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GÊNEROS ORAIS E ENSINO: DITADOS POPULARES

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Academic year: 2021

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GÊNEROS ORAIS E ENSINO: DITADOS POPULARES

Ecilia Braga de OLIVEIRA1 Mayara Alexandra Oliveira da CRUZ2 Isabel Cristina França dos Santos RODRIGUES3 Resumo

A língua é um fenômeno social que manifesta sua textualidade por meio dos gêneros discursivos, assumindo forma oral e/ou escrita. Porém, por longo tempo, as aulas de Língua Portuguesa foram baseadas no modelo de ensino tradicional, com privilégios para os gêneros escritos em detrimento dos gêneros orais. Assim, o objetivo deste artigo é apresentar uma proposta didática com o gênero oral ditado popular, tomado como objeto de ensino. Propõe-se, então, um trabalho pautado na metodologia da Sequência Didática (SD), conforme a proposta de Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004), constituído a partir dos ditados populares. Apresenta-se, pois, uma proposta possível de ser trabalhada com gênero oral na sala de aula, fundamentada na reflexão e no uso produtivo da língua com vistas à ampliação das práticas de oralidade.

Palavras-chave: Gênero oral; Sequência didática; Ditados populares.

Considerações iniciais

A língua é um fenômeno social que se apresenta de forma oral e escrita. Assim, o ensino da oralidade como objeto de ensino na escola surge da compreensão que os gêneros cumprem funções específicas, logo, precisam ser tratados de acordo com essas especificidades, tempo adequado e com atividades regulares durante as aulas (CARVALHO; FERRAREZI JUNIOR, 2018).

1 Mestranda do Mestrado Profissional em Letras (PROFLETRAS) - Universidade Federal do Pará

(UFPA), Professora de Língua Portuguesa, SEMED Acará/PA, Belém, Pará, Brasil; eciliasim@hotmail.com.

2 Mestranda do Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL) - Universidade

Federal do Pará (UFPA), Belém, Pará, Brasil; mayocrux@gmail.com.

3 Orientadora. Doutora em Educação. Docente da Universidade Federal do Pará (UFPA), Belém, Pará,

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Entretanto, a forma de uso oral foi desprivilegiada ao longo do tempo na Educação Básica (EB), resultando na chegada de estudantes na Ensino Superior com dificuldades em elaborar gêneros orais mais formais (roda de conversa, entrevista de pesquisa científica, seminário, defesas etc.). Isso mostra o que estudos como o de Marcuschi (2010) apontava: fala e escrita se relacionam por um continuum e, por isso, precisam ser trabalhadas nesse direcionamento, desde os primeiros anos de escolarização.

Dessa maneira, um trabalho articulado envolvendo a oralidade contribui para que os sujeitos defendam seus pontos de vistas, seu lugar social, de maneira mais produtiva, uma vez que falas precisam ser planejadas e adequadas ao contexto situacional dos envolvidos, preparando o estudante para uma melhor circulação, posto que o discurso é uma ferramenta poderosa diante da opressão pelos aspectos ideológicos.

Logo, relacionar a necessidade de se trabalhar a oralidade com a perspectiva decolonial (WALSH, 2009) significa trazer para o contexto escolar narrativas orais que se reportem aos aspectos culturais, acadêmicos que ampliem e valorizem o repertório dos alunos que são vistos como sujeitos de saberes. Assim, não apenas os gêneros canônicos são legitimados, como procuramos discutir ao longo da proposta desenvolvida.

Gêneros orais: entre práticas escolares e cotidianas

Para Travaglia et al. (2017, p.17), gênero oral é “aquele que tem como suporte a voz humana (vista como a característica particular que tem o som produzido pelo aparelho fonador) e foi produzido para ser realizado oralmente, utilizando-se a voz humana, independentemente de ter ou não uma versão escrita”. Dessa maneira, os textos escritos que, porventura, venham a ser oralizados não são considerados gêneros discursivos orais, apenas gêneros transpostos ou transcritos para a oralidade.

Ao trabalhar os gêneros orais, a escola precisa propor trabalhos tanto com os gêneros orais formais quanto com os informais, visto que os alunos vivenciam situações sociais e experiências comunicativas múltiplas. Assim, a escola pode planejar e desenvolver práticas linguageiras de forma mais consciente e articulada, em grupos, duplas e individuais, conforme os gêneros selecionados e objetivos de cada etapa das atividades (CARVALHO; FERRAREZI JUNIOR, 2018). É nela, inclusive, que os estudantes conseguem distinguir os contextos e modalizar suas falas.

