicial e mantido uma importante característica das pequenas capelas rurais (afinal, o que era São Paulo em 1594 senão um pequeno povoado?), característica largamente utilizada no Brasil daquela época, a fachada alpendrada. Consta que a mais antiga delas é a capela de Santana, edificada dizem pelo Governador Geral Mem de Sá em 1537 em seu engenho em Ilhéus, com solução do telhado do alpendre de três águas, que a nossa paulista sempre lembrada capela seiscentista de Santo Antonio também apresenta. Quem sabe naquele final dos seiscentos a igreja dos Frades ainda guardasse configuração semelhante.

Ou talvez fosse como a capela jesuítica de São Miguel, com alpendre de uma só água? Aliás, esta, que é datada de 1622, possui uma capela funda que sai lateralmente da nave9 e do mesmo lado que a capela

dos Terceiros figurava em relação a igreja dos Frades carmelitas.

Capelas: N. Sra. Santana – Ilhéus/BA (Fonte: blog Agravos) e de S. Miguel/Capital/SP com sua capela-funda (Foto Arq. Eneida Ferraz, 2016 – IPHAN/SP)

Enfim, nosso propósito é pressupor uma configuração arquitetônica que terá se formado quando os Terceiros construíram a primitiva capela anexa à igreja dos frades a qual, por sua vez, manteria ainda a feição primitiva, com fachada alpendrada, com telhado de três águas ou de uma só água como apresenta o conjunto de São Miguel.

E, para concluir, permitam-me chamar a atenção para um importante elemento que a igreja que os Frades carmelitas irá apresentar em meados do século seguinte (1766): a galilé – que preserva a mesma função exercida pelo alpendre, conferindo-lhe porém uma solução

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mais apropriada ao meio urbano em que se encontrava. São Paulo não era mais uma importante Vila no alto do planalto paulista; tornara-se Cidade desde 1711. E a capela que os Terceiros concluirão dez anos depois (1776), ao lado da igreja conventual, adotará também a galilé, com três arcos de cantaria de pedra feito pelo Mestre Tebas, formando um dos mais belos conjuntos arquitetônicos da cidade daquela época.

Bem, chega de divagações. Minha curiosidade e interesse histórico me conduziram a conceber uma ordem de coisas que há muito tempo deixou de existir, formando imagens como se fosse possível, como disse um famoso arquiteto restaurador do século XIX, restabelecê-las a “um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento”.10

Obrigado pela atenção.

S. Paulo, 10 de novembro de 2018

Bibliografia

· ANDRADE, Mário de - A CAPELA DE SANTO ANTÔNIO in Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional Nº 1. MES. RJ, 1937.

· CERQUEIRA, Carlos G.F. – Capela de Santa Teresa da VOT do Carmo da Cidade de São

Paulo. Histórico anexo ao Processo de Tombamento Nº 1176-T-85 IPHAN.

· Idem. https://sites.google.com/site/resgatehistoriaearte/home. “Restauração de pintura antiga do forro da ‘Capela Esquecida’ I e II” (Projeto e Fotos).

· MONTEIRO, Dr. Raul Leme – Carmo – Patrimônio da História, Arte e Fé. S. Paulo 1978. · SANTOS, Mariza Veloso Motta – COMENTÁRIO. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. 60 ANOS: A REVISTA. MinC. Nº 26 / 1997, pp. 32-33.

· VIOLLET-LE-DUC, Eugène Emmanuel – RESTAURAÇÃO. Artes &Ofícios. Cotia/SP. 2000 (Copyright Beatriz Mugayar Küll).

Fontes Primárias:

· Arquivo Documental da Ordem Terceira do Carmo da Cidade de São Paulo. · Arquivo Documental IPHAN/SP:

Processo de Tombamento IPHAN - Nº 1176-T-85 – Igreja da Ordem Terceira do Carmo/Capital/SP.

Projeto: “Vida de Santa Teresa” – Restauro da coleção de quadros pintados por Pe. Jesuíno que pertenceu a antiga igreja das Irmãs Carmelitas de São Paulo, hoje pertencentes a igreja da VOT do Carmo da Cidade de São Paulo.

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VIOLLET-LE-DUC, E. e. – Op. cit. A frase completa, com a qual inicia o Verbete RESTAURAÇÃO, é: A palavra

e o assunto são modernos. Restaurar um edifício não é mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, é restabelecê-lo em um estado completo que pode não ter existido nunca em um dado momento.

Referências

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