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Por conta disso, desenvolvemos uma proposta inicial a partir dos ditados populares, cujas finalidades principais são a relevância dos pensamentos filosóficos, a reflexão sobre comportamentos sociais e o desenvolvimento das capacidades de linguagens (cf. DOLZ, 2004). Tal gênero favorece a reflexão, o trabalho com o inesperado, o ouvir e respeitar a opinião do outro, principalmente a sabedoria popular. Isso perpassa pelo aspecto cultural que propicia a construção de sentidos.

Além disso, os ditados populares têm como tipologia textual predominante o aspecto argumentativo, na linha de confirmação ou de contestação, servindo, pois, para explicações, exemplificações, esclarecimentos, comprovações, reforço de um determinado ponto de vista ou, ainda, para críticas, questionamentos e/ou denegações da credibilidade e da confiabilidade do conteúdo expresso, segundo Ferreira e Vieira (2013).

Sendo assim, elaboramos uma proposta em formato inicial de um minicurso, a partir do gênero ditado popular, que foi apresentada durante o evento “Diálogos Formativos II” on-line (webnários), via “Google Meet”, do projeto de pesquisa Práticas socioculturais, linguagens e processos de ensino e aprendizagem na formação docente, abordando alguns dos aspectos relacionados às nossas dissertações (PROFLETRAS/UFPA e PPGL/UFPA).

O minicurso “Gêneros orais e ensino: ditados populares”

Em agosto de 2020, em fase de confinamento pandêmico, elaboramos uma proposta de minicurso envolvendo o gênero ditado popular articulando para o evento supracitado, promovido pelo grupo de estudo e pesquisa Alfabetização, Letramentos e Práticas Docentes na Amazônia – GALPDA (CNPq), com o intuito de ampliar a formação com graduandos, pós-graduandos, docentes dos Anos Iniciais e integrantes da Rede de Bibliotecas Comunitárias Amazônia Literária na fase de pandemia.

Assim, poderíamos avançar com as nossas pesquisas envolvendo a oralidade e ter como elaborar uma proposta para alunos do Ensino Fundamental. Entre os ministrantes do minicurso, estavam Ecilia Braga de Oliveira, discente do PROFLETRAS/UFPA, professora atuante na escola do campo; Rita de Cássia Damasceno Barbosa, discente do PROFLETRAS/UFPA, professora de uma escola pública de Belém; e Mayara Alexandra Oliveira da Cruz, discente do PPGL/UFPA.

Para o referido minicurso, o trabalho se deteve aos gêneros orais transpostos para a escrita, especificamente, os ditados populares. Para tanto, utilizamos uma

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sequência didática, cujos objetivos foram: dinamizar a produção do texto oral; abordar os ensinamentos proporcionados pelos ditados populares e desenvolver as práticas da escuta e da discussão de maneira mais proficiente.

Metodologia

Adotamos, para a realização das atividades, a pesquisa-ação, já que favorece os pesquisadores a “utilizar suas pesquisas para aprimorar seu ensino e, em decorrência, o aprendizado de seus alunos” (TRIPP, 2005, p. 445). Nesse sentido, é necessário que o professor tenha ações bem planejadas, definindo antecipadamente objetivos a serem alcançados em relação à oralidade.

Para o desenvolvimento do minicurso, escolhemos a sequência didática, que é “um conjunto de atividades escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual oral ou escrito” (DOLZ; NOVERRAZ; SCHNEUWLY, 2004, p. 97). Por isso, o trabalho inicial com a formação poderia nos mostrar as demandas mais efetivas no ensino fundamental.

Ressaltamos que, devido às limitações do modo remoto, algumas atividades da proposta não foram possíveis de serem executadas com os participantes do minicurso. Outras, ampliamos e aprofundamos posteriormente.

Desenvolvimento da sequência didática

Atividade prévia: dinâmica - telefone sem fio

Objetivos: mostrar a importância da fala e da escuta e estimular a organização das ideias a serem transmitidas por meio da fala, assim como a compreensão e interpretação do que ouve.

Desenvolvimento: uso de texto composto por dois ditados populares, objetivando refletir sobre a integridade do texto, que é ouvido e repassado a cada um dos alunos em forma de segredo, sem que os outros escutem. Organizados em fila ou círculo, o discurso é passado de aluno em aluno até chegar ao último, que falará alto para que todos os outros ouçam.

Ao final da dinâmica, devem ser verificadas as seguintes questões: se a mensagem chegou de forma íntegra, o que pode ter interferido caso tenha havido alteração, o que poderia ter sido feito para evitar a falha, sendo um momento oportuno para discutir a interferência na comunicação por questões de escuta.

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1ª aula (45 min) – Motivação e debate

Apresentação da música “Bom Conselho”, de Chico Buarque, para introduzir os alunos no universo dos ditados populares. Ao final da música, o professor faz perguntas referentes ao conteúdo temático, à construção composicional e ao estilo linguístico, promovendo reflexão.

Perguntas:

– Qual é o assunto principal tratado nos ditados populares? (conteúdo temático) – A temática está explícita ou implícita? Justifique sua resposta com trecho retirado do texto. (conteúdo temático)

– O gênero ditado popular oralizado tem quantos parágrafos? É um texto argumentativo ou narrativo? Justifique sua resposta. (construção composicional)

– Os ditados populares são polifônicos. As palavras não são do falante, mas da comunidade a qual ele pertence. Isso pode ser observado pelo uso do verbo em que pessoa? (estilo linguístico).

Ainda é necessário que o professor faça perguntas de compreensão quando trabalha com gênero discursivo:

– O ditado popular “antes tarde do que nunca” é um incentivo ou desincentivo a praticar uma ação? Justifique. (questão de compreensão literal)

– No ditado popular “filho de peixe, peixinho é”, o que podemos inferir? (questão de compreensão inferencial)

– Qual ditado popular você ouve e em que situação? (questão de compreensão interpretativa)

Após o debate, o professor explica o conceito de ditado popular e orienta a investigação com amigos, pessoas da família ou em livros, de modo que tragam dois ditados populares na próxima aula.

2ª aula (45 min) – Interpretação

O professor inicia pedindo os ditados populares da pesquisa, feita pelos alunos, solicitando que sejam apresentados para uma análise coletiva da turma:

– Selecionar o máximo de ditados populares possíveis escutados no decorrer de um período e indicar quem proferiu e porque foi proferido.

– Qual é o ensinamento que o ditado popular traz e qual é o objetivo do autor da fala?

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Ocorre a retomada da música “Bom Conselho” e a escuta da música “Provérbios”, de Adoniran Barbosa. Em seguida, há a distribuição da letra das duas canções, em grupo de 4 ou 5 alunos, para que identifiquem os ditados populares existentes na música.

4ª aula (45 min) – Vídeo (dinâmica)

Momento de exibição do vídeo “Ditos e provérbios populares com emoticons e Emojis!”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=d5FbJ_vv1qo&t=38s. O vídeo apresenta ditados populares, representados por figuras, emoticons e emojis, propondo que se adivinhe o ditado popular representado.

Nessa etapa, de forma oral (ativando os seus microfones) e por escrito (via chat), os participantes do minicurso apontaram os ditados populares apresentados no vídeo, em momento lúdico e descontraído: “cavalo dado não se olha os dentes, “quem tem pressa come cru”, “quem ama o feio bonito lhe parece”, “quem não chora não mama”, “à noite todo gato é pardo” e “cão que ladra não morde”. Apenas o ditado popular “burro preso também pasta” não foi reconhecido por ninguém.

5ª aula (50 min) – Culminância

– Cada aluno sorteia um ditado popular e escolhe outro aluno com quem fará dupla para a atividade. Aquele que sorteia faz a mímica do ditado, o outro verbaliza por meio da fala o que está entendendo e, ao final, organiza as informações em uma fala em que diga qual é o ditado, qual é o significado e em qual situação é utilizado.

– Em seguida, ocorre a produção de um conselho no qual o discurso seja reforçado por um ditado popular;

– A culminância ocorre com uma roda de conversa sobre as dificuldades de cada um. Além de trabalhar a oralidade, é o espaço de fala livre que terão.

Aqui, após a apresentação da proposta de ensino pelas mediadoras do minicurso, abriu-se para o diálogo e discussão com os participantes, que foram convocados a verbalizarem, oralmente, acerca do trabalho com a oralidade. Por alguns minutos, houve um silêncio total, que também era um discurso: falar em público exige planejamento e causa insegurança, principalmente para os mais tímidos. Até que a professora Isabel Rodrigues, coordenadora do evento, falou: “vocês estão vendo como é complexo? É mais fácil vocês se manifestarem, às vezes, pelo chat, do que acionar o microfone e falar”.

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Em seguida, o participante “M” se manifestou:

É, então, como a Professora Isabel propôs, é, acho que a primeira coisa que, é, enquanto a experiência de docente é a dificuldade de saber por onde começar a trabalhar os gêneros orais em si, né? Quando a gente pensa na oralidade, a gente já pensa na perspectiva dos gêneros escritos e isso dificulta muito a forma como a gente vai lidar com os gêneros orais em sala de aula. A gente tenta fugir ao máximo deles, justamente porque a gente tem uma experiência que é letrada só para o âmbito da escrita, é uma tradição da nossa formação. As atividades que foram propostas convidam, não só os alunos do fundamental e do médio, mas pessoas que se sentem confortáveis em partilhar dessa experiência, dessa forma que foi proposto o trabalho com os ditados populares e provérbios.

Por conseguinte, pela fala do participante e da professora, percebemos que há um longo caminho a percorrer sobre o trabalho com gêneros orais na escola. Os alunos de todos os níveis de ensino apresentam dificuldades para falar em público em ambientes mais monitorados, de modo que o silêncio mencionado nesse trabalho, por exemplo, corrobora que isso ocorre com vários gêneros orais (formais e informais), sendo mais recorrente nos formais, por serem de pouco domínio e menos usuais.

Considerações finais

Compreendemos que muitos fracassos ou poucos êxitos em momentos da vida podem estar ligados ao lugar marginalizado que o trabalho com os gêneros orais ocupa na escola. Diante disso, se a Educação Básica trabalhar de forma adequada esses gêneros, isto é, como objetos de exploração, os sujeitos terão menos problemas com as experiências orais formais que precisam vivenciar nas esferas acadêmica e profissional.

Nos relatos dos participantes do minicurso, notamos as dificuldades em trabalhar com tais gêneros, pois afirmaram se sentir despreparados e inseguros, devido às suas formações iniciais, que privilegiaram os gêneros escritos, algo que contribui para que a linguagem oral tenha espaço reduzido e limitado no ambiente escolar.

Portanto, este estudo apresentou uma proposta de ensino ligada aos ditados populares, considerando que sem o trabalho com a oralidade, o sujeito não tem o aprendizado global da língua, que envolve as práticas de oralidade, escuta, leitura e escrita. Por isso, não se trata de ensinar o aluno a falar, mas de fazê-lo perceber a diversidade e a riqueza dos usos da língua na modalidade oral, especialmente a partir de um repertório que engloba as práticas culturais cotidianas.

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REFERÊNCIAS

CARVALHO, Robson Santos de; FERRAREZI JUNIOR, Celso. Oralidade na educação básica: o que saber, como ensinar. São Paulo: Parábola, 2018.

DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michèle; SCHNEUWLY, Bernard. Seqüencias didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim e colaboradores. Tradução e organização Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Gêneros orais e escritos na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2004. p. 95-128.

FERREIRA, Helena Maria; VIEIRA, Mauricéia Silva de Paula. O trabalho com o gênero provérbio em sala de aula. Línguas & Letras, Cascavel, v. 14, n. 26, p.1-18 2013.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. 10. ed. São Paulo: Cortez, 2010.

TRAVAGLIA, Luiz Carlos et al. Gêneros orais - conceituação e caracterização. Olhares & Trilhas, Uberlândia, v. 19, n. 2, p. 12-24, jul./dez. 2017.

TRIPP, David. Pesquisa-ação: uma introdução metodológica. Tradução Lólio Lourenço de Oliveira. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 3, p. 443-466, set./dez. 2005. WALSH, Catherine. Interculturalidad, estado, sociedad: luchas (de)coloniales de nuestra época. Quito: Universidad Andina Simón Bolívar/Abya-Yala, 2009.

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